Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Antigo Mata Galinha - Bairro Boa Vista



O bairro é pequeno, com pouco mais de 4 mil habitantes.

O bairro é muito movimentado, mas de nome pouco conhecido. Você sabe onde fica o Mata Galinha?

O bairro é um lugar pequeno, que fica entre a Rua Alberto Craveiro e o Rio Cocó. O Castelão também é um dos limites, um dos maiores estádios do País.

Chamado oficialmente de Mata Galinha, mas é o nome ‘Boa vista’ a preferência dos moradores. E assim começa a grande dúvida, de onde vem esse nome tão estranho? Alguns dizem que seria referência a um antigo conjunto habitacional, mas quase ninguém sabe o motivo de um nome tão estranho. E quem sabe, mesmo assim tem dúvidas sobre uma história tão antiga.


Alguns moradores dizem que somente a Prefeitura considera a área pelo nome de Mata Galinha e que a idéia é mudar oficialmente o nome para Boa Vista, como é conhecido há muito tempo. 


Deixando de lado a polêmica do nome, o bairro tem muitos pontos positivos, um deles é a organização dos moradores. Trabalho de consciência ambiental para a juventude.



Li um comentário muito interessante do José Arnaldo Leo de Oliveira que colocarei aqui:

O nome de Mata Galinha

"Nos anos 50 quando ainda era vendidas galinhas em galão, ou seja, homens saiam vendendo em porta em porta as galinhas caipiras penduradas na vara em cima dos ombros. Cada homem levava aproximadamente vinte galinhas (dez em cada lado). Um dia, como sempre acontece ainda hoje, houve uma enchente nas proximidades da Avenida Alberto Craveiro com a Rua Pedro Dantas quando vários vendedores de galinhas tentaram atravessar o local que fica hoje a estação da Chesf no Dias Macedo e então tropeçaram e devido à grande correnteza tiveram que soltar a vara com todas as galinhas que eram amarradas pelos pés e todas morreram. Naquela época as duas vias ainda eram de chão batido. Todos os vendedores de galinha eram muito conhecidos pela comunidade e dai então a família Oliveira (meus bisavós) batizou o local como Mata Galinha. Vale lembrar, que o bairro Dias Macedo e o Boa Vista era um bairro só. Depois de alguns anos o senhor empreendedor falecido Benedito Macedo, genro do então Alberto Craveiro dono das terras que hoje é a Fazenda Esperança e que antes era a Fazenda Uirapuru (uma das mais moderna do nordeste) montou a referida fazenda e fundou com o seu irmão Zé Macedo (família Macedo) uma fundação. por serem políticos, colocaram o nome do bairro de Dias Macedo.
O bairro Mata Galinha começou com a família dos Oliveiras. todas as terras do grande aeroporto pertenciam à família Oliveira quando na segunda guerra o governo confiscou uma grande parte para construir o aeroporto.
Da lagoa do Opaia até a BR 116 e av. Pedro Dantas era a fazenda da família. Eles doaram a terra e construíram a Igreja de São Francisco no Mata Galinha.
O ria Cocó ainda era nos anos 60 potável. Quase toda grande região da Aldeota velha era construída com areia grossa retirada do leito do rio Cocó que era explorada pela própria família. Eles comercializavam a areia, o tijolo onde uma grande parte era produzida na lagoa do Opaia (antigo aeroporto) e também fabricavam a cera de carnaúba em todo o Mata Galinha, ou seja, do Makro até as proximidades do Castelão.
O Manuel de Oliveira chegou aqui nos anos de 1600 e tarara… vindo de Portugal onde se instalou primeiramente em Aracati. Seu filho Francisco de Oliveira que era pai do João de Oliveira que era pai do Raimundo de Oliveira que era pai do Adalberto de Oliveira que era meu pai. todos esses homens tiveram cada um aproximadamente 15 filhos. A minha avó Argentina Saraiva de Oliveira, 102 anos (viva) ainda no mesmo local esposa do meu avô Raimundo Nogueira de Oliveira e tiveram 24 filhos. meus pais tiveram 18 filhos. Eu tenho 52 nos.
Ainda existe hoje a grande casa que pertencia o meu tataravô que fica ao lado da igreja e em frente à av. Alberto Craveiro que hoje pertence ao senhor Geraldo.
Onde se encontra o Makro também pertencia à família. Em frente ao Makro por trás da transportadora JPN ainda existe um pequeno terreno (virgem) que ainda restou de todas as terras do grande aeroporto que e de propriedade da família. Dentro do aeroporto tem uma nascente que deságua neste pequeno terreno através de um córrego que por sua vez passa por baixo do Makro se encontrando com o nosso poluído ria Cocó. Talvez seja ainda dentro de Fortaleza que temos um riacho com águas cristalinas e pouca gente sabe disso. Precisamos de vocês para que seja preservada essa nascente do aeroporto. Meus bisavós doaram algumas terras para ao senhor Pedro Dantas (hoje av.), então avô da minha avó. Ajudou também a construir a igreja.
Um fato curioso: antes da igreja matriz, existia uma capelinha. Meus bisavós e avós vendo o crescimento da comunidade resolveram então fazer uma grande igreja (hoje a São Francisco). Minha avó sempre pedindo ao marido e ao sogro donativos e dinheiro para o termino da obra. Os mesmos não aguentava mais tanto gasto. Um belo dia a dona Argentina foi até ao senhor Benedito Macedo, dono da Fazenda Uirapuru e pediu uma ajuda para dar continuidade a obra, já que o mesmo também fazia parte da comunidade. Então o senhor Benedito perguntou pra minha avó o que estava faltando para igreja ser concluída. Dona Argentina disse que estava faltando apenas o piso e a coberta para que a comunidade fosse atendida, já que a capelinha não suportava mais de tantos fiéis. O senhor Benedito Macedo disse então para a minha avó (jovem ainda) que não se preocupasse que o piso e a coberta seria por conta dele. “E assim temos uma grande igreja construída pela família Oliveira com uma grande ajuda dos Macedos.” 






Crédito: CETV

domingo, 14 de novembro de 2010

Assembléia Legislativa do Estado do Ceará


Assembléia Legislativa do Estado do Ceará. Da esquerda para a direira da foto. O segundo, o Padre Francisco Máximo Feitosa e Castro. Em quinto, já provécto, o seu irmão, Lourenço Alves Feitosa e Castro. Por seguidas vezes presidente. Aguerridos aliados de Nogeuira Accioli. Crédito da foto: Pedro Albuquerque

As origens da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará remontam a 1835. No dia 7 de abril daquele ano, o senador José Martiniano de Alencar, que ocupava a presidência da Província do Ceará, abria os trabalhos da primeira sessão do Poder Legislativo cearense. Cumpria-se naquele momento o Ato Adicional assinado pela Regência em 1834, que criava as Assembléias Legislativas Provinciais. Em sua primeira legislatura, a Assembléia era composta por 28 deputados e 7 suplentes e se localizava nas proximidades da Praça da Sé. O primeiro presidente do Poder foi o Capitão-Mor Joaquim José Barbosa.

No ano de 1871, o Legislativo transfere-se para o chamado Paço da Assembléia, na praça Capistrano de Abreu (rua São Paulo, no Centro de Fortaleza), lá permanecendo por mais de um século. Foi lá onde a Assembléia elaborou a primeira Constituição do Estado do Ceará em 1891, ano em que foi instituído o Congresso cearense, com Senado e Câmara dos Deputados no Legislativo estadual. A segunda Constituinte veio apenas um ano depois, em 1892, quando ficou decidida a extinção do Senado cearense, após breve existência, tornando a Assembléia novamente um legislativo unicameral.

No período da chamada República Velha (1889-1930), o Ceará teve ainda mais três Constituições Estaduais, elaboradas em 1917, 1921 e 1925. A Assembléia voltaria a se reunir em Constituinte em 1935, com a Era Vargas e o retorno da eleição do Governador pelo voto indireto, a exemplo das Constituições de 1891 e 1892. O período de redemocratização (1946-1964), trouxe uma nova Carta Magna estadual em 1947, em período de restabelecimento da normalidade democrática do País.

O regime militar de 1964 fez o Legislativo estadual novamente adaptar a Constituição do Estado à nova realidade política brasileira. Foi neste período em que a Assembléia ganhou sua atual sede, o Palácio Deputado Adauto Bezerra, inaugurado em 1977, na avenida Desembargador Moreira.

Com o fim do regime militar, após José Sarney assumir a presidência da República em 1985, é convocada nova Constituinte no Congresso Nacional, que elabora a Constituição de 1988. Um ano após, a Assembléia elabora a atual Constituinte do Estado, que repercute os ideais democráticos trazidos pela Constituição Federal de 1988.

O Poder Legislativo cearense atravessou, portanto, em seus mais de 170 anos de existência, diversos períodos da História cearense e brasileira, passando por Império e República, sempre como a Casa onde são discutidos os interesses dos diversos segmentos da população cearense.




Crédito: Site Oficial da Assembléia

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Seu Lunga - A lenda viva


Atendendo a pedidos...


Quem nunca ouviu falar no seu Lunga?  Seria ele realmente tão mal  humorado quanto dizem?

Joaquim Rodrigues dos Santos nasceu em Caririaçu, em 18 de agosto de 1927. Mais conhecido como Seu Lunga, é um comerciante que se tornou conhecido no Brasil por seu temperamento forte.

Teve sete irmãos e viveu sua infância “no meio dos matos”, afastado da cidade. O apelido lhe acompanha desde esta época, quando uma vizinha de sua família, que ele só identifica como preta velha, começou a lhe chamar de Calunga, que virou Lunga e pegou. Começou a trabalhar na roça aos oito anos de idade, e admira a criação rígida que teve de seu pai, o que marca um aspecto psicossocial do homem Lunga.

Aos 16 anos mudou-se para Juazeiro do Norte, passando a ser ourives por dois anos. Depois começou a comercializar no Mercado Público da cidade e a trabalhar no comércio com sua loja de sucata.

Lojinha de seu Lunga -  crédito da foto Inovavox

Casou-se em 1951, teve treze filhos, que, apesar da pouca instrução, conseguiu manter-lhes pelo menos com a educação básica. A pouca instrução de “Lunga”, por outro lado, não o impediu de candidatar-se a vereador da cidade de Juazeiro em 1988, eleição que não ganhou.


Conhecido pela falta de paciência nas respostas, diversos contos são atribuídos a sua pessoa aonde nem sempre pode ser comprovado sua autenticidade.
Ele é proprietário de uma loja de quinquilharias. Vende de tudo: pneu velho, tapete puído, sapato furado, prego torto, parafuso enferrujado, faca cega, chuveiro queimado, rádio quebrado, mala sem alça e, enfim, toda parafernália que alguém possa imaginar.

Vez por outra está nas grandes redes de tevê, como exemplo de quem é impaciente, direto, mal-humorado, irônico e chato. Mas que, ao mesmo tempo, detesta o óbvio e a falta de sinceridade.

É considerado pela população de Juazeiro do Norte, como uma lenda viva. 


"Causos" do seu Lunga:

O funcionário do banco veio avisar:
- Seu Lunga, a promissória venceu.
- Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória...

°°°
Seu Lunga, no elevador (no subsolo-garagem). Alguém pergunta:
- Sobe?
Seu Lunga:
- Não, esse elevador anda de lado.

°°° 
Seu Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta:
- Tá doente, Seu Lunga?
- Quer dizer que seu fosse saindo do cemitério, eu tava morto???

°°° 
Seu Lunga dava uma bela surra no filho e o menino gritava:
- Tá bom, pai! Tá bom, pai! Tá bom, pai!
- Tá bom? Quando tiver ruim, você me avisa, que eu paro.

°°°
O amigo de seu Lunga o cumprimenta:
- Olá, seu Lunga! Tá sumido! Por onde tem andado?
- Pelo chão, não aprendi a voar ainda…

°°° 
Na década de 70, Seu Lunga chega num bar e fala pro atendente:
- Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir!
- Desculpe seu Lunga, não posso botar música hoje…
- Mas por que??
- Meu avô morreu!
- E ele levou os discos, foi?

°°° 
Durante a madrugada, a mulher do seu Lunga passa mal:
- Lunga! Ta me dando uma coisa..
- Receba!
- Mas é uma coisa ruim!
- Então devolva!!

°°°
O telefone toca. Seu Lunga:
- Alô!
- Bom dia! Mas quem está falando?
- Você!


Editado:

'Seu Lunga' morre aos 87 anos em Barbalha, no Ceará - Matéria do G1 de 22 de novembro de 2014.

Joaquim Santos Rodrigues, o "Seu Lunga", morreu por volta das 9 horas deste sábado (22) na cidade de Barbalha, no Cariri cearense.  "Seu Lunga" tinha 87 anos e estava internado no Hospital São Vicente de Paulo há três dias, em Barbalha, por causa de um câncer de esôfago. O sepultamento será neste domingo(23) no Cemitério do Socorro, em Juazeiro do Norte
O cearense é um dos mais folclóricos nomes da cultura popular nordestina. Tornou-se personagem de inúmeras anedotas por suas respostas ao ''pé da letra'', diretas e intempestivas.

Casado com dona Carmelita Rodrigues Camilo, era pai de 13 filhos, dos quais, dois morreram.

Em entrevista veiculada na TV Verdes Mares em abril de 1996, um morador conta que o prefeito de Juazeiro do Norte precisou construir uma praça e avisou aos moradores das casas que retirassem os veículos, já que a praça fecharia o acesso às garagens. “Seu Lunga” cismou e disse que não retirava. O resultado é que o carro ficou “preso” na garagem, segundo o morador.
Perguntado pela repórter se o comentário era verdadeiro, ele respondeu: “Tudo no mundo tem jeito. O que não tem jeito é esse bando de desocupado que fica inventando estória e fazendo pergunta imbecil”. "O senhor é popular na cidade", pergunta o repórter. "Não. É que eu não gosto de pergunta imbecil e o povo gosta de fazer pergunta imbecil. Tem de pensar antes de falar. Eu não tenho esse jeito de falar bobagem e de ouvir besteira". A entrevista continua: "O senhor vende tudo aqui, não é, “Seu Lunga”?". O comerciante reponde de pronto:  "Não. O mundo não tem tudo, como é que você quer que eu venda tudo aqui na minha mercearia?"
Sobre os políticos, “Seu Lunga” também tinha opinião formada é não era das melhores. “No nosso Brasil tá faltando homem de fibra, de caráter, homem que faça as coisas de maneira honesta. Esse povo que está aí no poder, mandando, é de fazer vergonha”.



Fonte: Danosse, Wikipédia, Dirceu Galvão e http://g1.globo.com/ceara.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Praça Portugal - O coração da Aldeota


Inauguração da Praça Portugal

Em 27 de maio de 1947, é inaugurada a Praça Portugal, na Aldeota, no cruzamento da Avenida Dom Luís com Avenida Desembargador Moreira. O engenheiro que executou a obra foi Helio Teixeira Maia.
A praça foi reinaugurada em 06 de abril de 1968, na administração do prefeito José Walter Barbosa Cavalcante.

Foto do livro Praça Portugal

A Praça Portugal ainda deserta-1969 - Arquivo Nirez

O formato circular é único e chama atenção pelo tamanho e simetria. Vista do alto, o círculo
se completa com as formas quadradas e retangulares do comércio e dos edifícios da região. A
Praça Portugal, como que assinalasse o coração do bairro Aldeota, é um diferencial na capital cearense. Como uma nave espacial dos filmes de ficção, está no centro de duas das maiores e mais movimentadas avenidas do bairro, Dom Luiz e Desembargador Moreira. Por isso, vive, literalmente, circulada por muitos veículos, durante o dia inteiro.

Maravilhoso painel Caravela de Portugal, feito de pastilhas do artista plástico José Eduardo Pamplona, que ficava no lago da Praça Portugal. Foto dos anos 80.

O verde da natureza é pouco. Algumas árvores compõem o cenário e no meio do tráfego de veículos, ainda é possível ouvir o cantar de poucos pássaros. O céu azul, com poucas nuvens brancas como algodão, dá um toque contrastante, em meio ao mar de prédios coloridos e de diversos tamanhos que circundam a praça.

Nem só a forma do espaço é curiosa. Apresenta ainda alguns pontos que, muitas vezes, são passados despercebidos. Em cada recanto do cruzamento das avenidas há uma banca de jornais e revistas e um ponto de táxi. Nesses canteiros também é possível encontrar a tradicional banquinha do Paratodos (também conhecido como jogo do Bicho), quiosque que vende tapioca e churrasquinho, uma agência do Bradesco, vendedores ambulantes, o Shopping Bambuy, com sapataria, boate e butique e, claro, o Shopping Aldeota.
Os shoppings, construídos em formato da letra “L”, seguem os cantos da praça. Se a Praça Portugal, os canteiros e o shoppings fossem peças de quebra-cabeça, estes se encaixariam perfeitamente. A vista do vigésimo andar da torre comercial do shopping Aldeota, no escritório da SecrelNet prova que, no meio de tantos prédios, o céu ainda toca o mar e pontos verdes ainda compõem a paisagem da cidade.
Lugar de encontro de muitas gerações, há 20 anos a praça era bem mais movimentada, tão quanto a atual Avenida Beira Mar. Todas as sextas-feiras era quase impossível estacionar os carros. Os jovens se encontravam principalmente na fonte (já desativada), na parte central.

O extinto Shopping Portugal era a principal atração. Em seu lugar há uma obra, a qual, futuramente, dará lugar a mais um edifício, dentre muitos outros que já existem ao redor do grande círculo. Ponto de saída para festas ou apenas para “jogar conversa fora”, jovens, que agora são pais, frequentaram a praça com planos de diversão, apenas.
Hoje, aos sábados, encontrar um espaço para sentar na grama verde da praça é quase impossível. Agora ela é frequentada por jovens das mais diferentes tribos, com ideologias opostas, mas que possuem o mesmo objetivo dos mais antigos: se divertir.
Pontas de cigarro completam o cenário de garrafas de cachaça, vodka e refrigerante. Os flashes das câmeras (digitais, é claro) surgem a cada minuto, iluminando a noite de céu estrelado. A cor, independente do grupo, é a preta. Maquiagem, blusas, calças, meias, tênis All Star. Tudo preto.
O cenário da Aldeota começa a mudar às 18 horas. Meninos, meninas, rapazes e moças, que têm entre 14 e 19 anos, são os representantes oficiais de tribos como RPG , Emos e Otakus. A ida dos jovens à praça causa as mais diversas opiniões em comerciantes e moradores da região.


Segurança em primeiro lugar

De dentro do Shopping Aldeota, tudo parece estar nos conformes. Os seguranças, de ternos impecáveis e pontos de escuta nos ouvidos, rondam o local com o objetivo de manter a ordem e a segurança de lojistas e clientes.
Na parte administrativa, Lúcio Flávio Batista da Silva é o responsável pela brigada de incêndio. Em seu uniforme de bombeiro e nos coturnos, Lúcio, um simpático e calmo rapaz, apesar da profissão, alega que nunca houve qualquer caso em que foi preciso acionar os bombeiros, seja na parte interna do shopping ou na praça.
Ao contrário da situação física do shopping, a região da praça pega “fogo” aos sábados. Quando os jovens frequentadores da Praça Portugal entram no Aldeota, Leonardo de Melo, segurança do Shopping, dobra a sua atenção. A “baderna”, como o segurança diz, pode começar num simples piscar de olhos. A primeira impressão não é a que fica quando se faz referência aos frequentadores da praça. A maioria possui comportamento exemplar.
São raros os atos de vandalismo. Mesmo assim, com as “antenas” sempre ligadas, os seguranças se comunicam com freqüência quando vêem um “montinho preto” caminhando na parte interna do shopping. E o trabalho dos “homens-de-preto-com-gravatas” redobra.
Durante a semana o movimento do Aldeota é tranqüilo. Trabalhando como segurança do complexo de lojas há um ano, Leonardo nunca presenciou algo mais grave no local. A segurança do shopping está restrita à calçada. Alguns passos à diante é responsabilidade da nunca vista guarda municipal. A violência, tão presente em Fortaleza, nunca fez vítima na porta do shopping. Não há registro de assaltos. Mas, mesmo assim, todo o cuidado é pouco.
Não é difícil ver clientes pedindo aos seguranças que os acompanhem até os seus veículos. O medo é visível: ao atravessar a porta do Aldeota, as pessoas olham para os dois lados. A presença de mendigos faz com que elas andem mais rápido.

No centro da praça, monumento
presta homenagem aos portugueses

Antes de ir à praça ...

Parece um ritual. Eles se encontram no Mc Donald's, vão ao Pão de Açúcar e passam o resto da noite se divertindo. Seja bebendo, fumando, lanchando ou conversando: a noite é o cenário e o palco é a praça.
Antes de tudo, um papo no Mc Donald's. Quem passa na porta, pensa que está havendo uma promoção imperdível por causa do tumulto. Mas, olhando de perto, nada mais é do que grupos reunidos. Detalhe: sem qualquer bandeja da lanchonete à frente.
As mesas da parte externa são ocupadas e, com freqüência, a gerente Ana Cristina precisa pedir para que os jovens se retirem para dar espaço a algum cliente. O pedido é feito uma, duas, cinco, dez vezes para grupos diferentes em apenas um sábado. Felizmente, o stress não é tão grande. Os (pré-)adolescentes resmungam, mas não negam a solicitação.
Ana Cristina, funcionária da lanchonete do Aldeota há um ano, sempre viu a praça lotada. Mesmo assim, o consumo dos jovens no Mc Donald's é pequeno. Apesar disso, as vendas são boas. A localização da lanchonete, em frente à praça e em um bairro nobre, é um fator favorável.
Muita conversa. Muito cigarro. A fome e a sede começam a bater. A solução para esses problemas está no térreo do shopping. O supermercado Pão de Açúcar é a fonte. As bebidas alcoólicas (vendidas apenas aos maiores de 18 anos) são acompanhadas de refrigerante, salgadinhos tipo Cheetos e Ruffles e biscoitos doces. Antes de passar no caixa, durante as compras, os jovens “aprontam” um pouco, como disse o gerente (a loja não permite a divulgação do nome de seus funcionários).


Foto da Praça Portugal, publicada no Jornal O POVO, em 08/09/1995

Eles cantam, dançam e brincam nos corredores. Biscoitos são arremessados de um lado para o outro, as vozes ecoam. Parece que tudo é motivo de festa. Os clientes se sentem incomodados. Uma vez, confessa o gerente, jovens ainda quiseram andar de skate no supermercado, mas não resistiram quando foram “barrados” pelos seguranças. Mesmo assim, nenhuma confusão entre clientes, “arruaceiros”, administradores e seguranças. O preconceito ainda é grande. Tudo que é diferente incomoda. E o Pão de Açúcar não foge à regra. O gerente já recebeu inúmeras reclamações. Não só pela bagunça, mas também pelo jeito deles se vestirem e se maquiarem. “Estranhos” e “esquisitos” são adjetivos bastante usados.



Expectadores

Como em toda área movimentada, na Praça Portugal também há um local de apostas do Jogo do Bicho. O responsável pela banquinha de madeira com uma placa branca escrita “PARATODOS” com letras vermelhas é Leôncio Ferreira, que não sabe exatamente há quanto tempo trabalha no ramo.

Quatro pontos de táxi nos quatro cantos, da praça Portugal

Os clientes saem da rotatória, estacionam os carros próximos aos táxis, descem, fazem suas apostas e vão embora. Nada de jovens, gritaria, baderna ou qualquer outra coisa. Seu expediente é das 9 às 17 horas. Seu Leôncio vê, diariamente, centenas de carros passando à sua frente e algumas batidas, como ele mesmo diz, “bestas”. A praça só recebe visita de pássaros, garis e, no final do ano, decoradores para embelezar o período de festas natalinas.
Já no comércio da leitura a história é um pouco diferente. Os clientes, fiéis, visitam diariamente as bancas de Danilo de Almeida, dono, há menos de um ano, de duas das quatro bancas da praça.
As duas ficam em frente aos dois shoppings da praça e próximas aos pontos de táxis. A primeira, a mais antiga, na idade e na aparência, fica em frente ao Aldeota. A segunda, construída mais recentemente, está localizada no canteiro do Shopping Bambuy. O proprietário anterior ocupou os pontos por mais de 18 anos.
Assim, como na aparência e nos funcionários, as bancas se diferenciam também no quesito público, principalmente nos fins de semana. Os frequentadores da praça aos sábados visitam a banca próxima ao Aldeota. Danilo reclama e, com ar de chateação, diz que eles não são bons compradores.
A organização não é o forte desses adolescentes. Ao entrar na banca, sempre em grupo, mexem nas revistas e fazem uma “pequena bagunça”, como Danilo cita, a qual muitas vezes, é preciso ser interrompida pelos funcionários.
O local fica uma desordem quando eles saem. Os jovens maiores de idade consomem apenas cigarros, mas em grande quantidade. Maços e mais maços são vendidos por final de semana. As “mini-chaminés” ignoram os doces e a cultura que está presente no estabelecimento de dois metros quadrados. Os jornais só recebem atenção quando eles sabem que terá alguma informação que os interessa ou algo sobre eles.


Postal Praça Portugal

A outra banca, apelidada pelos jovens de “banca tecnológica”, recebe um público bem diferente. São pessoas mais adultas e moradores da região. Diariamente são vendidos livros, revistas e jornais para elas.
Apesar do pequeno espaço e da aparente desorganização, as bancas têm boas opções. Além dos serviços básicos de jornais e revistas, também é possível comprar refrigerantes, cigarros, balas, chocolates, salgadinhos como Fandangos, sorvete, picolé e livros.

“Canto ” Bambuy

O trabalho do taxista que fica no ponto da Praça Portugal é tranquilo. O carro muitas vezes vira casa e os bancos, camas. É comum encontrar um taxista cochilando, principalmente depois do almoço. Quando não, estão conversando ou falando ao celular. Os rádios estão sempre ligados, esperando algum chamado.
A paisagem e a calma da semana torna o trabalho menos estressante. Mesmo assim, é cansativo esperar que moradores da redondeza e turistas busquem seu serviço.
Aderaldo Soares de Morais Filho trabalha no ponto em frente ao Shopping Bambuy há dois anos, desde que se tornou taxista. Sobre os frequentadores da praça, nada a declarar. “Não são meus clientes”, ele diz. Mas na hora de descrever, seu Aderaldo é preciso: “Eles vêm a pé, todos vestidos de preto. Não ‘dou muito valor’ a eles”.
Mas, antes que receba algumas vaias ou críticas ele justifica sua opinião dizendo que seu pensamento seja este, talvez, por ser de outra geração.


A Praça nos anos 90

Tapioca, prato típico do Ceará
Há restaurantes, lanchonetes e quiosques especializados em qualquer lugar: nas estradas, nos shoppings, nas ruas, em colégios e supermercados.
E na Praça Portugal não poderia ser diferente. O quiosque de Maria José está na calçada do Shopping Bambuy, em frente à sapataria Meia Sola.
Dona Maria é uma das duas sócias do quiosque, no qual trabalha há um ano. O ponto existe desde a abertura do shopping. A clientela é a mais variada possível. Funcionários das lojas, moradores da cidade, turistas...
Os frequentadores dos sábados não incomodam nem interferem no trabalho de dona Maria. Mesmo assim, os funcionários do shopping não gostam deles. O motivo: banheiro. O banheiro do shopping é público. A bagunça e a sujeira que eles fazem incomodam. Mas esse é um problema mais fácil de resolver. O incômodo
maior são os mendigos. A presença dessas pessoas, para dona Maria, gera uma má visão do shopping e do seu comércio.


A Praça nos anos 90

É inevitável a aproximação deles, principalmente quando as pessoas estão comendo. A prefeitura não consegue resolver esse problema que incomoda não só a ela, mas a todos da praça. Sobra para os seguranças do shopping resolverem essa questão.
Mas não são apenas os mendigos que incomodam os comerciantes do Shopping Bambuy. Duas vendedoras da loja Moda.com, que pediram para não ser identificadas, dizem que a localização do shopping prejudica as vendas. As árvores escondem o letreiro da loja e não há estacionamento gratuito (o estacionamento do shopping é Zona Azul, no qual o cliente precisa pagar uma taxa para ocupar uma das poucas vagas existentes).
Alguns frequentadores estacionam no local, mas não sabem que o estacionamento é pago, passando por constrangimentos na hora de retirar o veículo. O movimento da loja é pequeno. A clientela é fiel e de classe média/alta.
As vendedoras acham que os frequentadores da praça não prejudicam as vendas, já que a loja encerra seu expediente antes da praça estar cheia. Até o momento, não receberam reclamações dos clientes.

Os “ocupantes” da praça

Jovens. Classe média/alta. Ambos os sexos. Alguns (poucos) assumem a bissexualidade ou a homossexualidade.
Muitos frequentam a Praça Portugal escondidos dos pais, por medo do que eles possam dizer.
Eles dizem que não se encaixam em nenhuma tribo, que estão lá “só para curtir”. Frequentam a praça há mais de três anos, quase todos os dias da semana, todos os sábados. São moradores da Aldeota. Não seguem estilos e se denominam “grupo restrito” ou “esquadrilha da fumaça”.
Durante a conversa, Caio, Jonatan, Michel, Felipe, Iuri e o outro Caio, tragam seus cigarros, quase sincronizadamente.A bebida ainda não está na roda porque é dia. Quase todos são maiores de idade. Drogas ilícitas não fazem parte dessa tribo, ao contrário de algumas outras, que eles dizem fumar maconha.
Quando a “esquadrilha da fumaça” não está na praça, seus integrantes gostam de jogar futebol e tentam andar de skate na beira mar ou na própria praça. Ao contrário do que se pensa, as tribos vivem “em paz”. Não há brigas. Cada uma respeita o espaço da outra. A tribo “da moda” são os Emos, com maior número de “integrantes”. Um ambiente diferente Este é o cenário da Praça Portugal. Uma praça que, além do movimento de pessoas, registra grande fluxo de veículos, a qualquer hora. O comércio está funcionando normalmente. E o movimento é maior no final de novembro, quando o Natal já está próximo. O trânsito
flui lentamente, pois é noite de sábado. Pessoas atravessam as ruas correndo, jovens se divertem na praça.


A Praça Portugal era rodeada por casas em 1969. Hoje é um reduto verde em meio ao paredão de prédios.

Uma explosão inicia uma seqüência de três outras. Os seguranças se preocupam. Os pedestres se assustam.
Todos procuram de onde vieram os sons. Ah, tudo bem! Nada de mais. Foram “só” alguns jovens que subiram na armação da árvore de Natal da praça e lançaram algumas bombinhas. Nada que a polícia, que apareceu logo em seguida, não resolva.
Assim são os jovens. Independente da tribo a qual pertencem, sempre surpreendem, sempre conseguem o que querem: chamar atenção.


Larissa Viegas


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