Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : hotel
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Excelsior Hotel - Quase 80 anos de história



O sobrado do comendador Machado, demolido para dar lugar ao  Excelsior Hotel. No térreo funcionava o Café Riche e nos andares superiores o Hotel Central - Arquivo Fortal

Ele já é um "senhor". Vivo, só em parte, mas ainda belo. Fincado no cruzamento das ruas Guilherme Rocha e Major Facundo, o Excelsior Hotel  já não funciona desde 1987. Seu primeiro andar foi todo reformado e ocupado pela imobiliária dos herdeiros do prédio, feito todo em alvenaria* e com paredes que chegam a 80 centímetros de largura. A construção respira história.

Quando era ocupado pelo Café Riche - Foto dos anos 20

Ele completou 79 anos esse ano. Um "senhor", já. Maduro e cheio de histórias pra contar. Quando ele nasceu, O POVO  noticiou com destaque que ele era o primeiro fortalezense daquele porte. Nasceu belo e imponente, e fazia a cidade chegar mais perto das nuvens e arranhar o céu. Era 2 de janeiro. O ano, 1932. Até o interventor federal estava lá pra prestigiar o "nascimento". Era o "senhor Carneiro de Mendonça", como noticiara o jornal.

O Hotel nos anos 40 - Arquivo Fortal



Estava sendo inaugurado o Hotel Excelsior. Anunciado como o primeiro arranha-céu da capital cearense, ele só tinha sete andares. O repórter do O POVO testemunhou. E subiu ao terraço, ao ar livre, de onde se tinha a visão de uma Fortaleza que já não existe mais. "É um terraço aprasibilissimo, de onde se descortinam belissimos panoramas do mar, das serras e dos sertões visinhos", escreveu o redator. Ao lado do texto, a ilustração do edifício, com direito a desenhos de nuvens, aviõezinhos e balões. O acontecimento movimentou a cidade por anos, já que o estabelecimento de nível internacional era pioneiro na Região Nordeste


O hotel com suas bandeiras simbolizando as Nações Unidas - Arquivo Fortal

Hoje, o terraço ainda continua aprazibilíssimo (agora, com "z" e acento agudo no segundo "i"). Mas os panoramas que se descortinam dali não são mais os mesmos. Mares sim. Já serras e sertões foram camuflados por outros arranha-céus que vieram depois. É certo que do segundo andar para cima, nada mais funciona - nem os elevadores. E tudo está como antes, excetuando-se a maior parte da mobília, que foi retirada. Mas nem o tempo e sua falta de uso (ele foi fechado em julho de 1987) roubaram-lhe a graça. O Excelsior Hotel respira história. 

Hoje o Hotel pertence ao cônsul geral da Hungria, Janos Fuzesi Júnior, um senhor de 79 anos - 57 deles morando no Ceará. Vender o hotel? "Por nada nesse mundo", esquiva-se Janos. Ele herdou o patrimônio do tio, também húngaro - o arquiteto Emílio Hinko. Antes de chegar às mãos cuidadosas de Hinko (responsável por obras em Fortaleza como o Náutico Atlético Cearense e a Base Aérea de Fortaleza), mais história. 

A primeira construção no local, erguida em 1825, foi o sobrado do comendador José Antônio Machado. Lá funcionou o antigo Hotel Central e o Café Riche. Em 1926 ele foi fechado e demolido em 1927. Inspirado em um edifício de Milão, na Itália, o Excelsior Hotel foi construído todo em alvenaria, por Natali Rossi, irmão de Pierina Rossi, esposa de Plácido de Carvalho, proprietário do prédio e do hotel. Anos após ficar viúva, ela casou-se com Emílio Hinko. 

Dos hóspedes ilustres que já passaram por ali, na rua Guilherme Rocha, 172, esquina com rua Major Facundo, não restam mais os livros de visitas. Se existem, estão em uma sala trancada no próprio hotel, que ninguém tem coragem de entrar. "É melhor a gente não ir lá, senão você vai adquirir uma bactéria ou uma infecção respiratória", brinca Janos Cavalcante Fuzesi, filho do cônsul. Mas os jornais antigos dão conta: gente como Orson Wells e Juscelino Kubitschek já se hospedaram ali. 

Hall do hotel Excelsior

"A gente tem muito amor por este prédio em si, mas também pelo Centro (da cidade) em geral. Era muito mais fácil para nós e nossos clientes se fôssemos pra Aldeota", diz Fuzesi, o pai, referindo-se à ampla reforma que fez no primeiro andar do hotel em 2006 e que hoje abriga a imobiliária da família e o consulado. 

De testemunha do que a construção já foi, restam traços na madeira e nos mosaicos do assoalho, nos guarda-corpos das varandas, nos móveis de sucupira, cerejeira e mogno. Se procurar bem, uma lembrança das épocas áureas. No pacotinho verde com 18 fósforos, o recado: "123 apartamentos, 13 suítes. Todos c/ ar condicionado, TV a cores e preto e branco, geladeira e telefone. Sala de estar com TV a cores. Vista para o mar. (...) Localizado no centro bancário e comercial". Pena que agora só lhe resta vida em um andar. 



Fonte: Jornal O Povo

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Excelsior Hotel - A queda de uma lenda






Quando se pesquisa no Google sobre o Hotel Excelsior, o primeiro título à disposição dos internautas que aparece é “O maior Prédio de Alvenaria do Mundo fica em FortalezaExcelsior”.

E todas as matérias relativas à edificação histórica exaltam essa  característica. Até os jornais da cidade (por exemplo, O Povo e Diário do Nordeste) propagam a mentira. Na verdade, o Excelsior nunca foi o “maior do mundo” e sequer construído sustentado por tijolos. O prédio tem sua sustentabilidade calcada no velho e seguro cimento armado*.


Quem desmente é  Miguel Ângelo de Azevedo (o Nirez ) musicólogo de primeira qualidade e também pesquisador da Capital do Ceará. Segundo ele, quando o prédio começou a ser edificado, em 1928, realmente o seu proprietário, Plácido de Carvalho, rico comerciante fortalezense, montou a estrutura em alvenaria de tijolos e trilhos** de trem, unidos por argamassa de cimento e cal. 

Porém, o construtor Natali Rossi, irmão de Pierina Rossi, esposa de Plácido, o aconselhou a desistir de tal empreitada de alvenaria (a obra já estava no segundo andar), pois a partir do quinto andar (o prédio foi projetado para ter oito) a estrutura ficaria muito pesada e os tijolos seriam arrebentados, provocando desabamento.
Na parte externa do prédio os arabesco, em forma geométrica, embelezam a fachada Foto de Eliézer Rodrigues






Então, todo o projeto foi refeito e a construção recomeçou do zero, a partir dos fundamentos da obra, mas usando  concreto armado. 

O hotel fica localizado na praça do Ferreira, na esquina entre as ruas Guilherme Rocha e Major FacundoInspirado num edifício existente em Milão, na Itália. A construção começou em 1928 e foi inaugurado três anos depois.


Os elevadores ainda são os originais - Foto de Eliézer Rodrigues

Toda a decoração do prédio, a ambientação interna, principalmente a entrada, até hoje está do jeito que foi idealizada, desde a sua inauguração. A ideia foi da italiana Pierina Rossi, mulher de Plácido de Carvalho,  que mandou buscar na Itália todos os apetrechos necessários à decoração do novo hotel que estava surgindo na cidade, em meados do século XX.

Detalhes dos candelabros - Foto de Eliézer Rodrigues


*Concreto armado.

** De acordo com o pesquisador e ex-ferroviário, Assis Lima, os trilhos usados não foram de trens. As ferragens para a construção do prédio vieram da Polônia, juntamente com uma encomenda para a estrada de ferro de Baturité, que à época já era denominada RVC. A encomenda chegou em 1929. Fonte: Relatório da RVC de 1929, criminosamente destruído em 1998 por ser entregue às intempéries de prédio com telhado comprometido. As chuvas de 98 levou os insensíveis dirigentes da ferrovia a colocarem "papéis velhos" no lixo.¬¬


Todos os créditos para o querido amigo Eliézer Rodrigues, jornalista respeitado e editor da revista  Singular

terça-feira, 14 de junho de 2011

Hotel de France - Associação Comercial do Ceará




Antigo Hotel de France, antigo Palace Hotel, o Edifício Antônio Gomes Guimarães, hoje é a sede da Associação Comercial do Ceará. Construção do final do século XIX. 

Foto do início do séc XX 

O edifício guarda ainda hoje, um original conjunto de detalhes construtivos, que chamam a atenção pela qualidade, variedade e esmero com que foram executados.

Vale a pena desfrutar o precioso piso do saguão feito com mosaicos hidráulicos policromados de tamanhos diferentes, o conjunto de vitrais com caixilhos de madeira, a elegância da escadaria em mogno, as grades da varandas e muitos outros detalhes.

Passeio Público - Em frente, o hotel

Registro do Passeio Público nos anos 40. A fundo vemos o antigo Hotel de France, hoje Associação Comercial do Ceará. Em destaque a estátua de Prometeu, em mármore, no Passeio Público.

Localizado na Rua Major Facundo, Nº 2, esquina com a Rua Dr. João Moreira.
Usado atualmente pela Associação Comercial do Ceará, mas seu uso original foi pelo Hotel de France.
O estilo Arquitetônico é Eclético. O estado atual da construção encontra-se bom, mas necessita de manutenção.
O grau de conservação é muito bom, pois ainda conserva os elementos originais.
Grau de Proteção: Há uma Proposta de Tombamento a Nível Municipal.

Revista Annuario Brasileiro Commercial Illustrado, 1906. Propaganda do “Hôtel de France”, pertencente a Isidor Brown, na "Praça dos Mártires" (Passeio Público), em Fortaleza, esquina da rua Major Facundo com a rua Dr. João Moreira. Representava a influência da cultura francesa na sociedade elitizada fortalezense, durante a “belle époque”. Em seguida se transformou no badaladíssimo “Palace Hotel” (de Efrem Gondim, 1927), com seus banquetes às autoridades, sendo hoje o Ed. Antônio Gomes Guimarães sede da “Associação Comercial do Ceará”, por sinal muito bem zelado, podendo ser tombado. Lucas Júnior

Definição de seu contexto imediato e relação com seu entorno:

Encontra-se situado em frente a Praça dos Mártires (Passeio Público -Tombada a nível Federal).Também forma parte do conjunto do corredor cultural, Corredor do Mar, que se estende desde a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, até a Estação João Felipe, onde se encontram concentrados um grupo de prédios de relevância para a história de Fortaleza.

Descrição Arquitetônica:

Edifício de três andares de alvenaria autoportante com tijolos, e pisos mistos de vigas de madeira e trilhos, paredes duplas, que sofreram algumas modificações tanto externas como internas, para reformas e ampliações, ao longo de sua história. As fachadas conservam ainda toda a ornamentação e detalhes do estilo eclético.

Área construída Total: 1. 950 m2           Área ocupação: 650 m2
Número de pavimentos: 3 pavimentos
Situação e Ambiência: Casa de esquina (Rua Major Facundo esquina com Dr. João Moreira ocupa  90% do lote Fachada Principal Norte, acesso a nível da Rua.




Associação Comercial do Ceará

Criada em 1868 associada principalmente os comerciantes estrangeiros Ingleses e Franceses; seu primeiro presidente foi o Inglês Richard HuggesPrimitivamente um sobrado construído na segunda metade do século XIX pertencente a Odorico Sergismundo de Arnout, adquirido por Dario Teles de Meneses, foi demolido e construído outro no lugar. Comprado dos herdeiros de Dario Teles, por José Gentil, foi reformado para Hotel, primeiro o Hotel de France cujos proprietários eram os franceses Louis Dragaud e Louis Gonthier e o alsaciano Isidor Braun e depois o Palace Hotel, depois de alugado em 1927, recebendo mais um andar e anexando uma casa vizinha pela Rua Dr. João Moreira, na década de 40. No dia 10 de Agosto de 1971, fecha definitivamente suas portas, o tradicional estabelecimento Palace Hotel de Efrem Gondim sendo o prédio vendido para Associação Comercial a 3 de outubro de 1973 é comprado o prédio pela Associação.



Evolução funcional, construtiva e formal:

Planta retangular e três andares com a parte menor dando para o Passeio Público, Fachada Norte, (Rua João Moreira), e a fachada mais cumprida pela Rua Major Facundo com aberturas para ambas ruas.

Construído em 1890 , foi inaugurado a princípios do século XX o Hotel de France, sofrendo algumas modificações, em 1925 passou por uma reforma agregando-lhe uma casa pela Rua Major facundo e um andar a mais, na década de 1940, o prédio sofre sua última grande reforma, ocupa mais uma casa pela Rua Dr. João Moreira e transformam sua decoração exterior com vestígios de neo - classicismo.


Modificações realizadas:

As modificações realizadas foram incorporando valores ao prédio ao longo de sua história e readaptando as novas funções de hotel, dando-lhe mais elegância e estilo, os detalhes construtivos chamam a atenção, detalhes de carpintaria, vitrais com caixilhos de madeira, pisos de mosaicos hidráulicos policromados, escadaria de grande elegância, grades de serralharia e outros belíssimos detalhes. Também elevador, que ainda está em funcionamento.



Análise dos elementos componentes da edificação:

Edificação de três pavimentos, e duas fachadas de importância, uma pela Rua Major Facundo e a principal fachada norte pela Rua Dr. João Moreira, ambas fachadas tem uma coerência formal e expressam alguns elementos Neoclássicos, as elegantes portas de arco pleno se destacam em ambas fachadas, e nos dois primeiros andares, coroadas por vitrais de desenho e colorido harmônico, o prédio está coroado por platibanda com detalhes neoclássicos e copas coroando as esquinas, o último andar com janelas sem arcos, lhe dão grande elegância e permite ver claramente o desenvolvimento construtivo. 


Análise da estrutura e possibilidades de recuperação:

O prédio encontra-se em excelente estado, precisando de manutenção geral, e posta em uso para sua melhor conservação.

Análise das causas que provocam a deterioração e seu classificação:


A manutenção geral do imóvel evitaria danos maiores provocados por entradas de água que consequentemente levam a falhas estruturais, de maior envergadura.


Critérios específicos de recuperação:

Os critérios para a recuperação das fachadas principais serão fundamentados em a manutenção geral e restauração de algum elemento perdido.

· Manutenção em geral das fachadas: rebocos, limpeza, eliminar plantas parasitas, etc.
· Revisão e recuperação da coberta.
· Revisão e recuperação de calhas.
· Revisão de pontos de drenagem pluvial.
· Recuperação dos pontos de drenagem originais.
· Recuperação de portas e janelas, restauração das existentes.
· Recuperação de ornamentos.
· Recuperação de sacadas, balcões. (Recuperar piso)
· Recuperação de grades de ferro, completar corrimão de madeira.
· Recuperar bandeiras de portas, completar vitrais.
· Recolocar ar condicionado.
· Restaurar calçada, com materiais originais.
· Limpeza e reparação de luminárias existentes.
· Eliminar ou redesenhar entrada de fiação elétrica e telefônica.
· Recuperação de cores originais.




Valores principais de destaque e informações a transmitir:


Recuperação de elementos componentes da arquitetura da cidade expressados claramente no prédio, revitaliza também os valores do monumento, considerado uma das principais edificações do Centro Antigo de Fortaleza. 


Definir tipo de intervenção:

(Consolidação, limpeza, liberação, restruturação, etc.)Serão necessários trabalhos de limpeza, liberação de elementos agregados, manutenção e recomposição cromática da fachada.

Foto de 1905

Saiba mais sobre a Associação comercial do Ceará:

A associação foi reconhecida pelo governo imperial pelo decreto 4.059, de 28 de dezembro de 1867. No ano seguinte o decreto imperial 4.269, de 12 de novembro de 1868, modificou o nome para "Associação Comercial da Praça do Ceará". Em 1897 a entidade volta a ter o nome de origem sendo reformulada sua organização jurídica. No ano de 1918 o Congresso Nacional decretou de utilidade pública a associação.
Com a reorganização em 1897 foi composta uma nova diretoria com os seguintes dirigentes:
  • Alfredo Salgado
  • José Bruno Menescal
  • Guilherme César da Rocha
  • Aquiles Boris
  • Tomás Pompeu de Sousa Brasil
  • Possidonio Pôrto
  • João de Pontes Medeiros
  • Leoncio da Silva Matos
  • Domingos Beto de Abreu
  • F. H. Harding
  • Eduardo Studart
  • Adolfo Barros
O prédio da atual sede foi adquirido em 3 de outubro de 1973. Anteriormente era o "Palace Hotel" de propriedade de Antônio Gentil Júnior.

O prédio hoje

Para uma visita ao passado, basta entrar no lindo edifício para começar a “viagem no tempo”: no piso, mosaicos hidráulicos policromados de tamanhos diferentes e paginação própria para cada ambiente. À direita, uma longa escadaria em mogno, após o saguão, nos deparamos com um lindo salão de festas, com colunas em mogno e detalhes nas janelas em vitrais.
Edifício de três andares de alvenaria autoportante, com pisos mistos, de vigas de madeira e trilhos, paredes duplas, que sofreram algumas modificações tanto externas como internas, em reformas e ampliações, ao longo de sua história. As fachadas conservam ainda toda a ornamentação e detalhes do estilo eclético.



Antenada com a preservação da memória de nossa Capital, a Associação Comercial do Ceará, contratou as arquitetas Mônica Pamplona e Sônia Bayma para promoverem o restauro adequado daquela edificação, garantindo preservar o estilo arquitetônico.


A edificação vai receber especiais cuidados de restauração, entre as mudanças previstas está o retorno do uso do salão principal com seu lindo piso de mosaicos hidráulicos, onde ocorriam os grandes eventos e a reforma dos banheiros, com o propósito de permitir melhor funcionalidade das instalações, sem agredir a arquitetura original.
Iniciativa digna de aplauso. Fortaleza só tem a ganhar!

Foto de Manilov

Foto de Manilov



Créditos: Ofipro, Wikipédia e Jornal O Estado do Ceará

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Hotel Brasil - Palacete Brasil

O Hotel Brasil, era o mais renomado da cidade. Nele se hospedavam todas as ilustres figuras que pela cidade passavam.

Chegando à Praça General Tibúrcio, conhecida popularmente como Praça dos Leões, é possível apreciar construções majestosas resistindo ao tempo. Nesse conjunto arquitetônico, temos a Igreja do Rosário, o Palácio da Luz, hoje abrigando a Academia Cearense Letras (a primeira do país), o Museu do Ceará, local da antiga Assembleia Provincial e o Palacete Brasil, na esquina da rua General Bezerril com a Travessa Morada Nova, onde antes existia uma linha de bondes de tração animal que partia em direção à Alfândega (a chamada linha da praia ). A travessa virou passagem para pedestres, prolongamento da praça, mas o desenho demarcando a linha do bondinho serve de recordação.




O Palacete Brasil é o que me chama mais atenção. Nas minhas visitas ao Museu do Ceará, lembro que costumava ficar olhando pelas janelas, procurando alguma forma de desvendar o que havia hoje onde antes costumavam ser quartos de hóspedes. Como as janelas do Palacete estavam sempre fechadas, nunca consegui avistar os cômodos e ficava imaginando a posição das camas, dos criados-mudos, dos armários…


O Palacete foi construído em 1914, por Rodolfo F. Silva & Filho (proprietários da Serraria a Vapor), a mesma responsável pela construção do Instituto Epitácio Pessoa. O projeto foi do engenheiro João Saboia Barbosa, a pedido da empresa Frota & Gentil. Foi edificado especialmente para abrigar a segunda sede do Banco do Brasil em Fortaleza. A primeira havia sido instalada em 14 de agosto de 1913, numa casa na rua Barão do Rio Branco¹.


Anos 20

A imponente obra em estilo neoclássico foi concluída em 1915, mas segundo o memorialista Nirez, no seu livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza, o Banco do Brasil passou para o edifício ainda antes da conclusão, no ano anterior (Em julho de 1914).

Em 17 de março de 1945, o prédio ganha nova função e passa a funcionar como hotel. Nascia então o famoso Hotel Brasil, de propriedade da firma Alexandre & Quintons. Na parte de baixo funcionava a sede do Banco do Brasil e nos pisos superiores, ficavam os quartos dos hóspedes. Numa época em que os hotéis se concentravam no centro da cidade, o renomado hotel Brasil era muito procurado por ilustres que visitavam nossa capital. Com a saída do Banco, no local passou a funcionar o Restaurante Brasil.



Antigo Hotel Brasil, localizado ao lado da Praça General Tibúrcio


Quando a orla marítima virou ponto de lazer e de negócios, começou a atrair os turistas que vinham à cidade. Devido a essa mudança, os hotéis do Centro que abrigaram os visitantes da Fortaleza de outrora, começaram a perder espaço para aqueles com vista para o mar.

Os prédios foram esvaziando, vindo a falir um a um. Praticamente abandonados, ganharam outras funções:

Hotel Excelsior – Além de fazer a alegria das crianças do Natal de Luz no final do ano, hoje abriga lojas no térreo e nos andares superiores, o escritório de uma construtora e o Restaurante Paidégua;

Hotel Savanah – O térreo, também deu lugar ao comércio e nos andares de cima, não há uso até o momento, mas dizem que dará lugar a uma faculdade;
Palace Hotel – Antigo Hotel De France, hoje é a Associação Comercial do Ceará;

San Pedro Hotel – Hoje é o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA). 
Esse também foi o caso do Palacete Brasil, antiga propriedade do Coronel José Gentil Alves de Carvalho. Foi todo restaurado em 1994, depois de sua venda, pelo arquiteto Gerardo Jereissati Filho. Os quartos do hotel foram adaptados e viraram salas comerciais para aluguel e na parte de baixo, já com mais ou menos quinze anos, encontra-se o Lions Self-Service Restaurante e Bar².

