Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O Matadouro Modelo



Matadouro Modelo no Jardim América inaugurado em 18/07/1926. Foi demolido em 1962, passando os trabalhos para o Frifort- Arquivo Nirez

Em 18 de julho de 1926 o Matadouro Modelo é inaugurado, na administração do desembargador José Moreira da Rocha, sendo prefeito Godofredo Maciel, autorizado o contrato da construção pela lei municipal nº 126, de 29/12/1924.
O prédio foi benzido pelo monsenhor Antônio Tabosa Braga (Monsenhor Tabosa).
Ficava no bairro do Barro Preto ou Tauape, hoje Jardim América, no mesmo local onde está o Colégio Paulo VI, na Rua Jorge Dummar, em frente à Praça Humberto de Campos (hoje Praça Delmiro Gouveia).
Ali foi o sítio Tauape, de Manuel Romualdo Holanda, que o vendeu a Antônio Diogo de Siqueira e Abel Ribeiro.




Foto do Álbum  de Fortaleza 1931

Jornal Diário do Ceará, pág. 03 do dia 19 de julho de 1926 *:

"Parte os srs. drs. Godofredo Maciel, Demosthenes Rockett, Waldemar Falcão, Hugo Rocha, H. Monte, deputados Soares Bulcão e A. Themotheo, e mais Abel Ribeiro, Antonio Fiuza, commandantes Pedro Bittencourt e Sorares Pinho, José Thomé de Saboya, Thoribio Motta, vereadores Markan, Frederico Andrade e Leandro Lyra, Luiz B. Vieira, Theodoro Vieira, Cesar Magalhães e Elias Mallmann.

O agape decorreu em meio da maior cordialidade, sendo os coroneis A. Diogo, Abel Ribeiro e A. Themotheo saudados pelos srs. Leandro Lyra, em nome da Camara municipal e E. Mallmann, em nome da imprensa.

Durante a tarde de hontem continuou o Maradouro largamente visitado, computando se em cerca de 20.000 pessoas as que até ali foram durante todo o dia.

Os socios da empreza receberam de todos as mais expressivas e enthusiasticas demonstrações de applauso e sympatia.

Tendo recebido o gado hontem, este após o descanço regulamentar de 24 horas foi abatido hoje, desde uma hora, para o mercado amanhã.

O transporte da carne para o mercado será feito em caminhões e automoveis.


Foto do Álbum  de Fortaleza 1931

Hontem foi o ultimo dia em que se fez a matança no antigo Matadouro do Alagadiço, que se acha encerrado.

Congratulando-nos com a população fortense pela inauguração do novo curro, felicitamos os coroneis A. Themotheo, Abel Ribeiro e A. Diogo, pelo exito de seus esforços até aqui verificado.

Publicamos abaixo os discursos cujas copias pudemos obter:

FALA O DR. CESAR CALS, ORADOR OFICIAL DA INAUGURAÇÃO

Exmo sr. Presidente do Estado.

Exmo. sr. Prefeito de Fortaleza.

Meus senhores.

A Empreza Matadouro Modelo, nesta hora auspiciosa para o Ceará, tem grande prazer e honra maxima de, por meu intermedio, saudar respeitosamente a vs. excas. sr. Presidente do Estado e sr. Prefeito de Fortaleza.



Foto do Álbum  de Fortaleza 1931

A Empreza sauda e ao mesmo tempo felicita a vss. exças. que certamente se sentirão satisfeitos de terem dotado Fortaleza com um edificio que honra o municipio, honra o Estado e não desmerece a grande Patria.

Esta majestosa construcção que vem de ser inaugurada, começada e terminada na administração de vss. exas., ficará como uma caracteristica evidente e duradoura da intelligencia sadia e da visão larga e sensata daquelles que neste periodo dirigem os destinos de nossa terra. Ficará quasi eterna e mostrará aos que vierem que o tempo e as energias de vss. exas. Não foram inutilmente disperdiçados e algo ficou, patente e vialvel, em beneficio do nosso Ceará.

Sr. Presidente, tem v. exa. Hoje resolvido o 2º problema dos muitos que reclamam solução em nossa terra – Aguas e Exgotos foi o primeiro – Matadouro Modelo, o segundo. E o Ceará inteiro espera o mesmo exige de vss. exas. Solução ou pelo menos andamento aos demais problemas.

Fortaleza, sr. Prefeito, não precisa mais ocultar aos olhos dos visitantes o logar de onde sae, para o abastecimento publico, o seu primeiro genero de alimentação.

Fortaleza, sr. Prefeito, não se envergonhará mais e terá, bem ao contrario, motivo de justificado orgulho, em mostrar aos visitantes este majestoso predio que é um immenso contraste, daquillo que até hontem se chamou o o Matadouro.



Foto do Álbum  de Fortaleza 1931

Empresa saúda também, com muita honra e respeito, a invicta edilidade de Fortaleza, cujos edis, animados de são patriotismo, nunca regatearam esforços para solução rapida do problema hoje resolvido – a construcção de um matadouro modelo. – Uma parcella, portanto, do grande melhoramento que vem de ser introduzido em Fortaleza, deve-se tambem a nossa patriotica e invicta edilidade.

Agora, senhores, um pouco de justiça tambem para áquelles que têm aqui seu capital empregado, a grande porção de suas energias e trabalho.

Acostumados como estamos nós cearenses, a apreciarmos a fallencia de quasi todos as empresas que aqui se installam, é uma agradavel surpresa para todos, isto que aqui vemos e que nossos olhos não estão habituados a vêr.

E’ mais uma prova da tempera forte deste povo forte que ama doudamente sua terra apesar de tudo e não obstante a certeza que tem da avareza com que sempre é compensado o capital e o trabalho.

Trez cearenses lutadores, fortes e emprehendedores, Antonio Diogo, Abel Ribeiro e Arthur Themotheo, homens de negocios que são, honrados e sertos, recebendo do sr. Prefeito a responsabilidade desta empresa, não pouparam esforços, trabalho e dinheiro e dentro de pouco mais de um anno enriqueceram o patrimonio de Fortaleza, com uma obra de vulto.

Justo e natural era que vicassem fins incentivos, mas o amor exagerado no Ceará e a vaidade cearense sobrepuseram-se a seus interesses financeiros e envez de um predio modesto, de accordo com o nosso progresso, ergueram um sumptuoso edifício que é grande demais para uma terra pobre.

Pelo vulto das transações, ha de parecer a alguns que a empresa terá rapidas e grandes compensações. A avultada somma empregada, a administração e conservação custosas e os compromissos para com o município, anullam uma boa parte do que poderia ser lucro, redusindo-o a proporções menos que compensadoras. Em todo caso, senhores, aqui tem o sr, Prefeito a chave do edificio que irá em breve ser franqueado ao publico.

Para terminar, a Empresa, por meu intermedio, saúda e consigna seus agradecimentos a todos os que aqui estão honrando-a com suas presenças, mui especialmente o exmo. revmo. Monsenhor Tabosa Braga, dignissimo representande de s. exma. revma. O sr. Arcebispo Metropolitano e a distincta e nobre imprensa de Fortaleza."

*Grafia de época

Datas Importantes

  • 04 de maio de 1931 - A Prefeitura Municipal de Fortaleza toma posse do Matadouro Modelo, sob protestos da empresa concessionária, passando a administração a ser exercida por Manuel Freire de Andrade


  • 15 de abril de 1932 - Só nesta data chegam a Fortaleza, em trens especiais, mil e tantos flagelados. Foram desembarcados à altura do bairro ‘Damas’, e concentrados no Matadouro Modelo.

  • 11 de dezembro de 1933 - Um Decreto Municipal desta data autoriza a compra, para o município de Fortaleza, de todos os bens pertencentes à Empresa do Matadouro Modelo.

  •  25 de julho de 1959 - O Matadouro Modelo é desativado

  • 30 de janeiro de 1962 - Iniciada a demolição do Matadouro Modelo no bairro do Jardim América para no local ser construído o prédio do Ginásio Municipal que sairá da Praça do Carmo. Foi construído no local o Colégio Paulo VI



Fontes: Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Nirez, Cepimar e 
Revista do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) - 1957

Notícias da Fortaleza Antiga - A Paroquia de São José



A catedral e o seu Cura, rvmo. Mons. Luis de Carvalho Rocha

"O atual vigario desta freguesia de S. José de Fortaleza, Mons. Luis de Carvalho Rocha, foi nomeado pelo exmo. Snr. Arcebispo D. Manuel da Silva Gomes, por provisão de 5 de fevereiro de 1925, em substituiçao ao Mons. João Alfredo Furtado que vinha exercendo este cargo desde 29 de maio de 1904.

O revdmo. Mons. Luis de Carvalho Rocha, nomeado diretor arquidiocesano do Apostolado da Oração, tem sido um grande impulsionador desta Associação que conta atualmente com 72 zeladoras e 1.500 associados.

Em novembro de 1925, fundou a Associação de Santa Rita de Cassia, que se destina a propagar o culto da mesma. Conta aproximadamente com 500 associados.

Em março de 1926, fundou a Congregação Mariana da Catedral (secção masculina), a primeira deste genero, em Fortaleza, agregada à Prima-Primaria de Roma. Iniciada com 20 associados, conta hoje com 213 membros."




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Gráfia da época

Fonte: Álbum de Fortaleza 1931

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dos elegantes cafés vindos do Século XIX ao varejo atual



Praça do Ferreira - Arquivo Nirez


A Praça do Ferreira, esse logradouro hoje formado, ao Norte, pela Rua Guilherme Rocha – antiga Travessa 24 de Janeiro e Travessa Municipal; ao Sul, pela Rua Pedro Borges – antes Beco do Cotovelo e Beco do Pocinho; ao Leste, pela Rua Floriano Peixoto – antiga Rua da Alegria, Rua das Belas, Rua da Boa Vista, Rua D’el Rei e Rua da Pitombeira, e ao Oeste, pela Rua Major Facundo – antes Rua Nova D’el Rei, Rua do Fogo, Rua da Palma e Rua Nº 3; foi criada em “6 de dezembro de 1842, na gestão do intendente Manuel Teófilo Gaspar de Oliveira, cuja lei da Assembléia Provincial autorizava uma reforma no plano da cidade, eliminando dela o Beco do Cotovelo, a fim de ficar ali uma praça que se denominou Praça Pedro II


Café do Comércio - Registro de 1908, mostrando a elegância fortalezense. 
Arquivo Nirez


Café do Comércio no século XX

Antônio Ferreira Rodrigues - O boticário Ferreira – assim tratado por todos que o conheciam, nasceu no ano de 1804, na cidade de Vila Real da Praia Grande, hoje cidade de Niterói – Rio de Janeiro. Filho de Antônio Rodrigues Ferreira e Marcolina Rosa de Jesus.
Em 1824, recrutado para servir na Cisplatina, desertou e conseguiu embarcar para o Recife, onde o acolheu e protegeu, o negociante português Manuel Gonçalves da Silva. Conheceu em casa deste um comerciante rico e importante de Fortaleza, - Antônio Caetano de Gouveia, cônsul de Portugal, que o trouxe para o Ceará, como seu caixeiro, por volta de 1825 – ano terrível de seca no Ceará e da luta política da República do Equador.


Rua Major Facundo com a Pharmácia Galeno (Onde antes funcionou a Farmácia Boticário Ferreira) - Arquivo Nirez e restaurada por Sidney Souto


Pharmácia Galeno na Praça do Ferreira- Déc. de 40

Com 21 anos de idade, ainda em sua terra natal, obtivera muita prática em farmacologia, cujas receitas salvaram de difícil parto, a mulher do seu protetor, que o ajudou a obter da Junta Médica de Pernambuco, licença para instalar botica no trecho da antiga Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo – onde funcionou a Farmácia Boticário Ferreira, Farmácia Galeno, do farmacêutico Joaquim (Yoyô) Studart da Fonseca, filho de Leonísia Studart da Fonseca, irmã do Barão de Studart, casada com João da Fonseca Barbosa, tesoureiro do Banco Cearense, em cujo local mais tarde se instalou a Loja de Variedades, hoje Loja Milano.


Sorveteria das Lojas de Variedades. Movimentadíssima. Tinha o melhor cachorro-quente da cidade com um molho espetacular. Ficava na Rua Baraõ do Rio Branco e tinha fundos correspondentes com a Major Facundo. As lojas de Variedades viraram a loja Samasa.
Houve até concurso para a escolha do nome, dentre três sugeridos, ficou Samasa (Sebastião Arraes Magazine S/A). Essa  foto é da inauguração, que foi em 16 de dezembro de 1949. Foto do arquivo Nirez


Lojas de Variedades Ltda - Arquivo Paula Figueiredo


Em 1902, o cel. Guilherme Rocha, Intendente à época, deu nova feição à praça arborizando-a, cercando o centro com grades de ferro – construindo o Jardim 7 de Setembro.


O lindo jardim 7 de Setembro - Arquivo Nirez

Existiam ainda na praça quatro quiosques que se denominava “café do Comércio”, “café Iracema”, “café Elegante” e “café Java” – o mais antigo, pois data de 1886 e se tornara o principal ponto de reunião da fina flor da cidade, e dos famosos intelectuais da inovadora Padaria Espiritual.


Café Elegante em 1910

Praça do Ferreira em 1919 com o Café Elegante- Arquivo Nirez 


Restaurante Iracema no Álbum de Vistas do Ceará, em 1908 - Nirez


Café Java

Em 1914 – na gestão do prefeito Rdo. de Alencar Araripe, a praça foi inteiramente reformada, recebendo iluminação moderníssima com cabos condutores subterrâneos.
Nova reforma se deu em 1920, o prefeito Godofredo Maciel mandou demolir os quiosques e retirar as grades centrais que constituía o Jardim 7 de Setembro, e, construir um pouco deslocado para o lado Sul, o coreto para os músicos das bandas das Polícias do Estado e do Município, levando efeito semanalmente às tradicionais e concorridas retretas que eram do agrado público.


Praça do Ferreira e a antiga Coluna da Hora em 1936, vista de cima do Excelsior Hotel. Arquivo de Peter Fuss

Dentre outros melhoramentos, o prefeito Raimundo Girão, em 1932, autorizou demolir o coreto, e em substituição erigir a “Coluna da Hora”, com relógio de quatro faces que servia de orientação para toda a cidade, cuja inauguração ocorreu no dia 31 de dezembro de 1933.
Hoje, no mesmo local, relógio com estrutura de ferro aos moldes do antigo relógio (montado sobre alvenaria) ao lado de antigo cacimbão, existente desde o início do logradouro.

A praça foi e será sempre a sala de visita da cidade para nós fortalezense e, para todos que aqui chegam. Sua posição geográfica, lembranças históricas e conhecida como cidade hospitaleira e agradável aos visitantes e adventícios que por aqui aportavam sob intenso calor, mas recebem, à noite, a aragem que vem do “Aracati”, amenizando o calor do dia, tornando suave as noites e aprazíveis os momentos de descanso para aqueles, sentados nos bancos da praça.


Fachada da Farmácia Pasteur - Nirez

Ainda gravada na lembrança, a chegada à praça, no quarteirão da Rua Major Facundo, em frente a Farmácia Pasteur, dos bondes que faziam diversas linhas, onde eram vistas pessoas que se despediam para subir ou descer do transporte, que rodeando a praça, seguiam itinerários diversos, carregando o lirismo de um adeus ou até logo... à exceção dos que faziam as linhas da Praia de Iracema e Prainha, porque seguiam percurso pela Rua Floriano Peixoto.


Rua Major Facundo, ocasião da passagem de um bonde. 
A foto deve ser de aproximadamente 1918. O prédio alto é o Cine Majestic inaugurado no dia 14 de julho de 1917 com o espetáculo de Fátima Miris. Só depois inauguraria como cinema - Arquivo Nirez

Bondinho na Major Facundo, lotado de alunos do Liceu

As casas comerciais à época e as lojas de hoje

O comércio centralizado na praça se diversificava na proporção da escolha dos produtos procurados e predominava o comércio varejista. Ainda hoje permanece o comércio diverso em toda a sua extensão.
Começando pela quadra do lado Oeste, na rua Major Facundo, esquina com a rua Guilherme Rocha, o edifício do Excelsior Hotel, considerado o primeiro arranha-céu do Ceará. Entrou para história como primeiro hotel de nível internacional da Região Nordeste. Construído em 1927, à base de argamassa e cal, com oito andares, pelo arquiteto Emilio Hinko, casado com Sra. Pierina Rossi Hinko, viúva do milionário Plácido Carvalho; inaugurado em 31 de dezembro de 1931; o hotel foi edificado no lugar de um sobrado de três andares que pertencia ao comendador José Antônio Machado.
Ao lado da entrada e parte térrea do edifício Excelsior - Rua Guilherme Rocha - onde funcionou por muitos anos o hotel mais chic e equipado da cidade; esquina com a Major Facundo, existiu a Farmácia Francesa, hoje Ótica Hora Certa e Disco & Cia.


Café Riche - Foto dos anos 20

A próxima quadra pelo lado poente da rua Major Facundo, com Guilherme Rocha, em direção a Rua Liberato Barroso, bem na esquina ficava o café Riche, depois Loja Broadway, de Alberto Bardawil, hoje, loja Tok Discos; vizinho com uma porta estreita, onde funcionou um armarinho, para venda de gravatas, camisas, lenços, canetas e relógio, hoje Rei das Canetas; a seguir as Lojas Sloper (com matriz no Rio de Janeiro) – era loja freqüentada pela alta camada da sociedade; os dirigentes vinham do Sul, e, as vendedoras eram moças de gradas famílias, que elegantemente vestidas, portavam até chapéus e luvas; nesse mesmo local se instalou à Flama - Símbolo de distinção - assim era o slogan da loja, hoje Banco Mercantil do Brasil; A seguir vinha o Cine Polytheama, dos irmãos Rola, hoje Cine São Luiz, geminado ao prédio que serviu de escritório à Empresa Ribeiro, de propriedade de Luís Severiano Ribeiro, hoje com rua lateral que dá acesso à Rua Barão do Rio Branco. Nesse local às tardes, era ponto de encontro de respeitáveis senhores “jovens há mais tempo”, que para ali se dirigiam para tirar “dois dedos de prosa” e botar olhar godê ou olho de mormaço para as moças em flor que ali passavam.
Poderiam ser vistos o engenheiro de acabamento do Edifício São Luiz, José Euclydes Caracas, os senhores Vinícius Ribeiro, Edgar e Humberto Patrício, Dr. Belo da Mota, Gen. Eurípedes Ferreira Gomes e seu cunhado, Thomaz Pompeu Gomes de Matos; Mais adiante a Pharmácia Pasteur – Estabelecimento de Eduardo Bezerra, hoje Lojas Marisa e Farmácia Avenida.


Este incêndio destruiu completamente o Edificio Majestic e as Lojas Brasileiras na Praça do Ferreira.

O Cine Majestic e Bar com cadeiras de pés de ferro e pequenas mesas de mármore, com música a cargo do pianista e compositor Mozart Gondim Ribeiro, tio dos estimados Humberto, Heitor Filho, Haroldo e Heloísa Diogo Ribeiro, freqüentado por expoentes da cidade, como Raimundo Gomes de Matos, Quintino Cunha, Dolor Barreira, Olinto Oliveira, Heribaldo Costa, Álvaro Costa, Des. Leite Albuquerque, Lauro Maia, Des. Ubirajara Caneiro, boêmio e poeta Cid Neto e outros. Imponente edifício de quatro pavimentos que pegou fogo na década de 1950, após a demolição, a Loja de Variedades, e, Lojas 4.400, hoje Lojas Riachuelo e Duda´s Burger; Farmácia Oswaldo Cruz – de propriedade de Edgar Rodrigues; no andar superior da Farmácia Oswaldo Cruz – o escritório por mais de 50 anos, de um dos mais brilhantes e atuantes advogados do Ceará, Olinto Oliveira (pai do Olinto Filho). Com ele trabalhavam, os ilustres causídicos – Walmir Pontes, Álvaro Costa, e os advogados Oscar Pacheco Passos e Moacir Oliveira, no imóvel que pertencia à Pierina Hinko; vizinho casa térrea de duas portas – o Foto Sales, de Tertuliano Sales, mais tarde de seus sucessores; em imóvel de igual formato de rótula – a famosa Garapeira Mundico com refresco de pega pinto, aluá, e, refresco de erva quebra-pedra, côco-babão, refresco de erva vassourinha, muito procurado pelos visitantes da cidade por ser medicinal. 


A primeira escada rolante de Fortaleza surgiu aqui, nas lojas 4.400 - Lojas Brasileiras de Preço Limitado, depois conhecidas como Lobrás, inaugurada na esquina da Rua Major Facundo com Rua Pará, no dia 09 de novembro de 1957. Vemos aqui suas duas fachadas à noite, iluminadas com motivos natalinos daquele ano. Com a derrubada desse prédio foi erguido, no local, o Hotel Savanah. Arquivo Nirez


Farmácia Oswaldo Cruz, em 1952. Foto Arquivo Nirez


Em tempos mais recuados, a mais famosa garapeira, Bem-Bem, especialista na excelente bebida conhecida por “jinjibirra” ou “gengibirra”, muito apreciada por todos, fermentada, feita de frutos, gengibre, açúcar, acido tartárico, fermento de pão e água, conhecido no Nordeste como champanhe-de-cordão, cerveja-de-barbante. Talvez fosse melhor escrita gengibirra, e que celebrizou o extrovertido Bem-Bem; vizinho ao Mundico, o Armarinho do Orion, com vendas de meias, gravatas, lenços e objetos masculinos. Ainda no mesmo quarteirão da rua Major Facundo – a mais célebre farmácia da cidade a antiga farmácia do Boticário Ferreira. Mais tarde – segundo familiares, nesse estabelecimento se instalara a Pharmácia Galeno, cuja sociedade em parceria com Silvino Silva Thé, hoje Lojas Milano; o Cine Moderno, da Empresa Severiano Ribeiro, com sua rica e esplendorosa marquise variegada, com cristais coloridos das mais vivas cores, no formato de meia concha ou cauda de pavão, dava toque de elegância e imponência à entrada do cinema; depois lojas Samasa, de Sebastião Arrais, hoje Sapataria Nova e Clínica de Olhos Rosangela Francesco. Esquina da Rua Major Facundo com a Liberato Barroso, de um lado, existiu nas décadas de 1940/60, o café Sporte, dos irmãos gêmeos José e Estevam Emygdio de Castro, muito estimados por todos, foram patrões na firma Emygdio & Irmãos, hoje Lojas Esquisita, de Pio Rodrigues, pai de Edir Rolim; do outro lado, na Rua Liberato Barroso com Major Facundo, foi Farmácia Modelo, depois Casa Veneza, hoje o local está desocupado.

No quadrilátero da Praça do Ferreira, lado Sul, lado que correspondia antes ao Beco do Cotovelo, que além das denominações oficiais, a praça, na época, era também popularmente conhecida por “Praça da Municipalidade”, por situar-se defronte do prédio da Intendência Municipal, onde também funcionava a sala do júri. No local, onde existiu o Abrigo Central, construído na gestão do prefeito Acrísio Moreira da Rocha.


Rainha da moda - Década de 40

A Rua Dr. Pedro Borges, situada na ala Sul da praça, esquina com Major Facundo – onde hoje se ergue o Edifício Torres, existiu a Casa Maranhense, depois a Loja Rainha da Moda, Pastelaria Chinesa, hoje Casa Amazônia – ao lado da escada que dava entrada para o Foto Ribeiro; vizinho à Loja Ceará Chic – de Irajá Vasconcelos; A Miscelânea, mercearia de primeira ordem, do Sr. Frota; Farmácia Belém, hoje Casa Pio; Posto Mazine, do Sr. Falcão – primeiro revendedor do fogão a gás, depois Grupo Edson Queiroz, hoje Farmácia Pague Menos, de Deusmar Queirós, proprietário da maior rede de farmácia do Brasil, homem generoso e de convicta religiosidade, pai de Mário Queirós, também avô de Pedro Henrique.

A Sapataria Clark, depois Salão Lord, hoje Roscel Jeans; Sorveteria Odeon, hoje Óticas Itamaraty, de Pantaleão Cavalcante; Leão do Sul, de Dimas de Castro e Silva, pai de Marçal Pinto de Castro; e na esquina da Rua Floriano Peixoto a Casa Maranguape, depois Lojas de Artigos Masculinos, de Agenor Costa, hoje Farmácia Avenida.
Do lado Leste, esquina com a Rua Dr. Pedro Borges, existiu a Casa Blanca, de J. Ary – Jean e Emilio Ary (irmãos), hoje ainda armazém de tecidos da C. Rolim; vizinho à antiga Padaria Lisbonense, de Pelágio Oliveira, hoje Shopping Lisbonense.
Inicio com o outro lado o Armazém de tecidos Leblon, hoje Lojas Leblon; seguia-se da Loja Oriano – engraxataria e polimento de calçados, hoje Lojas Otoch; assim como os demais, o prédio com pavimento superior do italiano Salvador Cunto – com alfaiataria; Loja Central, de Pedro Lazar e seu primo Adir Lazar. O Bar e Sorveteria dos Jangadeiros, de Luis Frota Passos; a Farmácia Faladroga, todas hoje, onde estão as Lojas Otoch; Livraria Alaor, hoje Óticas Mariz; Bar da Brahma – dos irmãos Coelho, onde serviam as deliciosas unhas e patas de caranguejo e o queijo flamengo com fatias de pão, local de encontro dos senhores de meia-idade que todas as tardes se reuniam para saborear a cerveja Boock Alen, depois Armazém do Povo, hoje Mundial Video Bingo; Farmácia Globo, hoje C. Rolim; Farmácia Santo Antônio, de Dalmário Cavalcante Albuquerque, hoje Bingo Cidade; Farmácia Humanitária, hoje Café L’Escale; Sorveteria El Dourado, do estimado homem de negócios – FigueiredãoAntônio Montenegro Figueiredo, hoje Farmácia Avenida; Caldo de Cana “O Merendinha”, Quezado, da Dona Zenaide Quezado de Aurora, hoje Lojas Helga; e Palacete Ceará, o Clube Iracema, mais tarde Rotisserie, casa de jogo de bilhar, do árabe Sr. Abraão, hoje agência da Caixa Econômica Federal. Ainda do lado Leste, na Rua Floriano Peixoto, numa diagonal, foi plantado uma muda de cajueiro, na administração Juraci Magalhães, simbolizando o lendário “cajueiro da mentira”, hoje com placa assentado ao lado com os seguintes dizeres: “Neste local existiu um frondoso cajueiro que, por frutificar o ano todo, era apelidado de “cajueiro botador” ou, por se realizarem, sob sua copa, cada 1º de abril, as eleições para o maior “potoqueiro” do Ceará, era também chamado de “cajueiro da mentira"


Cajueiro Botador na Praça do Ferreira em 1905 - Arquivo Assis de Lima

Foto Jaqueline Aragão
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Fonte: Diário do Nordeste


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Tipos folclóricos da Fortaleza antiga


Feijão sem banha -Acervo de Jaime Vieira

Centro e bairros da Capital. Meados do século passado. Pessoas tornaram-se folclóricas por apelidações ou comportamentos. Feijão sem Banha, Ferrugem, Rádio Patrulha, Mondrongão, Zé Tatá, Raimundão e outros se fizeram conhecidíssimos. Frequentadores do Abrigo Central, Pega-pinto do Mundico*, Cine Moderno, Bar Flórida, Sorveteria Expressa e Tabacaria Almeida assistiam cenas incríveis protagonizadas pelos exóticos personagens.


 
Abrigo Central em 1949

Onde morei, existiam alguns desses tipos bem conhecidos da população. Lembro-me dos Paus-brasil – pai e dois filhos. Sararás, quase albinos, destacavam-se por comercializar de porta em porta, a prazo. Era o ofício de “galego”. Seu Tâna, proprietário de vacaria, desejava ser craque de futebol. Quase dois metros de altura, peso de cinco arrobas, segundo afirmava, e chuteiras confeccionadas especialmente para os grandes pés, fez-se sócio benemérito do 5 de Julho Futebol Clube. Comprou camisas, calções, bolas e equipamentos para o soerguimento da agremiação. Em troca conseguiu integrar o segundo quadro do time, o “esfria sol” e, quando a pelota lhe chegava, ninguém se atrevia a disputá-la. Menos ainda, encarar seu estupendo chute “bicudo” e sem rumo, perigoso se atingisse algum adversário. Pegasse na bola, a platéia gritava: “Castiga véi Tâna!”. O atleta ufanava. Recadeiro de rua, Ruído, garoto de pele muito marcada pela catapora, detestava o apelido. Era pronunciá-lo e ouvir cabeludos palavrões. Já Zé Pretim, como era tratado e gostava, vendia tapioca, queijada e filhós pelas ruas. O chamassem de Bola Sete, indignava-se. Resposta imediata. “Pra butá na caçapa da véia!”.



 
O cine Moderno


Autoridades, algumas cavaquistas, foram destaque na época. Castorina, renomada apelidadora, criou alcunhos inesquecíveis. Dom Manuel e Dom Antônio, arcebispos metropolitanos, em visitas a Aracati, receberam a marca da longeva senhora. O primeiro, por corpulento e seus paramentos coloridos, foi cognominado Bolo Confeitado, enquanto o segundo, por franzino e usar pequeno pedaço de fita verde-amarela na batina, teve o patronímico de Envelope Aéreo.

Texto "Na caçapa" do amigo e colaborador Geraldo Duarte (Advogado, administrador e dicionarista)


*Na Fortaleza dos anos 60, o refrigerante preferido dos habitantes de Fortaleza era o refresco de Pega-Pinto.

Tratava-se de uma raiz que (diz a lenda) chegou a ser colhida entre os túmulos do Cemitério São João Batista para poder garantir o consumo. Na praça do Ferreira, o comerciante Mundico abriu uma merendeira - de apenas uma porta, bem pequena, que tinha como principal produto o Pega-Pinto, delicioso diurético que era servido com tapioca ou pedaço de bolo.

 

Depois dos filmes nos cines Moderno, Majestic, São Luiz ou Diogo, a rapaziada lotava o Pega-Pinto do Mundico, que concorria com o caldo de cana da Leão do Sul. O progresso expulsou o Mundico da rua Major Facundo para a Duque de Caxias, perto da praça do Carmo.


Wilson (Ibiapina)

Conforme Gervásio de Paula, o pega-pinto é vendido, atualmente, na Lanchonete Azteca, no térreo do edifício da Associação Cearense de Imprensa (ACI)


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Lauro Maia - Um compositor versátil


A obra de Lauro Maia é o resultado – como não poderia deixar de ser – do ambiente musical da época aliado ao seu talento tanto musical como versátil entre o popular, o popularesco e o clássico (não erudito).
A música popular brasileira foi e ainda é o reflexo do centro das artes concentrado no Rio de Janeiro e em São Paulo: o primeiro com sua música romântica, o samba jocoso e a marcha carnavalesca; o segundo com sua mazurca, rancheira, valsa e canção com sabor de imigração.
Essas influências aliadas às locais como o folclore, o rural nordestino e ainda a presença jazzística existente em grande maioria de nossos músicos, deram à obra de Lauro Maia um sabor todo especial. As influências são naturais e até benéficas desde que não cheguem a descaracterizar o
regional.
Lauro iniciou sua carreira artística ao final da década de 30, quando pontificavam nacionalmente nomes como Pixinguinha, Benedito Lacerda, Ary Barroso, Lamartine Babo, João de Barro, Haroldo Lobo, Custódio Mesquita, J. Cascata, Ataulfo Alves, José Maria de Abreu, Assis Valente, Silvino Neto, Dorival Caymmi, Luís Bitencourt e Leonel Azevedo, para citar apenas os mais cotados.
Os instrumentistas eram Luiz Americano, Dante Santoro, Abel Ferreira, Fon-Fon, GarotoLuperce Miranda, Carolina Cardoso de Menezes, Laurindo de Almeida e os já citados Pixinguinha, Benedito Lacerda e Custódio Mesquita.
Aliando suas experiências urbanas com ritmos da terra, Lauro criou, ainda em  Fortaleza, valsas, sambas e marchas com características nossas, além de peças com ritmos e sabor nativos. Ao mudar-se para a então capital federal, Rio de Janeiro, passou a produzir, como exigia a época, músicas de sabor carioca, embora preferisse quase sempre os intérpretes cearenses por estes serem mais identificados com suas composições.
Embora gostasse de exercitar o jazz quando executava, Lauro Maia nunca deixou transparecer em suas produções essa influência, a não ser em uma única composição, o fox Gosto Mais do Swin (César O Que É De César) que, como o próprio título sugere, foi proposital.
Após conseguir as primeiras gravações de suas músicas e estas obterem sucesso em todo o país, preocupou-se em difundir os ritmos sertanejos do nordeste, ao mesmo tempo em que compunha valsas com o sabor da época para cantores como Orlando Silva; sambas e marchas para os carnavais e também os chamados sambas de meio de ano, obtendo aceitação em todas as camadas sociais.

Lauro poderia ter sido o lançador do ritmo baião, pois foi procurado por Luiz Gonzaga para juntos fazerem o lançamento, mas preferiu encaminhar o sanfoneiro pernambucano a seu cunhado Humberto Teixeira, que teve a felicidade de, junto com Gonzaga, alcançar o mais estrondoso sucesso da época, que foi aquele ritmo, obtendo repercussão não só no Brasil mas também em todo o mundo.
Como executante - ele era pianista - infelizmente, Lauro Maia deixou registrados somente alguns acetatos gravados na antiga PRE-9 (Ceará Rádio Clube) e mesmo assim muitas de suas gravações se perderam com o tempo e o descaso.
Lauro Maia foi, portanto, um compositor versátil, eclético, que não se prendeu ao radicalismo dos ritmos nativos nem se entregou aos apelos externos. Fez a fusão do carioca com o cearense, do romântico com o jocoso, do clássico com o banal, produzindo peças da mais legítima Música Popular Brasileira. Música, porque ele era um catedrático em teoria e em sensibilidade; Popular, porque atingia a massa; e Brasileira porque sabia fazer cheirar à terra tudo o que produzia.




Crédito: Livro "O balanceio de Lauro Maia" de Nirez

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