Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Cine Diogo
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Severiano Ribeiro e a cidade: Estátua, ingressos caros e público insatisfeito II


Com relação à questão técnica, ou mais precisamente da deficiência técnica, desde os primórdios do cinema tem sido alvo de discussões e reclamações, não sendo este tipo de crítica uma exclusividade da trajetória do cinema em Fortaleza

O cinema nas primeiras décadas do século XX chegou a ser considerado maléfico, sendo alvo de discussões médicas, devido aos efeitos que a trepidação poderia ocasionar à saúde ocular:

"O fenômeno da trepidação foi notado em outros lugares. Os médicos russos, segundo Yuri Tsivian, declararam guerra contra a “cegueira do cinema”, supostamente provocada nos espectadores pelos problemas com a fixação da imagem, deixando os exibidores em pânico. A medicina brasileira também se debruçou sobre os efeitos considerados daninhos das projeções, e os médicos procuraram malefícios durante todo o período mudo, fosse pela exposição dos olhos às imagens por demais iluminadas, fosse pela sala de exibição funcionando demasiado escura. A Gazeta Clínica, 1909, comentava que o cinema não era um causador de lesões oculares, mas provocador de outros danos, fotofobia, lacrimejamento e, nos casos mais graves, conjuntivite. A “imperfeição dos clichês” (os fotogramas), a posição do espectador em relação à tela e a predisposição individual foram os fatores apontados para as ocorrências clinicas. A trepidação estava no centro do problema: as “imagens fortemente
iluminadas determinam uma fadiga mais rápida. Como causas dessas perturbações apontam-se as cintilações e as trepidações que se vêem nas imagens animadas”. Quando melhoramentos técnicos na perfuração da fita de celulóide e nos obturadores dos projetores foram agregados aos últimos modelos, foi possível dar mais conforto aos espectadores, mas as queixas não se encerraram. A prevenção aos males podia ser feita, recomendando-se a utilização de óculos com lentes azuis, amarelas ou vermelhas."


SOUZA, José Inácio de Melo. Op. Cit., p.127.


Além de ser considerado prejudicial à visão humana, o cinema também era considerado nocivo pelo fato de ser mudo, como ressalta um jornal brasileiro:

"Em 1911, O Independente também alertava para possíveis doenças ocasionadas pelo cinematógrafo. Pelo fato de o cinema ser mudo, o espectador teria que fazer um esforço mental muito grande para traduzir as cenas, o que poderia trazer efeitos nocivos ao cérebro devido a um enorme “esforço de imaginação”.

STEYER, Fábio Augusto. Op.Cit., p.207.


Anúncio do Cinema Pathé

No Rio de Janeiro, por exemplo, a propaganda de algumas salas era reforçada justamente pela qualidade da projeção, uma vez que a questão técnica no cinema, era alvo de tantas discussões no Brasil e no mundo:

CINEMATOGRAPHO “PATHÉ” 
Empreza Arnaldo & C. 
AVENIDA CENTRAL, 147-149 
PROJECÇÕES 
LUMINOSAS 
ANIMADAS, CLARAS E 
ISENTAS DE TREPIDAÇÃO 
DOIS PROGRAMAS DIVERSOS POR SEMANA 

NOVIDADES! SEMPRE NOVIDADES!



SOUZA, José Inácio de Melo. Op. Cit. p. 252.

Sala de espera do Cinema Pathé - Arquivo do Museu da Imagem e do Som

Neste anúncio do Cinema Pathé, do Rio de Janeiro, é destacada a qualidade da projeção, em que se ressalta a ausência de trepidação da imagem como um atrativo a mais para os frequentadores.

Na capital cearense, nos deparamos com um anúncio da venda de um aparelho de projeção
cinematográfica, em que o principal atrativo é a qualidade técnica e a segurança do mesmo:

CINEMA 

Vende-se um próprio para o interior ou collegio, porque funcciona com qualquer
luz electrica ou sem ella, tendo projecção nitida e sem perigo. Tem 50 fitas,
algumas de grande metragem, apparelhos para concertal-as, magneto,
resistencia, etc.
Preço único 1:500$.
Para ver e tratar á rua Senador Pompeu, n.54.

Correio do Ceará, 17 de outubro de 1929, p. 8.

Neste anúncio do final da década de 1920, a qualidade do equipamento é medida pela sua capacidade de nitidez na projeção e pela ausência de perigo. Assim como, no anúncio do Cinematographo Pathé no Rio de Janeiro, aqui também é a inexistência de malefícios à saúde humana que qualifica o equipamento.
Percebemos que a questão técnica perpassa as discussões sobre o cinema no início do século XX, seja no que concerne as projeções defeituosas e aos malefícios que as mesmas poderiam ocasionar à saúde humana, seja pela própria produção técnica das fitas, como afirma Meize Regina:

"A avaliação das fitas recaía frequentemente sobre o aspecto técnico. A comparação com o similar estrangeiro será uma constante e estará desde então presente na avaliação da atividade cinematográfica no país, adquirindo em cada momento um significado diferente. Nesse momento não existe uma discussão em termos estéticos e sim uma abordagem que tem como preocupação discutir a competência técnica para a confecção de uma fita."

No artigo Sodoma e Gomorra, a reclamação sobre a deficiência técnica dos aparelhos de projeção foi reforçada pela crítica ao ato de fumar, o que se repetia constantemente nas salas de cinema da capital cearense.

O articulista ressalta de forma irônica que na exibição do filme Sodoma e Gomorra 
“... excessos de toda a ordem ali appareceram em tintas vivas e fortes...” O interessante é que o filme era em preto e branco, mas a expressão “ tintas vivas e fortes” é utilizada para relacionar os excessos do que era exibido na tela com o que acontecia na sala, antes e durante a sessão cinematográfica.

Apenas no ano de 1934 é que veio a ser lançada a primeira película colorida, com o filme norte-americano La Cucaracha, por meio do sistema technicolor. Até então, o que vigorava era a predominância de filmes em preto e branco. 


No entanto, apesar da supremacia das películas em preto e branco, havia por parte da firma francesa Pathé Fréres, a prática de colorizar quadro a quadro algumas de suas fitas, isso antes da década de 1920. Neste decênio, alguns filmes norte-americanos sofreram o processo de colorização, mas apenas de alguns trechos da fita. Ou seja, o filme era como um todo em preto e branco, tendo apenas algumas poucas cenas colorizadas. 


Alguns destes filmes colorizados foram exibidos na capital cearense. A predominância dos filmes em preto e branco é demostrada pelos raros filmes colorizados. A seguir, listamos alguns filmes parcialmente colorizados, por processos pioneiros e experimentais, com o seu respectivo ano de exibição em Fortaleza


No Brasil, o processo de colorização de alguns filmes também era utilizado no início do século XX. Apesar dos filmes em preto e branco prevalecerem, a cor não ficou, por completa, ausente das fitas nacionais: 

"Nesses primórdios, sua utilização ocorre através da coloração artificial, parcial ou total do negativo, e, mais frequentemente, das cópias. Existem dois procedimentos básicos: pintar livremente a mão detalhe por detalhe, fotograma por fotograma, e submeter a película ou a um banho de anilina, conhecido por tintagem, ou a um banho químico, conhecido por viragem, fixando-se, nesses casos, uma única cor por plano, cena ou seqüência, dependendo do material e das escolhas feitas pelo realizador. Por ser uma especialidade da indústria cinematográfica francesa, o colorido a mão tem parcos exemplos no cinema brasileiro. Em função de suas ligações com a PATHÉ, a família Ferrez envia a partir de 1908 cópias de alguns títulos para serem colorizadas na capital francesa, caso de A mala sinistra, que terminava em uma “apoteose colorida”. (...) a tintagem predomina nos primeiros tempos, por exemplo em alguns filmes de Afonso Segreto, e a viragem a partir de meados da década de 10 (...) Na década de 20 a maior parte dos filmes brasileiros incorpora as viragens, incluindo sua codificação simbólica (vermelho para cenas de paixão, verde para cenas de idílio amoroso, amarelo para cenas de tristeza, em enorme variedade cromática e de significados), distinguindo-se os resultados alcançados pelos laboratórios da BENEDETTI FILM (Brasa dormida, barro humano) e da INDEPENDÊNCIA OMNIA FILM (Vício e beleza, Fogo de palha)."

Apesar de contundentes críticas, como a do artigo Sodoma e Gomorra, Luiz Severiano Ribeiro terminava a década de 20 expandindo-se comercialmente, atuando na exibição cinematográfica com salas do AcreRecife. No Rio de Janeiro, instala várias salas de cinema, onde destacamos o “Cine São Luiz”, inaugurado em 22 de fevereiro de 1937, no Largo do Machado.  
Na década de 30, a atividade de exibição cinematográfica será controlada por dois empresários: Serrador e Severiano Ribeiro. A força desses exibidores reside, fundamentalmente, nas boas relações comerciais que mantêm com as empresas distribuidoras norte – americanas. Outro detalhe interessante está no fato de controlarem os principais territórios cinematográficos do país: Rio de Janeiro e São Paulo.

Cine Diogo - Anos 40 - Arquivo O Povo

Em Fortaleza, nos anos 40, inaugura o “Cine Diogo” e, nos anos 50, o “Cine São Luiz”. Mesmo não sendo nosso objetivo adentrar nas décadas seguintes na análise da atuação de Severiano Ribeiro, pois nos concentramos nos anos de 1920, é significativo mencionarmos que, após este decênio, ele se consolida como um dos maiores exibidores cinematográficos do Brasil.*

A Praça do Ferreira com o belíssimo Cine São Luiz - Anos 70

*Luiz Severiano Ribeiro transfere para seu filho o comando das empresas, vindo a falecer no dia 1º  de dezembro de 1974, aos 89 anos de idade, no Rio de Janeiro.



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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Cine Diogo - Hoje Shopping Diogo



Cine Diogo - Anos 40 - Arquivo O Povo

Eles carregam símbolos da modernidade como escadas rolantes e compras desenfreadas. O que já foi cinema, padaria e congregações da Fortaleza antiga vem cedendo espaço para a Fortaleza do século XXI no Centro Histórico.

Tela gigante. Nela, o desenrolar da história da bela e inocente jovem de família pobre que se apaixona justamente pelo noivo rico de sua melhor amiga. Com a ajuda de seus familiares, faz as vezes de princesa para conquistar a sua paixão. No mundo real, José Augusto da Silva era um dos rapazotes que se inquietavam nas cadeiras do Cine Diogo e mergulhavam na história de amor alheia. Dio, Come Ti Amo. Fim da década de 60. Vinte anos antes, a pomposa sala de cinema havia sido inaugurada com Balalaika. 

Cine Diogo do Jornal Unitário em 1946 - Acervo Lucas Júnior

Hoje, quem adentra o principal espaço do prédio de oito andares da rua Barão do Rio Branco, no Centro Histórico, não enxerga resquícios do que se foi. Para isso, os mais velhos têm de abrir o baú da memória. Já os mais novos têm de se contentar apenas com os letreiros da entrada: Shopping Diogo

Bilheteria do Cine Diogo - 1950 - Arquivo Nirez

Entrada do Cine Diogo - 1950 Arquivo Nirez

Como o Shopping Diogo, algumas edificações do Centro Histórico de Fortaleza viraram pó ou foram rumadas a novos destinos. Com a passagem dos anos, o desleixo de gestores públicos, más administrações ou crises financeiras fizeram desaparecer pedaços da Fortaleza antiga. No entanto, alguns edifícios fazem remissão ao passado através da manutenção do nome original. "Naquele tempo era calmo, né?", rememorou seu José Augusto, em meio ao burburinho do Shopping Diogo. Primeiro piso. O rapazote dos anos 60 virou motorista e agora é um senhor de 61 anos, saudoso do gigante que se foi. "Eu nunca pensei que aquele espaço tão bonito iria virar um negócio desses", resumiu, voltando os braços em direção às pequenas multidões agoniadas e suas sacolas de compra. 

Convite do programa de inauguração do Cine Diogo

Espalhados pelos oito andares do Edifício Diogo, também funcionam escritórios comerciais - alguns de lojas que têm filiais no próprio shopping. O prédio verde claro, branco e amarelo ainda mantém a fachada antiga, bem como a estrutura externa. No entanto, abriga a modernidade da escada rolante no mesmo local que já reuniu imensas platéias em torno de vários filmes vencedores de Oscars dos anos 30 aos 90. Capitão Blood, O Ladrão de Bagdad, Orgulho e Preconceito e A Ponte de Waterloo são exemplos. 

Foto de 1942

Várias funções 

O Cine Diogo foi inaugurado no dia 7 de setembro de 1940. Além do cinema e do shopping atualmente instalado ali, o Edifício Diogo já abrigou a Navegação Aérea Brasileira (NAB), o Palácio da Criança, e a Ceará Rádio Clube. Hoje, o shopping mantém estabelecimentos comerciais de toda sorte - de aparelhos eletrônicos a eletrodomésticos, de lojas de confecções a lanchonetes. No espaço está instalada ainda a Casa do Cidadão, onde funcionam diversos postos de serviço como emissão de documentos. O local é o principal responsável pelo movimento ininterrupto de gente ao longo do dia. 

Foto de 1940

Foto tirada do mesmo ângulo - No local do velho sobrado da "Farmácia Albano" o Edifício Jalcy, inaugurado em 1959, que traz na parte térrea o "Waldo's" (café e tabacaria). Em seguida vêm várias lojas e depois o edifício Diogo 

A adolescente Michele Rocha, 14, tinha três anos quando o Cine Diogo fechou suas portas. Banhada de rosa dos pés à bolsinha a tiracolo, fofocava com duas amigas em frente a uma das lojas. Paquera. "É que aquele vendedor ali é muito gatinho", dizia, sem desconcerto. Questionada se ela já ouvira falar do Cine Diogo, resposta pronta: "Hã? Cinema? Aqui nem combina com isso. E onde caberia um cinema aqui nesse espaço?". O melhor, Michele, é que cabia. Durante 60 anos. E lá ainda tinha espaço para histórias de amor como a da jovem que virou princesa para conquistar o nobre rapaz. E para acompanhar essas histórias tinha gente como seu José Augusto da Silva, que hoje faz compras onde, antes, brincava de sonhar. 

Foto de 1955 - Luiz Gonzaga e seus músicos no Ed. Diogo, na época que lá funcionava os auditórios da Ceará Rádio Clube - Arquivo do site Forró em vinil

Cine Diogo em decadência nos anos 90



Hoje o Cine Diogo virou Shopping


Fonte: Jornal OPovo

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