Foto da década de 30, vemos o Palacete Brasil, a Assembléia Legislativa, além de um carro de modelo da década de 20

Hoje onde trabalhadores do Centro sentam para comer, um dia se hospedaram vereadores, deputados, artistas, autoridades…
O estabelecimento (Restaurante Lion
s) foi fundado por um casal de paraibanos, D. Fátima e “Seu” Eufrásio que sempre vinham para Fortaleza nas férias, a passeio, até que a Terra da Luz deixou de ser destino turístico para virar morada. Quando souberam que o local estava para alugar, foi unir o útil ao agradável!


Foto de Igor de Melo - Vós
O estabelecimento deixa a noite dos que passam pela Praça bem mais agitada e é bom para relaxar ao final do expediente ou para curtir um sambinha. Ambiente agradável, ao ar livre, música boa, o bar é muito procurando, especialmente aos sábados à tarde para um bate-papo entre amigos.

Hoje centenária, a fachada do Palacete encontra-se tão majestosa quanto antes, e eu continuo com a mesma curiosidade do tempo de estudante, ainda me pego olhando para suas janelas, querendo abri-las, me vejo debruçada no parapeito, olhando para a praça, admirando o bondinho passando… Quando sou despertada por um vendedor:


— É livro? ¬¬


O Palacete Brasil hoje abriga o Lion's



Foto Fortal

Foto de Igor de Melo - Vós
¹A primeira foi instalada numa casa na Rua Barão do Rio Branco, sob a direção do Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira e tendo como gerente Francisco Barbosa de Paula Pessoa.


²Há quinze anos, o cheiro da comida da dona Fátima invade a Praça dos Leões. De dentro do edifício antigo da Morada Nova com a General Bezerril, a hora do almoço se anuncia pelo olfato. Ali onde funcionava o Hotel Brasil, agora sentam para comer trabalhadores do Centro. 
O estabelecimento é comandado pelo simpático casal de paraibanos, dona Fátima e seu Eufrásio, que trabalhavam no mesmo ramo em Campina Grande, mas a associação familiar não deu muito certo, e a Terra da Luz, antes vista como passeio de férias, tornou-se morada.



Antigo Hotel Brasil - Hoje Bar Lions - Crédito da foto


Nessa foto aparece a placa BAR LIONS - Crédito da foto

Foto de Igor de Melo - Vós
No começo, conta dona Fátima, que dormiam na parte de cima do restaurante, enquanto chegava a mudança completa. As noites eram custosas, não se conta nas mãos às vezes em que escutaram vir da praça pedidos de socorro pela madrugada adentro. Passado esse período inicial, era preciso ainda lidar com as garotas de programa e com a clientela do motel ali perto. As meninas assaltavam e afastavam clientes, diz. Hoje é outra praça, muito mais tranquila, mas quando chegaram os guardas, o Lions já tinha se virado sozinho em quase tudo, menos na concorrência do comércio informal. 

Foto de Igor de Melo - Vós
Foto de Igor de Melo - Vós
As contas todas, o aluguel [pago aos Jereissati] e os impostos são o que pesam no olhar da comerciante quando chega de mansinho um vendedor de tapioca ou de espetinho e se "abanca" debaixo do poste, perto do restaurante. Dona Fátima paga mais de duzentos reais só de iluminação pública. E para dar conta do serviço são sete funcionários. “Não é justo. A gente não faz nada, mas me incomoda”. Quanto a cidade deixa de arrecadar de pessoas que podem pagar por mera desestrutura?



Foto de Igor de Melo - Vós
Algumas vezes, o Lions deixa a noite dos que passam pela Praça, bem mais agitada. DJs assumem a parte de cima do bar e o pessoal se espalha pelos arredores da praça. Não é sempre que acontece e não há divulgação. É mais importante que seja bom para quem vai do que a quantidade de pessoas. Fátima prefere assim.
Créditos: Portal do Ceará e Fortaleza no Centro

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