Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Rua Dragão do Mar
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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terça-feira, 1 de setembro de 2015

A nomenclatura numérica das vias públicas da Fortaleza antiga (Parte III)


Em 1890, de acordo com a resolução aprovada em 29 de outubro daquele ano pelo Conselho da Intendência, foi implantada a nomenclatura das vias públicas da cidade.

Na relação abaixo, adotei o seguinte ornamento:

  • Em primeiro lugar o número atribuído à via pública;
  • Em segundo, o nome atualmente adotado;
  • Em terceiro, o nome possuído na ápoca em que se passou a usar a nomenclatura numérica.

Travessas Ímpares

Nº 01 - Avenida Duque de Caxias e Heráclito Graça - Boulevard Duque de Caxias e do Livramento.

Avenida Duque de Caxias - Arquivo Nirez

Nº 03 - Pedro I - Da Alegria e D. Pedro, em 1888.

Fotógrafo na Praça Murilo Borges (BNB) olhando-se para a rua Pedro I.

Nº 05 - Pedro Pereira - Dr. Pedro Pereira, em 1856 era da Amélia e em 1888, São Bernardo.

Fotógrafo na rua Pedro Pereira, vendo-se o BEC dos peixinhos. Foto de 1973.

Nº 05A - Pinto Madeira - Do Córrego, chamou-se da Cavalaria e do Pajeú.

Cruzamento da Rua Pinto Madeira com a Avenida Visconde do Rio Branco. À direita o muro do Parque da Liberdade. Arquivo Nirez

Nº 07 - Liberato Barroso - Comendador Luiz Ribeiro. Foi Travessa Formosa, das Trincheiras e, em 1933, Conselheiro Liberato Barroso.

Quarteirão recém aberto da rua Liberato Barroso na década de 30.

Década de 30.

Cruzamento da rua Liberato Barroso com a Barão do Rio Branco 
na década de 50. Arquivo Nirez

Nº 07A - Franklin Távora - São Luiz.

Rua Franklin Távora, entre Rua Dona Leopoldina e a Rua Rodrigues Júnior.
Arquivo Nirez

Nº 07B - Pedro Borges - Do Cajueiro, em 1888 era Dr. Pedro Borges.

Igreja Presbiteriana, esquina da rua Pedro Borges, com a rua Sena Madureira. A igreja foi comprada pelo Grupo CRolim e demolida em 1976.

Nº 09 - Guilherme Rocha - Municipal, foi Cel Guilherme Rocha e, em 1912, 24 de Janeiro.




Nº 09A - Avenida Santos Dumont - Do Colégio, em 1933 era Avenida Nogueira Acióli.

Casa construída na década de 30 na Avenida Santos Dumont, entre a Rua José Lourenço e a Avenida Barão de Studart. Foi residência de Antônio Augusto Alves. Marciano Lopes 

Avenida Santos Dumont, subida para a praia em 1972. Acervo Márcio Mamede

Antiga mansão na Avenida Santos Dumont,1122. Residência do General Eudoro Correia. Marciano Lopes

Nº 11 - São Paulo e Visconde de Saboia - Da Assembléia, em 1802 era Travessa da Tesouraria e, em 1856, Travessa dos Belos.

Rua São Paulo - Meados dos anos 50.

Carro com Paulo Sarasate desfila na rua São Paulo, em frente ao Museu do Ceará. Acervo Antônio Paiva Rodrigues.

Nº 11A - Costa Barros - Do Sol. Em 1877 era Aurora, em 1933, Uruguai.

Nº 13 - Senador Alencar - Foi denominada Travessa das Hortas em 1856.

Rua Senador Alencar esquina com a Floriano Peixoto - Arquivo Nirez 

Nº 15 - Castro e Silva - Senador Castro e Silva e, em 1828, era das Flores.


Nº 15A - Pereira Filgueiras -  Do Paço.

Nº 15B - Rufino de Alencar e Tenente Benévolo - da Ponte e da Conceição; o trecho da ao Seminário era da Ponte e a Tenente Benévolo, quase sua continuação, era rua da Conceição. O trecho da Rufino de Alencar era também conhecida como Corredor do Bispo e, em 1856, era Travessa da Bica.

Praça Cristo Redentor, vendo se a rua Rufino de Alencar 
(tracejada de vermelho) - Arquivo Nirez

O Casarão dos Vieira na rua Rufino de Alencar

Nº 17 - João Moreira - Da Misericórdia. Em 1828 era Nova de Fortaleza, em 1855 do Quartel e em 1933, Dr. João Moreira.

Antiga Rua da Misericórdia 


Nº 19 - Senador Jaguaribe - Avenida Jaguaribe, em 1879 era do Gasômetro.

Rua Senador Jaguaribe em foto tirada entre os anos 50/60 - Arquivo Nirez


Rua Franco Rabelo, que hoje fica no leito da Avenida Leste-Oeste. Lá se concentrava o baixo meretrício, ou seja, era um tipo de cabarés da mais baixa classe. Arquivo Nirez

Nº 19B - José Avelino - Singlehurst, chamava-se do Chafariz e General Mesquita, em 1933.

Empresa Machado Araújo, Exportadora de Cera de Carnaúba -Rua José Avelino,100. Arquivo IBGE

Nº 19C - Dragão do Mar - Da Alfândega.

Prédio da extinta Superintendência de Obras do Estado do Ceará (SOEC) na Rua Dragão do Mar, 81. Acervo de Manoel Enéas Alves Mota.

Nº 21 - Avenida Pessoa Anta - Da Praia e Caminho da Praia, em 1908.

Avenida Pessoa Anta - Arquivo Nirez

Travessas Pares

Nº 02 - Clarindo de Queiroz - do Livramento e General Clarindo, em 1933.

Rua General Clarindo de Queiroz, entre as ruas Barão do Rio Branco e Senador Pompeu. A praça a frente é a Clóvis Beviláqua. Arquivo Nirez

Nº 04 - Meton de Alencar - São Sebastião e Dr. Meton de Alencar, em 1933.

Rua Meton de Alencar,primeira quadra após a Av. Visc. do Rio Branco. 
Acervo Ivan Gondim

Oscar Gondim na primeira quadra da rua Meton de Alencar, início da década de 60. Acervo Ivan Gondim

Nº 06 - Antônio Pompeu - Foi também Dr. Antônio Pompeu.

Fábrica Santo Antônio na Rua Antônio Pompeu.

Nº 08 - Domingos Olímpio -  Dos Coelhos.

 Domingos Olímpio na altura da Tristão Gonçalves em 1998.
Acervo Alex Mendes

Nº 10 - Quixadá - Bonfim e também conhecida como Tristão Gonçalves, segundo João Nogueira.

Leia também:


Fonte: Livro Fortaleza Somos Nós - Aurileide Silva/Sara Braga

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Prainha de outrora... Parte III


Rua Dragão do Mar

Em pequena casa que tem hoje o nº 198 da rua Dragão do Mar e os números 117 a 119 da rua Almirante Jaceguai, moravam as velhinhas Mariana e Demétria, irmãs de Telésforo de Abreu, ocupante da Casa Boris, como ficou registrado aqui quando foi feita referência a uma das peraltices de Gustavo Barroso.


Casa Boris em 1921. Vista fronto-lateral do prédio - Foto Pierre Seligman

Casa vizinha a essa foi uma das residências do pai do futuro constituinte e deputado federal Luis Cavalcante Sucupira, este enquanto solteiro.  No local atualmente se levanta um sobrado (nº 2012 da Rua Dragão do Mar), onde instalada estava a firma H. B. Transportes.


Rua Dragão do Mar

Do lado leste deste prédio havia um armazém de peles e couros de IONA e CIA, empresa do industrial pioneiro Delmiro Gouveia, cujo gerente era o futuro capitalista José Magalhães Porto, que viria a ser tesoureiro da Liga Eleitoral Católica (LEC), pai do médico José Porto Filho (Zebinha) e avô de Dona Miriam Fontenele Porto Mota, esposa do governador Luis de Gonzaga Fonseca Mota. Em 1983 era um sobrado desocupado e a alugar. É o nº 218 da rua Dragão do Mar.


Rua Dragão do Mar

Prosseguindo na direção leste da rua, encontramos o prédio que tem o nº 242. Pertencia a D. Maria Pio, esposa de José Pio, construtor do primeiro bungalow de Fortaleza, na Praça Cristo Redentor.

Na esquina sudoeste das ruas Dragão do Mar (antiga da Praia e da Alfândega) e Senador Almino (antiga do Arrecife) levanta-se o prédio assobradado em que nasceu e viveu por muitos anos o grande intelectual Araripe Júnior. Tem hoje os números 316 e 322 da Rua Dragão do Mar. Merecia melhor tratamento da parte dos poderes públicos.


Araripe Júnior

Em frente, esquina noroeste das ruas Dragão do Mar e Senador Almino, sem numeração, permanece a casa em que morou Francisco José do Nascimento, o "Chico da Matilde", que tomaria a alcunha de "Dragão do Mar" pelo papel saliente desempenhado junto à capatazia quando do movimento em prol da Libertação dos escravos. Triste destino o deste prédio: abrigou, depois, o Cabaré da Emília Costa

Na esquina nordeste das referidas artérias, em casa que tem o nº 345, morava um cidadão que era conhecido pelo apelido de Precabura. Devia ter vindo de lá, o aprazível recanto das imediações de Messejana.

Relativamente à fronteiriça face sul da rua Dragão do Mar, fique assinalado que se eleva a casa de nº 366, em cujo frontispício se acha registrado o ano de 1925.

Adiante, outra casa, de nº 372, da mesma rua, com o ano de 1929 inscrito em sua frente.
Depois, a casa de nº 380, com o ano de 1928 em sua testada.

Podemos ver, a seguir, a casa de nº 418, com a indicação do ano de 1920, naturalmente o de sua reforma porque muito antes era habitada por José Sérgio de Melo Rabelo, primo do Coronel Franco Rabelo e depois sogro do futuro constituinte e deputado federal Luis Cavalcante Sucupira, cuja família morava nas imediações. Nesta casa Sucupira residiu, após casado, até quando se mudou para o Rio de Janeiro, em 1920.


 Luis Cavalcante Sucupira

Em casa que ainda se acha de pé e exibe em sua fachada o ano de 1914, hoje nº 422 da rua Dragão do Mar, morou o major Peregrino Montenegro, casado com uma irmã do jornalista Matos Ibiapina, diretor de 'O Ceará', jornal de forte conotação anti-religiosa e antigovernamental. Filho desse casal é o jornalista Alci Ibiapina Montenegro.

Na casa ao lado dessa última, atual nº 430 da rua Dragão do Mar, morava o carpina Júlio Bernardo da Silva, construtor das primeiras carrocerias de caminhão no Ceará. Estava abandonada, com o quadrado das antigas janelas fechadas a tijolo.

A casa a leste dessa última, hoje nº 454 da mesma rua, abrigou também, enquanto solteiro, o futuro constituinte e deputado federal Luis Cavalcante Sucupira, pois, durante certo tempo, serviu de residência a seus pais.


Rua Itapipoca

Como que fechando a atual rua Itapipoca, antigo Beco do Sabóia, existe a casa de nº 462 da rua Dragão do Mar. Nela morou Ademar Bezerra de Albuquerque, fundador da Aba Filme. Era funcionário do London Bank e fotógrafo amador, depois profissionalizando-se.


Ademar Bezerra de Albuquerque

Segue-se a essa casa uma outra, de nº 464, que servia de residência do pai do futuro comerciante Manuel Gentil Porto, este neto e aquele genro do coronel José Gentil Alves de Carvalho, fundador da família Gentil.

Finalmente, a rua finda com um sítio pertencente a Manuel Porto.

Encerrando esta viagem sentimental por um bairro decadente, que abrigou gente tão boa, aparece-me que prestei algum serviço a memória da cidade, fixando para sempre coisas que a história, preocupada mais com os grandes acontecimentos, jamais guardaria. Convicto me acho de que as informações aqui prestadas são fidedignas, decorrentes de fontes seguras e sérias, uma das quais foi o próprio Luis Cavalcante Sucupira, cuja colaboração sinceramente agradeço.


Mozart Soriano Aderaldo

Fim

Parte I
Parte II

Fonte: Prainha, um bairro decadente - Mozart Soriano Aderaldo

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A Prainha de outrora... Parte II


Avenida Monsenhor Tabosa na década de 60 - Arquivo Nirez

Prosseguindo na jornada e tomando o rumo leste, localizamos na atual Avenida Monsenhor Tabosa uma casa em que residiu a família de D. Nenem Bezerra de Menezes, que se casaria com o respeitável clínico cearense Dr. João Otávio Lobo, hoje nome de rua. E já na esquina com a rua Senador Almino, nos deparamos com um grande prédio atualmente subdividido em várias lojas, onde se situava a residência do comerciante Vicente de Castro, correspondente aos atuais nºs 83 a 139, com outros de permeio.


Seminário - Arquivo Nirez

No primeiro quarteirão, face sul, da Avenida Monsenhor Tabosa, foi construído o prédio do Seminário Diocesano, e, completando a quadra, com o oitão para a Praça Cristo Redentor, foi levantada a Igreja da Conceição da Prainha ou do Seminário.


Monumento Cristo Redentor - Arquivo Nirez

Círculo Operário São José

Quanto a praça, antes de 1915 a sua face oeste praticamente não existia, ocupada por casebres, motivo pelo qual foi fácil levantar o então suntuoso prédio do Círculo Operário São José, uma das primeiras e mais felizes iniciativas do 3º bispo do Ceará e 1º arcebispo de Fortaleza, Dom Manuel da Silva Gomes, que empresta seu digníssimo nome a uma das principais avenidas de nossa terra, que aliás tem início naquele logradouro. No centro da praça, foi erguida, em 1922, uma coluna com a imagem de cristo Redentor no seu ápice, abençoando a cidade com um de seus braços e segurando uma cruz com o outro. Segundo informações recolhidas, essa coluna foi construída em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, por inspiração de Raimundo Frota, grande benfeitor do Círculo Operário, que concorreu para a construção do monumento com quarenta mil tijolos. O Círculo tomou a si essa tarefa e convocou os mestres Antônio Machado, Domingo Reis e Severino Moura, este último mais conhecido por "Chuva Branca", todos homens piedosos, vicentinos e terceiros franciscanos. Sem a assistência de engenheiros e arquitetos, o belo monumento provocou no Rio de Janeiro a maior admiração, através de apreciações de técnicos, em revistas especializadas. A coluna foi inaugurada a 7 de setembro de 1922. Enquanto os foguetes espocavam, os quatro novos sinos da Igreja da Prainha badalavam, dentre os quais o "Centenário".


Vista aérea da década de 20 ou 30 - Arquivo Nirez


Na ocasião pôs-se em movimento o relógio de quatro faces, depois retirado por inativo, em consequência da oscilação da coluna, e vendido à Igreja dos Remédios, no Benfica. A coluna teve seus dias gloriosos, costumando Dom Manuel da Silva Gomes celebrar, em dias especiais, na capelinha que lhe servia de base, enquanto a imagem era iluminada à noite até que, durante a 2ª Guerra Mundial, as autoridades militares impuseram a retirada das lâmpadas por questão de segurança pública, com a promessa de voltar ao que era no devido tempo, o que infelizmente não ocorreu. Aos domingo e dias festivos era franqueada a subida até o topo da coluna, através de escada interna em espiral, de onde se descortinava belo panorama da cidade e do mar. A imagem de Cristo Redentor infundia segurança em todos, aos de baixo e aos de cima.


A inauguração do monumento Cristo Redentor em  7 de setembro de 1922 - Livro Terra Cearense 1925

Descendo a Ladeira da Prainha, hoje rua Almirante Jaceguai, com fundos para o quintal da casa do Barão de São Leonardo e formando a esquina sudeste da referida ladeira com a rua do Chafariz, hoje José Avelino, tínhamos a casa de D. Benvinda e "seu" Floriano, primos do grande cearense Gustavo Barroso (menininho ao lado) que, em suas "Memórias", relembra inúmeras peraltices por ele praticadas sob a proteção de quem muito o estimava. Hoje, o prédio tem o nº 480 da rua José Avelino e 174 da rua Almirante Jaceguai. O primeiro volume daquelas deliciosas reminiscências, intitulado Coração de Menino, conta o que se passou numa segunda "Noite das Garrafadas" (ps. 256 a 264), assim chamada porque o irrequieto cearense resolveu reagir contra o chicote do português Chico Bracinho, carroceiro de Joaquim Amâncio Farias, residente em casa do bairro. O lusitano embirrava com os meninos que trepavam na traseira de sua carroça. Uma de suas chicotadas atinge Gustavo e este trama vingança. Arma-se de uma garfo velho que servia para revirar o adubo das roseiras da casa dos primos e convida para a desforra do caboclo João Pacheco, munindo-o de cacete, e o incita a vingar a honra cearense ultrajada por um ultramontano. Seria outra "Noite das Garrafadas". Na hora aprazada, os dois desafiam o português. Este reluta, prudentemente: que fossem para casa e deixassem de provocações com quem estava quieto. Os desafios continuam e o carroceiro, afinal, investe contra os provocadores, "com qualquer coisa branca na mão". Gustavo enfrenta-o e enfia-lhe o garfo na coxa. O homem solta um berro e, erguendo a acha de pau-branco que trazia, desce-a sobre Gustavo, que se desvia em tempo, recebendo apenas um raspão da cacetada que, mesmo assim, lhe endurece o pescoço por vários dias. João Pacheco apavora-se e falha na defesa do amigo desfalecido. Limita-se a pedir socorro à vizinhança, sendo Gustavo levado à casa dos primos para os primeiros curativos. Seus parentes nada dizem ao pai, avó e tias de Gustavo, enquanto o carroceiro vai tratar-se na Santa Casa. Encerrando sua lembrança do episódio, o escritor cearense dogmatiza: "A violência do Chicote provoca a violência do garfo, que provoca, por sua vez, a violência da acha de lenha. Felizmente pára aí. A violência somente gera a violência." O carroceiro demora no tratamento da ferida que supurou, escapando por milagre do tétano num tempo em que não se conheciam as injeções antitetânicas. Floriano, ao final, abraçou Gustavo, dizendo: "Eta bichinho bom! De garfo, não! Nunca mais! Mas vá tocando o pau, quando puder, e conte comigo que garanto a retirada. Desaforo não se traz para casa. Prega-se na cara de quem o fez. É melhor morrer do que viver desonrado."


Na rua Almirante Jaceguai, ficava essa casa, que era residência de Mister Hull

Ainda tendo por base a casa dos primos na Prainha, Gustavo armou outras, uma das quais narra no capítulo intitulado "O Mascarado" da publicação Liceu do Ceará, segundo volume de suas recordações (ps. 191 a 194). Próxima à residência de seus primos havia uma casinha, esquina nordeste das ruas Almirante Jaceguai (continuação, para o norte, da Ladeira da Prainha), e Dragão do Mar (antiga rua da Praia ou da Alfândega). Nela viviam modestamente duas irmãs de Telésforo de Abreu, Mariana a mais velha, viúva de um veterano da Guerra do Paraguai, e Demétria, solteirona. Telésforo de Abreu era um dos mais ricos habitantes do bairro da Prainha, cuja suntuosa casa, ficava no primeiro quarteirão da rua Boris, face leste, olhando para a sede da empresa que deu nome à essa rua, foi posteriormente ocupada por Bertrand Boris, quando este chegou ao Ceará


Rua Boris do Álbum Vistas do Ceará 1908

Casa Boris - Acervo de Carlos Juaçaba

Floriano, primo de Gustavo, costumava dar boa noite às duas irmãs de Telésforo e aceitar um cafezinho bem quente, certamente torrado em casa, que as duas lhe ofereciam. Determinada noite, sabendo Gustavo que o parente fora ao centro da cidade, escurece o rosto com cortiça queimada, arranja barba postiça, veste roupa do primo e enterra surrado chapéu de feltro na cabeça, indo à casa das velhinhas passar um trote. Dá-lhes boa-noite, como se fosse Floriano, mas, momentos depois, vêem as boas velhas o logro em que caíam e botam a boca no mundo, gritando: "Socorro! Um mascarado!"
A vizinhança corre pressurosa mas Gustavo, bom conhecedor do terreno, esgueira-se em tempo. Estranha-se o desaparecimento súbito do mascarado e nunca se esclarece o episódio. Somente Floriano, no dia seguinte, após tomar conhecimento dos fatos, diz reservadamente para Gustavo, batendo-lhe no ombro: "Foste tu!" E caem ambos na gargalhada.



Foto de 1900, onde vemos, a Casa Bóris, Alfândega e o antigo Porto de Fortaleza

Onde já funcionou a Capitania dos Portos (pequeno quarteirão entre as ruas José Avelino, Almirante Jaceguai, Almirante Tamandaré e Dragão do Mar) levantava-se a velha Alfândega. E, em diagonal com esta (esquina sudoeste das ruas Dragão do Mar, nº 207, e Almirante Jaceguai, nº 93), ficava a casa de Joaquim Amâncio Farias, de quem era carroceiro o português Chico Bracinho, já aqui referido como protagonista do episódio em que se envolveu Gustavo Barroso. Um dos filhos de Joaquim Amâncio, chamado José, integrava o grupo que depôs o Presidente do Estado, Antônio Pinto Nogueira Accioly, em 1912, tendo sido baleado no histórico dia 24 de janeiro daquele ano, de cujo ferimento faleceu. Outro seu filho, de nome Adalberto, foi para o Rio de Janeiro estudar Astronomia com um seu cunhado, Dr. Moritz, Diretor do Observatório Nacional. Vinha passar tempos nesta casa D. Ana Rabelo, tia do coronel Franco Rabelo, guindado à chefia do executivo estadual, em substituição a Accioly, e também destituído em 1914 pela Sedição de Juazeiro, sob a inspiração do Pinheiro Machado e do próprio Presidente da RepúblicaMarechal Hermes da Fonseca.


Continua...

Leia a primeira parte AQUI
Fonte: Prainha, um bairro decadente - Mozart Soriano Aderaldo

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