Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ônibus antigos em Fortaleza


A primeira linha de ônibus foi instalada em 1928, com seis ônibus da empresa Pedreira que cobriam a cidade.

Um dos primeiros ônibus com carroceria de madeira fabricado no Ceará na década de 30 ou 40 Créditos: www.fumtran.org.br

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Ônibus Ford V-8, ano 1936, carroceria de madeira fabricada em Fortaleza
Créditos: www.fumtran.org.br

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Ônibus marca GMC - ano 1948, com carroceria de madeira fabricada em Fortaleza
Década de 40

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Ônibus linha Baturité - Fortaleza - 1950 - credito: http://www.museudantu.org.br
Fortaleza - 1950 (O ônibus da foto tinha carroceria feita em metal e madeira, montada em um chassis Ford ano 1951, provavelmente um F-6 ou F-7. Pertencia à empresa Redenção e fazia a linha Fortaleza-Baturité (Ceará) nos anos 50.

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Ônibus marca Ford Köln, modelo de caminhão produzido na Alemanha pós-guerra, com carroceria de ferro produzida no próprio Ceará. Antigamente, as carrocerias de ônibus eram feitas de modo artesanal em pequenas oficinas localizadas em várias cidades brasileiras; arrancava-se a cabine do caminhão e montava-se a carroceria, com produtos locais - Ano de 1954 - Fonte: Rodalves de Paula

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Abrigo Central, anos 50 - Crédito: http://www.museudantu.org.br/ECeara2.htm
Ônibus Chevrolet "Gigante" - Fortaleza.
A foto dos anos 50 nos mostra um ônibus com mecânica Chevrolet modelo "Gigante" no abrigo de passageiros da Praça do Ferreira, em Fortaleza, Ceará. O ônibus da foto foi produzido entre 1941 e 1946, com mecânica importada e carroceria de fabricação nacional.

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Carrocerias J. Félix - Fortaleza - Crédito: http://www.museudantu.org.br/ECeara2.htm
Carrocerias J. Félix - Fortaleza. A empresa Organização J. Félix ltda, sediada em Fortaleza, Ceará, fabricava carrocerias para ônibus com estrutura em madeira, na década de 50. Vemos na foto um chassis de ônibus à esquerda e o mesmo encarroçado por esta empresa à direita. A mecânica era da Mercedes-Benz

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Ônibus Mercedes - Vieira anos 60- Crédito: http://www.museudantu.org.br/ECeara2.htm
Ônibus Mercedes - Vieira - Fortaleza. O ônibus da imagem, da década de 60, pertencia à Empresa Iracema, da organização José Setúbal Pessoa, e percorria a linha Dom Luiz, na cidade de Fortaleza (Ceará). Tinha mecânica Mercedes-Benz e carroceria da Vieira, de São Paulo.

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Ônibus, início anos 60, da Enciclopedia Britannica

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Os trolleys de Fortaleza, meados anos 70 - foto: http://www.museudantu.org.br/ECeara2.htm
Os trolleys de Fortaleza tiveram curta duração, de 1967 até 1971. Os veículos, em número de dez, eram da Massari, de fabricação nacional. O encerramento do serviço se deu devido à pouca rentabilidade que os trajetos percorridos proporcionavam. Os veículos foram vendidos à CMTC de São Paulo.

"Os trólebus de Fortaleza realmente não deram certo, infelizmente, por conta de erros no projeto e da baixa demanda de passageiros. Hoje, pouco se sabe sobre este sistema, tanto que muita gente não sabe que Fortaleza já teve ônibus elétrico" Rodalves de Paula

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Postal, anos 80, vendo-se um ônibus em frente ao antigo Othon Palace

"O ônibus em frente ao Othon Palace é um Mercedes-Benz O-364, modelo fabricado entre 1978 e 1986 com relativo sucesso. Porém, as janelas eram algo diferentes, que permitiam a entrada da água da chuva em temporais caso abertas. Por isso, o modelo ganhou o apelido de "Três-meia-aquático"" Rodalves de Paula

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1972 - Expresso de Luxo, Revista Manchete

"O Expresso de Luxo fazia São Paulo-Rio de Janeiro-Fortaleza nos anos 1960/1970, com ônibus Ciferal Líder chassi Magirus-Deutz (que eram refrigerados a ar). Mais tarde, a Itapemirim conseguiu as linhas, provocando assim a expansão da empresa capixaba pelo Nordeste;" Rodalves de Paula

"Andei de Expresso de Luxo até virar Guanabara.

A José de Alencar e a Praça do Ferreira já foram re-habilitadas como praças, só resta a Praça da Estação. Muito mal como elas eram usadas para terminal de ônibus :(

Não gosto muito da história dos ônibus, pois prosperaram com a decadência do trem e ainda assim são de má qualidade até hoje, exceto algumas rotas de longo curso, q porém transitam por estradas pavorosas."
Kaique

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1972 - Expresso Fortaleza, Revista Manchete

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1960 - Praia de Iracema, Caminhão misto marca MBB Linha Fortaleza - Morada Nova (CE).

"Os caminhões mistos para o transporte de cargas e passageiros eram algo comum no Nordeste dos anos 1950. Geralmente, estes veículos faziam linhas entre as capitais e as cidades do Sertão, transportando cargas e passageiros num espaço muito desconfortável e apertado. Pertenciam às pequenas empresas do Interior e até mesmo a caminhoneiros autônomos" Rodalves de Paula


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Ônibus Chevrolet - Fortaleza - 1962 -
1962 - O caminhão para transporte misto da imagem (passageiros e carga) tem mecânica Chevrolet "Brasil"e percorria a linha Fortaleza-Esperança (Ceará) no ano de 1962.
A firma pertencia à Pedro Paulino Viana, e é atualmente a Empresa Nova Esperança Fonte http://www.museudantu.org.br/ECeara4.htm

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Ônibus Chevrolet - Fortaleza 1959 -
A imagem nos mostra um ônibus com mecânica Chevrolet nacional em Fortaleza no ano de 1959. A carroceria, em estrutura de madeira, foi fabricada localmente. O veículo, da Empresa Vitória, fazia a linha entre Caucaia e Fortaleza
Fonte: http://www.museudantu.org.br/ECeara4.htm

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Ônibus Fortaleza - Jacaúna - 1959 -
O ônibus da imagem percorria a linha entre Fortaleza e Jacaúna via Iguape, em 1959.
A mecânica do veículo é Mercedes-Benz e a carroceria do fabricante Crosley. Pertencia à Edgar Ferreira Parrião, atualmente Empresa São Benedito Ltda
Fonte: http://www.museudantu.org.br/ECeara4.htm

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Ônibus Fortaleza Maracanaú - 1956 -
O ônibus da foto tinha mecânica Mercedes-Benz e carroceria de fabricação nacional. Servia na linha entre as cidades de Fortaleza e Maracanaú no ano de 1956. Pertencia à Empresa Santo Antônio Ltda, de José Assis de Oliveira
Fonte: http://www.museudantu.org.br/ECeara4.htm

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Ônibus Fortaleza Vazante - 1960 -
O ônibus da foto percorria a linha Fortaleza-Vazante via Ocara no ano de 1960.
A firma pertencia à José Lopes da Silva (atualmente Empresa São Benedito. A mecânica era Mercedes-Benz e a carroceria da Emílio Pasula & Filho, de São Paulo
Fonte: http://www.museudantu.org.br/ECeara4.htm

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Ônibus marca MBB 1966 carroceria Caio Norte Fortaleza

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Ônibus bairro Porangabuçú - Anos 50 -
O ônibus da foto é um Mercedes-Benz com carroceria de madeira, e serviu na linha Porangabuçú (bairro de Fortaleza) nos anos 50. Pertencia à Viação Angelim
Fonte: http://www.museudantu.org.br/ECeara4.htm

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Ônibus da Light, em 1931. R. Floriano Peixoto. Loja Chrysanthemo - Arquivo (Nirez) Estamos na Rua Floriano Peixoto, que já se chamou Boa Vista, Pitombeira, das Belas e Rua nº 5. Mas a foto antiga data de 1930, quando a rua já tinha o nome atual. Velhos sobrados no estilo neoclássico faziam aquela rua onde trafegavam ônibus da "Light", carros hoje conhecidos como calhambeques, carroças e animais. As pessoas andavam normalmente de chapéu, quer de massa, palhinha ou palha mesmo. A bomba da gasolina da época dava um toque todo especial. Vemos por trás o velho mercado de ferro inaugurado em 1897 e dali retirado em 1937. Também vemos os postes telegráficos, estes com várias hastes de apoio, cada qual comportando oito fios, totalizando 48 fios. A posição do fotógrafo é de costas para o sertão e frente para o mar. Na foto antiga vê-se o Passeio Público à distância.

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Postal, anos 70

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Ônibus, Praça Jose de Alencar anos 70

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Ônibus 1971- Acervo de Paulo Queiroz Marques

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Postal Rodoviária - Anos 70

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Ônibus que fazia a linha Prado da Viacão César, ao lado da Escola Industrial nesse periodo em construção. - Nirez

"Os chassis destes ônibus antigos eram geralmente Ford, Chevrolet e Mercedes-Benz, Os de "cara-chata" tinham chassi Mercedes-Benz LP-321, com motor dianteiro de 100 cv derivado do caminhão do mesmo modelo." Rodalves de Paula

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Mais ônibus antigos aqui:
Ônibus antigos em Fortaleza


Créditos: Fortal

Ruas de Fortaleza - Mudanças (Rua General Bezerril)


RUA GAL. BEZERRIL - ANTIGA RUA DOS QUARTÉIS

Na esquina da Rua dos Quartéis (atual Rua General Bezerril) com a Rua da Misericórdia (atual Rua João Moreira), existiu, por volta de 1876, a escola do professor Raimundo Vieira e na mesma casa morou depois o Dr. Pauleta. Vizinho à casa da esquina ficavam estas casas que vemos na foto antiga e que eram, até bem pouco tempo, as casas mais antigas de Fortaleza. As quatro casas fotografadas até a demolição, serviram de residências. A casa maior, que vemos por trás, era o consulado britânico em Fortaleza. Esta foto foi publicada na revista "Cruzeiro", em artigo de Gustavo Barroso.


Sendo as casas mais antigas da cidade, situadas no início da primeira rua que teve a cidade, bem que poderiam ter sido conservadas, se aqui fosse uma terra de cultura, até para chamariz turístico.

A Segunda foto mostra o que ficou no local, o prédio da esquina e um muro com terreno para estacionamento. Ao fundo, vê-se os prédios do centro da cidade.

A terceira foto, colhida por Osmar Onofre, mostra um prédio de linhas modernas, que serve hoje de sede ao "Hotel Caxambu".
Para os que ainda não sabem, o local fica por trás de onde foi o Fórum Clóvis Beviláqua que já não existe - foi implodido. Na esquina, prédio que serviu de anexo ao Fórum e que hoje se encontra em reforma. Ao longe vemos uma banca de jornais e revistas e em primeiro plano uma estaca formando uma cerca em redor da Praça Caio Prado (da Sé) que encontra-se em obras.
O restante do quarteirão antes ocupado por diversos sobrados, inclusive o do Hotel Bitu, está hoje somente com pedaços de muros mal cuidados que só enfeiam a cidade, com alguns estacionamentos e um mercado de rendas e bordados tipo "beco da poeira".


Crédito ao Portal do Ceará/Arquivo Nirez

Igreja de São Pedro


Em 1934, uma comissão, tendo à frente Mariinha Holanda, resolveu construir uma igreja. O terreno foi conseguido com a Prefeitura, no ano seguinte. Houve, no dia 24 de dezembro de 1935, o lançamento, da pedra fundamental da Igreja de São Pedro, na Praia de Iracema, em cerimônia presidida pelo Arcebispo Dom Manoel da Silva Gomes. A inauguração foi no dia 22 de janeiro de 1939.
Cria-se, no dia 23 de agosto de 1953, a Paróquia Oriental de Nossa Senhora do Monte Líbano, do rito Melquita a fim de prestar assistência religiosa à colônia sírio-libanesa de Fortaleza. A sede é na Igreja de São Pedro na Praia de Iracema e o vigário é o Monsenhor Paulo Kalas, até ser inaugurada a Igreja de Nossa Senhora do Líbano.

A fotografia antiga é da década de 50. O templo tinha portas com o cimo em forma de triângulo, duas janelinhas no pé da torre e uma, mais acima, todas também com topo triangular, como triangular também parece ser o cimo da torre que é em forma de pirâmide aguda, onde na ponta há uma cruz branca.
A Rua Tabajaras é bem mais movimentada que a Avenida Presidente Kennedy, que na época da foto era Presidente Vargas (não se sabe porque a troca). Afinal a Praia de Iracema era um dos bairros elegantes de Fortaleza à época. As ruas eram calçamentadas, com coxia dando preferência à rua Tabajara.

A segunda fotografia mostra o mesmo local com várias modificações, com o asfalto em substituição ao calçamento; fios de alta-tensão pela avenida Presidente Kennedy; postes de Iluminação pública pela Tabajara; edifícios de muitos pavimentos já existem na rua, enquanto na avenida cresce a arborização; a igreja foi muito modificada: as portas deixaram de ser triangulares; as janelas também; a torre deixou de ser aguda.


Crédito ao Nirez e Portal da História do Ceará/Arquivo Nirez


terça-feira, 27 de julho de 2010

Hospital São Vicente: A evolução da psiquiatria no bairro da Parangaba


Arquivo Nirez

"Época do Asilo de Alienados São Vicente de Paulo, conhecido como Asilo de Parangaba, sofrimento de mentes e corações. O tenebroso hospício, construção secular com paredes de quase meio metro de largura, deprimia a quem ali entrasse. Gritos lancinantes, risadas histéricas, choros copiosos e palavrórios agitados extremavam o horror.
Uma ala de celas gradeadas, pisos imundos de tijolo de barro, em penumbra e com extenso corredor, completava o máximo da degradação, impossível de imaginar por quem não a conheceu. Naqueles vãos, verdadeiros farrapos humanos, alguns com pulsos e tornozelos atados por cintas de couro, inertes ou agitados, deitavam-se no piso, depois de tratamento com choques elétricos. Era o espaço dos classificados como loucos bravos.
Na lateral dessa área, isolado, via-se um pátio de verdes mangueiras, cajueiros e palmeiras imperiais. Local sombreado, ventilado, com calçadas e bancos de cimento. Seria ambiente agradabilíssimo, não fosse o sofrimento das pessoas ali confinadas. Umas vagando, atabalhoadamente, sem objetivo. Outras, paradas em pé, sentadas nos bancos ou no chão, falando, gritando, chorando, rindo ou emudecidas. Algumas mais, com olhar de espanto ou de tristeza, em busca do nada no infinito. Ou, quem sabe, talvez da razão de suas desgraçadas vidas, perdidas na própria mente ou nas daqueles buscadores de suas curas ou alívios. Sofreguidão menor havia para eles, chamados loucos mansos, livres de impulsos energéticos. Semelhantes a autômatos ou zumbis, chegavam a ser levados, por um enfermeiro, para assistir missa na Capela do Asilo, igrejinha existente na esquina das avenidas João Pessoa e Carneiro de Mendonça, defronte ao antigo Bar Avião. Ao trafegar por ali, vivifico as tristes imagens assistidas durante as ações sociais encetadas, nos anos sessenta, pelo humanitário coronel João Olímpio Filho e um grupo de voluntários. E pergunto-me: onde e como são tratados os indigentes de hoje padecentes da trágica enfermidade? Existirá ainda o hediondo choque elétrico como terapêutica? "
Geraldo Duarte
(advogado, administrador e dicionarista)

Tudo teve início no dia 1º de março de 1886 quando o vice – provedor da Santa Casa de Misericórdia, o comendador Severiano Ribeiro da Cunha inaugurou o Hospital Psiquiátrico São Vicente de Paulo, o chamado “Asilo dos Alienados”. Logo após, Dr. Meton da França Alencar, nomeado o primeiro médico da instituição foi quem lutou ao lado das irmãs de caridade filhas de São Vicente para o hospital funcionar. Já no final dos anos 60, o provedor Miguel Gurgel do Amaral reformou totalmente o prédio, destruindo as celas e construindo enfermarias.
Desde então começava um novo tempo. O pontapé inicial era dado com a contratação de médicos, enfermeiros e assistentes sociais.
Na gestão do Coronel Lívio França, mudanças nos campos técnico e administrativo foram implementadas. Logo após, entre os anos 1997 – 2000, durante a administração do provedor General Torres de Melo, o Hospital São Vicente de Paulo iniciou uma nova revitalização intensificada. Hoje, 124 anos depois, o que antes era chamado de “Asilo dos Alienados” se transforma em Hospital São Vicente de Paulo. Tudo graças a união de 11 Psiquiatras, três Psicólogos, três Terapeutas Ocupacionais, três Assistentes Sociais e um Clínico Geral.
Também fazem parte da equipe uma Nutricionista e um Farmacêutico. Além de seis Enfermeiros e 36 Auxiliares de Enfermagem. Todos esses profissionais aliados a perseverança do Coronel Francisco José de Andrade Bomfim, atual Diretor Administrativo do hospital, fazem a mudança do conceito de psiquiatria na Parangaba.

O São Vicente de Paulo é composto por 140 leitos, divididos em 40 femininos e 80 masculinos.
Na instituição, os pacientes desfrutam de seis refeições diárias, tratamento clínico com diversos
profissionais ligados a área da saúde, brincadeiras e palestras. Além disso, eles participam também de exposições e diversas atividades, tendo suas obras expostas nas alas do hospital. “São pequenos gestos que nos movimentam”, declara Coronel Bomfim, falando de uma carta de agradecimento da família de uma ex-interna.

O São Vicente de Paulo faz parte de um grupo onde estão inclusos a Santa Casa, o Cemitério São João Batista e a Funerária de Fortaleza. Para o hospital, o futuro apresenta-se com boas perspectivas, pois aos 124 anos, renova e adequa-se mais uma vez às novas regras de modernos tratamentos interdisciplinares à portadores de transtornos mentais. Afinal, o São Vicente de Paulo, segue o que diz a lei 10.216 de 06 de abril de 2001: “o respeito, a cidadania e individualidade do paciente, visam a sua reinserção na comunidade e na família”.
Com o objetivo de proporcionar à sociedade mais opções de atendimento às demandas dos serviços de saúde, foi feito o aproveitamento do enorme potencial da área construída existente no hospital. Tudo se transformou no Centro de Tratamento Integrado Elisa Diogo Rodrigues (CTI Parangaba). São consultórios, clínicas e ambulatórios que oferecem à comunidade serviços médicos, complementares da área médica e dentários a preços populares.

Asilo de Alienados São Vicente de Paulo, no Ceará do Século XIX:

Segundo o atual Diretor do Hospital São Vicente de Paulo, Coronel Bonfim, em conversa informal realizada em 2005, o hospital passou por uma de suas maiores reformas estruturais durante o Regime Militar, com a perspectiva de ampliar e melhorar o atendimento ao paciente com sofrimento mental.
Tal reforma pode ter ocasionado, por sua vez, a destruição de documentos essenciais para reconstrução da historicidade do Hospital, no advento de sua inauguração e nas décadas posteriores, prejudicando na preservação de sua memória. Os prontuários, por exemplo, uma grande ferramenta para compreensão do perfil e do tipo de atendimento dado aos pacientes que
ingressavam no Hospital foram completamente destruídos. A ausência deste registro de memória se, por um lado dificulta a reconstrução de dada época, por outro, poderia ser problematizada a partir de sua própria destruição. Coincidência ou não, os Hospitais Psiquiátricos durante a década
de 1960 foram alvos de profundas críticas e denúncias de segmentos sociais em geral e médicos, especificamente, conhecido como a Reforma Anti-manicomial. Esta poderia ser uma das muitas hipóteses que justifica a ausência de documentos internos do Hospital.
Historiograficamente, tal situação provoca uma profunda lacuna na investigação porque dificulta a compreensão de quem eram os homens e mulheres considerados alienados no Ceará no Século XIX. Contudo, a prática historiográfica ensina que o exercício de garimpagem dos variados materiais documentais é realizado nas entrelinhas e nos cruzamentos de informações.
Este artigo propõe-se a reconstruir uma parte da História da Loucura no Ceará deste período através da inauguração do primeiro hospital voltado para a alienação, o Asilo de Alienado São Vicente de Paulo, como forma de responder às questões preliminares como: quem eram os indivíduos considerados alienados e quais interesses e relações de poder estiveram inserido o asilo de alienado.
Construído em 1886, o Asilo de Alienado São Vicente de Paulo atendeu a uma ampla demanda correspondente a toda a Província do Ceará. Localizado no distrito de Porangaba inicialmente denominado de Arronches, ele representava um lugar estratégico, pois o distrito representava uma ponte entre Fortaleza e o Sertão. A questão da espacialidade da construção do asilo torna-se uma problemática importante a ser destacada para analisarmos as redes de relações sociais da época.
Fortaleza, como capital da Província, concentrou desde sua colonização vários centros de poder, como o pelourinho, a cadeia pública, a câmara municipal. Todos eles estavam situados em um mesmo espaço, que corresponde o atual centro da cidade no raio de abrangência que compreende desde o cemitério São João Batista até aproximadamente a Praça Coração de Jesus e circunvizinhanças. Esta área é considerada pela historiografia o coração da cidade não só pelo sentido político-administrativo, mas pelas práticas cotidianas, tendo em vista a sociabilidade intensa de lazer e comércio exercida pela circulação de indivíduos de várias condições sociais. O que não significa dizer, entretanto, que aqueles de menor ou quase nenhuma situação financeira, fossem tolerados. Em períodos críticos vivenciados pela seca, eles representavam incômodo às elites, como ocorreu na seca de 1877-79.
A construção do Asilo de Alienados estava situada em outra perspectiva espacial. Localizada a 7 km e 200 metros ao sudoeste de Fortaleza, Arronches na década de 1870 ainda conservava traços culturais de uma aldeia indígena e era considerada distante de sede da Província. Através de narrativas de contemporâneos como a crônica de Antônio Bezerra e a poesia de Juvenal
Galeno, a localidade era destacada por seu ambiente agradável e bucólico destacando-se, neste cenário, a Lagoa de Parangaba.


Ainda na primeira metade da década de 1870, há registros sobre a necessidade da criação de um asilo para alienados. Em 1874, o Visconde de Cauhipe, pessoa de grande reputação entre seus pares, tendo exercido as funções como Tenente Coronel e Vice-Provedor da Santa Casa de Misericórdia, demonstrou interesse em construir um espaço destinado aos loucos depois de ter contemplado, errante e perseguida, andrajosa e faminta, uma pobre louca nas ruas desta cidade.
Para Guilherme Studart, o asilo de alienados foi produto de sua criação.
Surgia assim a ideia de construção de um local para abrigar loucos para a província o qual não era algo inovador ou extemporâneo à realidade nacional, tendo em vista que o primeiro asilo com tal finalidade já tinha se efetivado ainda na década de 1850, quando da construção do Hospital D. Pedro II. Ao contrário, se considerarmos que o asilo no Ceará apresentou uma grande distância
temporal, datada em sua inauguração de mais de 30 anos após a instalação do primeiro em território brasileiro, perceberemos um atraso na sua concretização. Antes da construção do Asilo de Alienados São Vicente de Paulo, os loucos ficavam espalhados em outros espaços. Via de regra, em Fortaleza, quando não estavam vagando a esmo pelas ruas da cidade, estavam concentrados na Cadeia Pública ou na Santa Casa de Misericórdia. Desta forma, o perfil essencial do alienado no Ceará em fins de Século XIX era o indigente e o criminoso.
As fontes trabalhadas, sobretudo a dos jornais, cumprem em parte a função dos prontuários inexistentes que retratamos anteriormente, principalmente no que se refere ao público internado no asilo de alienados. Nesse sentido, O Libertador e O Cearense noticiaram pequenas notas em que demonstravam serem os indigentes e as pessoas em geral das classes menos favorecidas
que foram o público alvo do Asilo. A questão da alienação enquanto tema abordado nas fontes apresenta-se de maneira pontual e descontínua. Ela aparece diluída nos episódios cotidianos da cidade e da província, não se constituindo em um material volumoso ou permanente. Mesmo em épocas de flagelo em que a sociedade presenciou casos de situações limites podendo ser nomeada de alienação, a documentação ainda é residual. Contudo, foi através dos episódios da seca de 1877-79 a partir de seus efeitos de grande caos social que, não só o asilo tornou-se uma necessidade, como outras instituições com o mesmo perfil.

É bastante significativo observar que meses antes da inauguração do Asilo de Alienados São Vicente de Paulo, não havia ainda sido contratado um médico alienista para dirigir o Asilo. Também é significativo analisar que o médico que cumpriu a função de diretor foi um clínico geral, não tendo uma formação ou especialização em Psiquiatria. Estes indícios permitem-nos analisar que os espaços de disputa de poderes observados por uma historiografia mais geral não se fazia presente da mesma forma no Ceará. Entretanto, não queremos afirmar que não houvesse um cenário de poderes no que se refere à tutelagem do louco no Ceará. Ele havia, mas estava situado em outra direção.
O Asilo de Alienados São Vicente de Paulo, desde sua inauguração até hoje, estava sob a administração direta da Santa Casa de Misericórdia. E com tal vinculação, ele atendeu a outras demandas e interesses sociais. Uma instituição com finalidade médica, como um Hospital Psiquiátrico, veiculada à outra instituição religiosa não era uma prática rara no Brasil. Ao contrário, o próprio Hospital de Alienados Dom Pedro I, no momento de sua inauguração e durante anos, pertenceu à Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Entretanto, internamente, houve durante os últimos anos do fim do Império conflitos entre
dois segmentos: os médicos e as irmãs superioras, responsáveis pela administração nos quais os médicos reivindicavam a separação do Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Em um deles, o clima de tensão tornou-se mais evidente em 1882, quando o médico Nuno de Andrade foi demitido da direção do serviço sanitário do Hospício de Pedro II, por criticar o poder e as funções exercidas pelas irmãs de caridade, propondo ao hospital uma nova regulamentação. (ENGELS, 2001, p. 241).
No Ceará, não apenas não há registro de conflitos ou indisposições entre os poderes médicos e religiosos, como a Igreja Católica – através das Irmandades – possuía maior poder que a própria figura do médico. Numa perspectiva de identificarmos quais sujeitos ou agentes tornavam-se peças chaves quanto às responsabilidades pelo Asilo de Alienados São Vicente de Paulo poderíamos destacar a figura do Vice-Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza.
Foi o Capitão Manoel Francisco da Silva Albano, então Vice-Provedor, que em 1875, doou um terreno na estrada Empreitada de Arronches para a construção do edifício do Asilo de Alienados São Vicente de Paulo e que esteve na comissão cujo objetivo era examinar o andamento dos serviços de construção do asilo. Foi também o Vice-Provedor da Santa Casa de Misericórdia o responsável pelo ingresso de uma mulher considerada alienada naquela instituição. E no Relatório da Santa Casa, ele situou o vínculo estreito desempenhado pelos setores da igreja e da medicina na condução administrativa do Asilo São Vicente de Paulo quando fez menção à atuação das Congregações de São Vicente de Paulo que estavam inseridas no mesmo cenário filantrópico ocupado pelo asilo de alienados.
O Asilo de Alienados São Vicente de Paulo possuía uma ligação fundamentalmente dependente da ação exercida pela Religião Católica no Ceará, não somente porque sua administração esteve ligada à Santa Casa de Misericórdia como porque fez parte de um conjunto de práticas
assistencialistas e caritativas condizentes com as realizadas pelas Congregações ou Conferências Vicentinas, que surgiram na Província. Em Fortaleza, a primeira Conferência Vicentina datou de 1882. Mas, a cada ano o Barão de Studart noticiava (1896) a instauração de dezenas em todo o Ceará.
Confrarias e Irmandades foram estratégias utilizadas pela igreja e pelas elites políticas e religiosas da sociedade com o interesse de promover assistência e caridade aos pobres. Eduardo Campos, na obra 'As Irmandades Religiosas do Ceará Provincial', faz uma distinção entre as duas apontando que, enquanto as Irmandades preocupavam-se com questões relacionadas à construção de cemitério e/ou melhoramento de igrejas, as Confrarias atendiam mais a uma demanda de assistência aos menos favorecidos (CAMPOS, 1980, p.82).
As Conferências surgiram em grande medida no Ceará no momento em que Império e Igreja Católica enfrentavam a Questão Religiosa. Guilherme Studart, médico e católico atuante, foi um dos grandes responsáveis por seus surgimento e manutenção.
Numa perspectiva de contribuir para o fortalecimento de um ambiente católico e filantrópico do Ceará, o Barão de Studart atuou ativamente na fundação de dezenas de Congregações de São Vicente de Paulo, inclusive presidindo o Conselho Central da Sociedade Vicentina, no longo período correspondente entre 1889 a 1931. Um dos objetivos das Congregações Vicentinas foi a divulgação do ensino do catolicismo, auxiliando as vocações religiosas na província cearense. Nesse sentido, fundaram-se instituições como escolas primárias e bibliotecas e instituições de saúde. Mas, instituições voltadas para a saúde também foram um foco das Confrarias como podemos inserir o Asilo São Vicente de Paulo, freqüentemente nomeadas de obras pias.
Barão de Studart tornou-se uma figura emblemática na relação entre religião e medicina, conciliando suas atividades médicas e cristãs. Então estudante da Faculdade de Medicina na Bahia, em fins dos anos 1870, Guilherme de Studart participou da criação de uma sociedade vicentina em Salvador. Finalizando seus estudos e voltando para o Ceará, empenhou-se na
fundação de dezenas de Congregações Vicentinas (AMARAL, 2002, p. 22).

Além da fundação das Sociedades Vicentinas, o Barão de Studart criou e presidiu o Círculo Católico de Fortaleza. (BARREIRA, 1956; PAIVA, 1956; AMARAL, 2002).
Como médico, presidiu a Ordem Médica Brasileira na Seção Ceará, em 1902. Antes disso, em fins dos anos 1870, após receber o título de doutor, Studart voltou a Fortaleza e exerceu a função de médico durante a seca de 1877-79, atuando contra os quadros alarmantes da epidemia de varíola. Com o término da seca, esteve presente no ato de solenidade de inauguração e foi um dos colaboradores do asilo para alienados.

Asilo de Parangaba, hoje denominado Hospital São Vicente

O hospital mantém ainda viva sua missão de receber pacientes com problemas psíquicos. O psiquiatra Anchieta Maciel afirma que a unidade hospitalar era, no século XIX até meados do século XX, a única que atendia a pobres e desvalidos, apesar das limitações médicas e terapêuticas da época. No entanto, conseguiu acompanhar a modernidade, adotando o que há de mais apropriado para o tratamento das doenças da mente.
1886 é o ano de fundação do Hospital São Vicente, antigo Asilo de Parangaba. A instituição é mantida pela Irmandade Beneficente da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza.

Um pouco sobre o bairro Parangaba:

Missão dos Jesuítas

O bairro era a antiga aldeia indígena catequizada pelos jesuítas da Companhia de Jesus. Foi elevada à condição de vila no anos de 1759, com o nome de Arroches. Foi incorporada à Fortaleza pela lei nº 2, de 13 de maio de 1835; depois foi restaurado município pela lei nº 2.097, de 25 de novembro em 1885, com o nome de Porangaba; e finalmente foi incorporado à Fortaleza pela lei nº 1.913, de 31 de outubro 1921. No século XVIII, o antigo Arroches se destacava como ponto intermediário no transporte de gado, com a Estrada do Barro Vermelho-Parangaba, estrada que ligava o Barro Vermelho (Antônio Bezerra) à Parangaba; e a Estrada da Paranjana, que ligava Messejana à Parangaba. Com a construção da Estrada de Ferro de Baturité, uma estação de trem é instalada em 1873, e Parangaba estava ligada com a Capital. Durante o último período como município, chegou a ter sua própria linha de bonde, entre os anos de 1894 e 1918. Em 1941, a malha ferroviária de Parangaba foi expandida com direção ao Mucuripe, e, em 1944, o nome da estação foi alterada para Parangaba. Essa estação, nos dias de hoje, faz parte do Metrô de Fortaleza. Uma estação elevada está sendo construída pelo Metrofor.

Benefícios e desvantagens do lugar para os seus moradores:

"É um privilégio morar em Parangaba, embora tenha sido negligenciado pelo poder público, como é o caso da limpeza"
Aurélio Alves
41 ANOS
Compositor

"Aqui, contamos com quase tudo, mas a insegurança nos causa medo e inibe as pessoas na procura por espaços públicos"
Jeová Pedra
80 ANOS
Aposentado

"Os assaltos têm sido constantes, inclusive na igreja. Por isso, chegamos a mudar horários de algumas missas"
Teresinha de Jesus Lopes
50 ANOS
Secretária


Créditos: Informativo do 17º Juizado Especial de Justiça - Ano III Nº 7 - Março de 2005, Cláudia Freitas de Oliveira (Doutorada em História pela Universidade Federal de Pernambuco e membro do Instituto Praservare) , Carlos Alberto Cunha Miranda (Professor da Universidade Federal de Pernambuco) e Diário do Nordeste
NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: