Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Dragão do Mar
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quinta-feira, 27 de junho de 2019

Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura - 20 Anos


A construção do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura foi uma iniciativa da Secretaria de Cultura do Governo Estadual na gestão de Ciro Gomes (1991-1994). 
A Carta Convite para seleção do escritório responsável estabelecia que o projeto deveria buscar a reordenação física e revitalização de parte do setor urbano compreendido entre a avenida Leste Oeste (Praça Cristo Redentor), Rua Boris, Rua Almirante Jaceguai e Avenida Almirante Barroso, com área aproximadamente de 16.500 m² tendo como foco de irradiação  programática o 'Centro de Cultura do Estado do Ceará' e como consequência contextual o uso de áreas livres com atividades de lazer (Carta Convite, 1993). 

No centro da praça, vemos o Café Avião
Ainda estabelecia que os projetos deveriam conter os seguintes equipamentos: ponte cultural (sic), auditório para shows e conferências, salão de exposição com áreas de administração, manutenção e montagem, sala de vídeo, cafeteria, salão de cinema e oficinas de artes.



Uma concorrência pública envolveu cinco escritórios de arquitetura da cidade e o projeto selecionado foi concebido pelos arquitetos cearenses Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo. O complexo ocupa atualmente uma área de 30 mil m², sendo 13 mil de área construída. O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura começou a funcionar, em caráter experimental, em 28 de agosto de 1998; e foi inaugurado oficialmente em 28 de abril de 1999. Segundo a Secretaria de Cultura do Estado, o espaçoé um centro cultural de alta modernidade, que além de trazer ao Ceará eventos artísticos de nível internacional, abre espaço para as manifestações culturais do nosso povo, democratizando o acesso ao lazer e à arte.





O programa do Centro Dragão do Mar pode ser dividido em três partes. No primeiro bloco, está localizado o acesso principal do edifício, a partir da avenida Presidente Castelo Branco. Em seu pavimento superior, foram instalados o Memorial da Cultura Cearense e o Museu de Arte Contemporânea, além de outros espaços ligados à cultura: livraria, áreas livres de exposição e informações. O acervo do Museu de Arte Contemporânea é composto por obras de  Antônio Bandeira e Raimundo Cela, consagrados pintores cearenses, que integram uma exposição permanente. No pavimento superior, encontra-se um espaço destinado a oficinas de arte. Este primeiro bloco é marcado por uma colunata branca e pés-direitos bem altos. Também se liga com a Praça Verde – também conhecida como  Ágora - onde acontecem periodicamente apresentações culturais.



O segundo bloco é formado pela passarela metálica que liga os volumes localizados nos extremos do terreno. A passarela cruza a rua José Avelino e se liga ao solo por meio de escadas. Ali também se encontra um café que funciona como espaço de permanência e encontro dos visitantes do complexo. Para a construção desta “rua aérea” foi necessária a demolição de alguns edifícios. O último bloco é o mais próximo da praia e seu acesso pode ser realizado pela avenida Pessoa Anta. Neste espaço, encontra-se a maioria dos equipamentos culturais: teatro, cinemas, planetário, auditório e anfiteatro. O acesso a estes três últimos localiza-se no pavimento superior que pode ser realizada por uma grande rampa e escadas. O Planetário Rubens de Azevedo oferece dois tipos de programa, com um total de três sessões diárias.


Diário do Nordeste



O projeto incorporou à quadra original a antiga Praça Almirante Saldanha que também recebe eventos culturais abertos ao público, entre elas feirinhas populares, apresentações de dança e música. Seu paisagismo, com poucas árvores e bastante árido, contribui para contemplação do complexo, mas dificulta a permanência das pessoas no período diurno. O antigo Café Avião também foi incorporado ao complexo e hoje é um dos grandes pontos de encontro da região. 



Esta implantação dos equipamentos no terreno permitiu o surgimento de muitas áreas livres e de circulação pública. Estas áreas enfatizam a relação entre o interior e o exterior e uma contemplação do entorno. Segundo o arquiteto Fausto Nilo, “Tudo isto ali foi trabalhado com esta visão [de circulação]. E se comunica com o espaço público de maneira a realizar um edifício de escala urbana que é muito difícil de trabalhar com este tipo de coisa. É uma edificação, mas a transição entre ele e a cidade é gradativa, democrática e super aberta. Porque no fundo ele é uma rua aérea que você se conecta com o chão”.


Registro de 25 dias antes da inauguração em
caráter experimental. Diário do Nordeste
Em diversos espaços do Dragão do Mar é possível vislumbrar os galpões da antiga área portuária e o centro histórico de Fortaleza e esta relação de diálogo entre o edifício novo e os existentes sugere uma contemplação entre eles. Segundo Fausto Nilo:


“Você percebe que tem um ângulo lá no planetário que você vê os  pináculos da igreja, aquela coluna de Trajano que tem na praça superposta aos nossos pináculos, tem uma hora que você sai do café e vê a igreja da Sé. Tudo aquilo é o cinema planejado que se contou com os edifícios pré-existentes dentro de papéis coadjuvantes daquilo tudo.


Diário do Nordeste


A despeito destas informações, o Centro Cultural não parece integrar-se com os edifícios culturais localizados em sua vizinhança. Sua programação cultural não menciona a existência do Seminário da Prainha – complexo religioso que abriga diversos cursos de línguas, artes e teologia – nem do Teatro São José, entre outros. A Biblioteca Pública Menezes Pimentel, apesar de vizinha imediata do Dragão, somente uma discreta passarela de concreto – construída posteriormente - permite a ligação entre os dois edifícios. Sua implantação também não faz nenhuma referência espacial àqueles marcos da história cultural da cidade, nem os respeita como entorno, uma vez que sua escala contrasta diretamente com a volumetria original dos edifícios do bairro. Os arquitetos responsáveis pelo projeto afirmam que o desenho do Dragão do Mar reflete muito da arquitetura tradicional cearense. 




“Ali tem elementos característicos do Ceará, que contribuem para a formação de padrões locais de condições de vida ao ar livre: espaços de transição que não são fechados nem abertos; um clima de varanda; os elementos de ordem mais formal, decorativos, que se assemelham ao popular, como aqueles triângulos ou quadradinhos, tipo vazados 

(Fausto Nilo em declaração ao  jornal O Povo, 30/07/99).


“Nós (Fausto Nilo e Delberg Ponce) nos calcamos, entre construções típicas do interior que o pouco que temos de herança de arquitetura cearense, construções de engenhos, de rapadura, construções de casas de fazenda, oitões, alvenarias. O trabalho do sol com o prédio como se fazia da luz da antiguidade, mediterrânea, na Argélia, como se faz no interior do Ceará, em algumas regiões ensolaradas. Quer dizer, você trabalhar com este arco do sol e da arquitetura em várias horas do dia, réstias etc. E a noite, fazer uma metáfora com isto, com artifício. Então, de noite, você ilumina para combinar esse dia e noite do edifício e a luz. E tudo isso, também sempre dizendo isso: “olhe, nós somos de outro  período e aqui estão os velhinhos, e nós estamos juntos formando uma terceira situação.



A maior referência à arquitetura cearense parece estar mesmo nas vastas áreas de circulação – com ventilação abundante – que remete às varandas nordestinas. Esta ventilação garante um ambiente natural associada nos pés-direitos altos na maioria dos ambientes. Aparelhos de ar-condicionado foram utilizados somente onde era tecnicamente necessário: museus, cinemas, teatro, planetário e outros espaços fechados.


O arquiteto Fausto Nilo defende que sua ideia inicial era realizar uma conexão entre o Centro Dragão do Mar com outras áreas da Praia de Iracema. Isto se daria a partir de um boulevard a ser implantado na avenida Almirante Tamandaré, em continuidade ao eixo do edifício do Dragão do Mar, até a Ponte dos Ingleses. Ainda segundo ele, a Secretaria de Cultura optou por construir apenas os dois pontos extremos, sem realizar sua conexão. O projeto também se destaca pelo contraste que estabelece com seu entorno imediato. Críticos do projeto defendem que o prédio desrespeita a memória do lugar, pois o complexo cultural inseriu-se em quadras onde anteriormente existiam galpões e sobrados relacionados à atividade portuária original da área. 

Muitos destes sobrados são remanescentes do século XIX e encontravam-se bastante descaracterizados.  As duas quadras onde o Centro Cultural foi implantado foram adquiridas pelo Governo do Estado. Ali existiam oficinas mecânicas, depósitos de materiais de construção e alguns barracões. Segundo o arquiteto Fausto Nilo, nenhum deles com importância histórica ou arquitetônica. Nas outras quadras, os edifícios mais importantes e melhor conservados foram mantidos e integrados ao complexo.


Transformação física de seu entorno


 Na época da foto antiga, funcionava no prédio a
Superintendência de Obras do Estado do Ceará
(SOEC),  hoje extinta.
Até a inauguração do Dragão do Mar, a área entre a Prainha e a Praia de Iracema esteve em estado de abandono e degradação, a despeito de seu papel na evolução urbana de Fortaleza. A Carta de Veneza, em 1964, já afirmava em seu artigo 1º que:


“A noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural”

(IPHAN, 1995: 109).



Mas a importância da região como referência histórica de Fortaleza, não foi trabalhada durante muitos anos. Somente ao final da obra do centro cultural, foi publicado seu processo de pré-tombamento a nível estadual. Não foi possível localizar este documento nem mesmo no Departamento de Patrimônio Cultural (DEPAC) da Secretaria de Cultural do Governo do Estado




Entretanto, o Jornal O Povo publicou o edital de notificação em 1º de dezembro de 1997:



“Artigo 14, inciso IV, e 16, inciso VII da Constituição do Estado do Ceará Lei n.9109, de 30 de julho de 1968, considerando necessário a requalificação da área de entorno onde está sendo implantado o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, formado pelas edificações relacionadas o anexo deste edital, FAZ SABER aos proprietários dos respectivos imóveis que esses se encontram em processo de tombamento”.



O arquiteto Francisco Veloso, à frente do DEPAC na época do anúncio, afirmou que, devido à pressão dos proprietários de imóveis, o tombamento da região não foi concluído. Mas se resolveu investir na sua recuperação.




Leia também:




Fonte: Intervenções na cidade existente - Um estudo sobre o Centro Dragão do Mar e a Praia de Iracema/2003 -  Sabrina Studart Fontenele Costa / Arquivo Nirez


quarta-feira, 25 de março de 2015

25 de Março de 1884 - 131 Anos da Abolição dos Escravos no Ceará


É preciso lembrar para jamais esquecer!!!

Fatos históricos que culminaram para a libertação dos escravos na Terra da Luz em 25 de março de 1884:

Tempo28/04/1742 - O visitador Lino Gomes Correia, ao passar pela vila de Fortaleza, determinou que os senhores de escravos lhes dessem o dia de sábado livre para granjearem o sustento e nos dias santos para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A igreja foi reformada em 1753.

Tempo1860 - Fortaleza tinha neste ano 35.373 habitantes, sendo 17.062 homens e 15.450 mulheres livres e 1.767 homens escravos e 1.094 mulheres escravas, existindo apenas 71 eleitores. 

Tempo 28/09/1879 - No 8º aniversário da Lei do Ventre Livre, funda-se, em Fortaleza, na casa nº 100 da Rua Formosa, a Sociedade Perseverança e Porvir, de objetivos comerciais, mas que também visava à emancipação dos escravos.
Mantinha fundo para alforrias de escravos e alimentava o objetivo de fundar outra entidade, que tomasse para si a empresa de arrebentar o ferro das algemas.
Era composta de 10 membros: José Correia do Amaral (José do Amaral) (presidente), José Teodorico de Castro (vice-presidente), Alfredo da Rocha Salgado (Alfredo Salgado) (secretário), Joaquim José de Oliveira Filho (tesoureiro), Antônio Dias Martins Júnior (Antônio Martins), Antônio Cruz Saldanha, José Barros da Silva, Francisco Florêncio de Araújo, Antônio Soares Teixeira Júnior e Manuel Albano Filho.
Foi assim que nasceu outra sociedade, a Cearense Libertadora.




Tempo 08/12/1880 - Instala-se a Sociedade Cearense Libertadora, para a libertação dos escravos, promovida sob os auspícios da associação comercial "Perseverança e Porvir", iniciativa de Antônio da Cruz Saldanha, que teve como primeira diretoria provisória: João Cordeiro "Juarez" (presidente), José Correia do Amaral (José do Amaral) "César" (vice-presidente), Frederico Augusto Borges "Spartacus" (1º secretário), Antônio Bezerra de Sousa Menezes "Risakoff" (2º Secretário), Manuel Ambrósio da Silveira Torres Portugal e capitão Justino Francisco Xavier (advogados), João Crisóstomo da Silva Jatahy (tesoureiro), João Martins "Pery", José Joaquim Teles Marrocos (José Marrocos) "Ó Conell", José Caetano da Costa, João Carlos da Silva Jatahy, João Batista Perdigão de Oliveira e Eugênio Marçal.
Por tratar-se de um movimento muito perigoso, cada um tinha seu pseudônimo, que pusemos logo após o nome.
Durante o tempo de duração das sociedades vários outros vultos ingressaram, chegando a 225 associados só na Cearense Libertadora.
A fundação deu-se na casa Rocha Negra, residência da família Marçal, na Rua Formosa (Rua Barão do Rio Branco) hoje nº 1201.


Tempo 30/08/1881 - O movimento abolicionista fecha o porto de Fortaleza ao embarque de escravos, tendo à frente o jangadeiro Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, também conhecido por Chico da Matilde

Tempo 01/01/1883 - Com a presença de José do Patrocínio, que aqui chegara no dia 1º de dezembro do ano anterior, a Vila do Acarape (Redenção) concede plena liberdade a todos os seus escravos, antecipando-se a todas as cidades e vilas do País; e a 24 de maio, grandiosas festas pela libertação dos escravos na Capital da Província. Em todo o Estado, a libertação se daria no ano seguinte.


Tempo 25/03/1884 - O presidente da Província, Manuel Sátiro de Oliveira Dias (Sátiro Dias), decreta a Abolição dos escravos, em todo o território do Ceará. Em Fortaleza foram quatro dias de festas, mas em alguns lugares houve resistência e demorou ainda a libertação geral. 

Tempo 13/05/1888 - Grandes festas populares, em Fortaleza, motivadas pela sanção da Lei Áurea, que libertou os escravos em todo o território nacional.



Como o Ceará libertou seus 30 mil escravos

"Ingleses, franceses, espanhóis, holandeses e portugueses, numa ponta e reinos africanos, noutra, ganharam vendendo e comprando escravos. Era um importante item do comércio internacional na época. Comércio tão sujo como a corrupção dos novos tempos, no Brasil, na Índia, no Afeganistão, no Paquistão e no Nordestão.

Barão de Studart e Rodolfo Teófilo concordaram que em 25.03.1883, o Ceará contava apenas com 30 mil escravos numa população de 721 mil habitantes. O Censo de 1872 contou 31.913 e o de 1881 24.463 cativos e 7.436 livres. Não eram muitos, pois o Ceará não tinha cana de açúcar, minas e gado que exigissem mão de obra intensiva.


O “Libertador” em 01.01.1884, localizou os 21.516 escravos no Ceará: 

Fortaleza/Messejana, 1.273; Aracati/ União/Jaguaruana, 1.159; Granja/Palma/Coreaú, 1.250; Acaraú, 440; Aquiraz, 449; Acarape/Redenção, 115; Assaré, 512; Barbalha/Missão Velha, 512; Baturité, 789; Canindé/ Pentecoste, 516; Cascavel, 807; Crato, 835; Icó, 731; Ipu, 736; Imperatriz/Itapipoca, 882; Jardim 446; Jaguaribe/ Cachoeira/Solonópole, 608; Limoeiro do Norte, 608; Lavras da Mangabeira, 768; Maranguape/Soure/Caucaia, 847; Maria Pereira/Mombaça, 438; Milagres, 586; Morada Nova, 367; Pedra Branca, 157; Pacatuba, 298; Pereiro, 465; Quixeramobim, 1.924; Quixadá, 298; São Francisco/Itapagé, 427; São Bernardo/Russas, 1.972; Santa Quitéria, 820; Santana do Acaraú, 941; São Mateus/Jucás. 499; Saboeiro/ Brejo Seco/Brejo Santo, 1.130; São João do Príncipe/Tauá/ Arneiroz, 1.956; São Benedito/Ibiapina, 135; Telha/Iguatu, 251; Trairi, 249; Tamboril, 614; Viçosa do Ceará, 323 e Várzea Alegre, 153.



Como Acopiara era então Lages, distrito de Telha/Iguatu, não há precisão sobre quantos acolheu.

“No porto do Ceará não se embarca mais escravos”.

A frase é atribuída a Chico da Matilde, Francisco José do Nascimento, por José do Patrocínio mais tarde batizado Dragão do Mar, jangadeiro de Aracati, prático-mor, prático da barra, convocado por Pedro Artur de Vasconcelos e José Napoleão para trancar o porto a partir de 30.08.1884, por sua liderança junto aos praieiros, não se embarcando e não se desembarcando. Nesta época, não havia atracadouro em Fortaleza. Os navios ficavam ao largo e o desembarque era complexo, através de jangadas e barcos a remo. Em 30.08.1881, Tentaram embarcar 210, mas Dragão do Mar com seus homens impediram. Conflito com os escravocratas, mas a polícia ficou do lado dos jangadeiros. Consequência: Dragão do Mar foi demitido das funções de prático-mor . Houve reações, protestos dos comerciantes, pressões junto ao Governo provincial e denuncias de abusos junto ao governo do Império. Mais tarde, em 1883, Dragão do Mar foi suspenso de suas funções de prático da barra, “resta-me agora fechar as minhas contas com os meus gratuitos e covardes inimigos”.


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Em 30.11.1882, José do Patrocínio, o “Marechal Negro”, líder abolicionista do Rio de Janeiro, desembarcou em Fortaleza, com Alípio Teixeira, seu colega da Gazeta da Tarde, tendo calorosa acolhida da Libertadora, o Centro Abolicionista e do Clube dos Libertos. Num encontro com Dragão do Mar, indagou: “então, o porto está mesmo bloqueado?” A resposta: “não há força neste mundo que o faça reabrir ao tráfico negreiro”. A presença de Patrocínio em Fortaleza teve impacto, com manifestações no Passeio Público, vitrine da pequena cidade. O “Libertador” repercutiu a visita e os abolicionistas marcaram para 1° de dezembro a libertação dos 32 escravos em Acarape/Redenção, iniciando a onda emancipacionista. Começaram a recolher dinheiro para comprar as alforrias. Uma delas , de um conto de réis (1:000$000), veio do Imperador Dom Pedro II para a Sociedade Cearense Libertadora , sacada do Banco do Brasil contra os srs. Pereira Carneiro & Cia, de Pernambuco,

Acarape/Redenção libertou e ficou como símbolo da emancipação, com a presença de José do Patrocínio que retornou ao Rio de Janeiro em 10.01.1883 e que cunhou a expressão que o Ceará era a “Terra da Luz”, que nos acompanha há mais de um século, exprimindo o que vira no Ceará. Daí pra frente, cada município foi repetindo o gesto: Pacatuba, Arrarial/Uruburetama, São Francisco/Itapagé, Imperatriz/ Itapipoca, Canoa/Aracoiaba, Baturité, Icó, Tauá. Maranguape, Aquiraz, Sobral, Trairi, Santa Quitéria, Aracati, Cachoeira, Lavras, Tamboril, Santana, Independência, Camocim, Cascavel, Morada Nova, Acaraú, São Bernardo de Russas , Granja.

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O movimento ganhou impulso. Joaquim Nabuco , de Londres, ao tomar conhecimento do que aconteceria no Ceará em 25 de março de 1885 “Chega-me de diversas partes a noticia de que no dia 25 de março a província do Ceará ficará para sempre, livre da desonra e do opróbrio da escravidão. Não há em nosso passado desde a Independência uma data nacional igual à que a providencia do Ceará vai criar”. E criou. Coube ao presidente da Província , o baiano Sátiro de Oliveira Dias, com muita pompa, ênfase, púrpura da igreja, salvas, bandeiras, flores, trombetas e tiros, na Praça Castro Carreira, anunciar: “A Província do Ceará não possui mais escravos”. O grande ausente foi Dragão do Mar que embarcara para o Rio de Janeiro, em 14 de março, tendo sido recebido por Dom Pedro II. Em Paris, José do Patrocínio reuniu a imprensa francesa, anunciou o feito e leu um cartão de Vitor Hugo: “Uma Província do Brasil acaba de declarar extinta a escravidão no seu território. Para mim a notícia é extraordinária”.

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Depois do Ceará, o Presidente da Província do Amazonas, o cearense Teodoro Barreto de Farias Souto, fez idêntica proclamação em 20 de junho. Mais tarde, Pará, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul.

É bom que as gerações atuais, tão despolitizadas e anestesiadas pela política de baixo nível das elites brasileiras, tomem conhecimento dos feitos de seus antepassados."

JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor, 
com base em Djacir Menezes e Raimundo Girão.



Fontes/Créditos: Biblioteca Nacional, Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Portal da História do Ceará, Gildásio Sá, Blog Casa do Ceará e pesquisas na internet



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