Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Ceará Rádio Clube
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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sábado, 24 de maio de 2014

Nas ondas do rádio - Década de 40



A primeira emissora radiofônica cearense, a Ceará Rádio Clube, surgiu em 1934, período, no qual o rádio comercial já despontava em todo o Brasil. Três anos antes, em 27 de maio de 1931, o presidente Getúlio Vargas promulgou o primeiro estatuto específico da radiodifusão brasileira. De acordo com o Decreto nº 20.047, a radiodifusão foi definida como um “serviço de interesse nacional e de finalidade educativa”. “Um ano depois, através do Decreto nº 21.111, de primeiro de março de 1932, autorizou a veiculação de propaganda, limitada a 10% do tempo de transmissão” (JAMBEIRO, 2004, p. 49). Com a inserção da publicidade e o barateamento dos aparelhos transmissores “a estrutura da programação, a linguagem empregada e os anúncios sofrem alterações” (SILVA, 1999, p. 25). O rádio começava a se estruturar como um veículo de comunicação voltado para auferir lucros, por meio dos anúncios, estimulando o consumo de bens cada vez mais disponíveis no mercado.

A Transmissão em Ondas Curtas

No Ceará, durante a década de 1930, o rádio se manteve como um veículo restrito a uma pequena parcela da sociedade: a elite fortalezense. O alto custo dos aparelhos e o baixo alcance da emissora de João Dummar eram fatores que impossibilitavam a expansão do novo meio de comunicação no Estado. Imbuído da vontade de ampliação da empresa nascente, João Dummar, no ano de 1939, vai à capital do País em busca de melhorias para a Ceará Rádio Clube. No ano seguinte, em 1940, retorna à Fortaleza com a novidade tecnológica a ser implantada na PRE-9: a transmissão em ondas curtas. 



Um jornal da época publicou:

“João Dummar em Fortaleza – A nova estação da PRE-9 será inaugurada ainda este ano”

De acordo com a notícia, o regresso do empresário vinha sendo aguardado ansiosamente por todos aqueles que apostaram no rádio como mediador do entretenimento, do lazer e da informação, fatores determinantes para o crescimento regional. A chegada das ondas curtas era anunciada pelos jornais, que acompanhavam o dia-a-dia das negociações do empresário Dummar no Sul do País. 

No dia 10 de outubro de 1940, o jornal publicou a data de início para a preparação dos novos equipamentos e das novas instalações da rádio:

PRE-9 iniciará, terça-feira próxima (15 de outubro de 1940), a fase preparatória para instalação do seu possante equipamento de ondas curtas, o que fará o Ceará ser ouvido em toda a América. Assim, terça-feira, será apresentado, um programa especial, desfilando todos os principais elementos do seu elenco, numa homenagem a Imprensa desta capital.



No dia 29 de agosto de 1941, a Ceará Rádio Clube deu início às transmissões em ondas curtas e inaugurou seus novos estúdios. A estação recebeu autorização para mudar do Bairro Damas para o oitavo e nono andares do Edifício Diogo, localizado no centro da capital. 

“João Dummar contratou o radialista Dermival Costalima como diretor artístico da PRE-9, cuja equipe de locutores era composta por José Limaverde, Raimundo Menezes e Paulo Cabral de Araújo (DUMMAR FILHO, 2004, p. 54). 


No dia da inauguração das novas instalações da PRE-9, 12 de outubro de 1941, o jornal O Povo publicou um caderno especial relatando todos os detalhes das novas instalações. A publicação tinha como título: 

“A Voz do Ceará – Inaugurada oficialmente a Emissora de Ondas Curtas de Fortaleza”
O jornal destacou que o evento incorporaria, em definitivo, a emissora cearense à grande radiofonia brasileira.
O Ceará falou ao mundo. Sua voz ultrapassou as fronteiras, repercutindo lá fora as ressonâncias das nossas conquistas culturais e econômicas fazendo sentir a sua presença neste recanto longínquo da terra, numa afirmação universal de nosso progresso e de nossa grandeza (O POVO, outubro de 1941).




O jornal trouxe como manchete de capa, no dia 29 de setembro de 1941, uma 
matéria que detalhava o esquema de inauguração dos novos estúdios e dos novos aparatos técnicos adquiridos pela emissora. A notícia trazia o título: 

“A inauguração da nova PRE-9 – João Dummar fala ao O Povo sobre a festa do dia 12 – Orlando Silva e Dorival Caymmi na Estréia da possante Emissora – Jorge Tavares e Milton Moreira ficarão em Fortaleza”

A chegada da transmissão por ondas curtas possibilitou um alcance maior de público, a emissora assumiria, a partir de então, a posição de veículo de comunicação de massa, que segundo Thompson (1995, p. 299), “amplia a acessibilidade das formas simbólicas no tempo e espaço”. A emissora cearense passou a ser ouvida em lugares distantes.

Nós tínhamos uma capacidade de propagação incrível, uma frequência muito curta com grande propagação. A Ceará Rádio Clube ganhou, na Suécia, um concurso que foi feito para escolher a emissora estrangeira de maior audiência. Nós tivemos a honra de ser a emissora mais ouvida naquele país (CABRAL, entrevista, 2008).




O jornal O Povo do dia 10 de outubro de 1941, trouxe como manchete de capa:

“PRE-9 ouvida em New York – O Povo estampa o do cartão que transmitiu a interessante notícia”

A matéria informava que as transmissões experimentais de ondas curtas da emissora cearense foram ouvidas com nitidez na cidade americana. O jornal publicou o cartão enviado, aos irmãos Dummar, pelo cearense João Hortêncio de Medeiros, que se encontrava naquela cidade. No cartão vinha a seguinte informação: “Tenho ouvido nitidamente e com bom volume, com um pequeno rádio de seis válvulas, as irradiações experimentais da PRE-9. Minhas entusiásticas felicitações pelo sucesso de tão importante empreendimento” (O POVO, outubro de 1941). 
O propósito era expandir comercialmente a nova mídia aumentando não só o seu alcance, mas dotando a emissora de amplas instalações, além de investir na profissionalização dos seus funcionários.
As novidades não se resumiam apenas à chegada da nova tecnologia, Dummar
resolveu inaugurar “programas de vivo interesse”, tendo como meta popularizar o meio para conseguir captar parcelas ainda intocadas de público das mais variadas idades e classes sociais. Nesse contexto, foram inseridos os programas de entretenimento com ênfase na cultura local, na cultura erudita e, neste momento, na cultura de massa advinda da Rádio Nacional, que fazia repercutir o que a modernidade ditava.

O Entretenimento Como Foco da Programação

A chegada das ondas curtas a Fortaleza deu início ao período de popularização do rádio cearense, época em que o entretenimento passou a ser predominante na programação radiofônica. Diante do alcance do meio radiofônico, ampliado a todas as classes sociais, as empresas começaram a investir em anúncios no rádio. Com isto, o veículo ampliou sua inserção na cidade, impulsionado pelos anúncios das casas comerciais, fábricas têxteis,
fábricas de cigarro e da ainda incipiente indústria que surgia no Estado. 

Em meados da década de 1940, cerca de 60% do capital destinado à publicidade, pelas empresas cearenses, era aplicado no rádio na forma de anúncios ou patrocínio de programas (ANDRADE e SILVA, 2007, p.4).

Naquele tempo não havia nada gravado, os anúncios eram todos lidos, era uma cartela, várias, assim como se fosse do tamanho de uma cartela de bingo, eram várias cartelas daquele tipo colecionadas e a pessoa ia passando, ia lendo a mensagem (CAMPOS, entrevista, 2005).




Crédito: Francisca Íkara Ferreira Rodrigues (Graduada do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR) e Erotilde Honório Silva (Professora Doutora em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Coordenadora da Pesquisa História e Memória da Radiodifusão Cearense – UNIFOR). A popularização do Rádio no Ceará na década de 1940: Trabalho apresentado no 7º Encontro Nacional de História da Mídia realizado em Fortaleza – Ceará, de 19 a 21 de agosto de 2009.)


sábado, 18 de agosto de 2012

A Era das Estrelas do Rádio


Auditório da Ceará Rádio Clube localizada no Ed. Pajeú - Livro Os Dourados Anos de Marciano Lopes

Na década de 1950, quando Fortaleza era uma pequena e recatada urbe, dez vezes menor do que é hoje, a façanha de se conseguir um ingresso para programas de auditório na Ceará Rádio Clube (PRE-9) ou Rádio Iracema (ZYR-7), as duas únicas emissoras de rádio então existentes na cidade, tornava-se algo tão disputado quanto é hoje garantir um lugar na plateia do cinema que exibe 3D.

Geralmente realizados nos finais de semana, já às quartas-feiras todos os ingressos estavam vendidos a uma plateia essencialmente democrática, que abrangia desde empregadas domésticas até respeitáveis matriarcas de importantes famílias locais.

Cantora Maria José de Deus (Celina Maria), da ZYR-7, Rádio Iracema - Livro Os Dourados Anos de Marciano Lopes


Entre os programas de maior popularidade na PRE-9, em seu simpático e sempre superlotado auditório do edifício Pajeú, estavam "Divertimentos em Sequência", comandado em sua fase áurea por João Ramos, um dos mais talentosos profissionais da comunicação cearense em todos os tempos, e o "Noturno Pajeú", tendo à frente Augusto Borges e, numa fase mais recente, Paulo Limaverde.



Para as crianças, havia a atração irresistível do "Clube Papai Noel", na manhã dos domingos, inicialmente apresentado por um jovem que viria a se tornar prefeito de Fortaleza aos 28 anos, em legítima eleição popular: Paulo Cabral de Araújo. Na Rádio Iracema, fazia sucesso o "Fim de Semana na Taba", onde Armando Vasconcelos reinava absoluto às noites dos domingos.

Além de apresentarem atrações nacionais e internacionais, as duas emissoras fortalezenses contavam com um trunfo imbatível para sua magnífica receptividade junto ao público: eram as estrelas da própria terra alencarina, como se dizia nos anos 50 e 60, com seus aguerridos clubes de fãs, tão queridas e aplaudidas na época quanto hoje o são famosos artistas da televisão.


Ayla Maria foi descoberta a partir dos pastoris que se apresentavam na praça José de Alencar. Ela acabou sendo ‘A voz orgulho do Ceará’ - Livro Os Dourados Anos de Marciano Lopes e Arquivo Nirez

Os homens também tinham vez e voz, é claro, mas as mulheres alcançavam maior destaque na seara artística local. Cada artista possuía um estilo próprio com o qual conquistava seus admiradores.

Havia o romantismo de Maria Guilhermina e Zuíla Aquiles; o charme adolescente de Fátima Sampaio e Lúcia Sampaio; as vozes harmônicas e de longo registro das Irmãs Vocalistas (Cleide e Adamir Moura); a rivalidade encenada pelos tietes das estrelas Ayla Maria¹ e Ivanilde Rodrigues, ambas ainda a cumprir marcante desempenho no teatro.


Entre o público masculino, criava intensa empolgação o gingado irresistível de Keyla Vidigal, uma espécie de precursora de Wanderléia e Clara Nunes no completo domínio de palco.

Keyla Vidigal - Livro Os Dourados Anos de Marciano Lopes

Sem esquecer o carinho concedido pelos fãs de Telma Regina, Vera Lúcia, Marilena Romero, Ísis Martins e tantos outros talentos dignos do painel de honra das grandes intérpretes brasileiras. Dessa forma, conquistaram espaço no cenário artístico, na cultura e na história do rádio cearense.

Assim como Keyla, Thelma Regina encantava o público com o talento vocal e estilo sofisticadoLivro Os Dourados Anos de Marciano Lopes

Isis Martins - Coisas que o Tempo Levou - A Era do Rádio no Ceará de Marciano Lopes

Curiosidades

Zuila aquiles - artista da Ceará Rádio Clube, fazia o gênero cantora de câmara, apresentava-se semanalmente, à noite, e não costumava cantar em auditório.

Maria guilhermina - foi aclamada como estrela da canção portenha. O tango era o principal gênero do seu repertório.

Lúcia Elizabeth - era jovem e simpática. Sobrinha de Vera Lúcia, também pertencia à casta da Rádio Iracema.

Cleide Moura e adamir moura - eram as irmãs vocalistas da Ceará Rádio Clube. Muito talentosas, arrancavam aplausos entusiásticos da platéia.

Marilena Romero - Livro Os Dourados Anos de Marciano Lopes


Marilena Romero - teve grande atuação fora dos palcos da rádio. Especialista no gênero musical "buate" fazia muito sucesso cantando na noite.

Thelma Regina - chamava a atenção do público pela elegância. Apresentava-se em trajes de gala que destacavam ainda mais sua beleza.

Fátima Sampaio - iniciou a carreira como cantora ainda menina, no programa infantil das manhãs de domingo da Ceará Rádio Clube.

Ísis Martins - começou cantando com duas irmãs. As três ficaram conhecidas como as "pastoras" do cantor Paulo Cirino. Depois, Ísis se lança na carreira solo.





¹AYLA MARIA (Foto ao lado, com o ex marido Armando Vasconcelos) - Nome artístico de Maria Ayla da Silva Vasconcelos. Natural de Monsenhor Tabosa. Veio criança para Fortaleza e logo foi admitida no programa Clube do Papai Noel, da Ceará Rádio Clube; passou-se depois para a Rádio Iracema. Representou o Ceará no Festival de Música Brasileira (1958, Maracanãzinho, Rio de Janeiro), alcançando imenso sucesso com sua interpretação de Babalu. Como cantora, apresentou-se também em outras cidades do Brasil, principalmente as do Nordeste. Integrou a lista de melhores da Revista do Rádio (1965). Destaque da TV Ceará. Disco de Ouro da Associação Cearense de Rádio. Jornalista: “Gazeta de Notícias”. Foi a Mitz da opereta Valsa Proibida, de Paurilo Barroso, na montagem de 1965; participou da remontagem das principais burletas de Carlos Câmara, bem como de espetáculos da Comédia Cearense. Pelo seu espírito filantrópico, apresentou-se em entidades assistenciais, recebeu Bênção Especial do Santo Padre Papa Paulo VI.





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Créditos: Diário do Nordeste de 14/02/2010, 
Os Dourados Anos de Marciano Lopes, AOUVIR e Arquivo Nirez

terça-feira, 19 de junho de 2012

Chatô, a Televisão e Rayito Del Sol em Fortaleza



De como, no mundo dos fatos, pessoas e acontecimentos interagem produzindo história e estória.

Aos caros ledores, de início, as apresentações dos personagens e suas façanhas, para o vivificar dos antigos e a perplexidade dos moços.

Um platicéfalo umbuzeirense, saído dos cafundós da Paraíba, deu-se, de corpo e alma, a uma peleja que ninguém se atreveu, nem aqui, nem na América Latina. Entrou nas casas e instalou-se desde 1950. Espantou a uns e alegrou a outros. Mudou e criou modos e costumes dantes desconhecidos. Mostrou-se um cruzado dos tempos modernos.

Um aparelho eletroeletrônico, com a voz do rádio e as imagens do cinema, em dimensões menores, trouxe às residências divertimento, informação e cultura dos vários recantos do País e da Terra. Até hoje, indispensável ao público. 



Novas formas e padrões artísticos, apresentados ao vivo e exigindo excepcionais técnicas cênicas e interpretativas de atores, atrizes, apresentadores, noticiaristas e uma gama de pessoal de apoio.

Em meio a isso, o surgimento, quase inusitado, de linda cantante e dançadeira caribenha. Causa de furor nas mentes e corações masculinos. Encantamento pela maviosidade da voz, dos saracoteados sensuais de rumbeira, a exuberância perfeita de dotes físicos e as audaciosas mostras do que um milimétrico biquíni era incapaz de esconder. 

Imagem meramente ilustrativa

Carolas maledicentes e ocupadas com a vida alheia, em magote, buscantes de pecados nos variados lugares alcançados por suas vistas. Tormentosas no infernizar a vida do prelado local e no atanazar um Chatô fleumático.

Um bispo, o empresário maior da comunicação no Brasil, maridos e filhos amantes do belo na tentativa de safarem-se do ódio das megeras.
 

Parte do imbróglio deste causo chega a nossa Capital, fervilha por ambientes vicejantes noturnos, sem deixar de futricar nas fantasias juvenis, algumas ainda pueris.

E, de tudo, um final capaz de agradar a gregos, troianos, hebraicos e medo-persas, no dizer do causoeiro nonagenário da Serra do Estevão, meu xará Geraldo Bezerra dos Santos.

DE CHATEUABRIAND A CHATÔ

Caatinga nordestina. Alto sertão paraibano. Tropeiros, nas horas causticantes do dia, descansavam, juntamente com suas tropas, à sombra de um frondoso Umbuzeiro. Aos poucos, a localidade formou-se vila, povoado e, em 1890, constitui-se município, desmembrado de Ingá.
 
Dois anos após, em 5 para uns e 4 de outubro para outros, esta última data consagrada a São Francisco de Assis, nasceu naquele rincão uma criança que recebeu o nome do santo. Francisco de Assis. Seu pai, admirador do poeta e pensador francês François-René de Chateaubriand, acrescentou Chateaubriand ao nome do recém-nascido, complementando-o com Bandeira de Melo, sobrenome familiar. Assim, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo constou do registro de nascimento do menino. Tempos depois, para íntimos, Chatô simbolizou tratamento carinhoso.



Da Paraíba partiu para Pernambuco, graduando-se Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Recife e, em seguida, viajou para o Rio de Janeiro, onde se radicou.

Advogado, professor, jornalista, proprietário de jornais, rádios e revistas, fundador e dirigente do mais forte grupo de mídia da América Latina - os Diários Associados -, senador da República e embaixador no Reino Unido influenciou, significativamente, decisões republicanas da História do País.

Empreendedor eficiente construiu o mais expressivo conglomerado de informativos sul-americanos, contando número superior a cem jornais, estações de rádio e de televisão, publicações e agência telegráfica.

Fundou o Museu de Arte de São Paulo e, como literato, ocupou a Cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras.

PIONEIRA TELEVISÃO LATINO-AMERICANA

18 de setembro de 1950. Chateaubriand, entre eufórico e ansioso, aguardava o momento para tornar-se o pioneiro da implantação da televisão na América Latina. Sonho de uma década, finalmente desperto para a realidade, tendo vencido as incontáveis adversidades. 



Enfrentou enormes obstáculos administrativos, aduaneiros e técnicos para a consecução do ideal obstinadamente perseguido.

Nada abatia seu intenso labor. Certa feita, sobre a dificuldade de profissionais para o trabalho, firmou: “O que acontece é que Deus anda cansado de carregar tantos malandros de tão pouca vergonha. Por isso, decidiu agora ajudar os chineses porque esses hereges sabem fazer uma coisa de que já nos esquecemos: trabalhar.”.

Fizeram-se completadas as aquisições da aparelhagem televisiva de captação, editoração e transmissão de imagens e sons. Igualmente, concluídas as edificações, instaladas as aparelhagens e equipamentos, como geradores, transmissores, retransmissores, antenas e estúdios.

O velho projeto concretizara-se no rápido prazo do biênio final daquele decênio de lutas.

Superados estavam os difíceis problemas comerciais e organizacionais surgidos e enfrentados, incansavelmente, no decorrer da execução do empreendimento. 




Chegara, enfim, a majestosa noite. Momento da inauguração da PRF3 TV Tupi de São Paulo. Primeira transmissão a partir do parque de produção localizado no Alto do Sumaré.

AO VIVO OU EM FILME 16 mm

Sem o recurso do videoteipe, somente chegado em 1960, quase toda a programação, obrigatoriamente, dava-se ao vivo.

A produção de clipes, em películas cinematográficas de 16 mm, além de exigir montagens complexas, era elaborada de maneira trabalhosa e demorada. 



 
Equipamento Telecine 16mm - Lealevalerosa

Até a exibição de filmes destinados às salas dos cinemas, para transmissão na TV, impunha difíceis adaptações e arranjos. Nem sempre, exitosos.

Impossível, devido à inexistência de aparelhagem da época, a realização de transmissões externas, impedindo levar ao ar ocorrências relevantes locais e nacionais.


GAFES, IMPROVISAÇÕES E HUMOR

As gafes, improvisações e paralisações, no ar, de propagandas comerciais e noticiários faziam-se constantes. Os telespectadores aceitavam, compreensivelmente, tais dificuldades, ante a novidade.

O aparecer, no cinescópio, de imagens em preto e branco, sem brilho, com o efeito “chuvisco” e as costumeiras interrupções de sinal faziam-se suportadas pelo telespectador e “televizinho”. Afinal, não se conheciam melhores condições tecnológicas.

Quem deveras sofria eram os protagonistas. De quando em quando, esqueciam, parcial ou totalmente, o texto decorado. Pronunciavam, erroneamente, palavras e chegavam a risos incontidos. Por seus equívocos ou os dos colegas copartícipes.

Alguns intérpretes chegavam ao total mutismo durante uma apresentação.

INAUGURAÇÃO: TV TUPI E SEU FUNCIONAMENTO

Finalizada a benção das instalações, proferidas as falas das autoridades presentes à solenidade, foram exibidas as cenas das filmagens realizadas, em um programa especial dedicado aos atos inaugurais. 



Hgproduções

Focalizou logradouros, pontos turísticos e históricos da capital paulista, representando um passeio que se completou com visita ao complexo de emissoras de Chateaubriand em sua Cidade do Rádio.

A conclusão enfocou, em amostragem objetiva e compreensível, o funcionamento total do sistema de televisão, iniciando na portaria do prédio e percorrendo todos os setores.



SHOW INAUGURAL DA TV TUPI

A segunda etapa da festividade inaugural constou de um musical participado por conhecidos intérpretes do cancioneiro nacional, apresentado pela atriz Yara Lins e encerrado com o famoso balé de Lia Marques.
 
Como apoteose, duas famosas atrações internacionais especialmente trazidas ao País.

Recital do ator contratado pela Century FOX, destaque em dez filmes e inúmeros discos fonográficos, o frei-cantor mexicano de tangos e boleros Jose Mojica, de grandiosa querência pública. Mojica fascinou a plateia ao entoar “A Canção da TV”, magistralmente composta para a ocasião. Para encerrar o espetáculo, aguardado com ansiosa expectativa, as duas únicas câmeras revezavam-se no focar da esfuziante e linda cantora-rumbeira Rayito Del Sol, ao som do instrumento de seu irrequieto bongozeiro Dom Pedrito e do afinado conjunto musical acompanhante da estrela. Empolgação desmedida e surpreendente.

ESCÂNDALO RAYITO DEL SOL

A cantora caribenha cativou grandemente a maioria dos telespectadores da pauliceia. Em contraste, viu-se apupada por uma minoria de longevas senhoras. Carolas integrantes de uma confraria religiosa, segundo os jovens defendentes do modernismo

Para eles, tornou-se sucesso absoluto o cântico, a dança, os requebros, a sensual beleza, a microrroupagem e outros quês e porquês da análise de cada fã. Era a própria estrela em grandeza e não um simples pequeno raio, indicativo de seu nome artístico.

Para elas, escândalo horripilante provocado pela desinibição no trajar e no rebolear. “Horripilante pecaminosidade desvairada e chocante. O desvario obsceno. Reprodução orgíaca de Sodoma e Gomorra.” – asseveravam as matronas.

O show tornou a rumba e sua representante paixões populares, a partir daquele momento, graças às divulgações de jornais e rádios. Deu-lhe inesperada e extraordinária fama na TV Tupi e nas casas de diversões noturnas.

A também cognominada La Venus de Cuba, na estréia, afora seu mavioso vocalismo, vestiu um quase imperceptível maiô de duas peças, exibiu passes extasiantes, tidos acintosos pelas senhoras ditas tradicionais quatrocentonas.

Representante da conhecida família Whitaker formalizou manifestação de repúdio. O alvoroço ativou-se em reunião da Confederação das Famílias Cristãs e, em protesto, foi levado a Assis Chateaubriand, com o fito impedir que “a pecadora continuasse a invadir e desrespeitar a moralidade dos lares.”. 

O bispo de então, Dom Paulo Rolim, por igual, viu-se instado a reprovar as exibições e, se o caso, até excomungar a, para elas, terrível pecaminosa.

Em resposta, alegou “não ser este assunto da Igreja e que a emissora devia arcar sozinha pelas consequências.”. Daí em diante, fugiu da temática como satanás o faz da cruz.

CHATÔ, O BISPO E RAYITO

A encantadora vedete e dançante conquistou São Paulo, tornou-se a principal artista requisitada da noite paulista, com invulgar popularidade.

Chatô, a exemplo do bispo e inteligentemente, esquivou-se de comentar os fatos, deixando o assunto para exame da direção artística da TV.

Maridos e filhos das damas, atendendo aconselhamentos e aos próprios olhos, recomendaram as santas prudência e tolerância. Ah! e como adoraram sugerir as práticas naquelas circunstâncias... inclusive, enaltecendo o perdão.

Enquanto isso, a Tupi criava o semanal programa Maracás e Bongôs, exclusivamente para a saracoteadora rumbeira. Durante meses, sucesso primeiro e atração recorde de audiência.

E o ritmo cubano, irreverente e ousado, balançou os volumosos e trepidantes quadris pátrios.

EM SÃO PAULO, OUTRAS CAPITAIS E FORTALEZA

Tanto lá, quanto cá, a dançarina recebia homenagens mil.

Empreendeu turnê pelas capitais, realizando temporadas com exibições teatrais, shows especiais e participações em festas de clubes sociais.

O historiador paraense Carlos Rocque, irmão de Felix Rocque – proprietário dos Teatro Poeira e Teatro de Variedades – dedicou citações a Rayito e a “sambista Hebe Camargo” por suas participações na Festa de Nazaré. Belém homenageou, em grandioso estilo, as duas personalidades, de acordo com artigos da imprensa.

 

Patrocinada por empresas e programa radiofônico de auditório, Rayito atendeu a convites e cumpriu estada em Fortaleza.

Causou tumultos devido às multidões que atraia, quase provocando quebra-quebra na portaria do Theatro José de Alencar, em face das superlotações e consequentes esgotamentos na venda de ingressos. 


Teatro José de Alencar - Acervo Pedro Leite


Igual situação ocorreu na entrada do Edifício Pajeú, onde funcionava a PRE9 – Ceará Rádio Clube, quando a cubana chegou para abrilhantar o Programa Noturno Pajeú, comandado pelo comunicador, apresentador e radioator João Ramos.
Também em clube social a estrela de Rayito foi verdadeiramente Del Sol. Não se mostrou um "raiozinho" como sugeria no nome. Duvidasse, por ela o astro maior seria novamente vaiado na Praça do Ferreira


Estúdio da Ceará Rádio Clube 


Seus deslocamentos movimentava forte aparado policial, pois os admiradores não se continham nos desejos e tentativas de alcançar a ninfa.

Durante sua permanência entre nós, hospedada no Excelsior Hotel, diuturnamente, uma legião de admiradores postava-se na rua Guilherme Rocha na esperança de vê-la e conseguir autógrafo.

AS FOTOS E O JEJUM ESTUDANTIL

Curiosos e risíveis episódios marcaram a estada da rebolativa beldade na terra alencarina.

Os jornais Correio do Ceará, O Povo, Unitário e Gazeta de Notícias estampavam fotografias artísticas, com aberturas diafragmáticas precisas. Sobressaiam os sumários biquínis, pouco escondendo os predicados anatômicos da rebolante. Hoje, aquelas peças, segundo os estilistas já ultrapassadas e com volumoso desperdício de tecido, ofereceriam matéria prima para confecção de vários maiôs do tipo fio dental.

O impressionante residia na procura, pela estudantada, de exemplares daqueles noticiosos matutinos e vespertinos. Deles, as fotografias eram recortadas, colocadas entre as páginas dos livros escolares que, em classe e em plenas aulas, circulavam, passando de mão em mão.

Disputadas nas bancas de jornal foram, também, as edições da Revista do Rádio, onde se encontravam fotos, notícias e entrevistas com a intérprete do rebolativo estilo de música do Caribe

Acervo Amara Rocha 

Alunos do Colégio Lourenço Filho deixavam de merendar e o dinheiro da mesada destinava-se as aquisições de fotografias.

Até a Revista Saúde e Beleza, divulgadora de espécimes modelares humanas, foi esquecida.

 SONHAR COM RAYITO E ACORDAR COM APOLINÁRIO 

 À época, o desembargador Faustino de Albuquerque e Sousa governava o Estado, enquanto o inspetor João Apolinário da Silva, da Guarda Civil de Fortaleza, integrava o corpo de seguranças governamental. 
Afrodescendente, o vigilante, ao que divulgavam, possuía mais de 1,90 m de altura para um físico superior a 110 quilogramas.  
Certa feita, segundo consta, murro desferido pelo guarda na cabeça de um touro, teria derrubado o animal.

Fiel servidor do então governador e temido por sua conhecida valentia, não admitia a mínima crítica ao ocupante do Palácio da Abolição.

Opositores políticos e galhofeiros aproveitaram-se da imagem da bela para cutucar a fera.

Indagavam “Qual a diferença entre o céu e o inferno?”



Aos que não sabiam a resposta ou davam outra, retrucavam: “Sonhar com Rayito Del Sol e acordar com o Apolinário ao pé da rede.”

RAYITO CHEGOU E APOLINÁRIO PARTIU

27 de setembro de 1950. 22 horas. Igual horário ao da inauguração da TV Tupi, dias antes, em São Paulo.

Em bar das proximidades da Praça Presidente Roosevelt*, bairro Jardim América, registrou-se desentendimento entre frequentadores do estabelecimento. Travou-se renhida luta corporal, seguida de tiroteio.

Ao fim da contenda, sem vida, o corpo do inspetor Apolinário restou estendido na calçada.

A data marcou a chegada de Rayito e a partida de Apolinário


Geraldo Duarte




*Atual Praça Frei Galvão, como passou a ser chamado oficialmente o lugar.



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Agradeço ao querido amigo Geraldo Duarte 
(Advogado, administrador e dicionarista) pelo belíssimo artigo!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Os Vocalistas Tropicais e a Era de Ouro do Rádio



Os Vocalistas Tropicais, conjunto vocal e instrumental brasileiro formado em Fortaleza, Ceará, em 1941 (que deu voz a várias canções de Lauro Maia) teve várias formações até se definir, em 1946, com os seguintes componentes: os fortalezenses Nilo Xavier da Mota (1922), líder, violão e arranjos; Raimundo Evandro Jataí de Sousa (1926), vocal, viola americana e arranjos; Artur Oliveira (1922), vocal e percussão; Danúbio Barbosa Lima (1921), percussão; e o recifense Arlindo Borges (1921), vocal e violão solo.

Apresentavam-se na Ceará Rádio Clube até 1944, quando excursionaram por São Luís do Maranhão, onde se apresentaram na Rádio Timbira e no Hotel Cassino Central, e em Manaus/AM, apresentando-se na Rádio Baré.

Em 1945, o conjunto seguiu para o Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades de trabalho. Ali, eles assinaram contratos com a Rádio Mundial e com a gravadora Odeon, pela qual lançaram o primeiro disco, em 1946, com o fox Papai, Mamãe, Você e Eu, da autoria de Paulo Sucupira, e o balanceio Tão Fácil, Tão Bom, de Lauro Maia. Foi um sucesso. Nessa época, o cantor e compositor Paulo Sucupira integrou o conjunto, e gravou com eles os primeiros discos.

Em 1949, emplacaram seu primeiro sucesso de Carnaval: Jacarepaguá (Marino Pinto, Paquito e Romeu Gentil), que chegou a vencer o Concurso Oficial da Prefeitura do Distrito Federal, realizado no Teatro João Caetano.




Os Vocalistas Tropicais: destaque nacional com arranjos bem trabalhados

Terminado o contrato com a Rádio Mundial, o grupo passou a se apresentar na Rádio Tupi. Eles trabalharam em diversos cassinos cariocas, antes mesmo destes serem fechados e proibidos, e participaram de cinco filmes brasileiros.

Participaram das revistas musicais Quem está de ronda é São Borja e Confete na Boca (1949 e 1950, respectivamente) com Dercy Gonçalves, realizados no Teatro Glória.

O grupo se desfez em 1963 por não ter mais espaço na mídia, como tantos outros artistas, deixando 49 discos em 78rpm nas gravadoras Odeon, Copacabana e Continental.

Em 2004, Os freqüentadores habituais do projeto “Café + Tapioca" fizeram uma viagem à época dos Vocalistas Tropicais. Foi a proposta do filme “Fragmentos de Harmonia”, do cineasta carioca Nilo Mota. O documentário inédito abriu a sessão “Café + Tapioca” do Espaço Unibanco, de Cinema.

O documentário, que aborda a história do grupo cearense Vocalistas Tropicais, foi apresentado à seleção do Cine Ceará, mas não foi classificado. Assim, permanece inédito inclusive para o público de Fortaleza.

Contando com imagens raras dos Vocalistas e de alguns dos filmes de que o grupo participou, na áurea época da Atlântida, o filme de Nilo Mota parte do depoimento de Danúbio Barbosa Lima, um dos últimos remanescentes do grupo, ao lado de Vicente Ferreira, para contar a história dos cearenses que, reunidos inicialmente no Liceu do Ceará, partiram para o Rio de Janeiro capital da República e conquistaram sucesso no rádio e no cinema, com projeção nacional nas décadas de 40 a 60.

“Para um conjunto dar certo, é preciso ter duas coisas: harmonia e harmonia”, declarou Danúbio, quando a história dos Vocalistas e a produção de Nilo Mota mereceram amplo destaque. Nilo Mota afirma que seu filme é uma espécie de “acerto de contas” com a memória de seu pai.

“Os Vocalistas sumiram da mídia. Falam mais dos Quatro Ases e um Coringa, ou dos Cariocas, do conjunto do Adoniran... Esqueceram esse grupo que nasceu aqui no Ceará e arrebentou no Rio de Janeiro por mais de 25 anos”, avalia o diretor, que já atuou como camera-flyer (cinegrafista de saltos de pára-quedas) e repórter cinematográfico da Rede Globo durante vários anos.

Para Nilo Mota, o objetivo do filme, mais do que elaborar uma biografia aprofundada dos Vocalistas, é “mostrar as lembranças do Danúbio, o sentimento de saudade que ele tem e a tristeza dele em ver que a indústria da música acabou com esses grandes conjuntos vocais”.

Os Vocalistas Tropicais fizeram sucesso na Ceará Rádio Clube, a PRE-9. Depois, pegaram um Ita, em Salvador, para o Rio de Janeiro. Era a Época de Ouro da música brasileira. Além do êxito na Rádio Tupi, o grupo se destacou nas chanchadas da Atlântida - Nirez

Ao longo de 58 minutos, o filme toma por base as lembranças de Danúbio Lima para reconstituir os caminhos dos Vocalistas Tropicais, desde a gênese do grupo a partir do Conjunto Liceal, passando pelas apresentações na Ceará Rádio Clube, a PRE-9, e pelas turnês Nordeste afora, até a mudança em definitivo para o Rio de Janeiro da década de 40, ainda sob os auspícios radiofônicos da chamada Era de Ouro da música brasileira. “Foi na PRE-9 que eles gravaram o primeiro acetato. Começaram a cantar lá sucessos de outros conjuntos nacionais e, daqui, do Aleardo Freitas e do Lauro Maia, que foi o carro-chefe deles no início”, pontua Nilo Mota.

“Naquele tempo, muitos cantores nacionalmente famosos vinham a Fortaleza, fazer shows. Eles viram o conjunto cantar, e fizeram propaganda dos Vocalistas no Rio de Janeiro”, narra o cineasta, explicando como o grupo cearense pegou um Ita em Salvador para já desembarcar na então capital federal com a segurança de assinar contrato com a poderosa Rádio Tupi. “Eles chegaram no Rio sem saber nem onde é que tavam. Se apresentaram à rádio e já começaram a cantar”, enfatiza.


“Foram mais de 100 discos em 78 rotações, desde esse primeiro acetato até o último disco, em 1969”, estima Nilo Mota, ressaltando que parte dessas canções compõe a trilha sonora do documentário. Desde “Papai, mamãe, você e eu” e “Tão fácil, tão bom”, primeiros sucessos gravados, em 1946, pela Odeon, ao estouro no carnaval de 1949, com “Jacarepaguá”, de Paquito, Romeu Gentil e Marino Pinto. 



Outro importante capítulo na história dos Vocalistas diz respeito à participação do conjunto nos filmes musicais - ou chanchadas, conforme o gosto do freguês. Ao todo, brilharam no cinema em cinco produções: “Caídos do Céu” (1946, de Ademar Gonzaga), “Eu quero é movimento" (1949, de Luís de Barros), “Carnaval no fogo” (1950, de Watson Macedo, o filme mais bem sucedido, com participação de Oscarito e Grande Otelo), “Guerra ao samba” (1955, de Carlos Manga) e “Depois eu conto” (1956, de José Carlos Burle). Cenas deste último e de “Carnaval do Fogo” fazem parte do documentário produzido por Nilo Mota.

Álbum da Memória — Conforme ressalta a cearense Valdenora Cavalcante, também estreante em cinema e responsável pela edição de “Fragmentos de Harmonia”, a narrativa do documentário se utiliza metaforicamente do álbum de fotografias que Danúbio Lima mantém até hoje como única recordação de sua passagem pelos Vocalistas Tropicais. “A partir daí inserimos trechos dos filmes, fotos antigas e depoimentos do Nirez e do Christiano Câmara. Eles acompanharam tão de perto a trajetória do grupo que chegaram a nos dar muitas informações que nem o Danúbio lembrava”, comenta. Também fazem parte do documentário registros de aúdio da última gravação simbólica dos Vocalistas, feita por Nirez em 1970, em uma reunião em Fortaleza.

Ao longo de toda a década de 60, de acordo com a pesquisa empreendida por Nilo Mota, os Vocalistas foram aos poucos perdendo destaque, fato que o cineasta credita em grande parte ao advento da Jovem Guarda. “O meu pai falava que na década de 60 começaram a pintar os cabeludos, e que eles iam aos programas de rádio e TV de graça, ou pagando pra tocar e se promover. E os cassinos também já tinham acabado... Foram se acabando os conjuntos da antiga”, atribui. “Mas meu pai também sempre dizia que o conjunto não acabou. Eles pararam de gravar, foram se sentindo inferiorizados, desvalorizados, mas nunca deixaram de ser artistas”, faz questão de acrescentar.


Os Vocalistas Tropicais nasceram no final dos anos 30 no prédio do Liceu do Ceará

Para Valdenora, o resultado das filmagens expressa um documentário que, apesar da extensão, não trará dificuldades ao público. “A gente procurou editar pra não ficar cansativo. Procuramos inovar um pouco, não deixar que ficasse monótono”, sustenta, assumindo influências de cineastas como Walter Salles e Silvio Tender. “Sempre gostei muito de cinema, fiz cursos na Casa Amarela, mas nunca tinha tido oportunidade de colocar em prática. Graças ao Nilo, chegou a hora”, festeja.

Fragmentos de Harmonia” foi inscrito para seleção ao XIV Cine Ceará

Segundo Nilo Mota o documentário é explicativo e necessário. "Gostaria muito que as pessoas assistissem, pra saber que existiram esses grandes conjuntos, que as melodias, as letras que eles cantavam eram maravilhosas”, justifica. “Hoje em dia a gente padece de total falta de memória. É preciso relembrar essas pessoas e pensar como foi que nós deixamos isso tudo se perder”.



Originalmente composto por seis integrantes, o grupo passou por várias formações - incluindo Paulo de Tarso Siqueira, Paulo Sucupira, Eduardo Pamplona e Vicente Ferreira da Silva - até chegar ao quinteto que se notabilizou, a partir de 1946: o pernambucano aqui radicado Arlindo Borges (crooner e violão-solo), e os cearenses Artur Oliveira (violão, percussão e vocais), Raimundo Jataí de Sousa (viola americana e vocais), Nilo Xavier Mota (percussão, pai do cineasta José Nilo Moura Mota, diretor de “Fragmentos de Harmonia”) e Danúbio, também percussionista.


Sucessos

A Maior Maria, João de Deus Ressurreição e G. Cardoso (1949)
Coitadinho do Papai, Henrique de Almeida e M. Garcez (c/Marlene) (1947)
Daqui Não Saio, Paquito e Romeu Gentil (1950)
Diamante Negro, David Nasser e Marino Pinto (1950)
Exaltação a Noel, Waldemar Ressurreição (1948)
Guarda-Chuva de Pobre, Raul Sampaio, Chico Anysio e Rubens Silva (1955)
Jacarepaguá, Paquito, Romeu Gentil e Marino Pinto (1949)
Marieta Vai, Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti (1953)
Não Falem Mal de Ninguém, Dias da Cruz e Ciro Monteiro (1952)
Não Manche Meu Panamá, Alcebíades Nogueira (1948)
O Lugar da Solteira, Pedro Caetano, Clemente Moniz e Guilherme Neto (1955)
Pedido a São João, Herivelto Martins e Darci de Oliveira (c/Ruy Rey) (1953)
Samba, Maestro!, Alcebíades Nogueira (1953)
Tomara Que Chova, Paquito e Romeu Gentil (1950)
Trevo de Quatro Folhas (I'm Looking Over a Four Leaf Clover), Harry Woods e Mort Dixon, versão de Nilo Sérgio (1949)
Turma do Funil, Mirabeau, Milton de Oliveira e Urgel de Castro (1956)

Filmografia

Caídos do Céu (1946)
Eu Quero É Movimento (1949)
Carnaval no Fogo (1950)
Guerra ao Samba (1955)
Depois Eu Conto (1956)








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Fonte: Wikipédia, Diário do Nordeste, Youtube  e Diário da Música

domingo, 13 de junho de 2010

Ruas de Fortaleza - Mudanças (Av. Barão do Rio Branco)


RUA BARÃO DO RIO BRANCO VISTA DA RUA SÃO PAULO

Estamos na Rua São Paulo, olhando para a Rua Barão do Rio Branco, para o lado Sul, ou seja, de costas para o mar. A foto antiga é de 1941 e mostra a Rua Barão do Rio Branco com pavimentação de paralelepípedo, com os trilhos e a fiação dos bondes elétricos e postes de ferro da "Light".
Do lado esquerdo, ficavam estacionados os automóveis, tendo à frente um Studebaker ou Pontiac.
As árvores eram uma constante na paisagem das ruas de Fortaleza àquela época. Do lado direito, vemos, em primeiro plano, parte do prédio do London Bank, seguido do edifício Studart, de Studart & Companhia, seguindo-se as firmas Lima & Albuquerque, Quixadá & Companhia, A Espingarda, etc.
À distância vemos o Edifício Diogo, inaugurado em 1940, que além do Cine Diogo abrigou ainda a Navegação Aérea Brasileira - NAB, Palácio da Criança, e nos 8º e 9º andares, a Ceará Rádio Clube (PRE-9, ZYN-6 e ZYN-7). Do lado esquerdo divisamos também o edifício Parente por trás das árvores.
A foto mais recente, tirada do mesmo ângulo, já mostra uma Barão do Rio Branco com pavimentação asfáltica.
Os trilhos e fios dos bondes já não existem. Os automóveis de hoje já são outros e são chamados simplesmente de carros. Os postes hoje são de concreto e se multiplicaram.
A iluminação pública é a vapor de mercúrio. No local do "London Bank" hoje está a Losango Promotora de Vendas Ltda. e o edifício Studart foi demolido. Aliás, foi o primeiro edifício de mais de três andares, em concreto armado, a ser demolido em Fortaleza; seguem-se: "Lojas Americanas", Edifício Jalcy, Edifício Diogo, etc.
Do lado esquerdo vê-se o Edifício Jalcy Metrópole, o Edifício Lobrás, etc. A poluição visual está presente nas placas, nos cartazes, nos carros, nos ônibus e no oitão dos edifícios da Cidade.

RUA BARÃO DO RIO BRANCO - QUANDO ERA RUA FORMOSA

Estamos no quarteirão da Rua Formosa, em frente à Santa Casa e o Passeio Público, próximo a Rua Dr. João Moreira, na época Rua da Misericórdia. A foto data de aproximadamente 1906 e foi publicada no "Album de Vistas do Ceará - 1908", editado pela firma Boris Frères e impresso em Nanci, França. O fotógrafo estava na calçada do lado poente do Passeio Público, mais ou menos na altura do portão de entrada da Santa Casa de Misericórdia, olhando para o lado do sertão.
O primeiro cruzamento é com a Rua da Misericórdia, hoje Rua João Moreira. A casa do lado esquerdo já foi demolida.
A do lado direito foi residência do Dr. João Moreira, por isto o atual nome da rua. Em seguida, pelo lado direito, algumas casas residenciais sendo que uma delas, a listrada, foi depois a residência de Paurilo Barroso, amante das artes e que fundou a Sociedade de Cultura Artística, que funcionou em sua própria casa e depois em um dos apartamentos do Excelsior Hotel. Na mesma casa funcionou, anos depois a Câmara Municipal de Fortaleza e mais recentemente, o Sindicato dos Empregados em Transportes de Passageiros do Ceará. Em seguida vem uma casa de três portas, onde nasceu o escritor Gustavo Barroso.
O Passeio Público, que foi a primeira praça da povoação, teve sua construção iniciada em 1864 e terminada em 1879, embora tenha sofrido alterações até 1888, quando foi construída a avenida Caio Prado, aquela que fica na varanda que hoje dá para o estacionamento da 10a Região Militar. Em 1932 foram retiradas as grades de ferro e as colunas que o cercavam. Ha pouco tempo foram recolocadas grades de ferro e recentemente foi, reconstruído o muro ou cercado de colunas e grades de ferro idênticos aos originais, apesar de não mais ostentarem os jarros de porcelana.
A primeira foto é a que citamos acima, do álbum de 1908 publicado por iniciativa da firma Boris Fréres e impresso na França.
A Segunda foto data de 1989 e mostra o mesmo trecho já com as diferenças da época como asfalto, postes de concreto, carros, etc.
Na mais recente já vemos novos jarros colocados em cima das colunas, que existiam na primeira foto, mas não estavam na foto do meio.

RUA BARÃO DO RIO BRANCO ESQUINA COM RUA SÃO PAULO

A fotografia antiga data de aproximadamente 1922 e mostra a esquina da Rua Barão do Rio Branco com Rua São Paulo, na época em que no local ficava a "Casa de Móveis", da firma Sabino Borges & Cia, que trazia à época o nº 150 pela Barão do Rio Branco (hoje é 862). A firma foi estabelecida no dia 1º de janeiro de 1922 com um capital de sessenta contos de réis. Na esquina vê-se um combustor de iluminação pública a gás hydrogeno-carbonado e no calçamento de pedras toscas apiloadas, vê-se os trilhos de bondes. Na porta do estabelecimento estão o despachante aduaneiro José de Freitas, pai do compositor e violonista Aleardo Freitas e avô do Alano Freitas, ao lado do comerciante Sabino Borges.
A Segunda foto mostra, no mesmo local, após a demolição do antigo prédio e construção de um novo, o "Bank of London & South America Ltd.", chamado popularmente de London Bank, que à época da primeira foto funcionava no palacete Guarani, na esquina das ruas Barão do Rio Branco com Senador Alencar, onde hoje está uma loja da BCP. Muitos vultos de grande importância em Fortaleza foram funcionários do London Bank, como o fotógrafo Ademar Albuquerque entre outros.
A terceira foto, mais recente, mostra o mesmo prédio no qual funcionou o "London Bank" já ocupado pela "Losango Promotora de Vendas Ltda.", firma de empréstimos financeiros.
As diferenças entre as fotos são de época. Enquanto a primeira - a mais antiga - mostra a rua calçada com pedras toscas apiloadas, calçadas sem meio-fio, trilhos de bondes, combustor de iluminação pública a gás hydrogeno-carbonado, um sobrado com portas estreitas, telhados beira-e-bica, etc.; a segunda mostra uma arquitetura inglesa da década de 30, bem próxima à neoclássica, típica de estabelecimentos bancários europeus, janelas inferiores arqueadas e as superiores retangulares e por trás podemos ver parte do oitão do Edifício Studart, que foi o primeiro de mais de quatro andares, de concreto armado, a ser demolido em Fortaleza.
Nos dois lados copas de ficus-benjamin, fios cruzando o céu, calçada uniforme e a presença do meio-fio, etc.; a terceira foto, a mais recente, mostra o mesmo prédio como está hoje, isolado, sem o Edifício Studart à esquerda que foi demolido e transformado em um estacionamento para carros, abrigando a Losango Promotora de Vendas Ltda., onde já existe o asfalto, a sinalização horizontal e vertical, semáforos, postes, fios, aparelhos de ar condicionado, etc.

RUA BARÃO DO RIO BRANCO CRUZAMENTO COM RUA GUILHERME ROCHA

96 anos separam as duas fotos. É o cruzamento da Rua Formosa (hoje Rua Barão do Rio Branco) com Travessa Municipal (hoje Rua Guilherme Rocha).
Na primeira foto vemos o tipo de iluminação da época, combustores a gás, em contraste com a segunda, a vapor de mercúrio; os veículos também são outros, em lugar da carroça e do bonde de tração animal, automóveis com motor à explosão; o calçamento contrasta com o asfalto e os prédios trazem além da diferença de época nas construções, a atual poluição visual e comercial. O sobrado na esquina, na velha foto, é do João Antônio Garcia e incendiou-se em 30 de setembro de 1929, sendo construído o que vemos na foto atual. Neste atual, funcionou a rádio Iracema, o Partido Comunista, a Liga Integralista a loja "A Espingarda", a sorveteria "Cabana", "A Esmeralda", em épocas deferentes.
O sobrado da esquerda era da família Justa e ali funcionou a "Pensão Familiar", a "Farmácia Albano", a "Farmácia Meton", a "Farmácia Fortaleza", o "Café Rex", "sorveteria Pontes", a casa de merendas "Pic-Nic" e hoje é o Edifício Jalcy, tendo no térreo as "Óticas Itamaraty", o "Palácio das Canetas" e o "Waldo's", café e tabacaria.
O calçamento na foto antiga é do tipo ainda hoje utilizado nos bairros distantes, e que foi apelidado de "cearalepípedo". São pedras toscas quebradas à marreta. Antes as pedras são extraídas nas serras, por meio de dinamite. Os calçamentos se iniciaram em Fortaleza ao tempo da seca de 1877, quando foi aproveitada a mão de obra dos flagelados que traziam os blocos de pedras nos ombros desde as pedreiras.

RUA BARÃO DO RIO BRANCO ESQUINA COM RUA GUILHERME ROCHA II

O velho sobrado da esquina da Rua Guilherme Rocha com Rua Barão do Rio Branco, deu abrigo, por muitos anos, a "Pensão Familiar", a "Farmácia Albano", a "Farmácia Meton", a "Farmácia Fortaleza", o "Café Rex", "sorveteria Pontes", a casa de merendas "Plc-Nic" e hoje é o Edifício Jalcy, tendo no térreo as "Óticas Itamaraty", o "Palácio das Canetas" e o "Waldo's", café e tabacaria.
Ao tempo da "Farmácia Albano", de Antônio Albano, pai, de José Gil Amora, nos fundos tirava o jornal "O Garoto'" da Academia Rebarbativa.
A foto antiga não é tão velha, datando da década de 1940 já em seu final. Apesar da presença dos trilhos e fios de bondes, talvez esses já não mais existissem, pois deixaram de circular em 1947. A rua ainda era calçada com paralelepípedos. Vemos no velho sobrado os "jacarés" para descida d'água.
A foto atual mostra. No local do velho sobrado da "Farmácia Albano" o Edifício Jalcy, inaugurado em 1959, que traz na parte térrea o "Waldo's" (café e tabacaria). Em seguida vêm várias lojas e depois o edifício Diogo, hoje transformado em "shopping" e várias lojas e bancos, com destaque para a "Casa Pio", "Fininvest", Bradesco, "Charmile", "Bunny's", "Lojas Pecary", Banco de Crédito Real de Minas Gerais, etc.
O asfalto, a sinalização, os carros, telefones públicos (orelhões), postes de concreto-armado, semáforos, iluminação pública a vapor de mercúrio, tapumes e vestimentas das pessoas, mostra a diferença de época das duas fotos.
Chamamos a atenção para a quantidade de aparelhos de ar condicionado nos prédios, principalmente no Jalcy.





Fonte: Portal da história do Ceará e Arquivo Nirez


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