Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Messejana
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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sábado, 12 de junho de 2010

Emílio Hinko - Vida e obra



Emílio Hinko (Budapeste, 9 de abril de 1901) foi um arquiteto húngaro que radicado em Fortaleza realizou várias obras pelo Brasil, em especial Fortaleza. Estabeleceu-se na capital cearense em 1929. Em 1984 recebeu da Câmara Municipal de Fortaleza o título de "Cidadão de Fortaleza".


Projetos realizados:

Base Aérea de Fortaleza
Casa do Estudante
Clube Iracema
Hospital de Messejana
Igreja do Coração de Jesus
Igreja das Missionárias
Igreja de São Pedro
Jockey Club Cearense

Edifício Lopes
Náutico Atlético Cearense

Sede dos IFCEs de Fortaleza, João Pessoa, Recife, Salvador e Teresina.

Construção da Casa do Estudante

Inauguração do Ed. Lopes

A produção do arquiteto Emílio Hinko em Fortaleza é ainda pouco conhecida, mesmo entre os profissionais e estudantes de arquitetura, apesar do grande número de obras e do destaque de algumas delas na cidade, como grandes equipamentos públicos.

Emílio Hinko nasceu em 09 de abril de 1901 em Budapeste, na Hungria. Por influência do pai, que era construtor, interessou-se pela arquitetura, tendo-se formado pela Escola Politécnica da Hungria, com especialização em maquete e montagem. Durante a Primeira Guerra Mundial, passou por dificuldades, tendo inclusive perdido familiares no conflito.

A base de sua formação era a arquitetura clássica - passava muito tempo reproduzindo estilos, estudou os livros de Alberti, as ordens arquitetônicas, e dominava perfeitamente o detalhamento. Quando se graduou, saiu de Budapeste e foi para Roma, com dois amigos - arquitetos judeus - em uma viagem de estudos, em busca da arquitetura neoclássica, que merecia ser reproduzida.



Na Itália, Emílio arranjou emprego como apontador de obras, controlando a entrada e saída de material do canteiro. Este emprego, ao ar livre, lhe trazia grande desconforto, por causa do inverno rigoroso. Seus amigos, que tinham conseguido melhores posições em um escritório, lhe indicaram para uma oportunidade que surgiu, trabalhar no escritório de Stachine, arquiteto oficial de Mussolini. A filosofia que Hinko adotou a partir de então foi a de se entregar inteiramente ao trabalho - trabalhava 14 horas por dia, em média. Dessa intensa dedicação nasceu uma amizade com Stachine, com quem ele colaborou em diversos projetos, como no Banco de Tripoli e na Estação Ferroviária de Milão.
Emílio trabalhou na Itália por aproximadamente cinco anos, onde ainda desenvolveu projetos de bancos oficiais e vilas de veraneio. Durante esse período, tomou conhecimento do Brasil, através de uma família italiana que tinha uma casa de comércio em Belém do Pará, e se interessou em conhecer aquele país, motivado pela possibilidade de juntar dinheiro para se casar - sua noiva havia ficado na Hungria. Embarcou num navio, e veio dar em Fortaleza, em 1929, depois de escalas no Amazonas.



Fortaleza à época, na década de 20, com apenas 100.000 habitantes, se restringia a algumas ruas no Centro e a grandes faixas de praias, dunas e coqueirais. Essa primeira visão de uma zona tropical causou uma forte impressão em Hinko, que resolveu ficar por algum tempo. Ele ficou hospedado na pensão da Madame Gautier, e passava os dias fazendo croquis de casas nas mesas dos bares - o que despertou a atenção das pessoas, que não conheciam a palavra arquiteto, mesmo as mais ilustres. Assim começaram as primeiras encomendas, principalmente de casas, para médicos.

(A foto ao lado é de 1978 de Fátima Porto Belém)

A partir de então foram feitas várias residências, no Benfica e em Jacarecanga, de acordo com os desenhos esboçados - o cliente podia ver o que iria ser construído, fazendo alterações ainda na planta.


"Ele imprimiu nova concepção ao tratamento do lote urbano, modificando a disposição da edificação no mesmo. Os projetos de Hinko previam casas afastadas dos lotes, prédios recuados, jardins, muros baixos e banheiros no interior das mesmas. Com isso, ele promovia a saúde e a relação entre o público e o privado. Antes, as casas eram enfileiradas, sem recuo e com os banheiros fora delas. Essa visão de que as casas precisam ser ventiladas, o arquiteto trouxe da Europa, que amargava epidemias de doenças infecto-contagiosas, como a tuberculose".
Com o aumento do número de projetos, ele se socializou muito, principalmente com os clientes médicos, de cuja vida social participava.



Projeto de Emílio Hinko para a rua São Bernardo.

Casas construídas para aluguel, na rua Floriano Peixoto.

Casas na Av. da Universidade.

Casa na Av. Duque de Caxias com rua Major Facundo, onde hoje existe o Hotel Chevalier.

Hospital de Messejana - 1930 (antigo Sanatório).

"O início da obra de Emílio Hinko é marcado pelo grande número de projetos residenciais, onde se observa a preocupação com a salubridade, conforto e higiene das habitações. A implantação é feita de maneira a permitir a iluminação e a ventilação natural. Percebe-se também a utilização de elementos modernos, como o brise e a pérgula, além de um jogo bem equilibrado de volumes".
Em seguida veio o projeto do Hospital de Messejana, onde adotou os princípios de salubridade que seguira para as vilas, na Itália - pavilhões separados para evitar a contaminação, muita ventilação, integração com áreas verdes.

O projeto de Hinko de maior visibilidade talvez seja o Náutico Atlético Cearense, clube criado por profissionais liberais que se organizavam em quiosques, em busca de uma vida social mais dinâmica. A construção da atual sede completa agora cinquenta anos. O Náutico foi construído pela construtora de Hinko, também um empreendedor.

"No início da década de 40, foi convidado pelo brigadeiro Eduardo Gomes para elaborar e administrar a construção dos vários edifícios que compõem a Base Aérea de Fortaleza, inclusive das residências para sargentos próximas à Base, na av. Borges de Melo, e para oficiais superiores na Aldeota".

Sede do Náutico Atlético Cearense, onde predomina o estilo barroco genovês, com marcada influência da cidade italiana de Gênova, onde viveu vários anos antes de migrar para o Brasil.


A construção original da década de 50 é um primor em estilo barroco genovês. É uma edificação toda avarandada, com amplas marquises, colunas brancas e elementos vazados.

Com esse projeto, ele desenvolveu um estilo regional, fazendo uma arquitetura adaptada ao clima, com varandas, terraços, marquises e elementos vazados. "Outra importante característica diz respeito ao caráter permanente das obras projetadas e construídas por Hinko. Sua obra resiste ao tempo, não apenas pela resistência dos materiais empregados, que embora simples não sucumbem à ação do tempo, mas também porque os usuários gostam das construções, e não fazem intervenções".

A essa época a família de Hinko vem da Hungria para o Brasil, passando a viver com ele em Fortaleza.


Base Aérea de Fortaleza,na av. Borges de Melo


Alojamento para oficiais da Base, na av. Borges de Melo.

Utilização de moringas (jarros de barro) na construção de colunas.

Emílio passa a ter contato com o empresário Plácido de Carvalho e sua esposa, Pierina, de quem adquire material de construção para suas obras. O casal morava em um palacete(*) na Av. Santos Dumont, já demolido. Após a morte de Plácido, Hinko constrói a pedido de Pierina uma série de casas para aluguel - os famosos castelinhos da CEART, na Praça Luiza Távora - em torno de seu palacete, que resistem até hoje. Os dois palacetes que têm fachadas para a Av. Santos Dumont, construídos inicialmente, são caracterizados pelo estilo lombardo (foto abaixo). Os quatro restantes são propensos ao barroco romano e genovês modernizados, influência da costa azul italiana.

Conjunto de seis palacetes ladeando o então Castelo do Plácido, na av. Santos Dumont.


Durante a construção, Emílio e Pierina se apaixonam, e se casam.
Emílio Hinko teve a visão do que seria a ocupação da avenida Beira-Mar, ainda um grande vazio, e previu o seu projeto, comprando grandes faixas de terra.

A primeira construção da Beira-Mar foi a sua casa de veraneio, já demolida, no terreno onde hoje fica o estacionamento da Pizza Hut na avenida da Abolição. O terreno do Clube dos Diários, ao lado, foi doado por ele para que tivesse alguma vizinhança.

Existe ainda uma série de obras projetadas por ele, como o Clube Iracema, a atual Secretaria de Finanças da Prefeitura, a Casa do Estudante (na rua Nogueira Acioly), a Igreja do Coração de Jesus, a Igreja de São Pedro e a Capela das Missionárias, além de várias casas na av. Santos Dumont e na Praia de Iracema. Um de seus principais colaboradores foi o engenheiro Alberto Sá, com quem trabalhou em diversas obras - e o desenhista Aldo Mesquita.

Croqui para a sede da Prefeitura Municipal de Fortaleza, atrás do Parque da Criança. Somente o bloco da esquina foi construído,sendo até pouco tempo ocupado pela Teleceará.


Prédio da Companhia Telefônica projeto de Emílio Hinko - Nirez

Após o desabamento da antiga Igreja do Coração de Jesus, elaborou o projeto e participou da construção da atual igreja.


Capela e Casa das Missionárias, na Av. Rui Barbosa.



Primeiro edifício de apartamentos da cidade, construído na praça do Liceu, na Jacarecanga.



Hoje é a Secretaria de Finanças da Prefeitura.


Emílio Hinko também atuou como construtor. São dele, como construtor, os primeiros galpões do porto do Mucuripe, assim como a ponta do Mucuripe (o quebra-mar). Sua construtora tinha sede no Rio de Janeiro, e trabalhava principalmente para o Ministério da Educação, em obras como as Escolas Técnicas de Salvador, Fortaleza e Teresina; e em reforma no Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro. Fez os armazéns do Porto de Cabedelo, e obras em Pernambuco e na Bahia.
Foi reconhecido como cidadão de Fortaleza e do Ceará. Nos últimos anos de trabalho, Hinko desenvolveu projetos com pré-moldados. Ele tinha planos de criar uma escola de arquitetura para estudantes carentes em Messejana. Há alguns anos, teve um derrame que o deixou incapacitado de trabalhar. Hoje, Emílio Hinko (**)vive no 4º andar do Excelsior Hotel, no centro da cidade.

"A obra de Hinko muito contribuiu para a rápida transformação urbana que Fortaleza sofreu a partir dos anos 30. A pequena Fortaleza de 100.000 habitantes cresceu, mas até hoje a obra de Emílio Hinko tem importância na configuração do espaço urbano da cidade".

Acervo Lucas Jr
Em 1941, o prefeito Raimundo de Alencar Araripe contratou os engenheiros Emílio Hinko (o mais alto) e Alberto Sá para a construção do prédio sede do município, que se localizaria onde se construiu o Abrigo Central. Duas torres com relógios de quatro faces, duas galerias térreas, quatro elevadores... Ficou só na maquete. Acervo Lucas Jr

Croqui para a atual Catedral de Fortaleza. O projeto escolhido foi um prédio neo-gótico.



Croqui de proposta do concurso para a Faculdade de Direito. Foi escolhido um outro projeto.




(*)Na década de 30 o castelo foi ocupado pelo Serviço de Malária, departamento federal que equivale hoje a Sucam.
Em 1974 o castelo do Plácido foi vendido para o grupo Romcy para a construção de um supermercado. Na iminência de seu tombamento, o Castelinho, como era conhecido, foi demolido da noite para o dia. Passaram-se os anos e o terreno ficou abandonado até que o governo o desapropriou e nele construiu a Central de Artesanato Luíza Távora.
(**)Emílio Hinko morreu em Fortaleza no dia 4 de janeiro de 2002, tendo chegado à idade
de 100 anos.

Fonte: Wikipédia, Cobogó e pesquisa na internet

terça-feira, 2 de março de 2010

O começo do transporte coletivo em Fortaleza

Mapa de Fortaleza feito por Adolfo Herbster em 1888 com o traçado das linhas de bonde e trem

Na velha Fortaleza, o transporte coletivo urbano coube, em privilégio a Tomé A. da Mota, que em 25 de abril de 1880 incorporou a Ferro Carril do Ceará. A empresa de transportes colocou a disposição dos passageiros 25 bondes, cada um com 25 lugares, e que cobriam diversos percursos.

Os bondes Funcionavam de 6 da manhã às 9 horas da noite. A foto é do início do século XX

Eram veículos puxados à tração animal (bondes de burro). A extensão total das linhas era avaliada em 7.500 metros. Um anúncio avisava aos passageiros que os carros partiriam do Mercado Público (local ocupado hoje pelos edifícios do Palácio do Comércio e Banco do Brasil), de meia em meia hora e enquanto houvesse passageiros.

O preço da passagem era de cem réis. Os carros eram de tamanhos diferentes: havia os de 4, 5 e 7 assentos. Os trilhos eram de madeira pregada nos dormentes, forrada por cima de cantoneiras de ferro, sobre cuja face plana corriam as rodas.
A foto, do princípio do século XX, mostra uma das características típicas desses veículos que era o uso de cortinas nas laterais, para proteger os passageiros da forte intensidade do sol do local

Os bondes de burro funcionaram e transportaram passageiros até 1913, quando foram substituídos pelos bondes elétricos da Ceará Light and Tranways Power Co.

Os bondes elétricos foram expandidos para vários bairros alcançando 20 km de linhas operando com 53 bondes até 1947 quando foi desativado como forma de priorizar a produção da energia elétrica para o uso particular. O veículo da foto é um caminhão destinado à manutenção da rede aérea do sistema de bondes da cidade de Fortaleza, no Ceará, durante os anos 10 e 20. Pertencia à Ceará Tramways, Light & Power, empresa que implantou o serviço de bondes elétricos a partir do ano de 1913

Também existiram sistemas de bondes na Parangaba e Messejana. O trem que ligava o centro de Fortaleza com Messejana era gerido pela Rede de Viação Cearense e foi desativado em 1931 quando foi inaugurada uma estrada que atualmente é a BR 116. a Parangaba tinha bondes desde 1894 quando foi fundada a "Companhia Ferro Carril de Arronches". A linha da Parangaba fechou em 1918 e não chegou a ser eletrificada funcionando somente em tração animal.

A fotografia dos anos 30 nos mostra um bonde elétrico da Ceará Tramways, Light & Power em Fortaleza. Está perto da Praça do Ferreira, na rua Pedro Borges esquina com Floriano Peixoto, em Frente à Mercearia Leão do Sul

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Um Herói chamado João Nogueira Jucá


Acervo Luciano Hortêncio

Quando o estudante João Nogueira Jucá morreu, no dia 11 de agosto de 1959, faltavam três meses para completar 18 anos. Ele era um jovem calado, de um coração imenso, humano. Por isso, a família e os amigos não estranharam a atitude que tomou ao entrar no prédio em chamas para salvar doentes que estavam internados na Casa de Saúde César Cals, hoje, Hospital Geral César Cals (HGCC). Apesar da gravidade do seu quadro, em nenhum momento se arrependeu do que fez. "Ele dizia que seu corpo queimava como brasa".

O Major do corpo de bombeiros, José de Melo Neto, observa que João Nogueira Jucá tinha dentro de si um espírito militar e vestiu-se desse espírito para ajudar quem precisava. Ele lembra que o estudante vinha de uma aula de halterofilismo quando se deparou com a tragédia. "Com desprendimento entrou nas chamas para salvar vidas".

O militar ressalta que o ato do estudante foi de muita coragem.


Acervo Luciano Hortêncio

O Estudante João Nogueira Jucá nasceu em Fortaleza, no dia 24 de Novembro de 1941, sendo seus pais o Desembargador José Jucá Filho e a Professora Maria Nogueira de Menezes Jucá. Estudou nos colégios Rui Barbosa, Cearense, Sete de Setembro, Fênix Caixeiral e São João. Seu maior sonho era ser oficial da Marinha do Brasil. Daí o entusiasmo pelo esporte, sobretudo a natação.

No dia 04 de Agosto de 1959, às 14 horas, voltava em companhia de um colega da aula de halterofilismo. Ao passarem em frente à Casa de Saúde César Cals, na Praça da Lagoinha (Capistrano de Abreu) perceberam um incêndio. Convidou o amigo para ajudá-lo a salvar as pessoas que se encontravam no interior do hospital. O outro, no entanto, achando perigosa a empreitada, recusou a proposta. João Nogueira Jucá e vários outros abnegados se lançaram ao fogo. O nosso jovem salvou vários recém-nascidos, depois suas mães, que já estavam em situação dramática. Muitas eram as enfermeiras que pediam para que ele parasse com aquele esforço, pois a cada pessoa que trazia mais eram visíveis as queimaduras em seu corpo. Uma senhora implorou-lhe para que fosse buscar o seu bebê que ficara lá dentro. Ele lançou-se mais uma vez às chamas e trouxe a criança com vida. Novamente uma enfermeira tentou impedi-lo de cruzar o fogo, argumentando que não tinha mais ninguém nas enfermarias, mas ele disse: “Ainda tem na indigência”. Voltou com uma pessoa nos braços atingida pelo fogo. Numa dessas idas e vindas, explodiu um tubo de oxigênio que estava próximo e o nosso jovem foi duramente atingido. 

Santinho de sétimo dia de João Nogueira Jucá - Acervo Marrocos Anselmo Jr

Naquele momento, às 16 horas, sua mãe, passando em frente, viu pessoas retirando um corpo envolto em um colete, com diversas queimaduras, mas nunca poderia imaginar que era o próprio filho. Chegando em casa, na hora do jantar, enquanto comentava o fato com os filhos e o esposo, o telefone toca e alguém comunica que seu filho estava na Assistência Municipal (hoje é o Instituto Dr. José Frota - IJF). A partir desse dia seus pais não voltaram mais para casa. O estudante foi visitado pelo então governador Parcifal Barroso, que disse, com os olhos cheios de lágrimas: “João, o povo do Ceará lhe agradece”. Já às portas da morte João Nogueira Jucá disse para o pai, contrariado com a perda do filho mais novo: “Não, pai, faria tudo de novo, e me orgulho do que fiz! Acho que ainda fiz pouco”. Logo depois morreu. Este fato ocorreu na madrugada de 11 de agosto de 1959, tendo o nosso jovem 17 anos de idade.

 Os sofrimento dos pais diante do corpo do filho

Considerando a necessidade de referência humanística que motivem os nossos jovens na luta em defesa da vida é que, este gesto de João Nogueira Jucá, tem que permanecer sempre vivo na mente e no coração de todos nós. 

João - O primeiro bombeiro honorário do Ceará

VIDA E MORTE DE JOÃO NOGUEIRA JUCÁ

Nas investigações procedidas, conforme ordem do Sr. Cel BM Fernando César Sales Furlani, Comandante do Corpo de Bombeiros, sobre a vida e a morte do estudante JOÃO NOGUEIRA JUCÁ, pelo fato ocorrido no incêndio do dia 04 de agosto de 1959, nas dependências da Maternidade Dr. César Cals, na Praça da Lagoinha, em Fortaleza, em que resultaram em inúmeras pessoas feridas e 04(quatro) mortas, e no destaque principal o heroísmo do jovem aluno do então Colégio São João, chegou-se ao seguinte resultado histórico:

João Nogueira Jucá, nascido em Fortaleza, no dia 24 de novembro de 1941 na Casa de Saúde São Raimundo, filho do Desembargador José Jucá Filho e da Professora Maria Nogueira de Menezes Jucá.

Seus primeiros 5(cinco) anos de vida, foram passados na antiga cidade de São Francisco, hoje Itapajé, no nosso Estado, onde seu pai exercia o cargo de Juiz Municipal e sua mãe o de Professora do Grupo Escolar. Sendo seu pai promovido a outra entrância profissional, teve que morar na cidade de Lavras da Mangabeira, no ano de 1946. Alfabetizado por sua mãe, iniciou o Curso primário na mesma cidade, onde ficou até 1948, quando veio definitivamente para Fortaleza



Acervo Luciano Hortêncio
 
Na Capital, continuou os estudos, frequentando sucessivamente, os Colégios Fênix Caixeiral e 7 de Setembro. O curso ginasial foi feito no Colégio Cearense, iniciando o científico no Colégio São João.
Segundo depoimentos de seus familiares e amigos, João, na adolescência, tinha um complexo de inferioridade por ser excessivamente magro e alto desproporcionalmente, atingindo a altura de 1,83m. A custa de constantes e religiosos exercícios, prática de esporte, conseguiu quase que a perfeição corporal, tornando-se um atleta, com uma compleição física avantajada, de causar inveja e afastar de uma vez por todas com o complexo que tanto atormentava os jovens da época.
Moço inteligente, aspecto superior e fidalguesco, tinha uma personalidade altiva e impressionante. Sua vocação, como sempre repetia quase que obsessivamente, era de ser Oficial da Marinha do Brasil. E para esse mister, não parava de se preparar com afinco.

No fim do mês de julho de 1959, de volta das férias, num sítio em Messejana, de sua família, seu pai, homem austero, perguntou-lhe qual sua reação ao ver um empregado que havia sido soterrado dentro de uma cacimba, morrendo sem o pronto socorro, muito mais por sua falta: e ele respondeu, com voz tronitoante: "Pai, estou com raiva de mim mesmo porque não cheguei na hora, senão aquele homem não teria morrido!"


Exímio nadador, tinha por hábito duas vezes por semana, nadar na praia de Jacarecanga até o Cais do Porto, dizendo que era para testar sua forma física, ou, numa eventualidade qualquer, que fosse necessário empregar sua destreza como nadador acostumado às grandes refregas.

O Desembargador José Jucá Filho, foi morar com seus 03(três) filhos, José Jucá Neto, Jovina Jucá e João, o mais moço, nas proximidades da Maternidade Dr. César Cals, ou mais precisamente, na Avenida do Imperador. E essa distância, geograficamente curta, fez com que, no dia 04 de agosto de 1959, o Jovem estudante, João Nogueira Jucá passasse pôr ali, naquela tarde, quando os relógios dos passantes registravam 14:20hs. Um ribombar pavoroso de repente eclodiu, assustando os frequentadores da Praça da Lagoinha e pondo-os para longe de onde vinha a explosão. Num instante labaredas de fogo riscavam o ar já espalhando o terror nos assistentes, e ameaçando os internos da maternidade, que já em pânico procuravam salvar suas vidas.


João, neste momento, lançou-se decidido dentro do hospital, sentindo que alguma coisa precisava ser feita urgentemente. Não se importou com as sucessivas explosões e as chamas que lhe ardiam no corpo, pois, segundo ele, não sentiu nem viu fogo algum. Não soube quantos recém-nascidos salvou, apenas que foram muitos. Não contou quantas parturientes salvou, apenas lamenta que muitas ficaram feridas e outras morreram, Nem ao menos ouviu os gritos histéricos de advertência de que sua vida estava em perigo, se ouviu, contou ele para os seus irmãos e os seus pais, que desobedeceu. O que ele ouviu, já com o corpo em chamas, foi uma mulher gritar para ele de joelhos: "Por favor, meu filhinho ficou lá, salve-o pelo Amor de Deus!"E lançou-se às chamas novamente, trazendo o recém-nascido nos braços. Já desfalecido, mas insistente na luta, uma enfermeira, correu aos seus braços e impediu-o de que entrasse novamente, dizendo: "meu filho, você já retirou todo mundo das enfermarias, não tem mais ninguém", e ele sem parar, já deformado pelas queimaduras correu olhando para a moça dizendo:” ainda tem na indigência", voltou em seguida, trazendo mais outra pessoa nos braços carcomidos pelo fogo.

Foto feita da página do livro que retrata os principais fatos da história do Ceará

Quando não mais existia ninguém dentro das enfermarias, desobedecendo sempre as advertências, até da Guarnição do Corpo de Bombeiros, João caiu, sendo levado às pressas para a Assistência Municipal. Seu estado, considerado gravíssimo constatado que fora consumido pelo fogo, 80%(oitenta por cento) do seu corpo, ficando, irreconhecível, portanto, sua pele, alva e fina, havia ficado totalmente preta. Na agonia de todo sofrimento, João às vezes, perdia a lucidez e proferia coisas dignas de serem registradas: "sou Oficial da Marinha! Vou salvá-los do naufrágio! Quando recuperava a consciência dizia, ao ser interrogado por seu pai, quando perguntava se não se arrependia do que tinha feito: "Não, pai, faria de novo, e me orgulho do que fiz! Acho que ainda fiz pouco. Já às portas da morte receberá a visita do então Governador Dr. Parsifal Barroso. Este, como homem humilde que era, estando João com todo corpo envolto em ataduras e supurando a pele tostada, falou com voz pausada e mansa: "João, você me conhece?" e ele respondeu: "quem não conhece o senhor, Dr. Parsifal, obrigado pela visita!" Parsifal, então, comovido, retirou de seu braço a atadura úmida e beijou-lhe a mão. Em seguida, com os olhos em lágrimas, disse veementemente: "João o Povo do Ceará lhe agradece, venho em nome dele, e você não está só, caro amigo!"

Em suave resignação, João foi aos poucos perdendo os sentidos e veio a falecer no dia 11 de agosto de 1959, sendo reverenciado por todos os Cearenses, tendo sempre ao seu lado seus pais e irmãos. Conscientes, eles dizem que João não morreu, tornou-se um herói e um mártir.

Dia do Estudante: 11 de Agosto

Homenagem aos Heróis do Incêndio da Casa de Saúde César Cals - 04 de agosto de 1959.

MENSAGEM DO COMANDANTE DO CORPO DE BOMBEIROS - CEL BM FERNANDO CÉSAR SALES FURLANI.

Na tarde de 04 de agosto de 1959, Fortaleza, a "Loura desposada do Sol, dormitava à sombra dos Palmares", sentindo-se tranquila, pois com 05(cinco) boas viaturas adquiridas há pouco, e mais 08(oito) regulares, o Corpo de Bombeiros velava por sua segurança. A Casa de Saúde César Cals, desenvolvia seus meritórios afazeres de rotina, quando irrompeu o incêndio.

Mais de uma centena de doentes, parturientes e criancinhas, com a capacidade de locomoção prejudicada, foram postos em risco imediato de vida. Foi dado o alarme. Os Bombeiros foram chamados. Foi dada a ordem de evacuação. Muitos voluntários ajudaram, a maioria estudantes. O incêndio foi combatido com eficiência por homens bem equipados. Mas ao final foi a desolação. 04(Quatro) mortos, mais de 50(cinquenta) feridos, 20(vinte) hospitalizados com graves lesões, inclusive 02(dois) Bombeiros. Destruição de parte do prédio e material do hospital, com grandes prejuízos. 

 O Busto de João Nogueira na Praça da Lagoinha foi transferido e hoje se encontra em frente o Quartel do Corpo de Bombeiros.

A Cidade chorou!

Porém em meio às lágrimas de dor e à desolação da destruição, a alma da população levantou-se orgulhosa e sobranceira. Ficou satisfeita com seus filhos bravos, com sua juventude impetuosa, generosa e heroica.

A cidade alegrou-se!

Todos se curvaram junto ao leito de João Nogueira Jucá, estudante de 18(dezoito) anos, gravemente ferido nos exaustivos trabalhos de evacuação das vítimas do incêndio. O estudante como símbolo da Juventude Cearense, encarnou o ideal grandioso de solidariedade humana. Passava pela Praça da Lagoinha, sentiu a aflição dos enfermos, e com muitos companheiros, trabalhou com afinco em arrancá-los das garras pavorosas do fogo.

A cidade emocionou-se de gratidão.

Busto do estudante na Praça da Lagoinha

Mas João Nogueira Jucá, não morreu no dia do estudante, 11 de agosto. Entrou na imortalidade como um símbolo do estudante Cearense. Foi imortalizado no bronze e foi imortalizado nos nossos corações. O Corpo de Bombeiros que o viu incorporar-se voluntariamente à Guarnição de combate ao Incêndio do hospital, faz questão de contá-lo em suas fileiras.

João você é Bombeiro; você é a letra viva do nosso hino: "Voluntário da morte na paz, é na guerra indomável leão". Você é uma ponte firme a unir o Estudante ao bombeiro. Que o seu exemplo fogoso de abnegação, incendeie o ideal do estudante, que o Bombeiro só fez atiçar.



Curiosidade: O pai de João, após o incidente, foi abatido por uma tristeza que manteve até a morte, em 1968. A mãe morreu em 1985.


Fonte: Portal militar, Jornal O Povo,Câmara Municipal de Fortaleza, Suaveolens

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Messejana II


Igreja Matriz


Para muitos Messejana não é apenas mais um bairro de Fortaleza. Há quem pense que se trata de uma cidade contígua a Região Metropolitana da capital cearense. De fato, ela já foi independente, sendo anexada como bairro no século passado. Em Messejana – que é chamada de “Miss Jane”, por alguns "gaiatos", há muitos elementos que podem perfeitamente ajudar a constituir uma cidade, ainda que de interior, mas com fortes traços de desenvolvimento urbano.

A "cidade" onde nasceu José de Alencar, revela facetas muito interessantes. Como qualquer localidade interiorana, tem Igreja Matriz, com suas tradicionais missas aos domingos. Do lado de fora, na praça principal, há uma grande feira que acaba por movimentar o bairro inteiro, servindo como chamariz até mesmo para clientes dos supermercados nas redondezas. Tem o velho hábito das pessoas em se distrair sentando-se nas calçadas para conversar. Até este ponto, Messejana se revela uma típica cidadezinha do interior.


Famosa feira de Messejana



Messejana é bairro rico em fatos históricos e no qual nasceram, entre outras, as seguintes personalidades: o escritor José de Alencar e o ex-presidente Castelo Branco.

Messejana origina-se do árabe masjana, que significa prisão ou cárcere. Mas antes de chama-se Messejana, esta aldeia dos Potyguara chamava-se Aldeia de São Sebastião de Paupina.

Antes das chegada dos portugueses com as missões militares e religiosas, neste local habitavam os índios Potyguara. Em 1607, os padres Jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira, durante a jornada no Ceará rumo ao Maranhão, mantiveram contatos com os Potyguara e no local onde este tinham suas habitações, este nomearam de São Sebastião da Paupina. Messejana foi indicado no primeiro mapa do Ceará, feito por João Teixeira Albernaz, o velho. Em 18 de março de 1663, a então aldeia Potyguara foi oficiamente denomida de Aldeia de São Sebastião da Paupina.




casa de José de Alencar
Os Jesuítas, foram responsável pela urbanização de Messejana. Por exemplo, eles construiram a primeira capela neste local, a qual seria a base da atual Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

Em 1759, com a expulsão dos Jesuítas do Brasil na era Pombalina, esta vila passou a ser chamada Vila Nova Real de Messejana da América.

Nos séculos XVII, Messejana viveu de progesso e teve uma importante função econômica dentro do Ceará, pois serviu de via de seu escoamento de gado na época da carne de sol e charque. Deste período ainda existem vestígios da Estrada Parangaba-Messejana(hoje Paranjana) e a Estrada do Fio. Mais tarde no século XIX, esta foi uma das vias de escoamento do algodão vindo das regiões Jaguaribana e Sertão Central, que foi exportado via o Porto de Fortaleza.

Em 1836, é inaugurado o Cemitério Público de Messejana. Hoje este é o cemitério mais antigo de Fortaleza.

Hospital de Messejana - 1930

Em 1921 Messejana sofre uma transformação que teve repercussão até os dias de hoje. O então governador do Ceará, Justiniano de Serpa, rebaixou o município de Messejana a distrito e este é anexado à Fortaleza.

Messejana nos dias de hoje:


A lagoa de Messejana



O bairro é conhecido também pela Lagoa da Messejana, onde há uma estátua representando a personagem Iracema, da obra de José de Alencar. Outros lugares e instituições referênciais do bairro são: o Hospital de Messejana(construído em 1930 pelo arquiteto Emílio Hinko), Hospital de Saúde Mental de Messejana, Vila Olímpica de Messejana, Terminal integrado da Messejana e a própria casa onde nasceu José de Alencar, transformada hoje em museu. Messejana também é conhecida pela Feira de Messejana, uma das maiores feiras de Fortaleza que acontece todos os domingos.



Em Messejana encontramos diversas escolas, entre elas destacamos os Colégios José de Barcelos, Paulo Benevides e Liceu de Messejana.

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: