Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Pessoa Anta
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Alfândega - Avenida Pessoa Anta


AVENIDA PESSOA ANTA

Temos aqui a Avenida Pessoa Anta em três tempos. A foto mais antiga foi publicada no "Álbum de Vistas do Ceará - 1908" e mostra a avenida ainda sem pavimentação, mas com os trilhos dos bondes de tração animal. Os combustores de iluminação a gás estão presentes, bem como algumas pessoas e até uma galinha quase em primeiro plano.
O prédio da Alfândega, à direita, ainda não tinha o bloco total como hoje. Ao longe, o prédio da Escola de Aprendizes Marinheiros, que ficava no local hoje ocupado pela Secretaria da Fazenda.
O prédio da Alfândega foi construído com pedras, tendo como argamassa areia com óleo de peixe. Seus construtores foram Tobias Laureano Figueira de Melo e Ricardo Lange. A Inauguração foi 15 de julho de 1891, mas a Alfândega só iníciou suas atividades no dia 10 de abril de 1893.
Na segunda foto, de meados da década de 1930, o mesmo trecho já traz o bonde elétrico com seus trilhos e fiação, o prédio da Alfândega ainda faltando parte do bloco em relação à hoje, o prédio da esquerda já é um outro, assobradado, uma bomba de gasolina na esquina e, ao longe o prédio da firma Leite Barbosa & Cia, de 1914 e o da Secretaria da Fazenda, de 1927.
Vemos o gasômetro - depósito de gás carbônico para iluminação da cidade - que ficava ao lado da Santa Casa de Misericórdia. A avenida Pessoa Anta foi urbanizada em 1931-32, na gestão do major Tibúrcio Cavalcanti.
O nome da avenida é uma homenagem a João de Andrade Pessoa Anta (1787-1825), mártir da Revolução de 1824, no Ceará. Foi bacamartado no dia 30 de abril de 1825.
A terceira foto, atual, de Osmar Onofre, já traz o prédio da Alfândega, onde já funcionou a Receita Federal e hoje é ocupado pela Caixa Econômica Federal, completo, o prédio da esquerda não mais existe.
Ao longe, estão a Secretaria da Fazenda e seu anexo que na foto não divisamos. À esquerda, vemos parte do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, inaugurado em 1999, seguido de antigos prédios que hoje abrigam anexos da Secretaria da Fazenda.

Saiba mais sobre a Alfândega AQUI

Fonte: Fortaleza de ontem e de hoje e Arquivo Nirez

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ruas de Fortaleza - Mudanças (Rua Conde D'eu)


RUA CONDE D'EU - CASA DOS GOVERNADORES

A primeira foto data de 1929 e mostra a Casa dos Governadores, onde em 5 de outubro de 1824, foi nomeada a Comissão Militar para julgar os revoltosos republicanos cearenses, que ali funcionou, na Rua Direita dos Mercadores, chefiada pelo tenente-coronel Conrado Jacob Niemayer, sendo arroladas 35 pessoas. Foram bacamarteados em 1825 vários heróis.
No dia 30 de abril, João Andrade Pessoa Anta e o padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo Mororó (Padre Mororó); no dia 7 de maio, tenente-coronel Francisco Miguel Pereira Ibiapina; em 16 de maio, tenente de milícias Luís Inácio de Azevedo (Azevedo Bolão); e no dia 28 do mesmo mês, tenente-coronel Feliciano José da Silva Carapinima.


Em 1929 o então prefeito Álvaro Weyne mandou demolir a casa, antes mandou fotografá-la, como fez com o Oitizeiro do Rosário e o portão do mercado conhecido como "cozinha do povo", que também ficava naquela rua.

Mandou construir no local o Mercado Central, de frutas e cereal, que se inaugurou em 22 de setembro de 1932, que vemos na Segunda foto e que serviu à Cidade durante muitos anos, mas que depois ficou somente para artesanato e que com a construção de um novo na Avenida Alberto Nepomuceno foi transformado no Centro de Referência do professor.
A terceira foto data de 1990 e mostra em que estado estava o velho mercado que já havia se transformado em centro artesanal. Vivia momentos difíceis, pois estava condenado pelo Corpo de Bombeiros como uma fonte de incêndio.

A Quarta foto é atual, vendo-se como ficou após a total reforma. Sua inauguração deu-se no dia 27 de outubro de 2000, abrigando as instalações do Centro de Referência do Professor, da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
O trabalho foi do arquiteto José Capelo Filho, abrigando a Biblioteca Virtual Moreira Campos, a Galeria Antônio Bandeira, a Sala de Referência do Município, áreas para café e o teatro aberto. Como o mercado, tem três entradas, pela Rua General Bezerril, Rua Sobral (antiga Travessa Crato) e Rua Conde D'Eu.

RUA CONDE D'EU - COZINHA DO POVO

Barba Alardo, que saiu do governo do Ceará em 1812, deixou um pavilhão de madeira no meio do cercado da casa da Câmara, simples telheiro onde eram feitas as feiras. Em 1814 é iniciada a construção de um mercado que tinha, como o atual, frente para a praça Carolina (atualmente Valdemar Falcão) outra para a rua Direita dos Mercadores (atual Conde d'Eu). Era deste lado que ficava este portão que ganhou do povo o apelido de "cozinha do povo".
Antigos resquícios da velha Fortaleza foram demolidos em 1929 pelo então prefeito Álvaro Weyne, precursor de José Valter, que antes mandou fotografá-los (triste consolo!), como a derrubada do oitizeiro do Rosário, a destruição da antiga "casa dos governadores" e este portão de mercado que trazemos nesta fotografia que foi uma das mandadas colher pelo citado prefeito.
Apesar da derrubada do portão da velha foto em 1929, o mercado de frutas e cereais só ficou pronto em 1932, sendo inaugurado no dia 22 de setembro, no primeiro aniversário do governo do capitão Roberto Carneiro de Mendonça.
Depois o Mercado Central já não servia às finalidades para o qual foi construído. A indústria do turismo transformou-o em ponto de venda de peças de artesanato, principalmente peças de bordados e labirinto, sendo um chamariz para os turistas que por aqui passam à procura de artesanato regional.

Na foto mais antiga vemos o portão do antigo mercado na Rua Direita dos Mercadores (atual Rua Conde D'Eu) conhecido popularmente como "cozinha do povo", demolido pelo prefeito Álvaro Weyne em 1929.
Na Segunda foto, que data de 1980, o mercado inaugurado em 1932 já deteriorado e servindo de centro artesanal para turistas e na parte térrea dos fundos vendas de raízes, ferragens, material de folha flandres, bombas de puxar água, tamancos, vassouras, espanadores, ralos, peneiras, rapa-cocos, tábuas para corte de carne, material para fogões, mesas, cadeiras, tamboretes, cavaletes, escadas, etc.
Vendo-se a fotografia atual, têm-se uma ideia da localização exata das antigas fotos. O sobrado que aparece uma ponta no canto direito ao alto, está nas três fotos. No velho prédio, hoje totalmente reformado e adaptado, funciona hoje o Centro de Referência do Professor.

Crédito: Portal do Ceará/Arquivo Nirez

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Passeio Público


Estamos na Avenida Caio Prado, que fica atualmente nos fundos do Passeio Público, aquela que dá para o lado do mar.
Foi iniciada, em 1864, a construção do Passeio Público no Largo da Fortaleza ou Campo da Pólvora, que era a primeira praça da povoação, na gestão do presidente da Província Dr. Fausto Augusto de Aguiar, compreendendo três planos, o atual e outros dois mais abaixo, hoje ocupados pela Avenida Leste-Oeste.
O Passeio Público já foi Campo da Pólvora, Largo da Fortaleza, Largo do Paiol, Largo do Hospital de Caridade, Praça da Misericórdia e, a partir de 03/04/1879, Praça dos Mártires. Teve dois nomes não oficiais: Campo da Pólvora (1870) e Passeio Público, pelo qual é hoje conhecido. A praça foi urbanizada em 1864.
Havia três planos em três níveis, destinados às classes rica, média e pobre. Por volta de 1879 as duas praças mais baixas foram desativadas e a atual foi dividida em três setores com a mesma finalidade, ficando os ricos com a avenida do lado da praia, a classe média com a do lado da Rua Dr. João Moreira e os pobres com a central. Foi nesta época que o passeio recebeu as bonitas grades de ferro que o rodeavam e que foram retiradas em 1939 e recentemente feitas novas de acordo com as antigas.
O nome de Praça dos Mártires é uma homenagem aos heróis tombados ali, pertencentes ao movimento República do Equador,
que foram bacamarteados: João Andrade Pessoa Anta, tenente-coronel Francisco Miguel Pereira Ibiapina, padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo Mororó, tenente de milícias Luís Inácio de Azevedo e o tenente-coronel Feliciano José da Silva Carapinima.
Na foto mais antiga(primeira), vemos no fundo o velho quartel do 9º Batalhão das Forças Federais ainda com apenas um andar; várias dezenas de combustores de iluminação a gás ladeando a avenida; em primeiro plano uma coluna encimada por uma esfinge, que dava acesso a uma escada que levava ao segundo plano; por trás, trecho da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção e de frente para o fotógrafo pessoas posando para a posteridade, podendo-se notar a maneira de vestir da época, quando todos, sem exceção, usavam chapéus, independente de idade, cor, credo ou condição social.
A segunda foto mostra o mesmo trecho hoje, quando o quartel abriga a 10ª Região Militar e já tem dois pavimentos, que não são vistos por estarem cobertos pelas copas das árvores. Os combustores presentes encimando a grade não são os mesmos antigos, mas novos, com luz elétrica.


Rua João Moreira - Antiga Rua da Misericórdia - Passeio Público

A atual Rua João Moreira já se chamou Rua Nova da Fortaleza, Rua da Misericórdia (por causa da Santa Casa), Rua General Tibúrcio e Rua nº 17.
Na foto antiga, que data de 1905, o fotógrafo está na calçada do Passeio Público, próximo à esquina da Rua João Moreira com a Rua Barão do Rio Branco, de costas para esta. Do lado esquerdo vemos, as antigas colunas com as grades de ferro que dali foram retiradas em 1932 e que recentemente foram refeitas no mesmo estilo, porém, com proporções alteradas. Na ponta da calçada, os combustores de gás.
Do lado direito, o prédio de dois andares (incluindo o térreo), onde ficava o "Hotel de France", que foi depois reformado, passando a ter mais um pavimento e nele funcionou, por muitos anos, o Pálace Hotel, de Efrem Gondim. Atualmente, no mesmo prédio, está a Associação Comercial do Ceará.
É a esquina com a rua Major Facundo, que nasce ali. Do outro lado da rua, a casa com as janelinhas quadradas no sótão, que era dos "Mississipis" e na outra esquina, já com a Floriano Peixoto, o edifício onde funcionou o Hotel do Norte, de Silvestre Rendall e depois lá ficou por muito tempo os Correios, a Light, o Serviluz, a Conefor e a Coelce. Hoje, apesar de pertencer ao patrimônio da Coelce, ao abandono, tendo já desmoronado parcialmente durante uma chuva.
O tempo trouxe o que mostra a foto atual, como a presença de carros, o asfalto na rua antes com calçamento, postes e fios, etc. O prédio em primeiro plano, que antes tinha apenas dois pavimentos e quatro portas, na nova foto tem três pavimentos e seis portas; no outro lado da rua a velha casa dos "Mississipis" bastante alterada, o sobrado semi-abandonado da Coelce na esquina da Rua Floriano Peixoto.

Crédito: Portal da História do Ceará/Arquivo Nirez

domingo, 4 de julho de 2010

João de Andrade Pessoa - O Pessoa Anta




Muitos de nós já passou ou pelo menos já ouviu falar da avenida Pessoa Anta, mas muitos não fazem ideia de quem foi João de Andrade Pessoa Anta. Foi pensando nisso que resolvi fazer esse post. Todos nós deveríamos ter conhecimento da importância desse grande cearense.




João de Andrade Pessoa, nasceu em Granja, no dia 23 de dezembro de 1787. Foi comerciante e pecuarista, coronel de milícias e revolucionário da Confederação do Equador. Foi fuzilado em Fortaleza no local chamado de "Campo da Pólvora" (antiga Praça dos Mártires) junto com Padre Mororó, local que hoje é chamado de Passeio público.



Foto de 1915

João de Andrade Pessoa Anta nasceu na Vila, hoje cidade de Granja, em 23 de dezembro de 1787. Seus pais eram Thomaz Antônio Pessoa de Andrade, português insular, e D. Francisca Maria de Jesus.

Era, por demais conhecida, a propriedade do velho comerciante, mas, por uma circunstância imperiosa desviara uma certa quantia, o equivalente a uma partida de gado. Certo de que poderia saldar o débito antes da chegada, do Corregedor Geral, a quem teria de prestar contas dos haveres pertencentes à sua tutelada (O Capitão-mór Thomaz Antônio Pessoa, português natural de Ribaçal, era tutor da menor Raimunda Ferreira Veras, dona de regular fortuna, constituída de prédios, na vila de Granja e de fazendas de gado, no município.), fez, com esse dinheiro, certos pagamentos de sua casa de negócio.
Aconteceu, porém, que não lhe foi possível equilibrar as finanças como esperava, e correndo o risco de ser descoberto o flagrante atestado de sua falta, o que certamente abalaria a sua reconhecida honorabilidade, procurou uma medida salvadora. Fez o casamento da menina com seu filho Júlio de Andrade Pessoa.
A moça era filha natural de um rico português com uma escrava. Aquele, ao morrer, procurou o patrício para tutor da filha que muito estimava e a quem havia legado sua fortuna. Entre passar pela suprema vergonha de ser apontado como desonesto e casar o filho com uma mestiça, preferiu este recurso muito embora fossem abalados os arraigados preconceitos de família.
João de Andrade Pessoa Anta entrou na posse de regular fortuna, tornando-se dentro em pouco, o homem mais influente do lugar, quer no comércio, quer na política, cujo prestígio transpôs as fronteiras do Estado.
Quando o comandante lusitano Fidié (João José da Cunha Fidié, fiel comandante das tropas portuguesas sediadas na capital do Piauí), que não aderira á independência da nação, partiu de Oeiras (então capital do Piauí) para dominar Parnaíba e o Ceará, Pessoa Anta, que já a este tempo era capitão-mor, organizou uma expedição e foi ao encontro do aventureiro invasor. Ajudado nessa arrojada empresa por ricos fazendeiros desta e daquela província, infligiu completa derrota a Fidié. Esse feito lhe valeu os mais rasgados elogios por parte de D. Pedro I, como também a nomeação ao posto de Coronel de Milícias e a Comenda do Oficialato da Ordem do Cruzeiro.
Dois anos depois, Andrade aderia ao malogrado movimento republicano conhecido por Confederação do Equador.
Em 26 de Agosto de 1824 foi proclamada a República do Equador e aclamado, no Ceará, presidente o Tenente-Coronel Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, servindo de secretário o Pe. Gonçalo Inácio de Albuquerque e Melo Mororó.
João de Andrade Pessoa Anta quando recebeu essa notícia manifestou-se inteiramente solidário com o movimento de libertação nacional e dispondo, na câmara, da maioria dos vereadores, convocou imediatamente uma reunião. Foi lavrada uma ata e assinada pelas seguintes pessoas: Manuel Joaquim da Paz, advogado; Pe. José da Costa Barros, vigário da freguesia e irmão de Costa Barros – o presidente deposto pelos republicanos; Francisco de Paula Pessoa; Frei Alexandre da Purificação; Francisco Rodrigues Chaves, João Porfírio da Mota; Plácido Fontenele, Inácio José Rodrigues Pessoa; Elias Ferreira de Abreu, José Raimundo Pessoa, Inácio de Barcelos, Joaquim de Andrade Pessoa, José Eusébio de Carvalho, Joaquim da Costa Sampaio, Juiz Ordinário; Antônio Inácio de Almeida Bravo, português; Antônio Zeferino Caju de Granja e Francisco de Paula Ferreira Chaves, tabelião público.
Em um verdadeiro entusiasmo os republicanos percorreram as ruas da vila aclamado os novos líderes. Dirigiram-se ao local do pelourinho, fazendo-o em pedaços. O sargento-mor, sabendo que entre os manifestantes se encontrava o seu filho Joaquim da Costa Sampaio, desistiu da denúncia que pretendia fazer, caso o pelourinho fosse restaurado. Houve acordo entre os insurretos e no dia seguinte mandaram reconstruir o aparelho de suplício.


Foto de 1913

Francisco de Paula Pessoa, futuro senador do Império, vindo à Sobral, soube que havia malogrado o movimento republicano, cuja notícia se apressou em transmitir ao irmão, em Granja, Coronel João de Andrade Pessoa Anta. (Anta, foi o nome de guerra que recebeu quando aderiu ao movimento). Então, a debandada foi geral, diante do fracasso irremediável. O próprio Pessoa Anta, em 24 de Outubro, teve a infelicidade de aceitar uma retratação e jurar fidelidade ao Imperador. Os seus adversários políticos, porém, trabalharam à socapa, e, viam-se frustradas as esperanças de salvação do patriota.
Em Janeiro de 1825, Conrado Jacob Niemeyer enviou uma tropa de linha para Granja a fim de capturar Pessoa Anta, cuja casa uma noite foi cercada, tendo ele conseguido escapar. Marcos Antônio Brício, português, adversário ferrenho, soube tirar partido do angustioso transe por que passava a família de Andrade Pessôa. Não podendo prender o chefe, que se interrara no sertão, encarcerou os irmãos e parentes. Deste, José Raimundo Pessoa, Antônio de Andrade Pessoa, Joaquim de Andrade Pessoa, Inácio José Rodrigues Pessoa, o Capitão Manuel Inácio Pessoa, o Tenente Coronel Joaquim Inácio Pessoa, o Capitão Manoel Inácio de Almeida Fortuna, Domingos Anselmo de Sousa Castro, Antônio Brício dos Santos, o Tenente Coronel João Pereira, Jacinto e Manuel Antonio de Almeida. A vila viveu dias inquietantes. Desordens, violências, espancamentos, tudo isso. Marcos Antônio Brício praticou para exercer cruéis vinganças políticas.
Frei Alexandre da Purificação conseguiu fugir para Belém. Foi preso na capital paraense e recambiado para Fortaleza, onde foi julgado e condenado à pena última.
Paula Pessoa abjurou a república e prestou juramento de fidelidade ao Imperador e transferiu-se para Sobral, onde se estabeleceu e se casou. Pessoa Anta se refugiou em uma fazenda em Ubatuba e em 15 de Janeiro dirigiu uma súplica ao governador das armas da província, alegando que no tempo do governo de Tristão foi obrigado a cumprir algumas ordens e mandados e que deixava de mandar os documentos por ter queimados todos para deles não haver mais lembranças. Não obteve resultado.
Tendo revelado o seu esconderijo, resolveu mudar-se para a fazenda Jaguarapí, perto de Parazinho, e daí para Angica(*) de onde, em 4 de Fevereiro, dirigiu nova súplica, esta ao Governador do Rio Grande do Norte, o seu conterrâneo, Manuel do Nascimento de Castro e Silva. Alegava que tinha sido coagido a obedecer ao governo de Tristão. Terminou dizendo o seguinte: "Esta ocasião, Excelentíssimo Senhor, de me aproveitar de tantos oferecimentos que V. Excelência me tem feito e guardei-os para agora, na certeza de ser valido".
Não encontrando portador seguro, decidiu ele mesmo trazer a carta para esta capital, e aqui chegando procurou ocultar-se no sítio Urubu, de propriedade de seu amigo de confiança, o Pe. Antônio de Castro e Silva. Aí, formulou, talvez por inspiração do padre, uma petição à Imperatriz. Não se esqueceu de argumentar em sua defesa, que Tristão infelicitou a província inteira do Ceará, quando fui por ele obrigado a fazer alguns escritos à província do Piauí. Quanto lhe custou defender a vida! Não respeitou si quer a memória do grande herói que tombou bravamente em luta pelo ideal. Esta petição tem a data de 12 de fevereiro.
A 25 de março, o presidente da província mandou cumprir o aviso para a captura de todos os rebeldes condenados pela célebre Comissão Militar. Quando Pessoa Anta teve notícia da sentença, tratou de regressar à sua terra. Ocultou-se numa fazenda próxima de Granja. De seu esconderijo observou a passagem de um de seus escravos, de nome Francisco Cobra, a quem rogou que fosse imediatamente á procura de comida, pois estava faminto. O escravo, muito ao contrário, foi bater à porta do perseguidor de seu amo e revelou o local onde ele se encontrava. O lugar ficou conhecido por Riacho da Traição.
O infeliz granjense foi conduzido sob o peso das algemas para Sobral e daí para Fortaleza, sendo recolhido à prisão. Não havia defendido. A Comissão seguiu às pressas. Desejava logo que se levasse a efeito a execução, pois havia probabilidade de perdão da parte do Imperador. O perdão veio e, dizem, chegou em tempo, mas ficou oculto em palácio. A 28 de abril lhe foi dada a conhecer a sentença de morte e marcada para ás 9 horas da manhã do dia 30, a execução, de Pessoa Anta e do Padre Mororó. Perdidas todas as esperanças, mandou vir, neste mesmo dia um advogado, Manoel Antonio da Rocha Lima e ditou seu testamento(**).
Os parentes não apareceram, nem mesmo apresentaram um lenitivo ao condenado. Ninguém queria se comprometer, com medo da severidade da Comissão Militar. Só uma pessoa dele se compadecia: era a esposa do advogado Manuel Antonio. Amiga íntima da mulher de Conrado Jacob. Dizem que acertou a entrega de grossa quantia em ouro e prata, correspondente ao peso do condenado, para a interposição de um embargo de sentença. O prazo era exíguo para que viesse, a passo de animal, de Granja, a preciosa carga. Contudo, a tentativa foi feita. A pobre vítima recorreu ao irmão rico e bem instalado, em Sobral. Houve pouco interesse. O portador alegou cansaço das alimárias. Paula Pessoa não escapou à maledicência. Falaram mal a seu respeito. Chamaram-lhe de negligente e desleal. Deve ter sido desarrazoada esta campanha, pois que, o eminente político sobralense era de uma probidade exemplar. Era possível que ele não quisesse se comprometer.


Foto de 1910

Fortaleza, 30 de abril de 1825 - Pessoa Anta é fuzilado. Ele deixou quatro filhos, 1 – Francisca Pessoa de Sampaio, que se casou com Alexandre Sampaio e constituiu família em Angico; 2 – Maria de Andrade Pessoa, que foi casada com Antonio Bernardino Chaves, deixando grande descendência na cidade de Camocim; 3 – Ana de Andrade Pessoa, casada com Domingos Portela, residiu na Ibiapaba deixando enorme família; 4 – Tomaz Rodolfo de Andrade Pessoa, que residiu em Riacho, onde hoje vive um neto de igual nome.
Deixou também alguns filhos naturais. Em Granja existem alguns membros da família Elesbão, descendentes do menino Elesbão, recomendado em seu testamento. Mencionou igualmente outros rebentos, que foram contemplados em partes iguais. Pessoa Anta possuía diversas fazendas no município, e, ao que parece, em cada uma delas trabalhava patrioticamente pelo engrandecimento da população.
O testamento que é longo e minucioso revela não só a lisura, a correção, a honestidade, como também o alto espírito de compreensão e conduta para com os membros de sua família e amigos.
Pessoa Anta foi aos mínimos detalhes, não se esquecendo, nem mesmo, de ordenar aos seus testamenteiros que "Vendam meus escravos José e Francisco Cobra, para que os meus herdeiros não os possuam porque foram os infames acusadores que me entregarão a prisão e não sejam traidores aos meus ternos e cordiais filhos".
Foi objeto de censura e estranheza a covardia que ele revelou no curso de sua defesa, não se pejando em atacar esse grande herói que foi Tristão Gonçalves, morto no campo da luta, em defesa do seu ideal. Pessoa Anta, ao contrário, desmereceu inteiramente do conceito que gostava, pois era proverbial a sua coragem, o seu destemor. Diante do perigo não teve força para enfrentar galhardamente a morte, como tantos outros que nunca fraquejaram e marcharam impávidos ao encontro da morte!
Rezam as crônicas, que ao receber a primeira carga, ainda teve força para se erguer, tendo nesse momento, um soldado feito novo disparo, o tiro de misericórdia. O herói estava morto ao lado do seu bravo companheiro Mororó.


Foto de 1907

Sobre Pessoa Anta escreveu o Barão de Studart:

" A seus esforços e poderoso concurso mallogrou-se a tentativa de Fidié para apoderar-se da villa de Parnahyba, que se declarara pela Independencia. Esses e outros importantes serviços á causa publica valeram a João de Andrade a nomeação de Coronel de milicias e o Officialato do Cruzeiro.

(...)Opposicionista a Pedro José da Costa Barros e adheso ás idéas da Republica do Equador, (...) foi por denuncia e traição dos seus escravos José e Francisco entregue a Conrado de Niemeyer, e, depois de condemnado pela celere Commissão Militar, foi espingardeado ao lado do P.e Gonçalo Mororó a 30 de Abril de 1825."



A essa execução se referem dois interessantes documentos publicados às pags. 37 e 38 do livro a história do Ceará, vol. 2.º

Nestes termos é concebida a despedida de Pessoa Anta à sua familia e aos amigos.




"Manos, patricios e amigos, envio a todos perpetua saudade muito especialmente a meus filhos, masculinos e femininos.

Oratorio, 28 de Abril de 1825.

Hoje, pelas 3 horas da tarde foi-me intimada minha sentença de morte! Prasa a Deus que fosse por Deus assim destinado, como meu verdadeiro Author.

Peço a todos que não se magôem por minha morte por não ser ella motivada por crime que mereça execração publica e sim por opinião que segui; e se tiverem noticia que em o cadafalso mostrei alguma fraquesa, não deve ser reparada, porque o homem não pode resistir aos effeitos da natureza.

Peço a todos incessantemente que roguem a Deus por minha alma nas suas orações diarias, porque meus rogos talvez não sejam capazes de obter.

O Supremo Dictador da natureza vos dê melhor sorte, que eu saudoso vos deixo. Não sou mais extenso porque já me vae faltando o tempo para os negocios d'alma.

Sou o mais amante dos patricios, e á minha nação amarei ainda na sepultura.

Adeus meus charos filhos até o dia tremendo - João de Andrade Pessoa Anta ".



Saiba Mais- João de Andrade Pessoa, adotou o Nome de guerra ANTA quando participou do conflito pela expulsão dos portugueses logo após a Proclamação da Independência.


(*)Angica - Era uma fazenda à margem de uma lagoa, em cujo local foi edificada, em 1881, uma estação da Estrada de Ferro de Sobral. Em 1911, o então vigário da freguezia, Pe. Vicente Martins, lançou a pedra fundamental da capela, num local distante 1 quilômetro da citada estação, onde existia apenas duas casinholas. Em 1916 a Igreja foi inaugurada e o lugarejo tomou o nome de Martinópolis. Hoje a vila conta com grande número de casas bem construídas e paróquia. Tem escolas e um instituto de ensino primário particular. Espera ser em breve, a sede de um novo município.

(**)Os atos de inventário de Pessoa Anta, feito em Granja pelo tabelião Manuel Gregório da Paz Fortuna, pai do Cel. Inácio de Almeida Fortuna, chefe político daquela cidade do norte do Estado e que veio a morrer em Janeiro de 1939, com 97 anos de idade, contêm o testamento, que foi publicado numa modesta brochura editada em 1928, "Almanack do' Município de Granja".


Fonte: Episódios da vida de Pessôa Anta
Por Batista Fontenele (em 1948, no Almanaque do Ceará) e pesquisas na internet

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ruas de Fortaleza - Mudanças (Rua Boris)


Foto de 1908
A antiga travessa da Praia (atual Rua Boris), perpendicular à rua da Praia (Avenida Pessoa Anta), foi, durante muito tempo, conhecida como ladeira do Solon, por residir na mesma, no prédio que vemos ao longe na foto mais antiga (um chalé com portas arqueadas), o coronel Solon, que possuía uma plantação de videiras e lá residiu por 21 anos.


Na velha foto, de cartão postal de 1910, vemos, na esquina, uma casa tipo beira-e-bica, seguida da Casa Boris, fundada em 1869, tendo como razão social a firma "Théodore Boris & Irmão" constituída de Aiphonse Boris e Théodore Boris, o primeiro chegado em 1865, de navio e o segundo pelo interior em 1867. Em 1870 a firma passou a denominar-se "Boris Frères", com a administração dos sócios Achiles Boris, Adrien Boris e Isaie Boris, tendo como sede a cidade de Paris.
Em 1878 Isaie veio morar no Ceará, chegando a vice-cônsul Francês. Quando se foi, em seu lugar ficou Achile. Graças à firma Boris Frères é que hoje temos a oportunidade de conhecer Fortaleza no início deste século, através de mais de cento e sessenta fotografias editadas em dois álbuns em 1908 sob o título de Vistas do Ceará - 1908 impresso em Nancy, França, por Imprimeries Réunies de Nancy. Infelizmente não foi identificado o fotógrafo.
Na velha foto os trilhos de trem passavam pela atual Pessoa Anta, no rumo do porto (Ponte Metálica), passando pela Alfândega.


Na segunda foto(P&B), de Osmar Onofre, já não existem os trilhos nem o calçamento, mas o asfalto; as calçadas continuam irregulares tanto na largura como na altura, embora hoje existam o meio-fio e um código de obras e posturas que determina a regularidade tanto na altura como na largura; a casa de beira-e-bica foi reformada; a casa do coronel Solon desapareceu com a construção da avenida Leste-Oeste; novas construções surgiram prosseguindo a rua; postes de concreto levam a luz e a força através dos fios; somente a Casa Boris resistiu ao tempo.
Em frente à Casa Boris hoje existe um calçadão que vai da Rua Boris até a Rua Almirante Jaceguai, que faz parte do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura. Infelizmente existe hoje uma prática de pintar-se as casas antigas com cores vivas, o que não se fazia antigamente, tornando-as hoje ridículas.
Dever-se-ia proceder a uma prospecção para descobrir a tinta primitiva e da mesma cor pintar os edifícios para dar o aspecto da época.




Crédito: Portal da História do Ceará e Nirez

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Secretaria da Fazenda


Antigamente as arrecadações das províncias eram feitas por repartições que eram denominadas Almoxarifado e que enviavam depois para a junta de fazenda da sede, em nosso caso, Pernambuco. Depois passou a chamar-se Provedoria, mas continuava subordinado à Junta. No dia 24 de janeiro de 1799 foi criada a Junta da Fazenda do Ceará, diretamente subordinada ao Real Erário. Em 1831 todas as Juntas foram extintas e surgiram as Tesourarias; posteriormente as tesourarias estaduais passaram a Inspetorias. Em 1891 surgiu a Secretaria dos Negócios da Fazenda, dividida em vários setores como o Tesouro, a Recebedoria, a Contadoria, a Procuradoria e o Departamento de Estatística, além do Gabinete do Secretário. Somente em 1905 entrou em vigor a Secretaria da Fazenda.



O prédio da Secretaria da Fazenda (Edifício Edson Ramalho) teve sua pedra fundamental lançada em 08 de julho de 1924 e foi inaugurado em 27 de novembro de 1927. Iniciada a construção no governo do prefeito Ildefonso Albano e concluído na administração de Moreira da Rocha, no ato da inauguração, realizado em um dos salões do andar superior, a solenidade contou com a participação do Presidente do Ceará, Desembargador Moreira da Rocha, autoridades eclesiásticas e do alto escalão militar. A edificação em estilo eclético preserva até hoje sua estrutura original, com dois pavimentos, sendo o piso superior em concreto armado. As fachadas apresentam vários elementos decorativos e são marcados pelos acessos principal e lateral. O acesso principal é encimado por um torreão com linhas barrocas, que possui uma escada central em madeira, iluminada por amplo e colorido vitral. Devido sua importância histórica, artística e cultural, foi o primeiro prédio tombado no Ceará. Seu conjunto arquitetônico é um dos mais belos de Fortaleza. Créditos: Fortaleza Convention & Visitors Bureau

Endereço: Localizado no cruzamento das avenidas Nepomuceno e Pessoa Anta.



A Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará ou simplesmente SEFAZ Ceará é uma das mais antigas instituições públicas da administração estadual, considerando a sua criação por meio da Lei nº 58, de 26 de setembro de 1836, há 170 anos, quando José Martiniano de Alencar - pai do escritor cearense José de Alencar - era o Presidente da Província do Ceará.

Inicialmente o órgão recebeu a denominação de Thesouraria Provincial, em cujo Art. 1º da lei consta a seguinte constituição: “Art. 1: Haverá um inspector, um contador, um thesoureiro, um primeiro escripturario, dous segundos, um porteiro e um continuo, que formarão a repartição, por onde se arrecadará a receita, e se fará a despeza da provincia.” Desde então são decorridos 170 anos de uma história institucional que se confunde com a do próprio Estado, de incontáveis serviços em defesa dos reais interesses dos cearenses, haja vista que muitos “cobradores de impostos e taxas”, como são chamados os agentes do fisco, perderam a vida no cumprimento do dever.



Em 1993 foi comemorado o “Centenário da Sefaz”, na gestão do então Secretário João de Castro Silva, período marcado por uma série de eventos institucionais que abrangeram a capital e o interior do Estado, procurando integrar os fazendários do passado e do presente, aproximando ainda mais a organização do contribuinte.

Referido marco histórico-temporal aludia às mudanças político-administrativas decorrentes da Proclamação da República (15 de novembro de 1889). Com a Constituição Política do Ceará em 1891, o órgão arrecadador do Estado teve seu nome alterado para Secretaria dos Negócios da Fazenda, ocorrendo a sua instalação em 28 de setembro de 1891. Esta mudança ocorrida há 115 anos foi tão significativa que a feição institucional da Sefaz de hoje, a despeito das sucessivas atualizações de gestão do fisco estadual ao longo dos decênios, deram-se a partir de um novo país que emergia com o fim da Monarquia, com a destituição de D. Pedro II.

THESOURARIA

Em 22 de junho de 1837, ainda no período imperial, foi baixado o Regulamento de nº 9 para organização da Thesouraria Provincial, atendendo ao disposto nos arts. 3 e 7 da Lei que a instituiu, do qual destaque-se: “Art. 1. Fica creada uma thesouraria, cujos empregados serão na forma do 1º artigo da lei, um inspector, um contador, um thesoureiro, um primeiro escripturario, dous segundos, um porteiro, e um continuo, a qual será a repartição por onde o governo provincial arrecade a receita e faça a despeza na província na forma da lei do orçamento, e mais leis e regulamentos em vigor. Esta repartição é inteiramente subordinada ao presidente da província, e considerada como secretaria das finanças do governo provincial.”

Sete anos depois, a necessidade de interiorização e descentralização das atividades fazendárias resultou na criação das Coletorias, por meio da Lei nº 252, de 15 de novembro de 1842, que em seu Art. 13 consta: “Em todos os lugares onde o inspector, depois de ouvir o contador e procurador-fiscal julgar conveniente, haverão collectorias, que serão compostas de um collector e um escrivão.”

Fazendo jus às suas origens, à missão institucional de “Captar recursos financeiros para atender às demandas da sociedade”, a Secretaria da Fazenda prossegue célere na construção do futuro, no cotidiano de suas ações, tendo no desempenho de seus profissionais do passado e do presente o testemunho de comprometer-se com um Estado que seja digno do Ceará, “Terra da Luz".

Secretários de 1950 à 1979








A Secretaria da Fazenda em Fortaleza tinha prédio próprio na antiga Avenida Sena Madureira (hoje Alberto Nepomuceno), no local onde foi o Fórum Clóvis Beviláqua que foi implodido. O atual prédio, na mesma avenida esquina com Rua Adolfo Caminha foi projetado e iniciada sua construção em 1924, sendo terminado e Inaugurado em 27 de novembro de 1927. O projeto foi do engenheiro-arquiteto José Gonçalves da Justa.


A foto antiga data de 1938, colhida pela Aba Film e foi feita em negativo de vidro no tamanho 13x18cm, que dá um ângulo não conseguido pelas máquinas de hoje, cujo negativo tem apenas 35mm. A distância do prédio para o fotógrafo também mudou, pois na foto antiga havia mais espaço (ver a ponta da calçada). Atualmente há construções novas no local onde o antigo fotógrafo ficou.


A segunda foto mostra algumas diferenças no alto do prédio e à frente, a estátua de Alberto Nepomuceno, o maestro cearense de projeção mundial que hoje é patrono da avenida.

Arquivo Nirez

Saiba mais sobre a Av. Alberto Nepomuceno aqui

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Cemitério São João Batista


Fachada antiga do Cemitério de São João Batista sendo demolida- Arquivo Nirez

O Cemitério São João Batista foi inaugurado no dia 5 de abril de 1866 para substituir o Cemitério de São Casimiro que ficava no local onde depois construíram as oficinas e prédios administrativos da Estrada de  Ferro de Baturité. O terreno do cemitério comporta hoje os prédios e galpões da RFFSA.

Sobre a construção do cemitério


Cemitério São João Batista -Álbum Fortaleza 1931


Nota fiscal de compra de jazigo no cemitério São João Batista de 05/04/1957  
Acervo do Prof. Victor Bessa

Fachada pela Avenida Filomeno Gomes - Foto de Cláudio Lima


Seu fechamento foi determinado em virtude do terreno sofrer influência de dunas móveis e por ficar próximo do núcleo urbano de então. Em 1880 foram exumados do cemitério São Casimiro os restos de pessoas ilustres como Pessoa Anta e Padre Mororó e transferidos para o cemitério São João Batista. O cemitério é administrado pela Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza e tem uma área total de 95 mil m².



Com sua grande variedade de estilos, que se misturam com os rituais de dor, saudade e orações, o São João Batista é um espaço de inestimável relevância para a nossa história cultural. O São João Batista é um espaço central de informações históricas e culturais.



Foto de Cláudio Lima

Como testemunha material de várias temporalidades, a sua existência não é somente uma fonte para classificação técnica sobre arte ou arquitetura, é cenário de uma infinidade de obras. Sua importância histórica estende-se além do limite físico de seus muros, envolvendo-se intimamente com a história e a evolução da cidade de Fortaleza.


Muro do Cemitério na Rua Padre Mororó

Sua administração ficou a cargo da Santa Casa de Fortaleza que, por lei provincial de 1860, já era responsável pela gestão do São Casimiro. Poucos sabem, mas quem visita o São João Batista tem a possibilidade de aprender muito sobre a história de Fortaleza. Barão de Studart, Frei Tito, Tristão Gonçalves e Virgílio Távora, além de famílias tradicionais como Jereissati e Vidal Queiroz, são apenas algumas entre as personalidades sepultadas no local.

O muro lateral do Cemitério que pega toda a Rua Tijubana - Foto Ápio

Fundado em 1866, o cemitério localiza-se na rua Padre Mororó, no bairro Jacarecanga, próximo à Catedral Metropolitana de Fortaleza.


Outras personalidades que foram enterradas no São João Batista:


Barão de Camocim

Barão de São Leonardo

Barão de Studart

Francis Reginald Hull (Mister Hull)

General Sampaio

Carlos Jereissati

Carlos Virgílio Távora, ex-deputado federal do Ceará


Caio Prado

Cego Aderaldo, poeta cantador e rabequista

Cônego Bessa, religioso e político

Demócrito Rocha, telegrafista, odontólogo, escritor, poeta, e jornalista

Faustino de Albuquerque e Sousa, desembargador e ex-governador do Ceará

Francisco Armando Aguiar, ex-deputado estadual

Francisco de Meneses Pimentel, ex-interventor federal no Ceará, advogado e professor

Franklin Gondim, comerciante ex-interventor federal do Ceará

Hélio Melo, escritor, gramático, filólogo e professor

João Dummar, Pioneiro em rádio difusão

Juarez Barroso, escritor e jornalista

Manuel Cordeiro Neto, ex-chefe de polícia do Ceará e ex-prefeito de Fortaleza

Manuel Fernandes Vieira, magistrado e ex-deputado

Natércia Campos, escritora e professora

Osíris Pontes, comerciante e deputado estadual do Ceará

Paulo Sarazate, Deputado Governador e senador do Ceará


Parsifal Barroso, ex-deputado, ex-governador, ex-ministro e membro do Instituto do Ceará

Plácido Castelo, jornalista, advogado, político e professor


Rogaciano Leite

Soares Bulcão, jornalista, poeta, historiador, político e orador

Frei Tito

Tristão Gonçalves

Virgílio Távora

Messias Pontes, jornalista,radialista, militante político, Presidente do Comitê de Imprensa da Câmera Municipal de Fortaleza, Presidente do Comitê de Imprensa da Assembleia Legislativa Estadual, Diretor da Associação Cearense de Imprensa ( ACI)... Faleceu no dia 09 de novembro de 2013 aos 66 anos.


Trancoso e outras narrativas mitológicas

D. Neta, funcionária da Santa Casa de Misericórdia e presta serviços na secretaria do Cemitério, em depoimento amistoso, sem qualquer manifestação de medo porque por muitos anos, convive na "Chácara do Sr. Cândido Maia*", afirma por ser do seu conhecimento que o coveiro Luizinho, certa vez, no final da tarde, quando não havia mais nenhum coveiro, observou que, na avenida principal do cemitério, duas crianças brincavam fagueiras por entre os túmulos e capelas na circunvizinhança da extensa alameda, margeada por adultos ciprestes e algarobeiras perfiladas em linha reta sombreiam e divide em duas vias até alcançar a Av. Filomeno Gomes, próximo à Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes e a Escola de Aprendizes Marinheiros.



Segundo a informante, o coveiro Luizinho, vendo que já entardecia e a noite se aproximava, ficou perplexos ao olhar aquelas duas crianças que brincavam despreocupadamente sem que viesse nenhuma pessoa para conduzi-las a sua casa. Atônito com aquela situação, dirigiu-se às crianças, e, ao alertá-las, observou que desapareceram misteriosamente sem deixar nenhum vestígio de sua existência, cujo sumiço foi disfarçado sem percepção.

A dançarina do Maguari

Corre à boca miúda também, impressionante episódio com um casal que se conheceu num baile do Clube Maguari. De repente veio àquela admiração causada à primeira vista numa forte simpatia. Depois de muito valsar, se comprometeu a jovem em fornecer o endereço para prolongar aquele feliz encontro transformando-o em namoro. Já próximo ao término do baile, deixaram o recinto do clube e o jovem rapaz pôs-se a cumprir o prometido para deixar a jovem em sua residência, cujo endereço lhe fora fornecido pela mesma que conhecera momentos antes.

Ao caminhar em direção da casa, a linda moça suplica: Entre aqui nessa rua por gentileza! Dobraram na Rua do Cemitério (Rua Padre Mororó) e ao se aproximar do portão principal, ela suspirou dizendo: Pare aqui. E ao chegar defronte ao cemitério evaporou-se numa transformação repentina.

Cemitério São João Batista -Álbum Fortaleza 1931

O jovem rapaz não se conformando, com o sumiço da jovem, logo ao amanhecer se dirigiu para o endereço fornecido pela dançarina da noite anterior e, ao indagar sobre a jovem dançarina foi informado que se tratava de uma ente querida que deveria ter colado grau de professora na noite anterior e era filha da informante, falecida há mais de dois anos. Ao jovem nada restou senão se unir a família e orar para ser recebida no Céu e não deixar corações empanados por tristeza a quem não pode satisfazer a beleza que o amor produz.

O Desempregado

Certa pessoa nutria grande devoção por almas e tinha por ofício visitar todas as segundas-feiras o cemitério para fazer suas orações. Desempregado, procurava um lenitivo para resolver a aflita situação econômica porque passava naquele momento, sem condição de manter a família e atender as necessidades mais prementes de um chefe de família.

Assim, numa segunda-feira ao percorrer uma rua que dar acesso ao cemitério deparou-se com um cidadão a ele se dirigindo indagou: Está à procura de emprego? Sim. Então vá nesse endereço que estão precisando dos seus trabalhos. Chegando ao local, foi informado que aquela pessoa que fizera a indicação tinha falecido. Entretanto sabedores que o extinto gostava muito de ajudar aos necessitados e conhecendo de quem se tratava deu-lhe emprego, prestando homenagem a quem se compadecera em vida de angustiante situação da pobreza, repartindo com necessitados o que lhe sobrava. 

Cemitério São João Batista -Álbum Fortaleza 1931

A menina-serpente

Outra história que passa numa das mais antigas e pomposas catacumbas, é o túmulo da menina-serpente, construído de pura argamassa, situado no 1º plano do Cemitério São João Batista, datado no inicio do século XIX, que apesar da forte estrutura e correntes de ferro maciço em redor do mausoléu, todos os anos se abrem em profundas fendas, caindo todo reboco.

Dizem que uma pessoa foi morta ainda criança amaldiçoada pela mãe, e, em noites de lua cheia percorre o Cemitério e ruas próximas a Igreja São João Batista, amedrontando pessoas, transformada em serpente, quebrando as correntes, rachando as paredes e abrindo fendas no túmulo.

A Plutocracia no Cemitério

Os que cultuam histórias de "Trancoso" falam de inúmeras histórias sobre os que já se foram desta para outra vida, mas, ainda assim, alimentam a mente como se caixão tivesse gaveta e mortalha tivesse bolso. Praticam atos de impiedade humilhando os menos favorecidos por terem vividos em cabedais de ouro, e, só depois conceberão que "tu és pó e em pó te tornarás". Porque para outra dimensão nada se leva, além das boas ações aqui praticadas dividindo com os mais pobres um pouco do que sobra, pois, "É dividindo que se multiplica", diz o velho adágio popular; de resto, mais nada.

Dos zelos

É preciso cuidar bem do espírito , para não ficar eternamente no limbo, purgando os pecados, que dão de logo ingresso ao inferno junto aos cães coxos, bem rabudos pagando crueldades aqui praticadas e as que não tiveram sequer um pequeno rasgo de bondade para praticar. Mas não esqueçam: o diabo também têm os seus... suas manhas e preferências. Entretanto melhor é fugir dos gracejos e deixar de lado os espíritos zombeteiros e chalaceadores que por aí, dizem, existir perturbando as almas que só querem orações jaculatórias como penitência.

Mas há quem afirma que o caifás, satanás e ferrabrás são na realidade o "manda chuva" do inferno. São os que possuem os maiores garfos e tomam conta das ardentes brasas. Por isso se roga tanto - "Livrai-nos Senhor do fogo do inferno" e das coivaras que esperam certas pessoas que aqui se vangloriam de riqueza e do poder. E se puderem recobrar fisionomias, êta que decepção tamanha será esse reencontrar após a morte.

Cemitério São João Batista -Álbum Fortaleza 1931

Do tinhoso

É bem melhor nos consolarmos com o que temos e merecemos. Ao demônio não se engana facilmente, - dizem os que com ele têm afinidade e gozam dos seus afetos e benquerença. Proclamam os cães antes de pular das suas exuberantes e impetuosas labaredas em língua de fogo... e antes de pedir permissão ao Cérbero para recorrer os recantos das profundezas de seus territórios e crescem os demônios mais argutos na proporção dos nossos pecados até nos conduzir às suas trevas. Contudo, isso não passa das manifestações de lucubração que cada um tem e se desenvolvem em cada bestunto tornando ilusões passageiras de um reino invisível e animam o presente põe de lado o passado e aspiram com ansiedade um futuro cheio de ventura.

O nosso campo santo tem e teve histórias do "arco da velha" desde sua fundação do tempo da "peste bubônica" ou febre amarela, que não havia tempo para sepultar todos os mortos pela epidemia alastrante, porque embora se abrissem valas, tamanha era a urgência para enterrar os entes queridos que afetados não resistiam as intempéries que se alastravam.

Lendas e lendas

Nessa época era ainda o Cemitério Croatá, também conhecido como São Casimiro, na Praça Castro Carreira ou Estação Central, no quadrilátero pelas ruas Senador Castro e Silva, Rua General Sampaio, Rua Dr. João Moreira, no prolongamento da Av. Tristão Gonçalves, Av. Imperador e adjacências. Contam também que os cadáveres ficavam superficialmente enterrados, dada a exiguidade de tempo para inumá-los.

Com a chegada do verão o sol causticante sobre as valas deixavam expelir gases da decomposição de cadáveres, subindo labaredas incandescentes para o alto em forma de "língua de fogo", emanadas das gorduras dos corpos, conhecida como fogo-fátuo, que causava verdadeiras assombrações aos que assistiam aquele despropositado espetáculo, e logo desapareciam em contato com a atmosfera.

Aos mais ingênuos era a maldição que se aproximava dos incautos espectadores que corriam desesperadamente à procura de refúgio e abrigo mais seguros, ou suas casas que deveriam ser mais bem protegidas para livrarem-se o mal ou castigo que vinha do Céu.

*Cândido Maia serviu como administrador do Cemitério de São João Batista, desde 1887 até 1925, ano em que faleceu, sem nunca haver gozado férias e nem licença no emprego.




Fontes: Pesquisas na internet/Cafofo/Wikipédia/Diário do Nordeste

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