Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Das antigas
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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segunda-feira, 13 de abril de 2015

Especial Fortaleza 289 Anos - Uma História de Amor


Para comemorar o aniversário de Fortaleza, pedi aos leitores do  Fortaleza Nobre, que deixassem uma mensagem, que escrevessem o local que mais marcou sua vida, o lugar que ele mais gosta de está e qual o sentimento quando comparam o ontem e hoje da cidade amada.

Selecionei algumas dessas declarações de amor e saudade, mas vocês podem conferir todas na nossa página no Facebook.
Para melhor visualização, cliquem nas fotos para ampliar:












Agradeço a todos os leitores do Fortaleza Nobre pela preciosa contribuição!!!

Um mergulho na História

Em 26 de janeiro de 1500, de acordo com o pensamento do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, o Cabo de Santa Maria de la Consolación, onde esteve a frota do navegador Vicente Yañez Pinzón, seria a Ponta do Mucuripe. A tese é aceita e contestada por muitos historiadores.

Um mês depois de Pinzón, Diogo Lepe avistava o Rostro Hermoso (ponta do Mucuripe) e em seguida tomava o rumo de Pinzón.

Vicente Yañez Pinzón era um navegador espanhol, que à procura de conquistas, riquezas e especiarias, aventurou-se pelos mares, em procura das Índias, por caminhos mais curtos, em direção ao por do sol e em fevereiro de 1500 aportou nas areias do nordeste do nosso continente, onde cavou o chão do futuro Brasil e ergueu aos ventos ocidentais a cruz que assinalava sua passagem.

Hoje existe em Fortaleza um bairro com o nome de Vicente Pinzon.

No mês de agosto do ano seguinte, a expedição comandada por André Gonçalves e Gonçalo Coelho chegou à enseada do Mucuripe, tendo entre seus tripulantes Américo Vespúcio.

Em 1531, Martim Afonso de Sousa teria também estado por aqui.

Quando da divisão por D. João III, em 1534 do Brasil em Capitanias Hereditárias, foi doada a Antônio Cardoso de Barros, a que correspondia ao Ceará, ele porém não fez nenhum empenho em colonizá-la.

Também em 1536, aqui esteve Aires da Cunha.

Nossa costa foi dominada pelos franceses até 1600, sendo os primeiros a explorarem nossas riquezas.

A primeira vez que nosso solo teve contato realmente com a civilização foi em junho de 1603, quando Pero Coelho de Sousa aqui esteve, não com intuito civilizador, mas à procura de riquezas para cobrir perdas que teve na Paraíba, juntamente com seu cunhado, Frutuoso Barbosa.

Em sua andança, esteve no Mucuripe, onde encontrou uma tribo indígena, e seguiu rumo a Ibiapaba, mas vendo fracassado o seu intuito, voltou, fundando na barra do rio Ceará ou Itarema, um fortim ao qual batizou de São Tiago, chamando a região de Nova Lusitânia, que teria como capital Nova Lisboa.

Era uma tosca paliçada de paus de quina e algumas casinhas de taipa.

Mas logo Pero Coelho seguiu para Recife, deixando aqui Simão Nunes Correia, com 45 soldados.

Em 1605, Pero Coelho de Sousa volta, trazendo sua mulher Tomázia e os filhos, mostrando querer estabelecer-se definitivamente, mas em pouco tempo teve que voltar, por terra, para o Rio Grande do Norte, em virtude da deslealdade de João Saromenho, que desviava os recursos enviados pelo governador e também pela grande seca daquele ano que o deixou totalmente sem água.

1606 foi o ano em que o restante da seca do ano anterior assolou o Ceará e consequentemente também no local em que surgiria Fortaleza.

Em 11 de janeiro de 1612, é assassinado pelos selvagens do Ceará, na Serra da Ibiapaba, o jesuíta Padre Francisco Pinto os quais ele procurava catequizar. Foi sepultado no sopé da Serra da Ibiapaba e hoje se encontram em Parangaba.

No dia 20 daquele mês e ano, chega, do Rio Grande do Norte, com seis soldados e um padre, o açoriano Martin Soares Moreno que reconstruiu a fortificação que foi denominada Forte São Sebastião. Tinha amizade com os indígenas do Jaguaribe e depois foi até Camocim.

Jerônimo d'Albuquerque vem em 1613, encontrar-se com Martin Soares Moreno, e este segue para a conquista do Maranhão onde não foi feliz, sendo perseguido pelos franceses, chegando às Antilhas e dali seguindo para Sevilha.

Em seu lugar, fica Manuel de Brito Freire, por 14 meses.

Martim Soares Moreno volta em 1614 para Recife, onde se junta a novas forças, para atacar o Maranhão, onde fica comandando o Forte Cumá.

Finda a missão, volta à Europa.

Martim Soares Moreno é considerado o fundador do Ceará, pois começou aqui a colonização portuguesa, fixando-se por muito tempo na foz do rio Ceará, onde construiu o Forte de São Sebastião a partir de 1612, retirando-se em 1631, indo para Pernambuco combater os holandeses.

De lá voltou a Portugal.

Martim Soares Moreno é nomeado em 26 de maio de 1619 para dirigir a Capitania do Ceará, pelo prazo de dez anos, mas não tomaria posse naquele ano.

Em 1621, Martim Soares Moreno toma posse e reconstrói o Fortim de São Tiago, mas por falta de recursos, terminou por abandonar o forte e em 1631 estava em Pernambuco, para expulsar os holandeses.

No local deixado por Martim, ficou apenas uma pequena aldeia formada por casas de taipa, uma igrejinha e o fortim com quartel e armazém com um total de 30 pessoas, entre soldados e civis.

O Capitão-Mor Domingos de Veiga Cabral é nomeado capitão do forte em19 de julho de 1630.

Assume o cargo de capitão do forte, recebido das mãos de Matim Soares Moreno, seu tio, o Capitão-Mor Domingos de Veiga Cabral em 06 de janeiro de 1631.

Sai o parecer do Conselho Ultramarino em 14 de outubro de 1637, mandando extinguir o presídio do Ceará e levar os índios para o Maranhão.

Chega no forte e dele se apossa em 25 de outubro de 1637, uma expedição batava sob o comando do major Jorge Garstmann, com o auxílio do capitão Hendrick Van Hus, ficando no comando o tenente Van Ham, que é substituído por Gedeon Morris Jonge e em 1644, revolta indígena acaba por passá-los pelas armas.

No dia seguinte, Francisco Pereira da Cunha foi nomeado governador, mas o Ceará se achava em poder dos holandeses e houve nova nomeação, no dia 03/01/1641, mas como o domínio holandês continuava, tudo ficou sem efeito.

Desembarca no Mucuripe em 03 de abril de 1649, a segunda ocupação holandesa, comandada por Matias Beck, mas impedido pela arrebentação do mar, logo decidiu estabelecer-se à margem esquerda do riacho Marajaitiba (Pajeú), sobre o morro Marajaik, onde construiu com traçado do engenheiro Ricardo Caar, um forte, batizando-o de Schoonenborch em homenagem ao governador holandês em Pernambuco, a quem era subordinado, Walter van Schoonenborch.

A limpeza do terreno iniciou-se no dia nove e no dia 18 foi feita a planta.

Inicia-se a ampliação e reforço do forte, com planta feita também pelo engenheiro Ricardo Caar em 19 de agosto de 1649.

1652 foi o ano de grande seca em todo o Estado do Ceará e consequentemente no local onde surgiria Fortaleza.

26 de janeiro de 1654, ocorre a capitulação da Holanda, assinada na Campina do Taborda, entre os comissários mestre de campos general Francisco Barreto de Menezes e os do Supremo Conselho do Recife e do general em chefe holandês, sendo entregues as fortificações de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Em 20 de maio daquele mesmo ano, realizou-se a entrega do forte pelo comandante Joris Garstman ao capitão português Álvaro de Azevedo Barreto, cumprindo o tratado de paz celebrado entre Portugal e Holanda, em 1º de junho do mesmo ano.

Matias Beck era um jovem holandês que saiu de Amsterdam em abril de 1635 chegando em Recife como comerciante.

Em Recife tornou-se político e foi designado para vir tomar o posto em nossa terra, aqui chegando em 1639, construindo o forte Schoonenborch à margem do riacho Marajaitiba (Pajeú), com o intuito de prosseguir o domínio flamengo no Brasil e explorar as suas minas.

Hábil aventureiro era comandante do Regimento dos Burgueses, deputado à Câmara dos Escabinos do Recife, agremiação semelhante às câmaras municipais portuguesas no Brasil, cujos membros eram recrutados entre os homens de bem mais respeitáveis da localidade "repúblicos".

Era casado com Ana Hack e pai de seis filhos.

Quando deixou o Brasil foi para Curaçau onde ocupou o cargo de Vice-Governador, falecendo em 1668.Quando caíram os holandeses em Taborda, Pernambuco, fora nomeado o capitão-mor Álvaro de Azevedo Barreto, que aqui chegou em abril, com quatro companhias de soldados e duas de índios.

Sua nomeação foi feita pelo general Francisco Barreto e confirmada por Ordem Régia de 23 de novembro, mas no ano seguinte, no dia 13 de setembro, o rei dom João IV expediu a patente de capitão da Fortaleza do Ceará a Domingos de Sá Barbosa.


Recebeu o forte das mãos dos holandeses o português Álvaro de Azevedo Barreto, que fez alguns reparos e construiu uma ermida dedicada a Nossa Senhora d'Assunção, passando a chamar-se, o forte, Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção - Foi projetada e construída pelo tenente-coronel de engenharia Antônio José da Silva Paulet, iniciando-se em 12 de outubro de 1812 (pedra fundamental), sendo inaugurada em 1817, sem estar ainda pronta, o que só aconteceu em 1823, quando houve outra inauguração.

Na época, o Ceará era governado por Luís Barba Alardo de Menezes.

Após Álvaro de Azevedo Barreto, seguiram-se vários comandantes.

Em 1666, houve uma reforma feita por João Tavares de Almeida e em 1698 foi reconstruída com melhorias, pois até então era uma paliçada.

Em 1816 transformou-se finalmente numa fortaleza, levantada que foi em alvenaria de tijolo e cal, projetada pelo engenheiro Silva Paulet, na administração do governador Manuel Inácio de Sampaio.

27 de junho de 1656, pela Carta Régia, o Ceará passa do encargo da Capitania do Maranhão para a Capitania de Pernambuco.

A Rainha adota em 07 de dezembro de 1660, o parecer do Conselho Ultramarino, do dia 29 de novembro, concedendo permissão a João de Melo Gusmão para conduzir sua família ao Ceará, onde deveria assumir o governo.

Assume em 14 de dezembro de 1663, o governo da província do Ceará João de Melo Gusmão.

Em 21 de julho de 1671, assume o governo da província do Ceará, Jorge Corrêa da Silva.

Ordem Régia em 16 de fevereiro de 1699, resolvia sobre a construção de uma igreja, que foi a primeira capela-mor da Matriz de Fortaleza (Catedral), cuja construção foi autorizada por outra Ordem Régia, de 12/02/1746.

1701 é eleita a primeira Câmara no Iguape, tendo a denominação de São José de Ribamar, na foz do rio Pacoti.

Em 20 de abril do mesmo ano, a Câmara da Vila de São José de Ribamar resolve mudar a vila do lugar junto a Fortaleza para a Barra do Rio Ceará. A primeira vila do Ceará foi Aquiraz.

Petição popular pede a mudança da sede da Capitania para a vila de Aquiraz, em 1706, petição aceita em 26 de fevereiro do mesmo ano.

Cinco anos depois, em 23 de outubro de 1706, a Vila de Fortaleza é transferida, para a Barra do Ceará, "donde não devera ter saído", de acordo com a ordem do governador de Pernambuco.

Em outubro de 1708, volta a Vila de Fortaleza para as margens do Riacho Marajaig (hoje Pajeú).

Criada em 11 de março de 1723, a Vila da Fortaleza de Nossa Senhora d'Assunção do Ceará Grande.

Em 13 de abril de 1726, é instalada a Vila da Fortaleza de Nossa Senhora d'Assunção do Ceará Grande, desmembrada do Aquiraz, pelo capitão-mor Manuel Francês, o qual elegeu para juízes ordinários e vereadores da Câmara Antônio Gomes PassosClemente de Quevedo, Jorge Corrêa da Silva, Pedro de Morais e Souza e João da Fonseca Machado.


Fonte: Cronologia Ilustrada de Fortaleza de
 Miguel Ângelo de Azevedo



Parabéns, minha querida Fortaleza!!!





terça-feira, 10 de março de 2015

As casas senhoriais na Fortaleza da década de 40

Royal Briar - A Fortaleza dos anos 40
Marciano Lopes

Na década de 40, ainda não havia apartamento em Fortaleza, muito menos as hoje cobiçadas “coberturas”sinônimos de status da sociedade emergente e símbolo maior dos novos-ricos. Naquele tempo, as famílias tradicionais moravam em grandes e confortáveis casas que podiam ser classificadas como palácio, palacete, mansão, solar ou, pelo menos
num caso especial, castelo

(Foto ao lado do acervo de Raimundo Gomes)


Riquíssimo e de gosto requintado, Plácido de Carvalho fez construir o que se pode classificar como uma das mais monumentais residências do Brasil, o Palácio Plácido, na Aldeota, antigo Outeiro. Ocupando uma quadra, entre as atuais ruas Carlos Vasconcelos, Monsenhor Bruno, Costa Barros e a Avenida Santos Dumont.
Castelo, era o de Plácido de Carvalho, na Aldeota, construído para agradar sua mulher, Maria Pierina Rossi, italiana, de Milão, que, nostálgica da pátria distante, teve sua
saudade amenizada pelo suntuoso castelo que seu marido fez construir no local onde a Aldeota ainda era uma floresta de cajueiros. Essa singular moradia, copiada de um castelo de Florença, a partir de informações de Pierina, foi criminosamente demolida nos anos 70, porém, mesmo com tão bestial ato de vandalismo, continuará a ser, pelos anos afora, a mais monumental residência da região.


Castelo do Plácido em foto de A. Capibaribe Neto
No Benfica, espécie de feudo da família Gentil, estava o aristocrático Palacete Gentil, morada do banqueiro e comerciante José Gentil, com suas elegantes varandas, suas colunas coríntias, seus amplos terraços, vastos jardins com estátuas e vasos vindos da Europa. Também no Benfica ficava a residência de Antonio Gentil, bem como as de José Thomé de Sabóia e de inúmeros outros milionários da época, como a família Manços Valente, que ocupava bonito solar, logo no início da Avenida Visconde de Cauípe. Essa senhorial moradia tinha até  capela. De pé, restam o palacete de José Gentil, hoje abrigando a reitoria da Universidade Federal, e o solar dos Manços Valente, sediando, presentemente, o Convento Santa Rosa de Viterbo, cujas freiras adulteraram a fachada da capela.


Palacete  de José Gentil - Arquivo Nirez

A maravilhosa mansão de joão Gentil, no Benfica. O extenso mangueiral a se
perder de vista cedeu lugar, mais tarde, ao bairro da Gentilândia e à constru-
ção do estádio Presidente Vargas, Escola Técnica Federal e Ginásio Aécio de Borba entre outros prédios.
Vizinha a residência dos Manços Valente ficava a casa de Rufino de Alencar, exatamente na esquina da avenida Visconde de Cauípe com a rua Antonio Pompeu. Estreita e sinuosa ocupando faixa mínima de terreno, era diferente e graciosa. A pouca largura foi compensada com um térreo, quase porão, o andar social e uma torre vigia. Na varanda muito estreita, eu via, ao passar, a bela Ruth de Alencar, os imensos olhos Verdes contemplando o mundo que passava à sua frente. Transformada numa loja da maçonaria,
ganhou um "banho" de falsa faiança e tantos detalhes de mau gosto, inclusive um horroroso galo de cimento, pintado de branco com crista vermelha, além de umas indecorosas flores em relevo, que a casa pode ser vista, agora, como um verdadeiro monumento ao antiestético. De qualquer forma, a construção permanece inalterável na sua forma original e merece louvores o belo e artístico portão de ferro, cuja origem desconheço.


Arquivo Nirez
Na antiga Praça da Bandeira, atual Praça Clóvis Beviláqua, há o palacete do Barão de Camocim, que já esteve ocupado por sua neta, Carmen, viúva do doutor Lauro Chaves.
Embora adulterado em sua fachada, que recebeu chapisco, numa reforma efetuada em 1945, não perdeu sua nobreza e seu interior guarda verdadeiras preciosidades em móveis, lustres e tantos objetos de materiais finos, todos adquiridos na Europa, onde o barão residiu por algum tempo.


Casa do Barão de Camocim - Acervo MCals
O bairro de Jacarecanga, que até os anos 40 era o mais aristocrático da cidade, possuía um conglomerado de magníficas moradias, sobressaindo-se a casa de três andares de Pedro Sampaio; e o monumental palacete de Thomás Pompeu Sobrinho, com 38 cômodos, localizado na Avenida Francisco , 1801, logo após a praça do Liceu. Copiado de uma residência de Portugal, na sua construção foram empregados os mais nobres materiais, quase tudo importado do Velho Mundo. Até os azulejos e o cimento vieram de Portugal. A sala de jantar tem as paredes revestidas de peroba e o piso de sucupira. Todo o madeiramento do telhado é de maçaranduba. Construída em 1924, a moradia, ainda em poder dos descendentes do seu autor, possui preciosidades em móveis, lustres e pratarias no mais autêntico art nouveau.


Casa de três andares de Pedro Sampaio em frente a Praça do Liceu. Arquivo Nirez

Palacete de Thomás Pompeu Sobrinho na Avenida Francisco Sá - Hoje é uma escola de arte

Na mesma avenida Francisco Sá, existia a linda casa de Luiz Correia, já demolida, e o casarão de Florival Seraine, transformado em repartição pública, porém,
ameaçando ruir, devido a falta de manutenção. Em 1929, o advogado Raimundo Brasil Pinheiro de Mello construiu sua casa na avenida Coronel Filomeno Gomes, a partir de uma revista alemã. Graciosa e simpática, possui todas as características das moradias alemãs, inclusive o telhado inclinado, para “escorrer a neve”.


Solar de Luiz Moraes Correia nos anos 40

Raimundo Brasil Pinheiro de Mello 
Magnificamente conservada, tanto na sua estrutura quanto nos móveis e adornos, continua em poder dos descendentes de Raimundo Brasil Pinheiro de Mello, residindo, ali, sua viúva, dona Guiomar, e sua filha, Maria Luíza. É a casa de número 836 da Avenida Coronel Filomeno Gomes.
Na Praça do Liceu, diversas casas de belo estilo não existem, demolidas que foram para dar lugar a feios prédios de apartamentos. Da mesma forma, os soberbos casarões que
conferiam dignidade a rua Guilherme Rocha, entre as praças da Lagoinha e do Liceu, foram postos abaixo, pelo descaso ou pela especulação imobiliária. Assim como o desprezado palacete da esquina da rua Padre Mororó, onde funcionou a Secretaria de Educação e Saúde, nos anos 40/ 50; o palacete do coronel Hortêncio de Medeiros, ocupado pela Procuradoria da República e a Itapuca Villa, abandonada desde 1946, quando faleceu seu titular, Alfredo Salgado. Símbolo da grandiosidade das moradias do passado, sofreu os efeitos do abandono, em tantas décadas, bem que o Governo do Estado poderia ter feito o tombamento daquela outrora soberba vivenda, transformando-a numa fundação cultural, inclusive, num museu da abolição, quando se sabe que foi Alfredo Salgado, apesar de homem de vasta fortuna, um abolicionista dos mais ardorosos.


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Palacete demolido no cruzamento da rua Padre Mororó com Guilherme Rocha

Rico e de muito bom gosto, Alfredo Salgado desejou o melhor para construir
sua mansão, a ltapuca Villa, na rua Guilherme Rocha. Todos os materiais vieram
do exterior, inclusive as madeiras. Periodicamente viajava a Europa para contratar novos jardineiros. A ltapuca Villa era um dos orgulhos de Fortaleza.
Tombada pela Prefeitura de Fortaleza, a Villa Morena, antiga residência da família Porto, na beira do mar, na Praia de Iracema, é graciosa e diferente na sua concepção. Toda de taipa, desafia os anos, já foi clube dos soldados americanos, durante a Segunda Guerra Mundial. Desde então, é o Bar e Restaurante Estoril, reduto da boemia intelectual e artística da cidade.
A mansão, que atualmente é ocupada por um posto da Previdência Social, na esquina da Avenida Tristão Gonçalves com a rua Antonio Pompeu, era a residência de Renato Silva e Yeda Markan Silva. Depois, foi moradia da família Carlos Jereissati.


Arquivo Nirez
Uma das mais grandiosas fachadas de Fortaleza é a da mansão da família Carlito Pamplona, na rua 24 de Maio, entre Meton de Alencar e Antonio Pompeu. Continua como residência da viúva do seu titular, inalterada, pelo menos no seu exterior.
A vetusta casa da família Thomás Pompeu, na praça da Lagoinha, lado da Avenida do Imperador, é outra que se mantém inalterada, pelo menos em sua fachada de aspecto soturno, não só pelas linhas arquitetônicas de inspiração inglesa, como pela pátina de tantos invernos. Mas é na sua sisudez que está seu aspecto de aristocracia.



Casa da família Thomaz Pompeu na avenida do Imperador
A mansão de Meton de Alencar Pinto, na esquina das ruas Senador Pompeu e Antônio Pompeu, é um belo exemplo de como uma residência, que conta várias décadas, pode
ter a aparência digna e jovial. Ali, tudo está igual a década de 40, até nas sebes do jardim. 


Mansão Meton de Alencar Pinto
Mas, corno nem sempre a sensibilidade, o bom gosto e o amor ao passado são características da nossa gente, lamenta-se que o célebre Solar dos Távora, na esquina das ruas Sena Madureira e Visconde de Saboia, esteja transformado num monstrengo. Palco deformado de memoráveis acontecimentos da política, permitiram que aquela nobre residência fosse totalmente mutilada para abrigar uma loja de materiais de construção. Com seus móveis, quadros, biscuíts, estatuetas, pratarias, lampadários e tantas outras preciosidades, quem entrava ali tinha a nítida impressão de estar ingressando numa
sóbria morada belga ou francesa do século XIX. A atmosfera era perfeitamente europeia, no romantismo de suas peças de arte, na tranquilidade que parecia emanar de tudo. Por que os descendentes do velho Fernandes Távora não tiveram a ideia de transformar aquele solar numa fundação da família e, assim, perpetuar o nome de seus maiores?


O austero solar dos Távora, na esquina da rua Conde D'Eu (antiga rua dos Mercadores) com rua Visconde de Saboia. Um recanto da Europa no centro de
Fortaleza. E cenário de importantes decisões da política local e nacional. 
Quando ser chic era habitar grandes e aristocráticas casas, com amplos espaços, jardins e pomares, Arlindo Gondim fez construir seu palacete, encravado em vasto terreno da rua General Sampaio, entre o Boulevard Duque de Caxias e a rua Pedro Ido “lado da sombra”. Casa elevada, com porão e elegante escada externa em bonito trabalho de mármore, inclusive o corrimão, tem como detalhe mais bonito a varanda fechada que se estende por toda a extensão da ala esquerda daquela moradia.
Espécie de chácara, fartamente arborizada, teve seus espaços externos sacrificados em benefício de um estacionamento de veículos. A casa, que permanece quase intocada,
ainda é habitada por membros da família. 


Palacete na rua General Sampaio, entra a Duque de Caxias e a Pedro I
A casa de Carlos Jereissati, na praia do Meireles, precisamente na esquina das avenidas Getúlio Vargas (Beira-Mar) e Rui Barbosaainda pode ser contemplada e não sofreu grandes alterações em sua estrutura, muito embora, sem utilização como residência, há vários anos. É símbolo das suntuosas casas de veraneio que as famílias abastadas de Fortaleza mantinham na Praia de Iracema e adjacências, nos idos de 40.


No meio do quarteirão da rua General Sampaio, entre as travessas Guilherme Rocha e São Paulo, estava o maravilhoso solar da família Theophilo. Possuía jardins laterais, com
gradeados e portões de ferro e seus salões ostentavam, além de magníficos lustres Baccarat, muitas obras de arte, inclusive, retratos a óleo, de membros da família, em ricas molduras de talha dourada. Ha alguns anos, passou a ser escritório de uma empresa comercial e entrou em processo de decadência. Atualmente, totalmente adulterada, a construção quase mais nada ostenta da sua antiga nobreza, exceto meros relevos na fachada.
O palacete de Raimundo Gomes de Mattos, na rua 24 de Maio, entre as travessas Liberato Barroso e Pedro Pereira, tinha sua bela fachada desgastada pelo tempo, acho que para fazer contraste com o soberbo lustre de cristal emoldurado pela janela do salão principal. Seus assoalhos eram do mais autêntico pinho-de-riga, e os jardins eram verdejantes e bem cuidados. Foi demolido para dar lugar a um restaurante popular do SESC, como se não existisse outro local, no Centro, para sediar tal estabelecimento. 


O palacete de Raimundo Gomes de Mattos
Moradia de linhas aristocráticas e erguida com materiais nobres, além de contar com acabamento primoroso e detalhes sofisticados, era a residência de Fausto Cabral, na Avenida Barão de Studart. Depois de servir como residência da família Cabral, funcionou, durante alguns anos, como sede oficial do Governo do Estado, já abrigou o Museu Histórico e Antropológico do Ceará e, atualmente, abriga o Museu da Imagem e do Som - MIS . Notável a prática e funcional distribuição de suas peças. 
Quando a Avenida Duque de Caxias era uma das mais aristocráticas e simpáticas vias de Fortaleza, destacava-se, em sua paisagem bucólica, o palacete do doutor Leite Maranhão, encravado na esquina daquele Boulevard, com a rua 24 de Maio. Diferente e aconchegante, tinha inúmeros detalhes externos que chamavam a atenção, tais como pequenos terraços, varandas, nichos, chafarizes, telhados em vários níveis. Altaneiros pés de eucalipto, em seu minúsculo jardim, emprestavam-lhe a elegância própria das moradas nobres. Depois de um curto espaço em que sofreu abandono e decadência, foi demolido.


Residência de Fausto Cabral hoje abrigando o MIS
Certamente influenciado pelos suntuosos bangalôs de Hollywood, o milionário Checo Diogo fez construir o seu na aristocrática Avenida do Imperador, entre as travessas Liberato Barroso e Pedro Pereira. Todo vermelho, tinha imponente terraço no piso superior e ricas eram as suas portas internas, no melhor cristal bisotado. Com jardins bem tratados e a pintura vermelha de sua fachada, sempre retocada, era um atestado de bom gosto. Ainda existe, funcionando como colégio, o que muito o dilacerou.


Bangalô do milionário Checo Diogo. Hoje funciona um colégio 
Gigantesco era o palacete do milionário Waldir Diogo de Siqueira, na esquina das avenidas Tristão Gonçalves e Duque de Caxias. Tinha porão, em toda sua extensão e um único piso social. Sem ter fachada muito rebuscada, chamava a atenção pelo grande número de portas com sacadas de ferro, principalmente no oitão que compreendia a avenida Duque de Caxias. Ao número dessas portas correspondiam as “vigias” do porão. Demolido, deu lugar a uma construção moderna que abriga um fórum trabalhista.

Na rua Barão do Rio Branco, local onde está agora, o prédio das Lojas Americanas, ficava o sobrado dos Paula Pessoa. Sua última ocupante foi dona Eloah, solteirona e monarquista intransigente que reinava, absoluta, no velho, mas simpático solar. Ainda nos anos 60, saia para a missa, na igreja do Rosário, toda de preto e com chapéu. Ficava indignada com as propostas de compra do seu sobrado e dizia que o mesmo só seria demolido se ela estivesse morta. Infelizmente, seus herdeiros não tinham a mesma sensibilidade e, tão logo a titular do belo solar faleceu, este foi vendido e, consequentemente, demolido, dando lugar ao popular magazine.

Muitas outras casas nobres tinha Fortaleza, na década de 40. Casas senhoriais, aristocráticas, símbolos de uma época de requinte, quando as famílias sabiam fazer tradição, porque havia cultura, bom gosto, refinamento, berço. Muitas dessas moradias foram demolidas, outras mutiladas, outras, simplesmente, estão fechadas, abandonadas, decadentes, como que chorando, na escuridão e no silêncio, a saudade dos tempos
de faustos e de luzes.  

Créditos/Fonte: Livro Royal Briar de Marciano Lopes, Arquivo Nirez, Pesquisas na internet, Google Earth, Arquivo MCals, Arquivo A. Capibaribe Neto e Raimundo Gomes



domingo, 17 de agosto de 2014

O transporte coletivo em Fortaleza - Entre 1945 e 1960 (Parte IV)




Os tramways de Fortaleza foram paralisados numa segunda-feira, 18 de maio de 1947, enquanto o capitão Josias* procurava solução para a crise da companhia inglesa junto com as autoridades no Rio de Janeiro. Findo o prazo de cinco dias, a empresa anunciou o prolongamento da suspensão dos bondes por mais alguns dias. Depois, publicou que precisaria de três meses para concluir os reparos na usina.

No final do mês de maio, as esperanças de que os bondes elétricos voltassem ao tráfego pareciam sepultadas, uma vez que o Ministro da Agricultura recomendara como prioridade manter-se o serviço de luz e força para a indústria de Fortaleza. Segundo o capitão Josias, isso só seria viável se a Light se dedicasse exclusivamente a ele.

Além disso, havia a forte possibilidade de ser suspensa a intervenção federal, legando a companhia à própria sorte. Por isso, o capitão Josias começou a montar uma engenharia de recuperação mínima. Visitou a embaixada inglesa, acertando a importação de um novo motor para substituir as caldeiras de força danificadas. Marcou audiência com o Presidente Dutra (Foto ao lado) para pedir-lhe uma subvenção e transformar a Light numa empresa de economia mista, com a participação de brasileiros e britânicos. Finalmente, calculou faturar mais de 800 mil cruzeiros com a venda dos trilhos aos ferro-velhos de Fortaleza, criando receitas para quitar as obrigações com os trabalhadores do tráfego.

Sem que as autoridades ensaiassem qualquer desfecho, durante junho e julho de 1947, os trabalhos para a recuperação do material da usina prosseguiam em Fortaleza


Nesse tempo, quem mais sofreu com a situação foram motorneiros e condutores. Há mais de um mês sem trabalhar, prejudicados pela postura titubeante do Governo e da direção da empresa, eles recebiam metade dos salários, sem perspectivas de retorno aos volantes ou de afastamento da Light para se engajarem em outra ocupação. Logo eles se reuniram no sindicato, lançando manifestos e apelando para a solidariedade das “demais classes 
cearenses no movimento que empreendem para serem tratados de maneira mais condigna”

A publicação das queixas nos jornais gerou réplicas da gerência da empresa, que argumentava que os salários de no mínimo Cr$ 12,20 eram mais elevados que o mínimo industrial da cidade.

Em 30 de julho, tanto patrões quanto trabalhadores já não acreditavam na retomada dos bondes elétricos, mas parecia certo que a Light arcaria com os custos das demissões ou ofereceria qualquer tipo de indenização aos empregados. Em entrevista à Gazeta de Notícias, o presidente do sindicato, seu Otávio Sebastião da Silva, desmentiu uma afirmação do capitão Josias de que fizera um acordo no qual os trabalhadores aceitariam receber somente 70% ou 75% das suas rescisões de contrato. Segundo ele, os operários “não desejavam indenização e sim trabalho, o que [significava] dizer que [poderiam] ser admitidos pela Companhia em qualquer serviço”.

De fato, os bondes não voltaram às ruas e o provisório se tornou definitivo. E não houve recolocação de pessoal no quadro da empresa. Ao voltar do Rio de Janeiro, o capitão Josias anunciou a demissão dos 311 operários do tráfego.

Sem emprego e com o dinheiro da indenização – que chegaria a cerca de Cr$ 3 milhões, eles pretenderam montar uma empresa de ônibus, como que antecipando o legado do transporte da Light à cidade. Seria a primeira empresa desse tipo montada exclusivamente por trabalhadores no Brasil



Se houve quem sentisse a falta dos bondes, foram poucos os argumentos defendendo sua superioridade em relação aos ônibus. Os defensores dos tramways não negavam o “estado lastimável em que se encontram os veículos da Ceará Light, que, em sua grande maioria, rodam ininterruptamente desde 1913, encontrando-se assim num estado de extremo desgaste”. Construíam um discurso benevolente, porque, na ameaça de vê-los fora de circulação, era possível declinar de algumas exigências. 


Bonde de tração animal passando entre o Colégio Jesus Maria José e a Igreja do Pequeno Grande. - Foto do Álbum Boris. - Arquivo Nirez

Espera-se na linha o veículo [bonde elétrico]. A demora não é deste mundo, porém, logo que o mesmo se aproxima, todos ficam satisfeitos na certeza que o pobre animal, embora cansado, conduzirá os passageiros aos pontos destinados.


Antigo bonde de tração animal

Os bondes estavam no afeto popular como símbolos da cidade antiga, que ainda ensaiava seus passos na modernidade. Representavam quase uma resistência silenciosa às tecnologias do segundo pós-guerra

Estou decepcionado, Vicente Roque, com o fato de vê-lo colocado na fila dos que não querem mais bondes na nossa velha cidade. Admira-se que você, um cronista popular, nascido no século XIX e amante das coisas velhas, das modinhas ao violão e das serenatas, das coisas, enfim, que o nosso tempo levou, não queira mais bondes, porque estes 
são velhos e desengonçados.


Bonde de tração animal puxados por burros,
implantado em 1880 em Fortaleza. Foto: Acervo Nirez

E se a suspensão do tráfego de bondes e a encampação da Light pela Prefeitura não foram alternativas às demandas das ruas, certamente responderam aos problemas internos da própria companhia, cuidadosamente esquadrinhados pelo capitão Josias Ferreira Gomes. Nesse sentido, foram evidências da superação do antigo modelo de exploração do transporte, tanto do ponto de vista da reordenação econômica dos serviços públicos quanto das novas relações entre os poderes públicos e sociedade depois do Estado Novo e das construções culturais de progresso. 

Em 01 de junho de 1946, é Decretada, pelo Governo Federal, a intervenção na Ceará Light, sendo nomeado interventor, o capitão Josias Ferreira Gomes. Fonte: Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Roteiro para um turismo histórico e cultural - 2005 Autor: Miguel Angelo de Azevedo - Nirez 

O Fim dos bondes anunciado pelo Jornal Correio do Ceará, clique e leia:


Créditos: Patricia Menezes (Mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará). Dissertação: FORTALEZA DE ÔNIBUS: Quebra- quebra, lock out e liberação na construção do serviço de transporte coletivo de passageiros entre 1945 e 1960


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