Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

O culto ao cinema na Fortaleza dos anos 60



Arquivo Nirez

Em uma cidade onde o ponto de convergência das pessoas era o centro urbano, o cinema era uma das principais fonte de cultura e lazer. A realidade de Fortaleza, de certa maneira, impunha o convívio social centralizado, de forma que tudo acontecia no centro da cidade. Lojas, mercado, igrejas, restaurantes, espaços de lazer, bancos e órgãos públicos eram encontrados, quadra-a-quadra, nesse espaço de convergência citadina. 


O Palácio do Governo na Praça dos Leões

As lembranças pontuam o depoimento dos integrantes da geração que vivenciou a época. O
jornalista Augusto César Costa relata que “Tudo acontecia no centro da cidade. A cidade viva no centro. Ali você tinha o Palácio do Governo, a Assembléia Legislativa, o Fórum, a Faculdade de Direito – que era a faculdade mais importante da época –, o Theatro José de Alencar. Então, a vida social de Fortaleza estava toda no centro da cidade.” (Augusto César Costa, em entrevista concedida no dia 22 de abril de 2009).



Arquivo Nirez 

O arquiteto e compositor Fausto Nilo retrata que o centro da cidade simboliza o ponto de convergência da cidade, ressaltando a importância da praça nesta característica urbana:

“As pessoas que moravam nas áreas periféricas chegavam de ônibus, tinha um limite, e parte dos ônibus paravam na Praça do Ferreira e tinha o Abrigo Central: uma coberta de concreto e embaixo tinha engraxate, venda de bilhetes de loterias, lanchonetes, era um ágora. E naquele tempo não tinha essa degradação, esse declínio que tem hoje. As lojas eram tudo chique. Não tinha shopping, era tudo ali. Era convergente. As pessoas da Aldeota iam comprar lá, trabalhavam lá, os escritórios eram lá, os bancos era lá, tudo era lá.” (Fausto Nilo, em entrevista concedida no dia 6 de maio de 2009).



Abrigo Central 

O escritor e dramaturgo José Mapurunga elucida também a respeito da importância do centro na história da cidade:

“Você imagina uma cidade sem shopping center, sem supermercado. Se você quisesse comprar alguma coisa, ia ao centro. Existia também, no ponto de vista comercial, uma relação de confiança entre o dono da mercearia e o cliente. Havia as cadernetas e você poderia comprar fiado e o comerciante anotava nela, para que o cliente fosse pagar depois, como acontece ainda em algumas cidade do interior. O centro era também principal ponto de lazer da cidade. A Praça do Ferreira, o ponto de encontro”. (José Mapurunga, entrevista concedida no dia 5 de maio de 2009)

É natural, portanto, que encontremos a forma de lazer moderno mais comum na década de 1960 localizada especialmente no centro da cidade, onde havia a maior concentração de casas de cinema da época¹



Acervo Jornal O Povo

Num período em que a televisão ainda não tinha se consolidado como forma de lazer doméstico predileto, os shopping centers ainda não existiam e não tínhamos também as iniciativas de construção de centros culturais. As formas de lazer sociais e culturais eram muito restritas. Fixavam-se apenas na praia aos finais de semana, no futebol – principalmente para os rapazes –, nas quermesses e nos cinemas. As classes mais abastadas poderiam usufruir, ainda, de clubes sociais privados, como o Náutico Atlético Cearense.


Praia dos Diários - Anos 60

“Vamos pegar aí a vida de um garoto com 16, 17 anos de idade. Tinha as paróquias e as comunidades se faziam em torno delas. A Igreja também era um ponto convergente da cidade, ponto de encontro. Tinha a missa de domingo e as pessoas se encontravam. Então, essas pessoas tinham dois níveis de gravitação de convergência. Tinha o de todos, que era a Praça do Ferreira e tinha os particulares em seu bairro, que era a igreja, que ficava rodeada por uma praça. E o que é que acontecia aí? Cada época do ano, cada paróquia tinha sua quermesse. Era onde os garotos de classe média que não frequentavam os clubes da cidade encontravam as garotas. Era na escola, nas quermesses, na praia e no cinema. Esses eram o ponto de intercâmbio, de poder se encontrar. Os lazeres na cidade eram esses e para os garotos tinham também o futebol. E aqui-acolá íamos a uma tertúlia.” (Fausto Nilo, em entrevista concedida no dia 6 de maio de 2009).

Acervo Jornal O Povo 

Com um caráter representativo de progresso e modernidade, o cinema converteu-se 
em lazer amplamente frequentado, sendo um importante ponto de encontro da juventude na 
década de 1960. 

“Muitos de nós saíamos da escola ou da faculdade e íamos ao cinema no sábado. 
Aos domingos, como era de costume: praia de manhã, cinema à tarde. O cinema também era o programa preferido para sair com a namorada. A sala escura criava um ‘clima’. Como tínhamos pouco dinheiro, geralmente já marcávamos dentro da sala, para não termos que pagar o ingresso da moça". (José Mapurunga, entrevista concedida em 5 de maio de 2009).

O interesse da população pelo cinema era representado frequentemente em colunas de jornais que tratavam, em específico, da sétima arte. O jornal Gazeta de Notícias e O Povo
tinham páginas inteiras reservadas à divulgação e à crítica cinematográfica, além de notas 
sobre a programação semanal ou diária das casas de cinema, dispostas aleatoriamente no 
decorrer do veículo. 

De acordo com José Mapurunga, a juventude que frequentava o cinema em Fortaleza,
em especial as sessões de arte, é caracterizada pelo figurino que vestiam, pelo que liam e pelo
que conversavam. O cinéfilo dos anos 60 vestia-se como “proletariado”, reflexo de uma visão política que aproxima-se das camadas sociais mais populares, proporcionado pelos filmes e pelos livros que compunham o repertório de construção visual e intelectual do espectador da época.

 A geração de sessenta em Fortaleza, embora também assistisse a filmes norte-americanos que impunha o gosto pelo rock 'n' roll e o uso da minissaia pelas mulheres, também
era influenciada pelo cinema europeu, que explicitava a revolução sexual, onde mulheres
também poderiam vestir-se da mesma maneira como apenas homens se vestiam antes,
adotando agora o uso da calças jeans e camisa. E assim o faziam. Como opção musical,
tinham a música popular brasileira como preferência, devido a popularização e disseminação desta nesse período e de sua ligação com a brasilidade, também buscada nas produções
cinematográficas brasileiras.

Entretanto, é importante atentar que o esteriótipo visual com que vestiu-se a geração de sessenta não era unânime. Podíamos encontrar a juventude vestida de jeans, camiseta
branca e sandália franciscana, figurino característico da época, mas não devemos nos fechar
nessa única concepção.

Abrigo Central 

Isso também se aplica ao mito do livro embaixo do braço. Era comum à geração cinéfila de sessenta em Fortaleza, a cultura de usar sempre um livro embaixo do braço, representado aquilo que estava lendo. Poderia ser Marx, Tolstoi, Freud, Lênin; algo de caráter valorativo e que simbolizasse um status de intelectualidade.
Entretanto, o arquiteto Fausto Nilo, frequentador assíduo do cinema na cidade de Fortaleza,
afirma esse não ser um hábito praticado frequentemente por ele, mas afirma a existência deste fato e relata:

“Eu tinha um primo que era meu companheiro de formação. Eu morei na casa dele. 
As curiosidades eram juntas. A gente via muito cinema. Aí, parava num sebo na Rua Guilherme Rocha e tinha um livro pra vender que era assim: ‘A interpretação dos 
sonhos, Freud’. Aí eu olhava pra ele e dizia: ‘Cara, é aquele Freud. Se lembra daquele filme que o cara falou?’. Aí a gente comprou o livro e a gente lia coisas desse tipo, mas não tínhamos interlocutores. A gente lia aquilo só nós e ficava tentando fechar esse mosaico. Então, o CCF e esses jovens intelectuais que foram se identificando na cidade, eles foram ajudando a criar uma teia de sustentação intelectual uns dos outros. E a linguagem era essa: se encontrar no cinema, se ver de longe, depois se conhecer, alguém apresentar e a partir daí, se afeiçoar às características uns dos outros. Era comum desses jovens ler (ou parecer que lia) livros de formação política e intelectual, como Sartre, Marx, Freud. Tinha isso de vê-los sempre com um livro embaixo do braço.” (Fausto Nilo, em entrevista concedida no dia 6 de maio de 2009).

Abrigo Central 

A década de 1960 – era associado, no Brasil, a um momento de intenso desenvolvimento econômico e de efervescência cultural, com proliferação de tendências e manifestações no campo das artes e em outros setores de produção de bens simbólicos. Estes aspectos eram comumente reportados nos periódicos cearenses.

Além de representar uma forma de diversão pura e simples, o cinema funcionou naquele contexto histórico, sobretudo, como um veículo por excelência, de disseminação de ideologia e mensagens ligadas aos mais diversos propósitos. É um tipo de lazer sedutor, que logo se universalizou na preferência do público. E em meio a essa trajetória ditatorial que vivíamos em nosso país, o cinema inseriu-se como aglutinador de grupos, catalisador de pessoas e idéias, lugar onde havia a convergência de interesses. Isso se dava não somente no ato de ir ao cinema, mas nas convivências pré e pós exibições do filme, nos salões de espera das casas de cinema, nas filas para entrar nos filmes e nos bares, lanchonetes e restaurantes da cidade.

Cine Diogo

No momento no qual dispomos de um já consolidado circuito cinematográfico comercial variado surge em Fortaleza o Cinema de Arte do Cine Diogo – melhor dizendo, ressurge² – como uma opção diferenciada de cinema que, a exemplo de outras experiências
vivenciadas no país, exibiria filmes não identificados com o circuito comercial convencional
que normalmente ocupava a programação do Cine Diogo. A ideia surge com objetivo de que
os filmes alternativos³ produzidos na França, Itália, Grécia, Japão, Inglaterra, Estados Unidos, etc., pudessem atrair também um espectador mais jovem.

Cíntia Mapurunga
(recém-graduada em Comunicação Social, com habilitação 
em Jornalismo pela Universidade de Fortaleza)

Continua...

 (13220 bytes)¹No início dos anos 1950, a cidade contava com dezoito salas de exibição localizadas não só no centro da cidade, mas também em bairros e zonas periféricas, numa clara demonstração do nível de importância que essa forma de lazer assumia no cotidiano fortalezense nos vários segmentos da população. (PONTES, Albertina 
Mirtes de Freitas. A cidade dos clubes: modernidade e “glamour” na Fortaleza de 1950-1970. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2005, p.45). Encontramos registrados em jornais da década de 60, o anúncio constante de seis casa de cinema: Cine São Luiz, Cine Diogo, Cine Moderno, Cine Jangada – pertencentes ao Grupo Severiano Ribeiro, que construiu um “império” de exibições cinematográficas no Brasil –, CineArt, Cine Samburá e Cine Familiar – este também com um circuito de Cinema de Arte. O Clube de Cinema de Fortaleza também tinha sua programação semanal divulgada nos jornais estudados.

 (13220 bytes)²O Cinema de Arte do Cine Diogo surge em 1963. Em 1967, o Cinema de Arte estava ressurgindo, no dia 4 de março, após um longo período de paralisação. 

 (13220 bytes)³ Aquilo que não se afina com valores e métodos convencionais ou tradicionalmente conhecidos. O convencional em questão é o cinema comercial hollywoodiano. 

Fonte: O culto ao Cinema de Arte na geração de sessenta em Fortaleza 

sábado, 8 de junho de 2013

Fortaleza antiga - O lazer e os Clubes Sociais


Na Fortaleza dos anos de 1920 a 1930, assim como outras práticas urbanas existentes, o lazer visando o divertimento ocorria de modo diferenciado. Com o constante desejo vindo por parte da população para criar novos meios de distração e de ocupação, foi necessário fundar ou até mesmo se apropriar de espaços públicos ou privados destinados a reuniões de alguns grupos sociais, estes geralmente compostos pelas classes mais abastadas. Já as classes mais baixas faziam o uso dos espaços que eram possíveis.

Em destaque o prédio onde funcionou o Clube Cearense

Na virada do século XIX para o XX, encontramos variadas áreas públicas e privadas como mediadoras de grandes encontros sociais daquele tempo. No entanto, esses espaços possuíam grande importância para as relações pessoais da população fortalezense, já que segundo Albertina Mirtes de Freitas Pontes (A cidade dos clubes: modernidade e “glamour” na Fortaleza de 1950 – 1970. P.107) “a própria estrutura das moradias, da maior parte da população, não oferecia condições para o convívio e as trocas sociais.” Por isso era necessária a utilização ou até mesmo criação de locais onde os encontros e os eventos sociais pudessem ser realizados com uma maior frequência. 



Destacaram-se como as principais formas de lazer em nossa capital no início do século XX a ida ao teatro, ao cinema, à igreja; era muito comum ainda as rodas de conversas que aconteciam na Praça do Ferreira, em bares ou cafés, as conversas nas calçadas, as idas ao Passeio Público e as festas que ocorriam nos clubes que formavam a cidade de Fortaleza. 

Revista Bataclan de 1923

Todos esses espaços ofereciam diversão a seus frequentadores, mas vale ressaltar que mesmo nos locais públicos existiam as distinções sociais, eles não eram compartilhados de maneira igualitária. Essas áreas dedicadas ao lazer eram na verdade grandes divisores sociais, pois o fato de frequentá-los já denunciava a qual classe social um indivíduo pertencia. 

Clube Iracema - Acervo Sérgio Roberto

Os hábitos que se formaram em torno do lazer, sofreram com o passar do tempo, mudanças significativas. No decorrer da história de Fortaleza, alguns deles acabaram sendo esquecidos e outros reforçados. No entanto, os clubes sociais como locais de lazer ganharam mais evidência e prestígio diante da sociedade fortalezense, na virada do século XIX para o XX. 

Carnaval do Clube Iracema - Acervo Sérgio Roberto

As primeiras ideias referentes a esses clubes sociais vieram por meio da chegada da família Real ao Brasil em 1808, através disso o Rio de Janeiro passou a ser palco de grandes festas que ocorriam nos luxuosos salões ou até mesmos em palacetes, onde era acolhida a parte mais nobre da sociedade daquela época.


Inspirada nas eventualidades que ocorriam no Rio de Janeiro e até mesmo em outras capitais brasileiras, Fortaleza, já em meados do século XIX, realizava festas e reuniões elegantes oferecidas para a sua sociedade, mas como durante esse período a capital cearense ainda possuía traços provincianos; apenas a elite estava apta a participar desses sofisticados encontros sociais. 
(Ao lado, baile no Ideal Clube)

Posteriormente, mas ainda durante o século XIX, surgiram em Fortaleza os clubes sociais, que foram criados por grupos específicos e eram locais destinados ao lazer. 

Ideal Clube

Bloco Meu Ideal é você do Ideal Clube

A cidade de Fortaleza foi marcada no período de transição do século XIX para o século XX pelo surgimento de diversas agremiações, as principais delas eram relativas aos clubes denominados “elegantes”. O primeiro deles, o Clube Cearense foi fundado no ano de 1867, de caráter elitista, possuía uma postura altamente discriminatória. No entanto, como forma de oposição surge em 1884, o Club Iracema, que apesar de ter sido criado como forma de se opor ao “exclusivismo” do Clube Cearense, o Club Iracema era um local de acesso restrito, ao passo que seus sócios eram compostos basicamente por grupos ligados ao comércio e a Alfândega

Revista Bataclan

Os clubes “elegantes” marcaram a sociedade cearense pelas festas que realizavam, especificamente os bailes que ocorriam na cidade com muita pompa e prestígio, e também pela moda que apresentavam. Nessas ocasiões seus frequentadores se vestiam a rigor, tradicionalmente as mulheres trajavam vestidos longos e os homens smokings

De acordo com o tipo de baile e com os seus convidados, os trajes sofriam alterações, sofisticando-se então ainda mais. Essa valorização direcionada ao vestuário em cada solenidade ocorria por parte da “alta sociedade” de Fortaleza que tinha o prazer de se destacar nesses eventos sociais. Os membros desses clubes “elegantes”, em especial as mulheres, costumavam se preparar com bastante antecedência para a ida ao baile; começavam comprando os tecidos mais caros disponíveis no mercado – gaze, seda pura, renda e zebeline; era comum também fazer a encomenda dos mesmos em outra capital, logo após a compra era escolhido o modelo do vestido e encaminhado para as costureiras. 

Deslumbrante Baile no Club Iracema publicado no Jornal A Lucta de 02 de julho de 1914

A imprensa estava sempre atenta aos eventos em geral que ocorriam nos clubes cearenses, assim era comum os jornais que circulavam pela cidade publicarem notas tratando da decoração ou das roupas utilizadas pelas personalidades presentes.

Vale ressaltar que com o passar dos anos, a elite não era apenas a única classe frequentadora desses clubes, por conta do surgimento de um grande número desses locais de lazer foi possível criar agremiações direcionadas para pessoas de outras camadas sociais. Como já citado anteriormente, os jornais reservavam sempre um espaço em suas publicações para notícias referentes aos clubes sociais que ilustravam a cidade de Fortaleza, nas revistas eram publicadas notas sobre as festividades desses clubes de maneira mais sutil quando comparadas aos outros meios de comunicação. 

Através dos arquivos das revistas de época, foi possível perceber que cada fascículo abordava conteúdos distintos desses clubes. As notas sobre eles tratavam dos temas mais variados indo desde exposições de arte, de apresentações musicais, até anúncios sobre chá dançante, manhã dançante, homenagem à bandeira e bailes sociais – festas essas tradicionais, que aconteciam na cidade de Fortaleza. O baile de carnaval era um evento que alterava significativamente os clubes sociais de Fortaleza, as decorações elaboradas tornavam as agremiações mais bonitas e criativas. 



Havia ainda a criação de blocos e de fantasias, estas confeccionadas com muitos detalhes e minuciosos acabamentos, utilizadas por jovens e também pelas senhoras e senhores, o objetivo era ganhar destaque tanto pelo vestuário como pela animação. 

(Ao lado, anúncio na Bataclan sobre uma Exposição Regional de pintura em 30 de outubro de 1923 no Clube dos Diários

Revista Ceará Ilustrado de 01 de fevereiro de 1925

Um fato importante sobre as revistas é a forma como elas abordavam determinados assuntos sociais. Como as agremiações cearenses no começo do século XX ainda eram voltadas para as classes mais abastadas da cidade de Fortaleza, as representações desses clubes ocorriam de formas diferentes nesses meios de comunicação. 

Revista Ceará Ilustrado de 15 de fevereiro de 1925

A revista Ceará Ilustrado por ser um semanário que tratava de assuntos políticos, literários e sociais, era a que reservava mais espaço para as matérias referentes às agremiações. Em seus fascículos a presença desse assunto ocorria com grande frequência, poucas eram as publicações que não apresentavam no mínimo um anúncio limitado sobre os clubes. Uma abordagem dos mais variados clubes sociais podia ser encontrada por meio de notas ou matérias. 
Já a revista Bataclan, fundada em 1926 pela Associação dos Comerciários, era voltada para a elite comercial de Fortaleza. Ela possuía um caráter de arte e elegância; no entanto publicava na maioria das vezes notas sobre os clubes destinados a essa classe social. 
Possuindo um aspecto similar a Ceará Ilustrado, a revista A Jandaia tratava de temas como arte, literatura e atualidades e foi à única revista que não indicou um amplo conteúdo sobre a questão dos clubes sociais. Apresentava informações sobre as práticas de lazer que ocorriam na capital cearense no início do século XX, mas um conteúdo mínimo sobre as agremiações foi encontrado, apenas algumas notas sobre reuniões específicas que aconteciam nesses espaços sociais.


Maria Darlyele Gadelha de Castro 

(Graduanda em Design de Moda)

Imagens: Revista Bataclan,
Revista Ceará Illustrado

Acervo Sérgio Roberto
Arquivo Nirez e
Jornal A Lucta de Sobral




quarta-feira, 29 de maio de 2013

Fortaleza no século XX - A moda e os anúncios

Para analisar a moda em Fortaleza durante as primeiras décadas do século XX, precisamos primeiramente entender que foi durante o século XIX, que ocorreu na Europa o progresso da indústria têxtil, ocasionando a queda do mercado de roupas usadas e abrindo espaço para o desenvolvimento do mercado de roupas prontas e para o surgimento de grandes magazines. 
Anúncio da Revista Bataclan de 1923

Todas essas transformações que aconteciam na Europa logo ganharam proporções maiores e acabaram sendo refletidas em outros países, aqui no Brasil não foi diferente. A França e a Inglaterra foram ícones da moda no século XIX, devido às suas conquistas econômico-militares e ao poder que exercia em muitas das nações do mundo. 
A Europa do século XIX delegou à moda muitas transformações, notadamente nas mulheres. Assim, esse período foi marcado pelo antagonismo criado em relação à indumentária, onde os trajes masculinos ganharam um despojamento, enquanto as vestimentas femininas migraram de uma simplicidade para uma ornamentação – utilizando rendas, bordados e fitas; tornando-se mais sofisticadas. Mas não eram apenas as tendências europeias que chegavam a nosso país, muitos produtos estrangeiros começaram a ser comercializados com uma frequência maior. Com essas mudanças ocorrendo, a importância dada à moda agora era outra. 

Durante o século XIX a moda chegou a se tornar um tema bastante relevante no meio social, ganhando até um espaço significativo nas mídias da época que eram compostas pelos jornais, os periódicos e pelas revistas. Toda a divulgação que ela obteve no século XIX, gerou no Brasil a construção de novos hábitos, pois as mulheres passaram a buscar por informações com maior frequência, queriam estar a par do que era utilizado na Europa. Assim, essas publicações que falavam sobre moda logo ganharam destaque no país, revistas específicas são lançadas destinadas para tratar somente desse assunto, ainda foram criados os guias e os manuais de moda. 
Foi no ano de 1808, com a chegada da Corte portuguesa em nosso país, que inúmeras mudanças foram realizadas, em especial no modo de vestir e nos hábitos. Os brasileiros nesta época, principalmente os cariocas, tentavam reproduzir a corte e a moda parisiense, ultrapassando as barreiras do clima para viver o glamour estimulado pelo imaginário europeu. Ainda havia outro aspecto trazido pela moda, um aspecto que caracteriza a própria modernidade não só daquela época, pois, perdura até hoje: a uniformidade. Tal fato foi também bastante percebido na sociedade fortalezense. Examinando as imagens da época dos anos de 1920 e 1930, constatamos um estilo comum na indumentária – roupas, chapéus, sapatos e afins; também no corte dos cabelos, na maquiagem, dentre outros; tudo isso ocasionado pelas influências europeias.

A moda era tratada com frequência dentro das revistas que circulavam na capital cearense, mas não podemos deixar de mencionar que alguns fascículos abordavam-na superficialmente, apenas através de alguns anúncios que divulgavam os produtos que existiam nas lojas ou a chegada de novas mercadorias a cidade. O espaço destinado a tratar a moda de forma mais minuciosa estava reservado para os jornais de moda, os manuais de etiqueta e de civilidade. Os jornais e manuais apresentavam esse tema para as mulheres como algo indispensável, reforçando os atributos naturais e distinguindo essas damas como parte da boa sociedade por serem dotadas de elegância e bom-tom. Já a moda para os homens era abordada na busca de divulgar o perfil masculino correto e elegante que podia ser encontrado naqueles dotados de sobriedade e simplicidade. Esses jornais e manuais apresentavam ainda os modelos de roupas adequados para cada ocasião, a diferenciação entre os trajes usados por mulheres casadas e solteiras, dentre outras definições. Já os manuais de civilidade serviam para indicar as bases corretas de um bom vestuário, não fazendo relação com a moda, mas sim com os aspectos como a idade, o clima, o estado civil, a estação do ano e outros. Esses manuais ditavam os itens certos que deviam ser usados pela população.
Anúncio para o público masculino na Revista Ceará Illustrado de 18/08/1925

Analisando as edições das revistas A Jandaia, Bataclan e Ceará Ilustrado, foram encontradas poucas notas tratando a moda de maneira aprofundada. Algumas vezes as mulheres e a moda surgiam retratadas em poemas, ocasião essa bastante comum dentro das revistas, mas esses versos na maioria das vezes abordavam temas variados, traziam textos literários e também textos que se referiam a assuntos da época como as figuras ilustres, os clubes, dentre outros. Inúmeros eram os anúncios que ilustravam os fascículos das revistas da capital cearense durante o início do século XX. Dando continuidade à moda, podemos afirmar que os anúncios referentes a ela apareciam quase que de uma maneira generalizada. Era muito comum abrir uma revista naquela época e se deparar com uma publicidade bastante característica daquele período que detalhava diversos itens que estavam disponíveis nas lojas, as conhecidas Casas de Moda; às vezes, até mesmo os valores de determinados produtos eram divulgados e ainda o endereço onde se encontravam esses estabelecimentos. 
Anúncio da Revista A Jandaia de 24 de maio de 1925

Anúncio da Revista Bataclan de 1923

Vale ressaltar que os anúncios de moda nem sempre eram direcionados apenas para as mulheres, o público masculino também ganhou um espaço reservado nessas publicações, onde os estabelecimentos e os produtos utilizados por eles eram divulgados dentro das revistas. Existiam ainda as lojas mistas especializadas nas vendas de artigos masculinos e femininos. Analisando os anúncios percebemos que algumas delas vendiam produtos mais refinados, direcionados para as classes mais abastadas como aquelas que ofereciam tecidos caros, sapatos, chapéus, dentre outros e havia também aquelas mais populares que possuíam um estoque diferenciado, oferecendo desde miudezas até brinquedos, artigos religiosos e afins. 
Anúncio da Revista A Jandaia de 12 de julho de 1925

Além dos artigos de moda outros produtos também ilustravam esses anúncios, como cigarros, automóveis, medicamentos, bebidas, vitrolas e produtos de beleza. As revistas A Jandaia, Bataclan e Ceará Ilustrado possuíam um formato muito parecido ao publicar esses produtos, algumas vezes esses anúncios ganhavam ilustrações representadas por pessoas influentes da época que faziam o uso de um artigo em especial, mas vale ressaltar o fato de ser pouco utilizada naquele período a presença de um garoto propaganda. O mais usado era geralmente imagens em formato de caricaturas de pessoas ou até mesmo a imagem do próprio produto que ilustravam esses anúncios.

Por meio dos arquivos dessas propagandas foi possível entender como funcionava o comércio da capital alencarina, por quais estabelecimentos ele era composto, quais os produtos que circulavam aqui, como era a forma de anunciar e de vender esses artigos. Tudo isso estava diretamente ligado ao processo de modernização que ocorria nesse período com a chegada do
século XX e com as influências trazidas da Europa, o que caracterizou uma alteração nos hábitos da sociedade fortalezense que buscava através das suas relações comerciais e sociais, atingir um mesmo nível de outras capitais da época, já então modernizadas.



Maria Darlyele Gadelha de Castro 
(Graduanda em Design de Moda)

Imagens: Revista Bataclan,
Revista Ceará Illustrado e
Revista A Jandaia


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