Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : estação
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sexta-feira, 18 de junho de 2010

O bonde (IV) - Soares Moreno


Bonde elétrico Soares Moreno nº 73. Arquivo Luis Antonio Alencar

Assim, a cidade de Fortaleza, por estar dividida em quadrantes, a zona oeste era servida por três linhas de bonde - Jacareacang
a, Via Férrea, por assim dizer, e a linha Soares Moreno, da qual nos ocuparemos agora.

Na retangularidade de um quadrilátero a linha do bonde Soares Moreno - saía da Praça do Ferreira, ponto de convergência de quase todas as linhas, e tomava rumo pela Guilherme Rocha até a rua Tereza Cristina, dobrando à direita e, nesse percurso atingia a esquina da Rua Senador Castro e Silva, onde dobrava à esquerda para estacionar de frente ao Cemitério São João Batista - também conhecido como aprazível “chácara do Sr. Cândido Maia” - decantado nos versos da poetisa Letícia Câmara - tia de D. Hélder Câmara, irmã do dramaturgo teatrólogo Dr. Carlos Câmara. Mas voltando à vaca fria, para ligeira e jocosa explicação sobre a denominação dada ao cemitério. Prendia-se ao fato do Sr. Cândido Maia ser à época o administrador do Cemitério São João Batista, após a mudança do local que deu origem ao segundo. Pois o Cemitério São Casimiro, como anteriormente era conhecido, situava-se ao lado da Estação Central onde hoje se localizam várias dependências da RFFSA (antiga R.V.C.).

Com valiosa informação de um dos maiores conhecedores da história do Ceará, pela vivência no tempo e possuidor de prodigiosa memória - dizia meu inesquecível avô, padrinho e benfeitor - Prof. Dias da Rocha... que na década de 1870 a epidemia que assolou nossa cidade tomou proporções tão agigantadas, que o Cemitério São Casimiro ficou impossibilitado de proceder como fazia antes o sepultamento, diante do grande número de pessoas estrangeiras que aqui chegavam e eram acometidas da peste, razão pela qual abriu-se vala comum para sepultar os vitimados pela peste bubônica.

Dessa forma deu-se início ao Cemitério São João Batista - 1880, sob administração do Sr. Cândido Maia, que durou por muitos anos, passando mais tarde a administração ao construtor licenciado - Marcelo Galvão, o qual permaneceu por longos anos administrando o “Campo-Santo”, como era também conhecido. E como estamos a alguns passos das covas de entes queridos, vale agora lembrar o escrito na lápide do grande poeta Quintino Cunha, onde se lê:

“Diz a Sagrada Escritura,
Que Deus tirou o mundo do nada
E eu nada levei do mundo”

Dizem ainda que os boêmios prosistas aproveitavam o prateado “luar de agosto” e, com seus violões, prostrados à frente da “última morada” entoavam canções, evocando o passado e a lembrança dos entes queridos que dormiam o sono eterno no campo-santo. Também não poderia faltar quem na incredulidade cantarolava:

“incarquei, incarquei a cova dela
uma voz, uma voz lá do alto arrespondeu
Arritira arritira o pé de riba
Deixe o amor, deixe o amor que já foi teu”.

E por aí vão os cantores e trovadores que exprimem seu bem-querer e sua amizade por diversas formas - assim as louvações se repetiam na campa dos que se foram chamados pela morte (parca).
O nosso passageiro ilustre do bonde Soares Moreno é o abolicionista e intérprete comercial Alfredo da Rocha Salgado, morador da grande vivenda “Itapuca Vila”, cujo imóvel num estilo primoroso da arquitetura se sobressaía das demais casas e bangalôs da época. Ocupava quase uma quadra das ruas Guilherme Rocha - frente, Princesa Isabel - lado nascente, Tereza Cristina - lado poente e a poucos metros da rua Liberato Barroso.

Um pouco de sua biografia diz-nos que:

Alfredo da Rocha Salgado nasceu no dia 01.09.1855 e faleceu em 13.04.1947. Intérprete comercial nas línguas inglesa, francesa e alemã; funcionário da Casa Inglesa constituída por sociedade anônima sob o título - Casa Salgado S.A., de grande atuação na economia cearense, sendo a primeira a montar prensa hidráulica para o enfardamento do algodão no nosso Estado.

Entusiasta das causas nobres, foi abolicionista de primeira linha, dos de frente sem receio. Um dos fundadores da afamada sociedade mercantil “Perseverança e Porvir”, em 1879, sob cuja inspiração veio a formar-se a “Cearense Libertadora”, que agitaria e levaria até o final a luta vitoriosa da emancipação dos escravos na Terra da Luz. (Famílias de Fortaleza - Dr. Raimundo Girão, 373/375).

Apesar de ser bom cavaleiro e do animal muito se utilizar como transporte, entretanto na frente de sua chácara, os bondes obrigatoriamente faziam parada, que mais por privilégio atendia quem morava na Vila Ipu e adjacências.
O bonde Soares Moreno era utilizado essencialmente por pessoas que moravam nas ruas centrais até as ruas Pe. Mororó e Agapito dos Santos, bem como os assíduos frequentadores do Cemitério São João Batista, que diariamente visitavam os seus entes queridos como se cumprissem uma verdadeira obrigação de comparecer ao local do sepultamento como se vivo estivesse, ou não tivesse se conformado com a partida do ente querido para o mundo maior.

Assim, o dia de Finados, dia de prestar homenagem aos mortos, levando coroas, flores e velas, tornava grande o movimento na linha de bonde que se encarregava de transportar pessoas de outros pontos da cidade, à Cidade dos pés juntos”, como diz a gíria cearense.

Afinal, em 09 de novembro de 1913, com a presença do intendente municipal Guilherme César da Rocha, marcada pela alegria do povo, ocorre a festividade inaugural do tráfego de bondes elétricos na linha da Estação (Joaquim Távora), no dia 12 de janeiro de 1914, é inaugurada a linha entre a travessa Morada Nova e a Praia de Iracema, denominada Linha da Praia. No mês seguinte, a 14 de fevereiro de 1914, começava a funcionar a linha do Outeiro (Santos Dumont/Aldeota).

Cada passagem custava $100,00 (cem réis).

No livro “História da Energia no Ceará”, de Ary Bezerra Leite, afirma que “Promoção em favor dos estudantes, lançada em 1917, assegurava aos alunos menores de 14 anos das escolas ‘bem conhecidas’, abatimento de 50% das passagens mediante solicitação mensal da direção dessas escolas, constante de emissão de cadernetas de 52 bilhetes nominais e intransferíveis para uso durante o mês especificado e no período entre 6 (seis) horas da manhã e 6h30min (seis horas e trinta minutos) da tarde.” Existiam também “passes” que asseguravam gratuidade a seus titulares nas viagens de bondes, concedida aos empregados da empresa e a outras pessoas, por livre determinação da gerência.
Outro aspecto merecedor de realce refere-se ao fato de a Ceará Tramway Light procurar “desfazer-se do patrimônio insersível da antiga Ferro-Carril”. Por contrato de 31 de janeiro, assumiu a responsabilidade pela conservação e trato de 200 (duzentos) muares o Sr. Francisco Correia, a quem se conferia o direito de “preferencial de compra”.
Mais adiante acrescenta o professor Ary Bezerra Leite em “Os Bondes Elétricos The Ceará Tramway Light and Power Company LTDA”. - Os bondes a burro foram vendidos para empresa Teixeira Mendes, de São Luís, Maranhão, contando que, na chegada, alguns veículos foram jogados ao mar pelos catreiros que protestavam indignados pela compra de verdadeira sucata.
A Ceará Light - pelo que se sabe, fazia algumas concessões aos passageiros concedendo “passes” e outras benesses aos estudantes nos seus bondes; entretanto, tinha uma passageira honorária que nunca pagou passagem nem tão pouco lhe cobravam. Era por assim considerar “a passageira liberada de ônus” - “remida ex-causa” (liberada de ônus) ou “auctoritate propria” (por autoridade própria). Subia no bonde - de repente todos cediam lugar para sentar, não agradecia nem pedia lugar, tudo lhe era ofertado com o máximo respeito e maior cautela para não suscetibilizá-la no menor gesto.

