Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Restaurante Lido
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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domingo, 11 de janeiro de 2015

Um passeio na história pela Praia de Iracema - Literatura de Cordel



Iracema em 1930 - Nirez

Luís Antonio de Aragão

Apresentação

Só quem viu, sabe. Só quem morou ali alcança o mesmo espanto frente à beleza e o feitiço da praia de dunas brancas, que se estendia da Barra e o Cocó virgem intocada, cuja estória Luís Aragão nos conta em seu romanceiro popular, que atravessa sete dias, sete meses, sete anos, quiçá sete décadas ... E de sete em sete versos, caminha soprado por ventos brejeiros que adejam o areal espetado de coqueiros, aos sons da embolada e do repente, da batida do coco, sob a luz de candeeiros e da Via Láctea, narrando a valentia do jangadeiro.



Heróis sofridos, cujas aventuras Jacaré tão bem simbolizou, assombraram o mundo, indo ao Rio de Janeiro e Argentina, tornando–se mártires e enredo de filme americano. Suas empreitadas, como as dos portugueses, tornaram–se épicas na simplicidade dos brancos lençóis desta praia. Jacaré adormeceu para sempre no fundo do oceano.

São frágeis as jangadas com suas antigas velas de algodãozinho branco, mas possuidoras de tanta ciência na sua construção e na de seus apetrechos, só para poderem ir pra onde Deus quiser...




Mas, frágil também era a praia: logo a história nos conta que foi Netuno, enfurecido, que em represália a construção de um novo cais "No mar fez um levante" e destruiu ruas e sobrados antigos do litoral de Iracema.

Assim, de verso em verso vamos sentindo as perdas quase imperceptíveis, se vistas com as lentes de hoje. Mas, quem viveu, viu. E o cordel nos conta. Enquanto as fotos antigas servem para revelar e enredar.




Mas, o sopro das mudanças trouxe também tantas coisas boas, tantos locais de encontro, típicos. Logo o Ramon, antigo restaurante destruído pelas águas, foi substituído por inúmeros locais que enriqueceram a praia, como Zero Hora, Tony's, o Lido, o Estoril e tantos outros.

Chegaram os clubes Tabajaras, Diários, Jangada e Estoril, caminhando como um prenúncio do que seria a praia para turistas, hoje tão distante daquela Vila de Pescadores.




O Estoril nos remonta a II Grande Guerra, e a uma segunda invasão: esta não das águas, mas de novos costumes. Ali, onde a água traspassava o sólido quebra-mar, numa grande depressão formava–se uma piscina onde a índia sereia, em noite de lua cheia, ia banhar–se.

É essa a Iracema das lendas. Onde nossos olhos hoje "vêem um mar de lama, cheia de pedras cortantes, de bueiros e esgotos...".

(Foto: Nos velhos tempo da Praia de Iracema. Acervo de Holanda Re)

O grande vagalhão não levou apenas Jacaré para o fundo do mar ou deixou a aventura de Tatá perdida próxima do Pólo Sul.

Tantas coisas mais foram levadas e outras tantas foram trazidas.

O Cordelista nos fala dos marcos históricos, das escolas, da folia em Iracema, dos moradores famosos, dos nomes indígenas das ruas... e dos seus ciúmes por Iracema.

Mas, há uma Iracema frente ao mar, arco retesado num gesto simbólico atirando, nossas esperanças para o futuro. Essa a bela mensagem do cordel de Luís Aragão.

Drª. Cláudia Leitão
Secretária de Cultura do Estado





O NASCER DE IRACEMA

Iracema de Alencar
Em honra ao grande escritor
Um filho de Messejana
Homem de culto valor
Que o povo inteiro proclama
É todo mundo lhe chama
Nosso maior escritor



O amor do luso e a Índia
Bem ele imortalizou
De Martim e de Iracema
Moacir se originou
Quando a guerreira esvaiu
Do Mucuripe partiu
Com seu filho emigrou


Ao gosto do mar eu falo
Grito forte na Pocema
Que já foi Praia do Peixe
Ora já foi Praia do Peixe
Mergulhando na história
De um bairro cheio de glória
Da nossa Musa Poema


Enorme de brilho intenso
Era o belo litoral
Da Barra até o Cocó
Puro e tão virginal
Parece assim Deus ter feito

