Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Igreja do Rosário

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Mais antigo templo de Fortaleza. Em 1730 era somente uma capela de taipa e palha. Em 1755 foi refeita com pedra e cal. Foi a matriz da cidade de 1821 a 1854. Fica na rua do Rosário nº 2
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Postal antigo da igreja

Construída em taipa pela comunidade negra de Fortaleza, em 1730, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário está situada na Praça General Tibúrcio (dos Leões), fazendo parte de um conjunto arquitetônico que inclui ainda a Academia Cearense de Letras (antigo Palácio da Luz) e o Museu do Ceará (antiga Assembléia Provincial). Já foram procedidos os trabalhos de prospecção da pintura interna e externa, bem como recuperados o telhado e as instalações hidráulicas, sanitárias e elétricas. No momento, prossegue o trabalho de investigação arqueológica para identificação das ossadas encontradas sob o piso da igreja.



Em 1892, na revolta contra o governo, uma bala de canhão de 11 quilos utilizada no bombardeio do Palácio da Luz foi arremessada contra a porta principal e arrebentou o púlpito, 2 balaustres da mesa de comunhão e a parede que dar para o corredor esquerdo, depois destruiu o altar de Nossa Senhora das Dores, outra bala dessas desmontou o General Tibúrcio de seu pedestal.
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"É constante a tradição que um preto africano pelos anos de 1730 em diante erigiu uma capelinha a Nossa Senhora do Rosário, no local em que se acha hoje a desse nome, a qual ficava um pouco afastada da vila. Esta era, como toda construção daqueles tempos, de taipa e de palha. Nela rezavam os pretos seus terços, novenas e outros atos de devoção"

MENEZES,Antonio Bezerra de. Descrição da cidade de Fortaleza:Edições UFC, 1992, P. 162.

Como vemos nesta transcrição de Bezerra de Menezes a construção do templo destinado aos cultos a N. Sr(a) do Rosário data do século XVI,porém, não sabemos ao certo a data precisa dos inícios dos trabalhos da Irmandade do rosário que transformaria esta construção de taipa no que conhecemos hoje como a atual igreja do Rosário. Igreja mais antiga de Fortaleza.

Em Fortaleza, vila nascente onde estava instalada a administração da Província do Ceará Grande, como em muitas outras cidades do Brasil, os homens de cor, embora não fossem em grande número, procuraram, desde cedo, ter o seu próprio templo, já que eram discriminados nas igrejas construídas pelos brancos. E, assim como em outras partes, sua devoção dirigia-se a Nossa Senhora do Rosário, considerada sua Padroeira.
A tradição diz que já em 1730, um preto africano construiu, no mesmo local onde está a atual, uma capelinha, de taipa e palha, onde os negros rezavam terços e novenas, na época bastante distante da Vila, centralizada em redor da Matriz de São José.

A Primeira Festa

A primeira festa dedicada a Padroeira realizou-se ali no dia 27 de outubro de 1747, cobrando os padres que funcionaram nos atos religiosos a quantia de 10$000 pela missa e 7$000 pela música. A partir de então, todos os anos, vinham os pretos, escravos ou forros, nos bandos de congos dançar na Noite de Natal em frente à Igreja, para festejar a Virgem. Era grande o número de pessoas que vinha prestigiar a solenidade, inclusive autoridades. Em certas ocasiões a festa do Rosário alcançava raro esplendor. Como lembra João Nogueira, em sua "Fortaleza Velha" era festa de pretos, mas levada com grande pompa e luxo, as negras escravas ostentando cordões de ouro, brincos e jóias de valia, que suas bondosas senhoras lhes emprestavam para que se apresentassem como o espavento e brilho exigido pela importância da missa e coroação dos reis.
Assim, era na igrejinha do Rosário, toda caiada de novo, que se procedia ao ritual da coração do rei, do rei dos Congos, do rei do Rosário, com sua rutilante coroa à cabeça, seu vistoso manto de tecido de algodão aveludado, de um vermelho vivo, contrastando com colete verde e calças azuis, e sempre acompanhado de sua corte, de onde se destacavam as figuras do "príncipe" e do "secretário", com seus chapéus de abas largas enfeitados de brilhantes conchas.
E pelas ruelas nascidas na beira do mar, rumo ao sul vinha o cortejo, cantando e executando bailados e jogos de agilidade, simulando combates, rumo ao Rosário.

O Secretário, então, perguntava: Os pretinhos dos congos, pra onde vão?
O coro respondia: Nós vamo pro Rosário. Festejá a Maria.
Secretário: Oh! Festeja, oh festeja, oh festeja. Com muita alegria.
Coro: Nós vamo pro Rosário, Festejá a Maria.
Secretário: É de zambi a pumba. É de bambê.
Coro: Miserere, miserere. Misere rê.
Secretário: Papaconha, papaconha. Peneruê.
Coro: É de zambi a ponga. E qui bambê.

Maria Moreira e Joana Rodrigues, filhas de Jorge Rodrigues, atendendo ao seu pai, fizeram doação à Santa, em 28 de novembro de 1748, de terras na estrada que ia para Porangaba no rumo de Porangabuçu, com mais ou menos um quarto de légua de comprimento, por três quartos de largura. Esse patrimônio ainda existe, produzindo renda sob a forma de fóros e laudêmios.
Havia uma Irmandade, com dirigentes negros e um Juiz (Presidente) branco, porém, no início, o grupo tinha dificuldades em manter o imóvel em perfeitas condições, tanto que, em 1753 a igrejinha estava ameaçada de cair e com a permissão das autoridades eclesiásticas, iniciaram-se a reconstrução, em pedra e cal, que em 1755 ficou pronta.
Em 1821, a Matriz de São José estava em ruínas, precisando ser reconstruída. Tendo a vila crescido para o lado da Igreja do Rosário, foram passadas para esta, em procissão, o Santíssimo Sacramento e todas as imagens, passando ela a funcionar como Matriz até 2 de abril de 1854, quando as imagens voltaram à Matriz.
Sendo a Igreja unida ao Estado, os templos eram usados para realização de atos públicos. Ocorrendo um conflito mais grave quando das eleições realizadas em setembro de 1848, resultando em derramamento de sangue dentro do próprio recinto sagrado, a capela foi interditada, sendo posteriormente arrombada pelos líderes de um dos partidos.
Ao tempo em que era presidente da Província o bacharel Francisco Xavier Paes Barreto, o vice-presidente José Antônio Machado mandou proceder nova reforma que terminou em 1855.
Em 1872 o capitão João Francisco dos Santos, procurador dos bens patrimoniais ficou encarregado de limpar, assear e decorar o templo. A Igreja do Rosário sempre foi mantida com recursos próprios, advindo de grande terreno a ela doado em 1748, terrenos esses que se estendiam desde o local da igreja até o sítio Damas. Em 1871, entretanto, seus recursos se esgotaram e o então presidente José Antônio Calazans Rodrigues (Barão de Taquary) encaminhou pedido que só foi atendido na gestão seguinte, de João Wilkens de Mattos, importando na quantia de 2.000$000 (dois contos de réis), da Lei Nº 1440 de 2 de outubro de 1871. Mas a verba destinada ao trabalho no templo era insuficiente e o presidente teve de complementar com pagamento de férias por conta da verba "Obras Públicas", ficando a obra concluída ainda em 1872.
O cronista Mozart Soriano Aderaldo, em "Variações em torno da Catedral", revela que a 16 de fevereiro de 1892, na revolta contra o Presidente General José Clarindo de Queiroz, promovida por Floriano Peixoto e executada pelos alunos da Escola Militar, uma bala de canhão, de 11 quilos, das utilizadas no bombardeio do Palácio da Luz - vizinho à igreja - foi arremessada contra a sua porta principal e, penetrando por ali arrebentou o púlpito, 2 balaustres da mesa de comunhão e a parede que dá para o corredor esquerdo; depois, em ricochete, destruiu o altar de Nossa Senhora das Dores e mais 3 balaustres. Outra bala dessas apeou o General Tibúrcio do seu pedestal, em episódio mais conhecido, no qual salientou-se o caráter daquele militar cearense: mesmo nessa hora, ele caiu em pé!
Mas a igreja a que nos referimos até agora não é exatamente esta que hoje lá está, há muito desvinculada dos devotos de cor, relembrando um tempo bem recuado da nossa história. Várias reformas nela foram processadas, além das já citadas. Em março de 1929 abriu-se novas janelas na altura do primeiro andar, em julho de 1935 foram construídos dois nichos, ao lado do sacrário, com Nossa Senhora do Rosário e Santa Teresinha e, por último, em setembro de 1938, repetiu-se o episódio de 1821: a Matriz de São José foi demolida para construção de uma nova e a Igreja do Rosário passou a ter as honras de Catedral, embora muitos atos, mais solenes, viessem a ser realizados na Igreja do Pequeno Grande.
Foram necessários, outra vez, trinta anos, para a construção da nossa nova e esplêndida Catedral, durante os quais a Igreja do Rosário funcionou como a principal de toda a Arquidiocese!
A Igreja do Rosário é testemunha de fatos históricos importantíssimos, dentre eles a deposição de Nogueira Accioli em 1912 e as trincheiras de 1914 feitas para receberem os jagunços da "Sedição de Juazeiro".

Raro postal editado em 1900
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A capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário foi construída com o esmero dos escravos do nordeste brasileiro, acredita-se, em 1730. De princípio, era taipa e palha, na cadência de acolher a devoção a Nossa Senhora das Dores e à do Rosário. 25 anos depois, veio a pedra e a cal. Desde os séculos passados, o templo já fora cenário de graves conflitos políticos, balas de canhões, celebrações ecumênicas e muitas reformas.
Em 2008 teve as portas fechadas por seis dias, culpa de assaltos freqüentes. 
"Hoje digo: sento sem medo nos bancos de madeira, olho a Flor de Lis na parede direita do altar e escuto um rufar de tambores afro-brasileiros, homens da pele ferrada pela mesma imagem estampada em azul. Aquela flor estava debaixo de 85 camadas de tinta antes da restauração e está na memória da pele de peitos e de braços negros. Sob meus pés, estão dezenas de corpos pretos e mumificados. À minha esquerda, de pé e olhando a Academia Cearense de Letras – o antigo Palácio da Luz, jaz Major Facundo, homem por quem resguardo menor apreço, mas não ligue."

A igreja guarda uma simplicidade tamanha. É bela para muito além do óleo de banana desfilado em ouro nos ornamentos do altar. É graciosa por muito mais que o silêncio das imagens de homens e mulheres santificados pela religião. Muito embora o cotidiano ela receba, pelos corpos cansados orando em silêncio, está também no passado, feito uma pedra mais teimosa que a erosão. Emociona, não posso negar.

Paulo César, agente pastoral enamorado da construção

 Igreja do Rosário 

Esta foto foi encontrada num encarte contendo diversas fotos, oriundas do Arquivo do Nirez, de igrejas antigas de Fortaleza. Nesta aparece um bonde, possivelmente de uma das linhas de então, Outeiro (que posteriormente passou a denominar-se Aldeota), Praia de Iracema ou Prainha, que um dos consultados (gente da velha geração) afirmou ser Prainha-Seminário (o que faz sentido, pois o ponto final ficava próximo do Seminário, na Prainha). Dr. Zenilo Almada acha que não houve linha com essa denominação. A rua era a então Coronel Bezerril, hoje General Bezerril. A Praça ao lado chama-se General Tibúrcio, mais conhecida por Praça dos Leões devido a existência de duas belas esculturas encimando a escadaria de acesso da ou para Rua Sena Madureira. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, inaugurada no Século XVIII, é considerada a mais antiga de Fortaleza. A foto data de 1908. A edificação grande, ainda existente, era do então Hotel Brasil. A parede ao lado da palmeira é dos fundos da antiga Assembléia Legislativa. Entre o Hotel e a Assembléia divisa-se a Travessa Morada Nova, onde posteriormente passaram a trafegar os bondes das citadas linhas. Na época os bondes iam até mais adiante, ingressando na Rua Guilherme Rocha, parando ao lado da “Rotisserie”, acho que se chamava Palácio Brasil, entrando depois na Rua Floriano Peixoto rumo aos seus destinos. (Adolpho Quixadá)
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Dados Importantes:

  • Em 28 de Abril de 1742 - O visitador Lino Gomes Correia, ao passar pela vila de Fortaleza, determinou que os senhores de escravos lhes dessem o dia de sábado livre para granjearem o sustento e nos dias santos para a Igreja de Nossa Senhora do RosárioA igreja foi reformada em 1753.

  • Em 06 de Maio de 1853 - Salvador (BA): Rodolfo Teófilo, que sempre se disse nascido em Fortaleza, onde se batizou na igreja do Rosário, no dia 1 de outubro do ano do seu nascimento. Pioneiro do sanitarismo no Brasil, recebeu do Congresso Nacional o título de Varão Benemérito da Pátria. Romancista, novelista, contista, poeta, historiador das secas, autor de livros científicos. Filantropo. Pertenceu ao IHGB e Instituto do Ceará. Entre seus livros: A Fome (1890), Os Brilhantes (1895), O Paroara (1899), Sedas do Ceará (1901), Cenas e Tipos (1919). Patrono da cadeira nº 33 da ACL, inaugurada por Perboyre e Silva. Falecimento em 2 de julho de 1932.

  • Em 09 de Agosto de 1902 - A pintora Isabel Rabelo da Silva oferece ao Bispo Dom Joaquim José Vieira a reprodução de duas telas (A Descida da Cruz, de Rubens; A Assunção da Virgem, de Murilo) que foram colocadas na Igreja do Rosário.

  • Em 20 de Maio de 1929 - Em sessão do Instituto do Ceará o consórcio Antônio Teodorico profliga a derribada do tradicional oitizeiro, existente nos fundos da igreja do Rosário.

  • Em 16 de Abril de 1931 -Na igreja do Rosário, Monsenhor José Quinderé celebra uma missa em sufrágio da alma do cearense Dr. João Cruz Saldanha, recentemente falecido no Rio.

  • Em 14 de Maio de 1931 - Na igreja do Rosário, tem começo um Tríduo em honra de Nossa Senhora de Fátima, por iniciativa dos portugueses domiciliados no Ceará.

  • Em 11 de Setembro de 1938 - Derradeira missa, celebrada na antiga de Fortaleza, pelo Arcebispo D. ManuelÀ tarde, a imagem de São José foi conduzida processionalmente para a igreja do Rosário, falando por essa ocasião o Sr. Arcebispo e o Prefeito de Fortaleza.

  • Em 19 de Abril de 1940 - O Governo do Estado promove festas comemorativas do aniversário natalício do Presidente Getúlio Vargas: - pela manhã, missa gratulatória na igreja do Rosário, e, à noite, sessão cívica no Teatro José de Alencar, durante a qual discursaram os Srs: Dr. Andrade Furtado, Heráclito Silva Thé, Antenor do Vale Lima, Eusébio Mota, Antônio Fiúza Pequeno e o Interventor Menezes Pimentel.

  • Em 10 de Maio de 1942 - O Arcebispo Dom Antônio de Almeida Lustosa conclui, na igreja do Rosário, as pregações preparatórias da Páscoa dos Intelectuais.

  • Em 21 de Abril de 1943 - Tamanha tem sido a afluência de ouvintes, que estão sendo irradiadas para a Praça General Tibúrcio as pregações do Pe. Hélder Câmara na Igreja do Rosário, preparatórias da Páscoa dos Intelectuais.

  • Em 14 de Março de 1950 - Falece, nesta capital, Dom Manuel da Silva Gomes, Arcebispo Resignatário de Fortaleza, tendo o fato causado profunda consternação. Trasladado para a igreja do Rosário, onde esteve exposto à visitação pública, seu corpo foi sepultado na cripta da Catedral em construção. Dados biográficos: ver ‘O Nordeste’ desta data.

Foto de Manilov
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Créditos: Fortal, CityBrazil, Fortaleza no CentroMaracatu rei do Congo e Portal da história do Ceará

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os antigos Cemitérios de Fortaleza

Em 1844, o Poder Público determina a edificação de um cemitério público, o Croatá ou São Casimiro. A decisão de onde seria o campo-santo foi dos então médico da pobreza, cirurgião mor da província e cirurgião ajudante do Corpo Fixo de Caçadores. A área vizinha ao morro do Croatá foi escolhida por reunir as condições necessárias ao empreendimento. O local ficava a sotavento da cidade e as exalações prejudiciais aos citadinos seriam dispersas pelos ventos. O projeto obedeceu critérios matemáticos que levaram em consideração a tabulação do número de falecimentos dos anos de 1845 (294), 1846 (286) e 1847 (170). A notícia da criação da necrópole foi publicada na edição do jornal O Cearense, de 3 de fevereiro de 1848.

Local do antigo Cemitério de São Casimiro. Foto Assis Lima


Foto do século XIX. No lado poente funcionava o Cemitério de São Casimiro e lado leste o dos protestantes ingleses.

O Morro do Croatá ficava contíguo onde hoje está a Praça Castro Carreira, a Praça da Estação. Com a epidemia do cólera, em 1856, foi acrescida uma área ao São Casimiro para sepultamento daquelas vítimas especificamente. O novo espaço foi separado por grade de ferro do plano já existente anteriormente.



O que foi previsto aconteceu muito mais rapidamente do que se imaginou. Dezesseis anos depois o cemitério já se encontrava muito próximo ao Centro e com o agravante de estar sendo soterrado pelas dunas. A realidade é que eram dois cemitérios, porque os protestantes e demais acatólicos (que não são católicos) eram enterrados num cemitério privado que ficava vizinho ao São Casimiro, administrado pela Santa Casa de Misericórdia, o que foi oficializado em lei provincial de 1860. O privado ficava sob a responsabilidade da empresa Singlehurst & Co.

Em 02 de Janeiro de 1848 é Assentada a primeira pedra para construção do primeiro cemitério de Fortaleza, o Cemitério de São Casimiro(*) (ou de Croatá), no Morro do Croatá, em terreno doado pela família Braga Torres.



Exumação dos restos mortais do Boticário Ferreira 
Em 08 de Maio do mesmo ano, inaugura-se o Cemitério de São Casimiro(em homenagem ao governador que autorizou a construção, Casimiro José de Morais Sarmento), edificado em virtude da Lei Provincial nº 319 de 01/08/1844 e que seria desativado em 1866 com a construção do Cemitério de São João Batista, para onde foram trasladados alguns corpos.
A construção esteve a cargo do tenente Juvêncio Manuel Cabral de Menezes.


Fachada antiga do Cemitério de São João Batista sendo demolida - Arquivo Nirez


O Cemitério de São Casimiro estava localizado no Campo da Amélia, hoje, Praça Castro Carreira, conhecida como Praça da Estação.
O campo foi construído em 29 de junho de 1830 em homenagem a imperatriz  D. Amélia de Leuchetmberg. Foi um campo de treinamento e hipismo. Construído pelo engenheiro da Província, Juvêncio Manoel de Menezes, por ordem do Presidente da Província José Sarmento. Localizava-se no lado poente do campo, era murado e tinha uma capela na entrada do terreno que era dividido em dois lados. Na esquerda ficava o lado conhecido como o Campo dos ingleses, onde geralmente eram sepultados os estrangeiros.

Pena de morte cumprida em frente ao Cemitério de São Casimiro
Por ser próximo da praia,existia uma duna conhecida como Morro do Croatá que devido aos ventos e a areia foi aterrando lentamente o cemitério, que foi demolido em 26 de fevereiro de 1880 e construído o Cemitério de São João Batista(**) em abril do mesmo ano no bairro de Jacarecanga.


1- A ampliação do Cemitério de São Casimiro

2- Construção do Cemitério de São João Batista

3- Os antigos enterros eram feitos nas igrejas

Ilustres enterrados no Cemitério de São Casimiro

  • 29 de Abril de 1859 - Falece, em Fortaleza, às 21h, o farmacêutico prático (boticário) Antônio Rodrigues Ferreira de Macedo (Boticário Ferreira), ex-vereador, ex-intendente, vítima de asfixia lenta devida à aneurisma da aorta pectoral. 
    Foi sepultado no antigo Cemitério de São Casimiro (do Croatá).
  • 09 de Julho de 1862 - Morre, em Fortaleza, aos 78 anos de idade, sendo sepultado no Cemitério de São Casimiro, Francisco Fernandes Vieira (Barão e Visconde do Icó), nascido em Saboeiro em 20/05/1784.

Igreja do Rosário do Álbum Fortaleza 1931

Igreja do Rosário - Túmulo de muitos
Alguns moradores afirmam que os seus antepassados falavam que antigamente era comum as pessoas serem enterradas nos próprios sítios onde residiam nas zonas mais distantes do centro de Fortaleza. Vários eram os motivos que levavam os moradores a agirem dessa forma. A distância e a falta de transporte dos corpos, não existia lei sanitária que determinava a obrigatoriedade dos enterros em cemitérios públicos e pela falta dos mesmos em zonas urbanas, surgidos somente em 1902.
Até meados do Século dezenove, era costume enterrarem os mortos nas igrejas. Um grande exemplo dessa tradição, é a quantidade de pessoas que foram enterradas na Igreja do Rosário. No governo de Lúcio Alcântara, a igreja correu sério risco de ser demolida, mas durante as obras, foram achados corpos de escravos, forçando (felizmente) o cancelamento da demolição.


Postal da igreja do início do século XX
No ano de 1828, uma lei imperial recomendava às câmaras municipais que elaborassem posturas para tratar do estabelecimento de cemitérios fora do recinto das igrejas.
Era 1938, Fortaleza tinha pouco mais de oito mil almas (Abreu, 1919) encravada em dunas escaldantes e revoltas."Era costume arraigado enterrar-se os mortos dentro das igrejas ou em seus átrios e arredores. Questões relacionadas à Saúde Pública teriam sido responsáveis pela proibição das inumações (sepultamentos) no interior e vizinhança das igrejas. Acreditava-se que os gases produzidos pela decomposição dos cadáveres ocasionariam doenças", revela Henrique Sérgio de Araújo Batista no livro: Assim na Morte como na Vida.

Foto de 1912

O Cemitério dos Ingleses (Protestantes)

No São Casimiro havia uma área reservada e marginal para os que não professavam a fé católica ou atentassem contra os princípios desta (judeus, suicidas, etc).
Foi também construído o Cemitério dos ingleses (para protestantes) vizinho ao São Casimiro, que era mantido pela firma de importação e exportação Singlehurst & Co, de Henrich Brocklehurst.



O Cemitério dos Ingleses continuou a ser utilizado até ser demolido em 1880, para construção de armazéns e da estação da Estrada de Ferro de Baturité. A partir daí foi destinada uma área nos fundos do Cemitério São João Batista para sepultamento dos protestantes.



Curiosidades

Túmulo de Plácido de Carvalho - Foto Raimundo Gomes
Até 1828 os corpos dos fortalezenses eram sepultados nas paredes das igrejas. Com o passar dos tempos a sociedade exigiu que seus mortos fossem “separados” dos vivos. Com isso, em 1844 o morro do Croatá, depois Cemitério de São Casimiro passou receber e sepultar os mortos da capital cearense. Em 3 de fevereiro de 1848, foi realizada uma publicação no jornal, onde era narrada a necessidade de a sociedade possuir um cemitério. Ainda dentro da cidade, o cemitério é retirado da mesma e construído em um lugar mais distante. A data de 1860 é marcada pela privatização da Igreja Católica ao Cemitério São Casimiro, que passou a receber exclusivamente corpos de católicos.
Como único cemitério de Fortaleza, o São Casimiro, estava completamente cheio por ocasião da febre amarela e de outras doenças da época.

Jazigo da sra. Pierina e de Emilio Hinko - Foto Raimundo Gomes
Fundado em 1862, localizado na Rua Padre Mororó, S/N, no bairro Jacarecanga, próximo à Catedral Metropolitana de Fortaleza, O Cemitério São João Batista é cenário de uma infinidade de obras de arte. O São João Batista, assim nomeado o cemitério, a partir desse ano começa a receber corpos pertencentes a parentes das famílias ricas da capital. O cemitério São Casimiro é desativado e só depois de 10 anos a prefeitura constrói uma praça no local. 
Em 1866 o São João Batista é oficialmente inaugurado. Recebendo um portão e um muro mais reforçados em 1872, data exposta na parede da entrada como sendo a data de inauguração.
Para o administrador do cemitério e profundo admirador do local, Denis Roberto Marques, o São João Batista não é um só o lugar de enterrar os mortos, mas sim um lugar vivo e cheio de histórias. Afirma que depois de sua inauguração e ainda hoje, as famílias cuidam com muita atenção dos túmulos de seus familiares. Decoram. Tentam deixar o ente o mais próximo possível dos vivos.

Túmulo  do inquestionável escritor Quintino Cunha cujo epitáfio é de autoria dele mesmo: "O Padre Eterno, segundo refere-se a história sagrada, tirou o mundo do nada e eu nada tirei do mundo." 
Foto Tribuna do Ceará/Rosana Romão
Os indigentes, segundo Denis, antes eram enterrados no São João Batista, mas devido a falta de espaço foram encaminhados para outro cemitério. O administrador explica que não dá para saber qual é o número exato de mortos, por nunca ter sido feito um controle, mas confirma o número de 25 MIL jazigos.
Por volta de 1862, a forma que as famílias encontravam para mostrar sua ascensão econômica era decorando os túmulos de seus parentes. Um caso muito conhecido foi o da baronesa do Crato que tinha o hábito de fazer um piquenique aos domingos com a sua família. Essa ideia foi adotada pelo restante da sociedade que passou firmar uma competição em relação aos túmulos mais bonitos.
Além da baronesa do Crato, figuras como Caio Prado (governador do Ceará) que teve o jazigo mais complicado de ser construído, tendo que ser usadas as mesmas técnicas aplicadas no Egito para a construção das pirâmides; o senador Virgílio Távora com uma majestosa estátua de ferro de Jesus Cristo em seu túmulo; o escritor Quintino Cunha; Engenheiro Antonio Santana Jr., Dionysio Torres, respectivos nomes de rua e bairro de Fortaleza, fazem parte da construção de um lugar para descanso eterno, porém com um cenário maravilhoso.
Cícero Ricardo é o responsável pela manutenção do cemitério. Ele trabalha no cemitério desde 1990, de domingo a domingo das 7h às 17h, demonstra muito amor e dedicação ao local. Ele explica que o São João Batista, assim como um bairro, é dividido em ruas e cada jazida tem sua numeração.
Além de todo cuidado com o cemitério, Cícero também faz referência a “beatificação” (feita pelos visitantes e familiares) de alguns mortos como, por exemplo, a menina Lúcia (1915 – 1917) e Cleidimar Medeiros Dantas (1955 – 1970) falecida cinco dias antes do seu aniversário, atropelada pelo tio. Cícero afirma e também é visível nos túmulos, que muitas pessoas fazem visitas aos jazidos buscando alcançar graças. Cura de algumas doenças, aprovação em vestibular, melhorias nas condições financeiras são constantes pedidos feitos pelos fiéis às jovens. Toda segunda-feira uma média de 40 pessoas visitam o túmulo de Cleidimar para agradecer pelas graças alcançadas. Os fiéis levam velas, flores, quadros, mensagens.
Nas histórias do São João Batista existe um fato. O exame de DNA depois que o indivíduo chega a falecer, quando pedido, passa por processo simples, mas de bastante responsabilidade. Cícero explica que um delegado e um promotor de justiça vão até o cemitério e levam os restos mortais em saco apropriado para análise. Na saída do corpo Cícero assina um documento, onde se responsabiliza pelos restos. O resultado saí em até dois anos comprovando ou não o parentesco.
ideia de cemitério, sem dúvidas, é a de um local para o descanso eterno. Local onde nossos corpos são colocados depois que morremos. Mas quebrando os conceitos sobre o uso do cemitério, o neonazista (assim considerado) Joaquim de Sousa Míteri, já construiu e fez lápide do próprio túmulo. Segundo Cícero, o senhor Joaquim vem todas as manhãs fazer caminhada dentro do cemitério e aproveita para cuidar do seu túmulo. De maneira engraçada Cícero defende, ele é um homem precavido.
Uma característica interessante do São João Batista, é a área destinada ao sepultamento dos não-católicos. Antigamente separada do cemitério católico por muros, hoje só se percebe a antiga divisão pela quantidade de túmulos de judeus que se concentram no setor posterior do cemitério.


  • 05 de Abril de 1866 - Bênção do Cemitério de São João Batista, construído no local conhecido por Tijubana, que substituiu o Cemitério de São Casimiro.
  • 12 de Abril de 1880 - Iniciada a trasladação dos ossos exumados do antigo Cemitério de São Casimiro para o Cemitério de São João Batista, pela Mesa Regedora da Santa Casa de Misericórdia. Foram exumados do cemitério São Casimiro os restos de pessoas ilustres como Pessoa Anta e Padre Mororó transferidos para o cemitério São João Batista.
A mulher do balaio
Na década de 1960, ali pelo Jacarecanga, se queriam que crianças ficassem comportadas, bastava anunciar a vinda da "mulher do balaio". Aquela alta e forte senhora grisalha de saia rodada e seu cesto de flores era uma visão apavorante para a meninada. Ninguém a encararia se tivesse coragem de estar no aposento onde era recebida por mães, tias ou avós. Todos sabiam que ela vinha do cemitério e que as flores nasceram em volta dos túmulos. A tradição familiar, cujas bisavós herdaram de suas mães e avós, de manter roseiras no cemitério e usar as flores que brotavam na profusão daquele solo ricamente orgânico em casa, era suficiente para paralisar os pequenos. Aqueles vasos nunca se quebravam, pois ninguém pegava neles. Aos menores era impedido ver seus mortos. Os adultos iam aos ritos fúnebres e cemitério, só no Dia de Finados, onde as velas queimando e a emoção das pessoas por seus entes queridos, tocava a todos. Hoje o cemitério comporta cerca de 16 mil túmulos.

Cemitério da Parangaba e do Antônio Bezerra
Em 1910, surgem os primeiros cemitérios públicos urbanos como o de Parangaba. Em 1935, alguns moradores do Barro Vermelho reuniram-se para a construção de um cemitério no bairro, dentre eles destacamos: Sr. Manoel Rodrigues Venâncio, irmão do Sr. Cizisnando Rodrigues Venâncio, que construíram em um terreno localizado ao lado esquerdo do Patronato da Sagrada Família. Em 1937 com alargamento das ruas do bairro, foi modificado sua estrutura para o atual, segundo afirma o Sr. Antônio Braga Venâncio, que presenciou os translado dos corpos para o cemitério atual.
NCemitério de Antônio Bezerra estão repousando os entes queridos das principais famílias do bairro: Couto Bezerra, Teixeira CamposGiffonyRebouça Brasil, UchôaSantosBezerra de MenezesMatos DouradoPessoa e Mendes, dentre outros. O cemitério atual está lotado, sendo necessário a ampliação do mesmo. Por conta disso, algumas famílias já utilizam outros tradicionais cemitérios de Fortaleza.

(*)Cemitério de São Casimiro
Diz a lenda que a ideia de um cemitério surgiu quando a mulher de Casimiro de Morais passou mal em uma missa na igreja do Rosário e acreditavam-se em miasmas dos corpos enterrados na igreja.
O cemitério foi construído a oeste da cidade para o vento levar esses tais miasmas,porém a cidade cresceu e o centro já estava nas proximidades do cemitério. Quando ocorreu a seca de 1915 vários corpos ficaram a céu aberto.
Então Fortaleza ganha um novo cemitério o São joão Batista.


(**)Cemitério São João Batista
A discussão para a construção do novo cemitério tem lugar no início dos anos 60 do século XIX. Mesmo inacabada, a nova necrópole foi inaugurada em 1866. O portão frontal do São João Batista está datado de 1872, mas este é o ano de conclusão da amurada e afixação do portão.
Os túmulos e despojos mortais dos cemitérios da Praça da Estação que tiveram condições, foram transladados para o São João Batista.
Como todo campo-santo, dali contam-se histórias de túmulos que racham após os consertos, barulhos estranhos; mas quem trabalha ali diz que nunca viu nada extraordinário. O certo é que há verdadeiras obras de arte adornando a última morada dos fortalezenses que têm famílias mais antigas na cidade.


É impossível precisar exatamente a quantidade de corpos que já foram sepultados no São João Batista. Desde o ano 2000, o registro de enterros é informatizado. Os dados anteriores estão em livros.
A Santa Casa de Misericórdia amarga prejuízos com a inadimplência da taxa de manutenção mensal.
Os principais gastos do cemitério são com segurança e limpeza. As fontes, além da taxa citada, são através da vendas de urnas, taxas para enterro, velórios e exumações.


Crédito: Portal da história do Ceará,  Site do Bairro Antônio Bezerra De pés descalços,  História do Ceará - Airton Farias, Indyra Tomaz, Memória.Bn.Br e Diário do Nordeste.

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