Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Prainha
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Avenida Dom Manuel - Antiga Rua do Barreiro



A Avenida é uma das mais antigas de Fortaleza. Seu traçada é do século XIX. É o início de um passeio pelo tempo, da Fortaleza de bangalôs, lambrequins e ornatos. 
Ela já foi Rua do BarreiroBoulevard* da Conceição, Rua Nº 19, Avenida Dom Luís e finalmente Avenida Dom Manuel.



Em 1888, a atual avenida Dom Manoel tinha o nome de Boulevard da Conceição por causa da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha, que fica no seu início. Depois teve o nome de Avenida Nogueira Acióli, Boulevard Dom Manoel e Av. Dom Luiz, sendo chamada popularmente de São Luís. Em 1890, quando todas as ruas de Fortaleza receberam números em substituição aos nomes, ela recebeu o n°19, mas a inovação pouco durou. A primeira vez que a avenida se chamou Dom Manoel foi em 1934, depois foi Dom Luís e voltou a ser Dom Manoel, até hoje. A Av. Dom Manoel se inicia no encontro das avenidas Monsenhor Tabosa e Presidente Marechal Castelo Branco (Leste – Oeste), como que continuando a antiga Ladeira da Escadinha, atual rua Almirante Saldanha e até pouco terminava na rua Rocha Lima, antes da abertura da Avenida Aguanambi, que é hoje sua continuação.


Planta de Adolfo Herbster

A Avenida consta no plano urbanístico de 1875, idealizado pelo engenheiro Adolfo Herbster. O Tabuleiro de Herbster, considera o arquiteto José Capelo Filho, no livro Fortaleza Centro Guia Arquitetônico (2006) - Mantinha a concepção xadrez do engenheiro Silva Paulet, indo adiante: “Ampliava-lhe o traçado para além de seus limites de então e criava, seguindo a orientação francesa do prefeito de Paris, o Barão de Haussmann, três bulevares, situados nas atuais avenidas Imperador, Duque de Caxias e Dom Manuel”. Mas o que poderia ser, hoje, um passeio por essa bela época, torna-se apenas caminho para um trânsito nervoso, desperdiçando-se a sombra generosa dos oitizeiros.

Sobrou quase nada da Fortaleza de bangalôs, sobrados, casarões, lambrequins, ornatos, sacadas, terraços, quintais, mansardas, balaústres, platibandas, muretas... O charmoso Boulevard, misto de pista larga e paisagismo, só existe nos livros de memórias da metrópole.

Da nascente, na Avenida Monsenhor Tabosa, à desembocadura, na Avenida Aguanambi, vivem a Igreja da Prainha e o Seminário homônimo, as escolas públicas Visconde do Rio Branco e Clóvis Beviláqua

Cruzamento da Avenida Monsenhor Tabosa com Dom Manuel

Muitas casas perderam cores e ganharam o tom do asfalto e do vandalismo. Armaram-se com grades e cercas em espiral. Lacraram as janelas-quase-portas. Transfiguraram-se em clínicas, churrascarias, pousadas, kitinetes, lava-jatos, assombrações. Calaram o Clube do América, desfolharam a Praça das Esculturas.

Algumas conservam fachadas, curvas e geometrias e merecem contemplação. No quarteirão entre as ruas Costa Barros e Pereira Filgueiras, por exemplo, ainda há muros baixos e jasmins. Mas é preciso disposição para descobrir essas raridades em uma cidade de arranha-céus. Em bairros que narram a história de Fortaleza - como Centro, Aldeota, Benfica e Jacarecanga, boa parte dos bangalôs e do charme da Capital existe, agora, nos livros.


Em 'Mansões, Palacetes, Solares e Bangalôs de Fortaleza' (ABC, 2000), Marciano Lopes preserva as “casas de grande porte”, feitas sob medida para a cidade-grande: “Foi quando as rústicas telhas de barro, produzidas nos arredores, passaram a ser substituídas pelas delicadas telhas de Marselha e até por ardósia importada da França. Da Inglaterra vinham as louças sanitárias. Portugal mandava, entre outros atavios, as pinhas, os jarrões, as estátuas e os ladrilhos de Faiança.  Algumas casas utilizavam até madeiras europeias e o precioso e agora raro pinho de Riga servia para assoalhos, portas, janelas e bandeirolas”.

A Avenida Dom Manuel é batizada com o nome do primeiro arcebispo de Fortaleza. O baiano Dom Manoel da Silva Gomes (1874-1950), conta o escritor Rogaciano Leite Filho ('A História do Ceará Passa por esta Rua' - EDR, 2002), fundou o jornal 'O Nordeste', criou o Círculo de Operários Cristãos e determinou a demolição da Antiga Sé para a construção da atual Catedral (a partir de 1939), entre outras realizações que marcaram a história local.

A avenida Dom Manuel compunha o antigo Bairro do Outeiro da Prainha.



*O nome Boulevard é de origem francesa e é o equivalente a avenida, de forma mais sofisticada. Em Fortaleza havia o Boulevard da Conceição (Avenida Dom Manuel), Boulevard do Livramento (Avenida Duque de Caxias), Visconde de Cahuype (Av. da Universidade), Boulevard Visconde do Rio Branco (Avenida Visconde do Rio Branco). 
Marciano Lopes


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Créditos: A História do Ceará passa por esta rua - Rogaciano Leite Filho, 
Jornal O Povo, Diário do Nordeste e Fotos do Arquivo Nirez

domingo, 10 de junho de 2012

Avenida Monsenhor Tabosa - Antiga Rua do Seminário - Parte III


Praça Cristo Redentor, vendo-se ao fundo a Igreja da Prainha - Arquivo Nirez

Por essência, o povo compôs a alma da avenida, dos fundadores aos habitantes atuais...

Descobrir a história de uma rua e da região que a cerca não é tarefa fácil. Documentos históricos são raros e quando encontrados, são pouco organizados. O Arquivo Público do Estado do Ceará (localizado na RuaSenador Pompeu, 648, Centro) abriga pilhas de papéis seculares. O maior problema é a falta de esquematização, o que dificulta a pesquisa. 

Nas largas calçadas, depois da esquina da Rua Senador Almino, pães de queijo e salgados atraem a atenção dos passantes. Saindo de um estreito corredor da casa onde moram desde que nasceram, as irmãs Leda Maria e Rosângela Braga vendem seus quitutes. Elas logo advertem:  Todo mundo tá viajando, vai ser difícil encontrar alguém pra falar disso (do passado)”. Mas, conversa vai, conversa vem, algumas indicações de nomes surgem. 

Uma colega das irmãs, Lúcia Mendonça, ainda comenta sobre uma tia antiga que lembrava de velhas histórias da rua. Uma delas dizia que a maré alta chegava a lavar as costas da igrejinha. A frente da igreja, nesse período, estava virada para Avenida Dom Manuel. Do outro lado da rua, um almoço quente e barato é servido àqueles de menor poder aquisitivo. É a lanchonete do Luiz. Lá, há 47 anos mora o comerciante Luiz Antônio Alves de Souza, residente desde que nasceu. Em meio aos trocados do caixa, atendendo um e outro pagante, ele expõe as lembranças e relatos que a mãe citava. No início da década de 20 a mãe de Luiz, Maria Lúcia, é uma das fundadoras da avenida. Quando ela adquiri a propriedade, nem mesmo os quarteirões estavam formados. Luiz relembra até os tempos de menino e os jogos de bola pela velha Monsenhor Tabosa. Ele relata que muitos dos moradores à época eram comerciantes, trabalhavam no Centro, na Rua Conde D’eu. Já a mãe começa vendendo artesanato e alugando o ponto para lojas. 
Aqui é um ponto bom, resolvi ficar”, responde o comerciante, atendendo aos clientes ansiosos pelo troco.

“Ainda tem família, mas é intocada”, revela Braz da Silva, referindo-se a antiga Rua do Seminário. Ele mora na Travessa Aracoiaba, oficialmente Ademar de Arruda, com a mulher Terezinha Andrade da Silva. A casa é simples, interiorana. De grande riqueza só mesmo o diamante das bodas – 60 anos de casados. A mulher mora ali desde que nasceu, em 1929. A rua em que mora é paralela à Monsenhor Tabosa e também já foi conhecida como Rua do Bagaço. Dona Terezinha explica que é por causa das casas construídas com bagaço de cana-de-açúcar.

O simpático casal de idosos conhece as imediações, mas não saem como antes. A filha Francisca Maria Andrade é quem aproveita a proximidade do centro comercial para fazer suas compras mais necessárias. “Ah, antigamente na Monsenhor só morava ‘gente chique’. Antes é que morava gente mais humilde”, recorda Francisca. D. Terezinha some por um espaço de tempo da sala. Quando volta, traz o documento amarelado, quase em pedaços, ilustrando que o terreno, onde ela mora hoje, fora da Igreja. O papel, datado de 1957, simboliza o pagamento dos fóros, quantias pagas anualmente a Arquidiocese, por metro quadrado de terra. “Era uma mixaria, a gente pagava na Igreja da Sé, indica a dona de casa.

Sapateiro de oito décadas vividas, Braz da Silva, remonta aos clubes da vizinhança, onde ia jogar bola pelo dia, e se divertir dançando e bebendo pela noite. Enumera alguns exemplos, Clube Vila Bancária, Idealzinho, Canto do Rio, Clube Massapeense, Onze Cearense e a Baixa do Veado. Entre a Monsenhor Tabosa e a Nogueira Acioly, encontra-se a Praça da Graviola, que segundo o casal, “tem até apartamentos”. A comunidade é antiga. Na infância, D. Terezinha já ouvia falar dela, e apesar dos preconceitos sociais embutidos, a praça – ou favela - “é também lugar de famílias trabalhadoras e honestas”. Voltando para a Monsenhor Tabosa, a procura é agora pelo seu Tarcísio Pedro de Oliveira, ou o Tarcísio Lanches. Perguntando em lojas das proximidades, uma vendedora é enfática: “Aquele ignorante? Se fosse você nem ia falar com ele”. Talvez por falta de conhecimento ou por fofocas implicantes, a moça não tenha um contato direto com o conhecido comerciante daquelas bandas. Tarcísio recebe os fregueses calorosamente, e não é diferente quando se trata em contar um pouco do que lembra ao longo dos 51 anos de Monsenhor Tabosa. “Tinha muitos portuários, caminhoneiros, operários e vendedores”, rememora. A lanchonete que mantém com a esposa, era do pai que veio de Cascavel. Conta ainda que a rua possuía um campo de futebol no estilo de sítio, com muitas bananeiras e coqueiros. Haviam três bodegas principais: 
a do Seu pai, a de Seu Antônio e a de Seu Carlinho. Quando ia para a missa, os padres contavam acerca da história da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha e com ela a do personagem Monsenhor Tabosa. Para um pouco de atender os clientes, e busca em seus guardados uma valise empoeirada, o texto que o sacerdote entregava. Destaca também a centralidade da rua na cidade: “Nós vivemos perto de tudo, perto do mar, perto do Centro. Aqui ninguém precisa ter carro”, considera. 

Uma das últimas remanescentes dos primeiros habitantes da Monsenhor Tabosa se encontra em uma casa que atravessa o quarteirão. D. Vilca Galvão, sentada na mesa da cozinha, reconsidera todo o passado para traçar a linha de vida naquele lugar. “Meu pai era industrial”, lembra-se quando fala da padaria do pai: A Confeitaria Galvão. O pessoal da estiva - serviço de carregamento e descarregamento de navios no porto - ocupava algumas casas da Rua que era toda em calçamento até o Ideal. Aliás a moradora de 78 anos reclama que “o asfalto suja muito”. Relembra as novenas realizadas no Seminário pelo Padre Arruda que eram a grande festa daquele tempo. As moças de vinte anos de idade nem sabiam o que era beijo, exulta. Lecionou no Colégio de Mister Hull, até o seu fechamento entre 1955 e 1960. Em Geografia Estética de Fortaleza, Raimundo Girão apresenta que onde é o atual Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, já existiu um estacionamento. Nas lembranças de Dona Vilca, tais dados históricos não se confirmam. Por último ela assevera que a avenida “é muito calma, (os moradores mais novos) não são nem daqui, vem de fora”.

Qual a cara da Monsenhor Tabosa? 

Os badalos da igreja do Seminário da Prainha ecoam misturando-se ao som das buzinas como uma forma de resistência de uma cidade que não há mais. Quase que imperceptível, o barulho persistente do ventos nas folhas das carnaubeiras tira os olhos do transito caótico das 18h de uma segunda-feira... 

O Seminário - Arquivo Nirez

Então qual era a verdadeira Monsenhor Tabosa? Passarela da moda, Centro Comercial ou seria Centro Artesanal? Todas essas repostas correntes que sempre enquadravam-se para designar aquela avenida naquele momento não foram suficientes. Havia algo mais ali. O badalar do sino da igreja ressaltava uma outra Monsenhor Tabosa. No passado a presença do Seminário era tão forte para aquele logradouro que até já foi usado para sua denominação: Rua do Seminário. Com casas erguidas em terrenos da igreja a influência religiosa na avenida é inegável e está presente até hoje. A substituição do nome por Monsenhor Tabosa, homenageando um sacerdote que dedicou sua vida aos doentes e pobres, é mais uma forma de reafirmar a história da rua em meio aos shoppings e lojas que proliferam pela avenida.
Outro prédio que se destaca em meio às lojas é o SEBRAE, onde são promovidos cursos profissionalizantes além de eventos culturais, como a feira da música. Além de claro, o Centro Cultural Dragão do Mar, que apesar de localizar-se na avenida é inegável sua influência na região. O Centro Cultural, batizado com o nome do pescador que é o símbolo do fim da escravidão no Ceará, aumenta o número de frequentadores da Avenida, que junto ao Dragão do Mar torna-se um ponto turístico do cidade. Apesar do seu aspecto comercial ser o mais usado para justificar a alta frequência de turistas, é inegável que um passeio pela Avenida também seja um passeio pela história da cidade e os aspectos que identificam o povo cearense, como a religiosidade.



O espaço hoje ocupado pelo Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Foto da déc. de 20 ou 30. Arquivo Nirez


Foto de Rick Foth


Religiosidade esta, fortemente marcada na avenida. No alto de uma coluna ao meio da praça, que também se localiza um Teatro que leva o nome de São José, está a estátua de Cristo Redentor. A Praça do Cristo Redentor, é cercada por árvores e táxis. 

Foto da época da Inauguração da torre do Cristo Redentor - 1922 - As casinhas são na 
Rua Rufino de Alencar. Arquivo Nirez
Abrigando o museu do Maracatu o Teatro, de nome cristão, ostenta, singelamente, a nossa miscigenação. 
Na Monsenhor Tabosa, também se encontra a biblioteca Pública Estadual (Governador Menezes Pimentel). 

Inauguração do novo prédio da Biblioteca Pública na Praça do Cristo Redentor, vendo-se Renato Braga, general Teles Pinheiro, Raimundo Girão, Parsifal Barroso, Antônio Martins Filho e José Lins Albuquerque. Foto Estúdio Eln - Arquivo Nirez


Foto de Edimar Bento


A Avenida Monsenhor Tabosa não pode ser taxada meramente como um centro comercial. Ela é muito mais importante que isso, é na verdade uma idiossincrasia nossa. Nela estão presentes elementos peculiares da nossa formação. Olhar a Avenida e elementos ao seu redor, que a ajudam a compor aquele cenário, sempre lembrado como um lugar comercial e de trânsito caótico, é olhar para a composição de uma identidade cultural que insiste em existir mesmo sendo ignorada.


A cara da Monsenhor Tabosa, apesar de maquiada por lojas, continua sendo uma expressão da formação de uma gente, de uma história que, sem termos consciência, nos pertence. A cara da Monsenhor Tabosa, é a minha, é a sua cara.




Parte I

Parte II


Crédito: Monsenhor Tabosa de Corpo e Alma (Alan Regis Dantas, Iana Susan, 
Ônica Carvalho, Lucianny Motta, Fernando Falcão e Sâmila Braga)

Avenida Monsenhor Tabosa - Antiga Rua do Seminário - Parte II


Fatos Históricos da Rua/Avenida:

Fábrica Miramar - Arquivo Nirez

Essa é a Fábrica MiramarInstalações Industriais de Brasil de Matos & Cia., produtora do Café Sertanejo e do Café Baturité e os carros são da mercearia "A Brasileira", do mesmo proprietário.

"A Fábrica Miramar de Ernesto Brasil de Matos & Cia. ficava na Avenida Monsenhor Tabosa no tempo em que só existiam casas de morada e o Seminário Arquiepiscopal, por volta de 1930. Na época o porto de Fortaleza era a Ponte Metálica." Nirez

Em 1936, a Rua do Seminário muda o nome para Avenida Monsenhor Tabosa, homenagem ao Monsenhor Antônio Tabosa Braga*, falecido em 12 de abril do ano anterior.
Projeto do vereador Valdemar Cabral Caracas (Valdemar Caracas).



Ideal Clube na Av. Monsenhor Tabosa, 1381


Em 30 de julho de 1939, lançamento, às 10h, da pedra fundamental da sede do Ideal Clube, na atual Avenida Monsenhor Tabosa nº 1381, na Praia de Iracema, em prédio projetado pelo arquiteto Sylvio Jaguaribe Ekman.



No dia 15 de agosto de 1950, é inaugurada em Fortaleza, na Avenida Monsenhor Tabosa, nº 1054, uma fábrica da bebida Coca-Cola, da firma Fortaleza Refrigerantes S. A., do Grupo Sérgio Filomeno, a primeira no gênero em nossa Capital.
As pessoas ficavam na grande janela de vidro vendo a máquina de encher e tampar as garrafas.



Fábrica da Coca-Cola na Avenida Monsenhor Tabosa - 1950

Em setembro de 1950, é fundado o Maracatu Az de Espada, por José Orestes Cavalcante e Eli Bessa, no decorrer de uma reunião realizada em uma casa da Altamira - a ladeira da rua João Cordeiro, na Praia de Iracema, entre a Avenida Monsenhor Tabosa e a Avenida Aquidabã (atual Avenida Historiador Raimundo Girão).

No dia 30 de março de 1972, o prefeito Vicente Cavalcante Fialho reúne-se com os secretários Antônio Lemenhe, de Urbanismo; e Amauri de Castro e Silva, do Planejamento; e a professora, Aldaci Nogueira Barbosa Mota (Aldaci Barbosa), da Fundação do Serviço Social, a fim de tratar da formação da equipe que fará os estudos da continuação da Avenida Monsenhor Tabosa até a Barra do Ceará.
Foi o primeiro passo para construção da Avenida Marechal Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste).

Em 30 de outubro de 1976, é inaugurada a terceira filial das Casas A Fortaleza, na Avenida Monsenhor Tabosa nºs 1109/11, esquina com Rua Barão de Aracati, propriedade de Salomão Boutala.

A Avenida Monsenhor Tabosa é interditada no dia 22 de agosto de 1992, para obras de melhoramentos visando transformá-la num centro de atração turística.
Foram prometidos melhoramentos no fluxo do tráfego e mehor estacionamento, mas o que se viu foi o estrangulamento da via que tornou-se quase intransitável.
No mesmo ano, em 18 de dezembro, é entregue ao povo de Fortaleza a nova Avenida Monsenhor Tabosa, após completa reforma que a deixou mais estreita e com estacionamentos que dificultam a passagem pela mesma. 

Depois das obras, a avenida ganhou uma nova cara. A rua que era de mão dupla passou a ser de um só sentido. Substituíram o asfalto por calçamento para amenizar o calor e plantaram carnaubeiras que ao balançarem simulam o som da chuva. Daquelas butiques dos anos 70, quase nada restou. Mas, a Monsenhor Tabosa, entrou no século XXI, mantendo o título de passarela da moda do Ceará.

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*Antônio Tabosa Braga, nasceu em Itapipoca, a 19 de dezembro de 1874.  Aos 13 anos, foi estudar no Seminário da Prainha, que também formou o bispo Dom Manuel, seu superior e amigo. Foi incansável na luta pelos mais pobres, tendo dedicado seu trabalho pastoral aos hansenianos. No morro do Croatá (próximo de onde hoje fica o cemitério São João Batista), o padre Tabosa construiu um leprosário. Depois, com apoio do industrial Antônio Diogo de Siqueira, instalou o Leprosário Antônio Diogo, inaugurado em 1928. Sobre ele, escreveu Leonardo Mota, em seu inédito estudo da vida eclesiástica do Ceará: ''Na seca de 1915, se revelou a mais eloquente das vozes que se ergueram a favor dos flagelados''

Parte interna do Seminário da Prainha - Foto de Lizza Bathory

Monsenhor Tabosa morreu em 1935. A avenida batizada com seu nome chamava-se Rua do Seminário, e foi uma das primeiras do antigo bairro da Prainha.


 Fotos da Avenida

A Av. Monsenhor Tabosa hoje - Foto de Paulexpert

Foto Viny321

Foto de Paulo Targino Moreira

Foto de Paulo Targino Moreira

Foto de Rubens Craveiro

A Avenida Monsenhor Tabosa é bem ao estilo de Beverly Hills


Veja a primeira parte AQUI 


Fontes: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo e Monsenhor Tabosa de Corpo e Alma (Alan Regis Dantas, Iana Susan, Ônica Carvalho, Lucianny Motta, Fernando Falcão e Sâmila Braga)

sábado, 9 de junho de 2012

Avenida Monsenhor Tabosa - Antiga Rua do Seminário



Aquarela de José dos Reis Carvalho da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha em 1859.

Conforme dados do arquivo pessoal do pesquisador Clemilton Melo, em meados do século XVI, chegam os holandeses a região cearense e deparam-se com um arraial de índios à margem direita do Riacho Pajeú. Em 1850, é construída uma ponte sobre o riacho, para que a população da Prainha possa chegar ao que atualmente é o Centro da cidade. Já que as ruas que cumprem essa função hoje, Rufino de Alencar e Monsenhor Tabosa, são à época apenas um caminho de areia que passa ao lado da chácara da família Guimarães. Propriedade que uma década depois, seria vendida ao Governo da Província para ser sede do Paço Episcopal. A antiga Rua do Seminário, atual Monsenhor Tabosa, em 1890, muda de nome. A partir da Resolução de 29 de outubro daquele ano, o Conselho de Intendência Municipal da Cidade decreta a mudança. O logradouro passa a ser chamado de Travessa 19-A. A ideia na época é denominar as ruas de Fortaleza da mesma forma que em Nova York. A Rua Floriano Peixoto, no Centro, por exemplo, equiparava-se a Fifth Avenue, sendo chamada Rua Nº 05.

É só em dezembro de 1932 que o governo de Carneiro Mendonça normaliza a nomenclatura das ruas e logradouros, além de promover a reestruturação, a pavimentação e a colocação de meio-fios. 



Avenida Monsenhor Tabosa do Livro Viva Fortaleza 1950-2010

Avenida Monsenhor Tabosa em 1964. Ao longe, o monumento Cristo Redentor

Como descreve Mozart Soriano, na obra História Abreviada de Fortaleza, alguns personagens ilustres residiram na rua e imediações, dois séculos atrás. Na ladeira da Prainha, Rua Almirante Jaceguai, morou Francis Reginald Hull. Cônsul inglês, gerente da Ceará Light Co. e estudioso do clima da terra, ele possuía uma mansão, que se transformou no Instituto Mister Hull. Adentrando a pedregosa Avenida Monsenhor Tabosa, nos prédios de Nºs 05, 15 e 23, hoje ocupados por estabelecimentos comerciais, residia o Barão de São Leonardo. Pouco mais a frente, numa fachada azul destruída e abandonada de Nº 39, morava o poeta cearense José Albano, membro da família do Barão de Aratanha. Já na esquina com a Rua Senador Almino, nos atuais Nºs 83 a 139 situava-se a residência do comerciante Vicente de Castro. Outros nomes que foram destacados por alguns moradores da rua são contemporâneos. Dentre eles, figuram os do compositor Carlinhos Palhano, sobrinho de José Gésio Palhano, fundador da Tamancolândia, e do jornalista de O Estado o advogado Helder Cordeiro.
Estima-se que o caminho de terra que hoje é a Avenida Monsenhor Tabosa tenha sido habitado gradativamente. O terreno que pertencia então a Arquidiocese Cearense começou a ser vendido aos pequenos comerciantes, que ali levantaram seus lares. Conta-se que antes mesmo da Igreja deter o espaço, nele moravam pescadores e trabalhadores. “Fortaleza nasce por ali”, esclarece o pesquisador Clemilton Melo. Embora entre os descendentes de alguns dos fundadores da rua haja poucas lembranças desse período.


Em 08 de dezembro de 1839, são iniciadas as obras da construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha (Igreja da Prainha), iniciativa de Antônio Joaquim Batista de Castro, o Galinha Branca. Com celebração da missa e benção do local, pelo padre Carlos Augusto Peixoto de Alencar, nessa ocasião foi organizada uma irmandade tendo como padrinho Manuel Rufino Jamacaru.  Em 25 de outubro de 1885, quase 46 anos depois de lançada a pedra fundamental da igreja, morre, aos 68 anos de idade, Antônio Joaquim Batista de Castro (Galinha Branca), fundador da Igreja da Prainha, deixando-a quase pronta.

Rua do Seminário - Seminário da Prainha em 1890 - Arquivo Nirez

Em 10 de outubro de 1864, foi fundado o então Seminário da Prainha, como Seminário Episcopal do Ceará, por Dom Luís Antônio dos Santos, primeiro bispo de Fortaleza.
A partir daí, nasce a Rua do Seminário.

A Rua do Seminário, diferente da atual Avenida Monsenhor Tabosa, era uma tranquila rua residencial, com belas casas construídas na década de 20.

Rua do Seminário em 1905. Vemos o Seminário e sua Igreja (Nossa Senhora da Conceição). Arquivo Nirez

Rua do Seminário em 1906 - Arquivo Nirez

Em 12 de abril de 1935, morre em Fortaleza, aos 60 anos de idade, o monsenhor Antônio Tabosa Braga (Monsenhor Tabosa), jornalista, cearense de Itapipoca nascido em 19/12/1874. Foi vigário geral da Arquidiocese do Ceará, sendo o 2º de Dom Manuel.
Um dos fundadores da colônia de Hansenianos de Canafístula (Antônio Diogo) e da União dos Moços Católicos - UMC.
No jornalismo usou o pseudônimo de O Velho Nicodemus.

Em 1936, a Rua do Seminário muda o nome para Avenida Monsenhor Tabosa, homenagem ao Monsenhor Antônio Tabosa Braga, falecido em 12 de abril do ano anterior.
Projeto do vereador Valdemar Cabral Caracas (Valdemar Caracas).



Avenida Monsenhor Tabosa esquina com Av. Rui Barbosa no final da década de 30 início da década de 40 -Arquivo Nirez

 A Monsenhor Tabosa de José Gésio

Um dos principais pontos turísticos e comerciais de Fortaleza, a Avenida Monsenhor Tabosa, também é local de interessantes histórias como a de José Gésio, o fundador da primeira loja do local.
As muitas lojas de sapatos e roupas da Avenida Monsenhor Tabosa guardam a história do fundador do ramo comercial da Avenida nacionalmente conhecida pela grande variedade de produtos vendidos.

Quem anda pela Monsenhor Tabosa não imagina que no meio de tantas lojas ainda existam edifícios residenciais como o Santa Marta, que é moradia de um personagem indispensável para aqueles que buscam conhecer um pouco da história do lugar.

O homem de 73 anos e cabelos que demonstram a idade avançada chama-se José Gésio Palhano, casado há 52 anos com dona Esmeralda. Nascido no Ipu, José Gésio pode ser considerado o responsável pelo sucesso que a Avenida Monsenhor Tabosa possui hoje, pois, junto com seus irmãos, fundou a primeira loja, a Tamancolândia (A Tamancolândia chegou mudando padrões, apresentando variedade em modelos, agregando charme ao calçado. No encalço, outras lojas abriram ao longo da avenida, as primeiras, de artesanato, logo mais, as confecções. Fortaleza começava, sem suspeitar, a ser roteiro turístico. E quem estava atraindo o visitante não era o mar de águas verdes, mas rendas e bordados em finas blusas de cambraia e linho. O sucesso das pioneiras atraiu um leque de lojas, aliás, butiques, como se dizia, para este pedaço da Praia de Iracema.)
, especializada no comércio de tamancos.

Em 1972, quando a Avenida era repleta de residências, seu José abriu a loja que, mais tarde, serviria de exemplo para a instalação de muitas outras. Pouco tempo depois da instalação da Tamancolândia, surgiu a Biboca, que existe até hoje e é especializada em comércio de sapatos.

A Fortaleza com características rurais começava a adquirir formato de cidade desenvolvida com o comércio que, aos poucos, ia fazendo parte da cidade e da vida das pessoas. O Seminário da Prainha é um exemplo de construção que resistiu ao tempo e à especulação comercial da área.


 

O Edifício Santa Marta na Av. Monsenhor Tabosa, 467 - Acervo do site 123i

A paixão pelo comércio e pela criatividade foram determinantes na vida de José Gésio, que não se contentou em abrir um estabelecimento de vendas na Monsenhor Tabosa e decidiu morar lá. A Tamancolândia teve curta duração, apenas 15 anos. O motivo para a falência da loja, como explica Gésio, foi a “falta de administração de seus irmãos, que começaram a gastar muito e fizeram com que o lucro da loja caísse”.

Com o desenvolvimento urbano e turístico, as residências da Monsenhor Tabosa cederam lugar às lojas que começavam a surgir. Hoje, quase 40 anos depois, a Avenida é tomada pelo comércio e grande número de turistas, encantados com a forma e disposição do trecho turístico altamente convidativo.

Mais de 450 lojas fazem parte dos 700 metros de Avenida, marcada pelo grande fluxo de pessoas e carros. Mesmo com a agitação que domina o dia a dia da Monsenhor Tabosa, José Gésio escolheu o local em que fundou a primeira loja da Avenida para fixar residência. Ao lado da esposa, Esmeralda, ele mora há vários anos no Edifício Santa Marta, número 467, localizado exatamente no centro do roteiro turístico bastante frequentado por pessoas e com barulho durante boa parte do dia.



Av. Monsenhor Tabosa  na década de 30 - Arquivo Nirez

A convivência de José Gésio e Esmeralda com seus vizinhos é bastante amigável, assim como é a relação do casal com os vendedores ambulantes que trabalham próximo ao Edifício.
A vida simples de seu José resume-se à produção de sacolas de TNT que ele vende para as lojas da Monsenhor Tabosa.

O homem responsável pelo surgimento do comércio que tornaria a Avenida em um dos pontos turísticos mais importantes de Fortaleza olha para o passado com orgulho de sua história e com respeito pelo que sua iniciativa gerou à Fortaleza. A Monsenhor Tabosa de José Gésio é apenas um exemplo das inúmeras histórias que existem em Fortaleza e que poucas pessoas conhecem.

Em 1972, Fortaleza ainda não tinha nenhum shopping (o primeiro, o Center Um, só seria inaugurado dois anos depois, em 1974), as pessoas faziam compras no Centro e o barato da moda - a causar inveja às garotas da periferia - era se vestir nas butiques.  
A Monsenhor Tabosa, ganhava sua primeira loja de calçados, a Tamancolândia. Pouco tempo antes, só quem usava tamanco era o "zé-povinho", um tamanquinho tosco, vendido nas bodegas, pendurado em cordões ao lado de abecedários e tabuadas. Havia os caros tamancos Dr. Scholl, ortopédicos, mas muito sem graça.

A Tamancolândia chegou mudando padrões, trazendo novos conceitos. A partir daí o tamanco caiu no gosto de todos, mudando a história do tamanco e da mais famosa alameda de compras da cidade. 


  
Créditos: Jornal O Estado do Ceará, Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Site Guia Tripulante e Monsenhor Tabosa de Corpo e Alma (Alan Regis Dantas, Iana Susan, Ônica Carvalho, Lucianny Motta, Fernando Falcão e Sâmila Braga)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Antigo Seminário




Quem aporta em Fortaleza e dirige a vista para a cidade, divisa bem na frente e próximo, paralelo a linha da praia, um alto e longo edifício assobradado, apresentando suas 28 janelas voltadas para o mar: é o Seminário.

Na sua extremidade oeste, erguem-se duas flechas esbeltas, que encimam uma pequena igreja, também do Seminário, a igreja de N. S. da Conceição da Prainha.


O prédio do Seminário edificado como está num outeiro recebe a brisa constante do oriente; ocupa uma área bastante extensa como convém a um internato; com seus vastos salões, seus pátios espaçosos e arborizados, satisfaz as mais rigorosas exigências da higiene física.

Desde 1864, ano em que foi fundado pelo Sr. D. Luiz Antônio dos Santos, 1º bispo do Ceará, funcionam aí as aulas do Seminário menor e maior, confiada a direção do estabelecimento aos padres da Congregação da Missão, auxiliados por distintos colaboradores do clero diocesano. 

Mantém o Seminário o curso secundário de humanidades e o curso superior de Filosofia e Teologia.

Não é pequena a contribuição por ele trazida durante 66 anos a instrução geral do Estado e do país; pois até estes últimos anos, em que havia carência de estabelecimentos de ensino secundário, tanto servia de colégio como de Seminário e não são poucos os seus antigos alunos que se tem destacado ou ainda se destacam nas letras, ciências, medicina ou jurisprudência. Atualmente só recebe por alunos os candidatos ao estado eclesiástico.


Fonte: Álbum Fortaleza 1931


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Observação - Na época em que o álbum foi feito, o Seminário só tinha 66 anos, mas hoje, lá se vão 148 anos de muita história e tradição.

domingo, 20 de junho de 2010

O bonde (VII) - Prainha

Bonde em 1920

Depois que comecei a fixar lembranças sobre bondes, observo que ficou na minha retentiva uma sucessão homogênea e quase interminável de uma fisionomia arquitetônica da nossa cidade, onde se vêem comparadas as classes sociais alta, média e pobre numa sensível diferença na forma de habitação. Talvez tenha despertado em mim o desejo de rever outros locais como outras linhas de bondes entre os anos 1940/1950, embora sabendo que os bondes foram retirados de circulação em 1947, na gestão do prefeito Dr. Acrísio Moreira da Rocha, que ainda vivo pode contar a história com detalhes. Pois bem. Mesmo criança sempre tive meu “desconfiômetro” muito aguçado, procurando gravar o que mais poderia prender a atenção, o que pode causar intriga às pessoas dispersivas que não se incomodavam em tomar conhecimento do que se desenrolava ao seu redor. Mesmo porque sinto que não estou entre os que têm o poder de se acomodar só com a contemplação do etéreo.

Mas o agitado barulho dos bondes deixava aos ouvidos a visão tão nítida da trepidação no deslizar das rodas sobre os trilhos, aquele movimento do subir e descer que impulsionado pelo bonde dava a sensação de que estávamos seguindo sempre em linha reta com o olhar na paisagem que corria aos nossos olhos como uma cena cinematográfica.

Bonde na Avenida Pessoa Anta

Desta vez, vamos passear no “Bonde da Prainha”. Êta passeio bom! Vamos subir até a ladeira da rua Almirante Jaceguay em frente à Igreja do Seminário, na Praça Cristo Redentor, defronte hoje ao “Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura” e ver o grande vulto do Cristo Redentor, posicionado nas alturas para o lado sul da cidade, segurando o cetro (bastão) inerte, a olhar o oceano Atlântico e os seus navegantes a bordo trafegando nos navios, botes ou jangadas.

O bonde da Prainha no seu curto itinerário saía da Travessa Morada Nova, detrás da antiga Assembléia Legislativa do Ceará, hoje Museu do Ceará; dobrava à direita na rua Floriano Peixoto, entrando à direita na Travessa Crato e, depois, à esquerda na Av. Alberto Nepomuceno, passando em frente à Igreja da Sé - Catedral; dobrava à direita defronte à Secretaria da Fazenda, passando em frente ao antigo Café Gato Preto e à Companhia de Navegação Booth Line, na rua Pessoa Anta, cujo prédio, mais tarde, transformou-se na boite Tabaris, mais conhecida como lupanar do famoso Zé Tatá - cujo nome verdadeiro era José Vicente de Carvalho -, sobralense que elegeu nossa cidade para suas libações, abrigando em sua pensão odaliscas de diversos lugares do Ceará e também importadas do Maranhão, Pará e Piauí, que por aqui chegavam para iniciar sexualmente a rapaziada que, depois, se constituíam de pacientes dos enfermeiros Mundico - Dr. França - e Almeida; entrava à direita na Av. Jaceguay - ao lado da Capitania dos Portos, Praça Almirante Tamandaré e subia a ladeira até a Igreja do Seminário - Av. Monsenhor Tabosa, ao lado da Praça Cristo Redentor.

Ao lado direito (norte) da Praça Cristo Redentor, esquina com a ladeira da rua Almirante Jaceguay (leste), existia a linda chácara do gerente da Ceará Tramway Light & Power Cia. Ltda. - o engenheiro londrino Francis Reginald Hull - mais conhecido como Mister Hull - onde o bonde estacionava de frente para a Igreja da Prainha - e seminário diocesano de Fortaleza.

Esta foto foi encontrada num encarte contendo diversas fotos, oriundas do Arquivo do Nirez, de igrejas antigas de Fortaleza. Nesta aparece um bonde de uma das linhas da Prainha, que um dos consultados (gente da velha geração) afirmou ser Prainha-Seminário (o que faz sentido, pois o ponto final ficava próximo do Seminário, na Prainha). Dr. Zenilo Almada acha que não houve linha com essa denominação. A rua era a então Coronel Bezerril, hoje General Bezerril. A Praça ao lado chama-se General Tibúrcio, mais conhecida por Praça dos Leões devido a existência de duas belas esculturas encimando a escadaria de acesso da ou para Rua Sena Madureira. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, inaugurada no Século XVIII, é considerada a mais antiga de Fortaleza. A foto data de 1908. A edificação grande, ainda existente, era do então Hotel Brasil. A parede ao lado da palmeira é dos fundos da antiga Assembléia Legislativa. Entre o Hotel e a Assembléia divisa-se a Travessa Morada Nova, onde posteriormente passaram a trafegar bondes de outras linhas. Na época os bondes iam até mais adiante, ingressando na Rua Guilherme Rocha, parando ao lado da “Rotisserie”, acho que se chamava Palácio Brasil, entrando depois na Rua Floriano Peixoto rumo aos seus destinos. (Adolpho Quixadá)

O retorno era quase o mesmo percurso de ida. Ao chegar na Av. Alberto Nepomuceno, fazendo contorno pela Secretaria da Fazenda, passava em frente ao Quartel General da 10a Região Militar, Arquivo Público no mesmo local em que mais tarde foi edificado o Fórum Clóvis Beviláqua, hoje no bairro Edson Queiroz - Praça D. Pedro II; entrava na Travessa Crato, dobrava à direita na rua General Bezerril até alcançar a Travessa Morada Nova.

O nosso ilustre passageiro da linha do bonde - Prainha - não poderia deixar de ser o gerente da própria empresa - Ceará Tramway Light & Power Cia. Ltda., o nosso engenheiro Francis Reginald Hull - “Mister Hul”; - que durante longos anos gerenciou, aqui em nossa terra, os destinos da empresa, permanecendo por entre nós até o término do contrato que mantinha com a Prefeitura Municipal de Fortaleza - 1947, que é o mesmo ilustre Mister Hull que dá nome à grande Avenida Barro Vermelho, depois Antônio Bezerra - e hoje boa parte da avenida que liga a BR 222 à Caucaia.

Mister Hull permaneceu por muito tempo na gerência da Ceará Light, residindo na aprazível vivenda de dois pavimentos, com terreno esconso, cheio de plantações, com direito à passagem do Riacho Pajeú, na Praça Cristo Rei, esquina com Av. Jaceguay, início da rua do Seminário - hoje Av. Monsenhor Tabosa, cuja vivenda cercada por um lindo jardim, feericamente iluminado dando-nos a impressão de um palacete de Londres, com uma torre elevada e vetusta em forma de mirante, que servia como observatório aos estudos do Mister Hull. Segundo se comenta, Mister Hull era profundo conhecedor da meteorologia, da climatografia nas suas variadas manifestações em nosso estado. Hoje, nesse local, após a demolição de vários prédios também suntuosos, veio dar origem ao Pólo de Cultura Dragão do Mar, fazendo-se um retrospecto dos prédios que circundaram a praça fazendo contornos, tinham fachadas e modelagens dos antigos casarões que não mais existem e tornam difícil retroceder ao passado, para se tipificar seus estilos antigos modernizados, atualizando com suas linhas arquitetônicas, distinguindo uma da outra, ou seja, o que era antigo continua antigo com a feição mais cuidada, conservando sua originalidade, enquanto o Pólo de Cultura Dragão do Mar obedece ao estilo moderno e atualizado sem se chocar com o já existente.

A torre da casa de Mister Hull

Nesta despretensiosa crônica à assessoria da Coelce, na pessoa da distinta senhora Ana Lúcia Girão, excelentes subsídios sobre a História da Energia do Ceará, do ilustre autor Ary Bezerra Leite e que nos traz muita elucidação.

“A Segunda Grande Guerra (1930/1945) impedira a importação de novos veículos e de peças de manutenção. Findo o conflito universal, dois anos após, em 1947, os bondes, sem energia suficiente para acioná-los e sem a indispensável manutenção mecânica, saíram de circulação”; E mais adiante conclui:

“E ninguém teve sequer a lembrança de criar um ‘Museu do Bonde’, de modo a registrar no contexto da História de Fortaleza, um dos seus mais interessantes capítulos. Até isso, todavia, o livro de Ary Leite consegue resgatar, em parte, através de preciosos documentos iconográficos obtidos junto a acervos das empresas sucessoras da Ceará Light e nos arquivos particulares dos herdeiros de Mr. Hull (História da Energia do Ceará - Ary Bezerra Leite).

Blanchard Girão - Memórias - escreveu “O Liceu e o Bonde”, excelente trabalho que faz parte indelevelmente do seu álbum de recordações da nossa cidade de Fortaleza nas décadas de 1930 e 1940 no período de sua infância e adolescência. Ele diz:

“O bonde que conheci era o ‘Tramway’, veículo movido a eletricidade, amplo, arejado, porquanto todo aberto, valendo-se de sanefas de listras verdes e brancas como proteção da chuva ou do sol mais intenso. Possuía dois estribos laterais, além de pára-choques na parte posterior - igual de ambos os lados, trocando-se, no final da linha, a lança condutora de energia e o lugar do motorneiro. De cor verde (houve um tempo, antes de mim, que teria sido branco), o bonde, além do nome de indicação do bairro, possuía uma lâmpada colorida que indicava o seu destino. Circulou de 1913, quando substituiu o bonde puxado a burro, até 1947”.

Também, caros leitores de suas memórias, me socorro para lembrar os chistosos “reclames” de remédios que por serem espirituosos provocavam risos, colocados na lateral interna do bonde, onde podia ser lido pelo passageiro.

Era comum ver-se a propaganda de certos vermífugos com a figura do Jeca Tatu, óleo de rícino, óleo de mamona ou carrapateira... Infoscal - iodo para o sangue, fósforo para o cérebro, cálcio para os nervos... O famodo “Óleo de Fígado de Bacalhau”, “Reconstituinte Silva Araújo”, “Pílulas de vida do Dr. Rossi, faz bem ao fígado e a todos nós, pequeninas mas resolvem”, “Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal...”; “Hum! Que calor! Que dia quente! Rim doente? Tome Urodonal e viva contente...”; “Os produtos Bayer - Se é Bayer, é bom”...; Pílulas de Reuther; “Licor de Cacau Xavier”. Cada um aplicado convenientemente na sua correspondente necessidade orgânica.


Se é Bayer, é bom

Melhoral, melhoral, é melhor e não faz mal

Para quem lia a espirituosa propaganda, por vezes, era natural quebrar o silêncio ou a sisudez que o passageiro pudesse ser portador.

Era de fato muito agradável passear nos bondes da nossa querida cidade nos idos anos de 1940, percorrer sem medo de ser importunado por qualquer “malfazejo” que se tivesse notícia, porque além do número resumido, eram todos conhecidos, não tinham ainda o aprimorado conhecimento nem a técnica hoje utilizada pelos malfeitores e estupradores, com requintes de perversidade, os perigosos drogados, que não vale à pena se perder tempo nem se ocupar em denunciar esse tipo de gente que não devia fazer parte da nossa coletividade. Tudo era tão calmo, até o vento “solteiro” e “brecheiro”, só conhecia a “Esquina do Pecado” (Major Facundo com Guilherme Rocha) Broadway, vindo do mar para alegrar as moças que por ali passavam segurando as saias rodadas que, com muito papo, se esvoaçavam com o vento e, subindo até a cabeça, dava por vezes a tão esperada “brecha”, que causava muita aflição às jovens que por ali transitavam. Por isso, as alunas da Escola Normal, Colégio da Imaculada Santa Cecília, Lourenço Filho, Colégio Americano e Liceu tinham a maior precaução e quando por ali volteavam, seguravam a saia com as duas mãos, embora a vaia uníssona dada pelos colegiais servisse para animar aquelas tardes no Centro da cidade, onde os “paqueradores” se postavam para dirigir galanteios dos mais variados gostos, uns mais espirituosos, outros de certo mau-gosto, ou humor negro, que muitas vezes eram por elas repelidos com certa veemência. Ah! Tempo bom, que hoje não trazes mais!

Estacionava nesse local uma figura considerada como “foco de atenção” - que se celebrizou por ser atraente seu escorreito linguajar, invejável semântica e perfeita adjetivação, causando certa dificuldade na compreensão da sinonímia, que a todos agradava por seus gestos e mímicas, dotados de certa puerilidade que algumas expressões pronunciadas de forma enfática, com imagens rebuscadas que se tornaram célebres - como esta, dirigida a um amigo que há muito tempo não o via, saiu-se assim: “Fulano, de onde vens, com essa palidez marmórea, saíste de alguma clausura?” De outra feita se dirigiu à Casa Elefante (loja de louças e utensílios domésticos) na rua Floriano Peixoto, de frente para o Palácio do Comércio, indagando ao vendedor mais antigo da loja, conhecido como “Siridó”: “Quanto custa um aparelho côncavo de ágata branca para micções noturnas?” Aí, Siridó responde: “Temos tamanho grande, médio e pequeno.” E conclui: “Se for para você mesmo é tamanho pequeno, mas se for para senhora sua mãe, talvez o grande ou o confortável ‘capitão’...”. Outra vez, na mercearia da esquina de sua casa, indaga ao bodegueiro: “Aqui tem uma substância cremosa, de cor amarelo ouro, com 50% de proteína, creme de leite, fermento lácteo e sal!, que o populacho chama de manteiga?” De outra feita, sentenciou: “Quando olhar no espelho e vir a minha cabeça fios de cabelos branco darei gritinhos de horror... envelheci, envelheci, envelheci...” E, assim por diante, a sua verbosidade.

Mas, quem melhor conheceu a verve desse ilustre personagem, O. A. D., autor de crônica, cujo título eram as iniciais do seu nome - “O. A. D.” -, cujo dito ao tomar conhecimento da divulgação da crônica chorou “mississipis e mississipis” de lágrimas, é o nosso amigo e memorialista de primeira água - Marciano Lopes, cuja revelação do nome verdadeiro, só ele poderia autorizar, porque essa publicação foi causa do rompimento até a morte do ilustre O. A. D. O mesmo residiu por mais de 40 anos no Rio de Janeiro, exercendo a função de museólogo, e nas horas de lazer desfilava na Av. Atlântica - Copacabana; por aqui esteve lançando livro muito festejado. Mas, tudo isso faz parte da nossa Fortaleza, cujos tipos folclóricos continuam a marcar época e, ao relembrar as pessoas que têm boa memória, por certo esboçarão no seu contentamento, largo sorriso dizendo: “Ah! A lembrança é vigilante e companheira da saudade que com ela vive, adormece, envelhece, mas não morre”...

Zenilo Almada Advogado

Travessa Morada Nova, detrás da antiga Assembléia Legislativa do Ceará - Esse logradouro era também ponto de partida de outras linhas, como a Praia de Iracema (ver em O Bonde - VI) e Aldeota (ver em O Bonde - VIII).

Ninguém teve sequer a lembrança de criar um ‘Museu do Bonde’ - Essa negligência quanto a preservar a memória dos bondes ocorreu não somente em Fortaleza, mas na maioria das cidades brasileiras que tiveram bondes. Uma excessão significativa é justamente o município que por mais tempo manteve o serviço efetivo - Santos -, que guardou seus veículos (ou parte deles) nas antigas instalações da Vila Matias, restaurando-os recentemente e reconstituindo alguns trechos de linha para um percurso turístico hoje em funcionamento (Ler em O Bonde). Reportando, ainda, à questão dos empecilhos e prejuízos em função dos bloqueios causados pelo conflito mundial, não há dúvida quanto à sua veracidade. Mas não há como não levarmos em conta, também, a falta de interesse em reerguer os sistemas de bondes após o fim da guerra, o que, muito provavelmente, poderia ser feito.

trocando-se, no final da linha, a lança condutora de energia - “Trocar a lança” - Entenda-se: virar a lança, ou mesmo: trocar a posição da lança. A lança - que foi o tipo de captador de energia adotado em Fortaleza (e em muitas outras cidades) - era girada ao contrário, de modo a ficar voltada para trás, quando se invertia o sentido de marcha. O motorneiro, este realmente mudava de lugar, pois passava a conduzir no controle da outra extremidade do bonde, que, nesse momento, deixava de ser a retaguarda para tornar-se a dianteira do veículo. Existiram, no entanto, em algumas cidades (ex.: São Paulo), bondes de maior comprimento que possuíam, de fato, duas lanças, dispostas em sentido contrário uma à outra. O. A. D. - Olavo de Alencar Dutra.


Veja também:


Crédito: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 23 de fevereiro de 2003


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