Um lugar assim perfeito
No mundo celestial


Da Praia o nome crescia
Todos queriam ficar
A índia tinha um feitiço
Ninguém queria voltar
Dunas brancas que a areia faz
Vento puro e muita paz
Aqui podiam encontrar


Mais duas ruas havia
Muito além dos Tabajaras
Eram muitas residências
Bonitas e muito caras
Bem distante o mar ficava
Ao longe se caminhava
Por tantas belezas raras


A Dona Maria Júlia
Da imensidão dos coqueiros
O sol quando aparecia
Com seus raios primeiros
No areal que havia
O coqueiral reluzia
Brisa ventos brejeiros

Na vila dos pescadores
Ao clarão da luarada
Dançavam dança do coco
Com repente e embolada
E, o jangadeiro valente
Rumava pra sua gente
No clima da madrugada

E cantava toda à noite
O Marcolino e o Carneiro
Fosse claro ou noite escura
Sob a luz do candeeiro
A Via Láctea brilhava
E todo mundo escutava
O canto do jangadeiro:




"Sete dias, sete meses, sete anos
Sete padres no altar
Sete salas de quadrilha
Sete tambores a rufar
Sete pandeiros tocando
Sete rapazes namorando
Numa noite de luar"
.


Praia de Iracema na década de 60 - Livro Viva Fortaleza


HERÓIS JANGADEIROS E SUAS VIAGENS ESPETACULARES


Bravura de jangadeiro

É de homem destemido

Impetuoso e valente

Corajoso e aguerrido
Somente a Deus é temente
Nada há que não enfrente
Esse herói tão sofrido

No Tempo da servidão
O jangadeiro lutou
Ao transporte de escravos
Ao lado da Redentora
E a classe libertadora
Com ele se rebelou



Um prático-mor da barra
De moral e muita ação
Era Chico da Matilde
Mais tarde do mar Dragão
F. José Nascimento
O líder do movimento
Em prol da libertação

Convidado foi ao Rio
Para nos representar
E lá por Terra da Luz
Foi chamado o Ceará
A jangada nos pertence
É o símbolo cearense
Pelo mundo d’além mar

Setembro de quarenta e um
Meio século tinha ido
Do grande Dragão do Mar
Tudo já era esquecido
E um quarteto valente
De forma diferente
Se mostrou decidido



Ir ao Rio de Janeiro
Falar com o presidente
E partiram de jangada
Orgulho da nossa gente
Não seria uma aventura
E, sim uma forma pura
De mostrar o que se sente
Assim, todo o nosso estado
A decisão apoiou
Até o Doutor Pimentel
Que era o interventor
Chamou "raid" da Coragem
Pois para fazer tal viagem
Tinha que ser lutador

Chico Altino construiu
A jangada dos "sem medo".
Frei Perdigão batizou
Com o nome de São “Pedo”
Para serenar os ventos de açoites violentos
O oceano, tem segredo


Partiram de onde é hoje
O atual Paredão
Fortaleza era Iracema
Iracema era a Nação
Lenço branco se agitava
Banda de música tocava
Era tudo um coração

Parte do mastro e bolina
Com a vela já desfraldada
A bandeira brasileira
Ao vento tremulava
Vinte barcos de escolta
Circulavam sempre em volta
Da “São Pedro” abençoada



Foram 1.500 milhas
Em dois meses e um dia
Temporais e muito sol
Tanta dor e agonia
Por sobre as ondas da morte
Entregues à boa sorte,
Mas lamentos não havia
Os quatro predestinados
Emocionaram o País
Getúlio Vargas contente
A eles abraça e diz:
“Homens d ‘alma corajosa”.
Oh! Gente forte e briosa
O Brasil está feliz

“Não vimos aqui pedir”.
E, sim, reivindicar
Melhor condição de vida
Pro nosso homem do Mar
A nossa classe trabalha
Vive em barraca de palha
E isso tem que mudar".

Disseram que o motivo
Do risco de suas vidas
Foi para chamar a atenção
Que as pessoas desassistidas
Causam dor e sofrimento
E isso, nesse momento,
Há com pessoas queridas


O Rio todo aplaudia
Aos humildes de ação
Desfilou em carro aberto
Aquele grupo mais que irmão
É conto, lenda e poema
Dessa, Praia tão Suprema
Em eterna louvação

Raimundo Correia Lima
Ou simplesmente Tatá
Jerônimo André de Souza
Com dois Manoeis são de cá
Manoel Preto é Pereira
Manoel Jacaré de Meira
No céu já chegaram lá

A história ganhou o mundo
Orson Wells escutou
No ano quarenta e dois veio
Ele um filme iniciou
E em nossa Fortaleza
Sentiu muita tristeza
Com o sofrer do pescador


Por falta de condições
Voltou ao Rio para filmar
Conduzindo os jangadeiros
De retorno aquele mar
E na Barra da Tijuca
Mais de uma cena maluca
O diretor quis mostrar

O herói não é dublê
Esqueceu o escritor
Aquela raça de homens
Não é falsa como o ator
De medo só sabe o nome
Passa frio, passa fome,
Mas não perde o seu valor



E assim ficou o grupo

Esperando um vagalhão
Bem forte como no dia
Da ida à consagração
E no meio da comédia
O final foi de tragédia
Daquela triste lição


Em inglês It’s all true
No português “Tudo é verdade”
O título do filme diz
Da dura realidade
Jacaré morreu no fundo
Do oceano seu mundo
Foi viver na eternidade

Uma segunda viagem
Que Tatá bem comandou
Ao Rio Grande do Sul
Com Mané Preto zarpou
Juntos a Frade e Batista
Não há homem que resista
Aquilo que Deus traçou

“Nossa Senhora d’ Assunção”
Padre Pita batizou
A garbosa jangada
Que a equipe levou
Os gaúchos então viram
Os Pampas aplaudiram
O Ceará que lá chegou


Voltaram de cavalo
Nem navio ou avião
Jangadeiros a galope
E bebendo chimarrão
Homens do meu Nordeste
Quatro cabras da peste
Cada um num alazão

Outros homens de aço
O mar um dia singraram
Luiz, José, Samuel
E Jerônimo mostraram
Não vagaram ao léu
Seguindo estrelas do céu
Pra Argentina rumaram

Luiz era garoupa
Levou a vida a pescar
Tinha este nome de peixe
Sua vida era no mar
A jangada irão chamar
De Tereza Goulart
E a virgem há de os guardar

Portanto trinta e três léguas
Tiveram que recuar
Uma grande tempestade
Os levou noutro lugar
Perdidos na escuridão
Três dias nenhum clarão,
Ficaram sem avistar


Próximo do Pólo Sul
Tudo fica congelado
Noventa dias com fé
Um milagre era esperado
Um apito bem distante
Se ouviu da nau “Bandeirante”
O grupo foi resgatado

Foram a Buenos Aires
Diante da Casa Rosada
Argentinos curiosos
Frondisi era Presidente
A esposa de presente
Lhes deu uma barca de equipada

JANGADAS

Uma mulher bem sabia
Na Praia comerciar
Isaura Carlos de Souza
Se fazia respeitar
A mãe de Pedro Garoupa
Não precisou tirar a roupa
Para se emancipar





“Jaraqui” e “Itajubá”

Eram nomes de jangadas

De Dona Sinhá Garoupa
As duas bem alinhadas
Com as velas de algodãozinho
Mostravam todo o carinho
Por ela, tão refinada

Acervo Clóvis Acário Maciel

Pra fazer boa jangada
Com zelo na construção
A madeira é de piúba
De boa conservação
Vem do Norte do Pará
Tem que se importar de lá
Pois aqui não existe, não

Medindo trinta e seis palmos
É sempre a embarcação
Vinte e dois centímetros cada
Abertos na minha mão
Comprimento da jangada
Pequenina e apertada,
Mas grande no coração


Da família da jangada
Bem muito se fala destes
O bote de treze palmos
De vinte e nove Paquetes
Bote de casco é quarenta
Grande viagem aguenta
Merecem também lembretes

Os seis paus têm seus nomes
Sendo assim intitulados
Os dois do centro são meios
Imediatos encostados
Por “bordos” são conhecidos
Assim bem distribuídos
Memburas dois são chamados





Arranjos de popa e proa
Ostentam a Jangada bela
Sustentando o Mastro Grande
E tem o Banco de Vela
Carlinga é pequenina
Tábua dos meios e Bolinha
Vela de algodão é ela

Presa a Ligeira no Mastro
No Espeques também é
A Escolta amarrada
Se puxa com muita fé
Pra ela se encher de vento
E a Jangada em movimento
Ir pra onde Deus quiser


Os Caçadores são tornos
Tuacu pedra furada
Cuia de Vela é uma concha
A Quimanga é bem guardada
Tupinambaba com anzóis
Samburá peixes pra nós
Bicheira arrasta a pescada

Banco de governo ao Mestre
A Forquilha é bem fixada
Macho e Fêmea remo é leme
A Araçanga e pra porrada
Do anzol arame é Ipú
Búzio que chama é Atapú
Sopra o Terral a Jangada

Acervo Carlos Juaçaba

Bucólico e pequeno Cais
Encostado ao Paredão
Enfileirados Paquetes
Quem pesca tem tradição
Coró, Piaba, Lanceta
O Batata e a Pilombeta
Peixe também é atração









Crédito: http://www.nehscfortaleza.com/





domingo, 8 de agosto de 2010

Restaurante Lido


27 de Novembro de 1955 - Inauguração do restaurante - Arquivo Joanna Dell'Eva

Hoje é com muita satisfação que falarei do Restaurante Lido. Sabe quando você tem a incrível sensação de conhecer determinado lugar só de tanto ouvir falar e mergulhar de cabeça na história do lugar e na histórias das pessoas envolvidas diretamente com aquele ambiente? Pois é exatamente assim que eu me sinto com relação ao Lido. Nos último meses tive o enorme prazer de conhecer Joanna Alice Dell'Eva, uma pessoa sensacional, super generosa e dedicada, que me ajudou 100% na elaboração desta postagem, passamos deliciosos dias juntas "virtualmente", onde ela me contou histórias deliciosas e momentos marcantes do Lido e de sua infância, correndo naquelas areias da Praia de Iracema. Eu me senti ali, junto com ela, sentada na sapata das antenas, vendo o movimento do entra e sai do Lido e saboreando os mais diversos pratos que ali eram servidos...

O Restaurante Lido foi um marco na gastronomia cearense, tendo grande aceitação do público, que sempre lotava o restaurante.
Charles e Lúcia Paulette Dell'Eva, fizeram do restaurante um sucesso!

30 de Maio de 1955 - Reforma para a grande inauguração - Arquivo Joanna Dell'Eva

Construção 30/05/1955 - Arquivo Joanna Dell'Eva


Lido em construção - 30/05/1955 - Arquivo Joanna Dell'Eva

30 de Maio de 1955 - Arquivo Joanna Dell'Eva

Durante as décadas de 1950 até aproximadamente a de 1980, o restaurante Lido predominou na preferência da freguesia. Os proprietário, um casal francês ( Charles e Lucia Paulette Dell'Eva), ganhou a predileção do grande público, que lotava aquela casa de pastos diariamente com pratos dos mais variados tipos de refeições, lagosta e camarão em todas as suas nuances atraindo turistas, e nós os donos da terra, os estrangeiros que por aqui passavam e vinham passear ou residir. O restaurante era um grande “galpão”("Novidade na época. O restaurante era decorado com redes de pescar, lamparinas de embarcações, e vários Posters da França") cuja coberta no seu início era de palha de carnaúba que mais tarde (“1968-1969”) foi substituída por grandes tesouras de madeira com cobertura de “telha-vã”, que dava excepcional aparência àquela construção, com meias-paredes, onde sobrepunham-se tapumes com vidraças colocadas que fechavam as três faces do galpão para dar a mais bela visão do mar ("As vidraças na lateral, eram para proteção da areia principalmente nos meses de setembro, pois tinha muito vento"). Quando enfurecido nos meses de janeiro e fevereiro, causava o mais belo espetáculo das ondas que se debatiam contra o arrimo de volumosas pedras que serviam de amparo e resguardo da estrutura do inesquecível local de tanta simpatia dos fortalezenses que para lá se dirigiam também, para apreciar os embates das ondas e sentir de perto o aroma da maresia que se espalhava por todo o recinto. ("adoro me lembrar desta época: eram as famosas "ressacas" em janeiro, fevereiro, e meu pai era obrigado a colocar "sacos de farinha" cheios de areia nas muretas lado praia para evitar o mar de entrar no salão, o que aconteceu varias vezes, era impressionante mesmo, porém belíssimo cenário, as ondas chegavam até o telhado...e muitas vezes lavavam o salão! Ainda não havia, as pedras de proteção...somente mais tarde. Não podemos esquecer de que naquela época, clientes habituais da casa vinham também à tarde para assistir aos desfiles dos botos bem na frente do Lido, época de acasalamento; era lindíssimo! hoje...onde estão os botos? Foram pescados? É...sumiram para sempre como tantas outras coisas belas!")


Os jovens se sentiam atraídos pelas marés, por ser o casamento da lua e do sol, ao contemplar, dava mais disposição ao amor, no crepúsculo vespertino ou matutino quando o amor fala sempre mais alto...
O Restaurante Lido ainda contava com um afinado conjunto musical a entoar lindas canções na época.


(Texto de Zenilo Almada e comentários (em azul) de Joanna Alice Dell’Eva)

Agosto de 1955 - Pré inauguração do restaurante - Arquivo Joanna Dell'Eva

Pré inauguração - Agosto de 1955 - Arquivo Joanna Dell'Eva

Lúcia Dell'Eva - Agosto de 1955 - Pré inauguração do Lido - Arquivo Joanna Dell'Eva


Pré inauguração - 08/1955 - Arquivo Joanna Dell'Eva

No dia 27 de Novembro de 1955 foi inaugurado em Fortaleza, mais precisamente na Praia de Iracema, o Restaurante Lido. O nome foi inspirado no Famoso Le Lido, em Paris. A casa frequentada por toda a sociedade cearense, eternizou alguns pratos que ficaram na memória de seus clientes. Um deles é o Peixe à Delícia(*), filé de peixe frito envolto em bananas fritas, gratinado no molho branco.
A filha do casal, Joanna Dell'Eva guarda todas as receitas. Ela conta que a lagosta também fazia muito sucesso no Lido.


Sim, era dado início a uma nova era da gastronomia cearense...

Agosto de 1955 - Pré inauguração do Lido - Arquivo Joanna Dell'Eva

Agosto de 1955 - Cozinha do restaurante - Arquivo Joanna Dell'Eva

O ano era 1952 e à convite dos senhores Romeu Aldiguiery e Julio Coelho, o casal Dell’Eva foi convidado para gerenciar o restaurante do Náutico Atlético Cearense, que havia sido inaugurado recentemente. Charles foi um grande sucesso na introdução de seu menu, e pela primeira vez na história do Ceará, a lagosta passou a fazer sucesso e agradar ao paladar do fortalezense, visto que até então o sabor desse crustáceo era desconhecido(**), ou pelo menos rejeitado pela sociedade. Em 1953, à convite do Sr. Dummar, Charles foi inaugurar o novo restaurante do Ideal Clube, que era frequentado pela alta sociedade de Fortaleza. Ele ficou no Ideal até 1955, quando finalmente inaugura o seu próprio restaurante na Praia de Iracema.

Panfleto 1956

Em Maio de 1955, Charles e Lucia Paulette alugaram e reformaram a casa de veraneio "casa de praia" da família Markan (Roberto Markan é dono do Moranga e do Caravaggio, a casa de veraneio era do avô dele), e criaram o famoso Lido(o "ícone" da família Brasil DELL'EVA).
Uma das novidades e que agradou em cheio, era que os clientes podiam escolher suas lagostas vivas, adequadas em um viveiro natural que ficava logo na entrada do estabelecimento.

Panfleto 1957

No final do ano de 1974, o Lido foi vendido ao então gerente da época, mas sem o mesmo glamour de antes, na verdade o Lido nunca mais seria o mesmo... Nos anos 80 o Restaurante mudou de endereço e foi para à Beira-Mar, ao lado do Alfredo, o Rei da Peixada. O antigo prédio na Praia de Iracema foi demolido e em seu lugar, foi erguido por Ivens Dias Branco, um prédio de luxo, que recebeu o mesmo nome, o mito da Praia de Iracema : Edifício LIDO. O Restaurante Lido deixou muitas saudades... Ele se foi, mas sua história está na memória de muitas pessoas e eu espero que mais gente possa conhecê-la e passá-la adiante, só assim nosso passado será sempre lembrado no presente!

27/11/1955 - Inauguração do Lido - Casa cheia (Do lado direito em uma mesa, é o Antônio Albuquerque e sua equipe da Aba film) - Arquivo Joanna Dell'Eva

27 de Novembro de 1955 Inauguração do Lido - Casal Dell'Eva ao lado o maître do hotel Alcindo. Arquivo Joanna Dell'Eva


Em 22 de abril de 1984, fecha as portas, definitivamente, o Restaurante Lido, na Praia de Iracema, com endereço de Avenida Getúlio Vargas (Beira-Mar) nº 801.

(*)Receita original do Peixe à delícia:

Ingredientes:
6 filés de peixe sem pele
6 bananas prata maduras (Depois de fritas, serão cortadas ao meio)
Manteiga e azeite de oliva para fritar
Sal e pimenta do reino à gosto para temperar os filés

Molho:
1 copo de creme de leite fresco (230g)
2 gemas de ovo
1 cálice de vinho do porto ou um bom conhaque
¹/² copo de leite (metade da quantidade do creme de leite)
Sal e pimenta do reino à gosto para temperar (bem pouquinho - para não ficar salgado nem apimentado)

Queijo parmesão ralado para gratinar

Preparo:

Frite os filés de peixe no azeite e reserve. Frite as bananas na manteiga com um pouco de azeite até ficarem douradas e não escuras. Reserve. Molho: bata tudo com um garfo ou com um "fouet". Em um refratário, coloque os peixes e as bananas. Por cima, cubra com o molho e leve ao forno com o queijo parmesão ralado por cima para gratinar. Dependendo do forno...15 à 20 minutos só para dourar, NÃO pode secar, pois este molhinho maravilhoso também pode ser colocado por cima de um arrozinho branco para acompanhar o peixe. Sirva bem quente. (Receita gentilmente cedida por Joanna Alice Dell’Eva)


Lido - 01 de Junho de 1961 - Charles Dell Eva e Carvalho
Arquivo Joanna Dell'Eva

05 de Agosto de 1967 - Semana da Pátria - General Helery à esquerda de óculos e casal Dell'Eva no centro.
Arquivo Joanna Dell'Eva

1967 - Novo salão do Restaurante Lido - Arquivo Joanna Dell'Eva

(**)"Não custava nada", dizia meu pai, e ninguém queria comer o tal crustáceo... Aliás o pescador na ocasião não queria vender a "tal lagosta" ao meu pai, pois "era a mãe do camarão", portanto deveriam devolvê-la ao mar, ou não haveria mais camarão...

Lido lotado em dia de exibição de aviões supersônicos na Praia de Iracema
Arquivo Nirez

Deu ao pescador alguns trocados e todo feliz levou a lagosta para o Náutico, cozinhou-a viva em água e sal, (água fervendo) sendo servida no mesmo dia no Restaurante do Náutico aos diretores Pedro e Julio Coelho os quais se recusaram a comer o tal crustáceo. Foram então meus pais que se deliciaram com a famosa lagosta.


Alunos da Escola Alvorada em frente ao Restaurante Lido no Desfile de 7 de Setembro de 1966. Acervo de Caio Ruthenio Costa. Foto publicada na Fan Page da escola.

Praia de Iracema e o Lido - Década de 70. Foto de Nelson Bezerra

Foi a primeira Lagosta servida ao "natural" colocada sobre folhas de alface, decorada simplesmente com tomates, ovos cozidos e fatias de limão, acompanhada de maionese e molho "tartare” (ao modo de meus pais, com gema crua, mostarda...salsinha, cebolinha etc).

E foi assim que a lagosta foi sendo aos poucos introduzida, primeiramente no Menu elaborado por meus pais, no restaurante do Náutico : natural com maionese e tatare, ao molho Bearnaise, à Thermidor, gratinada, grelhada com molho de manteiga e limão ou no alho, ensopada com camarão...e até mesmo "à bahiana", adequando-se aos gostos cearenses. (Joanna Alice Dell’Eva)

Antes e depois
Antes (30/05/1955 construção) e depois ( Final dos anos 80) - Arquivo Joanna Dell'Eva

Antes (30/05/1955 construção) e depois (27/11/1955 inauguração) - Arquivo Joanna Dell'Eva

Editado em 10/08 - Não posso deixar de falar sobre os shows que eram realizados no Lido com vários artistas renomados como Luiz Gonzaga, Luiz Vieira, Rosemary, Wanderléia...

Gif


Edifício Lido, erguido no lugar do antigo restaurante:







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