Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



sexta-feira, 3 de maio de 2013

A Moda Fortalezense no final da década de 20



As mudanças ocorridas no final do século XIX e início do século XX no Brasil foram simultâneas ao período de maior prosperidade francesa.

(Foto ao lado da senhorinha Zezé Guimarães)

A Belle Époque foi o momento de desenvolvimento da França, época de forte poder econômico. Exportava-se o modo de vida francês. Foi um momento de avanço tecnológico e científico. A moda francesa, com seus exageros, era um dos pilares da economia daquele País.

No Brasil, procurava-se fortalecer relações políticas com os Estados Unidos e países da Europa, o que tornou a modernidade brasileira, mais um jogo político do que uma consequência de eventos ocorridos espontaneamente:

A construção da modernidade se fazia nos espaços, na arquitetura, mas ainda nas pessoas, na cultura, na sociedade, ou seja, moldava-se simbólica e imaginariamente, de modo a despertar a sensação de um novo tempo, principalmente aos mais entusiasmados, com os benefícios do progresso. (DOURADO, 2005)


Loja A Formosa Cearense em 1925 
(Loja de modas, tecidos, calçados e alfaiataria, de Cunto & Companhia, dos sócios Salvador Cunto, Vicente Cunto e José Cozza Cunto, na Rua Floriano Peixoto nº 205 (antigo, atual 635), no Edifício Itália, na Praça do Ferreira. Inaugurada em 22 de abril de 1922.)

A Belle Èpoque cearense, que teve inicio na metade do século XIX, se estendendo até o final dos anos de 1920, foi marcada por uma profunda mudança, tanto em termos políticos, quanto em termos culturais, o que refletia na capital cearense, que acompanhava, guardadas as proporções, essa fase de urbanização que ocorria no país. 



A Moda em Paris serviu de inspiração.

Tentava-se enquadrar a cidade nos moldes de civilização Europeus. Assim, a arquitetura local bem como os costumes foram diretamente influenciados por Paris, sendo bastante comum o nome de lojas e cafés em Francês (Um dos principais cafés da cidade chamava-se Café Riche, também havia o Cine Majestic, a Torre Eiffel.).

Foi também o período em que chegaram os bondes e energia elétrica na cidade, ainda coexistindo com os bondes de tração animal e iluminação a gás, uma vez que a substituição da iluminação a gás para elétrica se deu apenas em 1934, conforme Silva Filho (2002):

A tardia introdução da energia elétrica na iluminação pública de Fortaleza provavelmente se deveu menos a uma debilidade técnica e mais à longeva concessão franqueada pela Ceará Gás Company, já que pelo menos desde 1913 a cidade dispunha, embora em grau diminuto, de eletricidade para algumas residências, casas comerciais e repartições públicas, e no final do mesmo ano passava a alavancar o novo bonde.

A iluminação pública, ainda segundo Silva Filho (2002), foi responsável por trazer segurança às noites da cidade, tendo como consequência a maior agitação da vida pública, favorecendo as festividades noturnas.




O avanço tecnológico com o qual a cidade se acostumava, associado às políticas governamentais e as mudanças empreendidas na estrutura física da cidades ofereceram condições propícias para a consolidação do poder das elites.
A segmentação social favorecia o surgimento de espaços físicos em que os mais ricos pudessem acomodar-se e conviver entre si, excluindo, nos momentos de lazer, de seu convívio aqueles que não tivessem poder aquisitivo condizente com os seus.


Assim, Castro (1987) aponta isso quando revela que Fortaleza, durante o seu processo de formação, apresentou características de forte divisão de classes, o que auxiliou no processo de segregação entre as classes mais abastadas e as menos favorecidas. Resultando desse modo nas apropriações de espaços, por parte da elite, em que pudessem relacionar-se:

Desde o princípio de sua evolução, Fortaleza apresentou em seu espaço uma configuração assentada sobre a base de uma forte segmentação social. Ainda no alvorecer do século XIX, os elementos que compunham os círculos sociais mais elevados, ligados às atividades comerciais da cidade “começavam a se agregar isoladamente, ocupando bairros onde pudessem relacionar-se com conjuntos homogêneos, alheios às confusões urbanas". (CASTRO, 1987, apud PONTES, 2005)

O surgimento e a consolidação desse segmento favoreceu também o aumento das práticas sociais na cidade. A partir de 1860, Fortaleza passou a ter uma vida social mais ativa; a fundação do Teatro José de Alencar, as festividades no palácio do presidente foram os primeiros movimentos do lazer social da cidade.


O Elegante Clube Iracema

No meio elitizado da cidade surgiram os clubes sociais; o primeiro,
Clube Iracema¹fundado em 1884, abrigava um pequeno número de pessoas. De uma dissidência entre seus membros surgiu o Clube dos Diários, em 1913.

No Final da década de 20, precisamente em 12 de junho de 1929, surge o clube Náuticoatlético cearense
², que se mantem até os dias atuais.
Os clubes eram responsáveis pela maior diversão da elite fortalezense, bem como por seus encontros e convivências. Eram bastante comuns as festas nos anos de 1928, constantemente havia um anúncio no jornal sobre esses acontecimentos, que variavam entre festas beneficentes à campeonatos esportivos.

Carnaval no Clube Iracema em 1935 - Acervo Sérgio Roberto

O período carnavalesco, que se inicia no começo de fevereiro e se estende até começo de março, era de bastante movimento nos clubes da capital, pois, com a decadência do carnaval de rua, os festejos dentro dos clubes passaram a ter maior visibilidade durante o período momino.


Revista Ba-ta-clan

Além do carnaval, que foi recondicionado pelas novas práticas de sociabilidade, também pode-se perceber uma influência dessas práticas, na moda feminina e masculina da época.


Revista Ba-ta-clan

O jornal O Povo e a moda

Entender como se deu a implantação, a consolidação e características da imprensa cearense é fundamental para a compreensão do material extraído do jornal.
Geraldo Nobre, no seu livro, 'A historia do jornalismo no Ceará' traça um caminho que percorre desde o início do surgimento da imprensa no Ceará, até os anos de 1970.

Surgida em 1824, com o Diário do Governo, a imprensa cearense consolidou-se no período de 1849 a 1859, momento em que a situação política do império normalizou-se. Nesse momento a notícia era complemento de debates políticos, processando-se tanto na assembleia, quanto nas folhas. 
O jornal com seu caráter informativo só veio a ter espaço após o fim das oligarquias, no ano de 1915, sendo iniciado pelo jornal Correio do Ceará.

O jornal O povo, surgido no período dos novos jornais, como classifica Nobre (2006), não era um jornal partidário, mas como afirmou Adísia Sá, teve origem partidária. Seus fundadores, Demócrito Rocha e Paulo Sarasate foram ligados à vida política.

Foto de 1925 do Armazém de Fazendas - J. Albano & Comp.

Segundo Nobre (2006), foi no decênio de 1910 a 1920 que a imprensa cearense assumiu características de permanência, tornando-se definitiva, em relação a seu estado atual. O autor também divide a história do jornalismo cearense em duas fases; na primeira os jornais existiram em função de partidos políticos, ou de outros grupos de opinião e consequentemente, pouca atenção deram ao caráter noticioso, ou mesmo comercial, da imprensa. Com o surgimento do Correio do Ceará, em 1915, o noticiário e a publicidade começaram a ganhar espaço jornalístico e a partir de então, os órgão de orientação política tiveram duração efêmera.

Maravilhosas vitrines da conhecida e conceituada casa de modas A Cearense na rua Floriano Peixoto, 219 - Revista Ba-ta-clan
Revista Ba-ta-clan

Atentando-nos ao espaço ganho pela publicidade no jornal, para o estudo da moda, as propagandas de casas de tecido, modistas, costureiras e lojas de artefatos masculinos, são relevantes para que tomemos conhecimento sobre o que se usava à época, nisso incluímos tanto os tecidos, como as peças de indumentária já confeccionadas, como chapéus, lenços, sombrinhas etc. 

Revista Ba-ta-clan

Revista Ba-ta-clan

As propagandas trazem para o nosso cotidiano os elementos do período de 1920, nelas podemos ver o preço e o tipo de tecido que se vendia, bem como os artefatos que eram expostos, como meias de seda, sombrinhas, joias, chapéus e bolsas. Os tecidos que apareciam nos anúncios eram principalmente seda, brim, algodão, linho, casimiras, cetins. 


Há um anúncio, intitulado de 'Creação de Paris', d'A Cearense, que era uma loja de variedades, nele são expostos fivelas, chapéus e tecidos. Percebe-se além das peças que
compunham a indumentária feminina da época, a influência dos elementos vindos de Paris, conforme descrito abaixo:

Creação de Paris
Chegado pelo D. Pedro I 
Uma linda colleção de artigos para senhora, barretes fêchos e fivellas para vestidos e chapeos, artigos ricos, chiques e originaes, diversas qualidades e tamanhos de applicações para vestidinos de criança o que há de mais rico. Uma grande collecção de lenços para presentes. 
Renda valenciana branca e creme. 
Missanga em diveras cores e em crysta branco leitosa 
Na A CEARENSE (O Povo, 30 de maio de 1928, p.2)

A Cearense (Sede da rua Barão do Rio Branco). Foto Aba Film - Arquivo Nirez


Lindas vitrines d' A Cearense - Arquivo Nirez

Como o anúncio acima, há outros, que aparecem constantemente, trazendo referência dos materiais e peças que compunham a indumentaria da época. 
Outra loja, A maranhense, no dia de saldão divulgou uma lista, no jornal, com os tecidos e preços ao qual vendiam cada peça.

Reclame d'A Maranhense - Revista Ba-ta-clan
(Em 08 de junho de 1921, abre-se em Fortaleza a loja denominada A Maranhense, armarinho, miudezas e tecidos, pertencente à firma Chuairy, Ary & Cia, formada por Salim Milhem Chuary, José Salim Ary e Nadra Salim Ary, funcionando na Rua Major Facundo nº 100 (antigo).

Apesar de haver uma publicidade constante de tecidos e artigos de moda, as publicações que tratavam diretamente do assunto eram escassas; durante os anos de 1928 e 1929, apareceram apenas três publicações.
Uma das publicações, intitulada de “A arte de usar echarpe”, fala de como o artefato deveria ser usado e como algumas mulheres dominavam essa arte:

A arte de trazer uma <<écharpe>> não se limita, de resto, a evitar essa nota pouco favorecedora. Saber collocar com graça uma <<écharpe>> sobre os hombros sem que ella fique pesada, mas com pregas naturaes e suaves, de modo a que as pontas caiam com garridice e bom gosto, requer um estudo profundo e subtil. 
(O Povo, 28 de março de 1928, p.03)

Revista Ba-ta-clan

Ensinava-se também o modo adequado de usar, além de incentivar as mulheres a praticarem em frente ao espelho o melhor caimento da encharpe: 

Nos nossos dias, é a <<écharpe>> que occupa um logar importante no conjuto da <>, tanto pelo seu comprimeto como por suas dobras elegantes e acariciadoras,
que permittem corrigir certos defeitos do busto e tambem das proporções da silhueta. Se as suas dobras se detêm e suavisam ao nível do peito, este parece crescer, o que convém
ás magras. Se, porém, se apertam em um movimento envolvente, o resultado será dar-lhe a apparencia de menor volume, oque muito servirá ás mulheres e busto proeminente e
de talhe curto. (O Povo, 28 de março de 1928, p.03)

Revista Ba-ta-clan

Revista Ba-ta-clan

Outro assunto tornado pauta de uma coluna do jornal O povo foi a roupa de baile. 
A coluna, intitulada de A moda – Toillettes de Bailes explicitava quais as roupas que estavam sendo usadas, na época, durante as festas. Essa coluna foi escrita pela redatora da revista FEMININA, nela aparecem as cores e tendências que eram legitimadas naquele período:

Fiquei admirada de não ver nas reuniões dansantes de moças tantos vestidos de mousseline de seda, florida, quanto os figurinos faziam esperar. Não se podia, entretanto, achar um thema, mais requintado e as formas são deliciodas. Sobre um fundo creme, por exemplo, flores sylvestres, sobre um fundo rosa ou azul, primaveras de um amarello pallido; no corpete, o decote tam graça ao gosto antigo; uma estreita hombreira sustenta o tecido de um lado, enquanto, do outro lado, esse tecido sobe para o outro hombro por um efeito de viez.
( Martine Re'nier, Jornal O Povo, 30 de março de 1928, p. 4)


Há também uma parte do texto que fala sobre a roupa de passeio, mas diferente da primeira que tratava apenas da roupa feminina e adulta, a segunda ensinava às mães como vestir suas filhas:

A moda que tem sempre a sua palavra a dizer na toilette dos grandes, como dos pequenos, determina que o chapeo se combine com o manteau, nas toilettes de passeio. Deve-se
reconhecer, aliás, que isso é encantador e que, assim, as nossas filhas ficam com um ar mais distincto e elegante, correspondendo a idéa que se tem, hoje, da harmonia, em matéria de vestuário. O bege, naturalmente, tem uma grande supremacia nas vestes de passeio de nossas filhas, mas está longe de ser a única côr da moda. Ao contrario, parece estar dominando um gosto pronunciado pelos tons a um tempo vivos e claros, como o amarello limão, o verde amendoa ou o azul ligeiramente cinza, que vae bem principalmente nas meninas louras. 
(Martine Re'nier, Jornal O Povo, 30 de março de 1928, p. 4)

Nota-se que há uma preocupação em como vestir as mulheres de forma “elegante e distinta” desde criança, selecionando cores³ e formas ideais de roupas, mas quase não há referências à indumentaria masculina. O que encontra-se no jornal O povo, falando sobre a moda ou mesmo sobre a roupa do homem, são alguns poucos anúncios que vendem principalmente chapéus.

A elegância das senhorinhas na década de 20 - Revista Ba-ta-clan

Após analisar as edições impressas do jornal O povo, dos anos de 1928 e 1929, foi possível notar que naquele período Fortaleza passava por uma fase de transição, em que a cidade ganhava um novo aspecto devido a política higienista aplicada no País, bem como pela tentativa de modernização e inclusão das cidades no modelo de vida europeu e tudo isso afetou o modo de viver e relacionar-se de seus habitantes.

A elegância das senhorinhas na década de 20 - Revista Ba-ta-clan

A moda, como parte integrante da vida social, também sofreu mudanças. É possível perceber, que tanto homens, quanto mulheres assimilavam as modas vindas do exterior, porém a influência era exercida principalmente sobre a mulher.

A moda feminina importou principalmente os costumes vindos da França, especificamente da cidade de Paris. São constantes os anúncios que dizem trazer novidades da capital francesa, ressaltando a qualidade dos produtos e o fato de serem a última moda parisiense. 

Quando se trata de anúncios masculinos, estes referem-se principalmente a chapéus, nos quais é possível notar influências principalmente americanas e inglesas, salvo algumas exceções que falam de chapéus australianos.
As casas de tecidos e de variedades eram as principais anunciantes de moda nesse período.

As lojas de tecido vendiam a matéria-prima para as senhoras, que as compravam e levavam à modista ou costureira, quando não eram feitos em casa. Era prática bastante comum a cópia de modelos vindos da Europa
No tocante às cores dos tecidos, não foram encontradas referências nos anúncios das casas de tecido, porém, as colunas de moda publicadas à época, revelam o uso de cores claras como beges, rosas e amarelo limão. 
Entende-se que as cores utilizadas nas roupas não eram meros caprichos da moda, ou apenas influências diretas de Paris, havia uma força social que impunha determinadas cores e excluía outras, atribuindo valores a cada uma. 
Fortaleza assimilava a moda, mas não abandonava as tradições. Se por um lado havia vestidos esvoaçantes, sem cintura, como ditava a moda parisiense, por outro não se incorporava o excesso de brilho e as cores extravagantes.

Por fim, foi possível observar também que o jornal ajudava a disseminar a moda, porém não era o principal meio propagador, uma vez que não havia constância na divulgação das colunas sobre moda e indumentária; nem as notas referentes aos clubes tratavam sobre o assunto, não havia também especificação do tipo de traje dos eventos.

Analice Camara Carvalho
(Design de Moda da Universidade Federal do Ceará)


 (896 bytes)¹O clube Iracema fundiu-se com o clube dos diários na metade do século XX.

 (896 bytes)²No dia 12 de junho de 1928, O jornal o Povo publica uma nota curta sobre o surgimento do Náutico Atlético Clube

 (896 bytes)³Tanto Lopes (2011), quanto Ponte (1993) remetem ao uso de determinadas cores na indumentária em Fortaleza; o primeiro afirmava que cores muito vivas e vermelhos eram cores reservadas às prostitutas, já o segundo fala sobre o uso do preto, que transmitia distinção.


Fotos: Livro Terra Cearense de 1925, Acervo Ivan Gondim, Revista Ceará Illustrado de 1925, Revista Ba-Ta-Clan, Arquivo Nirez e Acervo Sérgio Roberto

terça-feira, 30 de abril de 2013

Parquelândia - Antigo Coqueirinho



Secretaria Regional III

No final dos anos 1940, o bairro Coqueirinho começou a se extinguir com a remoção de famílias sem documentos das terras. A Empresa Incorporadora LTDA, do paraibano Lauro Ferreira de Andrade, iniciava a implantação da Parquelândia, que incluem a Av. Jovita Feitosa. Foto Gazeta de Notícias, 1956. Acervo Lucas

Parquelândia é um bairro da zona oeste de Fortaleza. Tem como referencia no bairro a praça da Igreja de Santo Afonso mais conhecida como Igreja Redonda. O nome Parquelândia vem da época em que o lugar ainda era um grande loteamento. Ninguém sabe ao certo como o nome surgiu, o que se sabe é que ele caiu no gosto popular. Sobrou o canteiro central da avenida para lembrar que existia um terreno de mata virgem. Ficou o nome, Parquelândia, para identificar o lugar. Bairro povoado e bem estruturado. Ruas e calçadas adequadas ao código de obras e posturas do município. Orgulho para quem mora na região. Como a livreira Socorro Carneiro, dona de uma banca de livros antigos. 
A Igreja de Santo Afonso, ou Igreja Redonda, é o marco de construção do bairro. O bairro surgiu entre as décadas de 40 e 50. Era conhecido por ser um local de diversão, onde existiam muitos bares e casas de show. A Parquelândia de hoje tinha um outro nome no passado: Coqueirinho, em referência à área verde, predominante na época. A escola também faz parte da história da Parquelândia. Construída por padres redentoristas, ela serviu para a realização de missas, enquanto a igreja era construída. Pouca gente sabe, mas a Parquelândia é conhecida por suas formas geométricas.

Foto Gazeta de Notícias, 1956. Acervo Lucas

Rua professor Morais Correia na Parquelândia dos anos 70. Arquivo pessoal: Kariza Viana

Praça da Igreja Redonda

Uma banda da lua

"Sou carteiro e me conhecem por Xavante, apelido de menino. Residente na Parquelândia desde os tempos de Coqueirinho (bairro violento da Fortaleza Descalça), conheço cada rua e beco, cada gente, cada história e estória daqui. Andarilho observador, gentil por ofício, sou o que tanta notícia leva-e-traz ao povo, o que lutou com cachorro doido, levou carreira, peitou cara feia.



Rua General Bernardo de Figueiredo


Inicio a narrativa dizendo que o bairro que adotei desde os anos 50, como poucos da capital (Aldeota e Fátima), tem a capacidade de se imiscuir no território contíguo, tomando-lhe a designação primitiva. Exemplo é a Vila dos Industriários da minha infância, dos bodegueiros Barnabé e Toinho e de dona Laisinha (das roupas e miudezas em geral), hoje Parquelândia até a alma.

Quadrante da cidade que cresceu vertiginosamente, valorizou-se, acolheu ilustre e ganhou notoriedade. Longos trechos do Rodolfo Teófilo, Parque Araxá e até o Parreão foram lambidos pelo que tem na avenida Jovita Feitosa uma grande referências espacial. Uma alegria abrigar aqui o bar Besouro Verde, de seu Hélio, pai do jornalista Eliomar de Lima. “Ei, Xavante, o Besouro é no Amadeu Furtado!”


Besouro Verde - Esquina da rua Dom Manuel de Medeiros com Rua Amadeu Furtado

Wellington Martins e Rosânia. Ou melhor, Nena e dona Rosa, que estão à frente do tradicional Bar Besouro Verde - Que comemora em 2013, 60 anos. Blog Eliomar de Lima

- Negatofe! É na Parquelândia; lá comi (pedido Nº 15 do cardápio) Sarapatel com Macaxeira à Parquelândia. Deixei correspondência em apartamento do Alagadiço (confluência do grande Antônio Bezerra), tendo por destinatário a Parquelândia do seu Eurides das bicicletas e do filho Waldonys, sanfoneiro aeronauta (casarão entre as ruas Pedro de Queiroz e Bernardo Figueiredo). São Gerardo negocia melhor o imóvel se estiver em terreno da Parquelândia, que deu telhado à família do cantor Belchior (rua Padre Guerra).


Belíssima casa do sanfoneiro Waldonys


Talvez por maldade (desdita de quem não é do pedaço), alcunharam-no ‘bairro geométrico’: “A igreja é redonda (Igreja de Santo Afonso); o motel é triangular (Motel Triângulo, beijando o Campus da UFC – Avenida Humberto Monte) e o povo é quadrado”. Qual nada! São vizinhos nossos intelectuais e jornalistas de escol (Airton Monte, Cid Carvalho), além de artistas (Falcão, Tarcísio Sardinha, Gladson Carvalho), profissionais liberais, demais figuras do bem, tão célebres quanto.

Motel Triangulo

Resiste ao tempo a feira-livre da Dom Manuel de Medeiros, entre a Pedro de Queiroz e a Lino da Encarnação, sob o olhar público da Agência Parquelândia do INSS. Freguesia de toda vizinhança. Não mais o “agrupamento de barracas de mercadores de hortaliças, frutas e outros gêneros” das sextas-feiras d’outrora, mas ainda o traço do bucolismo interiorano, com seus chapeados e galinhas caipiras no ‘garajau’.


Rua Dom Manuel de Medeiros

Até o começo da década de 70, o campo do João Maia, da lagoa barrenta isolada que lhe abeirava, era “CT” (Centro de Treinamento) de pobre, para onde a moçada corria diária pra bater bola. Modernamente, é chão que alicerça de veios d’água visíveis o casario nobre do local. Bufês chiques, Hospital São José, Secretaria Executiva Regional III, churrascarias. Plaga onde surgiu o jogador de futebol Artur (o Arturzão). Quem quiser reclamar que reclame, mas o IPC (Instituto de Psiquiatria do Ceará) é nosso. Como o foi Granja, homossexual conhecidíssimo.



Hospital São José 

(O Hospital São José de Doenças Infecciosas, foi criado pela Lei N.º 9.387 de 31 de julho de 1970, tendo começado a funcionar já em 31 de março do mesmo ano. É um órgão com personalidade jurídica de Direito Público, pertencente ao Estado, vinculado à Secretaria da Saúde do Estado do Ceará.)

Figuras lendárias (os tais ‘doidinhos’) povoaram nossos quarteirões, metendo medo ou sendo motivo de fazimento de pouco pela galera. Pepita (irmã de Maria Barroada), Maria Popopô, Chaparral, Peixe Podre, Scania (Ligeirinho), Marconi das Galinhas. E um certo ‘rabo de burro’ que laçava as meninas com o intuito de ‘pinar’ nelas; fazia ponto entre o Colégio Júlia Jorge, ícone morto, e a então garagem da CTC. Atacava sempre depois das tertúlias, que deu projeção ao bairro nos anos 70. E por aí vai – pela rua Rotary; e por aí vem – pela Azevedo Bolão. E por aqui fico – na General Piragibe.


Arquivo Fotolog Júlia Jorge

Arquivo Fotolog Júlia Jorge

O fim do Colégio Júlia Jorge

É o que tinha a dizer do meu amor parquelandino, gritando e chamando o nome do querido bairro com uma ruma de missivas na mão. Do seu criado, Xavante."


Tarcísio Matos
(É vizinho da dona Rita, que é irmã do Dionísio – o pai do Bodinho. O filho da Terezinha formou-se em Jornalismo. Casado com a amada Derlange, tem dois filhos, quatro filhas, mil irmãos.)

Parquelândia: Uma fonte de riqueza artística e cultural

A Parquelândia é apontada atualmente como um dos bairros mais prósperos de Fortaleza. Segundo dados do IBGE, possui 14.786 habitantes e é delimitada ao norte com a avenida Bezerra de Menezes, ao leste com as ruas Escritor Pedro Ferreira de Assis e Professor Anacleto, ao sul com Azevedo Bolão e Jovita Feitosa, e ao oeste com a Governador Parsifal Barroso. Mas, na opinião dos moradores mais antigos, a população chega a 40 mil e a extensão do bairro é muito maior, indo da Vila dos Industriários até a avenida Humberto Monte.

Até 1952 o bairro chamava-se Coqueirinho, devido á existência de uma floresta repleta de coqueiros ás margens de inúmeros lagos. Nessa época, quase todas as terras pertenciam á família Bezerra de Menezes. O nome surgiu quando os terrenos começaram a ser vendidos, sob inspiração de um parque arborizado, localizado nas imediações. As primeiras casas construídas não eram muito agradáveis, mas, com o tempo, as coisas foram mudando e, de um bairro distante e pouco povoado, a Parquelândia foi se tornando atraente e próximo do centro da cidade.

Na década de 40, o local atraía a atenção do povo de Fortaleza pela existência de várias casas de forró, dentro as quais as mais destacadas eram os “forrobodós” do João Nascimento e Chico Galinheiro, palcos de memoráveis noitadas para os jovens da época. Talvez venha daí o fato de a Parquelândia ser apontada até hoje como um reduto de exímios dançarinos, sendo preferida também por poetas, músicos, políticos e jornalistas como Eliomar de Lima, Cid Carvalho, Glaydson Carvalho, Falcão, Belchior, Waldonys, Clarencio, Tarcísio Sardinha e Patrícia Lima, dentro outros.

Um fato que pode ser apontado como um marco para o seu futuro foi a construção da Igreja de Santo Afonso, em 1969. Conhecida até hoje em toda a cidade como Igreja Redonda, por conta de sua arquitetura, no mínimo diferente das outras igrejas de Fortaleza, a construção chama a atenção de todos. Não é por ocaso que a pracinha da Igreja Redonda é considerada “coração” da Parquelândia.
_________________________
Texto de Juraci Mendonça, publicado no JPA - Jornal Informativo Parque Araxá - Ano V, N.º 51, de novembro de 2001.

Paróquia de Santo Afonso


Igreja Redonda em 1994 - Acervo O Povo

A Paróquia de Santo Afonso começou com os Padres Redentoristas que curavam a Paróquia de Porangabussu. O antigo Coqueirinho, hoje Parquelândia era uma capela. Para início de desenvolvimento do bairro, em parceria com a Prefeitura Municipal de Fortaleza, cujo prefeito na época era o Cel. Murilo Borges, foi lançada a Pedra Fundamental da atual Escola Santo Afonso.

Afonso de Ligório - Wikipédia

Após a construção da escola o pensamento voltou-se para a ereção de uma capela para o culto dominical. Cuidou, inicialmente da capela o Pe. Guilherme Condon. Houve um acidente. A construção desabou. Não houve desânimo. Recomeçou-se a construção com novo projeto. A igreja agora, fugia à arquitetura tradicional. Seria circular. Por causa de sua arquitetura ficou conhecida como Igreja Redonda, a primeira desse tipo em Fortaleza.


Escola Santo Afonso

A criação da Paróquia deu-se no dia 5 de junho de 1978, no governo arquidiocesano do Exmo. Sr. Arcebispo de Fortaleza Dom Aloísio Cardeal Lorscheider. O padroeiro não podia ser outro: Santo Afonso, fundador da Congregação Redentorista.

O território paroquial foi desmembrado das paróquias limítrofes: São Raimundo, São Gerardo e Nossa Senhora da Salete.


Igreja em 2011 - Acervo O Povo

Fatos Históricos do bairro

26/Fevereiro/1941 - A policia consegue capturar o indivíduo Francisco Rodrigues que, à noite do dia 11 e nas matas do Coqueirinho, perto de Porangaba, assassinara sua amante, com oito facadas.

15/maio/1941 - Inaugurada a Praça dos Tamborins, no bairro do Coqueirinho, depois Amadeu Furtado, hoje, Parquelândia.
Era uma homenagem a uma família cujos membros eram militares e lutaram na Guerra do Paraguai.
Fica entre a Rua Érico Mota, Rua Professor Lino Encarnação, Rua General Bernardo Figueiredo e Avenida Jovita Feitosa.
É conhecida hoje como Praça da Igreja Redonda.


16/abril/1952 - Circula o Diário Oficial do Município - Diom nº 5.399, com a Lei nº 439, de 03/04/1952, que traz a proposição do vereador Francisco Edward Pires que denomina de Amadeu Furtado o bairro do Coqueirinho, que hoje é denominado Parquelândia.


19/outubro/1952 - Aposição da placa que muda a denominação do bairro do Coqueirinho para Amadeu Furtado, localizado após São Gerardo, como homenagem de reconhecimento da população de nossa capital ao humanitário clínico há bem pouco falecido.
Por ocasião da solenidade, usaram da palavra o prefeito Paulo Cabral de Araújo, o médico Quixadá Felício, o acadêmico Francisco de Assis Silva Furtado, representando os alunos da Faculdade de Farmácia e Odontologia, e o acadêmico Aprigio Quixadá Furtado, que agradece em nome da Família Amadeu Furtado.
Posteriormente o nome do bairro foi mudado para Parquelândia e colocado seu nome em uma rua, prosseguimento da Rua Olavo Bilac.

Créditos: Site da Paróquia de Santo Afonso, Site Fortaleza Brazil, Jornal O Povo, Site Liga Park e Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo


quinta-feira, 25 de abril de 2013

José Setubal Pessoa - Um homem de visão


José Setúbal Pessoa (Foto ao lado do Acervo do neto Wilson Nascimento), era de tradicional família de Pacatuba. Em 1934, decidiu lançar-se na aventura de trabalhar por conta própria, adquirindo um pequeno Chevrolet, caminhão adaptado para ônibus, que ostentava em seu pára-choque dianteiro o nome “Wanderley”.                  Este cobria o itinerário do centro da cidade ao Otávio Bonfim, bairro onde morava seus familiares na época. Em 1936, após dois anos trabalhando sozinho, quando o transporte era feito de forma precária, José Setubal, juntamente com outros empresários, passou a rodar com o nome de Empresa Iracema, ligando o centro a Praia de Iracema. Foram depois adquiridos mais dois veículos, sendo um da marca Chevrolet Cara branca e um Diamond, emplacados com o números 1031 e 1032, realizando o percurso que tinha como ponto de partida o antigo Café Belas Artes.



O famoso "Café Belas Artes", de Osvaldo José Azin, que ficava no térreo do Palácio do Comércio, inaugurado em 15 de maio de 1940 e fechou as portas em 16 de maio de 1973. Ficava  ao lado da Livraria Arlindo, em frente ao Museu do Ceará.

Durante a segunda guerra, na década de 40, a empresa passou por inúmeras dificuldades, fazendo com que os sócios Francisco e Ciro Mamede Vidal desistissem de prosseguir, ficando José Setúbal Pessoa novamente sozinho, lutando com a falta de peças, pneus e combustível, pois tudo era importado do exterior. A Empresa Iracema teve que adaptar seus veículos para o uso de gasogênio para tentar vencer a crise de 1942, sendo a primeira empresa a ter experiência de trafegar com gasogênio no motor.

Chevrolet 1950 em frente a antiga sede do Círculo militar* de Fortaleza na esquina da Avenida Raimundo Girão c/ Rua Ildefonso Albano - Acervo Cepimar

Com o fim da guerra, foi implantada a Indústria Automobilística Nacional, com isto, passou a utilizar veículos construídos com finalidade específica de transportar passageiros, procedentes das recém-criadas fábricas. A linha do Seminário, que havia sido desativada devido à guerra, voltando a operar em 1945, tendo como ponto de partida a Praça Valdemar Falcão, ao lado do Palácio do Comércio.


Ônibus Chevrolet da Empresa Iracema - Acervo Cepimar


Em 1946, já com uma década de atividade, a empresa já servia aos bairros da Praia de Iracema, Seminário, Mucuripe e Carlos Vasconcelos, sempre com pontualidade dos ônibus que cumpriam à risca os horários de partida. O proprietário organizou uma grande festa em agosto daquele ano em comemoração ao 10º aniversário da Empresa.


Ônibus fazendo a linha Serviluz na década 60 - Acervo Cepimar

Em 1947, os bondes da Ceará Light eram desativados, fazendo com que a Empresa Iracema e demais empresas da cidade, ampliasse a frota para atender a demanda de usuários, principalmente nas linhas da região do centro, Praia de Iracema e Aldeota.

Com a inauguração do Porto do Mucuripe  em 1947, foi criada a linha Cais do Porto, sendo operada por quatro veículos da Iracema para atender o grande movimento de pessoas que se dirigiam para a região do Mucuripe. Em janeiro de 1948, a Iracema começa a operar nesta mesma linha com o curioso “ônibus cargueiro”, veículos destinados ao transporte de cargas e pessoas, com viagens feitas de hora em hora.

Ainda em 1948, José Setúbal Pessoa foi um dos fundadores da Associação das Empresas de ônibus em Fortaleza, registrando oficialmente o nome de fantasia da Empresa Iracema com a razão social de Organização José Setúbal Pessoa & Cia.

Em 1950, os jornais da cidade traziam o anuncio de venda da Empresa Iracema, José Setúbal declarava estar cansado dos mais de 15 anos de intensa dedicação à empresa, desejando assim, empregar sua atividade em outro ramo de negócio menos exaustivo. Uma das condições de pagamento era “50% a vista e o restante em 6 meses, desde que os títulos emitidos pelo comprador sejam negociáveis nos Bancos da cidade”.



Veículo conhecido como "paulista"** (Jornal Unitário) - Acervo Fortalbus

Sua frota de 24 coletivos operava nas linhas da Praia de Iracema, Mucuripe, Cais do Porto, Vila dos Estivadores e Seminário, servindo também aos locais como o *Círculo Militar, os moradores da Avenida dos Jangadeiros, Casa de Saúde S. Raimundo, Vila Bancária e a própria Aldeota.

Em abril de 1955, uma crise ligada ao valor da tarifa afetava o transporte público da cidade, mais uma vez a Empresa Iracema era colocada à venda. Algumas empresas deixaram de prestar serviço à população, fazendo com que até mesmo a própria Iracema declarasse o encerramento de suas atividades nos jornais da cidade. Felizmente, tudo não passou de um alarme falso.

Ao completar vinte anos e com uma frota de 25 veículos, parte deles eram do tipo **Paulista, um dos mais modernos e confortáveis do país naquela época. Cumpria fielmente suas obrigações explorando o ramo de transporte coletivo à população da Zona Nordeste e grande parte litorânea. A linha Praia do Meireles via Pereira Filgueiras era acrescentada às outras quatro já operadas pela empresa.

Em 1957, lança um ônibus Chevrolet com carroceria fabricada no Rio de Janeiro pela Carroceries Vieira Comercio e Indústria S.A.O novo veículo entrou em operação na linha da Praia de Iracema. Sua carroceria foi desenhada pelo técnico Herbert Gustaw von Laszio-Leipniker, engenheiro chefe da Carroceries Vieira, o qual veio a Fortaleza com o objetivo especial de assistir ao lançamento do ônibus. Este foi o primeiro de várias unidades Vieira que a Empresa Iracema colocou nas suas linhas.


Entrega do ônibus com carroceria Vieira em 1957 (Jornal Unitário) - Acervo Fortalbus

Fortaleza atravessou uma grave crise de combustível entre 1962 e 1963, prejudicando a população que passou a conviver com um transporte limitado devido ao racionamento de gasolina. Mesmo assim, a Iracema manteve seus ônibus nas ruas, apesar da inevitável redução da frota de ônibus.

A Empresa foi a pioneira na instalação de catracas nos ônibus de Fortaleza, conhecidas como “borboletas” chegaram no ano de 1964. A linha Casa de Saúde São Raimundo foi a primeira beneficiada com esse sistema, que tinha o equipamento instalado no centro do corredor, através dele, era feita a cobrança das passagens. Naquele momento, a Empresa Iracema empregava 130 funcionários com uma frota de 40 veículos, entre carros de socorro, serviço, reboque e fiscalização.

Ônibus com catraca de 1964 (Jornal Unitário) - Acervo Fortalbus

José Setúbal Pessoa faleceu em 1972, aos 62 anos de idade. O empresário foi vítima de um acidente automobilístico na cidade de Recife, quando voltava a Fortaleza dirigindo um veículo Corcel que havia adquirido no Rio de Janeiro. Sua esposa, D. Maria Gisete Costa Pessoa, sobreviveu, e após a tragédia, assumiu com pulso firme o comando da empresa, tendo inclusive participação ativa no sindicato patronal, sendo assídua frequentadora das famosas reuniões das terças-feiras.

Ônibus Vieira com selo comemorativo de 30 anos da Empresa Iracema - Acervo Cepimar

A Iracema seguiu evoluindo nos anos seguintes, chegando a ser registrada em 1978 como Organização José Setúbal Pessoa Ltda. No final daquela década, além da Praia de Iracema, sua linha pioneira, alcançava também outras linhas como Caça e Pesca e Barra do Ceará, nos dois extremos da zona praiana de Fortaleza, servindo em toda a sua extensão.

No começo da década de 1980, já com sua inesquecível pintura verde em forma de asa, servia as linhas Dom Luiz, Varjota, Serviluz, Castelo Encantado e Meireles, além das compartilhadas com outras empresas, Messejana/Cais do Porto, Barra do Ceará/Cais do Porto e Circular.

Mercedes-Benz O362 Urbano - Acervo Fortalbus


Em 1982, já eram 284 empregos diretos e uma frota de 56 modernos ônibus operados por uma garagem sede na rua Gonçalves Ledo. O quadro de funcionários era de 100 motoristas, 112 cobradores, 40 mecânicos de diversas especialidades e 32 funcionários de administração. Entre os sócios da Empresa Iracema, D. Maria Gisete contava também com o apoio de sua única filha***, Vânia Maria Pessoa.

Gisete Pessoa ao lado de um ônibus que tinha acabado de chegar da fábrica**** em 1976 - Acervo do neto Sérgio Pessoa Souza

Aquela década trouxe outras inovações, no seu 50º aniversário, a Iracema foi a primeira empresa a trazer o modelo Ciferal Jardineira para Fortaleza, veículo urbano especial que passou a operar na linha Praia/Circular. O ônibus tinha motor traseiro, janelas panorâmicas e pintura desenvolvida exclusivamente para o modelo.


Ônibus Ciferal Jardineira Mercedes-Benz OH-1313 da Empresa Iracema - Foto de Maurice Gonçalves Natacci

Além da evolução das carrocerias naquela década, a Iracema adquire o moderno Mercedes-Benz O371 em 1988, o Volvo B58 e o primeiro Scania F112HL motor dianteiro e carroceria Ciferal Padron Alvorada.

A partir de 1990, D. Maria Gisete conta com o apoio de seus netos Sérgio e Cláudia Pessoa, além de Fernando, presente desde 1985 como um dos sócios da empresa.

No começo dos anos 90, a Iracema deixa de usar o tradicional “carimbo” que identificava o prefixo do veículo na lateral, uma vez, que todas as empresas passaram a utilizar um único sistema de numeração antecedido por um código, a Empresa Iracema era representado pelo número 07.

Iracema Amelia 133 - Acervo Fortalbus


Com a implantação do sistema integrado de transporte, além da reformulação de algumas linhas da cidade, a Iracema passa a incorporar veículos do tipo “padron” equipados com porta central. Nesta fase, chegou a ter uma das maiores frotas da cidade com cerca de 100 veículos. ( Ao lado, ônibus Iracema Ciferal Padron Alvorada 109- modelo de 1989). 

Mas as mudanças não pareciam ter sido favoráveis para a mais antiga empresa de Fortaleza, pois acumulava uma dívida na ordem de 4 milhões, segundo Francisco Feitosa, Presidente do Sindicato das Empresas de Transportes e Passageiros do Estado do Ceará.
A Empresa caiu numa decrescente, perdendo veículos e sendo obrigada a ceder suas linhas para outras operadoras. No último mês de operação, sua frota nas ruas não chegava a 30 veículos distribuídos em apenas quatro linhas.

Garagem da Empresa Iracema em 1996 (Jornal O Povo) - Acervo Fortalbus

A Empresa Iracema encerrou suas atividades em 1996, com seis décadas de serviços prestados à população de Fortaleza. Suas linhas foram transferidas para as Empresas Auto Viação Fortaleza, Cialtra, Irmãos Bezerra e Maraponga.
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Matéria publicada no Jornal O Povo em 02 de fevereiro de 1996:


EMPRESA IRACEMA PERDE BENS POR FALÊNCIA

"Aos 60 anos, a mais antiga concessionária de linhas de ônibus de Fortaleza tem dívidas que ultrapassam os R$ 4 milhões.

A empresa de ônibus mais antiga de Fortaleza faliu. Com 60 anos circulando na cidade, a empresa Iracema, administrada pelo empresário Fernando Eugênio Pessoa, não conseguiu reverter o processo de falência e, ontem pela manhã, praticamente definiu seu destino. Seis veículos da frota foram tomados pelo Banco Real como dívida de leasing (contrato financeiro onde é alugado um bem e, no final do prazo estabelecido, permitida a aquisição definitiva), sob determinação judicial. O Presidente do Sindicato das Empresas de Transportes e Passageiros do Estado do Ceará (SETPEC), Francisco Feitosa, confirma o valor das dívidas: "Em mais ou menos R$ 4 milhões". A situação, segundo ele, é "irreversível".

As dívidas, segundo um informante do meio empresarial do setor, foram acumuladas junto à Receita Federal, Previdência, Direitos Trabalhistas, Secretaria das Finanças do Município, bancos, fornecedores, companhias de petróleo e governos federal, estadual e municipal. "Foi má administração" - disse o informante, sem se identificar.

Há aproximadamente 60 dias, segundo Feitosa, a empresa ainda contava com uma das maiores frotas da cidade, com mais de 100 veículos. Ontem, chegava a pouco mais de 20. Cerca de 100 motoristas e trocadores haviam parado de trabalhar desde as 14 horas de quarta-feira (31). Foram cobrar o pagamento do salário de janeiro e rescisões contratuais.

No final da manhã, em negociação com o proprietário da Iracema, Fernando Eugênio Pessoa, o sindicato representante dos motoristas e trocadores concordou que a categoria recebesse os valores atrasados. "Ficará um quadro de motoristas para atender aos 26 carros que a empresa ainda tem" - explicou o Presidente da entidade, Elias Augusto da Silva.

A Autoviária Fortaleza vem substituindo, desde o segundo semestre de 1995, as linhas concedidas à Iracema. Até ontem, eram apenas quatro ainda operadas pela empresa falida, em circulação principalmente na área do Mucuripe. O POVO não conseguiu obter a versão de Fernando Eugênio Pessoa para os fatos."
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Em 2004, os fundadores José Setúbal Pessoa e Maria Gisete Costa Pessoa, receberam homenagem do Sindiônibus por meio da Série Memória. Eles tiveram suas fotos e dados exibidos nos 12 milhões de vales-transportes que circularam naquele ano.

No ano seguinte, José Setúbal Pessoa teve uma rua no bairro Cais do Porto inaugurada com seu nome. A iniciativa também foi do Sindiônibus, em homenagem a este grande empresário cearense que ajudou a construir a história do transporte no nosso estado.

A mesma Empresa Iracema, que rompeu décadas transportando os fortalezenses apesar das inúmeras dificuldades, infelizmente não resistiu. Todos os méritos ao pioneiro José Setúbal Pessoa, que construiu a base de uma grande empresa, porém, não pôde dirigir seu patrimônio juntamente com sua família. Méritos também à Dona Maria Gisete, que teve a missão de continuar o trabalho pelos anos seguintes, permanecendo no comando da empresa até o encerramento das atividades da saudosa Iracema

Reboque em 1987 - Acervo ÔnibusBrasil


*** Com D. Gisete Pessoa, José Setúbal só teve uma filha, Vânia, mas além dela, ele também foi pai de Valdeída, de outro relacionamento, e como homem honrado que era, não deixou de cumprir todas as suas obrigações como pai.

****"Sempre que chegava um novo ônibus, era motivo de muita alegria e uma foto" - Sérgio Pessoa (neto)

Todos os créditos vão para os amigos do  Site Fortalbus e Site Cepimar

Saiba mais sobre a Empresa Iracema AQUI

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