Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Milton Morais


Manoelito Soares Moraes, mais conhecido como Milton Morais, nasceu em Fortaleza, a 4 de setembro de 1930.

Desde garoto gostava muito de arte. Começou a carreira aproveitando uma carona de uma caravana circense que passou por Fortaleza, mas ela se desfez chegando na Bahia. Aos 19 anos, ele pegou então um ônibus e foi para o Rio de Janeiro tentar a carreira de ator.

Procurou companhias de teatro e ingressou na montagem teatral “Rua Nova” (1947). Em 1948, estreou um espetáculo escrito por Amaral Gurgel. E Milton Moraes conseguiu trabalhar ao lado de grandes atores, como Fernanda Montenegro e Paulo Autran.  
Em 1957, junto ao Teatro Nacional de Comédia, protagonizou a bem sucedida montagem “Pedro Mico”. Entre as mais de 100 peças em que atuou, destacam-se “Festival de Ladrões” (1979), “O Canto da Cotovia”, “Casa de Chá do Luar de Agosto”, “A Venerável Madame Goneau”, “Um Edifício Chamado 200”, entre outras.

Peça Pedro Mico - Multiply In Memorian

"TV Walita" - Década de 60 - Multiply In Memorian

Atuando em cinema desde os anos 50, o ator conta com cerca de 30 longas em sua carreira.

Ficou conhecido por seus tipos malandros, boêmios e despreocupados, refletindo a condição dos marginalizados e da população de classe média baixa.

No teatro seu maior sucesso foi a montagem de Um Edifício Chamado 200 que ficou anos em cartaz e com a qual viajou pelo Brasil. Na TV seus melhores trabalhos foram nas novelas Bandeira 2, O Espigão e Escalada. Também participou de outros sucessos, como Dancin Days, a primeira versão de CaboclaÁgua Viva, Final Feliz e a minissérie Anos Dourados. Seu último papel foi na novela O Dono do Mundo, em 1991.

Novela Bandeira 2 em 1971  - Multiply In Memorian

Novela Bandeira 2 em 1971 - Multiply In Memorian

Foi casado com as atrizes Glauce Rocha e Norma Blum. Se casou mais duas vezes com Mara Regina e Carlota Pauline

Glauce Rocha e Norma Blum

Curiosidade: Em seu primeiro trabalho no teatro, deveria subir ao palco com sapatos de verniz, comprados com dinheiro adiantado pela produção. Apaixonado pelos cavalos, perdeu tudo nas corridas e precisou entrar em cena com um par de galochas, o que lhe valeu por muito tempo o apelido de Milton Galocha. Depois, acabou tornando-se proprietário de mais de 20 cavalos no Jockey Club do Rio.

 
Foto de 1972 - Multiply In Memorian

Trabalhos no cinema:

Os Trapalhões e o Rei do Futebol (1986) .... Dr. Barros Barreto
Aguenta, Coração (1984)
O Trapalhão na Arca de Noé (1983) .... Morel
Beijo na Boca (1982) .... pai de Celeste
Pra Frente, Brasil (1982) .... Policial
O Sequestro (1981) .... Argola
Bonitinha Mas Ordinária ou Otto Lara Rezende (1981) .... Peixoto

Bonitinha mas ordinária - Multiply In Memorian

Os Paspalhões em Pinóquio 2000 (1980)
A República dos Assassinos (1979)
O Amante de Minha Mulher (1978)
Barra Pesada (1977) .... Florindo
Um Marido Contagiante (1977) .... Mário

Um marido contagiante - Multiply In Memorian

O Homem de Papel (1976) .... Carlos
Ninguém Segura Essas Mulheres (1976) .... Gil

Ninguém segura essas mulheres - Multiply In Memorian

Um Edifício Chamado 200 (1973) .... Gamela
Os Homens que Eu Tive (1973) .... Torres
Sagarana, o Duelo (1973)
Os Devassos (1971)
O Barão Otelo no Barato dos Bilhões (1971) .... alquimista
Os Senhores da Terra (1970)
É Simonal (1970)
A um Pulo da Morte (1969)
Maria Bonita, Rainha do Cangaço (1968) .... Lampião
Perpétuo contra o Esquadrão da Morte (1967) .... Perpétuo
Mineirinho Vivo ou Morto (1967) .... Arubinha
Nudista à Força (1966)
A Montanha dos Sete Ecos (1963)
Gimba, Presidente dos Valentes (1963)
Assassinato em Copacabana (1962) .... Pascoal
A Estrada (1956)

Um Edifício Chamado 200 - Multiply In Memorian

No teatro

Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues;
O Berço do Herói, de Dias Gomes;
Um Edifício Chamado 200, de Paulo Pontes.

Boca de Ouro 1960 - Foto Carlos/ Cedoc-Funarte

Boca de Ouro 1962 - Multiply In Memorian

Teledramaturgia

1991 - O Dono do Mundo - Lopes Resende
1990 - Rainha da Sucata - Vicente
1988 - Abolição - Coronel Hipólito Macedo Tavares
1986 - Anos Dourados - Cláudio
1985 - De Quina pra Lua - José João Batista
1985 - A Gata Comeu (participação especial)
1984 - Amor com Amor se Paga - Barreto
1983 - Louco Amor - Sérgio
1982 - Final Feliz - Alaor
1982 - O Homem Proibido - Getúlio
1982 - Caso Verdade
1981 - O Amor É Nosso - Roberto
1980 - Plumas e Paetês (participação especial)
1980 - Coração Alado - Ângelo
1980 - Marina - Mário
1980 - Água Viva - Sérgio
1979 - Cabocla - Joaquim

Cabocla 1979 - Multiply In Memorian

1979 - Feijão Maravilha
1978 - Dancin' Days - Jofre
1977 - Espelho Mágico - Vicente Drummond
1976 - Duas Vidas - Alexandre
1976 - Saramandaia - Carlito Prata
1975 - Escalada - Armando
1974 - O Espigão - Lauro Fontana
1973 - Cavalo de Aço - Carlito

Cavalo de Aço 1973 - Multiply In Memorian

1972 - O Bofe - Sérgio Marreta
1971 - Bandeira 2 - Quidoca
1969 - Enquanto Houver Estrelas - Gílson
1969 - O Retrato de Laura - Júlio
1965 - 22-2000 Cidade Aberta

Milton Morais faleceu aos 63 anos, de insuficiência cardíaca no Rio de Janeiro, em 15 de fevereiro de 1993.

 
Na foto, com Teresinha Sodré em 'O Homem de Papel', de Carlos Coimbra - Multiply In Memorian

Milton Morais foi ator, roteirista e cenógrafo.Foi um dos principais atores de seu tempo, atuando em inúmeros filmes, peças teatrais e
telenovelas.


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Fontes: Wikipédia, Museu da TV e Multiply In Memorian

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Figuras que se perderam no tempo


Voltamos às ruas do passado, visando a um passeio pela cidade de Fortaleza e suas curiosas personagens

Tanto a prosa de ficção quanto à poesia - apenas para que nos concentremos em uma de nossas manifestações em arte - imprimem, na construção de suas respectivas realidades, a presença de personagens que, de uma maneira ou de outra, tornam-se figuras emblemáticas, convertendo-se em metonímia da própria condição humana. Assim, tanto em memoráveis romances quanto em poemas vigorosos elas imprimem em nós a sua marca. Quem não se lembra do capitão Vitorino Carneiro da Cunha, na obra Fogo Morto, de José Lins do Rego? Ou, ainda, de Inês de Castro que, na épica de Camões, foi rainha depois de morta?


A cidade de Fortaleza, em sua expressão viva, isto é, a partir de pessoas que aqui viveram e que se inscreveram em nossa memória pelos motivos os mais diversos, sempre foi muito pródiga em tipos. Nesse sentido, continuamos, aqui, a nossa viagem por ruas e praças suspensas no tempo, em busca dessas personagens, resgatando-lhe atitudes, comportamentos, visando, assim, a um retrato o mais nítido possível de uma época que ainda permanece muito viva na memória de alguns e que agora repassamos a uma gama maior de pessoas.


Burra Preta


Era exótico e espalhafatoso e vadiava por nossa Cidade. Corpulento de cor azeitonada, telúrio (preto acinzentado), grande estatura, pesando aproximadamente mais de 120 (cento e vinte) quilos, quadris arredondados, cintura fina, rebolado feminino apressado, pouco falava, diziam ser pernambucano. Para outros, no entanto, era identificado como natural da Bahia.


Percorria a Praça do Ferreira, sem dar atenção aos gracejos por sobre ele lançavam. É como se as palavras ou os insultos se reduzissem a nada, pois, a rigor, ao que visava, antes de tudo, era a colheita de um sucesso diante do público. Apareceu em nossa Fortaleza, trabalhando em hotéis ou pensões familiares dos anos 50/60. Depois, entregou-se à ociosidade, passando a desfilar pelas ruas do centro nos começos e fins de expedientes nos horários mais movimentados. O que, evidentemente, provocava um certo movimento em termos das reações dos passantes, quer se dirigindo ao trabalho, ou mesmo deste retornando.


A performance


Os passeios de "Burra Preta" aconteciam durante as manhãs e a tarde depois das 17 horas. Percorria defronte o Cine São Luis, quando a vaia se expandia até a garapeira da Leão do Sul. Caminhava a passos largos, na Praça do Ferreira, sem dar ou travar conversações com as pessoas; quando muito, pedia cigarro ou "merenda". Usava costumeiramente bermudão de tecido de "veludo", alternados por cores em tonalidade preta, azul marinho ou "Bordeaux", com suspensórios que seguravam a calça pelo cós, assim como uma espécie de bermudão. Era, por assim dizermos, uma fantasia fora de época.


As reações


Quando adentrava a Praça do Ferreira, surgia inevitavelmente outra vaia prolongada com galhofadas em tom compassado. A multidão, então, altercava em ritmo bem sonoro: Bur-ra Pre-ta!!! Bur-ra Pre-ta!!! Bur-ra Pre-ta!!! Bur-ra Pre-ta-ta-ta!!! As vozes iam, aos gritos, de um lado para outro. E, mesmo que as pessoas - em especial, os jovens rapazes - estribilhassem com estrondo _ Bur-ra Pre-ta!!!, a ele tal era absolutamente indiferente, não lhe causando, portanto, o menor atordoamento. Parece que, no íntimo, gozava o sucesso que fazia, via-se, portanto, ovacionado.


Sem dar a menor atenção ao que ouvia, colocava os dedos nas atacas das calças e dos suspensórios, balançando as ancas, freneticamente, andando serenamente por entre as árvores, passando, então, por entre os que se apinhavam em ruas ou praças. Riam quebrando a monotonia de quem se apressava para apanhar condução em direção às suas residências, tornando hilariante e pitoresco aquele logradouro por momentos agradáveis e prazerosos a todos quanto a essas cenas assistiam.


Um enigma


Isso tornava o ambiente citadino mais festivo abrindo ânimo, sorriso dos vendedores de tecidos que se movimentava para mais uma jornada diária nas lojas da Praça do Ferreira, abrindo com alegria o dia de trabalho.


Não se podia, em verdade, avaliar-lhe o humor, pois, consoante já afirmamos, praticamente não se comunicava com os outros. A impressão que impunha, a partir de seus comportamentos, era a de quem se exibia a um público imenso, de um palco distante, mas que por sobre este pousassem olhos fixos, atentos. Causava, desse modo, um exuberante espetáculo circense.


Castorina do Aracati


Falante exuberante, exótica, trata-se de uma pessoa muito conhecida em nossa Cidade de Aracati, exatamente por uma singularidade: a de colocar apelido nas pessoas. "Castorina" seu verdadeiro nome de batismo era Castorina Chaves Pinto, nasceu em Aracati no dia 24 de Janeiro de 1883, sendo filha de Francisco do Carmo Pinto Pereira e Cândida Chaves Pinto. Única mulher de uma família composta de dezesseis irmãos. Morreu inupta. Naturalmente alegre e altamente irreverente. Era primordialmente conversadora loquaz, desembaraçada no seu linguajar e rapidez de raciocínio. Não titubeava, tinha resposta para tudo que fosse investigada.

"Castorina do Aracati" era irmã do proprietário de um bar, pousada, hotel no Aracati por nome de Teófilo.


Figura emblemática


Quem, no século passado, fosse à cidade de Aracati, e não conhecesse uma das mais ilustres cidadãs daquela vila, era mesmo que ir à Roma e não ver o Papa. Ela em todos provocava a dimensão da curiosidade e o medo de trazer consigo um apelido, uma vez que ela os aplicava com a precisão de uma lâmina. Era tão repentina, certeira e mordaz que, as mais das vezes, o apelido caía por sobre uma pessoa, como se houvesse sido escolhido após um longo trabalho, já que, quase sempre, implicava uma caricatura perfeita de quem, agora, era transformado em vítima. Com rapidez, ante o apelido, a pessoa era logo identificada; e a alcunha, certeira. Utilizava figuras de relevo constituídas por atingi-las em sua compleição física, posição social, eclesiástica, política, econômica. Valia o realce que os apelidos pudessem exercer sobre os mesmos para notoriedade imediata. A começar por maiores figuras do Clero como Dom Manuel de Silas Gomes, de "Bolo Enfeitado"; Dom Antônio de Almeida Lustosa, de "Envelope Aéreo", Dom Hélder Câmara, de "Pombinha do Céu", Menezes Pimentel, de "Carretel de linha preta" ou "Noite Ilustrada", David Bastos, de "Cabeça de Queijo do Reino", cuja cabeça pelada crânio vermelho, que mais se parecia com queijo enlatado (borboleta), (flamengo) logo à primeira vista.


Verso e reverso


Certa vez se sentiu ultrajada quando um grupo de amigos, entre risos e folguedos, indagou por que ela falava de modo tão incessantemente; um dos rapazes lhe perguntou se era ela uma "sariema fora do bando". Então, o feitiço se voltou conta a feiticeira, e ela ganhou a alcunha de "Sariema fora do bando".


Zenilo Almada


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Matéria publicada no Diário do Nordeste


A saudade do antigo casario


 
A Delegacia Fiscal - Álbum de Vistas do Ceará 1908

O N.º 348 - Do lado da sombra esquina da rua Senador Alencar o suntuoso prédio que por muitas décadas, funcionou a Delegacia Fiscal, hoje ocupado pelo Arquivo Público do Estado.

Seguindo no quarto quarteirão, entre as ruas Senador Alencar e Rua São Paulo (antiga Rua da Assembléia) os imóveis N.º 676 - o antigo casarão do desembargador Sabino do Monte, hoje Shopping das Jóias; N.º 685, prédio de esquina do Instituto de Previdência do Estado do Ceará (IPEC) - seguia-se casa com entrada lateral com degraus, varanda ampla, com janelão e formato ogival, residência da Família Sabóia

 

Rua São Paulo com Senador Pompeu - Arquivo Nirez

N.º 716 - no meio do quarteirão (entre Senador Alencar e São Paulo), era o antigo Fortaleza Hotel, onde anteriormente serviu de residência do jornalista João Brígido dos Santos, hoje Cerbrasa - Comércio e Rep. do Brasil Ltda.; N.º 744 - próximo à esquina da Rua São Paulo - o imóvel da Tipografia Progresso dos irmãos Esteves, que foi unificado com o prédio de Hugo Leal. O Nº 766 - sobradão com três portas de frente e varandas com 21 portas e 21 varandas laterais da Rua São Paulo, onde por algum tempo funcionou um bar na esquina, conhecido por Senadorzão, hoje em estado de ruínas; o último prédio da Rua Senador Pompeu com a Rua São Paulo. Sobrado onde funcionou por muitos anos o Clube dos Garçons

Foto da década de 1990. Trata-se da esquina nordeste do cruzamente da Rua Senador Pompeu com Rua São Paulo, local vastamente conhecido na cidade. Era a casa de danças conhecida por "Sargento", nos altos. Infelizmente esta parte do canto, a da esquina foi demolida e feito um prédio de concreto, quadrado. Sobraram metade das janelas que ainda estão lá. Arquivo Nirez

Seguindo no quinto quarteirão, entre as ruas São Paulo e Guilherme Rocha (antiga Travessa Municipal) os imóveis: Edifício São Paulo, de propriedade do herdeiro Silvino César Cabral. Térreo ocupado por muitos anos pela Mercearia Santa Clara, de propriedade de Aderbaldo Cavalcante Sá; prédio onde funcionou a Gazeta de Notícias, de propriedade do jornalista Antonio Drumont; chegando ao fim da quadra dois prédios pertencentes - 1° ao desembargador Gabriel Cavalcante de Arruda e o outro a João Cavalcante (Juca), casado com Victória Marques Dias, pais de numerosa família; o N.º 834 - na mesma quadra, o Jornal Correio do Ceará, vizinho ao Jornal Unitário, hoje Galeria Pedro Jorge; último prédio da quadra da rua São Paulo esquina com Guilherme Rocha: prédio que serviu de residência ao Senador Pompeu e depois vendido para se instalar a Padaria Palmeira, hoje edifício da família Ventura; o Edifício Santa Elisa, pertencente aos herdeiros da Família Diogo Cals; o N.º 909 - Sul, prédio de esquina onde funcionou a Casa Tabajara, mercearia de propriedade de Dantas Braga, hoje Casa Pio; seguindo entre as ruas Guilherme Rocha e Liberato Barroso (antiga Travessa das Trincheiras), os prédios Nº 980 - Consultório médico de Artur Enéas Vieira; consultório médico Dr. João Otávio Lobo; N.º 988 - casa do arquiteto José Barros Maia, que nesse prédio residiu durante 70 anos, pai das estimadas amigas Maria e Margaridinha Esteves Maia; no quarteirão entre as ruas Liberato Barroso e Pedro Pereira (antiga Travessa São Bernardo) os imóveis: prédio térreo com fundos para casa de José Salgado, onde por muitos anos funcionou a Padaria Triunfo, hoje Edifício Triunfo de propriedade do português João Marques Cunha, irmão de Manuel Marques Cunha, proprietário da Padaria Aliança - Avenida Tristão Gonçalves esquina com rua São Paulo; o Nº 1.067 - consultório dentário de Astrogildo Barreto Fontoura; o Nº 1.082 - casa que pertenceu ao desembargador Ubirajara Carneiro, irmão do grande e inesquecível amigo, durante varias décadas e incentivador dos destinos do autor desta crônica - Araken Carneiro, saudosa memória; pelo lado par - prédio de propriedade do jornal O Povo; o Nº 1.127 - Fórum Candido Couto e José Almir de Carvalho, hoje Juizado da Infância e da Juventude; seguindo no quarteirão entre as ruas Pedro Pereira e Pedro I (antigas Ruas Dom Pedro e Tiradentes), os prédios: Igreja São Bernardo, que teve como pároco por muitos anos - Padre Quinderé e hoje Monsenhor Camuça; no mesmo lado - prédio que pertenceu à família Souza Pinto, pai do ilustre amigo de priscas datas ao tempo do Conselho Penitenciário do Ceará - Gerardo Frota Pinto, pai do amigo e irmão Victor César Frota Pinto; ainda pelo lado par prédio onde nasceu o grande maestro e compositor Alberto Nepomuceno; prédio que pertenceu à família do comerciante português José Madeira Barros; pelo lado ímpar - prédio assobradado que pertenceu aos pais de Amadeu Furtado, esquina com a rua Pedro I, nº 667, onde existiu uma antiga Escola de Datilografia da Professora Cecília Furtado. Nº 1.350 - antigo consultório dentário do Dr. João Furtado, irmão de Amadeu Furtado, cujo prédio serviu de consultório e residência também, serviu de residência do jornalista Juarez Temoteo Furtado e João Temoteo Furtado - dentista já falecido, hoje loja Veterinária Provet Ltda.

A Galeria Pedro Jorge - Foto Pedro Rocha

Mas, como tudo na vida tem o seu início e fim, a Rua Senador Pompeu talvez, se não mudasse de denominação no seu percurso, seria a maior rua de Fortaleza, porque seu prolongamento se dá pela Avenida dos Expedicionários até o Conjunto Prefeito José Walter; se inicia a beira do Oceano Atlântico, no foco nervoso do antigo 'curral das éguas' vizinho as 'cinzas' das fornalhas de abastecimento da Ceará Light, depois Conefor, para lembrar que as caldeiras eram alimentadas para o fornecimento de energia que eram abastecidas pelo simplório português José Maria Cardoso, que se tornou num dos mais ricos proprietários de nossa cidade. Tinha por hábito ou como medida de precaução, usar sapatos com galocha quer estivesse chovendo quer fizesse sol (Não se tem conhecimento, que os desafetos o chamavam de 'chato de galocha' ou 'homem dos pés prevenidos'), mas sabe-se, num arrevessado gesto de ventura construiu a mais bela residência do mundo, com garagem no 2° andar, na Avenida João Pessoa.

Casa do Português em 1954 - Arquivo Nirez

Enfim a vida é uma ciranda onde todos nós dentro da mesma peneira da vida, aguarda o momento de ser joeirados pelo Criador de todos os mundos a quem devemos agradecer todos os nossos momentos de nossas vidas, e enquanto isso não chega, vamos dançando a música que a cada um foi reservado, até o dia do 'toque-de-silêncio' dessa para uma vida melhor.

Portanto sejamos otimistas e aproveitemos todos os momentos, porque a vida é feita de momentos de felicidade, e a oportunidade não é fácil e às vezes até careca.

Zenilo Almada
Advogado

Matéria publicada em 27/03/2005 no Diário do Nordeste

terça-feira, 19 de junho de 2012

Chatô, a Televisão e Rayito Del Sol em Fortaleza



De como, no mundo dos fatos, pessoas e acontecimentos interagem produzindo história e estória.

Aos caros ledores, de início, as apresentações dos personagens e suas façanhas, para o vivificar dos antigos e a perplexidade dos moços.

Um platicéfalo umbuzeirense, saído dos cafundós da Paraíba, deu-se, de corpo e alma, a uma peleja que ninguém se atreveu, nem aqui, nem na América Latina. Entrou nas casas e instalou-se desde 1950. Espantou a uns e alegrou a outros. Mudou e criou modos e costumes dantes desconhecidos. Mostrou-se um cruzado dos tempos modernos.

Um aparelho eletroeletrônico, com a voz do rádio e as imagens do cinema, em dimensões menores, trouxe às residências divertimento, informação e cultura dos vários recantos do País e da Terra. Até hoje, indispensável ao público. 



Novas formas e padrões artísticos, apresentados ao vivo e exigindo excepcionais técnicas cênicas e interpretativas de atores, atrizes, apresentadores, noticiaristas e uma gama de pessoal de apoio.

Em meio a isso, o surgimento, quase inusitado, de linda cantante e dançadeira caribenha. Causa de furor nas mentes e corações masculinos. Encantamento pela maviosidade da voz, dos saracoteados sensuais de rumbeira, a exuberância perfeita de dotes físicos e as audaciosas mostras do que um milimétrico biquíni era incapaz de esconder. 

Imagem meramente ilustrativa

Carolas maledicentes e ocupadas com a vida alheia, em magote, buscantes de pecados nos variados lugares alcançados por suas vistas. Tormentosas no infernizar a vida do prelado local e no atanazar um Chatô fleumático.

Um bispo, o empresário maior da comunicação no Brasil, maridos e filhos amantes do belo na tentativa de safarem-se do ódio das megeras.
 

Parte do imbróglio deste causo chega a nossa Capital, fervilha por ambientes vicejantes noturnos, sem deixar de futricar nas fantasias juvenis, algumas ainda pueris.

E, de tudo, um final capaz de agradar a gregos, troianos, hebraicos e medo-persas, no dizer do causoeiro nonagenário da Serra do Estevão, meu xará Geraldo Bezerra dos Santos.

DE CHATEUABRIAND A CHATÔ

Caatinga nordestina. Alto sertão paraibano. Tropeiros, nas horas causticantes do dia, descansavam, juntamente com suas tropas, à sombra de um frondoso Umbuzeiro. Aos poucos, a localidade formou-se vila, povoado e, em 1890, constitui-se município, desmembrado de Ingá.
 
Dois anos após, em 5 para uns e 4 de outubro para outros, esta última data consagrada a São Francisco de Assis, nasceu naquele rincão uma criança que recebeu o nome do santo. Francisco de Assis. Seu pai, admirador do poeta e pensador francês François-René de Chateaubriand, acrescentou Chateaubriand ao nome do recém-nascido, complementando-o com Bandeira de Melo, sobrenome familiar. Assim, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo constou do registro de nascimento do menino. Tempos depois, para íntimos, Chatô simbolizou tratamento carinhoso.



Da Paraíba partiu para Pernambuco, graduando-se Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Recife e, em seguida, viajou para o Rio de Janeiro, onde se radicou.

Advogado, professor, jornalista, proprietário de jornais, rádios e revistas, fundador e dirigente do mais forte grupo de mídia da América Latina - os Diários Associados -, senador da República e embaixador no Reino Unido influenciou, significativamente, decisões republicanas da História do País.

Empreendedor eficiente construiu o mais expressivo conglomerado de informativos sul-americanos, contando número superior a cem jornais, estações de rádio e de televisão, publicações e agência telegráfica.

Fundou o Museu de Arte de São Paulo e, como literato, ocupou a Cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras.

PIONEIRA TELEVISÃO LATINO-AMERICANA

18 de setembro de 1950. Chateaubriand, entre eufórico e ansioso, aguardava o momento para tornar-se o pioneiro da implantação da televisão na América Latina. Sonho de uma década, finalmente desperto para a realidade, tendo vencido as incontáveis adversidades. 



Enfrentou enormes obstáculos administrativos, aduaneiros e técnicos para a consecução do ideal obstinadamente perseguido.

Nada abatia seu intenso labor. Certa feita, sobre a dificuldade de profissionais para o trabalho, firmou: “O que acontece é que Deus anda cansado de carregar tantos malandros de tão pouca vergonha. Por isso, decidiu agora ajudar os chineses porque esses hereges sabem fazer uma coisa de que já nos esquecemos: trabalhar.”.

Fizeram-se completadas as aquisições da aparelhagem televisiva de captação, editoração e transmissão de imagens e sons. Igualmente, concluídas as edificações, instaladas as aparelhagens e equipamentos, como geradores, transmissores, retransmissores, antenas e estúdios.

O velho projeto concretizara-se no rápido prazo do biênio final daquele decênio de lutas.

Superados estavam os difíceis problemas comerciais e organizacionais surgidos e enfrentados, incansavelmente, no decorrer da execução do empreendimento. 




Chegara, enfim, a majestosa noite. Momento da inauguração da PRF3 TV Tupi de São Paulo. Primeira transmissão a partir do parque de produção localizado no Alto do Sumaré.

AO VIVO OU EM FILME 16 mm

Sem o recurso do videoteipe, somente chegado em 1960, quase toda a programação, obrigatoriamente, dava-se ao vivo.

A produção de clipes, em películas cinematográficas de 16 mm, além de exigir montagens complexas, era elaborada de maneira trabalhosa e demorada. 



 
Equipamento Telecine 16mm - Lealevalerosa

Até a exibição de filmes destinados às salas dos cinemas, para transmissão na TV, impunha difíceis adaptações e arranjos. Nem sempre, exitosos.

Impossível, devido à inexistência de aparelhagem da época, a realização de transmissões externas, impedindo levar ao ar ocorrências relevantes locais e nacionais.


GAFES, IMPROVISAÇÕES E HUMOR

As gafes, improvisações e paralisações, no ar, de propagandas comerciais e noticiários faziam-se constantes. Os telespectadores aceitavam, compreensivelmente, tais dificuldades, ante a novidade.

O aparecer, no cinescópio, de imagens em preto e branco, sem brilho, com o efeito “chuvisco” e as costumeiras interrupções de sinal faziam-se suportadas pelo telespectador e “televizinho”. Afinal, não se conheciam melhores condições tecnológicas.

Quem deveras sofria eram os protagonistas. De quando em quando, esqueciam, parcial ou totalmente, o texto decorado. Pronunciavam, erroneamente, palavras e chegavam a risos incontidos. Por seus equívocos ou os dos colegas copartícipes.

Alguns intérpretes chegavam ao total mutismo durante uma apresentação.

INAUGURAÇÃO: TV TUPI E SEU FUNCIONAMENTO

Finalizada a benção das instalações, proferidas as falas das autoridades presentes à solenidade, foram exibidas as cenas das filmagens realizadas, em um programa especial dedicado aos atos inaugurais. 



Hgproduções

Focalizou logradouros, pontos turísticos e históricos da capital paulista, representando um passeio que se completou com visita ao complexo de emissoras de Chateaubriand em sua Cidade do Rádio.

A conclusão enfocou, em amostragem objetiva e compreensível, o funcionamento total do sistema de televisão, iniciando na portaria do prédio e percorrendo todos os setores.



SHOW INAUGURAL DA TV TUPI

A segunda etapa da festividade inaugural constou de um musical participado por conhecidos intérpretes do cancioneiro nacional, apresentado pela atriz Yara Lins e encerrado com o famoso balé de Lia Marques.
 
Como apoteose, duas famosas atrações internacionais especialmente trazidas ao País.

Recital do ator contratado pela Century FOX, destaque em dez filmes e inúmeros discos fonográficos, o frei-cantor mexicano de tangos e boleros Jose Mojica, de grandiosa querência pública. Mojica fascinou a plateia ao entoar “A Canção da TV”, magistralmente composta para a ocasião. Para encerrar o espetáculo, aguardado com ansiosa expectativa, as duas únicas câmeras revezavam-se no focar da esfuziante e linda cantora-rumbeira Rayito Del Sol, ao som do instrumento de seu irrequieto bongozeiro Dom Pedrito e do afinado conjunto musical acompanhante da estrela. Empolgação desmedida e surpreendente.

ESCÂNDALO RAYITO DEL SOL

A cantora caribenha cativou grandemente a maioria dos telespectadores da pauliceia. Em contraste, viu-se apupada por uma minoria de longevas senhoras. Carolas integrantes de uma confraria religiosa, segundo os jovens defendentes do modernismo

Para eles, tornou-se sucesso absoluto o cântico, a dança, os requebros, a sensual beleza, a microrroupagem e outros quês e porquês da análise de cada fã. Era a própria estrela em grandeza e não um simples pequeno raio, indicativo de seu nome artístico.

Para elas, escândalo horripilante provocado pela desinibição no trajar e no rebolear. “Horripilante pecaminosidade desvairada e chocante. O desvario obsceno. Reprodução orgíaca de Sodoma e Gomorra.” – asseveravam as matronas.

O show tornou a rumba e sua representante paixões populares, a partir daquele momento, graças às divulgações de jornais e rádios. Deu-lhe inesperada e extraordinária fama na TV Tupi e nas casas de diversões noturnas.

A também cognominada La Venus de Cuba, na estréia, afora seu mavioso vocalismo, vestiu um quase imperceptível maiô de duas peças, exibiu passes extasiantes, tidos acintosos pelas senhoras ditas tradicionais quatrocentonas.

Representante da conhecida família Whitaker formalizou manifestação de repúdio. O alvoroço ativou-se em reunião da Confederação das Famílias Cristãs e, em protesto, foi levado a Assis Chateaubriand, com o fito impedir que “a pecadora continuasse a invadir e desrespeitar a moralidade dos lares.”. 

O bispo de então, Dom Paulo Rolim, por igual, viu-se instado a reprovar as exibições e, se o caso, até excomungar a, para elas, terrível pecaminosa.

Em resposta, alegou “não ser este assunto da Igreja e que a emissora devia arcar sozinha pelas consequências.”. Daí em diante, fugiu da temática como satanás o faz da cruz.

CHATÔ, O BISPO E RAYITO

A encantadora vedete e dançante conquistou São Paulo, tornou-se a principal artista requisitada da noite paulista, com invulgar popularidade.

Chatô, a exemplo do bispo e inteligentemente, esquivou-se de comentar os fatos, deixando o assunto para exame da direção artística da TV.

Maridos e filhos das damas, atendendo aconselhamentos e aos próprios olhos, recomendaram as santas prudência e tolerância. Ah! e como adoraram sugerir as práticas naquelas circunstâncias... inclusive, enaltecendo o perdão.

Enquanto isso, a Tupi criava o semanal programa Maracás e Bongôs, exclusivamente para a saracoteadora rumbeira. Durante meses, sucesso primeiro e atração recorde de audiência.

E o ritmo cubano, irreverente e ousado, balançou os volumosos e trepidantes quadris pátrios.

EM SÃO PAULO, OUTRAS CAPITAIS E FORTALEZA

Tanto lá, quanto cá, a dançarina recebia homenagens mil.

Empreendeu turnê pelas capitais, realizando temporadas com exibições teatrais, shows especiais e participações em festas de clubes sociais.

O historiador paraense Carlos Rocque, irmão de Felix Rocque – proprietário dos Teatro Poeira e Teatro de Variedades – dedicou citações a Rayito e a “sambista Hebe Camargo” por suas participações na Festa de Nazaré. Belém homenageou, em grandioso estilo, as duas personalidades, de acordo com artigos da imprensa.

 

Patrocinada por empresas e programa radiofônico de auditório, Rayito atendeu a convites e cumpriu estada em Fortaleza.

Causou tumultos devido às multidões que atraia, quase provocando quebra-quebra na portaria do Theatro José de Alencar, em face das superlotações e consequentes esgotamentos na venda de ingressos. 


Teatro José de Alencar - Acervo Pedro Leite


Igual situação ocorreu na entrada do Edifício Pajeú, onde funcionava a PRE9 – Ceará Rádio Clube, quando a cubana chegou para abrilhantar o Programa Noturno Pajeú, comandado pelo comunicador, apresentador e radioator João Ramos.
Também em clube social a estrela de Rayito foi verdadeiramente Del Sol. Não se mostrou um "raiozinho" como sugeria no nome. Duvidasse, por ela o astro maior seria novamente vaiado na Praça do Ferreira


Estúdio da Ceará Rádio Clube 


Seus deslocamentos movimentava forte aparado policial, pois os admiradores não se continham nos desejos e tentativas de alcançar a ninfa.

Durante sua permanência entre nós, hospedada no Excelsior Hotel, diuturnamente, uma legião de admiradores postava-se na rua Guilherme Rocha na esperança de vê-la e conseguir autógrafo.

AS FOTOS E O JEJUM ESTUDANTIL

Curiosos e risíveis episódios marcaram a estada da rebolativa beldade na terra alencarina.

Os jornais Correio do Ceará, O Povo, Unitário e Gazeta de Notícias estampavam fotografias artísticas, com aberturas diafragmáticas precisas. Sobressaiam os sumários biquínis, pouco escondendo os predicados anatômicos da rebolante. Hoje, aquelas peças, segundo os estilistas já ultrapassadas e com volumoso desperdício de tecido, ofereceriam matéria prima para confecção de vários maiôs do tipo fio dental.

O impressionante residia na procura, pela estudantada, de exemplares daqueles noticiosos matutinos e vespertinos. Deles, as fotografias eram recortadas, colocadas entre as páginas dos livros escolares que, em classe e em plenas aulas, circulavam, passando de mão em mão.

Disputadas nas bancas de jornal foram, também, as edições da Revista do Rádio, onde se encontravam fotos, notícias e entrevistas com a intérprete do rebolativo estilo de música do Caribe

Acervo Amara Rocha 

Alunos do Colégio Lourenço Filho deixavam de merendar e o dinheiro da mesada destinava-se as aquisições de fotografias.

Até a Revista Saúde e Beleza, divulgadora de espécimes modelares humanas, foi esquecida.

 SONHAR COM RAYITO E ACORDAR COM APOLINÁRIO 

 À época, o desembargador Faustino de Albuquerque e Sousa governava o Estado, enquanto o inspetor João Apolinário da Silva, da Guarda Civil de Fortaleza, integrava o corpo de seguranças governamental. 
Afrodescendente, o vigilante, ao que divulgavam, possuía mais de 1,90 m de altura para um físico superior a 110 quilogramas.  
Certa feita, segundo consta, murro desferido pelo guarda na cabeça de um touro, teria derrubado o animal.

Fiel servidor do então governador e temido por sua conhecida valentia, não admitia a mínima crítica ao ocupante do Palácio da Abolição.

Opositores políticos e galhofeiros aproveitaram-se da imagem da bela para cutucar a fera.

Indagavam “Qual a diferença entre o céu e o inferno?”



Aos que não sabiam a resposta ou davam outra, retrucavam: “Sonhar com Rayito Del Sol e acordar com o Apolinário ao pé da rede.”

RAYITO CHEGOU E APOLINÁRIO PARTIU

27 de setembro de 1950. 22 horas. Igual horário ao da inauguração da TV Tupi, dias antes, em São Paulo.

Em bar das proximidades da Praça Presidente Roosevelt*, bairro Jardim América, registrou-se desentendimento entre frequentadores do estabelecimento. Travou-se renhida luta corporal, seguida de tiroteio.

Ao fim da contenda, sem vida, o corpo do inspetor Apolinário restou estendido na calçada.

A data marcou a chegada de Rayito e a partida de Apolinário


Geraldo Duarte




*Atual Praça Frei Galvão, como passou a ser chamado oficialmente o lugar.



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Agradeço ao querido amigo Geraldo Duarte 
(Advogado, administrador e dicionarista) pelo belíssimo artigo!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Execução de Pe. Mororó ocorreu há 187 anos - Parte II


A Igreja do Rosário

A Igreja do Rosário estava lotada naquela manhã ensolarada de domingo para a macabra missa fúnebre de corpo presente. Dois rebeldes confederados assistiam à cerimônia de encomenda dos seus corpos que logo mais seriam crivados de balas. O ritual macabro possuía roteiro de um teatro de horrores: encomenda prévia da alma com os “eleitos” presentes, degradação das honras, formação do aparato militar e fuzilamento público para uma platéia sedenta de sangue. Mas, afinal, quais os sonhos dos rebeldes tropicais da confederação do equador?

Padre Mororó foi condenado à morte por crime de Lesa Majestade. Contra ele pesavam três crimes: 1) Ter proclamado a República em Quixeramobim; 2)Ter servido de secretário do Presidente da República no Ceará, Tenente Coronel Tristão Gonçalves de Alencar Araripe; 3) finalmente, de ter sido o redator do Diário do Governo do Ceará, órgão dos Republicanos.

A Confederação do Equador foi um movimento rebelde, liberal e republicano contra o absolutismo do Imperador Dom Pedro I. O mesmo príncipe que com o apóio das elites proclamou a Independência do Brasil do colonialismo português agora demonstrava sua face mais tirânica e cruel. Impôs uma Constituição despótica em 1824 e condenou à morte Mororó, Caneca, Carapinima, Miguelinho, João Ribeiro e tantos mais que ousaram sonhar pela liberdade. Mororó foi mais. Usou como canal de propagação das idéias confederadas um jornal, o primeiro do Ceará, o “Diário do Governo do Ceará”, certamente inspirado no Correio Brasiliense, primeiro jornal do Brasil, editado de Londres e enviado clandestinamente para o Brasil. O nosso primeiro jornal não era editado em Londres e sim em Quixeramobim, mas também propagava luzes contra o jugo dos poderosos, as trevas do autoritarismo. Mororó pagou com a vida o preço dessa ousadia. 


 
Passeio Público - Álbum de Vistas do Ceará 1908 

Ao findar a missa, o Padre Gonçalo Ignácio de Loiola Albuquerque, ou melhor Padre Mororó, e o coronel João de Andrade Pessoa Anta caminharam sem pressa pela Rua dos Mercadores ( Hoje Conde D’eu), seguiram pelo trecho da hoje Rua Guilherme Rocha, dobrando na Rua Major Facundo e prosseguiram até o Campo da Pólvora. Não estavam sós. Populares e soldados acompanharam o cortejo. Alguns dependurados nos galhos das árvores. Quando um dos galhos quebrou, parte do populacho foi ao chão como frutas podres que despencam em meio a zombaria geral. Mororó até esboçou um sorriso, mas o enredo era trágico e não cômico. O povo que os rebeldes confederados queriam libertar pouco ou nada sabia sobre as causas daquele movimento. 

 
Passeio Público - Álbum de Vistas do Ceará 1908 

Diante do pelotão de fuzilamento, Padre Mororó recusa a venda e pede que não lhe ponham no peito a fita que indicava o local da mira, coloca a mão direita sobre o coração e corajosamente diz para o pelotão: “camaradas, o alvo é este. Tiro certeiro para que não me deixem sofrer muito”. O sangue do padre banhou o Baobá, árvore gigante importada da África. Ali, ao pé do baobá, muitos outros tombaram porque ousaram sonhar com um Nordeste Independente do resto do Brasil, um país tropical livre e republicano contra o Absolutismo de Dom Pedro I. Hoje o local se chama Praça dos Mártires, ou Passeio Público, e os fantasmas rebeldes confederados nos cobram a memória do passado e os compromissos de luta do presente.
Evaldo Lima

O famoso Baobá do Passeio Público - Álbum de Vista do Ceará 1908


Parte I



Evaldo Lima é Prof. de História e atualmente exerce a função de Sec. de Esporte e Lazer de Fortaleza.



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NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: