Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Praça do Ferreira por Raimundo de Menezes



Foto de 1936

A Feira Nova, a futura Praça do Ferreira, a principal da Fortaleza, teve a sua história, que merece ser relembrada.

Boticário Ferreira

Em 1825, chegava de mudança ao Ceará, vindo do Estado do Rio, o boticário Antônio Rodrigues Ferreira. Estabeleceu-se naquele local, concentrando, em pouco, em seu torno, as atenções dos fortalezenses, pois era homem de visão larga e notável simpatia. Sua botica ficou sendo o "rendez-vous” dos políticos da terra, da gente de prol (de destaque). Dado o prestígio granjeado pelos seus dotes pessoais, era, em 1848, eleito vereador e, logo mais, vice-presidente, depois, presidente da Câmara Municipal da Capital, cargo que exerceu, ininterruptamente, pelo largo período de doze anos, trabalhando sempre em prol do desenvolvimento material da cidade, e cujo nome ficou perpetuado na Feira Nova, como homenagem póstuma dos seus contemporâneos, após seu falecimento, em 29 de abril de 1859.


Antônio Rodrigues Ferreira, o boticário Ferreira, foi o político do seu tempo que mais influência exerceu e que maiores benefícios prestou ao aformoseamento da cidadezinha que desabrochava promissora.
Até o seu tempo, a Feira Nova, nome que se lhe aplicou em virtude de ser ali que os comboieiros costumavam expor à venda as mercadorias trazidas do sertão, morria no beco do Cotovelo, formada de uma linha modesta de casas modestas, em cuja extremidade se trifurcava em ruelas pobres.


Dessas, uma, a que ia parar na Lagoa do Garrote, em determinado ponto, um pouco além, possuía, situado no centro da rua, grandioso e ensombrado cajueiro. À sombra dele, ficava a casa do Fagundes, o único açougueiro da terra. Ali matava e ali esquartejava as reges. Relembremos, com emoção, o episódio que o celebrizou, e que já foi contado, com pena de mestre, por Gustavo Barroso.

Ocupava, a esse tempo, o cargo de governador da Provincia, Luís da Mota Féu e Tôrres, homem ríspido e muito jactancioso das funções que exercia.
Costumava ele passear em belo cavalo, todas as manhãs, e aconteceu que, certa vez, ao passar sob a frondosa árvore, seu chapéu de três bicos agaloado e com tope fosse arrancado por um galho.
Apanhe meu chapéu, gritou o governador, para Fagundes que, em mangas de camisa, gozava a fresca, assentado num tamborete. Este não deu ouvidos, imperturbável ficou, imperturbável continuou.
Luís da Mota, mais áspero, deu nova ordem. Inútil o resultado. Fagundes permaneceu impassível.
Irritado, esporeou o cavalo e avançou, resoluto, na direção do açougueiro, que não se intimidou. Era homem afoito e corajoso. Jamais o haviam humilhado. Se o governador lhe pedisse com boas maneiras, com jeito cortês, por favor, ergueria, sem constrangimento. Mas, daquela forma, com grosseria e com imposições, jamais se submeteria. E foi o que aconteceu.
O tom ameaçador de Mota Féu não o demoveu:
Não me apanhas o chapéu, vilão duma figa, pois eu, que ia somente mandar cortar o galho baixo do caijueiro, agora o porei no chão e adeus açougue!
Dali seguiu, exacerbadíssimo, o Governador rumo ao Palácio, que ficava naquela casa envelhecida e escura de sujo, que se erguia, acaçapada, dentro de verdadeira muralha, na rua de Baixo, nas imediações do Mercado de Cereais.
A notícia esparramou-se, veloz como um raio, pela cidade quieta, desacostumada a novas desse jaez. Toda a gente bisbilhotou, assanhada. A novidade era de deixar o fortalezense de boca aberta. Mas o Fagundes enfrentara mesmo o Governador? perguntava-se,incrédulo. Era, não há dúvida, homem peitudo de fato. Já o sabiam, mas não para tanto.
O certo é que, no dia seguinte, cedo, cedinho, mal o sol despertara, os empregados do Governador, armados de machado, ameaçavam derrubar o cajueiro do Fagundes. Esse, munido de longa faca, juntamente com meia dúzia de magarefes, pôs em fuga os emissários de Mota Féu.
A notícia esparramou-se, veloz como um raio, pela cidade quieta, contaram ao Governador o que acontecera. o qual mais irritado ficou, determinando a ida ao local de uma leva de praças de polícia. Nesse ínterim, o afoito Fagundes, que tudo previra, provocou uma espécie de levante: trouxe para a rua 5 açougueiros do Garrote, os flandeiros da rua da Boa Vista, os merceeiros da rua Formosa, os carapinas da rua de Baixo, os ferreiros da rua do Quartel, até os pescadores da Prainha, todos os que tinham uma profissão no lugar. Traziam pistolas e bacamartes. A tropa carregou-os. Então levantaram trincheiras na encruzilhada das três ruas e abriram fogo contra ela, que recuou. Daí o nome das três ruas, perpetuando o episódio: rua do Cajueiro, rua das Trincheiras e rua do Fogo.
E, encerrando narrativa tão emocionante, Gustavo Barroso escreve:

“O governador desistiu de pôr abaixo o cajueiro, a cuja sombra o Fagundes continuou a vender carne à cidade. A vontade dum homem só, não conseguiu vencer a duma população inteira, O capricho dum tirano não conseguiu impor-se a uma gente que ainda tinha vergonha e brio. Defendendo sua liberdade contra a tirania, os antigos habitantes da humilde vila do Forte, como era chamada a nossa Fortaleza, deixaram escrito nas tabuletas de suas ruas um belo exemplo às gerações vindouras.”

Era assim o fortalezense intrépido e desenvolto. Pagava para não brigar, mas, quando na briga, pagava para não sair...

Perto, pertinho, branca de cal, erguia-se a velhíssima igreja do Rosário, e, logo adiante, quase nos fundos, na rua que lhe tomara o nome, hoje Cel. Bezerril, ficava outra árvore, também histórica para o filho da terra. Era o oitizeiro do Rosário, que a cidade inteira conhecia e amava. O oitizeiro-macróbio, como o haviam cognominado, muitos anos depois.
Ali o vimos, nos tempos da nossa meninice e assistimos, contristados, quando a picareta do progresso o prostrou, com o geral protesto de toda uma população.
Foi Gustavo Barroso, quem o cantou em página lapidar:

“Velho oitizeiro, contemporâneo da fundação da minha cidade natal, ninguém te cantou a vida centenária nem a morte breve. Não houve um Afonso Arinos para louvar a tua solenidade verde e triste como a do Buriti Perdido, testemunha silenciosa das bandeiras! Quando nasceste brotando tímido do solo arenoso, a vila do Forte compunha-se duma única rua torcicolosa, emparelhada ao curso do Pajeú. Aqui e ali, dela saía um beco de mocambos e casebres de taipas. A capela do Rosário, caiada de novo, dava-te as costas com desdém. Cresceste. A capela tornou-se igreja e a tua copa chegou ao beiral do seu telhado. Por cima dos cercados e das ateiras, vias para os lados do Garrote a histórica cúpula de verdura do Cajueiro do Fagundes, que o governador Luís da Mota Féu e Tôrres quis pôr abaixo, recuando diante do poviléu assanhado e feroz. E éreis as duas árvores tradicionais da cidade que se ia formando.
O cajueiro, que servia de açougue, morreu de velhice. Tu continuaste a crescer, a deitar raízes, a aumentar a fronde, no meio dos casebres barrigudos e escuros. Viste a displicência do viajante Koster, sentado ao luar numa “roda de calçada” da praça vizinha. Ouviste o taciturno murmurar do governador Sampaio. Avistaste o governador Rubim vendendo apressadamente as alfaias antes de regressar a Portugal. E estremeceste rudes vozes de comando de Conrado Jacó de Niemeyer, depois de vencida a revolução de 1824.
A cidade de Fortaleza foi crescendo contigo, lentamente, sob o sorriso azul do céu, alegre nas invernias, melancólica nas sêcas assassinas. E eras como o pastor no meio do teu rebanho de casas humildes, a cabeleira verde agitada ao vento do Atlântico como uma bandeira.
Oitizeiro velho, conhecias tôda a gente e tôda a gente te conhecia. Devia ser no teu tronco rugoso que o famigerado Padre Verdeixa amarrava o cavalo, quando ia em voz alta insultar, debaixo das sacadas do Palácio,
o Presidente padre José Martiniano de Alencar. É possível que certa noite se tivesse agitado a ramaria àtrepidação do estrondo do bacamarte que matou o major Facundo. Decerto tuas fôlhas mais altas presenciaram por cima dos telhados o enforcamento dos réus no largo à entrada do desaparecido beco do Cotovêlo.
Durante muitos anos, a melhor escola da cidade funcionou na tua vizinhança, em frente do antigo Quartel de Polícia. Escutavas, recolhido, a monótona cantilena dos meninos decorando a cartilha e a tabuada. E, quando os bolos da palmatória estalavam e os lamentos cortavam o ar, não sabias se era o decurião que castigava os alunos vadios, ou se era o delegado que mandava corrigir os escravos fugidos, os bêbedos, os vagabundos, os ladrões ou as rameiras.
A cidade que viste nascer fêz-se moça e tornou-se mulher. Em lugar das barrigudas casas de taipa, alevantaria-se sobrados. O arrôjo dos primeiros arranha-céus de cimento armado espantou a tua altura vigo­rosa. Os automóveis, fonfonantes, reclamavam tua queda, porque lhes estorvavas a velocidade, tu que conhecias uma por uma as velhas traquitanas de magras pilecas, alugadas pelo Golignac, mais velho do que elas. Não houve voz, pedido ou protesto que te salvassem. Condenaram-te à morte. E tu, que perderas a grade protetora, posta pela bondosa Câmara Municipal de 1877, que fôras amputado várias vêzes por estorvares as platibandas dos prédios próximos, desenraizado brutalmente, cortado e recortado em achas, acabaste como lenha oferecida pela nova edilidade às cozinhas da Santa Casa.
Mais nobre e útil do que os que te derrubaram, morreste dando o teu corpo para ferver a sopa dos enfermos e dos pobres.
No século XVIII, o povo revoltava-se para salvar um cajueiro. No século XX, os povos não se revoltam mais por causa duma árvore que viveu com êles. .. Os povos aos poucos perderam a alma.”

Passeio pelo centro, vendo-se a Praça do Ferreira na década de 50/60.
Acervo da família Lonngren Sampaio

Fortaleza de 1858, como eras encantadora, na tua modéstia e na tua simplicidade deliciosamente colonial.
Já tinhas comoventes histórias para contar-nos, nesse tempo. . . E com que esplêndidos episódios sabias tecer as tuas narrativas feitas com o heroismo e com a bravura do teu povo.., da heróica e da brava gente cearense.
Mais tarde, o poeta Paula Nei, teu filho dileto, em sonêto magistral, havia de evocar-te, emocionado, os olhos marejados de lágrimas, debruçado na amurada de um navio, vendo-te, distante, ao embarcar para a Côrte:

Ao longe, em brancas praias, embalada
Fortaleza, a loira desposada
Do sol, dormita à sombra dos palmares.

Fôra naquele 1858 que vira a luz do dia Francisco de Paula Nei, num recanto provinciano de terra nordestina...


Crédito- Astolfo Lima do blog Literatura Real

Jornal 'O Cearense' - Ano:1825


O jornal O Cearense era semanal.
Ele era publicado em Fortaleza na Tipografia Nacional. O número 1 é de 12 (Uma quarta-feira) e o 5º é de 22 de Janeiro. Tinha por lema "A opinião he quem avigora ou dezorganiza a ordem social" (Grafia da época).

Custava 80 réis o número avulso e a assinatura saia $200 por trimestre.
As folhas avulsas eram vendidas na Loja de Manoel Alves de Carvalho na Praça Carolina, "actual Conselheiro José de Alencar". Na realidade, hoje a Praça recebe o nome de Praça Waldemar Falcão.

Damasceno Vieira no capítulo 27 das "Memórias Históricas Brasileiras", volume II, dá esse jornal como existente ainda em 1828, e qualifica-o como um jornal neutro.

Barão de Studart


Fonte- Instituto do Ceará

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Guilherme Studart - Um Barão


Ceará, Terra do Sol. E do brilhantismo de homens como o Dr. Guilherme Studart - que se fez Barão não por condescendência de ordem política, mas tão somente por força de um merecimento inteiramente pessoal. Pelo reconhecimento ao humanitarismo de um ser iluminado a que poucos terão o privilégio de se dizerem conterrâneos. Toda uma vida dedicada à pesquisa histórica, ao resgate do fato mais longínquo que pudesse consolidar cada vez mais a nossa identidade cearense-brasileira. Um nobre não apenas de títulos, mas, sobretudo, nas atitudes para com o irmão mais humilde e desamparado. O médico capaz e devotado. Um homem, enfim, de fé inquebrantável.

Guilherme Chambly Studart, o Barão de Studart, (Fortaleza, 5 de janeiro de 1856Fortaleza, 25 de setembro de 1938) foi médico, historiador e vice-cônsul do Reino Unido no Ceará. Filho de John William Studart, comerciante e primeiro vice-cônsul britânico no Ceará, e de Leonísia de Castro Studart.

Fez os primeiros estudos no Ateneu Cearense, transferindo-se, posteriormente, para o Ginásio Bahiano. Matriculou-se, em 1872, na Faculdade de Medicina da Bahia, onde doutorou-se em 1877. Exerceu, durante muitos anos, a atividade médica, principalmente no Hospital de Caridade de Fortaleza.

Participou ativamente do movimento abolicionista no Ceará, como um dos membros da Sociedade Cearense Libertadora. Discordando dos meios defendidos por esta, desliga-se para fundar, ao lado de Meton de Alencar, o Centro Abolicionista 25 de Dezembro, em 1883.

Logo depois da morte do pai, em 1878, herdou o título de vice-cônsul britânico no Ceará.

Católico militante, dedicou-se à caridade e à filantropia. Como reconhecimento, o então bispo do Ceará, D. Joaquim Vieira, solicitou a autorga do título de barão da Santa Sé, concedido, em 1900, pelo Papa Leão XIII.

Foi membro de inúmeras instituições, destacando-se a Academia Cearense de Letras, o Instituto do Ceará, o Centro Médico Cearense, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, o Instituto Histórico e Geográfico Pernambucano, o Centro Literário, o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, o Instituto Histórico de São Paulo, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, o Instituto Histórico e Geográfico Fluminense, a British Medical Association, a Sociedade de Geografia de Paris e a Sociedade de Geografia de Lisboa.

Autor de inúmeros trabalhos nas áreas de Medicina, línguas (Elementos da Gramática Inglesa, 1888), Geografia e biografia. Foi na História, entretanto, que ele se destacou, publicando mais de uma centena de textos, entre artigos e livros, abordando, especialmente, a História do Ceará. Suas obras são, ainda hoje, essenciais para o estudo da matéria.

Sua batalha foi para que a memória do Ceará não se perdesse. Lutou e conseguiu desenvolver vários trabalhos, hoje fonte de pesquisas para vários historiadores do Brasil e de vários países. Uma de suas frases, proferidas diante de amigos e considerada a mais importante para muitos, foi quando já cansado pelos anos disse:

Cquote1.svgInicio hoje a publicação dos documentos relativos à vida do Brasil Colônia: vejo assim realizado um dos mais queridos projetos. Do que me pertence faço de bom grado, partilharem os amantes da história pátria, tendo como certo que eles encontrarão algum subsídio aproveitável ao cabedal que há anos vou acumulando e ora lhes é ofertado. A este volume muitos outros se seguirão, se as forças, já tão alquebradas mo consentirem.Cquote2.svg


Óbito do 3º Marquês de Viana atestado pelo Barão de Studart

O Barão de Studart foi o mais profundo e honesto historiógrafo cearense, cognominado o nosso Heródoto.

Figura exponencial dos meios culturais e católicos no Ceará.

Pertencia a um sem número de associações e sociedades nacionais e estrangeiras.

As obras de Barão de Studart e os documentos que redigiu para a História do Ceará formam valioso patrimônio para a cultura do Brasil.

Foi a figura máxima dos abolicionistas conservadores, não daqueles de João Cordeiro, de "Matar ou Morrer".

O Baronato que lhe outorgou a Santa Sé, com a assinatura de Leão XIII, no breve de 22 de janeiro de 1900, foi um dos prêmios de sua conquista enorme de bondades. A comenda foi solicitada pelo Bispo Dom Joaquim Vieira que conhecia sobejamente os refolhos d'alma do ilustre varão homenageado.

Faleceu em 25 de setembro de 1938 em Fortaleza. Foi um dos fundadores do Instituto Histórico do Ceará, expoente máximo da cultura Alencarina.

"Barão de Studart foi um dos maiores historiadores do Ceará. Foi até mesmo maior do que Capistrano de Abreu, para o estudo do Ceará. Pela abordagem e pela bibliofilia, dono da maior documentação crítica.
Barão de Studart era um historiador nato, valorizava muito a questão de documentos, a pesquisa era muito bem fundamentada. "


Crédito: Literatura Real, Diário do Nordeste,
Ceará Cultural e Revista do Instituto do Ceará
comemorativa do primeiro centenário de
nascimento do Barão de Studart

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Diário do Governo do Ceará - O pioneiro


Publicado em Fortaleza a 1º de Abril de 1824. Inscreve-se este como o primeiro jornal que teve a Provincia. O redator era o Padre Gonçalo Ignácio de Loiola Albuquerque e Mello Mororó. Foi Manoel de Carvalho Paes de Andrade quem de Pernambuco remeteu o material tipografico necessário à publicação. Isso mesmo diz o Ofício circular estampado no 1º número. O navio portador da tipografia foi a escuna de guerra "Maria Zeferina". A remessa foi comunicada à junta Provisoria do Ceará por Paes de Andrade em Ofício de 9 de Março.
O diretor dos trabalhos, Francisco José de Salles, que fez parte da revolução de 1824, foi preso e pagou com sacrifícios e atribulações o amor às ideias, que professava.
Seu nome figura na "Relação das pessoas, que mais se desenvolveram no malvado sistema republicano da capital da provincia do Ceará", feita na Secretaria de estado dos negócios da justiça, em 12 de Janeiro de 1825 e assinada por J. Carneiro de Campos.


Na Ata do supremo conselho (26 de Agosto) e no termo da instalação do Colégio para eleição dos deputados, que deviam compor do Governo supremo salvador (28 de Agosto) ele se assina Francisco José de Salles Jurubeba, diretor da Tipografia nacional.

O cabeçalho do novo jornal dizia assim:

Nº 1º Diário do Governo do Ceará
Preço 40 réis.
Cidade do Ceará - Quinta-feira, 1º de Abril de 1824.
Seguiam-se o 1º artigo sob o título 'Sessão do estabelecimento da typografia', o 2º sob o título 'Expediente' e Sub-título 'Officio Circular, o 3º sob o título 'Officio da Villa do Crato e o 4º sob o de 'Resposta ao Officio da Camara do Crato.

Embaixo da 4ª e última página dizia:
"Na typografia Nacional do Ceará".
O 1º número do Diário tinha 20 centimentro de comprimento e 14 de largura por página, rápido cresceu em tamanho e passou a custar mais caro, 80 réis o exemplar.

Era o seguinte o pessoal empregado:

Redator: Padre Mororó, com o ordenado de 400$;
Impressor: Francisco José de Salles, com ordenado de 300$;
Compositores: Felippe José Fernandes Lana e Urbano José do Espírito Santo (mais tarde Urbano Paz Jerepemonga) com ordenados cada um de meia pataca por dia, nos três primeiros meses, e com um aumento proporcional ao adiantamento que fossem mostrando.
Havia mais dois serventes com a diária de 200 réis.
Foi encarregado da venda do jornal e mais trabalhos que saissem da tipografia, o negociante João Bezerra de Albuquerque e o avô do desembarcador João Firmino e do Dr Raymundo Ribeiro.
Todos os ordenados eram pagos pela Fazenda Pública e ficaram assentados na sessão do Governo à 29 de Março de 1824. O redator e o impressor e o vendedor das gazetas tinham o pagamento em quarteis, os compositores mensalmente e os serventes por semana.
O Diário saia duas vezes por semana, às quartas e aos Sábados.

No intuito de favorecer a tipografia nacional expediu o Governo a circular determinando que os membros dos conselhos da Provincia se cotizassem em 6$ cada ano em benefício dela.
Para inteiro conhecimento do leitor quanto aos dizeres do primogênito do jornalismo Cearense, aqui vão transcritos os quatro artigos de que ele tratou, merecendo notar-se a lingugem usada:

"Sessão do estabelecimento da typographia - Em 29 de Marços de 1824. Abriu-se a sessão a horas competetes, leo-se a Acta passada, e achou-se conforme. Despacharão-se varios requerimentos de partes, e expedirão-se varias ordens, e officios. Tendo-se na sessão do dia vinte do corrente Accordado que o Governo faria a creação dos officiaes, que deveriam compor o trabalho da typographia nacional, e os ordenados, que deverão vencer, em quanto do rendimento della não podessem ser pagos: Acordou o governo, que seria o imprensario Francisco José de Salles enviado pelo Excellentissimo senhor presidente do governo de Pernambuco, e venceria o ordenado de trezentos mil réis annuaes pago pela Fazenda Nacional a quarteis, para coadjuvar ao Imprensario, e instruir a mocidade haverão dois ajudantes compositores: Felippe José Fernandes Lana e Urbano José do Espirito Santo com o ordenado cada hum de cento e sessenta réis por dia nos primeiros tres mezes, e dahi em diante, se lhe augmentaria o ordenado a proporção de seu adiantamento; haverão mais dois serventes com ordenado de duzentos réis por dia e finalmente haveria hum redactor do Diário do Governo, que seria o Padre Mororó, pessoa de instrucção e conhecimentos, que venceria o ordenado de quatrocentos mil réis, e todos os referidos ordenados serão pagos pela mesma Fazenda Pública, e recolhendo-se a ella o resultado da venda das folhas, e mais papeis, que se venderem, nomeando o mesmo Governo a João Bezerra de Albuquerque, negociante desta praça para vender em sua loja com o lucro de 8 por cento e outro sim, que as folhas, que se não occuparem meia folha de papel por um, e outro lado se vendão a vinte réis e as que passarem a outra página, se vendão a quarenta réia, porém se for folheto. o Imprensario como administrador da Typografia regulará o preço por que se deve vender, intelligenciará ao Gazeteiro, o Redactor inserirá nas suas folhas, composições e escriptos, os memoriaes, lembranças e queixas, que qualquer indivíduo lhe requerer, e da mesma forma o Imprensario as imprimirá quando lhe requererem, contanto que paguem a taxa estabelecida, e as aprezentem assignadas, e reconhecidas. O Redactor, Imprensario e Gazeteiro serão pagos a quarteis. Os ajudantes compositores mensalmente, os serventes como pessoas pobres semanariamente pela folha, que o Imprensario assignará para o Almoxarifado.

Expediente - Officio Circular - Temos uma typografia nacional enviada a este governo pelo excellentissimo presidente de Pernambuco Manoel de Carvalho Paes de Andrade, nosso honrado Patricio, que só se esmera no bem estar do Brazil. Esta vantagem real abre o caminho livre as nossas commodidades, e legitimos interesses, e he obra prima da liberdade do Brazil.

Officio da Villa do Crato - Temos prezente o officio de V. Excellencias do primeiro do corrente a que acompanharão por decretos de dissolução da assembléia constiuuinte, e legislativa do Brazil plenamente congregada no Rio de Janeiro; pela proclamação de sua magestade, imperial, o manifesto, insinuações para nova eleição de Deputados remettidos daquella corte; e apesar do laconismo que se observar em dito officio, elle veio por-nos em perplexidade pelo modo decizivo com que V. Excellencias, supremas authoridades desta provincia, mandão sem mais reflexão dar o passo preliminar para a perdição e desgraça dos que tem confiado em V. Excellencias a guarda, e defeza de seus inalienaveis direitos.

Resposta ao Officio da Camara do Crato - Recebemos de V. S. S. datado de 28 de Fevereiro pretérito. Nelle brilha o amor da Patria com rasgos tão vivos, quaes já não aumiramos em hum povo desde muito o mais briozo, e denodado. O nosso prazer, he summo; os nossos sentimentos iguaes; e esperamos continuem V.S.S. á dar ao Brazil inteiiro o espectaculo encantador do mais glorioso patriotismo. Sejão V.S.S. com as corajozas Camaras da Comarca-nova o alvo á que atirem com setas de amor e admiração todas as outras da provincia. Maldito seja o cearense, que não propugnar pela Liberdade de sua Patria! Deus guarde a V.S.S Palácio do Governo no Ceará 31 de Março de 1824 da Independencia e liberdade do Brazil. Illustrissimos Srs Prezidente e membros da Camara do Crato. Com as Rubricas do Governo."

Ao Diário do Governo do Ceará precederam a Gazeta do Rio de Janeiro[1808], A Idade do Ouro do Brazil, da Bahia[1811], Aurora Pernambucana[1821], Canciliador do Maranhão[1821], O Paraense[1822] e a Abelha de Itaculumy[14 de Janeiro de 1824].
Só três anos e meio (1º de Outubro de 1827) depois de publicado o Diário do Governo do Ceará foi que no Rio de Janeiro surgiu o Jornal do Commercio, o mais importante representante da imprensa na America do Sul.

É bom deixar claro que antes do Diário, houve na época do notável governador Manoel Ignacio de Sampaio, uma Gazeta, mas essa não era impressa, redigia-a o próprio Sampaio, que a fazia circular. Chamava-se Gazeta do Ceará.
O Diário foi o pioneiro, não existe no Ceará jornal impresso que fosse anterior ao do Pe Mororó.

"Intangivel, mysterioso esse jornal de nascença, vida e morte desconhecidas de todos e por todos!"

Barão de Studart


Fonte: Instituto do Ceará

domingo, 22 de agosto de 2010

Da glória ao esquecimento



A importância do rei dos animais contrasta com a modestia dos
frequentadores da praça Gentil Tibúrcio.

Em posição majestosa estão os leões da Praça General Tibúrcio. Trazidos de Paris, os reis dos animais, ainda que só da floresta, enaltecem a riqueza arquitetônica de um dos recantos mais tradicionais do centro de Fortaleza. Ostentando glória que um dia residiu na praça, os leões dão identidade ao espaço que é mais conhecido como a praça deles. Deles, os leões.
A área ocupada pela praça, hoje, ganhou relevância, inicialmente, por estar de frente para o que, na metade do século XIX, era a sede do governo cearense.
Recebendo assim três denominações: “Largo do Palácio”, “Pátio do Palácio” e Praça do Palácio”.
Em 1877, por decisão da Câmara Municipal, o espaço passou a denominar–se “Praça General Tibúrcio”, em homenagem ao cearense Antônio Tibúrcio Ferreira de Souza, que lutou na Guerra do Paraguai.
Um ano depois, imortalizou-se no centro da praça, um monumento em honra ao General, com a primeira estátua erguida no Estado do Ceará. Como na época as pessoas mais importantes eram enterradas dentro de uma igreja, Tibúrcio, por toda a sua coragem, ganhou importância e um monumento próprio, onde foram colocados seus restos mortais, localizado debaixo da sua estátua.
A praça está localizada no centro de Fortaleza, entre as ruas Sena Madureira, General Bizerril, São Paulo e Guilherme Rocha. Ela hoje forma um importante conjunto arquitetônico com a Igreja Nossa Senhora do Rosário, a Academia Cearense de Letras (Antigo Palácio da Luz) e o Museu do Ceará (Antiga Assembléia Municipal).

José Pereira, 50 anos de praça: muitas histórias.

Antes de fazer parte do conjunto arquitetônico, o local já foi cenário para a passagem de mais importantes figuras políticas. Conta José Pereira, de lúcidos 92 anos de vida, que no púlpito, que subiram desde parlamentares a mendigos a urinar, foi palanque até para discurso do ex - presidente Getúlio Vargas.
Pereira, como é conhecido na praça onde trabalha há mais de 50 anos, recorda saudosamente do seu primeiro abrigo, logo quando chegou a Fortaleza. Vindo da sua cidade natal, Jaguaruana, depois de quatro dias de viagem, encontrou repouso embaixo das frondosas copas das árvores da praça.
Chegou à capital “sem lenço, sem documento”, com a vontade inabalável de vencer na vida. A praça foi palco de todas as suas tristezas, alegrias, superações. Seu primeiro emprego foi no Sombreiro Bar (atual Restaurante Lions), local onde já funcionou o mais importante restaurante de Fortaleza. No prédio também funcionava o Hotel Brasil, o mais renomado da cidade. Ele abrigava todas as ilustres figuras que pela cidade passavam.
Hoje, Pereira trabalha em uma banca do Paratodos, uma ilegalidade nordestina, que a polícia finge não ver. Exerce essa atividade com o prazer de retornar todos os dias para o seu primeiro porto.
A Praça General Tibúrcio já foi área nobre de Fortaleza.
Hoje, com a expansão da cidade, o centro se tornou um espaço mais comercial, que funciona de 8h da manhã às 18h da noite. Com isso, a praça perdeu sua vitalidade.
Pereira conta que há quarenta anos, os ricos e boêmios freqüentadores da praça, podiam chegar bêbados, portando bens de valor e se darem ao luxo de adormecer nos bancos. Ao acordarem percebiam que nada lhes faltava. Com a desvalorização do centro como área nobre, a praça passou a abrigar almas marginalizadas e prostituídas.
Muito dos comércios que hoje existem nas proximidades, antes eram motéis. Esta realidade contribuiu para que a praça deixasse de ser bem freqüentada e que seu espaço não fosse utilizado devidamente. De acordo com o cambista Emanuel Mendes, que trabalha na praça há
mais de 30 anos, chegou uma época que não se podia andar na General Tibúrcio em plena luz do dia, sem ser assaltado.Emanuel freqüenta a praça desde criança. Visitava todos os dias, quando ia deixar o almoço dos pais e tios, que lá trabalhavam como cambistas.

A estátua de Rachel de Queroz: agrega valor à praça apesar da ação de vandalos.

Ele vivenciou uma época quando ainda havia um estacionamento na Rua General Bizerril, que acabou quando construíram um calçadão que interliga a praça ao comércio de papelarias. Emanuel lembra que, depois da construção do calçadão, passou a funcionar o comércio, que
hoje é conhecido como beco da poeira. Depois de muito tempo o comércio foi retirado da General Tibúrcio, por conta da sujeira deixada.
Outra presença ilustre está sentada em um banco de madeira ao lado de uma árvore peculiar da praça, Ficus – Bejamim: uma estátua da Rachel de Queiroz, no auge de sua elegância. Ela foi colocada no começo de 2005, e presencia o atual cotidiano do logradouro, que flutua desde a comercialização do corpo até o exercício da solidariedade.
Fernando Moreira, porteiro da Academia Cearense de Letras, Conta que Rachel gostava muito da praça. Por conta dos vândalos, havia a intenção de colocar a estátua dentro da Academia Cearense. familiares da escritora porém fizeram questão de que ela fosse colocada no local que mais gostava. A vida da praça começa com a chegada dos comerciantes. O comércio abre, o sol esquenta, mas ela continua com sua sombra e ar fresco. Propício para receber quem está enfadigado dentro das lojas, quem espera alguém ou até mesmo quem passou a noite catando latas na cidade. Paulatinamente começa a se formar um grupo de amigos, batizados legalmente como: Associação amigos do Dominó. São aposentados, advogados, comerciantes, policiais fora do horário de serviço, que brincam” por distração, para passar o tempo, a labuta.
Os amigos do dominó formam uma associação muito organizada, que se instalou na praça há mais de 15 anos. Para participar tem que cumprir a regras, para que não vire bagunça, nem prejudique ninguém. Só pode jogar quem for associado e apresentar a carteira de associado.
As regras consistem em: Não pode... Fumar quando estiver jogando; Estar embriagado;
Jogar com pessoas estranhas; Eles começam a jogatina logo cedo e se tiver componente
vão até anoitecer. O aposentado Francisco Ribeiro da Silva, 72, vai todos os dias, de ônibus, do bairro Benfica, para a praça, só para jogar. “É meu divertimento”, diz ele. A associação é sem fins lucrativos. O presidente da associação pede apenas para que os conveniados contribuam com um presente infantil, para animar as festas organizadas pelos amigos do dominó no dia das
crianças e no Natal. Essa festa é feita anualmente, para crianças carentes que vivem perto da praça.
A Praça dos Leões é espaço para muitas manifestações de caridade. No logradouro, também acontece de terça a quinta-feiras um sopão, ofertado pela Catedral de Fortaleza, que alimenta pessoas carentes que rodeiam a praça. São distribuídos cerca de duzentos copos. A sopa é feita com os donativos doados na Igreja do Rosário e na Catedral.
A praça que ainda preserva a passagem do antigo bondinho, que funcionava antes do automóvel dar o ar da sua graça, recebe visitantes de todos os tipos. Seja para visitar a Igreja; seja para visitar a Rachel, que tem melhorado a freqüência dos visitantes da praça; seja só de passagem, quem desceu ou quem vai pegar o ônibus; seja para fazer o comércio do café, de livros ou até do próprio corpo; seja para engraxar os sapatos; seja para fazer uma aposta no jogo do bicho. E no passar do dia, pode – se observar a quantidade de vidas, de objetivos, de realizações, de esperanças, de um momento de cada um que passa por ali.
Independente do sexo, idade, cor, raça ou religião. Todos que contribuem direto ou indiretamente para a história da praça, que há muito morre e revive.


Crédito: Isabella Purcaru

Arquitetura da Igreja Nossa Senhora do Carmo

Registro do Álbum Vistas do Ceará de 1908

A Igreja do Carmo nasceu de uma simples capela no mesmo sítio onde hoje se ergue a Matriz, lugar que era considerado distante do Centro povoado de choças de palha. O Arquiteto Francês Antônio Francisco da Rosa, recebeu a incumbência de traçar uma planta e de executar os referidos trabalhos que consistiam no aumento do frontispício da capela e do corpo da nave.
Em 1879, o arquiteto Adolfo Herbster, como cita João Brígido foi contratado e uma nova planta semelhante a atual igreja foi elaborada. Os trabalhos tomaram impulso graças ao Governo Provincial e aos fiéis que contribuíram com esmolas e materiais. Com a seca dos três sete 77, 78 e 79 a igreja ficou com as três naves e o consistório, toda coberta, ainda sem torre, deu-se então a transferência da capela para os cuidados da congregação de Nossa Senhora do Carmo. Transcorrido quatorze anos de transferência, no dia 25 de Março de 1906 procedia-se a benção da nova igreja, com a sagração de um sino e a celebração da missa, pelo Monsenhor Bruno Figueiredo.



Em fins do século passado quando Fortaleza só tinha duas freguesias e bem poucas igrejas uma irmandade foi organizada no âmbito da matriz do Patrocínio com o intuito de construir um templo a ser dedicado a Nossa Senhora do Livramento, no largo que após o início da obra passou a ser conhecido por esse nome. Não se sabe quando foram lançados os alicerces mas em 1870 o mestre Rosa foi solicitado a dirigir os trabalhos, ainda em 1874 a obra estava sem coberta e em 1879 recorreu-se a Adolfo Herbsten para que fizesse uma nova e definitiva planta. Chegava o século XX e a igreja com a parte principal coberta mas sem torre e acabamento, não estava concluída. Finalmente em 25 de março de 1906 a igreja foi aberta e entregue ao culto. Em 1915 foi criada a Paróquia do Carmo. Em 24 de Janeiro de 1921 foi inaugurado o monumento Nossa Senhor da Paz colocado inicialmente mais distante da fachada debaixo dos degraus de acesso ao patamar mas que mudou de lugar em 1966 para permitir um alargamento da Avenida Duque de Caxias.



Crédito da foto: Alex Uchoa

No seu pedestal existe uma placa com as datas de sua aquisição e ereção. A imagem da padroeira veio de Portugal e por falta de pagamento de imposto aduaneiro ficou retida na Alfândega. Foi leiloada e comprada pelo Sr. José Rosas que não concordou em cedê-la, por dinheiro algum, mas a entregou gratuitamente quando adoeceu. As imagens de São Pedro e São Paulo foram doadas pelo Sr. Pedro Filomeno e Anastácio Braga em 1944, e entre 1948 e 1962 foram feitas várias reformas na renovação do telhado de amianto, a aquisição de dois sinos, um de 115 e outro de 75 quilos fabricados em São Paulo, também se construiu três apartamentos para os padres em cima da sacristia que dispensou o uso de casa paroquial que ficava no ângulo sudoeste do encontro das Ruas Barão do Rio Branco e Clarindo de Queiroz. A igreja com planta em cruz latina, conserva embora em desuso as tribunas e o púlpito metálico, assim como as varandas das tribunas. Há uma única torre no centro da fachada do estilo barroco, cada porta (3) está coroada por um óculo, a torre inicia quadrada e torna-se octógona no campanário. Os corredores laterais são de 3m de largura, a nave principal tem 7 metros. A largura total externa chega aos 15 metros e o comprimento é de 40 metros. O portal é base da torre e tem 4 metros e é onde se localiza o batistério sobe a guarda de uma imagem de Nossa Senhora do Livramento, possivelmente original da primeira capela. A direita se encontra a escada de acesso ao coro e ao campanário. O forro sob as tribunas e da nave principal é de madeira. No transepto uma pintura do artista Raimundo RamoscotocoFilho de 1904.


Fonte: Praça do Carmo; Site: Centro de Fortaleza

sábado, 21 de agosto de 2010

A Pequeno Grande e os órfãos


Foto do Livro Royal Briar, a Fortaleza dos anos 40

A Igreja do Pequeno Grande fica na Praça Figueiras de Melo.
Pedra fundamental: 27 de novembro de 1896
Data de Inauguração: 21 de novembro de 1903
Estilo: Neogótico
Autor: Isaac Correia do Amaral e Robert Gow Bleasby
Rua: Santos Dumont

Centro Histórico: A história da Chamada Igreja do Pequeno Grande se inicia em 5 de agosto de 1856, quando a Lei 759 criava em Fortaleza a primeira casa de educação e recolhimento de meninos órfão, em 1866 extinguiu-se aquela casa pioneira e foi criado o Colégio das órfãs, sob a orientação das irmãs de São Vicente de Paulo e já com o nome de Imaculada Conceição. A primeira Superiora foi a Irmã Margaret Baset, que faleceu em 1887, no seu lugar ficou a irmã Gaynè, em cuja administração foi construída a Capela do Pequeno Grande, ou Capela da Imaculada Concepção em 1903. A Igreja do pequeno Grande se insere em um esplêndido conjunto arquitetônico, formado pelo Colégio da Imaculada Conceição, ocupando um quarteirão frente à Praça Figueiras de Melo onde se encontra a Escola Normal, Escola Justiniano de Serpa e a Escola Jesus , Maria e José que se encontra na lateral oeste. A Historia da Igreja do pequeno Grande esta intimamente ligada à historia do Colégio da Imaculada Conceição.

A pedra fundamental foi lançada em 1896, pelo Pe. Chevalier, como capelão do Colégio. As obras sofreram paralisação um ano depois, sendo reiniciadas em 1898, até sua conclusão em 1903. Com doações das próprias irmãs e de diversas instituições arranjaram recursos para as obras. A estrutura metálica foi trazida da Bélgica, e a montagem esteve a cargo do mestre de obras Deodado Leite da Silva. A planta da igreja consta de nave única, com pórticos de perfiles metálicos em forma de H que formam sua estrutura de coberta, o telhado com inclinação acentuada, formando um angulo obtuso bastante fechado dando um teto pontiagudo, pouco comum em nossa arquitetura. No abside se apresentam os perfis como médios pórticos formando um polígono.

Postal antigo

Aparece outro elemento metálico que são os cabos de aço cuja função é evitar os empuxo da estrutura no sentido horizontal. Nas paredes laterais as rosáceas lobuladas que também servem de elementos estruturais e porque não decorativos. As Paredes de tijolos não tem função estrutural, já que a estrutura esta concentrada nas colunas e pórticos de ferro.

Revista do Instituto do Ceará - Liberal de Castro - Arquitetura de Ferro no Ceará:

Do ponto de vista cronológico, provavelmente a primeira obra de arquitetura do ferro do Ceará foi a nova capela do Colégio da imaculada Conceição, mais conhecida por Igreja do pequeno Grande, iniciada em 1896, seria pelo menos contemporânea da construção do Mercado da Carne, apesar de ter obras prolongadas por vários anos, pois foi inaugurada somente em 1903. A Igreja do Pequeno Grande vinha substituir a pequena e antiga capela do Colégio, ainda hoje de pé. A Igreja tem vão único, sendo contornada exteriormente por paredes de alvenaria de tijolos sem função estrutural. Conforme os padrões neogóticos adotados no país, possui torre axial única. A coberta, íngreme, é revestida com telhas planas de ardósia, material cuja imitação entrou em moda nos avarandados de muitas casas fortalezenses na época. O respaldo das paredes exteriores é pontuado com pináculos e os vãos nelas inseridos aparecem coroados por tímpanos ogivais, cegos e argamassados, na ocasião, já comuns na cidade. Todos esses vãos estão preenchidos por vitrais exibindo efígies de santos correlacionados com a irmandade, principalmente na abside, cujos paneis de contorno se desdobram em planos amplos. No interior da igreja, figuram excelentes obras de marcenaria (Retângulo e púlpito) Trabalhadas com motivos neogóticos em pinho de Riga. No forro, que acompanha a inclinação das abas de coberta, aparecem pinturas devotas. Há um grande número de imagens de terracota, todas executadas por Heaulne Busine, da cidade de Lille, na França. Há referencias de que a estrutura da Igreja teria procedência belga e o autor do projeto seria Isaac Correia de Amaral , cearense de Guaramiranga educado na Alemanha e amador de arquitetura, Amaral foi responsável por outros projetos fortalezenses do período, tais como a Igreja dos Remédios, no Benfica, hoje com interiores alterados, e o de um teatro inconcluso e posteriormente demolido no meio da Praça Masquês de Herval (Praça José de Alencar).

Postal antigo

Amaral em outros projetos e neste, fez parceria com o já mencionado engenheiro escocês Robert Gow Blasby, radicado no Ceará desde o último decênio do século XIX, provável encarregado de definir os elementos construtivos dos projetos. A estrutura de Ferro foi montada com o auxilio do mestre de obras Deodato Leite da Silva. O templo é dedicado à Nossa Senhora do Carmo, e foi inaugurada com a Benção dos beneditinos, foi toda decorada com peças francesas. O altar, o piso, as imagens tudo veio da França, marcando a influência européia em Fortaleza. Em 1996 a Igreja passa pela primeira vez por uma grande reforma, teto piso e pintura, respeitando sempre o estilo original, a eletricidade também foi reformada. Os sinos da Igreja são de 1903 e vieram da França, são três sinos, sendo o primeiro com o som Mi , pesando 100 quilos, o segundo com som de Fa e 85 quilos, e o terceiro com som de Sol e 72 quilos. Os sinos em 1983 foram adaptados para tocar computadorizados e tocaram apenas o que chama-se de festa, ou seja, repicam.



Fonte: Ofipro
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