Impassível, quase inerte, enquanto não lhe magoassem os calos, não incomodava ao vizinho nem com esse queria “papo”. Alguma vez se esse estivesse fumando pedia um cigarro... Enfim uma passageira “HONORÁRIA” que durante o período de aula do Liceu dificilmente subia no bonde Jacarecanga. Preferia pegar o Soares Moreno e a pé se deslocar para as casas de pessoas generosas que moravam na Jacarecanga e todos os dias lhe ofereciam almoço e jantar. Desnecessário citar as bondosas famílias.
Essa tão respeitada senhora, literalmente falando, não era senão - a famosa, temida e achincalhada - “Ferruge”. Por ser um tipo exótico e demais conhecida em toda essa nossa Fortaleza, marcou época nos anos 40 e 60 perambulando, percorrendo as ruas centrais, tomando assento nos bares, restaurantes, sem pedir nada. Não ingeria bebida alcoólica. Os esmoleres mais compadecidos ofertavam-lhe dinheiro, cigarros, lanches, etc. Cortavam-lhe os cabelos à moda masculina, ou seja, corte a máquina quase zero - hoje esse corte é bastante usado por atrizes e artistas de televisão - de tal forma o corte do cabelo que quando começava a crescer ela própria se encarregava de puxar os fios arrancando-os, fazendo uma “cara feia” de meter medo. Conduzia como parte de sua indumentária um lençol que a envolvia desde os ombros guarnecendo os braços, para se abrigar do frio das noites, nos locais onde pernoitasse.
Mas esse mutismo era quebrado quando algum aluno do Liceu, - mais freqüente - ou outro gaiato se escondia por detrás do poste de iluminação e gritava: “A Ferrugem é homem” - aí acabava o tempo bom. De repente ela se arvorava, abria o dicionário de pornografia e terminava por exibir as partes pudendas e, batendo com a mão na genitália, dizia: - “Taqui não sou homem não!... seu f.d.p!...”.
Por conseguinte, da “Ferruge” nada se sabia em relação à sua origem. Parecia não ter família aqui e nem se podia atribuir a sua naturalidade diante do seu estado patológico. Insana, não sabia se comunicar. Era de baixa estatura, traços fisinômicos corretos, olhar denunciador da entidade nosológica de que era portadora. De certa forma compensada na sua infeliz sina, porque todos dela se compadeciam e na sua desdita não faltava quem dela se condoesse, ofertando-lhe um prato de comida. Após a refeição se prostrava debaixo do ficus-benjamin, geralmente o da casa do Dr. Pedro Sampaio, esquina da rua Guilherme Rocha com Av. Cel Filomeno Gomes; tirava suas sestas sem nenhuma preocupação, nem de saber se era tempo de plantar ou colher, e, nem de escolher os governantes - porque não sabia o que era eleição, eleitor, e muito menos o que significava o dever de votar, porque disso ela nada atinava e nem desconfiava por ser abúlica. Assim, alheia a tudo que a seu redor se descortinava, sem obrigações ou deveres, a vida não passava do simples amanhecer e anoitecer. Tinha como companheiro da noite, um céu azul anilado escuro, com estrelas cintilantes que vigiavam-na através das réstias que se infiltravam por entre as folhas das árvores a alcatifar o seu manto que servia de proteção ao frio. Ah! Quanta ironia do destino. Pobre “Ferruge” que da sorte foi enteada e como madrasta teve a vida como errante, deve hoje estar no céu. Da vida não tinha consciência por ser tudo sem importância, nem responsabilidade com o viver, por não ter conhecimento da própria existência. Talvez mais feliz do que os que na sua perfeita sanidade mental são verdadeiros desvairados... A “Ferruge” foi feliz porque na sua irresponsabilidade nunca teve o propósito do mal, não soube avaliar o bem, não pecou por pensamentos, palavras ou omissões, mas cumpria sem saber os Dez Mandamentos. Será que foi somente infeliz? Só Freud explica...

Zenilo Almada
Advogado


Gíria cearense - Naturalmente, com o afluxo de grande parte do povo cearense - e nordestino em geral - para outras regiões do Brasil, essa gíria se difundiu e hoje é usada largamente em nosso País.


Linha do Outeiro - (Santos Dumont/Aldeota)


Continua AQUI

Veja também:



Crédito: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 8 de dezembro de 2002
e Fotos Arquivo Fortal


quinta-feira, 17 de junho de 2010

O bonde III

Bonde na Estação da RVC, 1918. - Arquivo Luis Antonio Alencar

Quem teve a felicidade de se transportar utilizando-se do bonde até os fins dos anos de 1947, e ultrapassou meio século de existência, pode ainda recordar para dizer da sensação que sentia até no balanço causado pela trepidação do bonde que vibrava no deslizar dos trilhos. Tão perfeitamente ajustados ao solo como duas listras de ferro que pareciam intermináveis na sua forma perpendicular. Na ardência do sol a pino essas duas listras negras reluziam como se fossem faiscar no calor, capaz de queimar quem ousasse pisar sobre as mesmas descalço. Era o trilho de ferro de intenso brilho e por onde os bondes passavam conduzindo passageiros. Contrariamente, à época invernosa, os trilhos parecia que se escondiam nas pequenas poças e regos d’água formados pelas chuvas caídas ao solo, como se estivesse das nuvens recebendo prenúncio da chegada do inverno; para isso o bonde se munia com o aparato das sanefas brancas listradas de verde, que acionadas verticalmente deslizavam por fresta e fechavam o compartimento de cada banco tornando-o protegido das águas das chuvas. O mesmo ocorria quando o sol estava a pino e muito quente. Embora, às vezes, essa fase invernosa não se prolongasse quase nada, contrariando o período de sua duração, do seu devido tempo, eis que a escassez pluviométrica se acentua e o nosso Ceará vem a sofrer as agruras de uma seca, que no seu império absoluto, expulsa levas e mais levas de nossos irmãos sertanejos que por aqui se achegam à procura de emprego e melhores dias para a família. Mas, mesmo assim, o sofrido cearense que de tudo tira proveito, até do sofrimento e da desgraça atmosférica, para amenizar o sofrimento causado pelo efeito da metereologia, arranja jeito para filosofar, quando resolve emigrar do sertão bravo e toma o trem rumo à Capital. E dentre eles surge sempre o matuto inteligente e astuto que quando desce do trem sabe que chegou à Capital; observa a diferença logo na Estação central, e quer satisfazer a curiosidade de conhecer o tão falado “bonde elétrico” que tem na Cidade e transporta gente, porque até então só conhece além do trem “o lombo dos animais”, automóvel, nem sabe se é “homem ou se é mulher”... Em aqui chegando e descobrindo o bonde verseja no repente: I Eu vim do sertão, pro’ mode vê A capitá do Ceará! Eu vi coisa do árcu da véia! Qu’i faz à genti siarripiá. II Q’uando eu cheguei na estação centrá Vi u’ma luz acendê sem pavio U’ma “gaiola cum nome de bonde”, Qui vinha danada pu riba du trilhu!! III Na casa em qui fui amoitado, Tinha u’ma “tirrina” no pé da mesa O povo cuspia dentro, Meu Deus nunca vi Tama-nhá nogenteza. Daí corria o olhar para cidade baixa, ou seja, a descida do curral das éguas e logo se engraçava de uma “grinfa” já traquejada e levava para dançar no Salão Azul ou no Bola Preta... ou para ver o “Açude do Sr. Boris” - a Praia Formosa. O nosso passageiro ilustre do bonde Via Férrea - é o naturalista, - o cientista Prof. Dias da Rocha, que morou durante 61 (sessenta e um) anos (de 1899 a 1960) na Rua 24 de Maio No 214, há exatamente uma quadra da Praça da Estação Central - entre as ruas Sen. Castro e Silva e Senador Alencar, vizinho à antiga Escola de Artífice do Ceará (esquina da Rua Senador Alencar). Um pouco de sua história: - “Dic. Barão de Studart”. Francisco Dias da Rocha - Filho do negociante português Joaquim Dias da Rocha e D. Francisca de Paula Rocha, nasceu em Fortaleza a 23 de agosto de 1869. Avós paternos: Dr. Maximiliano Dias da Rocha, que dirigiu durante alguns anos o antigo Colégio da Formiga, na cidade do Porto, e foi professor de Latim na mesma cidade, cadeira que obteve por concurso após a revolução de 1820, e D. Maria José Pinheiro Chagas, prima legítima do escritor Pinheiro Chagas. Avós maternos: Professor Francisco de Paula Cavalcanti e D. Cosma Rufina de Pontes. Começou seus estudos em 1880 nos Colégios S. José e Atheneu Cearense, mas teve de os suspender em 1886 para dar um passeio a Europa d’onde voltou no ano seguinte. Tinha o propósito de completar os preparatórios para seguir a carreira de Medicina, o que aliás não realizou a conselho do pai, que via nele o continuador de sua casa comercial. Constrangido, abraçou essa carreira, mas ao mesmo tempo dedicava as horas que lhe sobravam às leituras das Ciências Naturais e à aquisição de espécimes da fauna e flora cearense. Em 1898, deixando o comércio, entregou-se completamente aos estudos das ciências, suas prediletas, e tomaram tal incremento suas coleções que organizou um valioso museu a que deu o nome de “Museu Rocha”, o qual se compõe de seções: Botânica, Arqueologia, Minerologia e Zoologia, e um jardim com coleções de Fougeras, Cactáceas e Aráceas cearenses e de muitas outras plantas. Para maior divulgação das raridades que possui, e como instrumento de estudo, deu início à publicação do Boletim do Museu Rocha. O primeiro número dessa interessante publicação, correspondente a janeiro, foi impresso nas oficinas do Cruzeiro do Norte, editora e Livraria Araújo e distribuído a 6 de junho de 1908. - “Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense pelo Dr. Guilherme Studart - Barão de Studart - Volume Primeiro - 1910. Pág. 292”. O Prof. Dias da Rocha, juntamente com outros estudiosos fundaram em 1916 a Faculdade de Farmácia, da qual foi ao mesmo tempo aluno e professor de Botânica Aplicada à Farmácia e História Natural. Em 1918, mais uma vez, congrega-se com novo grupo para fundar a Escola de Agronomia do Ceará, onde foi seu segundo diretor e professor de Fitopatologia e Botânica, recebendo mais tarde em sua homenagem, o Centro Acadêmico Dias da Rocha, o seu nome e, em seguida, por iniciativa de seus ex-alunos, a herma no pátio da Escola de Agronomia em homenagem aos seus 90 anos - “Zenilo Almada - Revista do Instituto Ceará - vol. 107 - 1993. pág.302”. Ainda em homenagem ao professor Dias da Rocha, foi-lhe concedida a denominação do seu nome numa das ruas do bairro Aldeota, por iniciativa do grande e inesquecível amigo Dr. Raimundo Girão quando secretário de Cultura do Município.

Na foto, um bonde elétrico no centro da capital cearense, em meados do século XX. Na altura do depósito, o bonde dobrava à esquerda e, depois de cerca de 50 metros, na rua 24 de Maio, parava na esquina da rua Castro e Silva. Virava a lança, voltava e parava de novo ao lado da Estação Central, para dar embarque (serviço inverso de quando vinha trazendo passageiros para os trens urbanos) aos passageiros que haviam chegado ou outros usuários que demandavam o centro da cidade. Mais histórias: Um viajante inglês registrou a existência de bondes em Fortaleza na década de 1870, mas outras fontes afirmam que a primeira linha de bondes puxados por cavalos, entre a estação ferroviária e o centro de Fortaleza, foi inaugurada pela Companhia Ferro-Carril do Ceará (FCC) em 25/4/1880, usando bitola de 1.400 mm a mesma usada pela Trilhos Urbanos na linha de bondes a vapor em Recife. A Ferro Carril do Parangaba abriu uma linha para o lado Sul da cidade em 18/10/1894 e a Ferro Carril do Outeiro (FCO) iniciou sua linha no lado Leste de Fortaleza em 24/4/1896. A Ceará Tramway, Light & Power Co., Ltd., registrada em Londres em 11/12/1911, comprou os sistemas da FCC e da FCO e inaugurou a primeira linha de bondes elétricos da capital cearense em 9/10/1913, agora com bitola de 1.435 mm. A linha Parangaba foi fechada em 1918 e não chegou a ser eletrificada. Todos os veículos elétricos de Fortaleza tinham um padrão, com troles: a United Electric construiu 30 em 1912 e dez em 1924. A linha de bondes de Fortaleza foi fechada por problemas elétricos em 19/5/1947 - três semanas após o fechamento do sistema de bondes em Belém. Vinte anos depois, em 25/1/1967, a Companhia de Transportes Coletivos inaugurou duas linhas de trólebus entre o lado Oeste da cidade e o Largo do Carmo.

A linha do bonde Via Férrea, cujo nome deve ter sido atribuído em virtude do fato de estacionar na Praça da Estação Central - rede Ferroviária Cearence (RVC), seu percurso obedecia ao seguinte itinerário: partia da Praça do Ferreira - seguia pela rua Guilherme Rocha entrando à direita na rua Barão do Rio Branco até alcançar a esquina da Santa Casa de Misericórdia, quando entrava à esquerda na Rua Dr. João Moreira, passando em frente à Estação Central (trem) e dobrando à esquerda para estacionar no fim do quarteirão da quadra da antiga Praça Gal. Sampaio, hoje - Praça Castro Carreira, quando inicia a rua 24 de Maio, esquina com Senador Castro e Silva. O retorno obedecia o mesmo percurso. Como se pode fazer idéia, era a menor linha de bonde da Ceará Light existente à época, mas atendia a grande número de passageiros que iam em visita aos doentes da Santa Casa e aos detentos do Casarão da Rua Sen. Jaguaribe - Cadeia Pública, cujos fundos davam para a rua Dr. João Moreira, na quadra da rua Senador Pompeu - (lado nascente) e Gal. Sampaio - (lado poente), no início da descida do Curral - local onde se aglutinava maior número de prostitutas, reduto de boêmios, músicos e cantores, sobretudo, para os que apreciavam os banhos de mar na Praia Formosa. Daí surgiu um barracão de madeira - pintado de cor verde, que servia para guardar roupas e pertences dos banhistas e, com direito a banho com água doce, que mais tarde virou associação para dar início ao grande clube Náutico Atlético Cearense. O bonde Via Férrea atendia aos passageiros que se dirigiam à Santa Casa de Misericórdia e aos reclusos e detentos da Cadeia Pública, que cumpriam pena naquela casa de correção. A pé enxuto desciam os passageiros que iam apanhar ou deixar parentes e amigos na Estação Central, para viagens aos sertões cearenses. Atendia de certa forma a várias camadas sociais. No bonde viajavam as elegantes senhoras enchapeladas e portando guarda-sol, que se dirigiam à Praça do Ferreira para fazer compras, bem como as que para sessões à tarde se dirigiam aos cinemas Majestic, Moderno, Diogo ou, ainda, para tomar sorvete no Eldorado do inesquecível e querido amigo Antônio Figueiredo (“Figueiredão”) que, com D. Márcia Amora, formava uma grande família. A sorveteria “Eldorado” tinha fama por fabricar os melhores sorvetes da cidade, era por isso ponto de encontro dos jovens e de atração da sociedade da época, que para lá se deslocava para saborear os mais típicos sorvetes e lanches de excelente qualidade. O Bar Jangadeiro do Sr. Luís Frota Passos - depois local ocupado pela Farmácia Faladroga é, hoje no mesmo local, loja de tecidos da família Otoch - na rua Floriano Peixoto, na Praça do Ferreira. Era o mais requintado bar da época, por manter diariamente uma vesperal animada por conjunto de pau e corda, quase uma orquestra de câmera. A freguesia se compunha de pessoas gradas, pertencentes à camada social de alto coturno, porque dela fazia parte a aristocracia da cidade que, depois, com a chegada dos americanos a esta capital nos anos 40 (tempo de guerra), tomou ares cosmopolitas e se misturou com lindas jovens casadoiras, dando origem às famosas e discriminadas coca-colas (moças faladas da época). Esse envolvimento das moças com os soldados americanos que aqui chegaram e permaneceram por algum tempo despertou certa disputa com alunos do Colégio Militar, que vinham do Sul e eram colocados em segundo plano pelas jovens que se permitiam a namorar soldados americanos. Aqui ainda não se conhecia a bebida Coca-Cola, que foi trazida por eles, e por isso apelidaram de “coca-cola” as jovens que namoravam americanos formando uma extensa lista... Mas deixemos as coca-colas sossegadas e falemos do quarteirão da rua Floriano Peixoto, situado na quadra da Praça do Ferreira, do delicioso caldo de cana do “Merendinha”, da família Quezado, na década de 50, perto da Rotisserie, onde se bebia o melhor caldo de cana, com o infalível pastel - de carne ou queijo - onde quase toda turma do Liceu, que estudava à noite, descia do ônibus Jacareacanga, na alameda situada bem no centro da Praça do Ferreira e corriam rápido para comprar o caldo de cana, esfriando o pastel nos grandes ventiladores, para matar a fome da rapaziada que não tinha tempo de jantar antes das aulas noturnas. Existia também já àquela época um pequeno armazém misto de mercearia e lanchonete - que tanto vendia caldo de cana, pastéis, bolos e outras guloseimas, bem como enlatados finos, ameixas, vinhos, passas e frutas secas vindos da Europa. Era a Leão do Sul - do Sr. Dimas. Mais adiante, em maior proporção, estoque e variedade, a Casa Miscelânea - do Sr. Frota, na qual gerenciava o ilustre advogado Airton Angelim. Mas, do Bar Jangadeiro ficou apenas uma paisagem viva, vista de dentro do bonde pelos passageiros, a contemplar com os olhos aquele belo espetáculo que descortinava a exuberância do requintado ambiente, deixando invejosos os passageiros do bonde que não podiam daquele agradável momento participar. Mas! Não fique triste porque tudo já passou e novos ambientes mais sofisticados e, inusitados, surgiram nessa nossa querida Fortaleza que hoje nem vale a pena lembrar porque “Nada disso nos faz companhia e ainda nos rouba a solidão” como se apregoa!!!

Zenilo Almada Advogado


"vibrava no deslizar dos trilhos" - É mesmo um efeito muito peculiar, obtido principalmente ao viajar-se em carro aberto - como eram os bondes de Fortaleza -, sentindo-se, além dos efeitos vibratórios comentados pelo articulista, a aragem do vento e um “astral” de liberdade muito característico.
"listras negras" - Os trilhos eram, na verdade, da mesma cor dos trilhos de trem, ou seja, da cor do aço polido, ou prateados, mas, devido ao fato de os trilhos de bonde terem fendas, formava-se, às vezes o efeito fotocromático a que alude o articulista.




Veja também:


O bonde - Parte IV (Bonde Soares Moreno)
O bonde - Parte V (Bonde Benfica)
O bonde - Parte VI (Bonde Praia de Iracema)
O bonde - Parte VII (Bonde Prainha) 
O bonde - Parte VIII (Bonde Outeiro)
O bonde - Parte IX (Bonde Alagadiço)
O bonde - Parte X (Bonde Joaquim Távora)
O bonde - Parte XI (Bonde Prado)
O bonde - Parte XII (Bonde José Bonifácio)


Fonte: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 17 de novembro de 2002 e fotos Fortal


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Fortaleza no séc. XIX

Visão panorâmica da Estação central João Felipe



Sociedade Cearense Libertadora, fundada em 1880. Na foto, Francisco Nascimento, o Dragão do Mar, aparece em pé, o segundo da direita.


Praia de Iracema, fim do século XIX


Planta de Fortaleza - 1888 (A. Herbster)


Movimento de carroças na Estacão Central, final séc. XIX


Estacão João Felipe, final do séc. XIX


Anos 1880; presidente da provincia do CE, Caio Prado e seus amigos na chácara do livreiro Gualte.


1899 - Rua Floriano Peixoto


Crédito: Fortal

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Fortaleza na Belle Epoque II


Mais fotos e postais maravilhosos que nos levarão rumo ao passado de Fortaleza! Boa viagem! rs

Começaremos por esse postal impresso na Alemanha. Vista rara, 1910

Postal da Igreja do Rosário. Antiguíssimo!


Postal Escola Preparatória de Fortaleza


Panorâmica séc XIX, Estacão Central


Palacete Hotel Brasil, raro postal

Postal enviado pelo correio em 1928. Igreja do Carmo


Postal editado em Paris, 1905


Postal editado em 1907, Café Caio Prado e aspecto da Av. Mororó


Postal de 1925


Postal década de 30/40, Praça do Ferreira

Postal de 1914, antiga Catedral que existiu ate 1938


Postal de 1913, entrada do Passeio Público


Postal de 1913, antiga Rua da Boa Vista


Postal de 1910, antiga Praça do Palácio


Ponte Metálica


Ponte dos ingleses - Construção em 1923

Outra foto antiga da Ponte dos Ingleses


Phenix Caixeiral, postal de 1910


Postal de 1905 - Parque da Liberdade


Postal de 1905 - Rua Major Facundo


Postal de 24 de janeiro de 1912, mostrando os estragos que derrubou Nogueira Acioli


Postal Congresso Estadual


Postal de 1929, vemos a construção do Excelsior Hotel


Postal colorizado à mão -1911. Igreja do Patrocínio (Arquivo Nirez)


Postal colorido à mão - Rua Rio Branco


Postal Avenida Bezerra de Menezes


Postal Aspecto da Praça do Ferreira - 1925


Postal Agência do Lloyd Brasileiro, 1905


Postal
Av. do Palácio


Postal antiguíssimo do Correio do Ce


Postal de 1910, Chafariz ainda existente no Passeio Público


Postal bem antigo - 1904


Ponte Metálica - Construção 1902 (É bom lembrar que a Ponte Metálica é uma e a Ponte dos Ingleses é outra, pois muitos acham que são a mesma coisa. Se observar bem, estou postando a construção das duas pontes, sendo a dos Ingleses em 1923 e essa de 1902)


Ponte dos Ingleses, na Belle Époque


Postal do Passeio Público


Este quarteirão guardava um importante patrimônio histórico da cidade, estas casas já não mais existentes, constituiam as mais antigas construções de Fortaleza.


Passeio Público, postal editado em Hamburgo, Alemanha, enviado em 1915


Passeio Público, na Belle Époque


Passeio Público, início sec. XX - Que chique, não?


Postal colorizado do Passeio Público na Belle Epoque II


Essa fotografia é linda - Parque das crianças lotado

Crédito: Arquivo Nirez e pesquisas na internet

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: