Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Universidade Federal do Ceará - UFC




Palacete da Família Gentil - Adquirido e ampliado pela UFC para sede da Reitoria - Arquivo Nirez

Portão da Reitoria da UFC - Arquivo Nirez

A Universidade Federal do Ceará é uma autarquia vinculada ao Ministério da Educação. Nasceu como resultado de um amplo movimento de opinião pública que teve início no ano de 1949O principal interlocutor deste movimento foi Antônio Martins Filho*, intelectual que veio a se tornar o primeiro reitor da então recém criada Universidade do Ceará.





UFC 1961

Arquivo Nirez

Foi criada pela Lei nº 2.373, em 16 de dezembro de 1954, e instalada em 25 de junho do ano seguinte. 
Sua implantação, sob a direção de seu fundador, Prof. Antônio Martins Filho, deveu-se da união de várias instituições de ensino superior então existentes na cidade de FortalezaEscola de Agronomia do Ceará,Faculdade de Direito do CearáFaculdade de Medicina do Ceará e Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará.

Arquivo Nirez

Arquivo Nirez

Sediada em Fortaleza, capital do estado, a UFC é um braço do sistema do ensino superior do Ceará e sua atuação tem por base todo o território cearense, de forma a atender às diferentes escalas de exigências da sociedade.

A UFC é composta de seis campi, denominados:
Campus do Benfica, Campus do Pici e Campus do Porangabussu, todos localizados no município de Fortaleza, além do Campus de Sobral, do Campus do Cariri e do Campus de Quixadá.

Hoje, a Universidade Federal do Ceará, que há mais de 50 anos mantém o compromisso de servir à região, sem esquecer o caráter universal de sua produção, está presente em quase todas as áreas do conhecimento representadas em seus campi.


Arquivo Nirez

Arquivo Nirez


  • Lema

O universal pelo regional” é o lema da Universidade Federal do Ceará, instituição que busca centrar seu compromisso na solução dos problemas locais, sem esquecer o caráter universal de sua produção.



Arquivo Nirez

Arquivo Nirez

  • Missão

A missão da Universidade é formar profissionais da mais alta qualificação, gerar e difundir conhecimentos, preservar e divulgar os valores artísticos e culturais, constituindo-se em instituição estratégica para o desenvolvimento do Ceará, do
Nordeste e do Brasil.



Antônio Martins Filho - Fundador da UFC

Antônio Martins Filho
  • Visão

Consolidar-se como instituição de referência no ensino de graduação e pós-graduação (
stricto e lato sensu), de preservação, geração e produção de ciência e tecnologia, e de integração com o meio, como forma de contribuir para a superação das desigualdades sociais e econômicas, por meio da promoção do desenvolvimento sustentável do Ceará, do Nordeste e do Brasil.


Arquivo Nirez 

Arquivo Nirez

Estrutura

A UFC em Fortaleza está dividida em três campi, ocupa uma área urbana de 233 hectares:
  • Campus do Benfica - (13ha) – Reitoria; Pró-Reitorias de Planejamento, Administração e Assuntos Estudantis; Centro de Humanidades; Cursos de DireitoEducação, e Economia,AdministraçãoAtuáriaContabilidade e Secretariado; Curso de Arquitetura e equipamentos culturais.
  • Campus do Pici - (212 ha) – Centros de Ciências, Ciências Agrárias e Tecnologia; Pró-Reitorias de Graduação e de Pesquisa e Pós-Graduação; Biblioteca Universitária, núcleos e laboratórios diversos, além de área para a prática de esportes.
  • Campus do Porangabussu - (8 ha) – Curso de FarmáciaOdontologia e Enfermagem; Curso de Medicina; complexo hospitalar (Hospital Universitário Walter CantídioMaternidade-Escola Assis Chateaubriand e Farmácia-Escola), laboratórios e clínicas.
  • Existem ainda, fora dos três campi, o Instituto de Ciências do Mar (Meireles) e a Casa de José de Alencar (Messejana - onde funciona o curso de Licenciatura em Educação Musical, vinculado ao Instituto de Cultura e Arte - ICA).

Arquivo Nirez

Arquivo Nirez

A UFC também possui três campi no interior do estado:
  • Campus Cariri - Curso de Medicina (Barbalha), Curso de Agronomia (Crato), e Cursos de AdministraçãoBiblioteconomiaEngenharia Civil e Filosofia (Juazeiro do Norte);
  • Campus Sobral - Cursos de Ciências EconômicasEngenharia da ComputaçãoEngenharia ElétricaMedicinaOdontologia e Psicologia;
  • Campus Quixadá - Sistemas de Informação;
  • Existem ainda, fora dos três campi, as fazendas experimentais de Quixadá (Fazenda Lavoura Seca), Pentecoste (Fazenda Vale do Curu) e Maracanaú (Fazenda Raposa).


Arquivo Nirez

Arquivo Nirez

Equipamentos culturais

  • Sistema de Bibliotecas, com 14 unidades, sendo 12 em Fortaleza, uma em Barbalha e uma em Sobral
  • Casa de José de Alencar (museu, pinacoteca, centro de treinamento, ruínas do primeiro engenho a vapor do Ceará e a casa onde nasceu o autor de Iracema)
  • Museu de Arte - MAUC (com obras dos mais representativos artistas plásticos cearenses)
  • Casa Amarela Eusélio Oliveira (centro de ensino e criação nas áreas de cinema e vídeo)
  • Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno (sede do Curso de Arte Dramática)
  • Seara da Ciência (museu interativo com exposições sobre físicaquímica e biologia)
  • Rádio Universitária FM 107,9
  • Concha Acústica
  • Imprensa Universitária e Editora da UFC
  • Instituto de Cultura e Arte

Arquivo Nirez

Parque de esportes

No campus do Pici a UFC tem a maioria dos equipamentos esportivos, tais como, uma pista de atletismo, piscinas olímpica e semi-olímpica, campo oficial de futebol e ginásio, além de vestiários.Na UFC é comum a prática de esportes como o jiu jitsu,muay thai,wrestling entre outros,formando o MMA,ou mixed martial arts,um esporte em contato em que o oponente ou é submetido a uma finalização ou é nocauteado,ou se nenhum dos dois ocorrer a decisão vai para os juizes.atletas famosos e conhecidos da pratica são alguns como Minotauro nogueira,Anderson Silva, Chuck Liddel e etc.


Arquivo Nirez

Arquivo Nirez

Organização

A unidade básica de organização da UFC é o departamento sendo a ele vinculado os professores e pessoal responsavel pelo funcionamento dos cursos da universidade. Os departamentos são coordenados por centros ou faculdades. Equiparando ao sistema da Plataforma Lattesonde o centro ou faculdade seria uma grande área do conhecimento e o departamento uma área. Atualmente são 5 faculdades e 4 centros.

  • Faculdade de Direito


  • Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade
  • Faculdade de Educação
  • Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem
  • Faculdade de Medicina
  • Centro de Ciências
  • Centro de Ciências Agrárias
  • Centro de Humanidades
  • Centro de Tecnologia
  • Instituto de Cultura e Arte - ICA
  • Instituto UFC Virtual

Arquivo Nirez

Reitoria - Universidade Federal do Ceará

*Antônio Martins Filho nasceu no Crato em 22 de dezembro de 1904. Foi um dos mais eminentes fomentadores da fundação da primeira universidade do Ceará tornando-se "O Reitor" da vindora instituição quando da sua fundação em 1954, a atual Universidade Federal do Ceará.

Nasceu no sítio Santa Teresa, Cariri. Teve a ajuda da sua avó para entrar no mundo das letras com a leitura da saga de Carlos Magno e depois continuada com a leitura de Alexandre HerculanoJosé de AlencarGuerra Junqueira e Augusto dos Anjos. Aos onze anos teve seu primeiro emprego. Trabalhou na Gazeta Cariry, no Crato, desde a entrega dos jornais aos assinantes até trabalhos técnicos na parte da impressão. Dez anos depois disso ele estava no Maranhão trabalhando como caixeiro comerciante.
Em 1929, ainda no Maranhão, em Caxias, abriu sua própria firma, A Cearense. Em Teresina foi dono do Cine-Rex e do jornal Voz do Povo e criou o Ginásio Caxiense e fazia Faculdade de Direito no Piauí nos finais de semana tendo sido bacharelado em 1935. O declínio nos negócios no Maranhão e os constantes problemas de saúde dele e de alguns filhos forçaram sua mudança para Fortaleza.


Já em 1937, dirigindo a Editora Fortaleza, começou a publicar semanalmente a revista O Valor que teve tiragem por mais de nove anos. Em parceria com Raimundo Girão Lançou o livro O Ceará. Foi Ex-Diretor e proprietário da Academia de Comercio Padre Champagnat de Fortaleza de 1939 até 1943, ano em que entrou no Instituto do Ceará e também na Academia Cearense de Letras.

Raimundo Girão e Antônio Martins Filho
Foi professor do Liceu e de outras instituições de ensino de Fortaleza e em 1945 se tornou Professor Catedrático por concurso e Doutor em Direito pela Faculdade de Direito do Ceará. Em 1948 toma a liderança no processo de criação da antiga Universidade do Ceará atual UFC, que se torna uma "campanha política" uma vez que depois desse esforço de estabelecer bases para um projeto de universidade tanto o Governo de Faustino de Albuquerque quanto a mídia nacional com o debate na revista O Cruzeiro entre Martins Filho e Gilberto Freire que defendia que a Universidade do Recife era suficiente para a região.
A universidade foi finalmente criada em 1954 e instalada em 1955 e ate 1967 teve como Reitor Martins Filho que deu prosseguimento à criação de uma infra-estrutura para a universidade criando a Imprensa Universitária, adquirindo o atual prédio da Reitoria e da casa de José de Alencar e criando condições para que a universidade pudesse continuar crescendo.
Aposentou-se em 1974, mas fundou também a Universidade Estadual do Ceará - UECE em 1977 e a Universidade Regional do Carirí - URCA em 1986. Foi membro do Conselho Nacional de Educação na década de 1960 tendo permanecido no conselho por 13 anos. Foi representante do Brasil na OEA no comitê Latino-Americano de Avaliação dos Sistemas de Bolsas de Estudos.
Morreu em  Fortaleza no dia 20 de dezembro de 2002, dois dias antes de completar 98 anos por falência múltipla dos órgãos.




Fontes: Wikipédia e  Site da UFC

E.E.F.M. Antônio Dias Macedo


Foto de 1963 - Arquivo Portal Dias Macêdo

1963 - Arquivo Portal Dias Macêdo

Ampliação da escola - Arquivo Portal Dias Macêdo

A E.E.F.M. Antônio Dias Macedo, localiza-se na rua Pedro Dantas, nº 340, no bairro Dias Macedo, no município de Fortaleza, tendo sido construída no governo de VírgilioTávora.
Esta construção foi resultado da parceria entre a Fundação Dias Macedo que cedeu o terreno e o governo do estado que financiou as instalações e manutenção. A escola foi fundada e inaugurada em 15 de Agosto de 1964, pelo professor José Duarte Espinheiro (Sr. Zequinha), recebendo o nome de Grupo escolar Antônio Dias Macedo, funcionando nos turnos manhã e tarde, com seis turmas do jardim a 4ª série primária.






Em 1971 com a lei 5692/71 com a reforma do ensino alterou seu nome para Escola de 1º grau Antônio Dias Macedo, já oferecendo ensino do pré-escolar até a 8ª série. A partir de 1996 com a nova LDB 9394/96 a escola incorporou o ensino médio, seu nome passou a ser E.E.F.M Antônio Dias Macedo.

Primeira cozinha da escola -  Arquivo Portal Dias Macêdo



Oferece atualmente os dois níveis de ensino: Fundamental e Médio, nas seguintes modalidades: 4ª série ao 9º ano do ensino fundamental; 1ª, 2ª, e 3ª séries do ensino médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos), divididos nos turnos: manhã, tarde e noite, somando um total de 567 alunos, divididos em 15 turmas.




Projetos sociais:Atletismo na pessoa de Marcos Prado, Capoeira (com César Simpatia), Casa do Conto (Júlia Barros) e desbravadores.


O núcleo gestor atualmente é composto pela diretora: Suley Maria Fernandes de Holanda, pela Coordenadora: Maria de Fátima Araújo da Silva e pela Secretária: Francisca Ferreira da Silva.




Minha foto
Arquivo Blog da escola

Sala de Multimeios - Arquivo Blog da escola




domingo, 17 de outubro de 2010

Excelsior Hotel em fotos


Construção do Excelsior Hotel - 1929

Postal da inauguração do Excelsior Hotel, com os seguintes dizeres no postal: "O mais importante do Norte do Brasil". Levantado em dezembro de 1931, todo construído em alvenaria, com suas bandeiras das nações amigas, há rumores que seria o maior edifício do mundo, todo levantado em alvenaria.

Excelsior Hotel 1930 - Podemos ver também o prédio Sul América e Savanah em construção com os operários

Excelsior e suas bandeiras simbolizando as Nações Unidas

Anos 30


Vista do Excelsior, anos 30

Anos 30

Excelcior 1935-1940

Anos 40 - Blog Fortaleza Antiga

Postal vendo-se o Hotel na Praça do Ferreira - Anos 50

Década de 50

1956

2008 - Crédito da foto: Manilov

Excelsior em 2008, entrada do edificio - Foto de Manilov


Sobre o Excelsior Hotel e

Crédito da maioria das fotos: Fortal (skyscrapercity)

sábado, 16 de outubro de 2010

Moreira Campos está entre nós




Raymundo Netto o reencontrou no bairro do Benfica e nos relata aqui a conversa que teve com o mestre maior do conto entre os cearenses.

Pois bem, estava cruzando o Benfica, bairro intelectual e boêmio de nossa Fortaleza, para visitar um amigo que mora próximo à universidade, quando vi um fusquinha verde entrar no estacionamento aberto do shopping. Como se fossem fogos, despertando a dormência da tarde, explodia-lhe o escapamento, deixando traçar no chão uma trilha de doze parafusos. Os taxistas e pedestres riam daquela “arrumação”.

Desceu do carro um senhor magro — aparentava uns oitenta anos — com o rosto marcado e pálido, testa larga e os fios de cabelos brancos puxados para trás das orelhas. Com as mãos à cintura, e numa delas uma rosa, olhava surpreso para os lados. Leon, um funcionário que trabalha no local há mais tempo, gentilmente tentava explicar-lhe algo. Aproximei e ouvi quando aquele senhor insistiu, impaciente: “Mas, meu filho, você é quem não está me entendendo... Eu moro aqui!”
Não tinha mais dúvida: aquele homem era mesmo o professor Moreira Campos!
Leon não sabia o que fazer. Decerto, deveria ser um engano. Fazia já algum tempo que ali funcionava o estacionamento, e antes, ouviu dizer, “havia apenas uma casa antiga onde moravam dois velhos, mas que o shopping havia comprado e demolido a tal casa”.

Percebi que o Moreira, então boquiaberto, deixara cair a rosa que aos poucos empalidecia como se a dizer “para tão longo amor, tão curta a vida''*. Ficou assim, estático, dirigindo um olhar atento e desesperançado para o pequeno rapaz que falava, falava e falava...

— Vamos tentar resumir essa história, faz-se longa demais!, concluiu, deixando o moço a falar com as moscas.
Um cachorro magro farejava latas de lixo, parou e pôs-se a latir, arranhando a porta do carro com a patinha: Dizem que os cães vêem coisas...
Contrariado e perdido, o professor sentou-se no meio-fio do passeio ensombrado por um benjamim; apoiou o queixo pessimista no dorso de uma das mãos e divisou aquele shopping, mergulhando em si mesmo, encolhido pela tristeza. “As moscas insistentes provavam-lhe os cantos dos olhos” e ele refletia: “A vida endurece”!
Não via mais a sua casa, mas por dentro, chorava-a. Ouvia as mesmas vozes, o ranger do armador, o tilintar dos talheres na cozinha, a zoada das crianças no corredor e o piano da companheira amada: a Zezé... Passou pela cabeça, penso, as alegres reuniões e o papo literário, o café, o convívio com amigos no pequeno jardim de sua casa, a delícia da beira da rede na varanda, o desgasto do piso comido por tantos passos, o gemer de ferros do relógio na parede, o cheiro da terra molhada pela chuva colorida em iluminuras pelas histórias da Natércia, o cheiro do inhame quente, do piqui, da manteiga da terra, os passeios na calçada depois do jantar, e daí, sentiu saudades da penumbra da noite, onde queimava o lume de um cigarro... Desabafou:

— Não tem coisa pior do que voltar para casa e encontrar as portas fechadas... O mestre Tchecov já dizia: “se você vai derrubar a casa, apodreça de logo a cumeeira”.
As pálpebras franjavam o olhar plangente. Ele resistia, mas não estava sendo fácil:
— Não podia ficar para semente, ora! — caiu num silêncio melancólico, uma sensação perturbadora de não reconhecimento. Sim, aquela casa o abrigara e o acolhera por tantos anos. De lá, do “buraco da gia”, gabinete construído nos fundos da casa, é que vaporaram muitos dos seus fantasmas! Agora, eram apenas lembranças que se perderam no pó das paredes que ruíram.

— E os meus amigos, o Manuelito Eduardo, Artur, Aderaldo, Colares, Caetano, Sânzio, Pedro, Inês, Ângela e os outros, se quiserem me ver? A casa era tão minha que se pejava de minha voz. Eu podia falar pelas colunas, paredes, telhados, janelas... E agora, quando quiserem me encontrar, como farão?

Abeirei-me do contista, mostrei-lhe um livro de sua autoria que, por felicidade, trazia. Pedi uma dedicatória. Moreira sorriu, compreendeu meu recado, e tomou-lhe às mãos.

Leu para mim um trecho de As Três Irmãs: “(...) tinham mandado demolir o casarão: queriam espaço para o estacionamento de automóveis, mais lucrativo (...) O senhor de cabelos brancos comentava:
— Uma pena!
— Isto era casa para ser tombada. Um patrimônio.
— Não temos tradição.
— Pura verdade.”
Fez-se novo silêncio. Recordou sua vinda para a cidade amada, pigarreando um pouco para depois declamar: “Fortaleza era então provinciana, era menina. Cadeiras nas calçadas e a tristeza dos lampiões a gás em cada esquina”.

— Pois é, professor Zé Maria, mas essas coisas não acontecem só no Ceará, não, viu? No Rio de Janeiro também deixaram demolir a casa do Machado de Assis.

— Sim, eu sei, estive com ele... Estava casmurro por conta disso: a casa foi-se indefesa! Nem os lidos... Contudo, sempre acreditei que “o destino é o mais fértil dos ficcionistas, aquele capaz de todas as tramas e enredos”. Quis o destino que esta casa não sobrevivesse. O consolo é que “valem todos os momentos que deixamos impregnados naquele chão de mosaicos tão antigo.”

Puxando um cadarço do mocassim e espantando uma mosca que lhe mordiscava o lábio, Moreira olhou a rua, apontava as pessoas que passavam: uma mulher que, arrastando cinco crianças descalças e alegres, trazia um prato enrolado com uma toalha;  o senhor de olhos grandes e brancos, onde as contas de um terço corriam-lhe pelos dedos; duas velhas moucas; uma moça de blusa de mangas compridas de bolinhas com o esmalte das unhas roído, e outra  que passava agitada com o dedo em riste, bradando: “Meu irmão foi um mártir!”

— Está dando uma de doida, criatura? — perguntou, a sorrir do gracejo, para ela. Confessou-me: — Toda a literatura que escrevi se inspirou neste território cearense e em sua gente. Sou seduzido pelo ser humano e pelo que ele tem de vulnerável! Aprenda, Raymundo: sem experiência vivida, é raro conseguir-se grande coisa em ficção. Falo da verdade artística. Para ser arte, tem de se recriar o real, caso contrário se torna matéria jornalística!

Levantou-se, bateu o fundo da calça, tossiu um bocadinho, olhou novamente para o vazio. Dirigiu-se, agora mais tranqüilo, ao Leon. Lembrou e falou de Leonete, sua prima-irmã, enquanto o rapaz recebia as chaves e registrava a placa de seu fusca: “XQ - 2992”. Moreira deu uma tapinha no capô duro e recomendou que “tivesse pena do bichinho...” Depois, colocando o braço sobre meu ombro, perguntou se naquele negócio (referia-se ao shopping) tinha, pelo menos, um cinema. Adorava cinema! No outro dia, disse, iria ao Bosque das Letras, tinha tantas saudades das árvores de lá... “Pelo menos elas continuam por lá, não? Olha, olha...”

Chegara a noite, as corujas apareceram rasgando mortalha “num cair de asas leves, impressentidas, como num sopro de morte” no alto do vazio que restou. 

Raymundo Netto

(*) Último verso do Soneto 88 de Camões

__________________________________________
Minha foto  Crédito - Jornal O Povo




Leia a biografia de Moreira Campos
NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: