Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Emilio Hinko
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quinta-feira, 8 de julho de 2010

Praça dos Voluntários - Praça da Polícia


Edifício do Liceu na Praça dos voluntários já demolido, onde hoje se encontra o prédio da Polícia Civil. Foto do acervo do Museu da Imagem e do Som do Ceará


Antigo Largo do Garrote, a Praça dos Voluntários ganhou esse nome em 1932 como forma de homenagear os cearenses que lutaram na Guerra do Paraguai (1864-1870). No entorno da praça, destaca-se o Palácio Iracema, ocupado atualmente pela Sefin. Projetado pelos arquitetos Emilio Hinko e Alberto Sá, na década de 1930, o prédio abrigou o Clube Iracema até 1947, quando foi comprado pela Prefeitura para servir de Paço Municipal até por volta de 1967. Na praça, também existe o busto do ex-presidente Getúlio Vargas.

Monumento escultórico em homenagem ao presidente da república Getúlio Vargas, do escultor Agostinho B. Odísio, fundido na Fundição Cearense Viuva Gurgel & Cia. Cantaria Mário Rosal. Inaugurado em 1941.

Um pouco
de tudo

“Amolamos Alicate”
“Fazemos chaves”
“Comprados e vendemos cartuchos”

Estes são alguns dos cartazes/serviços espalhados por diferentes tipos de estabelecimentos localizados no entorno do logradouro, alguns até com dois – ou três – comerciantes dividindo um só espaço.
A Praça dos Voluntários, localizada no Centro de Fortaleza, poderia ser chamada de Praça da diversidade. Poucos sabem seu verdadeiro nome.
Para dificultar ainda mais, a placa que a identifica, está na parte de cima de uma das lojas de rações que a cercam, quase escondida, com boa parte do nome recoberto pela tinta de parede da última reforma do proprietário. Muitas pessoas passam pela Praça dos Voluntários, sem mesmo saber que este é seu nome. A conhecem, simplesmente, como Praça da Polícia.
No início do século XX, era conhecida como Largo do Garrote, uma alusão ao lago que começava no local e se estendia até à Cidade da Criança, atual Parque da Criança, em frente à Igreja do Coração de Jesus. O gado que vinha de Messejana tomava água e fazia descanso na sombra das árvores. Muito mato e semideserto, o local seria o que atualmente se conhece como açougue ao ar livre, com pequenos currais, nos quais o gado era abatido, debaixo das árvores e vendidos à sombra dos cajueiros. Hoje, tão diversificado quanto o tipo de loja da praça, são as pessoas que aproveitam a arborização – com direito à sombra – proporcionado pelo retângulo das árvores que formam a Praça dos Voluntários, que ganhou este nome em 1932 como forma de homenagear os cearenses que lutaram na Guerra do Paraguai (1864-1870).


Foto Jairo Silas

Salão de beleza, Farmácia Popular, loteria, Polícia Civil, estacionamento, restaurante, gráfica, Secretaria de Finanças do Município (SEFIN), Associação dos Magistrados, lotérica, casa de ração, INSS, loja de máquinas, de consertos de fogões, de bijuterias, de roupas, lanchonetes, banca de revistas e muito mais. Sem sair da praça, é possível dispor de diferentes tipos de serviços. Alguns pioneiros, como a Maquilar e outros recém chegados como a Farmácia Popular. Não só as ruas Monsenhor Luís Rocha, Perboire e Silva, General Bezerril e rua do Rosário, que a formam, mas em todas as ruas paralelas que dão acesso, ou não, ao logradouro, continuam as variedades de comércio, espalhando-se por todo o centro.

Foto Ricardo Sabadia

Foto Fco Edson Mendonça

Foto Ricardo Sabadia

Denile, Milksa e Edso, grupo de três amigos e funcionários da empresa Hoepers S.A., localizada no prédio Vital Rolin, na Rua do Rosário, passam todos os dias pela praça às 7h30min quando vão para o trabalho e às 14 horas, quando retornam. Receosos em perder o horário, eles apanham o ônibus para descer na Praça Coração de Jesus. O percurso até a empresa é pela Praça dos Voluntários. Eles são unânimes em considerar que o espaço poderia ter melhor aspecto, ser mais limpo e organizado. “Aos sábados e domingos, as pessoas ficam nos bares em frente à praça até tarde e, muitas vezes, colocam mesas até em cima da calçada da praça”, critica Denile.
O intenso comércio no local e nos arredores forçou a abertura de três estacionamentos, dois na lateral do INSS, e outro, mais afastado da praça, no sentido do Parque da Criança. Desses, dois são cobertos e um a céu aberto. E, mesmo assim, o contorno da praça é todo feito por veículos de funcionários e proprietários que colocam seus carros em frente à praça ou em frente às lojas, deixando um estreito espaço para a circulação de outros veículos. De frente a um dos estacionamentos, Oliveira, 70, engraxa todo dia a R$ 3,00, o par de sapatos. Há 26 anos nesse
ponto, ele chega às 7h30min e vai para casa quando o movimento acaba, por volta das 18h30min. “Além de engraxar, conserto sapatos, vendo também usados, mas o principal serviço que faço é consertar sandálias femininas que se quebram quando as donas vêm ao centro”, diz o experiente engraxate. Integrante de um grupo de oito profissionais, todos com quase a mesma idade, os engraxates da praça se agrupam em filas, com o objetivo de disputar os clientes que passam. Oferecendo seus serviços, eles amontoam tamancos e chinelas no chão, cada um de frente a seu respectivo dono. Essa é a maneira natural de concorrer uns com os outros e apresentar seu produto. As pessoas que cruzam a praça e, principalmente, as que sentam nos bancos são a maior clientela, não só deles, mas dos vendedores de flanelas, de Totolec, de cartões de crédito, que bombardeiam o descanso de quem fica nos bancos.

Foto Jairo Silas

O movimento dos prédios públicos INSS, SEFIN, Polícia Civil e Farmácia Popular é de segunda à sexta-feira; só a Farmácia Popular funciona no sábado até meio dia. No INSS, que fica no mais alto prédio da praça, pela Rua General Bezerril, em frente à Polícia Civil, são feitos diariamente, pedidos de aposentadoria, laudos médicos, e entrada em licença maternidade. Na SEFIN, que fica pela Rua Monsenhor Luís Rocha, entre a Rua do Rosário e a General Bezerril, ocupava antigamente apenas um prédio. Recentemente, foi construído um anexo, para possibilitar melhor funcionamento. Na SEFIN são resolvidos casos de pagamento, regularização, retiradas de certidões negativas de débitos e fiscalização dos impostos arrecadados no município tais como: Imposto sobre Serviço (ISS), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto de Transmissão de Bens Imobiliários (ITBI). Com o objetivo de supervisionar o recebimento desses impostos a SEFIN é responsável por boa parte da movimentação de contribuintes e veículos na praça.

Foto Ricardo Sabadia

Recém chegada, mas com importância essencial para o setor de medicamentos, a Farmácia Popular, esquina da Rua Monsenhor Luís Rocha e Rua do Rosário, é um programa do Governo Federal, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, que reúne idosos e populares logo cedo em aglomerados de frente à Farmácia a procura de melhores preços. Maria Alice, de 71 anos, aposentada, moradora do bairro Bom Jardim sempre que precisa vai à farmácia garantir o desconto que tanta diferença faz no orçamento mensal. “Eu uso remédio para colesterol. Na
farmácia do meu bairro uma cartela com 10 comprimidos custa R$ 17,00 e compro aqui a cartela por R$ 3,50. Faz muita diferença, por que nem ônibus eu pago para vir comprar”, conta feliz.
Um dos primeiros prédios a fazer parte da praça, onde está a Polícia Civil, na Rua do Rosário, já foi sede do antigo Liceu do Ceará (primeira foto da postagem), no período em que a praça ainda se chamava Largo do Garrote. Depois o prédio foi demolido e construído no seu lugar a Central da Secretária de Polícia e Segurança Pública, depois desativada, para uso exclusivo da Polícia Civil. Na gestão do prefeito Raimundo Girão, a praça cedeu homenagear aos cerca de 6 mil voluntários que partiram para a Guerra do Paraguai, em 1865. A denominação foi dada em 1932 sob o decreto 75/31/12/1932 e passou a se chamar “Praça dos Voluntários”.
Em homenagem ao Chefe da Nação, da época, foi levantado em 1941 um busto do presidente Getúlio Vargas, na reforma feita pela Prefeitura, na gestão de Raimundo de Alencar Araripe. Nesse período foi toda remodelada: ganhou dois jardins e nova iluminação. Atualmente os bancos formam dois quadrados e dentro ficam os jardins da praça. Entre os bancos fica o busto de Getúlio. Nos dias atuais, populares ainda prestam homenagens, nas datas de seu nascimento e morte, depositando flores aos pés do busto. Há, até mesmo, aqueles que a chamam carinhosamente, de Praça Getúlio Vargas.

Foto Fco Edson Mendonça

Das bancas de revistas que ficam em cada extremidade da praça, uma em especial chama atenção pelo som de uma caixa acústica, com alcance em todos os cantos da praça. Ela já é parte integrante do local. Djavan é o dono, tanto da banca quanto da caixa.
Djavan, só Djavan, como ele prefere ser chamado, trabalha há 16 anos e além de revistas e jornais, vende alternativamente CDs de música brega. O jogo de dama em frente à banca ou o de baralho, ao lado, são alguns dos métodos práticos de promover a publicidade de seus CDs. Mesmo cismado quando é esse o assunto e, com medo da fiscalização, garante que só ajuda a melhorar o ambiente da praça e colaborar com a alegria dos amigos.

Mais antigo do que Djavan na praça só o dono da banca localizada atrás da dele. Não muito disposto a trocar idéias, ele – que preferiu não dizer o nome – fica assistindo TV e atende os clientes, apenas esticando a mão, sem mesmo olhar para as pessoas. A banca dele é uma das maiores da praça. Todo o espaço interno é preenchido e ainda recobre boa parte do chão. É dividida em três espaços diferentes: à direita, ficam os livros; no centro, as revistas; e à esquerda, a sessão pornô – por sinal a maior e mais visível. O nome da banca “Terra da Luz” ironicamente oferece os títulos que se vendem por si sós – porque o proprietário permanece sentado, assistindo.

Do mais antigo ao caçula: Francisco Freire comprou sua banca há três meses e até agora, satisfeito com as vendas, manda buscar as revistas nas editoras e ganha uma boa quantia de comissão em cima do preço de capa, que ele não revela. “O que não se vende, eu devolvo”, confirma, satisfeito por não correr risco.
Nos finais de semana, quando os prédios públicos estão fechados, o comércio ambulante da praça se estende na frente desses locais: calcinhas, sutiãs, piranhas, bijuterias, porta – cartões, imãs de geladeiras, tudo a partir de R$ 0,50. Alguns dividem a mesma locação com três tipos de comerciantes diferentes. Não dá para saber nem o nome da loja de tantos produtos diferentes no mesmo local: rações para peixes junto com venda de queijos, molhos e cachaças artesanais, salão de beleza junto com gravação de carimbos e consertos para relógios, banca do Paratodos e Totolec, com venda e troca de celulares e acessórios. Sem falar do comércio não fixo de carrinhos de cachorro quente, frutas, verduras e até enfeites e cartões de Natal.
Eles passam, vendem um pouco de um lado, um pouco do outro e partem para um novo ponto de venda.
Enquanto os ambulantes se movimentam na praça, dois rapazes com farda de fiscal da prefeitura, que deveriam estar observando se todas pessoas que estão vendendo mercadorias são cadastradas e, conseqüentemente, pagam impostos, não parecem muito interessados no serviço. Ao contrário, se afastam da área para se deliciarem cada um com uma porção de batatinhas fritas...
Além da diversidade, a Praça dos Voluntários abriga lojas especializadas no ramo de informática, como a Maquilar, que iniciou esta atividade ainda com máquinas de datilografia. Com a evolução tecnológica e a era dos computadores, a loja passou a trabalhar com venda e consertos de produtos de informática, impressoras, calculadoras, telefones e também com carga e recarga, compra e venda de cartuchos. Hoje, com mais de 25 anos de serviço, abre caminho para a concorrência que se inicia no próprio entorno da praça.
Na Rua Perboyre e Silva, vizinhas à Maquilar, há mais duas lojas, a “Júnior Faz Tudo” e, mais nova da praça, a “Jaspefor”, que dispõe de três lojas, duas ficam em frente à praça e a outra, na Rua General Bezerril.
Outra diferença nos serviços oferecidos nos estabelecimentos ao redor da praça é o atendimento e o estilo único. Ao som da banda Aviões do Forró, os freqüentadores do Restaurante Bon Appetit se espalham pelas mesas, que se estendem pela calçada e também pelo chão da praça. Sem precisar entrar no restaurante para ter acesso ao cardápio, que fica em duas caixas pintadas, logo na entrada, cada uma para um grupo de clientes específico: “Promoção p/ empresa: a partir de 5 pessoas self service, sem peso: R$ 3,20. Grátis 5 guaranás Kuat 290 ml, ainda acompanha fruta. Só o almoço R$ 3,00.” A outra faixa para promoção individual, muda apenas o preço para R$ 3,40. Um tanto cansativo para quem tem que ler em pé e com fome. Mas, segundo Aline Bento, freqüentadora quase diária do restaurante, a comida é o que se pode chamar de BBBBoa, Bonita e Barata”.
As entregas de refrigerante com gelo, água de coco e até aquela cervejinha no local de trabalho são alguns dos pedidos levados de um lado ao outro da praça, durante todo o dia. Muitas vezes sozinhos no ambiente de trabalho, comerciantes acham mais prático telefonar para fazer o pedido.
A certeza da entrega do produto fica por conta da fidelidade dos que freqüentam a Praça dos Voluntários.

“sai da vida para entrar na história”


Getúlio Dornelles Vargas nasceu em São Borja (RS) a 19 de abril de 1883. Foi chefe do governo provisório depois da Revolução de 30, presidente eleito pela constituinte em 17 de julho de 1934, até a implantação da ditadura do Estado Novo em 10 de novembro de 1937. Foi deposto em 29 de outubro de 1945, voltou à presidência em 31 de janeiro de 1951, através do voto popular. Em 1954, pressionado por interesses econômicos estrangeiros com aliados no Brasil como Lacerda e Adhemar de Barros, é levado ao suicídio a 24 de agosto de 1954. Com uma bala no peito ele atrasa o golpe militar em 10 anos e “sai da vida para entrar na história”... Contrariamente ao que todos os governantes fizeram antes dele e vêm fazendo depois dele, o governo Vargas conquistou a vinda de técnicos estrangeiros para incrementar a nossa economia. Todos os outros governantes brasileiros antes e depois de Vargas colocaram, em maior ou menor grau, a economia brasileira a serviço de interesses estrangeiros. Por isso, apesar de todos os seus defeitos, é considerado O MELHOR PRESIDENTE QUE O BRASIL JÁ TEVE EM TODA A HISTÓRIA.
Por volta de 1894 estudou em Ouro Preto (MG), na Escola de Minas. Em 1898 torna-se soldado na guarnição de São Borja e em 1900 matricula-se na Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo (RS). Não permaneceu lá por muito tempo, foi transferido para Porto Alegre (RS) a fim de terminar o serviço militar. Em março de 1904, matricula-se na faculdade de direito de Porto Alegre, onde conhece dois cadetes da escola militar, Pedro Aurélio de Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, dedicando-se, à ocasião, ao estudo das obras de Júlio de Castilhos (positivista, fundador do Partido Republicano no Rio Grande do Sul).Formou-se em dezembro de 1907, começando a trabalhar como segundo promotor público no tribunal de Porto Alegre, mas voltou a sua cidade natal, São Borja, para exercer as lides de advogado. Em 1909 elegeu-se deputado estadual, foi reeleito novamente em 1913, mas renunciou em sinal de protesto a Borges de Medeiros, que governava o Rio Grande do Sul. Voltou à assembléia legislativa estadual em 1917, e foi reeleito em 1921. Em 1923 torna-se deputado federal, e em 1924 torna-se líder da bancada gaúcha na Câmara. Washington Luís é eleito presidente em 1926 e escolhe Getúlio Vargas como ministro da Fazenda, devido ao seu trabalho na comissão de finanças da Câmara, mas ocupou o cargo por menos de um ano, sendo escolhido como candidato ao governo do Rio Grande do Sul. Eleito, tomou posse a 25 de janeiro de 1928.


Créditos: Paula Cleidiany Queiroz Gondim, blog centro de Fortaleza e pesquisas de internet

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Praça do Ferreira - De beco do cotovelo à Coração de Fortaleza


PRAÇA DO FERREIRA - VISTA PANORÂMICA

Falaremos do principal logradouro de nossa Capital. Durante todo o Século XX, a Praça do Ferreira, que partindo do antiquíssimo Beco do Cotovelo, foi transformada em uma praça que a princípio foi chamada de Feira Nova. Teve também a designação de Largo das Trincheiras; em 1859 Praça Pedro II e depois de urbanizada em 1902 na gestão do intendente Guilherme Rocha recebeu o nome de Jardim Sete de Setembro, que não era na verdade o nome da praça, mas da parte urbanizada, pois antigamente cada praça tinha um nome e seu jardim tinha outro. Em 1881, após a morte do Boticário Antônio Rodrigues Ferreira, a Câmara Municipal deu ao logradouro o nome de Praça do Ferreira em sua homenagem, mas em 1890 o Conselho da Intendência achou por bem retirar os nomes de pessoas de todas as ruas, avenidas e praças da cidade, recebendo as ruas numeração e as praças nomes como a Praça Municipal, novo nome da nossa Praça do Ferreira, mas durou pouco e no mesmo ano volta a velha nomenclatura.

A vista antiga foi publicada no livro "Brasil", do fotógrafo Peter Fuss, editado em Berlim com o apoio do Touring Club do Brasil, em 1934 e mostra a Praça do Ferreira vista de cima do Excelsior Hotel no sentido sudeste, vendo-se, além da Coluna da Hora, bancos e jardins, o canto do cruzamento da Rua Pedro Borges com Rua Floriano Peixoto, que tem na esquina a loja "A Cearense", vizinha à Padaria Lisbonense.

Além da Praça do Ferreira a vista mostra coisas interessantes como - direcionando-se a visão da esquerda para a direita - vemos as costas do prédio da Companhia Telefônica, por trás dela um circo armado, a Praça dos Voluntários com o velho prédio do Liceu do Ceará; mais ao longe a Igreja da Piedade e o Colégio Dom Bosco; o Colégio Cearense do Sagrado Coração; a Igreja do Coração de Jesus; o prédio do Pio X; o mosteiro dos frades capuchinhos; o prédio da Associação dos Chauffeurs do Ceará; o quartel da Polícia Militar e mais distante os morros de Paupina, Ancuri e Itaitinga.

A foto atual, tirada do mesmo local, mostra quase o mesmo ângulo já com muitas diferenças, ocorridas nesses 76 anos. Queremos aqui agradecer a gentileza do Dr. Janos Fusezzi Júnior, cônsul da Hungria, herdeiro de Emílio Hinko e residente no 3º andar do Edifício Excelsior, sem a qual não nos seria possível conseguirmos a foto atual do mesmo ângulo da antiga. O fotógrafo foi Osmar Onofre.

As lojas que circundam a praça já são outras excetuando-se a "Leão do Sul", que ali está desde a década de 1920. À distância já vemos pouca coisa, pois os prédios de concreto armado ou "cidade vertical" formam um tapume que nos impede ver o que víamos antes, mas na brecha entre os edifícios vemos ainda a Igreja do Coração de Jesus - que já não é mais a antiga que ruiu em 1957 e foi demolida - e nada mais. Os prédios que nos impedem de ver a paisagem são o Edifício Portugal, que fica no primeiro quarteirão da Rua Pedro Borges; por trás dele o edifício do INAMPS (antigo IPASE), na Praça dos Voluntários; o Palácio da Imprensa (edifício Perboyre e Silva, da ACI), o da Seguradora Brasileira e o Edifício Raul Barbosa, que foi sede do Banco do Nordeste de Brasil - BNB.

PRAÇA DO FERREIRA DE 1940 E DE 1991

A praça do Ferreira em 1850 era apenas um largo de areia frouxa com alguns cajueiros rodeada de casebres beira-e-bica onde se destacavam apenas os sobrados do Comendador Machado, construído em 1825 e o do Pacheco, de 1831, que depois foi sede da Municipalidade. O prédio do Ensino Mútuo ficava na esquina onde hoje fica a Caixa Econômica Federal.

Havia na praça o "Beco do cotovelo", com casas em diagonal, que foi derrubado por Antônio Rodrigues Ferreira, o boticário que chegou a governar a cidade como presidente da Câmara Municipal. Por isto hoje a praça tem seu nome. A praça foi Feira-Nova, Pedro II, da Municipalidade e é do Ferreira desde 1871.

Em 1902 foi urbanizada pelo então intendente Guilherme Rocha que nela fez o Jardim 7 de Setembro. Já existiam os cafés nos quatro cantos. Em 1920 a praça sofreu nova reforma, desta feita na administração de Godofredo Maciel, que retirou os quiosques e mosaicou toda a praça, fazendo vários jardins e colocando um coreto sem coberta. Em 1923 foi colocado outro coreto, este coberto. Em 1933 Raimundo Girão derrubou o coreto e levantou a Coluna da Hora. Em 1949 Acrísio Moreira da Rocha construiu o Abrigo Central. Em 1966 José Walter sem nenhuma consulta popular derrubou a Coluna da Hora e o Abrigo Central e construiu uma praça grosseira, que foi imposta ao povo que nunca a aceitou. Depois a praça foi reconstruída em 1991 pelo prefeito Juraci Vieira Magalhães.

As fotos são: a primeira é de 1934, quando o Excelsior Hotel e o Edifício Granito eram novinhos em folha, os bancos da praça eram extensos, o Edifício São Luiz ainda não havia sido iniciado, funcionando em seu lugar a Casa Amadeu, e o quarteirão da Rua Guilherme Rocha ainda existia. A Segunda foto é da década de 1940, quando o edifício São Luiz já estava em construção, mas o quarteirão da Guilherme Rocha já não existia e o Abrigo ainda não havia sido construído e os bancos da praça já eram menores.

A terceira foto é da época da odiosa
Praça do José Valter, de caixotes enormes de concreto e foi batida por Nirez.

RUA MAJOR FACUNDO NA PRAÇA DO FERREIRA

A foto antiga data do início do século passado. Mostra uma cidade pacata, com todas as características de uma cidade de interior, com a tranquilidade de seus habitantes e seu comércio com pouco movimento. Ruas calçadas com pedras toscas, esgotos cobertos com tábuas, trilhos dos bondes de tração animal, calçadas irregulares tanto na largura como na altura, ausência do meio-fio, postes de madeira, alguns de ferro, combustores de iluminação a gás carbônico e ausência completa de carros.

Trata-se do quarteirão da Rua Major Facundo na Praça do Ferreira, aquele onde hoje fica o Cine São Luiz. Na esquina ficava o "Maison Art-Nouveau", logo após a Agência de Loterias Nacionais, seguindo-se "O Menescal" e outras lojas que não é possível identificar na foto. A "Maison" surgiu em 1907, era café, bar, confeitaria além de vender artigos para copa e cozinha. O proprietário era Augusto Fiúza Pequeno e José Rola. Foi por trás desta loja que funcionou, em 1908, o primeiro cinema da Fortaleza, o cinematógrafo do italiano Victo Di Maio. No mesmo local estiveram depois a "Maison-Riche", o Restaurante Chic, A Pernambucana, a "Broadway", a Rouvani e hoje está a Tok-Discos.

A Segunda foto é da praça do prefeito José Walter, quando ainda havia passagem de carro pela Rua Major Facundo. Nada do que existia na foto antiga existia mais a não ser o céu e o subsolo, ambos já bastante poluídos. Já existia a Tok-Discos, seguida de estabelecimentos comerciais dos mais variados.

A terceira foto, colhida pela objetiva de Osmar Onofre, mostra uma praça bem melhor que a da segunda foto, com este calçadão para os pedestres e os postes da nova iluminação. A poluição continua e por falar em poluição, o centro de Fortaleza está um inferno em poluição sonora. Além das lojas vendedoras; de discos, os alto-falantes nas lojas em geral chamando os clientes e os odiosos carros com serviços de som e o que não entendemos, o serviço de alto-falantes nos postes com o falso nome de "FM Centro", autorizado pela Prefeitura que assim rasga o próprio Código de Obras e Posturas.

PRAÇA DO FERREIRA - JARDIM SETE DE SETEMBRO

A Praça do Ferreira era antigamente o "Beco do cotovelo" cortando o campo em diagonal. O resto era uma grande área de areia de tabuleiro com alguns cajueiros, rodeado de pequenas casas, destacando-se apenas os sobrados do comendador Machado e do Pacheco. Nascido em 1801, chega em 1825 a Fortaleza como caixeiro de Manoel Caetano de Gouveia, o boticário Antônio Rodrigues Ferreira, que fundou uma botica que era onde fica o Duda's Burger.

Em 1842 foi eleito presidente da Câmara Municipal e como tal aumentou as ruas de Fortaleza dando-lhes um traçado antes defeituoso.

Acabou com o "beco do cotovelo" criando a praça que no início foi chamada de Feira Nova e hoje tem o seu nome. Ele morreu em 1859, sendo sepultado no Cemitério de São Casimiro, onde hoje é a estação central da RFFSA, sendo seus restos trasladados em 1880 para o Cemitério de São João Batista. Em 1871 a praça passou a denominar-se Praça do Ferreira.

Em 1902 houve a primeira urbanização da praça, com a construção de um jardim cercado de colunas entremeadas de grades de ferro ocupando pequeno espaço em frente ao hoje Cine São Luiz. É deste jardim que trazemos a foto mais antiga, vendo-se, ao fundo, de costas, o Café Elegante, que ficava de frente para o cruzamento da Rua Pedro Borges com Rua Floriano Peixoto.

O jardim inaugurou-se no dia 7 de setembro de 1902 e passou a denominar-se "Jardim 7 de Setembro". Era realmente um belo jardim, como pode ser visto na foto.

A Segunda foto é da praça de terrível mau-gosto implantada em 1967 pelo então prefeito José Walter Cavalcante, cheia de blocos de concreto que servia de trincheiras no caso de uma revolta.

A terceira foto é mais atual e felizmente a administração de Juraci Magalhães em 1991 demoliu o "monstrengo" e construiu a atual praça.

Saiba mais: No passado, foi cercada por mongubeiras que serviam para amarrar animais que traziam do Interior as mercadorias para abastecer o comércio local. Vendia-se de tudo nas calçadas: frutas, camarão seco, pente fino, calças de mescla, espelhinhos, toalhas de rosto, retoques de algodão, e nylon, pó de arroz e revistas velhas. Deste núcleo central, o arquiteto Adolfo Hebster constituiu a malha urbana da cidade.

Hoje, a Praça do Ferreira ainda funciona como centro de encontros, passeios e comércio. Camelôs com seus CDs e DVDs, vendedores com carrinhos de lanche, amadores, músicos e artistas são alguns dos personagens que cruzam o espaço atemporal da praça. Também há aqueles que preferem sentar, conversar ou tirar uma soneca nos intervalos do trabalho, sentados nos bancos da praça sob a sombra das árvores e o som do barulho do centro da cidade.

O lugar sofreu uma série de reformas ao longo do tempo. Dentre elas, em 1932, o coreto foi substituído pela Coluna da Hora, com seu relógio que servia de orientação para toda a cidade. Sua inauguração foi no início de 1934, sendo demolido em 1969. Porém, em 1991, foi inaugurada a versão moderna da Coluna da Hora com a última reforma da praça.


Sobre Antônio Ferreira Rodrigues: O Boticário Ferreira, nasceu em Niterói em 1801 e por volta de 1925 conhece a Manoel Caetano de Gouveia, Cônsul de Portugal, o qual o trouxe para o Ceará, como seu caixeiro. Com 21 anos de idade e com adiantada prática de Farmacologia, obtida na sua terra natal e suas receitas salvaram a mulher de seu protetor, que o ajudou a obter da Junta Médica de Pernambuco licença para montar uma botica e se estabelecer. Em pouco tempo, o boticário Ferreira tornou-se popular pela sua caridade e sociabilidade. Em 1927 casou-se mas nunca teve filhos. Envolveu-se na política e viu-se continuamente eleito para a Câmara Municipal. Dedicou-se inteiramente a política de Fortaleza, durante os 18 anos que foi vereador e procedeu ao levantamento da planta urbana da cidade de Fortaleza. Construiu algumas praças, alargou ou ratificou o alinhamento de outras, deu grande impulso a Santa Casa de Misericórdia e realizou tantas obras de importância para a cidade que é considerado o seu primeiro urbanista. Demoliu o Beco do Cotovelo construindo ali a grande praça que levaria o seu nome. Morreu em 1859, aos 60 anos.


Crédito: Fortaleza de Ontem e de Hoje, Arrudeia Ceará

domingo, 20 de junho de 2010

O bonde (VIII) - Linha Outeiro/ Aldeota - Santos Dumont


Fotografia antiga do bonde Outeiro

O jornalista de primeira água, poeta, escritor, romancista e sociólogo Jader de Carvalho, desassombradamente escreveu o romance - Aldeota, na década de 1960. Na sua obra magistral - (13o capítulo, pág. 286) com muita propriedade proclama: “Não dizem que o tempo tem asas? Pois tem mesmo. Na Aldeota levantaram-se riquíssimos bangalôs, agora chamadas ‘casas funcionais’. Quase todos brancos, bela estupidamente brancos numa terra de sol. Doem na vista? Mas ficam bem na paisagem entre o verde do mar e o azul do céu, num suave lombo de terra, que se abaixa cautelosamente em busca da praia.”

Mais adiante exclama: “Numa topografia diferente, microgeográfica, Aldeota se personaliza, assume limites certos, cria a sua própria alma, amadurece enfim ‘Aldeota’”.

As evidências provam que muitas das famílias antigas que moravam noutros bairros, ou mesmo no Centro da cidade, passaram a residir no aristocrático bairro da Aldeota, embora outros continuassem fiéis, e não se deixaram atrair pela zona Leste da cidade até por questão de bairrismo, ou saudosismo.

Mudavam de status, mas o bonde, impassível ao tempo, continuou a transportar seus passageiros indiferente a tudo. Percorria na sua trajetória conduzindo passageiros de todos os recantos da cidade e de todos os matizes, credo, profissão, cor, pobres e ricos enfim, indistintamente. Até porque havia entre todos humildade, condescendência e mútuo respeito acima de tudo. Quando por ventura algum passageiro se exagerava no beber, e, se ousasse tratar mal ao cobrador e mesmo passageiro, - o fiscal conduzia um apito, e logo - parava o bonde, pedia para o molestador descer e se não atendesse - apitava novamente e todos os passageiros - gritavam - “Chama o guarda” era na realidade “o passe mágico” para que o guarda da Polícia Estadual, encarregado na manutenção da ordem pública, colocado entre vários quarteirões da cidade, e, que se comunicavam e atendiam rapidamente com o chamado do guarda pelo apito para de repente restabelecer a paz, o silêncio e a proteção no coletivo.

Postal antigo da Rua Floriano Peixoto

Embora muito se tenha comentado, propalado, comensurando valor, divulgando a celeridade do crescimento populacional, em espiral no que se refere ao progresso dos valores imobiliários, comparado a outros bairros - e até com certa irinia, se dizia: “Que o bairro Aldeota, cheira a dólar”, em confronto com outros bairros que não tiveram ascensão rápida, mesmo porque àquela época a extensão territorial não ia além da Av. Desembargador Moreira à altura do Hospital Militar do Exército.
Na sua exuberância o bonde Outeiro - Aldeota, fazia aprazível percurso: saía da Travessa Morada Nova, por trás do prédio da antiga Assembléia, dobrava à direita na Rua Floriano Peixoto até chegar à Travessa Crato, quando entrava à direita, seguia até a Rua São José (antigo Beco das Almas) e entrava na Rua Visconde de Sabóia ao lado do Colégio da Imaculada Conceição, entrando à esquerda na Av. Santos Dumont, e, seguindo em linha reta até a Rua Silva Paulet.
O nosso ilustre passageiro escolhido da linha Aldeota - Outeiro, é o médico, ex-professor e foi diretor da Escola Normal Justiniano de Serpa - por mais de 50 anos, cujos dados biográficos abaixo, em notas de registro - Barão de Studart no volume primeiro do seu Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense (Ed. de 1910 - fl.491).

João Hippolyto de Azevedo e Sá - nasceu em Fortaleza a 13 de agosto de 1881,” - se vivo fosse iria completar 122 anos - “filho de Jeronymo Vieira de Azevedo e Sá, e neto paterno de João Batista de Azevedo e Sá e Anna Vieira de Azevedo e Sá e materno de Domingos Pereira Façanha e Ana Bayma Façanha".

Fez o curso de preparatórios no Ginásio Nacional, atual Colégio Pedro II, e matriculando-se a princípio na Faculdade da Bahia, em que fez o primeiro ano, e depois na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendeu tese em 22 de janeiro de 1904.

Sua tese foi aprovada com distinção, versou sobre segredo médico. A 1o de março de 1904, foi nomeado professor interino de Física e Química na Escola Normal do Estado e efetivo a 30 de fevereiro de 1908.

Bonde na Rua Floriano Peixoto

À 7 de dezembro de 1905, foi nomeado para a Secção de operações e partos no Hospital de Misericórdia de Fortaleza.
Permaneceu várias décadas como diretor da Escola Normal Justiniano de Serpa, cujo cargo se aposentou. Após sua aposentadoria, foi convidado a exercer em comissão o cargo de diretor do Instituto de Educação no qual ficou por alguns anos, era avô do meu amigo Márcio de Azevedo e Sá Livinio de Carvalho, já falecido.
Dr. Hipólito, como era conhecido, residiu por muitos anos na Av. Santos Dumont No 2110, esquina com a Rua Silva Paulet, ponto final do bonde Aldeota. Nesse local, se acha instalado o Banco Mercantil de São Paulo.”
A Avenida Santos Dumont, antes fora denominada - Av. Nogueira Acióli - 1933, de No 9 - 1890, “Do Colégio” 1888 - Registra João Nogueira - Fortaleza Velha, pág. 43.

No dia 14 de fevereiro de 1914, começou a funcionar a linha do Outeiro (Santos Dumont/Aldeota). “Nesse ano, chegavam ao nosso porto, dentre outros navios estrangeiros, 34 ingleses, comprovando a contínua hegemonia britânica em nosso porto, seguido em número por 14 vapores alemães, e que seriam os últimos, em razão do início da Primeira Guerra Mundial, a visitarem nosso porto até 1923 - Ary Bezerra Leite - História da Energia no Ceará, pág. 70.”


A linha do bonde Outeiro tinha início no Colégio da Imaculada Conceição e numa reta rumo ao Leste, passava em frente ao Colégio Militar, e para quem sobe a Avenida Santos Dumont vê-se à direita, dentre outros, o bangalô do Dr. Edmilson Barros de Oliveira, local hoje da clínica que leva o seu nome, dirigida por seus ilustres filhos - Francisco José Motta Barros de Oliveira e Edmilson Motta Barros de Oliveira, ao lado esquerdo bonito sobrado de Gutemberg Teles, proprietário das lojas de tecidos “Casas Novas”, instaladas também em boa parte no interior do Ceará; o casarão de Manuel Cavalcante, a casa da família do Gal. Eudoro Correia, Demóstenes Brígido, Abel Ribeiro, seu filho Humberto Ribeiro, Dr. Paulo Torcápio Ferreira, Mystil Meyer, o inolvidável e majestoso Palácio de Carvalho, cercado por inúmeros bangalôs, cada qual no seu estilo próprio, construídos por seu arquiteto Emílio Hinko, que após sua morte convolou núpcias com a viúva D. Pierina. Hoje no local ergue-se o Centro de Artesanato D. Luíza Távora, seguindo ainda as elegantes casas e sobrados dos milionários da época; das famílias Joaquim Eduardo de Alencar, Sr. Vicente de Castro Filho - Sr. Bené; Inácio Capelo, da Sapataria Belém, casa que servia de residência do Gal. da 10a Região Militar, palacete do Dr. João Hippolyto de Azevedo e Sá, depois mais modernamente dos irmãos Salomão de São Domingos Pinheiro Maia e Vesúvio de São Domingos Pinheiro Maia, Sr. Célio Fontenele Filho, Thomas Pompeu de Souza Brasil, Paschoal de Castro Alves etc.

Rememorando o início dos bondes elétricos, que substituíram os bondes puxados a burro na nossa Cidade, tivemos como conseqüência no salto do progresso da nossa civização urbana. - Mozart Soriano Aderaldo - no seu livro História Abreviada de Fortaleza - às pág. 41 - assevera com percuciência:

“Em 1914, teve início a era dos bondes elétricos. Havia bondes de ‘tostão’ e de ‘dois tostões’ isto é, de cem e de duzentos réis, que eram identificados pela cor de suas testadas: - O de segunda classe era prateado e o de primeira classe era pintado de verde. Os cupões das passagens, destacados pelos cobradores (condutores, como eram chamados) à vista dos passageiros, eram a estes entregues porque valiam a centésima parte de seu preço, desde que resgatados em favor de associações de caridade, como a Santa Casa, o Asilo de Alienados, o Leprosário etc. Dessa forma, a empresa concorria para aquelas filantrópicas entidades e, ao tempo, controlava o movimento de passageiros, para efeito de tomada de contas”.

O grande historiador e engenheiro João Franklin de Alencar Nogueira - João Nogueira - no seu livro Fortaleza Velha - destaca capítulo sobre “O bonde Velho” - pág.165 e no “Carro de borracha” - Era o famoso bonde puxado a burro, que antecederam os bondes elétricos. Esse transporte eminentemente rudimentar, movido por asinino.

A inauguração do bonde velho marcou época na vida de Fortaleza

"Os que ainda restam daquele tempo se recordarão, talvez, da admiração e dos aplausos com que foi recebido, nesta cidade, tão grande progresso. No domingo, 25 de abril de 1880, a Companhia Ferro Carril do Ceará inaugurou as linhas de Estação e do Matadouro Público. Às 7 horas da manhã, quatro bondes embandeirados partiram da frente do Mercado Público, à Praça da Assembléia, e foram até Matadouro; e, de volta, chegaram à Estação do Depósito, na estrada de Messejana.

No primeiro iam o presidente da Província, Sr. José Júlio, e convidados; nos dois seguintes, acionistas da Ferro Carril; e no último a música da Polícia. Ao chegarem àquela estação, ali tocava a banda do 15o e subiram ao ar inúmeras girândolas.

Houve sessão solene da diretoria, da qual era presidente o engenheiro José Pompeu de Albuquerque Cavalcante, diretor secretário o Dr. Rufino Antunes de Alencar e tesoureiro, o negociante João Cordeiro”.

Lavraram uma ata especial consignando o memorável acontecimento, assinado, que foi, pelo presidente da Província, pelos diretores e acionistas da companhia e por quantas pessoas gradas ali se achavam.

O engenheiro José Pompeu declarou, então, abertas ao tráfego as duas linhas inauguradas e agradeceu, ao presidente José Júlio, os favores dispensados à empresa.

As linhas inauguradas eram, como ficou dito, as da Estação e do Matadouro.

A primeira, partindo da frente do Mercado, seguia pela Praça da Assembléia (lado L), passava em frente à Assembléia, ganhava a Rua da Boa Vista, dobrava na de S. Bernardo e, entrando por um beco, hoje fechado, cortava a Rua da Alegria; passava ao lado N. e em frente aos Artigos Bélicos e pela Rua do Conde d’Eu entrava ao Largo do Garrote, donde pela estrada da Messejana ia em linha reta à Estação, construída em 1879.

O ramal do Matadouro começava no cruzamento da Rua da Boa Vista com a de São Bernardo. Seguia por esta até a Rua Amélia, pela qual subia até a Praça de Pelotas.

Dobrando na esquina do Formiga, seguia pela Rua do Livramento, atravessava em diagonal a Praça S. Sebastião e entrando pela entrada do Soure chegava ao Matadouro.

O bonde de Pelotas seguia este mesmo itinerário, partindo, porém, do Mercado a fazer ponto naquela praça, junto à Rua General Sampaio. A extensão total dessas duas linhas era avaliada em 7.500 metros.

Um anúncio avisava o público de que os carros partiriam do Mercado, de meia em meia hora, e enquanto houvesse passageiros.

As passagens eram de cem réis, a bitola a mesma de hoje, 1,40m e tração animal. Os carros eram desiguais: havia os de 4, de 5 e de 7 assentos, com as lotações correspondentes de 16, 20 e 28 passageiros.

Os trilhos constavam de longarinas de madeira, pregadas nos dormentes, forradas por cima de cantoneiras de ferro sobre cuja face superior corriam as rodas. Foram depois substituídas por trilhos de ferro tipo Vignole.

A planta de Fortaleza de 1888 consigna as alterações feitas nas linhas inauguradas em 1880 e os ramais então existentes.”

Tivemos também as linhas do Outeiro e da Porangaba, das quais detalhes e datas se encontram no Almanaque do Ceará para o ano 1906.

Antes da inauguração do bonde, a carne verde vinha, pela tarde, do matadouro para a feira em costas de burros tangidas pelos carniceiros (magarefes) que vestiam longas blusas de baeta encarnada e traziam barretes da mesma fazenda e cor.

À boca da noite, voltando do Mercado, montados em disparada, que fazia tinirem os ganchos de ferro em que haviam trazido a carne, aqueles homens, vestidos de encarnado metiam medo aos meninos, que neles viam demônios, matadores ou lobisomens.

A Ferro Carril acabou com este transporte anti-higiênico da carne verde, construindo bondes fechados especiais, destinados ao mesmo fim.

Já muito depois de inaugurada a nossa viação urbana, apareceram os bondes chamados João-cotoco. Eram carros sem coberta, com uma lanterna multicor em cada frente, que só trafegavam à noite, especialmente nas de luar.

Era nesses bondes que os fiotas e notívagos do tempo andavam acima e abaixo contando anedotas e desfrutando a fresca da noite, até ficarem de nariz entupido, tal como acontecia aos prosistas, que demoravam, até tarde, nas nossas antigas rodas de calçadas.

Outeiro, mais precisamente Aldeota, é na realidade de hoje o bairro mais contemplado pelo progresso da nossa cidade, porque seu aspecto arquitetônico diferencia dos demais bairros da nossa Fortaleza; se sobressaindo com as modernas edificações tornando-o independente do resto da metrópole por ter vida própria.

Bonde elétrico 1930 - A imagem mostra o bonde elétrico, na Floriano Peixoto, aberto, prefixo 76, na linha do Outeiro, passando ao lado de uma bomba de gasolina. Reparem na arquitetura dos prédios... Banco do Brasil, na época... (por volta dos primeiros cinco anos da década de 1930)

A Avenida Santos Dumont vai do Centro da cidade à Praia do Futuro. Começando na altura da Rua Cel. Ferraz, terminando na Av. Dioguinho, se interligando desde o Centro, Aldeota, aos bairros Varjota, Papicu, Praia do Futuro. Outrora, somente uma ampla dimensão de terra virgem e inóspita formava a paisagem do Outeiro - hoje Aldeota - com alguns sítios, matagal espesso, cuja copagem, com predominância de arbustos, carrapicho-da-praia, servia de moradia das diversas espécies de pássaros - como os bem-te-vis-de-gamela, galos de campina, graúnas, sabiás, canários, da terra, dessa imensa fauna que os repetidos estribilhos despertavam novos moradores, tornando Aldeota essa “selva de pedra” que se ergue em desafio ao céu, mas, tudo isso tem clássico nome de modernidade.

Sabemos que muitas ruas e lugares mudaram a fisionomia da Aldeota. Mas se os tempos mudaram e tomaram rota diferente, sob certos aspectos, tornando desiguais as pessoas na concepção dos seus entendimentos, destinos e caminhos, somente Deus na Sua onipotência pode mudar o curso de todas as coisas ou perpetuar segundo Sua vontade, porque pode dispor e transpor -

Amém.

Zenilo Almada
Advogado






Crédito: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 23 de fevereiro de 2003


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