Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Praça Almirante Saldanha - A Praça da Alfândega


Praça Almirante Saldanha em 1930.
Vista da Rua Almirante Jaceguai

A praça foi criada no início do século XIX, chamada de Praça da Alfândega em virtude do prédio da Alfândega (Antes de o prédio ser construído, a Alfândega funcionou em prédio modesto no local onde depois seria a Praça Almirante Saldanha). Tem uma área de 5.820,00 m². Fica entre a Avenida Pessoa Anta, Rua Dragão do Mar, Almirante Tamandaré e Almirante Jaceguai.
Devido à inauguração do prédio de pedras da Alfândega em 1891, no início do século XIX, o local que até então era ocupado pelo modesto prédio da Alfândega (Isso porquê o prédio de pedras ainda não havia se iniciado, existindo no local apenas um terreno baldio cheio de árvores), foi criada a Praça da alfândega
Foto Arquivo Nirez
 
 
Em 1915, em homenagem ao deputado do Ceará, o médico Fausto Barreto, a praça mudou de nome para Praça Fausto Barreto. No ano de 1932 retorna o nome original da praça. Na gestão de Álvaro Weyne, a nomenclatura é mudada para Almirante Saldanha, permanecendo até os dias de hoje. 
A praça ainda é conhecida popularmente por Alfândega ou também por Praça do Café Avião¹.
O homenageado é o Almirante Luís Felipe de Saldanha da Gama² que nasceu em Campos dos Goitacases (RJ) em 1846 e morreu em 1895 durante a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul. O Monumento é o busto do Almirante Saldanha. 
Busto do Almirante Saldanha - Foto de Gerson Linhares
Em 12 de junho de 1935, o Diário Oficial do Estado, nº 499 traz o Decreto nº 221, do dia anterior, que muda o nome da Praça da Alfândega, para Praça Almirante Saldanha.
Hoje é a praça onde fica o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Herma de Carlito Pamplona

No dia 03 de maio de 1936, o prefeito Álvaro Weyne, inaugura o Jardim Saldanha da Gama, na Praça Almirante Saldanha.

Reinaugurada na Praça Almirante Saldanha em 28 de março de 1978, a Herma de Carlito Pamplona que foi recuperada depois de desaparecer misteriosamente de praça existente no bairro Carlito Pamplona, o busto de bronze do pioneiro da industrialização em nossa terra, Carlito Narbal Pamplona

 ¹ Café Avião

Em atividade há oitenta anos, o boteco foi fundado pelo bisavô do atual proprietário, João Barbosa Peixoto, para atender funcionários do porto. Hoje, é o público do Centro Dragão do Mar que frequenta a casa em busca de sanduíches como o avião lotado, que reúne hambúrguer, queijo de coalho, calabresa, presunto, ovo, bacon, alface e tomate no pão árabe. Novidade, as pizzas podem vir na versão nordestina, de carne de sol, queijo mussarela, requeijão, calabresa, tomate, cebola e orégano. Da carta de destilados, saem doses de rum Montilla.
² Luís Filipe de Saldanha da Gama

Nasceu em Campos dos Goitacases em 7 de abril de 1846. Bacharel em Letras, fez o curso da Academia da Marinha onde ingressou aos dezessete anos, sempre galgando postos até alcançar o de Contra Almirante. Representou o Brasil na Exposição de Viena (1873), na de Filadélfia (1876) e na de Buenos Aires (1882).
Recebeu as condecorações da Campanha Oriental, da Guerra do Paraguai, da Rendição de Uruguaiana e a do Mérito Militar. Liderou a Segunda Revolta da Armada (1893). Ao estourar a revolta era o Diretor da Escola Naval e não quis se envolver no conflito, preferindo manter a neutralidade, pois não admitia a intromissão de militares da ativa na política partidária.
Vencido pelas tropas de Hipólito Ribeiro em 1º de junho de 1895, foi morto em combate. Morto às mãos de Salvador Sena Tambeiro, um oriental comandado pelo caudilho João Francisco. Segundo testemunhas, as últimas palavras do almirante foram “Respeite-me! Sou o Almirante Saldanha!” e a resposta do Major foi: “Esses são os que eu gosto!”. Atacou-lhe com um pontaço de lança, degolou-lhe depois e também mutilou-o, arrancando-se-lhe orelhas e dentes. Antes de morrer, Saldanha ainda teria dito: “Basta, miserável”. Seu corpo só seria encontrado dias depois e sepultado no cemitério de Riviera.
No ano de 1908 seus restos mortais, juntamente com os do Almirante Francisco Manuel Barroso da Silva, foram trasladados para o Brasil e atualmente encontram-se depositados em um mausoléu no Cemitério de São João Batista (Campo Osório, RS, 24 de junho de 1895).

Luís Filipe de Saldanha da Gama

Em "Minha Formação" (1900), afirma sobre ele Joaquim Nabuco:

Cquote1.svgEu tinha conhecido Saldanha na Exposição da Filadélfia, depois ligamo-nos muito em Nova York, onde morávamos no mesmo hotel, o Buckingham. (…) Pobre Saldanha! Nascido para o mundo, para o amor, para a glória, quem imaginaria, ao vê-lo naquele tempo em Nova York, que o seu destino seria o que foi? A esfinge da vida que lhe dera, ainda adolescente, um dos seus enigmas indecifráveis para resolver, destruindo nele a aspiração de ser feliz, reapareceu de novo a embargar-lhe o passo no momento em que podia disputar a primeira posição do país.Cquote2.svg
Joaquim Nabuco


Créditos: Leuda Reinaldo da Silva, Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Veja Brasil e Wikipédia


Avenida Pessoa Anta - Fotos Históricas












Uma das únicas (se não a única) foto a mostrar uma placa de rua com números.
















Fotos: Arquivo Nirez

domingo, 30 de setembro de 2012

Fábrica Myrian - A pioneira a extrair óleo de Oiticica



Fachada da Fábrica Myrian - Álbum Fortaleza 1931
A Fábrica Myrian, da firma C. N. Pamplona & Cia., inaugurou no dia 03 de agosto de 1929, na Rua da Alfândega (Avenida Pessoa Anta), esquina com a Rua Almirante Jaceguai, na Praça Almirante Saldanha. A Fábrica foi o primeiro estabelecimento no Ceará a extrair óleo de oiticica através de maquinaria apropriada.

Não se sabe ao certo quem primeiro explorou o óleo de oiticica na região, mas o historiador cearense Geraldo Nobre, no livro 'O Processo Histórico de Industrialização do Ceará', oferece pistas que levam ao Barão de Ibiapaba como o pioneiro da empreitada. Fundamentado em outros importantes estudiosos, como Raimundo Girão, José Guimarães Duque e Paulo de Brito Guerra, ele conta que "O Barão de Ibiapaba, em 1876, pôs em funcionamento uma fábrica, em Fortaleza, composta de um esmagador de sementes, duas prensas verticais e um motor a vapor, para extração do óleo e fabrico de sabão, mas o empreendimento fracassou", em razão de falhas no processo de liquefação da massa obtida com o esmagamento do fruto.

Nova tentativa teria sido feita em 1914 (auge da efervescência industrial movida pelas indústrias automobilística, aeronáutica, química e bélica, que necessitavam de quantidades cada vez maiores de tintas, vernizes e lubrificantes), pela Companhia Fabril e Navegação, do Rio Grande do Norte, "igualmente fracassada". Dessa vez, "por se não ter conseguido neutralizar o mau odor do suco oleaginoso".

Coube, então, aos industriais Franklin Monteiro Gondim, que chegou a exercer interinamente o governo do Estado, e a seu cunhado e sócio, Carlito Narbal Pamplona, em parceria com a Condoroil Tintas S/A Tintas Ipiranga, dirimir os gargalos e fazer da oiticica uma mina de dinheiro e prosperidade. Mas não sem muito esforço, como conta Geraldo Nobre: "Carlito foi o quarto agraciado pela FIEC, em 1975 – post-mortem, com a Medalha do Mérito Industrial. Hoje, também é o nome de um dos bairros mais tradicionais de Fortaleza".
Operários em frente a fábrica - Álbum Fortaleza 1931
O primeiro passo da dupla, que à época, por volta de 1923, mantinha a firma C.N. Pamplona & Cia., foi enviar amostras da amêndoa para laboratórios nos Estados Unidos e Alemanha. Os resultados não poderiam ser melhores. As sementes, originárias da Fazenda Viração, em Icó, de propriedade de Franklin Gondim, tiveram o seu óleo comparado ao da Tung, até então a principal matéria-prima usada no mundo, mas que tinha o inconveniente de ser importada da China, isso num período de constantes ameaças de guerra entre os Estados Unidos e o Japão. Portanto, o achado seria "de grande vantagem comercial, se houvesse matéria-prima para a industrialização em escala competitiva", escreveu Geraldo Nobre.

De posse dos laudos, a empresa providenciou o levantamento de informações sobre a produção de sementes de oiticica no Ceará e estados vizinhos, assegurando-se da viabilidade do negócio. Certos também disso, os empreendedores encomendaram da Alemanha os maquinários necessários à empreitada. Em 1926, teve início a montagem da fábrica, mas, devido à falta de mão de obra especializada, os últimos ajustes só findaram em meados de 1929.

Batizada de Fábrica Myrian, a inauguração foi em 3 de agosto daquele ano, “com grande  concurso de autoridades e convidados especiais, além de populares, atraídos pela curiosidade à Praça da Alfândega (atual Almirante Saldanha), onde ficava o estabelecimento, a pouca distância do porto, localização escolhida para maior facilidade dos carregamentos para o exterior”, segundo Geraldo Nobre.

Entretanto, antes de se consolidar como um grande sucesso, um outro problema engrenou o negócio. Agora foi a coagulação do óleo, que se tornava pastoso e, em contato com o ar, adquiria consistência parecida com a da borracha. Entrave que contou com o empenho pessoal do então secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Tomás Pompeu de Sousa Brasil Filho, ao intermediar o envio das análises ao laboratório do Instituto Nacional de Óleos, no Rio de Janeiro, em 1930.  Apesar dos esforços, o caso não foi resolvido pelo recém-criado órgão público, nem pelos demais laboratórios no Brasil e no exterior que também receberam as amostras.


Franklin Monteiro Gondim - Proprietário - Álbum Fortaleza 1931
Geraldo Nobre registra que “a pertinência dos cearenses permitiu, no entanto, uma solução intermediária”: a fervura do óleo a temperaturas de 180° a 220° graus centígrados e a adição de solventes na porção necessária para obter uma densidade com a qual “a Fábrica Myrian passou a produzir uma tinta em condições de uso satisfatório, como demonstrou pintando grande número de casas da capital e de outras cidades cearenses”.

Com o slogan “Ajudem a defender o produto cearense”, o arremedo foi eficaz o suficiente para alavancar os negócios a ponto de os comerciantes de tintas importadas ficarem temerosos da queda de seus negócios. O repentino êxito do óleo de oiticica para fabricação de tintas despertou o interesse de empresas estrangeiras. Entre elas a indústria francesa C. Coteville & Cia., estabelecida no Rio de Janeiro, que propôs à de Fortaleza a compra de toda a sua produção de óleo, sob a condição de exclusividade.

Carlito Narbal Pamplona - Proprietário - Álbum Fortaleza 1931
Depois de consultar um dos maiores especialistas do ramo de tintas no mundo, o diretor-presidente da Condoroil Tintas S/ATintas Ipiranga, M. E. Marvin, os cearenses resolveram não aceitar a proposta. Em seu livro, Geraldo Nobre explica que para Marvin “a firma cearense tinha um grande futuro, desde que superado, definitivamente, o problema da coagulação. Ele até se ofereceu para trazer ao Brasil o químico Henry Gardner, considerado o maior especialista em assuntos de óleos vegetais nos Estados Unidos”.

O prédio da Fábrica Myrian, é a atual Boate Armazém
Proposta aceita, o norte-americano Marvin se tornaria mais do que um conselheiro; seria, de fato, sócio de um grande e lucrativo negócio, que começou após a solução definitiva proposta pelo especialista americano. Era o início da Brasil Oiticica S/A, em 14 de novembro de 1934, menos de seis meses após o entendimento. A nova sociedade foi firmada no Rio de Janeiro, a então capital federal, mas manteve Fortaleza como sede.


Créditos: Gevan Oliveira, Álbum Fortaleza 1931 e Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo

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