A Empresa, fundada por Teófilo Gurgel Valente e Antonio Diogo Siqueira, a 24 de outubro de 1924, Siqueira Gurgel S.A, Comércio e Indústria constitui uma das mais conceituadas e tradicionais empresas de nosso Estado.
Linha de Produção: O mais importante lançamento da Siqueira Gurgel, no ano
de 1977, foi o SABLET, denominação escolhida para simbolizar uma conquista excepcional dessa empresa no campo em que tradicionalmente vinha atuando. Realmente, esse novo tipo de sabão em tablete foi o resultado de longos anos de experiência. A excelente qualidade do produto, foi possível graças ao moderno equipamento que a empresa possuía — o primeiro do gênero no Ceará. Anteriormente, os produtos similares consumidos em nosso Estado, tinham que ser importados do sul do País ou da —Bahia, Pernambuco, Maranhão e Pará. Com a trilogia PAVÃO (sabão marmorizado), PAJEÚ (óleo comestível) e SABLET (sabão tablete), a Siqueira Gurgel alargou a suas perspectivas no mercado nacional, estabelecendo uma linha bastante avançada, constante de óleos vegetais comestíveis e industriais de algodão, babaçu e tucum, bem como sabões, sabonetes e glicerina.
O Mercado: A Usina Gurgel (Usina Ceará), que daria origem à Siqueira Gurgel S. A. Comércio e Indústria, já em 1921, demonstrava o seu pioneirismo na fabricação de óleos e sabões, adquirindo equipamentos na Inglaterra e Estados Unidos e contratando os serviços de um químico inglês, visando elevar à qualidade dos seus produtos. Com essa preocupação, essa empresa pôde conquistar a preferência do mercado regional, hoje se estendendo à sua atuação aos mais longínquos pontos do território nacional.
A experiência com esse escritório levou os seus participantes a perceberem que as vantagens para todos, decorrentes dos ganhos de escala, que seriam obtidas pela produção de óleos vegetais, que se destinariam à fabricação de sabões, em uma única e grande fábrica, seriam significativamente maiores que se a produção continuasse a se dar de forma fracionada. A partir dessa percepção, constituíram a referida firma e decidiram instalar a Usina Ceará.
Antigo prédio da Usina Gurgel, de Theophilo Gurgel Valente,
onde seria estabelecida a Usina Ceará.
Reclame veiculado no Jornal do Ceará em 21 de junho de 1937 |
Fachada da Usina Gurgel na avenida Bezerra de Menezes com avenida José Bastos, hoje Avenida José Jatahy. Arquivo Nirez
A Siqueira, Gurgel, Gomes & Cia. Ltda. foi constituída, em 24 de outubro de 1924, como uma sociedade por quotas de responsabilidade limitada, com o capital inicial de 1.500 contos de réis, divididas em 150 quotas iguais de 10 contos, assim distribuído entre os sócios: Theophilo Gurgel Valente -30 quotas (300 contos); Philomeno Gomes & Cia. -30 (300 contos); A. D. Siqueira & Filho -30 (300 contos); Proença & Cia. -30 (300 contos); e José Lauria -30 (300 contos).
Os capitais que lhe deram origem eram exclusivamente os de seus sócios, não recebendo a firma no momento de sua constituição, ou depois, qualquer auxílio financeiro dos governos federal e estadual. Do mesmo modo, não usufruiu ela de nenhum dos favores da legislação já referida, tendo-se notícia apenas de que o governo estadual lhe concedeu, pela Lei nº 2.305 de 23/10/1925, isenção, por 15 anos, de todos os impostos de carácter estadual, para uma fábrica de artigos de
perfumaria a ser instalada na Usina Ceará.
A Firma Theophilo Gurgel Valente, como parcela de sua quota na sociedade, cederia o terreno e algumas instalações já pertencentes à Usina Gurgel*, no Bairro do Matadouro, onde seria estabelecida a Usina Ceará. Por sua vez, todas as firmas pertencentes à sociedade cederiam as máquinas que já utilizavam em suas respectivas fábricas de óleos e sabão, de modo que, de início, não houvesse necessidade de adquirir máquinas novas para a usina e ficassem as despesas, relativas à sua instalação, praticamente reduzidas às da construção de seu prédio. Esse procedimento, adotado pelos sócios, tornou possível a rápida entrada em atividade da usina, já em 1925.
Fábrica Siqueira Gurgel Ltda na Avenida Bezerra de Menezes com José Jatahy. Hoje no local se encontra o Big Bompreço. Anuário do Ceará de 1975. Acervo: Herlanio Evangelista
Foto aérea da Usina Ceará, Siqueira Gurgel & Cia Ltda, Bairro Farias Brito, em 1954. Acervo William Beuttenmuller
Com a entrega de todas as suas máquinas e equipamentos à Siqueira, Gurgel, Gomes & Cia. Ltda., todos os seus sócios se obrigaram, por cláusula contratual, a não mais atuar no ramo de óleos e sabão, não apenas enquanto permanecessem como sócios, mas também depois de suas retiradas da firma. Com isso, a Usina Ceará passou a ser, praticamente, a fabricante exclusiva de óleos e sabão em Fortaleza e a maior desse último produto em todo o Estado.
Em 1927, a Usina Ceará consumiu 3.606.273 kg de caroço de algodão, para produzir 3.146.543 kg de resíduo, 42.329 kg de línter e 354.558 kg de óleo, que eram destinados, integralmente, à sua fabricação de sabão, cujo volume de produção, desse ano, não consta na fonte onde foram encontrados tais dados (Relatório do Presidente José Moreira da Rocha de 1928).
Em 1928, segundo dados da Revista dos Industriais, essa usina produzia, mensalmente, 420t de resíduo em pasta (que eram exportadas, em parte, para outros estados e exterior), 60t de óleo de algodão, 40t de óleo de mamona, 400 t de sabão (destinadas a Fortaleza e ao resto do Ceará), além de 600t de sílex, ocupando 800 operários.
A partir de setembro de 1927, a Usina Ceará passou a pertencer apenas às firmas A. D. Siqueira & Filhos e Theophilo Gurgel & Cia. devido à retirada dos outros sócios: em 14/06/1926, registra-se a retirada de José Lauria da sociedade da Siqueira, Gurgel, Gomes, & Cia. Ltda. e, em 1927, respectivamente nos dias 16/03 e 05/09, as saídas das firmas Proença & Cia. e Philomeno Gomes & Cia. Com a retirada dessa última firma, será constituída uma nova firma denominada Siqueira & Gurgel Ltda., em substituição a Siqueira, Gurgel, Gomes & Cia. Ltda., que permanecerá com o mesmo capital de 1.500 contos de réis da firma extinta, tendo o total de suas 150 quotas ou ações a seguinte divisão: A. D. Siqueira & Filhos (72,75%) e Theophilo Gurgel & Cia. (27,25%).
Reclame da Usina Ceará, publicado no Almanaque do Ceará, de 1930.
Anuário do Ce, 1977. Renato Pires |
Com isso continuaria a Usina Ceará a ser, praticamente, a única grande produtora de óleo de caroço de algodão e sabão, no Ceará, até o surto de fundações de fábricas de óleos na década de 1930.
Em 1930, além de instalações para produzir óleos, resíduos, tortos e sílex, a Usina Ceará dispunha de modernas instalações, com capacidade para beneficiar 200 t de algodão, produzir 20 t de fios grossos para redes e cordões para embrulhos e 10 mil redes, mensalmente (Almanaque do Ceará de 1930). Posteriormente, adicionaria a essas atividades a produção de adubos agrícolas e farinha de ossos (Almanaque do Ceará de 1932).
Como as espécies de sabão produzidas pela Usina Ceará eram de baixa qualidade, teve ela sérios problemas, nos anos imediatos à sua instalação, com a concorrência no mercado cearense que lhe foi imposta pela Saboaria Amazônia (de Soares & Carvalho). Tal saboaria, situada no Pará, produzia sabões de melhor qualidade (os seus famosos sabões das marcas Borboleta e Tartaruga), que tinham maior aceitação que os da Usina Ceará nos segmentos populacionais de maior renda do Estado, sobretudo nos de Fortaleza. A estratégia encontrada, pelos dirigentes da Usina Ceará, para escapar dessa concorrência, foi a concentração das vendas de seus produtos nos mercados de baixa renda do interior cearense, para onde seguiam via E. F. de Baturité. Somente com a elevação da qualidade de seus sabões, conseguida com a aquisição da fórmula do sabão Borboleta, da Saboaria Amazônia, através do filho de um de seus sócios, que se desentendera com o pai, a Usina Ceará livrou-se definitivamente dessa incômoda competição. Superada essa crise inicial, a Usina Ceará sobreviveria até a década de 1990, mudando diversas vezes de proprietário.
Os produtos da Siqueira Gurgel foram e são populares entre os cearenses. Os nomes dos produtos fabricados, tais como o sabonete Sigel, o óleo Pajeú, a gordura de coco Cariri e o famoso sabão Pavão, fazem parte da cultura do Ceará. Um dos textos de um dos famosos jingle do sabão Pavão, sobrevive na alma cearense:
"Uma mão lava a outra com perfeição, e as duas lavam a roupa com sabão Pavão".
Intervalo Sabão Pavão em 1994
Publicidade do Óleo Pajeú, publicada no Jornal O POVO em 12/05/1973.
Chegou o novo Pajeú.
É um amor!
O novo Pajeú é o amor das donas de casas e das cozinheiras.
Leve! Delicado! Puríssimo!
E fazendo charme em sua nova embalagem cilíndrica: muito mas prática, fácil de usar, econômica.
Novo Pajeú é um amor!
Óleo Pajeú, um produto Siqueira Gurgel S.A.
Publicidade do Sabão Pavão, publicada no jornal O POVO em 26.02.1930
Sabão Pavão
Cuidado com as imitações grosseiras
Só é legítimo o que for consistente (duro) e tiver o carimbo:
PAVÃO
E os dizeres: Siqueira e Gurgel, LTD
Outros produtos que também fizeram muito sucesso entre os cearenses:
Rótulo do Sabão Elephante. Arquivo Nirez
Rótulo do Sabonete Sigel, nome extraído da firma que o fabricava, Siqueira Gurgel.
Arquivo Nirez
Rótulo do Saponáceo Pavão. "Saponáceo era um tijolo para fazer limpeza na hora de lavar a louça, substituía o Bombril." Nirez
No final dos anos 90, a Siqueira Gurgel foi vendida para a família Viana e as instalações da fabrica foi transferida para Caucaia. O terreno da avenida Bezerra de Menezes com José Jatahy (antiga José Bastos), onde funcionou a fabrica, foi vendido para a rede de supermercados Bompreço.
No dia 05 de dezembro do ano 2000, é então inaugurado, no local antes ocupado pela Siqueira Gurgel, o Hiper Bompreço.
Em 2004, a Siqueira Gurgel, já na nova sede, em Caucaia, foi premiada com o prêmio Delmiro Gouveia, um prêmio que elege as cem maiores empresas do Ceará, a Siqueira Gurgel ficou na colocação 94 entre os 100.
* Fundada, em 12 de outubro de 1919, a Usina Gurgel, da firma Teófilo Gurgel Valente, em solenidade que contou com a presença do presidente do Estado, João Tomé de Sabóia e Silva, o governador do Arcebispado, monsenhor Joaquim Ferreira de Melo, o presidente da Associação Comercial do Ceará, coronel José Gentil Alves de Carvalho, o diretor da Rede Viação Cearense, Henrique Eduardo Couto Fernandes, etc.
Crédito: https://www.institutodoceara.org.br/
Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Roteiro para um turismo histórico e cultural - 2005/Diário do Nordeste/ Biblioteca Nacional Digital Brasil/ Anuário do Ceará - 1976/ As múltiplas facetas de um marchante: a vida empresarial de Antônio Diogo de Siqueira - Carlos Negreiros Viana
Muito bem redigida a matéria. A propósito Sra Leila. Pode ser que já tenha sido feita, porém revendo matérias de anos anteriores no site, não encontrei e por isso sugiro: matéria sobre uma das escolas mais tradicionais do Ceará, onde havia uma seleção criteriosa para ingresso. Trata da ETFCE, depois CEFET-CE, atual IFCE. Antes de ETFCE, a escola teve três nomes, já que sua origem remonta ao início do século XX.
ResponderExcluirhttp://www.fortalezanobre.com.br/2011/03/escola-tecnica-federal-do-ceara.html
ExcluirAbraços
Obrigado. Li a matéria da ETFCE/CEFET/IFCE. Muito bem feita! Parabéns!!
ResponderExcluirBem antes era Escola Industrial de Fortaleza, lá ingressei mediante concurso em 1962
ExcluirQue coisa boa de se ler!
ResponderExcluirAinda cinsigo sentir o cheiro da Siqueira Gurgel ! Meus avós maternos e paternos moravam bem próximo
ResponderExcluirOnde ela está funcionando hoje?
ResponderExcluirPodia ter concluído a bela história da empresa que infelizmente fechou as portas...
ResponderExcluirExcelente e precisa reportagem.
ResponderExcluirParabéns!