Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Os Marcos da Ceará Rádio Club - 1ªparte
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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Os Marcos da Ceará Rádio Club - 1ªparte



Eduardo Camos escreveu em 1984 um ensaio chamado "50 Anos de Ceará Rádio CLub", em homenagem ao cinquentenário de atuaçao da emissora.


50 Anos de Ceará Rádio Clube (1934-1984) - Ensaio escrito por Eduardo Campos

Colocarei aqui os artigos do referido livro:

JOÃO DUMMAR DÁ A LARGADA PARA O SUCESSO

Por inspiração de João Dummar, interessado por assuntos de radiotelefonia - como se denominavam então as atividades de radiodifusão -, a 28 de agosto de 1931 foi fundado o Ceará Rádio Clube (a designação era masculina), sociedade civil integrada por "amadores da radiotelefonia", no caso, os senhores Francisco Aprígio Riquet Nogueira, Clóvis Fontenele, Joaquim da Silveira Marinho, Eusébio Nery Alves de Sousa, Francisco Campello de Alencar Mattos, Diogo Vital de Siqueira, Álvaro de Azevedo e Sá, Sebastião Coelho Filho, César Herbster Dias, Jorge Ottoch, o próprio João Dummar e tantos outros.


O objetivo da sociedade era "promover relações entre os amadores de radiotelefonia por meio de reuniões, irradiações e serviço de publicidade", assim como "instalar uma estação emissora de onda longa devidamente autorizada pelo Governo, e de cujo stúdio seriam "regularmente irradiados programas de atrações e interesses gerais"; "facilitar aos seus associados a aquisição", "instalação de aparelhos de radiotelefonia" e "propagar a radiotelefonia, facilitando" ao Governo a irradiação de notícias oficiais."

Em 1932, debaixo das intenções explicitadas no estatuto divulgado dois anos depois, a sociedade obtinha licença (a 16 de agosto) para transmitir sob o prefixo PRAT, tendo-se instalado a emissora, de modo precário, a 19 de setembro de 1933, aguardando o licenciamento oficial que afinal seria concedido pela portaria 415, de 30 de maio de 1934, com os dizeres: "O Ministro de Estado dos Negócios da República dos Estados Unidos do Brasil, atendendo ao que requereu o Ceará Rádio Clube e tendo em vista os pareceres prestados: RESOLVE aprovar as plantas, orçamento e especificações técnicas que com esta baixam, rubricadas pelo Diretor Geral de Expediente, interino, da Secretaria de Estado deste Ministério, para a instalação de radiodifusão da referida sociedade. Rio de Janeiro, 30 de maio de 1934. (Assinado) José América de Almeida."

O Ceará Rádio Clube funcionaria provisoriamente sob o prefixo PRAT, a título experimental, autorizado a irradiar na onda de 330 metros, o que posteriormente foi modificado pela portaria 415. O transmissor dos primeiros anos tinha a potência de 500 watts, controlada na sintonia por cristal, coajuvado por dois amplificadores de estúdio, inclusive três retificadores. Eram dois os mastros da antena, e esta, como se presume, horizontal.

O estúdio dava-se ao luxo de ter dois pianos, um francês, de cauda, e outro, de fabricação nacional, de armário. As torres de transmissão foram adquiridas ao Sr. R. A. Almeida, do Rio de Janeiro, tipo "self-supporting".

O Ceará Rádio Clube tinha sua sede e estúdios na rua Barão do Rio Branco, 1172, operando o transmissor nas Damas (lado poente da Avenida João Pessoa), ocupando área próxima as dependências que pertenceram, anteriormente, ao Ideal Clube. Para ali, em 1938, foram também transferidos os estúdios.


De acordo com a licença expedida pelo Departamento dos Correios e Telégrafos, Serviço Radioelétrico, tem-se como data oficial de abertura, ou de início das atividades, o dia 30 de maio de 1934, que se aceita para efeitos históricos, e não 22 ou 28, do mesmo mês, como têm anunciado outros pesquisadores da história da radiofonia brasileira.


AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DE "BROADCASTING"

Não está bem definido quando se iniciaram os programas de rádio, elaborados para ouvinte. Dá conta o cronista e escritor Otacílio Colares de que por volta dos anos iniciais da Ceará Rádio Clube, já tocavam piano em seus estúdios "revelações como José Pompeu Gomes de Matos, Lauro Maia, José e Estevão EmI1io de Castro e Aloysio Pinto." Foram artistas cantores, dessas primeiras manifestações de "broadcasting", José Jataí, Romeu Menezes, o "boêmio-galã" Moacir Weyne e Altair Ribeiro.


Descrevendo a Fortaleza dessa época, com os seus oitenta mil habitantes, Otacílio Colares narra: "Era, quando, tirante as sessões "colosso" e "gigante", dos popularíssimos cinemas centrais, Majestic e Moderno" ... "só restava, para encompridar a hora de recolher-se à casa, o recurso dos longos papos às mesas de cafés, que os havia, às dezenas, à roda e nas proximidades da Praça do Ferreira."

Nesses cafés, de freqüência variada, lá estavam os pequenos rádioreceptores, todos em mógno, geralmente com as caixas em forma ogiva!, em cantoneiras no geral de mármore ao alcance apenas da sintonia do proprietário, na transmissão das vozes, então máximo, de Vicente Celestino, Silvio Vieira, Augusto Calheiros, Alberto Perroni, Gastão Fomenti: valsas, canções, cançonetas, foxes bem marcados, sambas de Noel e choros de Pixinguinha e Benedito Lacerda.

Isto sem esquecer Carmen e Aurora Miranda que despontavam gloriosamente. Não sendo de esquecer os programas de música erudita, com apresentações. Se me não engano, redigidas por Audifax Mendes, que música selecionada era passatempo de uma elite social em cujas residências solarengas havia piano como instrumento e não como puro móvel ornamental."

Por esses dias vieram a Fortaleza, para cumprir programas ao microfone da Ceará Rádio Clube grandes nomes do rádio brasileiro: Sílvio Caldas, Francisco Alves e Carlos Galhardo.

Em 1936 a empresa promoveu o primeiro concurso para locutor, iniciativa que despertou a curiosidade do público ... e a contratação dos três primeiros profissionais dessa categoria, que mais tarde seria enriquecida com a presença de Paulo Cabral de Araújo.

Raimundo Menezes, em 1938 ocupava cinco minutos eventualmente, ao microfone da emissora, com crônicas de sua autoria enfeixadas posteriormente em livro sob o título: "Coisas que o tempo levou", nome de programa que ia ao ar sob a responsabilidade inicial de José Cabral de Araújo e, depois, por muitos anos, de José Limaverde.


Eduardo Campos


OS NOVOS ESTÚDIOS NO EDIFÍCIO DIOGO. A CONSAGRADORA TEMPORADA ARTÍSTICA DE ORLANDO SILVA, O "CANTOR DAS MULTIDÕES"

Em 1941, a 29 de agosto, através de portaria de número 496, a estação recebeu autorização para mudar os estúdios das Damas (Avenida João Pessoa) para o oitavo e nono andares do Edifício Diogo. O cumprimento dessa providência implicava em melhoria técnica dos equipamentos de transmissão e aperfeiçoamento da programação artística.

João Dummar contratou então o radialista Dermival Costalima, que chegou a Fortaleza a tempo ainda de atuar nas Damas e acompanhar de perto os trabalhos de montagem do estúdio no centro da cidade.
A festa se deu a 12 de outubro de 1941, memorável por registrar igualmente a entrega aos ouvintes do transmissor de ondas curtas, conquista técnica que possibilitava a emissora alcançar os pontos mais distantes do Ceará, do Brasil e do exterior.

A atração maior desse acontecimento foi a presença de Orlando Silva, considerado o "cantor das multidões" e senhor de considerável prestígio popular. Pode-se dizer, sem exagero, que a cidade parou para receber a grande voz romântica do cancioneiro nacional, cantor que disputava as preferências do público juntamente com Francisco Alves, "o rei da voz", que antes' visitara o Ceará, para atuar ao microfone da PRE-9, em 1938.

Orlando Silva viajou do Rio de Janeiro para Fortaleza em avião de carreira da NAB (Navegação Aérea Brasileira) que, à época, descia no antigo Campo do Alto da Balança.

Pela primeira vez, em Fortaleza, a polícia teve de tomar medidas especiais para proteger o artista em seu desembarque, tendo bloqueado o acesso ao aeroporto, para onde convergia incalculável número de curiosos, que começavam a se identificar por "fãs".
O desembarque houve-se com ordem. Ao transpor os portões do aeroporto, até o centro da cidade, o cantor pôde testemunhar que se transformara em ídolo da mocidade fortalezense.

Debaixo de aplausos o cantor desfilou até o hotel, o "Excelsior", em carro aberto. E da sacada do apartamento dirigiu-se mais de uma vez aos que ali se postavam, sendo vivamente aplaudido. Sua temporada foi êxito completo. Principalmente, por ter lançado os dois grandes sucessos do carnaval de 1942. "Chica boa" e "Lera lero".

Os programas da emissora, a partir da direção artística de Dermival Costa Lima, passaram a ser cuidadosamente escritos. A terminologia já dominante no rádio, no sul do País, chegava a Fortaleza daqueles dias e à sua emissora pioneira. O programa obedecia a texto do "script", como se dizia então, e cada participante da audição recebia cópia, para acompanhar. Acudia a linguagem técnica nova semântica radiofônica, a adotar neologísmos. Tinham curso as palavras "broadcasting", "cast", "lady-crooner", e designações que se iam somar aos procedimentos de sonotécnica, sonoplastia, etc.

Nas transmissões era utilizado mais de um microfone. E para quase todos os programas, a direção exigia recursos musicais, orquestrados ou produzidos pelo sonoplasta, no caso o próprio discotecário.

Efetivaram-se, então, os primeiras programas de auditório, que este, composto de cem poltronas, ficava instalado no oitavo andar do Edifício Diogo. (Direção comercial e Superintendência funcionavam no nono andar).




Continua...



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