Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Casa Boris Frères



Casa Boris Frères em 1910 - Arquivo Nirez
Uma das casas mais importantes, não só no Ceará como em todo o Norte do Brasil. Os sócios da firma eram os srs. Théodore Boris, Isaie Boris e Achille Boris, que residiam em Paris e lá dirigiam a sucursal da casa, e o sr. Adrien Seligmann, era o sócio-gerente no Ceará.

Crédito: Carlos H. Bertelli
Esta casa, foi fundada em 1870 e fazia o comércio de exportação dos principais produtos do estado, tais como borracha, algodão, cera de carnaúba, couros e peles. Importava máquinas para agricultura, cimento, carvão etc.

Correspondência de João Brígido endereçada a Casa Comercial Boris Frères - 25 de janeiro de 1904 - Acervo de Nágila Maia de Morais

Correspondência de João Brígido endereçada a casa Comercial Boris Frères - 1904 
Acervo de Nágila Maia de Morais
Os srs. Boris Frères possuíam uma instalação para o beneficiamento da borracha, que recebiam do interior do estado. A borracha era posta de molho em uma solução especial durante 20 ou 30 horas; depois, tratada em máquinas diversas, e cortada, em seguida, por meio de facas circulares. A borracha era depois posta a secar em estufas, onde ficava durante trinta dias. A instalação tinha capacidade para 1.500 quilos diários e as máquinas eram provenientes dos conhecidos fabricantes Joseph Robinson & Co., Salford, Manchester. Os srs. Boris Frères pretendiam aumentar a sua instalação para o tratamento da borracha, visto o aumento constante que estavam tendo.


Propaganda Boris Frères de 1929 - LR Blogs Associados
Na seção de algodão, era enorme a quantidade de artigo bruto tratado pela firma. Vinha ele do interior em grandes fardos imprensados e no depósito da firma era limpo quando isso se tornava necessário. O armazém era iluminado à luz elétrica, fornecida por um dínamo; e havia também uma bateria de acumuladores (para o caso em que não se queria fazer funcionar o dínamo), a qual tinha capacidade para iluminar a instalação durante dez dias. A força motriz para o maquinismo era dada por um motor a vapor dos srs. Fawcett Preston.

Nota de despesas de trabalhadores da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais
Na seção de couros, que ficava em outro depósito fronteiro ao porto, o movimento anual sobia a 1.000.000 de couros e peles, dos quais os primeiros eram exportados, na maioria, para o Havre e Hamburgo, sendo as peles enviadas principalmente para Nova YorkFiladélfia.

Crédito Collectorcircuit
O representante da firma em Nova York era o sr. Emile Boris, Broad Street, 68. As exportações em borracha ficavam divididas entre os mercados de Liverpool, Havre, Antuérpia e Nova York; o algodão ia para o Rio de Janeiro, Liverpool e Havre; a cera de carnaúba para Hamburgo, Nova York e Liverpool. Os srs. Boris Frères eram cônsules da França no Ceará e vice-cônsules da Noruega; e eram agentes e representantes de bancos e firmas importantes, tais como London & River Plate Bank e todas as suas sucursais; Brasilianische Bank für Deutschland e todas as suas sucursais sul-americanas; British Bank of South America, Banco do Recife, Banque Française et Italienne, Banco Español del Rio de la Plata, Banco Transatlântico Alemão, Rio; Deutsch Sudamerikanische, Rio e Hamburgo. Fazia também a firma a emissão de vales-ouro para pagamentos alfandegários.


Crédito Collectorcircuit

Os srs. Boris Frères eram também proprietários de várias plantações de borracha, café, cana-de-açúcar etc., próximo a Baturité e Crato (Serra Verde), no estado do Ceará. A firma tinha agências nos estados vizinhos. O movimento anual da casa ia a R$ 12.000:000$000 (£800.000).


Filial da Boris Frères em 1921: vista fronto-lateral do prédio em Fortaleza

(fotografia cedida por Pierre Seligman) - Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX

A casa em 1922. Acervo Charles Boris

Todo colecionar de selos ou história postal do Império do Brasil, em algum momento se 
depara com os envelopes destinados a Casa Boris Fréres.
Mas afinal quem foi está Casa comercial que tanta correspondência mantinha?

Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais

                                            Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
                                                                        Acervo de Nágila Maia de Morais

No decorrer do século XIX, sobretudo de 1850 até o seu final, a França ocupou uma posição privilegiada nas relações comerciais externas brasileiras: o segundo país no movimento de importação e exportação de mercadorias no Brasil, logo em seguida à Inglaterra.

Matriz da Boris Frères: vista frontal do prédio onde se localizava o escritório
da empresa entre as décadas de 1880 e 1940 - Rue de La Victoire, 65. Paris
(fotografia feita em 1990) - Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX

A origem dessa posição privilegiada encontra-se no crescimento econômico ocorrido naquele país no chamado Segundo Império, caracterizado especialmente por um impulso industrial que passou a exigir mercados cada vez mais amplos.
Nesse processo, as casas comerciais importadoras-exportadoras, pertencentes a “comissários em mercadorias” na França, atuando no ramo atacadista e apoiada numa estrutura que implicava na existência de uma matriz francesa e uma filial no Brasil, tiveram 
uma importância fundamental ao viabilizarem essa expansão, materializando-a.
Dentre essas casas. Estava a Boris-Frères. Sua origem remonta à cidade de Chambrey
na região da Alsácia-Lorena, onde a família Boris comercializava com cavalos, pelo menos 
desde a segunda metade do século XVIII.

Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais

Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais

Em 1865, um de seus membros, Alphonse Boris, viajou para a região nordeste do Brasil, dirigindo-se à província do Ceará, sendo seguido, dois anos depois, por seu irmão Théodore.
A primitiva casa comercial que então fundaram em Fortaleza, no ano de 1869, a Théodore Boris et Frères, desapareceu com o regresso deles ao país de origem, dois anos 
depois, mas não em definitivo: suas atividades no Brasil estavam, de fato, apenas começando.
Em Paris, cidade para a qual a família havia emigrado no contexto da Guerra Franco Prussiana, eles fundaram, a 14 de fevereiro de 1872, a Boris Frères, sociedade entre irmãos. Essa objetivava explorar “um comércio de comissão exportação-importação”, com matriz na capital francesa e filial no Ceará, para onde eles retornaram, ainda no mesmo ano, e estabeleceram a filial.

O comerciante Théodore Boris, Chambrey, 1841 . Paris, 1933. ( Uma casa chamada Boris, 1869-1969. Fortaleza, s. n., [1969?]) - Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX
A Província do Ceará experimentava, entre 1860 e 1870, uma expansão agroexportadora, apoiada principalmente na produção algodoeira, que integrava o mercado cearense às correntes do comércio internacional. Tal expansão significava para os interesses comerciais franceses, representados pela Casa Boris, a possibilidade de atuarem não só no ramo da exportação de matérias-primas para a Europa, mas também no ramo de importação de produtos manufaturados.
A opção deles contrastava com a da grande maioria dos comerciantes franceses que, neste período, emigraram para o Brasil com o objetivo de ai estabelecer casas comerciais. A capital do Império e as cidades do Recife e Salvador foram aquelas para as quais eles se dirigiam preferencialmente, sobretudo a partir dos anos cinquenta.
A partir da instalação definitiva em 1872, foi-se engendrando uma hierarquia na cadeia de distribuição das mercadorias importadas, tendo, em uma de suas extremidades, a casa matriz de Paris, e na outra, o pequeno comerciante do interior da província.

Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais

Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais

A exportação de produtos locais para o mercado externo alicerçava-se nos mesmos agentes e hierarquia. As matérias-primas dirigidas ao comércio exportador chegavam à Casa Boris, em Fortaleza, através dos comerciantes com que negociavam na importação, oriundas de fornecedores interioranos.

O comerciante Alphonse Boris. Chambrey, 1843. Paris, 1898. ( Uma casa chamada Boris, 1869-1969. Fortaleza, s. n., [1969?]) - Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX
Os tecidos vinham em primeiro lugar por ordem de importância. Eram constituídos tanto por aqueles de melhor qualidade, mais finos, como por aqueles mais baratos, destinados a um consumo mais popular. Estes últimos, que no Brasil foram de origem, sobretudo inglesa, 
predominaram nas vendas da Casa. Dessa forma, a Boris Frères soube esquivar-se de uns 
problemas enfrentados pelo comércio francês, especialmente no caso dos tecidos, ou seja, a 
dificuldade de consumo para artigos de luxo, que o caracterizavam. Logo após os tecidos, as 
demais mercadorias estrangeiras importadas e comercializadas foram peças de vestuário, 
perfumaria, objetos de decoração, vinhos, conservas, manteiga, drogas, artigos de armarinho e papelaria, cujas encomendas eram feitas à casa-matriz. Note-se, porém, que havia um produto bastante comercializado pela Casa Boris, cuja origem era norte-americana e constituía um dos principais itens das exportações dos Estados Unidos para o Brasil: a farinha de trigo, para confecção de pães e de bolachas.
A “flexibilidade” dos negócios da Casa, porém, é mais patente quando se observa que 
comercializou também com mercadorias de produção local, como velas de cera de carnaúba, 
charque ou ainda aguardente, que eram enviadas de uma área à outra dentro da própria 
Província.

O comerciante Isaie Boris. Chambrey. 1846. Versalhes. 1918. (Uma casa chamada Boris. 1869-1969. Fortaleza. s. n.. [I969?]) - Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX
Considerando-se a atividade exportadora da Casa Boris, em particular, consta-se que o 
algodão constituiu o principal gênero comercializado pela Casa. Ora, na medida em que os 
tecidos foram às mercadorias de maior peso nas importações, verifica-se que ocorria um 
intercâmbio comercial no qual se importavam manufaturas feitas com a matéria-prima que se exportava, vários foram os comerciantes cearenses cuja relação com a Boris Frères esteve assentada, sobretudo, na venda do algodão e na sua contrapartida: a compra dos tecidos, fabricados com aquela matéria-prima.
Os couros estiveram em segundo lugar, em ordem de importância. Por um lado, esse artigo manteve-se, na segunda metade do século XIX, como um dos principais itens as pauta 
das exportações brasileiras para a França; pelo outro, os objetos trabalhados com essa 
matéria-prima constituíram uma das oito mais importantes mercadorias importadas daquele 
país pelo Brasil, no período.
Em terceiro lugar, vinham as penas de ema, utilizada na França, provavelmente, na indústria de decoração e vestuário.
A cera de carnaúba e a borracha também foram comercializadas, embora em bem menor 
grau do que os três artigos anteriormente citados. Afora esses produtos típicos do Ceará
alguns outros despertaram o interesse da casa Boris, este foi o caso do “jaborandi” e de 
resinas”, empregados na fabricação de algumas drogas.
Dessa forma, a Boris Frères filial pôde estabelecer, nos anos de 1870, as bases seguras de sua presença comercial na Província. Suas lucrativas relações com o mercado cearense, que não foram abaladas pelos anos de seca, muito ao contrário, desdobra-se-iam, a partir dos anos oitenta, em novas atividades, colocando-a em posição cada vez mais importante no Ceará.


Prensa inglesa de algodão da Casa Boris Frères, inaugurada em 1924 (Fotografia cedida por Pierre Seligman). Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX

As atividades mencionadas caracterizavam-se, em primeiro lugar, pela sua manutenção 
como casa comercial, reforçada por novas “conquistas”, como a da estável posição de gentes 
consulares, que deteriam durante décadas, e de companhias de seguro de navegação; em 
segundo lugar, por um desdobramento em novas atividades no setor da agroindústria, que se 
traduziram em investimentos diretos na agricultura e no processo de beneficiamento, ao 
mesmo tempo em que constituiu uma expansão da atividade da Boris Frères, consolidou-a 
como casa comercial, pois objetivava, em última instância, um aprimoramento da atividade 
exportadora.
A  primazia da exportação em seus negócios na província se consolidaria em 1910, quando a Casa deixou de realizar importações de mercadorias, num quadro marcado pela perda progressiva da posição da França no mercado internacional, após o final do século XIX. 
Quanto às exportações seriam interrompidas somente em 1930, como efeito da grande 
depressão de 1929, que atingiu o comércio exterior brasileiro. A partir de então as atividades 
da Boris Frères, no Ceará, restringir-se-iam, especialmente, ao ramo de navegação e seguros, 
no qual ainda hoje atua.
Carlos H. Bertelli

Saiba Mais

A Casa Boris foi fundada em 1869, tendo como razão social: "Théodore Boris & Irmão".
Localizava-se antiga Travessa da Praia (atual Rua Boris)





Fontes: ¹Livro Impressões do Brazil no Século Vinte, ²Szmrecsányl, Tamás. & Lapa, José Roberto do Amaral. História Econômica da Independência e do Império. Edusp, São Paulo, 1993 e ³Meyer, Peter. Catálogo Enciclopédico de Selos & História Postal do Brasil. 
RHM, São Paulo, 1999

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Prainha de outrora... Parte III


Rua Dragão do Mar

Em pequena casa que tem hoje o nº 198 da rua Dragão do Mar e os números 117 a 119 da rua Almirante Jaceguai, moravam as velhinhas Mariana e Demétria, irmãs de Telésforo de Abreu, ocupante da Casa Boris, como ficou registrado aqui quando foi feita referência a uma das peraltices de Gustavo Barroso.


Casa Boris em 1921. Vista fronto-lateral do prédio - Foto Pierre Seligman

Casa vizinha a essa foi uma das residências do pai do futuro constituinte e deputado federal Luis Cavalcante Sucupira, este enquanto solteiro.  No local atualmente se levanta um sobrado (nº 2012 da Rua Dragão do Mar), onde instalada estava a firma H. B. Transportes.


Rua Dragão do Mar

Do lado leste deste prédio havia um armazém de peles e couros de IONA e CIA, empresa do industrial pioneiro Delmiro Gouveia, cujo gerente era o futuro capitalista José Magalhães Porto, que viria a ser tesoureiro da Liga Eleitoral Católica (LEC), pai do médico José Porto Filho (Zebinha) e avô de Dona Miriam Fontenele Porto Mota, esposa do governador Luis de Gonzaga Fonseca Mota. Em 1983 era um sobrado desocupado e a alugar. É o nº 218 da rua Dragão do Mar.


Rua Dragão do Mar

Prosseguindo na direção leste da rua, encontramos o prédio que tem o nº 242. Pertencia a D. Maria Pio, esposa de José Pio, construtor do primeiro bungalow de Fortaleza, na Praça Cristo Redentor.

Na esquina sudoeste das ruas Dragão do Mar (antiga da Praia e da Alfândega) e Senador Almino (antiga do Arrecife) levanta-se o prédio assobradado em que nasceu e viveu por muitos anos o grande intelectual Araripe Júnior. Tem hoje os números 316 e 322 da Rua Dragão do Mar. Merecia melhor tratamento da parte dos poderes públicos.


Araripe Júnior

Em frente, esquina noroeste das ruas Dragão do Mar e Senador Almino, sem numeração, permanece a casa em que morou Francisco José do Nascimento, o "Chico da Matilde", que tomaria a alcunha de "Dragão do Mar" pelo papel saliente desempenhado junto à capatazia quando do movimento em prol da Libertação dos escravos. Triste destino o deste prédio: abrigou, depois, o Cabaré da Emília Costa

Na esquina nordeste das referidas artérias, em casa que tem o nº 345, morava um cidadão que era conhecido pelo apelido de Precabura. Devia ter vindo de lá, o aprazível recanto das imediações de Messejana.

Relativamente à fronteiriça face sul da rua Dragão do Mar, fique assinalado que se eleva a casa de nº 366, em cujo frontispício se acha registrado o ano de 1925.

Adiante, outra casa, de nº 372, da mesma rua, com o ano de 1929 inscrito em sua frente.
Depois, a casa de nº 380, com o ano de 1928 em sua testada.

Podemos ver, a seguir, a casa de nº 418, com a indicação do ano de 1920, naturalmente o de sua reforma porque muito antes era habitada por José Sérgio de Melo Rabelo, primo do Coronel Franco Rabelo e depois sogro do futuro constituinte e deputado federal Luis Cavalcante Sucupira, cuja família morava nas imediações. Nesta casa Sucupira residiu, após casado, até quando se mudou para o Rio de Janeiro, em 1920.


 Luis Cavalcante Sucupira

Em casa que ainda se acha de pé e exibe em sua fachada o ano de 1914, hoje nº 422 da rua Dragão do Mar, morou o major Peregrino Montenegro, casado com uma irmã do jornalista Matos Ibiapina, diretor de 'O Ceará', jornal de forte conotação anti-religiosa e antigovernamental. Filho desse casal é o jornalista Alci Ibiapina Montenegro.

Na casa ao lado dessa última, atual nº 430 da rua Dragão do Mar, morava o carpina Júlio Bernardo da Silva, construtor das primeiras carrocerias de caminhão no Ceará. Estava abandonada, com o quadrado das antigas janelas fechadas a tijolo.

A casa a leste dessa última, hoje nº 454 da mesma rua, abrigou também, enquanto solteiro, o futuro constituinte e deputado federal Luis Cavalcante Sucupira, pois, durante certo tempo, serviu de residência a seus pais.


Rua Itapipoca

Como que fechando a atual rua Itapipoca, antigo Beco do Sabóia, existe a casa de nº 462 da rua Dragão do Mar. Nela morou Ademar Bezerra de Albuquerque, fundador da Aba Filme. Era funcionário do London Bank e fotógrafo amador, depois profissionalizando-se.


Ademar Bezerra de Albuquerque

Segue-se a essa casa uma outra, de nº 464, que servia de residência do pai do futuro comerciante Manuel Gentil Porto, este neto e aquele genro do coronel José Gentil Alves de Carvalho, fundador da família Gentil.

Finalmente, a rua finda com um sítio pertencente a Manuel Porto.

Encerrando esta viagem sentimental por um bairro decadente, que abrigou gente tão boa, aparece-me que prestei algum serviço a memória da cidade, fixando para sempre coisas que a história, preocupada mais com os grandes acontecimentos, jamais guardaria. Convicto me acho de que as informações aqui prestadas são fidedignas, decorrentes de fontes seguras e sérias, uma das quais foi o próprio Luis Cavalcante Sucupira, cuja colaboração sinceramente agradeço.


Mozart Soriano Aderaldo

Fim

Parte I
Parte II

Fonte: Prainha, um bairro decadente - Mozart Soriano Aderaldo

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Historinhas de Carnaval




No carnaval em que muitos brincam, outros se escondem, vários viajam, os tristes curtem suas solidões e alguns até leem  resolvi contar umas historinhas de carnaval, todas passadas comigo.

Primeira: tinha por volta dos 12 anos e fazia parte de uma turma, entre adultos e crianças, que conseguiu um caminhão para passear no corso (corso era uma área da cidade em uma avenida de pista dupla, destinada, de um lado, aos blocos e os sujos, a atual turma da pipoca; do outro, ao tráfego dos veículos). Nosso caminhão era do tipo misto, com duas boleias e uma carroceria de madeira. Os mais velhos iam nas boleias  Os mais jovens ficavam na carroceria. Tinha ganho um lança perfume (Cloretil Rodouro). Embora não estivesse fantasiado de pierrô, vi uma perfeita colombina e gastei todo o lança perfume com ela que me mandava tímidos sorrisos ao lado do irmão. O corso acabou, a colombina foi embora acenando e fiquei com o lança perfume vazio na mão.

Bloco Enviados de Alá - Arquivo Nirez

"Av. Duque de Caxias e o Bloco Enviados de Alá. Este bloco surgiu como "En VIADOS de Alah", depois, com a receptividade popular, ele se transformou nos "Eviados de Alah" e fez muito sucesso. Eles cantavam a marcha de Nássara "Alá La Ô" em ritmo de samba, o que não dava certo, ficava forçada a letra na melodia. Aí estão em frente a Igreja do Carmo. Foto de 1972. A partir de 1973 o carnaval passou para a Av. Aguanambi." Nirez

Antônio Luís Monteiro diz: O bloco antes era assim chamado: "HEIM? VIADOS DE ALÁ" e logo depois com a crise internacional do petróleo e o aparecimento em Paracurú virou "ENVIADOS DE ALÁ" e um dos primeiros temas e música foi "O PETRÓLEO É NOSSO!"


Segunda: estava com cerca de 15 anos. Pedi ao meu pai para ir com ele a uma festa noturna de carnaval. Ele concordou. Era terça-feira. Naquele tempo havia umas vesperais em casas de família com discos. Fui participar de uma. Cheguei em casa cansado, resolvi repousar um pouco e acordei na quarta-feira.


Terceira: no fulgor dos 18 anos, resolvi liderar a formação de um bloco com estudantes do C.P.O.R. (para quem não sabe, futuros oficiais da reserva do Exército). Conseguimos até uma viatura militar para nos levar aos bailes. Houve um dia em que, eufóricos, levantamos o estandarte do nosso bloco mais alto que o da turma do Clube Líbano. Foi o bastante. Começou uma briga e a festa acabou.

Quarta: Já universitário e com namoradinha a tiracolo, fizemos um Bloco das Almas. Todos de branco, cobertos da cabeça aos pés, pintávamos e bordávamos pelo meio da avenida, sem que ninguém nos reconhecesse. Não havia bebida, só muita energia até que os pés pisados por terceiros pedissem uma trégua. 

Quinta: Teatro Municipal, São Luís. Havia convidado uma turma de cearenses para assistir ao baile municipal com concurso de fantasias. Todos solteiros. No meio do desfile, um de nossa turma, que havia bebido, subiu à passarela e resolveu tomar, de um dos candidatos à originalidade, o longo bambu que tinha na ponta um pagode chinês iluminado por uma vela. Tomou, a vela ardeu e foi um vexame.

Sexta: Marquês de Sapucaí, Rio. Estava sentado na cadeira vendo as escolas de samba passarem. Nos intervalos, o bloco dos garis fazia a festa, até que apareceu alguém de paletó azul marinho e gravata acenando fortemente para a multidão, indo e vindo sem parar de um extremo ao outro. Perguntei quem era: Fernando Collor, futuro candidato a Presidente da República. É doido, pensei, e não votei nele. 


João Soares Neto



Crônica publicada no Diário do Nordeste em 17/02/2003

Marchinhas - O som dos eternos carnavais


Carnaval da Saudade - Arquivo João Otávio Lobo Neto

Das ingênuas e criativas marchinhas dos anos 30, 40, 50 e 60 às ruidosas músicas da “axé-music”, muitas águas rolaram no Carnaval. A alegria do desfile de de rua e o glamour dos bailes carnavalescos dos clubes elegantes de Fortaleza, nas décadas de 50 e 60, fazem parte apenas da lembrança dos mais nostálgicos. São tempos praticamente esquecidos, que só despertam, na maioria das vezes, o interesse de alguns pesquisadores de nossa história. Os jovens - que hoje se agitam com as “bandas” de barulhentos trios elétricos que ressoam em altos decibéis melodias com letras “sem pé nem cabeça” - nem imaginam como era divertido os carnavais dos confetes e serpentinas, dos pierrots e das colombinas apaixonados.

Lauro Maia e Luiz Assunção foram os pioneiros no cancioneiro carnavalesco do Ceará. Suas canções animaram foliões das escolas e blocos, como o “Cordão das Coca-Colas”, “Prova de Fogo”, “Alfaiates Veteranos”, “Garotos do Frevo”, “Zombando da Lua”, “Escola de Samba Lauro Maia” (depois rebatizada de Escola Luiz Assunção). As músicas de Lauro Maia se consagraram nas vozes de Orlando Silva e dos grupos “4 Azes & 1 Coringa” e “Vocalistas Tropicais” e se tornaram sucessos nacionais.

Carmem Miranda, Lamartine Babo, Emilinha Borba, Virginia Lane, Orlando Silva, Francisco Alves, Ary Barroso, João de Barro, Mário Lago, Dalva de Oliveira, Jackson do Pandeiro, entre outros nomes da MPB que emprestaram seus talentos a famosos “hits” da música carnavalesca: “Daqui Não Saio”, “Alá-Lá-Ô”, “Cidade Maravilhosa”, “As Pastorinhas”, “O Teu Cabelo Não Nega”, “Taí”, “Saca-Rolha”, “Mamãe, Eu Quero”, “Bandeira Branca”, “Pierrot Apaixonado”. Essas marchinhas se eternizaram ao longo dos tempos e continuam até hoje integrando o repertório musical de bailes que sobrevivem ao modismo das micaretas. Exemplo disso é o Carvanal da Saudade, um autêntico revival dos carnavais que ficaram apenas na lembrança...
     Marcos Saudade

Bloco Zombando da Lua - Arquivo Nirez

Qual a importância de Lauro Maia e Luiz Assunção na música cearense e nacional?

     Os dois são importantes, dentro das características de cada um. Lauro Maia, nascido e criado no Benfica, certamente levou mais longe o nome do Ceará porque aproveitou o sucesso de suas composições através de nomes como Orlando Silva, 4 Azes & 1 Coringa, Ciro Monteiro e Vocalistas Tropicais, entre outros. Ao fixar residência no Rio, participou ativamente do Movimento Artístico na década de 1940, sendo inclusive o responsável pelo surgimento do Baião, ao apresentar Luiz Gonzaga a seu cunhado Humberto Teixeira. Luiz Assunção foi um maranhense que se tornou cearense devido a sua grande identificação com a vida da cidade, ele inclusive foi homenageado quando Lauro Maia foi morar no Rio, puseram o nome dele na Escola de Samba Lauro Maia e um grande número de pessoas que conhece a história de nosso carnaval lembra com muita saudade dos grandes desfiles e da música maravilhosa que soava na orquestra da Escola de Samba Luiz Assunção.

     Que contribuição deram ao carnaval cearense?

     Uma contribuição enorme. Antes deles não havia compositores populares criando músicas para as agremiações. Foi Lauro Maia quem iniciou esse ciclo criativo em nossa história carnavalesca. Tanto ele como Luiz Assunção têm até hoje músicas lembradas e que foram compostas para o carnaval de rua, para a Escola de Samba Lauro Maia, depois Luiz Assunção, para a Escola de Samba (hoje Bloco) Prova de Fogo e outros blocos, como O Que Fóe, Galinha, do genial Doutor Bié. O Lauro inclusive foi o primeiro compositor a utilizar o ritmo do nosso Maracatu fora do carnaval, na música Orixá, que tinha versos de Jorge Aires.

     Como foi resgatar a vida e obra de Lauro Maia em livro e disco?

     Sinceramente, este foi um dos projetos mais importantes de toda a minha vida. Primeiro, pela grandiosidade da biografia do Lauro, depois pela beleza e atualidade de sua música e também pela parceria com o pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez. Outra coisa importante deste trabalho foi contar com a participação de todos os artistas que interpretaram músicas de Lauro Maia, é realmente um presente ter Teti, Ednardo, Rodger, Lúcio Ricardo, Fagner, Evaldo Gouveia, Falcão, Ayla Maria, Fernando Néri, César Barreto, David Duarte, Aparecida Silvino... É um disco que me agrada sempre, eu escuto cada vez com mais prazer. Tem um time de músicos de primeira e é todo mundo daqui mesmo.

     O que poderia ser feito para resgatar o carnaval de Fortaleza?

      Deveria haver um maior incentivo por parte da Prefeitura de Fortaleza. Afinal estamos falando de uma festa pública, inserida no calendário de eventos da cidade. Para o nosso carnaval de rua se tornar atrativo do ponto de vista do investimento privado, precisa haver um trabalho muito forte junto às agremiações, é preciso chamar os artistas para participar compondo, cantando, tocando, desenhando, somando com o imenso mundo de gente que trabalha há tantos anos pelo carnaval e tem muito amor pelo que faz. O nosso trabalho à frente da Federação de Blocos Carnavalescos tem sido recuperar a dignidade do carnaval de rua, reinseri-lo na rota dos grandes eventos.

Calé Alencar
Maracatu Az de Ouro em 1950 - Arquivo Nirez

Quais foram os mais expressivos compositores cearenses de músicas carnavalescas?

     Os mais expressivos compositores de músicas carnavalescas no Ceará foram Euclides Silva Novo, Mozart Brandão, Caetano Acioly, Luiz Assunção, Paulo Neves, Lauro Maia, Irapuan Lima, Mário Filho, Edigar de Alencar, Waldemar Gomes e Milton Santos.

     Que marchinhas mais famosas marcaram os bailes carnavalescos do passado?

     As marchinhas foram importantes no cenário carnavalesco cearense, mas também os sambas figuraram como sucesso.Tivemos "Tabajara", marcha (Silva Novo - Caetano Acioly) 1930; "Adeus, Praia de Iracema", samba (Luiz Assunção) 1954; "Falta de luz", marcha (Irapuan Lima - Mário Filho) 1955; "Dona Fredegunda", marcha (Mário Filho - Milton Santos) 1958; "Meu bem", samba (J. Guimarães - Milton Santos) 1958; etc.

     Que blocos e escolas brilhavam nos carnavais de rua de Fortaleza do passado?

     Os blocos que brilharam no passado foram "Maracatu Ás de Ouro", "Maracatu Rei de Espadas", "Garotos do Frevo", "Escola de Samba Lauro Maia", "Zombando da Lua", "Escola de Samba Luiz Assunção", "Cordão das Coca-Colas", "Alfaiates Veteranos", "Prova de Fogo", etc.

     Como avalia as festas carnavalescas da atualidade?

     O carnaval teve várias fases, a primeira apesar de ser chamada de carnaval era o ENTRUDO, que reinou até início do século XX, onde se dançava valsas vienenses entre outras coisas; a segunda foi a fase de ouro das marchinhas, dos grandes compositores e intérpretes, das grandes músicas e letras e que durou até meados da década de 60; e a atual fase, dividida entre o espetáculo turístico já superado das escolas de samba do Rio de Janeiro e a música atual de maio-de-ano lançada pela Bahia que descaracterizou o carnaval tornando-o muito mais de fora de época que de próprio período. Já não existem músicas feitas para a festa porque a festa já não existe.

Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)
Escola de Samba Luiz Assunção em 1969
Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval

Quais foram as fases marcantes da produção musical feita para o carnaval?

     As décadas de 30,40 e 50. Principalmente a de 30, apropriadamente chamada de “Fase de Ouro”. A partir da cartelização da economia mundial e a consequente dolarização econômica dos países dependentes da América do Norte, como o próprio México (seu vizinho), o Brasil, Argentina, França, Itália, Portugal e os demais que compõem o Terceiro Mundo, o regionalismo foi para o “bebeléu”. Entregar-se de corpo e alma às coisas e costumes da América do Norte passou a ser sinônimo de progresso. O nacionalismo passou a ser pichado como retrógrado, coisa do passado, etc... Tudo aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial (1945).

     Quais os mais famosos “hits” carnavalescos?

     Dos anos 30: “Prá Você Gostar de Mim” (Taí), marcha-canção de Joubert de Carvalho, gravada por Carmem Miranda em 1930; “O Teu Cabelo Não Nega”, adaptação de Lamartine Babo, gravada por Castro Barbosa, em 1932; “Linda Morena”, de Lamartine Babo , de 1933, “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, gravada por Aurora Miranda (irmã de Carmem Miranda), em 1935; “Pierrot Apaixondo”, de Heitor dos Prazeres e Noel Rosa, 1936; “Mamãe, Eu Quero”, de Jararaca, 1937; “As Pastorinhas”, João de Barro e Noel Rosa, de 1936 e regravada por Sílvio Caldas para o carnaval de 1938; “A Jardineira”, de Benedito Lacerda e de Humberto Porto, gravada por Orlando Silva em 1939. 
Dos anos 40: “Dama das Camélias”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravado por Francisco Alves em 1940; “Alá-Lá-Ô”, de Antônio Nássara e Haroldo Lobo, gravada por Carlos Galhardo, em 1941; “Aí, Que Saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, 1942; “Nós, Os Carecas”, de Roberto Roberti e Arlindo Jr. gravada por Anjos dos Inferno, 1942; “Está Chegando a Hora”, de Henricão e Rubens Campos, gravado por Carmem Costa, 1942; “Atire a Primeira Pedra”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, gravado por Orlando Silva, em 1944; “Cordão dos Puxa-Sacos”, gravado pelos Anjos do Inferno, em 1946; “A Marcha do Balanceio”, de Lauro Maia e Humberto Teixeira, 1946; “É Com Esse Que Vou”, de Pedro Caetano, gravado por 4 Azes e 1 Coringa, 1948; “Chiquita Bacana”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravada por Emilinha Borba, 1949; “General da Banda”, de Sátiro de Melo, José Alcides e Tancredo Silva, gravada por Blecaute. 
Dos anos 50: “Daqui não saio”, de Paquito e Romeu Gentil, gravada pelos Vocalistas Tropicais, 1950 -“Serpetina”, de Haroldo Lobo e David Nasser, gravada por Nelson Gonçalves, em 1950;“Tomara que choro”, de Paquito e Romeu Gentil, pelos Vocalistas Tropicais e Emilinha Borba, em 1951; “Lata D’Água”, de Luiz Antonio e Jota Júnior, gravado por Marlene, em 1952; 

Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval
Centro Dragão o Mar de Arte e cultura

Sassaricando”, de Luiz Antonio e Zé Mário, gravada por Virginia Lane; “Saca-Rôlha, de Zé da Silda.; “Maria Escandalosa”, de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti, 1955; “Vai, Com Jeito Vai”, de João de Barro, gravada por Emilinha Borba, 1957;“Boi da Cara Preta”, de Paquito/Romeu Gentil/Jackson do Pandeiro, 1959.
Dos anos 60: “Me Dá um Dinheiro Aí” , gravada por Moacior Franco, 1960; “Indio Quer Apito”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, em 1961;“A Lua é dos Namorados”, gravada por Ângela Maria, 1961.“Cabeleira do Zezé”, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal. 1964; “Máscara Negra”, de Hildelbrando Pereira Mattos e Zé Ketti, 1967; “Bandeira Branca”, de Max Nunes e Laércio Alves, gravada por Dalva de Oliveira, 1970.

Christiano Câmara



Crédito: Diário do Nordeste

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