Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Caio Prado
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Cemitério São João Batista


Fachada antiga do Cemitério de São João Batista sendo demolida- Arquivo Nirez

O Cemitério São João Batista foi inaugurado no dia 5 de abril de 1866 para substituir o Cemitério de São Casimiro que ficava no local onde depois construíram as oficinas e prédios administrativos da Estrada de  Ferro de Baturité. O terreno do cemitério comporta hoje os prédios e galpões da RFFSA.

Sobre a construção do cemitério


Cemitério São João Batista -Álbum Fortaleza 1931


Nota fiscal de compra de jazigo no cemitério São João Batista de 05/04/1957  
Acervo do Prof. Victor Bessa

Fachada pela Avenida Filomeno Gomes - Foto de Cláudio Lima


Seu fechamento foi determinado em virtude do terreno sofrer influência de dunas móveis e por ficar próximo do núcleo urbano de então. Em 1880 foram exumados do cemitério São Casimiro os restos de pessoas ilustres como Pessoa Anta e Padre Mororó e transferidos para o cemitério São João Batista. O cemitério é administrado pela Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza e tem uma área total de 95 mil m².



Com sua grande variedade de estilos, que se misturam com os rituais de dor, saudade e orações, o São João Batista é um espaço de inestimável relevância para a nossa história cultural. O São João Batista é um espaço central de informações históricas e culturais.



Foto de Cláudio Lima

Como testemunha material de várias temporalidades, a sua existência não é somente uma fonte para classificação técnica sobre arte ou arquitetura, é cenário de uma infinidade de obras. Sua importância histórica estende-se além do limite físico de seus muros, envolvendo-se intimamente com a história e a evolução da cidade de Fortaleza.


Muro do Cemitério na Rua Padre Mororó

Sua administração ficou a cargo da Santa Casa de Fortaleza que, por lei provincial de 1860, já era responsável pela gestão do São Casimiro. Poucos sabem, mas quem visita o São João Batista tem a possibilidade de aprender muito sobre a história de Fortaleza. Barão de Studart, Frei Tito, Tristão Gonçalves e Virgílio Távora, além de famílias tradicionais como Jereissati e Vidal Queiroz, são apenas algumas entre as personalidades sepultadas no local.

O muro lateral do Cemitério que pega toda a Rua Tijubana - Foto Ápio

Fundado em 1866, o cemitério localiza-se na rua Padre Mororó, no bairro Jacarecanga, próximo à Catedral Metropolitana de Fortaleza.


Outras personalidades que foram enterradas no São João Batista:


Barão de Camocim

Barão de São Leonardo

Barão de Studart

Francis Reginald Hull (Mister Hull)

General Sampaio

Carlos Jereissati

Carlos Virgílio Távora, ex-deputado federal do Ceará


Caio Prado

Cego Aderaldo, poeta cantador e rabequista

Cônego Bessa, religioso e político

Demócrito Rocha, telegrafista, odontólogo, escritor, poeta, e jornalista

Faustino de Albuquerque e Sousa, desembargador e ex-governador do Ceará

Francisco Armando Aguiar, ex-deputado estadual

Francisco de Meneses Pimentel, ex-interventor federal no Ceará, advogado e professor

Franklin Gondim, comerciante ex-interventor federal do Ceará

Hélio Melo, escritor, gramático, filólogo e professor

João Dummar, Pioneiro em rádio difusão

Juarez Barroso, escritor e jornalista

Manuel Cordeiro Neto, ex-chefe de polícia do Ceará e ex-prefeito de Fortaleza

Manuel Fernandes Vieira, magistrado e ex-deputado

Natércia Campos, escritora e professora

Osíris Pontes, comerciante e deputado estadual do Ceará

Paulo Sarazate, Deputado Governador e senador do Ceará


Parsifal Barroso, ex-deputado, ex-governador, ex-ministro e membro do Instituto do Ceará

Plácido Castelo, jornalista, advogado, político e professor


Rogaciano Leite

Soares Bulcão, jornalista, poeta, historiador, político e orador

Frei Tito

Tristão Gonçalves

Virgílio Távora

Messias Pontes, jornalista,radialista, militante político, Presidente do Comitê de Imprensa da Câmera Municipal de Fortaleza, Presidente do Comitê de Imprensa da Assembleia Legislativa Estadual, Diretor da Associação Cearense de Imprensa ( ACI)... Faleceu no dia 09 de novembro de 2013 aos 66 anos.


Trancoso e outras narrativas mitológicas

D. Neta, funcionária da Santa Casa de Misericórdia e presta serviços na secretaria do Cemitério, em depoimento amistoso, sem qualquer manifestação de medo porque por muitos anos, convive na "Chácara do Sr. Cândido Maia*", afirma por ser do seu conhecimento que o coveiro Luizinho, certa vez, no final da tarde, quando não havia mais nenhum coveiro, observou que, na avenida principal do cemitério, duas crianças brincavam fagueiras por entre os túmulos e capelas na circunvizinhança da extensa alameda, margeada por adultos ciprestes e algarobeiras perfiladas em linha reta sombreiam e divide em duas vias até alcançar a Av. Filomeno Gomes, próximo à Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes e a Escola de Aprendizes Marinheiros.



Segundo a informante, o coveiro Luizinho, vendo que já entardecia e a noite se aproximava, ficou perplexos ao olhar aquelas duas crianças que brincavam despreocupadamente sem que viesse nenhuma pessoa para conduzi-las a sua casa. Atônito com aquela situação, dirigiu-se às crianças, e, ao alertá-las, observou que desapareceram misteriosamente sem deixar nenhum vestígio de sua existência, cujo sumiço foi disfarçado sem percepção.

A dançarina do Maguari

Corre à boca miúda também, impressionante episódio com um casal que se conheceu num baile do Clube Maguari. De repente veio àquela admiração causada à primeira vista numa forte simpatia. Depois de muito valsar, se comprometeu a jovem em fornecer o endereço para prolongar aquele feliz encontro transformando-o em namoro. Já próximo ao término do baile, deixaram o recinto do clube e o jovem rapaz pôs-se a cumprir o prometido para deixar a jovem em sua residência, cujo endereço lhe fora fornecido pela mesma que conhecera momentos antes.

Ao caminhar em direção da casa, a linda moça suplica: Entre aqui nessa rua por gentileza! Dobraram na Rua do Cemitério (Rua Padre Mororó) e ao se aproximar do portão principal, ela suspirou dizendo: Pare aqui. E ao chegar defronte ao cemitério evaporou-se numa transformação repentina.

Cemitério São João Batista -Álbum Fortaleza 1931

O jovem rapaz não se conformando, com o sumiço da jovem, logo ao amanhecer se dirigiu para o endereço fornecido pela dançarina da noite anterior e, ao indagar sobre a jovem dançarina foi informado que se tratava de uma ente querida que deveria ter colado grau de professora na noite anterior e era filha da informante, falecida há mais de dois anos. Ao jovem nada restou senão se unir a família e orar para ser recebida no Céu e não deixar corações empanados por tristeza a quem não pode satisfazer a beleza que o amor produz.

O Desempregado

Certa pessoa nutria grande devoção por almas e tinha por ofício visitar todas as segundas-feiras o cemitério para fazer suas orações. Desempregado, procurava um lenitivo para resolver a aflita situação econômica porque passava naquele momento, sem condição de manter a família e atender as necessidades mais prementes de um chefe de família.

Assim, numa segunda-feira ao percorrer uma rua que dar acesso ao cemitério deparou-se com um cidadão a ele se dirigindo indagou: Está à procura de emprego? Sim. Então vá nesse endereço que estão precisando dos seus trabalhos. Chegando ao local, foi informado que aquela pessoa que fizera a indicação tinha falecido. Entretanto sabedores que o extinto gostava muito de ajudar aos necessitados e conhecendo de quem se tratava deu-lhe emprego, prestando homenagem a quem se compadecera em vida de angustiante situação da pobreza, repartindo com necessitados o que lhe sobrava. 

Cemitério São João Batista -Álbum Fortaleza 1931

A menina-serpente

Outra história que passa numa das mais antigas e pomposas catacumbas, é o túmulo da menina-serpente, construído de pura argamassa, situado no 1º plano do Cemitério São João Batista, datado no inicio do século XIX, que apesar da forte estrutura e correntes de ferro maciço em redor do mausoléu, todos os anos se abrem em profundas fendas, caindo todo reboco.

Dizem que uma pessoa foi morta ainda criança amaldiçoada pela mãe, e, em noites de lua cheia percorre o Cemitério e ruas próximas a Igreja São João Batista, amedrontando pessoas, transformada em serpente, quebrando as correntes, rachando as paredes e abrindo fendas no túmulo.

A Plutocracia no Cemitério

Os que cultuam histórias de "Trancoso" falam de inúmeras histórias sobre os que já se foram desta para outra vida, mas, ainda assim, alimentam a mente como se caixão tivesse gaveta e mortalha tivesse bolso. Praticam atos de impiedade humilhando os menos favorecidos por terem vividos em cabedais de ouro, e, só depois conceberão que "tu és pó e em pó te tornarás". Porque para outra dimensão nada se leva, além das boas ações aqui praticadas dividindo com os mais pobres um pouco do que sobra, pois, "É dividindo que se multiplica", diz o velho adágio popular; de resto, mais nada.

Dos zelos

É preciso cuidar bem do espírito , para não ficar eternamente no limbo, purgando os pecados, que dão de logo ingresso ao inferno junto aos cães coxos, bem rabudos pagando crueldades aqui praticadas e as que não tiveram sequer um pequeno rasgo de bondade para praticar. Mas não esqueçam: o diabo também têm os seus... suas manhas e preferências. Entretanto melhor é fugir dos gracejos e deixar de lado os espíritos zombeteiros e chalaceadores que por aí, dizem, existir perturbando as almas que só querem orações jaculatórias como penitência.

Mas há quem afirma que o caifás, satanás e ferrabrás são na realidade o "manda chuva" do inferno. São os que possuem os maiores garfos e tomam conta das ardentes brasas. Por isso se roga tanto - "Livrai-nos Senhor do fogo do inferno" e das coivaras que esperam certas pessoas que aqui se vangloriam de riqueza e do poder. E se puderem recobrar fisionomias, êta que decepção tamanha será esse reencontrar após a morte.

Cemitério São João Batista -Álbum Fortaleza 1931

Do tinhoso

É bem melhor nos consolarmos com o que temos e merecemos. Ao demônio não se engana facilmente, - dizem os que com ele têm afinidade e gozam dos seus afetos e benquerença. Proclamam os cães antes de pular das suas exuberantes e impetuosas labaredas em língua de fogo... e antes de pedir permissão ao Cérbero para recorrer os recantos das profundezas de seus territórios e crescem os demônios mais argutos na proporção dos nossos pecados até nos conduzir às suas trevas. Contudo, isso não passa das manifestações de lucubração que cada um tem e se desenvolvem em cada bestunto tornando ilusões passageiras de um reino invisível e animam o presente põe de lado o passado e aspiram com ansiedade um futuro cheio de ventura.

O nosso campo santo tem e teve histórias do "arco da velha" desde sua fundação do tempo da "peste bubônica" ou febre amarela, que não havia tempo para sepultar todos os mortos pela epidemia alastrante, porque embora se abrissem valas, tamanha era a urgência para enterrar os entes queridos que afetados não resistiam as intempéries que se alastravam.

Lendas e lendas

Nessa época era ainda o Cemitério Croatá, também conhecido como São Casimiro, na Praça Castro Carreira ou Estação Central, no quadrilátero pelas ruas Senador Castro e Silva, Rua General Sampaio, Rua Dr. João Moreira, no prolongamento da Av. Tristão Gonçalves, Av. Imperador e adjacências. Contam também que os cadáveres ficavam superficialmente enterrados, dada a exiguidade de tempo para inumá-los.

Com a chegada do verão o sol causticante sobre as valas deixavam expelir gases da decomposição de cadáveres, subindo labaredas incandescentes para o alto em forma de "língua de fogo", emanadas das gorduras dos corpos, conhecida como fogo-fátuo, que causava verdadeiras assombrações aos que assistiam aquele despropositado espetáculo, e logo desapareciam em contato com a atmosfera.

Aos mais ingênuos era a maldição que se aproximava dos incautos espectadores que corriam desesperadamente à procura de refúgio e abrigo mais seguros, ou suas casas que deveriam ser mais bem protegidas para livrarem-se o mal ou castigo que vinha do Céu.

*Cândido Maia serviu como administrador do Cemitério de São João Batista, desde 1887 até 1925, ano em que faleceu, sem nunca haver gozado férias e nem licença no emprego.




Fontes: Pesquisas na internet/Cafofo/Wikipédia/Diário do Nordeste

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