Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Rua Barão do Rio Branco
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A nomenclatura numérica das vias públicas da Fortaleza antiga


Em 1890, de acordo com a resolução aprovada em 29 de outubro daquele ano pelo Conselho da Intendência, foi implantada a nomenclatura das vias públicas da cidade.

Importante observar que, em geral, eram chamadas Ruas aquelas vias que tinham a largura de sessenta palmos ou 13,20 metros ou mais, tendo a direção Norte-Sul ou do mar para o sertão.
Designava-se por Travessas aquelas vias que tinham a largura de 11,00 metros ou cinquenta palmos ou menos, tendo direção Leste-Oeste. Becos e Corredores os de menor largura, termos que ainda hoje estão em uso.
Para as numerações das vias públicas foram tomadas como eixos Norte-Sul a rua Barão do Rio Branco e Leste-Oeste as Avenidas Duque de Caxias e Heráclito Graça.


Rua Barão do Rio Branco, entre as ruas Antônio Pompeu e Meton de Alencar aproximadamente, lá na frente à esq., vemos a silhueta do Ed. Diogo. A foto é da déc. de 40.
Arquivo Nirez

Avenida Duque de Caxias.

Na relação abaixo, adotei o seguinte ornamento:


  • Em primeiro lugar o número atribuído à via pública;
  • Em segundo, o nome atualmente adotado;
  • Em terceiro, o nome possuído na ápoca em que se passou a usar a nomenclatura numérica.
Ruas Ímpares

Nº 1 - Rua Barão do Rio Branco - Formosa; além deste nome possuiu as denominações de D. Luiz, Nova e Paes de Carvalho.


Rua Barão do Rio Branco

Nº 3 - Rua Major Facundo - Chamou-se da Palma, em 1856, desde o Passeio Público até a altura da Praça do Ferreira, e, para o sul do Fogo. Denominou-se também de rua Nova D'el Rei em 1845.


Rua Major Facundo

Nº 5 - Floriano Peixoto - Boa Vista; o primeiro trecho até a Praça Waldemar Falcão era conhecido como rua das Belas, daí em diante até à Praça do Ferreira - rua das Pitombeiras e mais para o sul - rua da Alegria.


Rua Floriano Peixoto em 1983. Foto de Nelson Bezerra

Nº 5A - General Bezerril - do Quartel e o trecho final, rua da Alegria, que recebeu o Nº 7A.


Rua General Bezerril

Nº 7 - Rua Assunção - Possuiu os nomes de Cons. Liberato Barroso e Cel. João Brígido.

Nº 7A - Rua General Bezerril - Já referida no 5A.

Nº 7B - Rua do Rosário.

Nº 7C - Avenida Alberto Nepomuceno, Conde D'eu e Sena Madureira - João Nogueira afirma que é uma das ruas mais antigas da cidade. Em 1856, o trecho que vai da praia ao Largo da Sé se chamava Rua da Ponte, rua da Matriz e, posteriormente, rua de Baixo a parte compreendida entre o Largo e a rua São Paulo atual. Daí para o sul - Rua dos Mercadores e do Riacho, em 1828. Rua Direita dos Mercadores em 1810. Atualmente, a rua da Ponte é a Avenida Alberto Nepomuceno; a da Matriz, Conde D'eu e a dos Mercadores, Sena Madureira.


Foto aérea, vendo-se a Avenida Alberto Nepomuceno em 1933. Arquivo Nirez

Rua Sena Madureira nos anos 30.

Nº 7D - Rua Governador Sampaio - Rua do Sampaio. Possuiu também os seguintes nomes: Nova do Outeiro e Beco de Apertada Hora, em 1812, José de Alencar e, em 1930, D. Bárbara.

Nº 7E - Rua São José - Essa rua denominou-se Beco das Almas, o trecho atrás da Praça da Sé em 1810. Em 1875, Travessa da Sé e em 1888 passou a possuir o nome atual.

Nº 7F - Rua Baturité - Travessa do Outeiro - Pela nomenclatura de 1933 era Travessa das Escadinhas.

Nº 9 - Rua Sólon Pinheiro - Trindade.


Rua Sólon Pinheiro - Arquivo Nirez

Nº 11 - Rua Barão de Aratanha - Do Lago.

Nº 13 - Jaime Benévolo - Do Açude, chamou-se também João Tomé.

Ao lado, vemos a esquina das ruas Jaime Benévolo e Antônio Pompeu. Marciano Lopes.   -->

Nº 13A - Avenida Visconde do Rio Branco - Boulevard - Rio Branco e Estrada de Messejana.

Nº15 - Conselheiro Tristão da Cruz.

Nº 15A - Rua Boris - da Praia.

Nº 17 - Rua 25 de Março - Em 1888 era do Pajeú e, anteriormente, em 1856, era rua do Outeiro.


Rua 25 de Março esquina com Pinto Madeira. Arquivo Ivan Gondim

Nº 19 - Avenida Dom Manuel - Boulevard da Conceição, rua do Barreiro, em 1875, e antes da denominação atual era Dom Luiz.


Avenida Dom Manuel em época de carnaval. Foto da década de 60 - Acervo Carlos Juacaba

Nº 19A - Rua Almirante Jaceguai - Travessa da Conceição e Subida da Prainha.

Nº 21 - Rodrigues Júnior - da Glória, também Conselheiro Rodrigues Júnior.


Rua Rodrigues júnior, um pouco antes da Avenida Heráclito Graça. Arquivo Nirez

Nº 21A - Senador Almino - Arrecifes.

Nº 23 - Rua Dona Leopoldina - Leopoldina, foi conhecida ainda como D. Joaquim.

Nº 25 - Rua Dom Joaquim - da Soledade e São Luiz.

Nº 27 - Rua Nogueira Acióli - da Aldeota, popularmente era conhecida como João Pedro.


Esquina da Rua Dona Leopoldina com a Padre Valdevino. Vemos a residência do desembargador Álvaro de Alencar.



Fonte: Fortaleza Somos Nós - Aurileide Silva/Sara Braga

terça-feira, 10 de março de 2015

As casas senhoriais na Fortaleza da década de 40

Royal Briar - A Fortaleza dos anos 40
Marciano Lopes

Na década de 40, ainda não havia apartamento em Fortaleza, muito menos as hoje cobiçadas “coberturas”sinônimos de status da sociedade emergente e símbolo maior dos novos-ricos. Naquele tempo, as famílias tradicionais moravam em grandes e confortáveis casas que podiam ser classificadas como palácio, palacete, mansão, solar ou, pelo menos
num caso especial, castelo

(Foto ao lado do acervo de Raimundo Gomes)


Riquíssimo e de gosto requintado, Plácido de Carvalho fez construir o que se pode classificar como uma das mais monumentais residências do Brasil, o Palácio Plácido, na Aldeota, antigo Outeiro. Ocupando uma quadra, entre as atuais ruas Carlos Vasconcelos, Monsenhor Bruno, Costa Barros e a Avenida Santos Dumont.
Castelo, era o de Plácido de Carvalho, na Aldeota, construído para agradar sua mulher, Maria Pierina Rossi, italiana, de Milão, que, nostálgica da pátria distante, teve sua
saudade amenizada pelo suntuoso castelo que seu marido fez construir no local onde a Aldeota ainda era uma floresta de cajueiros. Essa singular moradia, copiada de um castelo de Florença, a partir de informações de Pierina, foi criminosamente demolida nos anos 70, porém, mesmo com tão bestial ato de vandalismo, continuará a ser, pelos anos afora, a mais monumental residência da região.


Castelo do Plácido em foto de A. Capibaribe Neto
No Benfica, espécie de feudo da família Gentil, estava o aristocrático Palacete Gentil, morada do banqueiro e comerciante José Gentil, com suas elegantes varandas, suas colunas coríntias, seus amplos terraços, vastos jardins com estátuas e vasos vindos da Europa. Também no Benfica ficava a residência de Antonio Gentil, bem como as de José Thomé de Sabóia e de inúmeros outros milionários da época, como a família Manços Valente, que ocupava bonito solar, logo no início da Avenida Visconde de Cauípe. Essa senhorial moradia tinha até  capela. De pé, restam o palacete de José Gentil, hoje abrigando a reitoria da Universidade Federal, e o solar dos Manços Valente, sediando, presentemente, o Convento Santa Rosa de Viterbo, cujas freiras adulteraram a fachada da capela.


Palacete  de José Gentil - Arquivo Nirez

A maravilhosa mansão de joão Gentil, no Benfica. O extenso mangueiral a se
perder de vista cedeu lugar, mais tarde, ao bairro da Gentilândia e à constru-
ção do estádio Presidente Vargas, Escola Técnica Federal e Ginásio Aécio de Borba entre outros prédios.
Vizinha a residência dos Manços Valente ficava a casa de Rufino de Alencar, exatamente na esquina da avenida Visconde de Cauípe com a rua Antonio Pompeu. Estreita e sinuosa ocupando faixa mínima de terreno, era diferente e graciosa. A pouca largura foi compensada com um térreo, quase porão, o andar social e uma torre vigia. Na varanda muito estreita, eu via, ao passar, a bela Ruth de Alencar, os imensos olhos Verdes contemplando o mundo que passava à sua frente. Transformada numa loja da maçonaria,
ganhou um "banho" de falsa faiança e tantos detalhes de mau gosto, inclusive um horroroso galo de cimento, pintado de branco com crista vermelha, além de umas indecorosas flores em relevo, que a casa pode ser vista, agora, como um verdadeiro monumento ao antiestético. De qualquer forma, a construção permanece inalterável na sua forma original e merece louvores o belo e artístico portão de ferro, cuja origem desconheço.


Arquivo Nirez
Na antiga Praça da Bandeira, atual Praça Clóvis Beviláqua, há o palacete do Barão de Camocim, que já esteve ocupado por sua neta, Carmen, viúva do doutor Lauro Chaves.
Embora adulterado em sua fachada, que recebeu chapisco, numa reforma efetuada em 1945, não perdeu sua nobreza e seu interior guarda verdadeiras preciosidades em móveis, lustres e tantos objetos de materiais finos, todos adquiridos na Europa, onde o barão residiu por algum tempo.


Casa do Barão de Camocim - Acervo MCals
O bairro de Jacarecanga, que até os anos 40 era o mais aristocrático da cidade, possuía um conglomerado de magníficas moradias, sobressaindo-se a casa de três andares de Pedro Sampaio; e o monumental palacete de Thomás Pompeu Sobrinho, com 38 cômodos, localizado na Avenida Francisco , 1801, logo após a praça do Liceu. Copiado de uma residência de Portugal, na sua construção foram empregados os mais nobres materiais, quase tudo importado do Velho Mundo. Até os azulejos e o cimento vieram de Portugal. A sala de jantar tem as paredes revestidas de peroba e o piso de sucupira. Todo o madeiramento do telhado é de maçaranduba. Construída em 1924, a moradia, ainda em poder dos descendentes do seu autor, possui preciosidades em móveis, lustres e pratarias no mais autêntico art nouveau.


Casa de três andares de Pedro Sampaio em frente a Praça do Liceu. Arquivo Nirez

Palacete de Thomás Pompeu Sobrinho na Avenida Francisco Sá - Hoje é uma escola de arte

Na mesma avenida Francisco Sá, existia a linda casa de Luiz Correia, já demolida, e o casarão de Florival Seraine, transformado em repartição pública, porém,
ameaçando ruir, devido a falta de manutenção. Em 1929, o advogado Raimundo Brasil Pinheiro de Mello construiu sua casa na avenida Coronel Filomeno Gomes, a partir de uma revista alemã. Graciosa e simpática, possui todas as características das moradias alemãs, inclusive o telhado inclinado, para “escorrer a neve”.


Solar de Luiz Moraes Correia nos anos 40

Raimundo Brasil Pinheiro de Mello 
Magnificamente conservada, tanto na sua estrutura quanto nos móveis e adornos, continua em poder dos descendentes de Raimundo Brasil Pinheiro de Mello, residindo, ali, sua viúva, dona Guiomar, e sua filha, Maria Luíza. É a casa de número 836 da Avenida Coronel Filomeno Gomes.
Na Praça do Liceu, diversas casas de belo estilo não existem, demolidas que foram para dar lugar a feios prédios de apartamentos. Da mesma forma, os soberbos casarões que
conferiam dignidade a rua Guilherme Rocha, entre as praças da Lagoinha e do Liceu, foram postos abaixo, pelo descaso ou pela especulação imobiliária. Assim como o desprezado palacete da esquina da rua Padre Mororó, onde funcionou a Secretaria de Educação e Saúde, nos anos 40/ 50; o palacete do coronel Hortêncio de Medeiros, ocupado pela Procuradoria da República e a Itapuca Villa, abandonada desde 1946, quando faleceu seu titular, Alfredo Salgado. Símbolo da grandiosidade das moradias do passado, sofreu os efeitos do abandono, em tantas décadas, bem que o Governo do Estado poderia ter feito o tombamento daquela outrora soberba vivenda, transformando-a numa fundação cultural, inclusive, num museu da abolição, quando se sabe que foi Alfredo Salgado, apesar de homem de vasta fortuna, um abolicionista dos mais ardorosos.


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Palacete demolido no cruzamento da rua Padre Mororó com Guilherme Rocha

Rico e de muito bom gosto, Alfredo Salgado desejou o melhor para construir
sua mansão, a ltapuca Villa, na rua Guilherme Rocha. Todos os materiais vieram
do exterior, inclusive as madeiras. Periodicamente viajava a Europa para contratar novos jardineiros. A ltapuca Villa era um dos orgulhos de Fortaleza.
Tombada pela Prefeitura de Fortaleza, a Villa Morena, antiga residência da família Porto, na beira do mar, na Praia de Iracema, é graciosa e diferente na sua concepção. Toda de taipa, desafia os anos, já foi clube dos soldados americanos, durante a Segunda Guerra Mundial. Desde então, é o Bar e Restaurante Estoril, reduto da boemia intelectual e artística da cidade.
A mansão, que atualmente é ocupada por um posto da Previdência Social, na esquina da Avenida Tristão Gonçalves com a rua Antonio Pompeu, era a residência de Renato Silva e Yeda Markan Silva. Depois, foi moradia da família Carlos Jereissati.


Arquivo Nirez
Uma das mais grandiosas fachadas de Fortaleza é a da mansão da família Carlito Pamplona, na rua 24 de Maio, entre Meton de Alencar e Antonio Pompeu. Continua como residência da viúva do seu titular, inalterada, pelo menos no seu exterior.
A vetusta casa da família Thomás Pompeu, na praça da Lagoinha, lado da Avenida do Imperador, é outra que se mantém inalterada, pelo menos em sua fachada de aspecto soturno, não só pelas linhas arquitetônicas de inspiração inglesa, como pela pátina de tantos invernos. Mas é na sua sisudez que está seu aspecto de aristocracia.



Casa da família Thomaz Pompeu na avenida do Imperador
A mansão de Meton de Alencar Pinto, na esquina das ruas Senador Pompeu e Antônio Pompeu, é um belo exemplo de como uma residência, que conta várias décadas, pode
ter a aparência digna e jovial. Ali, tudo está igual a década de 40, até nas sebes do jardim. 


Mansão Meton de Alencar Pinto
Mas, corno nem sempre a sensibilidade, o bom gosto e o amor ao passado são características da nossa gente, lamenta-se que o célebre Solar dos Távora, na esquina das ruas Sena Madureira e Visconde de Saboia, esteja transformado num monstrengo. Palco deformado de memoráveis acontecimentos da política, permitiram que aquela nobre residência fosse totalmente mutilada para abrigar uma loja de materiais de construção. Com seus móveis, quadros, biscuíts, estatuetas, pratarias, lampadários e tantas outras preciosidades, quem entrava ali tinha a nítida impressão de estar ingressando numa
sóbria morada belga ou francesa do século XIX. A atmosfera era perfeitamente europeia, no romantismo de suas peças de arte, na tranquilidade que parecia emanar de tudo. Por que os descendentes do velho Fernandes Távora não tiveram a ideia de transformar aquele solar numa fundação da família e, assim, perpetuar o nome de seus maiores?


O austero solar dos Távora, na esquina da rua Conde D'Eu (antiga rua dos Mercadores) com rua Visconde de Saboia. Um recanto da Europa no centro de
Fortaleza. E cenário de importantes decisões da política local e nacional. 
Quando ser chic era habitar grandes e aristocráticas casas, com amplos espaços, jardins e pomares, Arlindo Gondim fez construir seu palacete, encravado em vasto terreno da rua General Sampaio, entre o Boulevard Duque de Caxias e a rua Pedro Ido “lado da sombra”. Casa elevada, com porão e elegante escada externa em bonito trabalho de mármore, inclusive o corrimão, tem como detalhe mais bonito a varanda fechada que se estende por toda a extensão da ala esquerda daquela moradia.
Espécie de chácara, fartamente arborizada, teve seus espaços externos sacrificados em benefício de um estacionamento de veículos. A casa, que permanece quase intocada,
ainda é habitada por membros da família. 


Palacete na rua General Sampaio, entra a Duque de Caxias e a Pedro I
A casa de Carlos Jereissati, na praia do Meireles, precisamente na esquina das avenidas Getúlio Vargas (Beira-Mar) e Rui Barbosaainda pode ser contemplada e não sofreu grandes alterações em sua estrutura, muito embora, sem utilização como residência, há vários anos. É símbolo das suntuosas casas de veraneio que as famílias abastadas de Fortaleza mantinham na Praia de Iracema e adjacências, nos idos de 40.


No meio do quarteirão da rua General Sampaio, entre as travessas Guilherme Rocha e São Paulo, estava o maravilhoso solar da família Theophilo. Possuía jardins laterais, com
gradeados e portões de ferro e seus salões ostentavam, além de magníficos lustres Baccarat, muitas obras de arte, inclusive, retratos a óleo, de membros da família, em ricas molduras de talha dourada. Ha alguns anos, passou a ser escritório de uma empresa comercial e entrou em processo de decadência. Atualmente, totalmente adulterada, a construção quase mais nada ostenta da sua antiga nobreza, exceto meros relevos na fachada.
O palacete de Raimundo Gomes de Mattos, na rua 24 de Maio, entre as travessas Liberato Barroso e Pedro Pereira, tinha sua bela fachada desgastada pelo tempo, acho que para fazer contraste com o soberbo lustre de cristal emoldurado pela janela do salão principal. Seus assoalhos eram do mais autêntico pinho-de-riga, e os jardins eram verdejantes e bem cuidados. Foi demolido para dar lugar a um restaurante popular do SESC, como se não existisse outro local, no Centro, para sediar tal estabelecimento. 


O palacete de Raimundo Gomes de Mattos
Moradia de linhas aristocráticas e erguida com materiais nobres, além de contar com acabamento primoroso e detalhes sofisticados, era a residência de Fausto Cabral, na Avenida Barão de Studart. Depois de servir como residência da família Cabral, funcionou, durante alguns anos, como sede oficial do Governo do Estado, já abrigou o Museu Histórico e Antropológico do Ceará e, atualmente, abriga o Museu da Imagem e do Som - MIS . Notável a prática e funcional distribuição de suas peças. 
Quando a Avenida Duque de Caxias era uma das mais aristocráticas e simpáticas vias de Fortaleza, destacava-se, em sua paisagem bucólica, o palacete do doutor Leite Maranhão, encravado na esquina daquele Boulevard, com a rua 24 de Maio. Diferente e aconchegante, tinha inúmeros detalhes externos que chamavam a atenção, tais como pequenos terraços, varandas, nichos, chafarizes, telhados em vários níveis. Altaneiros pés de eucalipto, em seu minúsculo jardim, emprestavam-lhe a elegância própria das moradas nobres. Depois de um curto espaço em que sofreu abandono e decadência, foi demolido.


Residência de Fausto Cabral hoje abrigando o MIS
Certamente influenciado pelos suntuosos bangalôs de Hollywood, o milionário Checo Diogo fez construir o seu na aristocrática Avenida do Imperador, entre as travessas Liberato Barroso e Pedro Pereira. Todo vermelho, tinha imponente terraço no piso superior e ricas eram as suas portas internas, no melhor cristal bisotado. Com jardins bem tratados e a pintura vermelha de sua fachada, sempre retocada, era um atestado de bom gosto. Ainda existe, funcionando como colégio, o que muito o dilacerou.


Bangalô do milionário Checo Diogo. Hoje funciona um colégio 
Gigantesco era o palacete do milionário Waldir Diogo de Siqueira, na esquina das avenidas Tristão Gonçalves e Duque de Caxias. Tinha porão, em toda sua extensão e um único piso social. Sem ter fachada muito rebuscada, chamava a atenção pelo grande número de portas com sacadas de ferro, principalmente no oitão que compreendia a avenida Duque de Caxias. Ao número dessas portas correspondiam as “vigias” do porão. Demolido, deu lugar a uma construção moderna que abriga um fórum trabalhista.

Na rua Barão do Rio Branco, local onde está agora, o prédio das Lojas Americanas, ficava o sobrado dos Paula Pessoa. Sua última ocupante foi dona Eloah, solteirona e monarquista intransigente que reinava, absoluta, no velho, mas simpático solar. Ainda nos anos 60, saia para a missa, na igreja do Rosário, toda de preto e com chapéu. Ficava indignada com as propostas de compra do seu sobrado e dizia que o mesmo só seria demolido se ela estivesse morta. Infelizmente, seus herdeiros não tinham a mesma sensibilidade e, tão logo a titular do belo solar faleceu, este foi vendido e, consequentemente, demolido, dando lugar ao popular magazine.

Muitas outras casas nobres tinha Fortaleza, na década de 40. Casas senhoriais, aristocráticas, símbolos de uma época de requinte, quando as famílias sabiam fazer tradição, porque havia cultura, bom gosto, refinamento, berço. Muitas dessas moradias foram demolidas, outras mutiladas, outras, simplesmente, estão fechadas, abandonadas, decadentes, como que chorando, na escuridão e no silêncio, a saudade dos tempos
de faustos e de luzes.  

Créditos/Fonte: Livro Royal Briar de Marciano Lopes, Arquivo Nirez, Pesquisas na internet, Google Earth, Arquivo MCals, Arquivo A. Capibaribe Neto e Raimundo Gomes



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Bocas de ouro



Tempo houve dos dentes de ouro luzir em bocas mil. Protéticos, em regozijo, produzirem artísticas peças qualificadas pelos quilates. Feitura de próteses em amálgama especial, a módico preço e garantia de, ao contato da saliva, em meses, tornarem-se áureas. Hoje, seriam ditas genéricas.
Até a década de sessenta, deveras comum encontrar ciganos pela Capital.
Grupos deles, ostentando maiores posses e identificação étnica, acampavam em área de terra da rua Barão do Rio Branco, entre as ruas Carlos Gomes e Joaquim Magalhães. Roupas coloridas, adereços em ouro, prata e pedras preciosas, falando dialeto próprio, distinguiam-se de pronto. Os homens, mais ainda, por seus vistosos brincos e arcadas dentárias auríferas.

O modismo fez-se tão exagerado ao ponto de jornais e rádios noticiarem constantes profanações de túmulos, no Cemitério São João Batista, por ladrões com tendências garimpeiras. 
Nahum Veras, antigo merceeiro da rua Pinto Madeira, esquina com Gonçalves Ledo, possuía coroas reluzentes sobre os caninos e molares. Do mais puro ouro fino. Ao falecer, a família providenciou suas extrações e divulgou ao máximo, inclusive por mensagens radiofônicas, para evitar que vândalos o perturbassem no sepulcro.


Já os parentes de Nicolau Dognini*, 82 anos de idade, fazendeiro de Vidal Ramos, município de Santa Catarina, padeceram por não ter dedicado igual cuido ao dado a Nahum por seus familiares. Nicolau, mais conhecido como Sorriso Dourado, foi sepultado usando seus reluzentes aparelhos dentários confeccionados no nobre metal.
Um mês depois do enterro, o túmulo foi violado, o vidro do caixão quebrado e levadas às ricas dentaduras. Avaliadas entre doze e vinte mil reais, a polícia catarinense investiga e alerta não sepultarem entes queridos com pertences valiosos.
Candidato a deputado pelo PRB, Oswaldo Martins de Oliveira, autodenominado Wadão Dj - Jegue Dente de Ouro prometeu se eleito, dar dente de ouro para toda a população paulista. Esquecido eleitoralmente, poderia oferecer o dentário projeto ao correligionário de coligação deputado federal Tiririca.

                                  Geraldo Duarte
(Advogado, administrador e dicionarista)


*Sul Notícias - Matéria de 25/09/2009:

Polícia investiga roubo de dentadura de ouro de cadáver

A Polícia Civil de Santa Catarina investiga o inusitado roubo de uma dentadura de ouro de um cadáver, ocorrido na cidade de Vidal Ramos, localizada a 160 quilômetros da capital Florianópolis
A violação de uma sepultura no cemitério local é o principal assunto na cidade de pouco mais de seis mil habitantes. Nicolau Dognini, que morreu aos 82 anos no último dia 11 de agosto, teve o caixão violado exatamente um mês após sua morte. 
Os ladrões abriram a sepultura, quebraram o vidro do caixão e levaram uma chapa com dentes de ouro. Nicolau era bastante popular e conhecido na cidade com o apelido de "Sorriso Dourado".

Segundo levantamento feito pela polícia, a sua dentadura de ouro estaria avaliada em aproximadamente dez a doze mil reais. "Não há como definir exatamente o valor, mas estaremos chegando a esse dado após colher novos depoimentos", afirma o agente da Polícia Civil, João Paulo Martins, responsável pela investigação.

Após ouvir uma série de testemunhas, João Paulo revelou que a família de Dognini decidiu enterrá-lo com os dentes valiosos. Segundo o policial, todo mundo na comunidade onde ele morava, sabia que a sua dentadura era de ouro. "Ele era bastante popular e ainda brincava com isso. Dizia as pessoas que poderiam fazer o que quisessem com os seus dentes", disse.

A Polícia ainda vai colher alguns depoimentos nos próximos dias para tentar solucionar o roubo. Por enquanto, não existem suspeitos, mas o policial João Paulo destaca que a violação de sepultura deve servir como um alerta para as famílias que insistem em colocar objetos de valor junto ao corpo de familiares. "É um tipo de crime que existe nos grandes centros. Agora descobriram o interior", disse. "Estamos trabalhando para solucionar o caso, mas fica o alerta para as pessoas de que não é uma prática aconselhável sepultar os entes queridos com objetos de valor".




sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A Cearense



No dia 1º de janeiro de 1923 foi registrada a firma Aprígio Coelho de Araújo, com o estabelecimento "A Cearense", na esquina da Rua Floriano Peixoto nº 219/223, com Rua Pedro Borges, olhando para a Praça do Ferreira. Em 1930 foi reinaugurada após reforma e em 1939 mudou-se para a Rua Barão do Rio Branco nºs 1068/1074.

Em 08 de dezembro de 1939, a loja A Cearense, inaugura seu novo prédio na Rua Barão do Rio Branco nºs 1080/84, em frente ao Cine Majestic, obra do arquiteto Sylvio Jaguaribe Ekman, no estilo Art-Déco, local antes ocupado pelo Teatro Taliense ou Concórdia, seguido do Colégio Anacleto.
Depois o prédio da A Cearense, foi ocupado pelas Lojas Singer.
A Cearense tinha um slogan: "A casa que cresce, diminuindo os preços".

Diz a manchete: Prédio próprio em construção a inaugurar-se em 1939. Acervo Lucas Jr

A fachada da A Cearense na Barão do Rio BrancoFoto da Aba Film
Arquivo Nirez

Prédio que antes era ocupado pela A Cearense, no dia da inauguração da Singer Sewing Machine Company (01/12/1950), na Barão do Rio Branco. Foto do livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo

A Cearense era uma das principais casas¹ de tecidos de Fortaleza, na década de 40. Localizava-se  no meio do chamado 'Quarteirão Sucesso', na rua Barão do Rio Branco.
Aprígio Coelho de Araújo, homem de larga visão e de muito bom gosto, mandou construir sua loja inspirado nas grandes “maisons” parisienses: gigantesco salão, bastante requintado, com ambientes de espera e nichos iluminados para exposições de peças finas. Ao fundo, uma elegante escada em forma de leque se bifurcava e dava acesso aos salões dos dois andares superiores que tinham imensas rodas vazadas como visores emoldurados por  belos gradis de ferro. De linhas ‘art-déco’, como era comum às lojas chiques daquele tempo, sua frente era rigorosamente simétrica, com duas vastas  vitrinas laterais  e muitos manequins artisticamente vestidos.²


Acervo Lucas Júnior

Acervo Lucas Júnior

¹ A expressão ‘casa’, certamente, seria de influência francesa ‘maison’.

² Nos idos de 40, as lojas de tecidos ou casas de fazendas, como eram mais conhecidas, tinham esmero em suas vitrinas, caprichavam nos “vestidos” de suas bonecas-manequins que eram montados por verdadeiros mestres na arte de modelas as roupas, usando apenas o tecido e alguns alfinetes, sem ser necessário cortar pano nem utilizar linha ou agulha.



Fontes: Royal Briar de Marciano Lopes (2ª Edição) e 
Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo



NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: