Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



domingo, 6 de janeiro de 2013

Os enterros na Fortaleza antiga



Cemitério São João Batista em 1931

Em maio de 1934, o cronista João Nogueira estabelecia uma relação entre a velocidade que caracterizava os novos tempos e a mudança de atitudes frente ao traspasse. No tocante aos cortejos fúnebres, ele apontou o transporte do féretro e os trajes dos acompanhantes como índices  na percepção dessa mudança. 


Cemitério São João Batista em 1931

Os enterros atuais puxados a máquina, passando velozes, os convidados vestidos de todas as cores, não infundem aquele respeito, que impunham antigamente. Tal é a força dos costumes que hoje não causa o mínimo reparo um homem acompanhar um enterro ou assistir a uma missa de sétimo dia, vestido de qualquer cor, mas ai daquele que não se apresentar de branco de rigor ou de smoking em um sarau dos nossos clubes elegantes. Tratamos a Morte com pouca cerimônia e a Dança com o maior respeito...


Cemitério São João Batista em 1931

A cidade não mudava apenas em suas pedras e topônimos: à transformação material e onomástica somava-se o desaparecimento de costumes antigos, no desencadear de lembranças nos  memorialistas em apreço. As descrições pormenorizadas de João Nogueira acerca da grande movimentação que envolvia os enterros de outrora confirmam que eles eram grandes eventos públicos a concentrar a atenção da  população e mobilizar considerável soma de recursos simbólicos. É com embevecimento que o engenheiro recorda os funerais de há meio século.



Antiga Igreja da Sé com seu cruzeiro

Há cinquenta anos passados os enterros entre nós eram verdadeiras procissões, que se estendiam, algumas vezes, por mais de um dos nossos quarteirões. Abria o préstito uma cruz negra de cuja peanha pendia uma  saia, que era um pano de veludo preto com franjas douradas, afetando a forma desta peça de vestuário. As irmandades marchavam em longas filas, solene e silenciosamente. Precedido pelo cura da , vinha o féretro, levado por quatro empregados da Misericórdia, vestidos de preto, com cartolas de oleado reluzente, casacas e calças debruadas de amarelo.


A Santa Casa ainda com um só pavimento. Foto de 1911

Os empregados da Santa Casa encarregados de conduzir o ataúde eram popularmente conhecidos como “gatos pingados”. Em razão de seu trajar chamativo, sempre foram citados por quantos memorialistas recordassem os enterros da Fortaleza antiga. Nas Memórias, Gustavo Barroso entreviu a mudança nos sentimentos com respeito aos mortos que foi suscitada pelo automóvel. Conforme já foi assinalado, sua introdução no ambiente urbano inaugurou novos ritmos e expectativas, afetando várias dimensões da vida cotidiana. Os ritos fúnebres estavam inclusos nessa transformação, conforme é possível inferir da passagem em que a velocidade dos cortejos motorizados é contraposta à solenidade dos enterros a pé, com o caixão conduzido pelos referidos empregados, em um “andar ritmado e lento”. 


Cândido Portinari

Como que ainda estou vendo os enterros. Todos a pé. Muito solenes. Na minha meninice, os mortos não usavam automóvel para a derradeira viagem. Nem se sabia o que era automóvel. Os vivos parece que não tinham pressa em se verem livres dos mortos, nem 
estes pressa em se verem livres dos vivos. À frente dos enterros, uma cruz alçada, de saiote preto, o padre paramentado e dois coroinhas. O caixão levado a mão pelos parentes e amigos ou por quatro gatos pingados de andar ritmado e lento, de  sobrecasacas negras e cartolas de oleado. No acompanhamento, somente homens, todos de luto, silenciosos e compungidos.¹



Não há mudança cultural que não se faça perceber no surgimento de novos objetos – e no desaparecimento de outros. As  procissões noturnas, iluminadas com tochas e fachos, talvez não fizessem mais sentido em uma cidade iluminada pela energia elétrica e abastecida de veículos. Sua estranheza foi evocada por Gustavo Barroso, em outra passagem do texto. 

Lembro-me vagamente de ter visto, quando muito pequenino, um dos últimos enterros à noite, à luz de tochas e archotes, costume antigo e lúgubre. Se não vi, ouvi descrevê-los tantas vezes  em casa que a descrição se mistura lá nos recessos do meu cérebro às cousas reais e acaba feita realidade pelo contato.


Cemitério São João Batista em 1931

Esse é um termo essencial da memória: muitas vezes não é possível distinguir entre nossas próprias lembranças e o que nos foi contado por outrem. Tais operações geralmente são inconscientes, mas no caso de Gustavo Barroso, artesão da memória, a possibilidade é vislumbrada. Ao lado de outros relatos, a imagem confirmava: os mortos já não se enterravam como antes. 


Cemitério São João Batista em 1931

A necessidade de relatar como eram os enterros de antigamente revelava um presente marcado pela supressão de referências à morte: do mesmo modo que o passado, os mortos eram banidos do cotidiano da cidade. O primeiro desaparecia nas contínuas reformas que depuravam o espaço urbano de seus traços indesejáveis; os últimos eram abolidos das vistas 
públicas através dos automóveis, que, velozes, os despachavam mais rapidamente para o outro mundo.


Antiga rua das Flores (Castro e Silva) por onde seguiam os cortejos fúnebres até o Cemitério São João Batista. Arquivo Nirez


Talvez muitos saudassem o progresso no que poupava  aos fortalezenses. Pois as procissões se estendiam por 1300 metros, ao longo da rua das Flores, que conduzia da igreja da Sé ao Cemitério São João Batista (daí talvez a origem do nome). Tão grande percurso, realizado sob as intempéries da natureza e sobre um calçamento pouco convidativo às longas caminhadas, assumia contornos de sacrifício – quase uma via-crúcis: “Era, em verdade, um sacrifício ir um homem, da Matriz ao Cemitério, vestido de preto, sol das quatro horas pela frente, sobre um péssimo calçamento”.


Fachada antiga do Cemitério São João Batista sendo demolida. Arquivo Nirez

Mas ritos fúnebres cumprem a função social de mostrar às pessoas que elas são importantes para os outros. Não circunscrever a morte com eles pode transformar o ato de morrer em uma “situação amorfa, uma área vazia no mapa social”.

O ritual que cobria esse momento crítico talvez se destinasse a marcá-lo, realçá-lo em meio ao cotidiano de fatos muitas vezes indistintos,demonstrando, assim, o quanto significava a perda de um membro para a coletividade. Era um ritual para os vivos, antes de ser para os mortos; estes se iam, mas aqueles ficavam, e eram reconfortados por  saber que, quando sua 
hora chegasse, sua partida também seria sentida pelos outros. 


Cemitério São João Batista em 1931

Na percepção do engenheiro, ninguém se queixava da  caminhada torturante em virtude dos “sentimentos que a todos  animavam” Trata-se, evidentemente, de uma visão carregada de subjetividade, mas que bem expressava o quanto poderia ser angustiante para alguns o vazio que a ausência do ritual criava.

Esse vácuo também era formado na destruição de fragmentos do passado que compunham a paisagem da cidade. 
Esta era expulsa da cidade tanto nas transformações do espaço quanto no desaparecimento de antigos ritos fúnebres. Mas os memorialistas a introduziam no discurso, e lembravam que o dever com os mortos  ia muito além do cerimonial adequado, mas implicava reconhecê-los: nas esquinas, praças, árvores, topônimos... Vestígios do passado transmutados em lápides. 

João Nogueira recordou, com enlevo, os “enterros de anjinhos”. 


Enterro de anjinhos - Imagem meramente ilustrativa - Acervo José Elson

Eram festivos e risonhos os enterros de anjinhos ao tempo em que a Fortaleza não tinha pretensões a  Metrópole... Os sinos da (os menores) repicavam alegremente e a família do  anjinho convidava quantos meninos pudesse para acompanhar o saimento. Não se encomendavam os  anjinhos. Porque encomendá-los Àquele que dissera: Deixai vir a mim os pequeninos? A inocência daquelas aves abria-lhes as portas do reino dos céus. Enquanto os pequenos convidados esperavam pela hora da saída, recebiam, de agrado, toda sorte de guloseimas. Depois, lá se ia o alegre bando acompanhado, não raro, por músicos que tocavam, durante o trajeto, polcas, quadrilhas e outras peças alegres. E era assim que  as mães piedosas deixavam que voassem as andorinhas, em busca de 
paragens luminosas. Felizes tempos aqueles!


Enterro de anjinhos - Imagem meramente ilustrativa - Acervo José Elson

Eram tempos mais felizes aqueles? Quem sabe? De qualquer forma, o engenheiro encontrava regozijo na lembrança. Mas o  encontraria do mesmo modo se a tradição continuasse? Talvez sim, mas de  uma forma distinta, porque presença. A ausência faz o memorialista, a mudança reelabora seus sentimentos com respeito à cidade em que vivera por longo tempo, produz memórias que não são a Fortaleza de antigamente, mas fragmentos recolhidos e dispostos segundo critérios de afetividade.



No entanto, é provável que João Nogueira e Gustavo Barroso tenham sido levados, pelas circunstâncias que deparavam no presente, a idealizar as atitudes dos antigos com relação aos mortos. O testemunho de João Nogueira sobre a demolição do antigo Cemitério de São Casimiro, em 1877, e a sombra do desprezo que pairava sobre os que ali repousavam, parece apontar nesse sentido. 


Início do século XX

Local onde antes esteve o Cemitério de São Casimiro - Álbum Fortaleza 1931

Muita gente passa hoje em frente às oficinas da Baturité sem suspeitar ao menos que todo aquele movimento se opera sobre um chão de repouso e de morte. Parte das oficinas, o  Chaler, a Carpintaria, os Depósitos e desvios estão assentes sobre o local do antigo Cemitério de São Casimiro [...]. Aí se fizeram enterramentos até abril de 1865, época em que foi fechado sob pretexto de se achar quase dentro da cidade, estar sendo invadido pelas areias do morro, estarem sepultados nele inúmeros coléricos. Daí por diante jazeu em completo abandono, até que em 1877 se resolveu a sua demolição. [...] 


Compreendem-se perfeitamente as razões porque se fechou o Cemitério Velho; o que porém nunca pudemos compreender foi o abandono, de que fomos tantas vezes testemunhas, daquele humilde Campo Santo. Em 1878 já estava quase tudo em ruínas: túmulos desmoronados, catacumbas abertas, deixando ver o seu horripilante conteúdo, ossos dispersos pelo chão, onde os animais pastavam tranquilamente. Dir-se-ia que na cidade não restava mais nenhum parente, nenhum amigo de nenhum daqueles que repousavam ali.




Traslado dos restos mortais do General Sampaio na Avenida Bezerra de Menezes, com a presença do então Governador Virgílio Távora (1966).


À vista dessas poucas (e chocantes) linhas, impõe-se repensar as assertivas que atribuíam aos antigos maior respeito e consideração aos mortos. Afora a ordem de “autoridade competente” para exumação dos restos de mortos ilustres antes da profanação (como o do Boticário Ferreira, a quem se atribui, juntamente com Silva Paulet e Adolfo Herbster, o traçado ortogonal das ruas de Fortaleza), o único que parecia se importar com o desrespeito era uma velha casuarina


A velha casuarina em destaque

Do nosso antigo cemitério resta apenas um único monumento: uma casuarina, que o acaso conservou.  Último morins, único amigo sobrevivente de quantos viu sepultar. Dizem que quando se revolvem as cinzas dos seus mortos ouve-se pela calada da noite um vozear 
baixinho por entre a vetusta ramaria.²

Por entre a folhagem da árvore, diziam escutar-se um último alento aos mortos, cujos despojos não voltariam nunca “ao  pó sagrado de que nos fala a Escritura, mas à areia negra do esquecimento e do desprezo”.³

Foto de 1922, época da reforma da Praça Castro Carreira (Estação)

¹BARROSO, Gustavo. Memórias. Coração de menino. Op. Cit., p. 62-3. O jornalista Carvalho Lima, sob o pseudônimo de “Ancião”, faz reparos à crônica “Os primitivos enterros”, de Raimundo de Menezes, onde os encarregados do transporte do ataúde eram lembrados. Estes não seriam empregados da Santa Casa, mas trabalhadores de rua contratados para cada enterramento, e subdividiam-se em três categorias,  segundo as posses do morto: 12$00020$000 e 30$000. Cada qual trajava uma indumentária diferente (os descritos pelos memorialistas pertenciam à última categoria). (O Estado, 13/02/1938. Apud MENEZES, Raimundo de. Coisas que o tempo levou:  crônicas históricas da Fortaleza antiga. 3. ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000, p. 77) 

²No texto que dedica ao oitizeiro do Rosário, João Nogueira menciona outras árvores conhecidas de Fortaleza. Além do cajueiro do Fagundescuja história já é conhecida, havia a “árvore da liberdade”, coqueiro plantado em 1831, no antigo Pátio do Palácio (atual praça General Tibúrcio), por ocasião da abdicação de D. Pedro Io “cajueiro botador”, “velho” que “não se impunha ao respeito”, por prestar-se ao chiste popular: sob sua fronde ocorria a eleição dos maiores mentirosos da cidade, que sempre terminava em cervejadas, nos botequins da praça do Ferreira, onde estava localizado; por último, um coqueiro da praça da Estação, que não tinha história conhecida: “É um velho que tem atravessado a vida sem viver. Sabe-se apenas que nas noites de luar conversava com o oitizeiro. O que diziam, ninguém entendia... Agora  emudeceu para sempre, porque morreu o único amigo que lhe restava e o entendia”. NOGUEIRA, João. Op. Cit., p. 161.

³O historiador Simon Schama faz uma instigante reflexão acerca das ligações das árvores 
com o sagrado, na simbologia de pinturas e xilogravuras da Idade Média. Esses entes da 
natureza foram apropriados por catequistas cristãos que deram combate a cultos fetichistas, e se empenharam em converter seus praticantes através de sua associação ao Crucificado. (SCHAMA, Simon. Paisagem e memória. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 221-232) 



Crédito: Tempo, progresso, memória: um olhar para o passado na Fortaleza dos anos trinta - Carlos Eduardo Vasconcelos Nogueira, Álbum Fortaleza 1931 e Arquivo Nirez

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A Prainha de outrora...


Igreja da Prainha em 1935
Nossa outrora hígida capital desfrutava de tranquilidade nos bairro, onde conviviam harmoniosamente famílias abastadas e carentes. As Cambirimbas e a Tijubana eram aglomerados da classe mais pobre, existentes respectivamente ao lado das espaçosas residências do velho Alagadiço e de Jacarecanga. A Cachorra Magra se agregava ao Benfica, bairro descoberto pelas famílias ricas da cidade. E, ao simplório bairro do Outeiro, trecho da cidade sito a leste do Riacho Pajeú e alcançando por ínvios caminhos, quais eram o Corredor do Bispo (atual rua Rufino de Alencar), o Beco do Pocinho e o início da futura Pinto Madeira, se agregava a Prainha, alcançada pela antiga rua da Praia (atual Pessoa Anta) e habitada por "gente boa" da terra. 


Seminário e igreja da Prainha em 1906 - Arquivo Assis de Lima

Nele nasceu e viveu algum tempo o grande cearense e maior crítico literário nacional da passada centúria Araripe Júnior, cuja moradia localizarei para a posteridade. E foi ele palco das peraltices de outro grande conterrâneo nosso, por via das frequentes andanças pela casa de parentes seus, o inesquecível Gustavo Barroso.


Foto da época da Inauguração da torre do Cristo Redentor em 1922. As casinhas que vemos, são da Rua Rufino de Alencar. Nirez

O bairro da Prainha compreendia não somente a parte que fica abaixo da colina onde nossa cidade se assenta mas se estendia à porção de cima, que dava frente para o areal hoje correspondente à Praça Cristo Redentor e ao início da rua do Seminário, atualmente Avenida Monsenhor Tabosa


Foto do Álbum de Vistas do Ceará de 1908

As casas à esquerda formam a Rua Rufino de Alencar que vem do lado da Catedral e quando chega na Rua Boris faz a abertura de um ângulo para formar a praça. A foto na realidade é o areal do que seria futuramente a Praça do Cristo Redentor. Arquivo Nirez

Na esquina noroeste da rua Boris, hoje reduzida em sua extensão em decorrência da demolição da face norte da desaparecida rua Franco Rabelo, e a atual Avenida Presidente Castelo Branco, que o povo chama de Leste-Oeste, existia um velho solar pertencente ao coronel Solon da Costa e Silva, nascido em Pacatuba e comerciante em Fortaleza, proprietário da Empresa Ferro-Carril de nossa cidade (que explorava o serviço de bondes de tração animal), sucedia em 1914 pela Ceará Light (concessionária do serviço de bondes de tração elétrica). O coronel Solon, que deu seu nome a uma rua da cidade, era pai de meu querido professor de inglês no Liceu do Ceará, Mozart Solon, e avô do Pe. Fred Solon, sacerdote jesuíta muito popular entre as novas gerações de fortalezenses. O belo prédio a que me referi foi em parte demolido para o alargamento da referida artéria, hoje crismada com o respeitável nome do primeiro Presidente da República após a Revolução de março de 1964.


A rua do Seminário em 1890 - Nirez

A Casa Boris

Descendo a ladeira da rua Boris, vamos encontrar ainda hoje o edifício que abriga a Casa Boris, aqui estabelecida no século passado e de grande importância econômica e social, a ponto de o povo dizer que o mar era o "açude do Boris".


Foto colhida pela objetiva da Aba Film no ano de 1938. A partir da esquerda, a mansão que foi de Luiz Borges da Cunha e Maria Pio de Castro, que ficava na Rua Franco Rabelo, em frente à Praça, seguida da casa construída por José Pio de Morais e Castro e Angélica Borges Pio de Castro, depois ocupada pelo inglês Francis Reginald Hull (Mr. Hull), meio encoberta por uma árvore; a Avenida Monsenhor Tabosa, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e o Seminário Arquidiocesano. Na frente, a praça, com a torre que lhe deu o nome. Arquivo Nirez

Voltando à porção elevada da Prainha, visualizávamos, ao lado do belo prédio em que se abriga a Biblioteca Pública, a casa de nº 317 da desaparecida rua Franco Rabelo, no início da Avenida Presidente Castelo Branco. Tratava-se do primeiro bungalow construído em Fortaleza, iniciativa de Manuel Pio.


Ladeira da Prainha e residência de Mister Hull -Nirez

Vizinho a esse prédio existia outro fazendo esquina com a atual rua Almirante Jaceguai, que integra a Ladeira da Prainha, onde os bondes estacavam pela impossibilidade de subi-la. Nele residiu José Pio, irmão do proprietário do bungalow vizinho, e sua estampa consta do Álbum de Fortaleza editado em 1908. Depois foi residência de Francis Hull, cônsul inglês em nossa terra e gerente da Ceará Light, homem curioso de nossas angústias climáticas e autor de estudos sobre a problemática das secas, merecendo por isso batizar importante artéria de nossa terra. Esse prédio foi demolido e o correspondente terreno serve atualmente de estacionamento de automóveis ou atividade correlata.


O bonde Prainha na Avenida Pessoa Anta

Olhando em diagonal para a Praça Cristo Redentor e de frente para a Igreja da Conceição da Prainha (conhecida como Igreja do Seminário), localiza-se o prédio outrora residência do Barão de São Leonardo. Corresponde atualmente aos números 5, 15 e 23 da Avenida Monsenhor Tabosa, chamada antes de rua do Seminário. O Barão de São Leonardo, hoje denominando rua de nossa capital, chamava-se Leonardo Ferreira Marques e nascera em Mombaça.


Vista aérea da década de 20/30 - Arquivo Nirez

Vizinho à casa do Barão situava-se outra que tem hoje o nº 39 onde residia no início do século corrente  o grande poeta cearense que batizou rua da cidade e foi "degradado" por um vereador de passada legislatura, que quis homenagear o pai do dono de um posto de gasolina ali situado... José Albano, membro de família fidalga chefiada pelo Barão de Aratanha, nasceu em casa situada na esquina noroeste das ruas Visconde de Saboia e Coronel Ferraz, mas morava então na Prainha. Descia ele a ladeira do bonde da mesma denominação para, juntamente com o futuro deputado federal e jornalista Luis Cavalcante Sucupira, banhar-se nas ondas que quebravam nas areias da futura Praia de Iracema, então Praia do Peixe.


Praia de Iracema em 1930


Fonte: Prainha, um bairro decadente - Mozart Soriano Aderaldo

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012



2012 foi um ano maravilhoso para o Fortaleza Nobre, muitas histórias que tive o maior prazer em pesquisar e aprender para trazer aos leitores do blog. Foi também gratificante acompanhar o crescimento da nossa Fan Page. A participação das pessoas em cada foto postada, foi essencial para esse sucesso! Cada curtida e cada compartilhamento, era uma alegria e um atestado de que o FN* está no caminho certo! Hoje nós já somos mais de 6.600 e tenho certeza que 2013 será ainda melhor, pois voltarei cheia de novidades e com a bateria recarregada e um estoque de fotos antigas, ainda maior! 
Na nossa Fan Page, já foram postadas mais de 1.600 fotos antigas. 

Aqui no blog, já chegamos a 990 seguidores e conforme estatística do Blogger, só no mês passado tivemos 36.628 visualizações da página. E fora o Brasil, o blog já atingiu os Estados Unidos, Suécia, Portugal, Alemanha, França, Reino Unido, Espanha, Rússia e Bélgica. Estamos chiques demais! 

Ah, não posso esquecer de agradecer aos amigos do Twitter que vira e mexe, retweetam nossos assuntos e atraem mais seguidores e amigos, valeu mesmo!

Bom, foi pensando em todos vocês que resolvi fazer essa retrospectiva, espero que gostem!!! 









No Auge da Leste-Oeste

...Foi nessa época e nesse ambiente que surgiram e floresceram os inúmeros bares, boates e inferninhos da nova e recém inaugurada Avenida Leste-Oeste. A cidade crescia vertiginosamente, puxada pelo “milagre econômico” e sob a batuta da Gloriosa Revolução de 64. 

Dos Elegantes Cafés vindos do século XIX ao varejo atual

...Existiam ainda na praça quatro quiosques que se denominava “café do Comércio”, “café Iracema”, “café Elegante” e “café Java” – o mais antigo, pois data de 1886 e se tornara o principal ponto de reunião da fina flor da cidade, e dos famosos intelectuais da inovadora Padaria Espiritual.








Primeira estação radiotelegráfica de Fortaleza - Uma casa, duas antenas e 3  gerações

Em 1922 instalou-se a primeira estação radiotelegráfica de Fortaleza na Praia do Peixe com duas grandes torres (antenas). Os escritórios ficavam no prédio da Fênix Caixeiral, na Praça Marquês do Herval, na Rua General Sampaio, esquina com Rua Guilherme Rocha, onde hoje fica o edifício do CEMJA.



Colégio Lourenço Filho - 74 anos

... Para patrono da instituição, escolheram o professor Lourenço Filho, que na época já ultrapassara as fronteiras nacionais, devido às suas realizações na área da Pedagogia. No ano de 1939, foi instalado o Curso Ginasial e, em seguida, o Normal e o Colegial. Não foi necessário muito tempo para que o Lourenço Filho fosse reconhecido pela sociedade como exemplo de educação no Estado.







Grupo Escolar Fernandes Vieira - Colégio Juvenal Galeno


Em 6 de setembro de 1923 no bairro de Jacarecanga, foi adquirida para propriedade do Estado a chácara localizada na rua Oto de Alencar frente para a Praça do Liceu. No dia 3 de outubro foi lançada a pedra fundamental para a construção do então Grupo Escolar Fernandes Vieira, pelo então presidente do Ceará Idelfonso Albano...


Clube dos Diários - Fatos Históricos


Em 18 de março de 1913, é fundado o Clube dos Diários, nascido de uma dissidência do Clube Iracema, e que se instalou no dia 23, no Palácio Guarani, no mesmo local antes ocupado pela Associação Comercial do Ceará.
Depois juntou-se ao Clube Iracema, denominando-se Clube Diários-Iracema.









O Correio do Ceará é um tradicional jornal de Fortaleza. Foi fundado em 2 de março de 1915 por Álvaro da Cunha Mendes*, mais conhecido por A. C. Mendes, empresário do ramo gráfico. A partir de 1937 passou a ser integrante do Diários Associados. Antônio Moreira Albuquerque, jornalista que nasceu em Granja (01 de jan. de 1918) e faleceu em Fortaleza (1998), foi secretário do "Correio do Ceará" por vários anos nas décadas de 50,60 e 70.


De Serviluz a Coelce - A Companhia Energética do Ceará

... Desde 1912 a Capital era servida pela luz e força da Light, companhia inglesa que explorou o bonde, ônibus, além de luz e força, sempre com precariedade.
A empresa foi municipalizada, transformou-se em Serviluz, Conefor e finalmente em Coelce.

Fábricas em Fortaleza

...A Gelatti, marca uma nova era, um divisor de águas, pois antes existiam pequenas fábricas de picolés semi-artesanais como a "Princesinha"(na Barão de Aratanha dos irmãos Arruda) e a Gelatti se estabelece com equipamentos modernos, em escala industrial, onde até o carrinhos eram diferentes e os vendedores, trabalhavam uniformizados e de boné.








Avenida Santos Dumont - Antiga Rua do Colégio das Órfãs

...uma das vias mais longas da cidade com mais de oito quilômetros ligando o bairro Centro a zona leste de Fortaleza chegando até a Praia do Futuro cruzando o bairro Aldeota. A avenida começa estreita e de sentido único oeste-leste a partir da rua Coronel Ferraz sendo alargada a partir da rua Dona Leopoldina. A partir da rua Tibúrcio Cavalcante a avenida ganha um canteiro central e passa a ser de sentido duplo.

Rua General Sampaio - Antiga Rua da Cadeia 

Há tempos, muitos anos atrás, a rua General Sampaio se chamava a rua da Cadeia, porque lá no início, próximo à Estação de Trem, estava situada a Cadeia Pública. Esta região era a mais procurada para moradia. Constituía-se a área nobre da provinciana capital do Ceará.

Manuel Morcego e Tristeza

...Na adolescência à juventude, resolveu trabalhar na Construção da nossa Catedral da Sé. Tornou-se um audaz servente e chegou a ser pedreiro da Sé. Sua habilidade não chegou a tanto, porque designado para trabalhar na construção da torre da Igreja, certa vez, escorregou de um andaime que falseara com o vento, logo veio a cair das alturas. Tamanha foi à destreza e agilidade, que, ao cair rolando altura a baixo, deu de encontro às estroncas segurando a uma delas, como se dizia, "agarrando-se com unhas e dentes", enfrentando o medo de morrer ao cair daquelas alturas. Salvou-se graças a ajuda dos demais operários que, num átimo, o socorreram rapidamente.

O Otávio Bonfim dos velhos tempos...

Na década de sessenta, por exemplo, o bairro Otávio Bonfim, oficialmente Farias Brito, na zona oeste da capital, tinha um charme bem particular. Não era de classe alta. Também não estava na linha da pobreza.






Tragédia na inauguração da Av. Leste-Oeste


Foi como se, por alguns segundos, tudo houvesse ficado em silêncio. Como se o tempo houvesse parado um pouco para que as pessoas pudessem entender o que estava acontecendo. Acho que eu nem respirava.

- Caiu! – gritou alguém.

E o tempo voltou a funcionar. Houve gritos e correria. Verdadeiro pânico tomou conta da multidão. Lembro bem de um caminhão de bombeiros saindo, com a sirene ligada, um de seus soldados correndo e se pendurando nele.


Espaços da elite na capital cearense

No século XIX, a capital cearense sofre intervenções no seu traçado urbano. Em um primeiro momento, no ano de 1818, quando o urbanista Silva Paulet projeta a planta de Fortaleza em formato xadrez, e em um segundo momento, no ano de 1875, por Adolfo Hebster, que deu continuidade ao projeto, finalizando a “Planta Topográfica de Fortaleza” que tinha por finalidade disciplinar a expansão urbana e racionalizar os espaços da cidade, eliminando becos e vielas...

Avenida Pessoa Anta - Rua da Praia

A Avenida Pessoa Anta que até então era apenas um caminho chamado "Caminho da praia", foi surgindo com a chegada do progresso e dos históricos prédios, passando a chamar-se Rua da Praia em 1932.













50 Anos da Avenida 13 de Maio

Depois da inauguração da Paróquia de Fátima, na Av. 13 de Maio, no ano de 1955, o bairro veio a ser cobiçado como promissor, e, em grau de importância, chegou a ser dito por muitos que seria o bairro do futuro, tão importante quanto a Aldeota. 

Greve dos portuários - A Construção da trama


Durante o quatriênio de 1900 a 1904, o Governo do 
Ceará estava nas mãos de Pedro Augusto Borges, aliado de Nogueira Accioly que administrou o Estado de maneira a reforçar o poderio da Oligarquia Acciolina. 


Escola Johnson - 50 Anos

...Mais tarde, com o regresso da família Johnson aos Estados Unidos, a escola passou para o quadro da Secretaria de Educação do estado do Ceará, em novas instalações no Bairro Engenheiro Luciano Cavalcante e hoje é denominada Escola de Ensino Fundamental e Médio Johnson.

O cordão das "Coca-colas"

Nos idos de 45, terminada a Segunda Guerra Mundial, os soldados americanos retornavam ao seu país de origem e as "coca-colas" ficaram desativadas. Mas não estavam mortas, tanto assim  que continuavam a desfilar seu charme e sua elegância pelas streets da urbe, motivando as mais variadas reações: as velhas e respeitáveis matronas, guardiãs da sagrada moral cristã, resmungavam, olhavam de esguelha, condenavam as meninas ao fogo eterno do inferno e até benziam-se. "T'esconjuro, filhas do mal!"...







Escola Normal do Ceará -  De 1884 à 1922 (Parte I)

Fundada em princípios filosóficos e educacionais, defendidos por intelectuais da época, como Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho, os professores José de Barcellos e Amaro Cavalcanti, dentre outros, a Escola Normal  do Ceará concretiza, oficialmente, ao final do século XIX os anseios de igualdade, mesmo que fosse de uma “igualdade formal”, presentes na ideia de criação de uma escola pública de formação de professores. 

Colégio da Imaculada Conceição - Fatos Históricos

...Pela manhã, os congressistas visitaram o Colégio da Imaculada Conceição. Às 15 horas, foram recepcionados pelo Interventor Carneiro de Mendonça, depois do que visitaram o Sanatório de Messejana e a casa em que nasceu José de Alencar.

Bairro Vila União

O crescimento populacional da Vila começa depois da Segunda Guerra Mundial com o loteamento de terras da área. É um bairro com uma população dividida entre classe média, média alta e pobre.

É isso amigos! O ano está acabando e eu só tenho a agradecer o carinho de todos e espero contar com vocês no próximo ano!

Forte abraço

Leila Nobre


*FN = Fortaleza Nobre

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: