Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Cine Moderno - O primeiro cinema com sonorização



No dia 07 de setembro de 1921, inaugurou, na Rua Major Facundo nº 594, na Praça do Ferreira, o Cine Moderno, do grupo Luís Severiano Ribeiro, com o filme alemão "Carmen", com Pola Negri.

Tinha bonita fachada com duas torres em estilo Neomouro, uma marquise de 1/4 de cúpula em vidro colorido (vitral) sobre a porta principal.


A sala de projeção ficava de frente para a rua, com uma geral ao fundo, tendo antes uma sala de espera bem ornamentada.

As cadeiras, em número de 709, eram sofás confortáveis, de couro preto.
No dia 25 de maio de 1930, o Cine Moderno exibiu seu último filme mudo.

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Ele foi o primeiro cinema de Fortaleza a adotar a sonorização, passando ali a primeira fita com som: Broadway Melody, da Metro Goldwyn, no dia 19 de junho de 1930.
O Cine Moderno foi fechado no dia 21/05/1968 e o prédio foi vendido pelos herdeiros de Plácido de Carvalho, para o comerciante e industrial Edson Queiroz.
Lá foi instalada a loja Samasa que já não existe, dando lugar depois a uma loja de bingos.

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Cine Moderno em 1932. O fotógrafo estava na Travessa Pedro Borges, registrando o desfile de 7 de Setembro - Arquivo Nirez

Fatos Históricos do cinema:

No dia 15 de outubro de 1924, é lançado no Cine Moderno o filme "Temporada Maranhense de Foot-Ball no Ceará" (1924, 2 atos, realização de Adhemar Albuquerque, com o seguinte conteúdo: Fases dos jogos: Ceará 4 x 2 Maranhenses; Maranhenses 2 x 0 América; Maranhenses 2 x 1 Fortaleza; Guarany 4 x 0 Maranhenses).

Sobre essa estréia, publicou o "Correio do Ceará" (16/10/1924): 


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UM "FILM" CEARENSE 

O "Cine Moderno", exhibiu, na noite de hontem, um "film" cearense, esmeradamente confeccionado, producto exclusivo do esforço louvável, da intelligencia artística e do bom gosto do nosso patrício, o sr. Adhemar Albuquerque. 

Trata-se de uma interessante cinta cinematographica, dividida em 2 partes, da temporada maranhense de "foot-ball", no Ceará, contendo phases dos jogos que se realizaram, flagrantes das archibancadas e do movimento de "torcedores" e gentis "torcedoras" para o "field" da "A.D.C.", no Alagadiço, onde se feriram as pugnas. Há ainda outros aspectos do desembarque dos desportistas visitantes, dos "teams", captains, juizes e auxiliares na temporada. 

As photographias são de todo escellentes. O "film" é nitido, circumstanciado e de passagens bem apanhadas. 

É digno de nota ter sido tal "film" todo e inteiramente confeccionado nesta capital por aquelle nosso conterraneo que se torna, assim, merecedor de encomios. 

A cinta ainda será exhibida no proximo domingo, nos cinemas "Moderno" e "Majestic". 


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No dia 8 de dezembro de 1925, ainda na fase inicial da produção silenciosa, outra produção do pioneiro Adhemar Albuquerque entra em cartaz no Cine Moderno. Trata-se da película
"O Juazeiro do Padre Cícero e Aspectos do Ceará" (1925, documentário, 5 partes), com reapresentação no mesmo cinema a 11 de fevereiro de 1927. 

A publicidade dizia: 

"Um filme que mostra os costumes do nosso povo, cenas de nossa terra... O Juazeiro- Vistas da Cidade - Dias de feira - O movimento das ruas - O Padre Cícero - Os devotos - A multidão - A excursão Presidencial - Paisagens - Trechos da Viagem - O açude de Cedro - Fortaleza - Panorama da Cidade - A chegada do Padre Macêdo - Ponte de desembarque - Crato - Barbalha - Quixadá, etc." 


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Ainda no Cine Moderno, Adhemar Albuquerque lançou:
"A Festa no Iracema" (1926, Aba Film, curiosos aspectos das danças na noite de 31 de dezembro) - exibido no em 16/5/1926; "A Indústria de Sal no Ceará" (1926, Aba Film, 1 ato) - exibido a 16/5/26; "A Visita do Dr. Washington Luís ao Ceará" (1926, Aba Film, 2 atos; "completas reportagens cinematográficas da "Aba Film", desde a chegada do vapor "Pará", a estadia e visitas de sua Excia., até ser recebido em Paraíba") - Exibido a 12/10/26; "A Parada Militar de 7 de Setembro" (1926, Aba Film, 1 ato; "23º Batalhão de Caçadores, Polícia Estadual, Colégio Militar, Tiro de Guerra nº 38, Liceu do Ceará, Colégios: Cearense, Castelo, São Luiz, etc.") - A 12/10/26; "Inauguração dos Filtros no Açude do Acarape do Meio para Abastecimento d'água em Fortaleza" (1927, Aba Film, 1 ato, natural) - Moderno, 1/1/28; "O Banquete Oferecido pela Colônia Cearense, no Rio, ao Dr. Matos Peixoto" (1 ato) e "A Visita de S.Excia. Dr. Matos Peixoto ao cais do Porto, no Rio" (1 ato) - exibidos também no Cinema Moderno, a 18/7/28. 


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No ano de 1928, iniciam-se em Fortaleza, no Cine Moderno, a exibição de filmes à tarde, com o nome de seção "Matiné*".

Outras estreias e lançamentos importantes:

*26/Abril/1930 - No salão do ‘Cine Moderno’, inaugura-se uma Exposição de pintura e escultura da senhorinha Maria Laura Mendes.



*Em 19 de junho de 1930, é inaugurado o cinema sonoro no Cine Moderno, que vinha desde 1921 apresentando fitas mudas, com o filme Broadway Melody, da Metro, no processo Vitaphone.



Os filmes brasileiros e as produções cearenses despertaram ainda mais a atenção do público, quando ocorre a transição do cinema silencioso para o sonoro. A população de Fortaleza é tomada de vivo entusiasmo quando o Moderno, exibe a 29 de novembro de 1931, o filme sonoro "Cousas Nossas" (1931, Byington & Cia., São Paulo, produtor Alberto Byinton Jr., direção Wallace Downey, fotografia Rudolph Lustig e Adalberto Kemeny, som Moacir Fenelon, com Procópio Ferreira. Paraguaçu, Batista Jr., Jaime Redondo, Arnaldo Pescuma, Jararaca e Ratinho, Estefânia de Macêdo, e outros). No ano seguinte ao lançamento desse grande êxito de bilheteria e de crítica que foi "Cousas Nossas", aparece no "Correio do Ceará" (31/3/1933) a seguinte apreciação sobre as realizações brasileiras e da Aba Film, em particular, com algumas expressivas sugestões: 


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FILMS BRASILEIROS 

Todas as vezes que um dos nossos cinemas exhibe um film brasileiro, nota-se pronunciada curiosidade por parte do publico. E mais ainda quando este film foi feito aqui e por gente nossa. 

Há dias o "Cine Moderno" exhibiu uma producção genuinamente cearense, focalisando as installações da grande "Fábrica de Tecidos São José". 

A "Aba Film", que ora inicia uma serie de filmagens de aspectos cearenses, é uma iniciativa que vae obtendo os primeiros successos. Embora os seus films não possuam a nitidez precisa tal a dos americanos, defeito este que de futuro há de ser sanado, contudo ella nos faz prever um futuro promissor a esta industria nova, ainda até hoje cultivada por simples amadores. 

São Paulo, Rio e Pernambuco nos teem enviado, vez por outra, alguns films mediocres, e desses, "Cousas Nossas" e "Campeão de Foot-Ball", duas producções que lograram sucessos, atestam que o genero comico merece as preferencias dos productores principiantes e que ainda não dispõem de recursos technicos aperfeiçoados. 

A curiosidade do publico em ver um film nacional é o índice da preferencia que aos mesmos será dada. 

Os amadores da filmagem, deveriam pleitear do governo viagens de instrucção technica. 

E uma vez habilitados, em conjunto com technicos estrangeiros, puderiam desenvolver uma industria cuja amplitude não se pode prever. 


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*04/Agosto/1932 - Leonardo Mota inicia, no Cine Moderno, uma série de palestras lítero-humorísticas semanais, na desta data disserta sobre ‘As modas...’

*11/Agosto/1932 - No ‘Cine Moderno’, Leonardo Mota faz uma palestra alegre sobre o tema ‘A desgraça de quem é gordo’.

*18/Agosto/1932 - Nesta quinta-feira, a palestra humorística de Leonardo Mota no ‘Cine Moderno’ foi ‘O Sacramento do Matrimonio’.

*25/Agosto/1932 - Quarta e última palestra lítero-humorística de Leonardo Mota no ‘Cine Moderno’. Assunto: - ‘Os filhos da Candinha...

*08/Setembro/1932 - A pintora conterrânea D. Maria Laura Mendes inaugura uma exposição de telas, no ‘Cine Moderno’.


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Ao lado, reclame do Correio do Ceará de 06/01/1934.

*16/Maio/1933 - No ‘Cine Moderno’, tem efetividade a 22ª. audição de piano das alunas das professoras Aurélia e Chiquita Menezes.

*Em 22 de setembro de 1933, Estréia "Um Dia no Colégio Militar" (1933, Aba Film, 3 atos, "minuciosos e interessantes").

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07/3/1934 - Lançamento do filme "O Carnaval no Iracema"(1934, Aba Film, 1 ato; carnaval de 1934 no Clube Iracema) no Cine Moderno.

*01/Agosto/1934 - A pintora Maria Laura Mendes abre uma exposição de telas no ‘Cine Moderno’.

*No dia 15 de outubro de 1934, é exibido no Cine Moderno: "Aba Film 16 - com Os Funerais do Padre Cícero, e vasta reportagem de nossa terra" (1934, Aba Film).


*Em 14 de abril de 1936 é exibido "Baile das Embaixadas do Club dos Diários" (1936, Aba Film, short, 250 metros; "filmado em pleno Carnaval de 1936. Direção de Paurílio Barroso).

*23/Junho/1936 - O pintor gaúcho Miguel de Barros, depois da exposição de telas no Clube Iracema, abre outra exposição de caricaturas no ‘Cine Moderno’.


*26/Março/1937 - Sexta-feira Santa.
No Cine Moderno é exibida a película ‘Servas de Deus’, fumada no Convento do Bom Pastor em Angels, na França.


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*29/Abril/1937 - Inauguração, no ‘Cine Moderno’ de Fortaleza, das ‘Sessões Femininas’, que se realizam às quinta-feiras e são dedicadas ao belo sexo.

*O Cine Moderno exibe "A Lavoura Mecânica no Ceará" (1935, Aba Film) em 6 de junho de 1937, filme lançado no Rio de Janeiro.

*No Cine Moderno, em 29 de junho de 1937, passou "Irrigações no Ceará" (1935, Aba Film), filme lançado no Rio de Janeiro, no Cinema Glória, em setembro de 1935.


*Em 13 de outubro de 1937 foi exibido "Fortaleza Jornal nº 1" (1936, Aba Film), lançado no Rio de Janeiro, no Palácio, em junho de 1936, e "O Ministro Waldemar Falcão em Fortaleza" (1938, Aba Film, short) - exibido no Moderno em 6 de abril de 1938. 

*O filme "Ceará Hoje" (1935, Aba Filme) passou no Cine Moderno em 22.10.37, filme exibido no Pathé-Palácio, do Rio de Janeiro, em agosto de 1935.


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No Cine Moderno, durante a projeção restrita do Filme "Lampeão". 

*No dia 02 de julho de 1938, ocorre a exibição especial, no Cine Moderno, da película documentário sobre Virgulino Lampião, realizada pela Aba Film, com orientação de Ademar Bezerra de Albuquerque (Ademar Albuquerque), filmado por Benjamin Abraão.
Na sessão cinematográfica estiveram presentes o capitão Manuel Cordeiro Neto, então chefe de polícia e o capitão Edinardo Weyne, sendo apreendidas todas as cópias por determinação do Departamento Nacional de Propaganda do Ministério da Justiça representado no Ceará pelo Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda - DEIP.


Em Fortaleza, a trajetória do Cine Moderno, que por muito tempo foi point da classe alta local, fechou as portas para que uma loja fosse construída... É inacreditável!

*No dia 21 de Maio de 1968, fecha suas portas, após 47 anos de atividades, o Cine Moderno, da Empresa Luiz Severiano Ribeiro, na Rua Major Facundo, na Praça do Ferreira, exibindo seu último filme, "Paris está em chamas", sendo o imóvel vendido ao comerciante e industrial Edson Queiroz.


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Crédito-Daholan

*As matinés eram sessões de cinema exibidos durante o dia, embora depois, passaram também a ser exibidas à tarde.

Créditos: Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Arquivo Nirez, Revista do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) dos anos: 1955/1957/1958 e 1959 e Site Memória do Cinema 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Avenida Carapinima - Um símbolo do Benfica III



"Ali viveram também grandes  jogadores de futebol, como Airton Monte e Jombrega, este vítima dos fanáticos do futebol, ao ser responsabilizado pela derrota da Seleção Cearense frente à do Pará. Isto sem falar na beleza das moças do bairro, culminando com a Miss Brasil Emília Correia Lima. Os concursos de beleza que movimentavam a cidade provocando uma maior venda de jornais, como Rainha do Algodão, Glamour Girl, Rainhas de Colégios, Rainha dos Jornalistas, os mais belos olhos da cidade, eram sempre ganhos por alguma moça do Benfica. Isto sem falar do Renato Aragão que já estudava na Faculdade de Direito, trabalhava na TV Ceará e namorava a Marta, que era nossa vizinha. Também o Tom Cavalcante morou na Carapinima, bem em frente à casa da Marta, na modesta Vila das Irmãs.
Era filho de Sr. Hugo e sua família veio de Sobral. O outro comediante, Chico Anísio, que
junto com os outros dois alcançou notoriedade no país, morou na Avenida João Pessoa,
também no Benfica. Sua casa dava fundos  para a Rua Carapinima, onde funcionava a garagem da empresa de ônibus do seu pai. Não posso esquecer o Dilcimar Oliveira, grande comunicador que atuou no jornalismo local,  chegando depois a escrever no Le Monde e o inesquecível tenor Abel, que atuou no filme “Ligações Perigosas”. Além do músico Zezinho que alegra ainda hoje as noites de Fortaleza. Como vê, uso a memória para registrar e celebrar todas essas pessoas, que com sua linguagem erudita, professoral, escrita e oral contribuíram para a formação de jovens, o deleite de  muitos, como no caso dos três humoristas mencionados. Discursando, escrevendo substanciosos artigos, poemas, contos e traduções, dignificaram suas profissões.

Francisco José Róseo  de Oliveira foi conhecido nacionalmente.
Casado com uma senhora belíssima, a dona Cleide. De fato, perdeu o seu filho caçula, o Luis
Antonio Róseo, que recebeu uma homenagem em poema do meu irmão, o cordelista Luis
Antonio Aragão. Os versos eu sei de cor...  A morte dele comoveu todo o bairro, pois se
tratava de uma criança que fazia o curso primário. Vamos aos versos:

                                                 Chorar, chorar...
                                                 Nas minhas lágrimas
                                                 Rolam os sentimentos
                                                 Por alguém que jaz amor.
                                                 Sem túmulo, sem um abrigo,
                                                 Entregue aos mistérios
                                                 Do Oceano que levou consigo,
                                                 Seu corpo e minhas esperanças
                                                 De encontrar meu grande amigo.
                                                 Ó, mar, resolve meu dilema,
                                                 Porque não vou odiar-te,
                                                 Pois sei que inspiraste
                                                 As frases deste poema.
                                                 Mas livra de teus laços,
                                                 Esta vítima inocente,
                                                 E lança nos meigos braços
                                                 De quem por ele chora e sente.

Com a criação da Universidade Federal do Ceará que adquiriu grande parte dos bangalôs e sobrados do bairro. Muita gente mudou-se para outros locais e o bairro consagrou a fama de “intelectual”. Ficaram famosas as festas do CEUClube dos Estudantes Universitários. É claro que a Universidade estimulou a corrida dos jovens ao vestibular e o
Conservatório de Música recebeu muitos alunos. É fora de dúvida que a Universidade continua tendo um papel importante em todo o Estado do Ceará. Mas não se pode negar que ela foi uma das responsáveis pela descaracterização do Benfica e da Gentilândia por causa da sua própria expansão e em face da construção de novos edifícios. Até a maravilhosa fonte que ficava em frente da reitoria da Universidade, antigo solar da família Gentil, onde chegou a se hospedar Getúlio Vargas, foi retirada dali e hoje está no centro da cidade em frente à sede do Banco do Nordeste. Vale acrescentar que o bairro do Benfica, cresceu em importância com o advento da Universidade. As mulheres passaram a ter a oportunidade de ingressar em outras faculdades e não só na de Filosofia. Algumas vindas do interior e hospedavam-se em casas de parentes, ou ainda nos pensionatos para moças, que passaram a ser comuns naquela época e hoje quase não existem mais. Notadamente, o bairro do Benfica era todo verde, parecia um parque ecológico enquanto que hoje, apesar da preservação do meio ambiente, ele já não é tão verde assim. A necessidade de modernização  retirou os trilhos dos bondes, ruas foram alargadas e encolheu-se o espaço da casa. Hoje ela não vai até a rua. Algumas secretarias foram acrescentadas à prefeitura e ao governo do estado. A SUMOV, por exemplo, pertinente a Superintendência de Urbanização, entre outros órgãos, transformaram ruas em avenidas modificando a paisagem urbana. A violência se reflete em várias facetas. É o caso da Igreja dos Remédios, hoje protegida por uma infinidade de grades e há ausência de cadeiras nas calçadas para as longas conversas de outrora. As televisões e os computadores estabelecem um novo tipo de comunicação. Os debates sobre política e economia feitos na ágora foram substituídos por conversas fúteis sobre novelas e programas sem nenhum conteúdo cultural e são duvidosas produções artísticas.  
O escoamento de gêneros in natura, faz-se hoje muito mais por caminhão. Não se ouve mais “lá vem o trem”. O trem que antes transportava gente do povo, fardos de algodão, mamona, feijão, farinha, oiticica e bovinos, equinos e suínos, vindos de outras cidades cearenses como Cedro, Iguatú, Senador Pompeu, em vagões chamados gaiolas. 

Observe-se que a modernização do Porto do Mucuripe, em Fortaleza, e a inauguração do Porto do Pecém deram novo ânimo às exportações do estado. Virou história o início do Porto do Mucuripe quando à distância se avistava  o grande guindaste Titã e da Maria Fumaça trazendo as pedras para o porto. Nós, meninos, da Rua Carapinima, meninos dos bairros do Benfica e circunvizinhos fomos levados para conhecer o “Passatempo”, precária estação de passageiros, local onde ocorreram os primeiros embarques e desembarques. Na Cia. Docas do Ceará empenhei-me muito pelo tombamento do Titã na ponta do quebra-mar e também do Passatempo, mas não tive êxito. Ainda bem que ainda resta a Ponte Metálica onde essa operação de embarque e desembarque já havia existido entre 1920
e 1952. Claro que está numa cidade banhada pelo mar não se pode esquecer dos passeios na
orla. Assim, a criançada toda e os jovens do bairro eram de vez em quando premiados."


Paulo Maria de Aragão
(Advogado e professor universitário)

Parte I
Parte II
Crédito: Carapinima: A história de uma rua -Regina Stela Ferreira Moreira 
(Formada em jornalismo pela Faculdade Celso Lisboa (Rio de Janeiro)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Avenida Carapinima - Um símbolo do Benfica II



"...Outro motivo de atração da rua era a proximidade do Chateau da Santa, palavra vinda da influência francesa, bem nítida naquela época, como eram chamados os cabarés de luxo. No Chateau da Santa,  moravam e trabalhavam lindíssimas mulheres, vindas de São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão e de outros Estados, dava uma fugida no final da noite para ver o vai e vem dos carros importados no local. Eu era então um rapazote, tinha mais ou menos uns dez anos, estou falando dos meados dos anos 50. Estou falando de tempos em que as galinhas passavam até de um quintal para o outro... tempos singelos onde os moradores se integravam. Estava também a Carapinima próxima ao REU, Residência dos Estudantes Universitários, onde tanques enormes eram destinados à criação de peixes. Numa época em que ninguém falava da preservação do meio ambiente, os peixes eram intocáveis, as árvores eram protegidas e nas escolas todas  as crianças plantavam uma no Dia da Árvore.
Mas, para ser sincero, do ponto de vista da preservação dos pássaros, muitos passarinhos eram capturados, como rolinhas, galos de campina e até pássaros grandes, todos vendidos na feira do bairro da Gentilândia. Havia ainda o que chamo ágora, uma esquina da Rua Carapinima, a ágora Carapiniana fazendo esquina com a Rua Francisco Pinto. Ali tudo se discutia, todos os assuntos, e se planejavam alguns namoros. Este ponto tinha um efeito de reunir os jovens da rua. Era um território neutro para os debates das lideranças radicais ou não. Era também um ponto onde se discutia a vida privada, onde se procurava descobrir segredos da vida alheia, enfim, um ponto estratégico de interação entre jovens e adultos que vinham de outras ruas como a Dom Jerônimo, Joaquim Feijó, Valderi Uchoa, João Gentil e Francisco Pintoformando um elo entre os rapazes dos bairros próximos. Esses encontros, marcados por tantas histórias, funcionava em frente a Bodega do Seu Chiquinho. Era um ponto bem sortido sobre uma alta calçada, implicando na subida  de alguns degraus que serviam de assento, principalmente para aqueles que haviam  bebido alguma coisa e estavam tontos ou ligeiramente ébrios. Gente de todos os níveis ali se reunia. 


José Brasil, um dos fundadores do Clube Nacional, agremiação dos Correios e Telégrafos, estava sempre por ali fungando e tomando rapé. E foi um dos descobridores de  craques do nosso futebol, como Pacoti, um grande artilheiro do Vasco da Gama...
Só havia dispersão dos encontros em dias de muita chuva... Os assuntos principais, além da política, futebol e mexericos, eram música e cinema, os temas preferidos. 
As chanchadas da Atlântida eram imitadas e alguns pretendiam copiar Oscarito e Grande Otelo.
Quanto aos filmes de Hollywood, os épicos religiosos de Cecil B. de Mille com os “Dez
Mandamentos” e “Cleópatra”. Outro diretor consagrado era o mestre do suspense, Alfred
Hitchcock: “O Sexto Sentido” e “Os Pássaros”. Também havia os  interessados em música clássica e gostavam de se destacar pela sua cultura. Adotavam um linguajar excêntrico e enchiam-se de vaidades para falar de Mozart, Strauss, Beethoven, List e Tchaikovski. Alguns cantavam imitando Mario Lanza. Ali aprendi que Lanza foi o maior tenor popular depois do italiano Caruso, consagrado como o maior cantor de ópera de todos os tempos. 


Havia ainda gente fascinada por carros. Discutia-se a qualidade de marcas, mecânica e o efeito da maresia sobre os veículos. Em Fortaleza já existia  a FORMASA, revendedora da linha FORD. A sensação do final da década de 60 foi o Ford Gálaxie 500, belo e imponente. 

Lançamento do Ford Gálaxie 500 - Acervo Guilherme da Costa Gomes

Este exemplar, o primeiro modelo de Gálaxie a chegar a Fortaleza, foi recuperado pela família do empresário Gerardo Matos, proprietário da dita revendedora, e é uma relíquia para exposições. O Gálaxie começou a ser fabricado no Brasil na década de 60, tinha bancos inteiros, ar condicionado e direção hidráulica. 

Naquela esquina cada um se sentia importante, um tipo de dono do mundo... Às vezes os transeuntes, mesmo os mais respeitáveis, não escapavam as sátiras.
Contudo, os frequentadores da esquina tinham o mérito de exaltar as pessoas do bairro. Era o caso do Sr. Moisés Laerte Pinto que eu já mencionei, e que por conta de sua atividade
religiosa kardesista, excluía a ideia de ambição comercial e o Professor Antonio Viana Filho, professor, poeta e poliglota e um dos homens mais cultos que eu já conheci. Este homem não recebeu o reconhecimento do mundo intelectual  e da mídia, pois mereceria assento na Academia Cearense de Letras
Outro assunto  também cogitado era falar de Artes. Havia unanimidade com relação a obra do cearense Antonio Bandeira, celebridade da pintura internacional que quando vinha de Paris visitava sempre a sua irmã Julia, que morava em frente a minha casa. Dizia-se que ele era o único pintor brasileiro a viver do produto de seu trabalho. Além de se comentar da sua finura e paciência no trato. Em 1960 o seu sobrinho Dandão, nosso amigo Francisco Ivan, mais tarde, uma vítima do latrocínio em nossa Capital, hospedou-se com um amigo na casa do tio na Rua República do Peru, em CopacabanaDepois de muitos goles, chegaram ao apartamento do pintor onde encontraram muitas telas armadas destinadas à inauguração de um órgão do governo em Brasília. Bisnagas à mão, desfiguraram toda a obra do pintor. Mesmo assim, Bandeira manteve alojado o sobrinho em atenção à irmã, mas dispensou seu amigo. Podemos desse episódio concluir sobre o caráter generoso do grande Bandeira. Infelizmente ainda não mereceu do povo brasileiro o reconhecimento pelo seu inegável talento artístico, e sequer seu nome foi indicado na relação de Cearense do Século XX pelos nossos próprios conterrâneos...


“Ao longe despontava um minúsculo ponto de luz, que se ampliava lentamente. Antes de atingir a parte curvilínea da via férrea, o possante farol alumiava a rua. Deslizando imponente e mítica, sobre duas paralelas de aço, a Maria Fumaça dividia os bairros do Benfica e Porangabuçu. O barulho cadenciado e sinfônico opunha-se ao silêncio. Um terremoto prazeroso. O apito ecoava. A cortina fumígena deixava o gostoso cheiro da lenha queimada. Foram-se seus tempos gloriosos. Ficaram as saudades. A velha “Maria” não mais viaja pachorrenta pelos trilhos, mas viaja pelos caminhos da alma sobre os
dormentes do coração, das lembranças, talvez mais reais que a própria realidade.”


Quando olho a Avenida de  hoje em que a pacata Rua Carapinima se transformou, vejo o desaparecimento da maioria das casas de então, tudo imposto em nome da modernidade nas obras do inacabado metrô de Fortaleza. Não tive a intenção de produzir um documentário, contudo, reconheço que ele deveria existir com a finalidade de preservação da história urbana da cidade. Gosto de escrever explorando idéias e sentimentos. Nas minhas lembranças tudo é tão claro como se fossem visões, mas sou consciente que só posso chegar até o redescobrimento de valores e belezas da vida, aparentemente perdidos no tempo. Espero que alguém possa escrever sobre a Rua Carapinima, até mesmo um romance nos moldes de Os Meninos da Rua Paulo” do  escritor húngaro Francisco Molnár. Este livro que eu li rapazinho, tomado por empréstimo da Biblioteca Circulante do Colégio Sete de Setembro na Avenida do Imperador, onde também estudei,  é a saga da meninada dos arrabaldes de Budapeste, em 1889, portanto, no final do século XIX. Esses meninos lutaram firmemente por um terreno, mas nas palavras do autor “ganharam a guerra, mas perderam a terra, porque ali devia subir um arranha-céu”. Gosto do registro do cotidiano, parte integrante da história humana. Gosto de preservar as tradições e os valores do passado, independente de que os fatos tenham contornos diversos e um maior  ou menor grau de importância. Retratar o cotidiano é dizer como se comportam os habitantes das cidades. É tratar das múltiplas formas de comunicação humana, dos rumos e linguagens, neste caso, do meu tempo. Identificar a rua é também revê-la, revisitá-la... A identificação da área é somente uma parte da dinâmica de retorno à realidade. Esta dinâmica reforça,  na forma e no conteúdo, a fusão entre o tempo passado e o tempo presente. Ver uma parte da  rua com a morte decretada pelo ritmo da expansão urbana, é verificar a força dos interesses por um sistema de transporte moderno, contudo, não desapareceu o universo em transformação, aparentemente soterrados, pois persevera nos seus habitantes a importância do humanismo bebido nos nossos lares e escolas e presente na formação de cada um de nós. Não desapareceu o denominador comum, o reviver em torno da Igreja dos Remédios e da Universidade que tanto modificaria o bairro do Benfica.


Igreja e Universidade nortearam as aspirações dos bons pais em relação ao futuro dos seus
filhos. Neste momento, a rua parece um monte de areia e pó, mas examinada pelos olhos
nostálgicos da memória dos que ali moraram ficam evidentes os fundamentos que a tornaram um traço de união de muitas famílias, ligadas tanto geográfica como afetivamente. Cheguei à conclusão que não interessam os rumos truncados, desfeitos e desviados da vida dos moradores da Carapinima. Nenhum desses fatos pode anular a importância do acontecido no próprio ato de fazer e refazer continuamente a ação humana, complementando o curso de uma História maior. 
Extinguiram-se as serenatas e  as canções de amor passaram a ser objeto de contratos. Onde foi parar o romantismo? Também se cantava na igreja em homenagem aos noivos e em louvação ao Senhor... Essas atividades não passam, hoje, de mais um meio de vida, de sobrevivência.

O silêncio do  passado...

As pilhérias dirigidas a alguns personagens que por ali passavam não tinham a intenção de ofender. Alguns apelidos dados eram até bem pertinentes e, às vezes, incorporados pelo próprio personagem faziam com que tudo parecesse uma piada. O Ivan, impecável nas suas
vestimentas, recebeu o apelido de Ivan Cabeção e nunca se aborreceu com isso. De fato tinha a cabeça grande...  Claro que em alguns casos as pessoas não aceitavam o apelido. Era o caso do Sr. José Rocha, chamado de Jacaré. Ao vê-lo a turma gritava: “joga o 15 na víspora ou no bingo porque hoje vai dar Jacaré”, e o tempo fechava... De qualquer forma, aquele espaço físico testemunhou relações sociais hoje dispersas, mas mantidas então mesmo com a
influência de padrões culturais diferentes. A esquina era  o próprio show, substituindo o
computador e a influência da TV. Aliás, falando-se em show, alguns tinham uma bela voz e
cantavam no melhor estilo romântico de Pat Boone, canções como April Love, BernardineJambalaya. Interpretava ainda canções de Elvis Presley (It’s Now or Never, Love me Tender), Nat King Cole (Unforgettable, Monalisa), Neil Sedaka (Oh Carol, Bad Girl) e dos Beatles (Twist and Shout, Help). Naquela esquina eram marcados muitos encontros entre os amigos para juntos irem às diversas festas de casamentos, aniversários e batizados. Claro que só iam os convidados. Marcadas pela animação essas festas aconteciam no contexto familiar, em alguns casos com festa dançante na sala da frente, e uma boa música na radiola. Mais fáceis de frequentar, eram as festas de bairros, como as quermesses e as festas juninas. No caso das quermesses, figura obrigatória era o irradiador, o que hoje chamamos locutor. O interessante aí eram os recados que ele dava antes de colocar as mensagens sonoras oferecidas por moças e rapazes. Dependendo da situação amorosa  escolhia-se a música para esse tipo de comunicação. Nelson Gonçalves era quase sempre o cantor escolhido e as músicas preferidas eram: Boneca de Trapo, Fica Comigo Esta Noite e A Volta do Boêmio. Também Altemar Dutra fazia muito sucesso com Que Queres Tu de Mim, Contigo Aprendi e Brigas. Quando a moça ou o rapaz não queria se identificar, usavam-se as iniciais O.X., ou seja, Ontoim Xofer ou então se usava chamar a atenção de alguém das iniciais 13-12-4 – correspondente à quantidade de letras do nome da pessoa para quem a música  era destinada. O alto-falante gritava e aumentava a pretensão de conquistas e, ao mesmo tempo, proporcionava o retorno de amores perdidos e o reatamento dos amores interrompidos.


Em geral eram instalados tanto nos postes como nos galhos de árvores e eram usados não só nas quermesses, mas nos comícios eleitorais. Tentou-se mesmo colocar altofalante nas festas do Sábado de Aleluia quando do animado julgamento do Judas. Dois estudantes de Direito, Expedito e Afonso Nunes de Sena, este mais tarde juiz, exercitavam-se na oratória. Ao julgamento do Judas, seguiam-se festas no bairro, principalmente na casa de
Dona Julia Bandeira e em todas as casas da redondeza havia várias iguarias, como também acontecia nas festas que homenageavam Santo Antonio, São João e São Pedro. Aliás, a Semana Santa era celebrada com rigor. Na Semana Santa as imagens eram cobertas, tal como hoje com tecido roxo. A Páscoa era sacrossanta. Os pais, em sua maioria mandavam os filhos confessar-se na igreja e o jejum e abstinência não podiam ser violados. As rádios tocavam músicas sacras e a visitação ao Horto da Igreja dos Remédios, reproduzia as cenas da Paixão de Cristo. Fazia-se a Via Sacra recordando-se a Paixão de Cristo. Nesta época de pesar não se jogavam peladas na rua e nem havia reuniões na “ágora”. Farra mesmo era o dia de Sábado de Aleluia, quando se queimava o Judas não sem antes se fazer à leitura do seu testamento. A festa do Afonso se realizava num terreno baldio ao lado de sua casa e na leitura do testamento já se sabia que alguns iriam ser atingidos  pela rima popular e iriam figurar no rol dos herdeiros. Mesmo com a vigilância dos pais, sempre se podia provar às escondidas um pouco de vinho ou então um pouco de sangria, que era o vinho com água e açúcar.


Já havia advertências sobre o perigo do uso dos balões, contudo eles não eram rigorosamente proibidos até porque não eram tão modernos como os de hoje. Por força dos ventos, os balões vinham da Gentilândia e passavam pelos céus da Carapinima. Com o céu estrelado era um espetáculo maravilhoso, ainda porque cortar papel  de seda colorido e pedaços de bambu para armar os balões era um acontecimento na vida da meninada, tal qual fazer as bandeirolas para enfeitar os terreiros onde se dançava a quadrilha. Por conta dos ensaios anteriores das quadrilhas, muitas vezes os flertes já se faziam namoros. Em volta da fogueira a festa era armada. Eram montadas com pedaços de madeiras nas coxias da calçada, e nelas eram assados milhos e batatas doces. Também se levava muito a sério a escolha de padrinhos e madrinhas de fogueira e pelo tempo afora os afilhados tomavam a benção aos
padrinhos. De fato era uma beleza ver a rua toda iluminada com fogueiras e com as roupas
típicas e alegres com estampas coloridas. Nessas festas evitava-se o uso de bebidas alcoólicas.
Serviam-se sucos, refrigerantes e aluá de abacaxi, resultado da imersão das cascas num pote
de barro com água pura por cerca de três dias. Depois de coado podia ser adoçado com açúcar
ou rapadura. Em torno da fogueira, cadeiras na calçada, a conversa fluía sem fim... Comia-se
canjica de milho verde, totalmente diferente da servida no Sul do Brasil, o pé-de-moleque tipo de bolo de massa de mandioca com ovos, manteiga, castanha e açúcar preto, ficando com uma cor escura. Daí o seu nome. Às vezes acontecia um pequeno acidente com os fogos de
artifícios mas eram usados foguetes, traques, estrelinhas e os rabos-de-saia, pois não tinham
direção certa e soltavam fagulhas. As músicas que animavam festas e conversas eram por toda a cidade de Fortaleza os baiões, xotes e xaxados inspirados em temas do sertão e quase  sempre cantados por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

Com essa história da minha rua e do bairro onde ela se inseria como núcleo polarizador associado às peculiaridades da Fortaleza de então procuro contribuir para a reconstituição dos costumes, linguagens e fatos da época. Tempo em que o retrato da namorada guardado na carteira de notas tinha escrito o tradicional “não me esqueça”. Estou ciente de que muitas coisas não se pode restaurar, mas o meu propósito ao falar da Rua Carapinima é falar dos tempos de uma cidade mais segura e de um tempo compartido e dividido entre a casa e a rua. O interessante é que nessa rua, nesse bairro conviviam pessoas de vários níveis intelectuais. Ali viveram a escritora Marta Brasil, autora de livros didáticos, a Professora de Canto Dona Guilhermina, o Dr. Antonio Ferreira Antero, um dos engenheiros fiscais da obra do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, o famoso farmacêutico José Arthur de Carvalho e Dona Almerinda, fundadora do Colégio Santa Cecília, mais tarde entregue as Damas da Instrução Cristã. Isto sem falar do  meu pai Luiz Aragão, contador, professor e autodidata em botânica, além do famoso filósofo Antonio Viana, o famoso fotógrafo Fernando Leitão e o erudito ecologista Guimarães Duque, um dos maiores estudiosos das xerófilas em todo o mundo. Tinha também o Dr. Carlos Ribeiro, proprietário de grande parte dos terrenos do bairro, avô do atual senador e ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati, e que era simples, caridoso e generoso. Era um dos tipos mais querido do bairro, chegando a distribuir frutas de seu sítio com os moradores da rua, havia também a Dona Estelaprofessora que educou muita gente no bairro, irmã de um jornalista, o Sr. Murilo que escrevia para o jornal “O Nordeste”. Não posso esquecer o também jornalista, deputado e presidente do Conselho de Finanças do Município, Antonio de Pádua Campos, que morava num bairro que se confundia com o Benfica, que era a Gentilândia. Bastava atravessar a Avenida Visconde do Cauípe que já estava na Gentilândia. O estudioso de piscicultura Rui Simões de Meneses e sua mulher Mariana, uma grande bióloga. O poeta e professor Antonio Damásio da Cunha e o professor Moreira Campos, da Academia Cearense de Letras e Conferencista na Universidade de Colônia, na Alemanha, sua obra daria um livro. O professor de desenho e trabalhos manuais Jaime Alberto da Silva, pai da folclorista Elzenir Colares. É uma lista inumerável falar de tantas pessoas que tiveram sucesso profissional e moraram naquela rua e naquele bairro.


Paulo Maria de Aragão
(Advogado e professor universitário)

Continua...

Parte I
Crédito: Carapinima: A história de uma rua -Regina Stela Ferreira Moreira 
(Formada em jornalismo pela Faculdade Celso Lisboa (Rio de Janeiro)


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