Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Farol do Mucuripe - O velho e os novos



Farol em 1940 - Arquivo O Povo

Farol em 1972 - Arquivo O Povo
O velho Farol do Mucuripe é uma construção em alvenaria, madeira e ferro, em estilo Barroco. Uma das mais antigas edificações de Fortaleza. Foi durante muito tempo referência para embarcações que aqui aportavam. O velho olho do mar, como era conhecido, foi desativado em 1957. No período de 1981 a 1982, foi reformado para abrigar o Museu do Jangadeiro, depois Museu do Farol, cujo acervo fazia referência a Fortaleza Colônia. Faz parte do Patrimônio Histórico, sendo um dos mais belos pontos turísticos da cidade. Infelizmente está fechado a visitação e o pior, em péssimo estado de conservação!

Em 17 de agosto de 1826, foi aprovado o plano do Farol do Mucuripe, por D. Pedro, sendo aberto o edital de concorrência a três de novembro, mas a construção só se iniciou em 1840.

O Farol do Mucuripe foi terminado em 17 de novembro de 1846, construído pelos engenheiros Júlio Álvaro Teixeira de Macedo e Luís Manuel de Albuquerque Galvão e do Maquinista Trumbull (Truberel).

Sua localização é Avenida Vicente de Castro s/nº, na Ponta do Mucuripe.

Farol em 1978 - Arquivo O Povo

Farol em 1980 - Arquivo O Povo

Farol em 1981 - Arquivo O Povo

Farol em 1981 - Arquivo O Povo

Farol em 1982 - Arquivo O Povo

No dia 29 de julho de 1871, começou a funcionar o farol giratório do Mucuripe (Farol do Mucuripe), comemorando o aniversário da Princesa Imperial.
O Farol foi mandado construir, em virtude da lei nº 60 de 20 de outubro de 1838. 
O farol tem a localização: Latitude sul 3º, 45'10" e longitude oeste de Greenwich 38º, 35'9".
Sua luz era visível a 24km de distância, piscando a cada minuto.
O foco luminoso elevava-se a 33m26, ao nível da preamar e contava com três faroleiros.


Farol em 1983 - Arquivo O Povo

Farol em 1987 - Arquivo O Povo

O primeiro faroleiro foi João Rodrigues de Freitas.
Foi desativado em 1958, quando foi inaugurado o novo farol.
Abandonado, foi restaurado em 1981/82, pela Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará.

Farol em 1989 - Arquivo O Povo

Farol em 1990 - Arquivo O Povo

Alguns fatos Importantes:
  • 09 - setembro - 1929 - Realiza-se prova de natação do Farol do Mucuripe à Ponte Metálica, saindo vencedor Wandemberg Gondim Colares, seguido de Wilson Amaral, Pedro Araújo e Francisco Conrado da Silva.
Farol em 1991 - Arquivo O Povo
Farol em 1991 - Arquivo O Povo
  • 22 - abril - 1950 - A Imobiliária Antônio Diogo põe à venda loteamento com área de 7km de comprimento por 600m de largura, do Farol do Mucuripe à barra do Rio Cocó, a futura Praia do Futuro.
Farol em 1994 - Arquivo O Povo

Novo Farol do Mucuripe

Novo farol do Mucuripe recém inaugurado. Hoje no entorno
temos o Conjunto São Pedro, Alto da Paz e Morro da Vitória.
Arquivo Nirez
Em 13 de maio de 1958, chega o material para o início da construção do novo farol nas dunas do Mucuripe que substituiria o velho farol. Seu alcance era de 40 quilômetros.

Em virtude do início do funcionamento do novo Farol, cuja inauguração oficial se deu no dia 15 de dezembro de 1958, o velho farol foi desativado.

Inaugurado no alto das dunas do Mucuripe, o Farol Novo já vinha funcionando desde o dia 13, em substituição ao velho Farol do Mucuripe que foi desativado naquele dia.

    Arquivo Nirez
    Farol novo no final dos anos 70. Acervo  F Carlos de Paula
No dia 25 de janeiro de 1959, o velho Farol do Mucuripe, foi objeto de artigo de Gustavo Barroso, que fez revelações sobre as origens daquele ‘baluarte da nossa civilização’. Através dos séculos permaneceu como roteiro aos navegantes no extremo da ‘língua arenosa que avançava para o Atlântico. Não conservou a cor branda de outros tempos, plantado ali como círio devocional’.

Artigo de Gustavo Barroso
Durante a Semana da Marinha, em 12 de dezembro de 1959, era entregue o antigo Farol do Mucuripe, ao Serviço do Patrimônio da União.

Em 25  de junho de 1971, a Capitania dos Portos doa à Prefeitura de Fortaleza, totalmente recuperado, o velho Farol, para ser o Museu do Jangadeiro.


Foto Luan Viana
Um novo farol para o Mucuripe - O Farol do Milênio

Considerado o maior farol tradicional das Américas e o sexto maior do mundo, um novo Farol do Mucuripe foi inaugurado na noite do dia 18 de setembro de 2017. O novo equipamento tem 71,1 metro de altura, permitindo uma maior segurança para a navegação na costa cearense.

A obra foi realizada por meio de parceria público-privada entre a Marinha do Brasil e o Grupo Empresarial J. Macêdo. O novo farol possui sistema informatizado e elevador interno. Com investimento de R$ 5 milhões e localizado em terreno da Marinha, o equipamento já vinha operando desde o dia 19 de julho em fase de testes. 

Em construção. Foto: Juscelino Augusto Nogueira

Em construção. Foto: Juscelino Augusto Nogueira

Foto Luana Viana
O presidente do Conselho de Administração do grupo J. Macêdo S.A., Amarílio Macêdo, destaca que com o aumento do limite de altura, o grupo pode ampliar a capacidade de armazenamento de trigo com a elevação dos silos da fábrica localizada no Porto do Mucuripe. Ele também cita que o novo equipamento é considerado o maior farol tradicional das Américas devido à finalidade náutica. “O farol tradicional é o que existe para facilitar a navegação, tanto das pequenas embarcações quanto dos grandes cargueiros e transatlânticos. O tradicionalismo é porque pode existir farol ornamental e com outras finalidades que não seja a de atender a essa necessidade da Marinha do Brasil”, explica.

Arquivo J. Macêdo
Arquivo Diário do Nordeste
O capitão dos portos do Ceará, Leonardo Salema, cita que o novo farol é três vezes mais alto que o anterior, que fica ao lado da nova construção. 

O novo farol é controlado por um sistema de informática, uma tecnologia nova que não tinha no outro farol, que precisava de uma intervenção humana para acender e desligar. Ele passa a ter sistemas redundantes de controle da sua velocidade e de giro, além de alarmes que vão facilitar a operação do farol.

E o destino do farol antigo? De acordo com o capitão dos portos do Ceará, a Marinha ainda não chegou a um consenso.


Mais fotos do antigo farol (Arquivo O Povo):
Arquivo O Povo - Em primeiro plano, placa de bronze retirada do primeiro andar do Farol. Foto de 2013

Arquivo O Povo - Escadaria que dá acesso à entrada principal do Farol. Foto de 2013

 O antes e o depois do farol

Farol em 1998 - Arquivo O Povo

Farol em 2013 - Arquivo O Povo

Arquivo O Povo - Acesso para o primeiro andar do Farol do Mucuripe. Foto de 2013

Jovens se arriscam em escada enferrujada

Jovens se arriscam no Farol do Mucuripe

Pichações tomam a fachada do Farol

 Vista do farol antes e depois



Fonte: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo
Jornal O Povo

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Colégio Nossa Senhora da Assunção - Triste fim!!!


Cruzamento das ruas Padre Valdevino e João Cordeiro, no bairro Joaquim Távora

Em 1957, a Escola Nossa Senhora da Assunção começou a funcionar com apenas uma turma. A mobília foi doada pela comunidade do entorno. “O colégio evoluiu no tempo e brilhou, chegando a ter, nas décadas de 1980 e 1990, mais de mil alunos”. A Irmã Vera Lúcia recorda a arquitetura original do prédio: “A parte interna é belíssima. A escada é construída com madeiras refinadas. Nos dormitórios, o piso também era todo de madeira. Tem um valor histórico”, defende.


A formação “religiosa, humana e cristã” é tida por irmã Vera como um dos diferenciais da antiga escola. A ex-aluna Marjory Sampaio, 17, também destaca o incentivo às artes e ao esporte. “Recebi uma boa educação”, define. “Eram rígidos (na disciplina) e não tinha esse negócio de rapazinho namorando lá dentro”, comenta a mãe de Marjory, Mara Sampaio, 49.

Em 2007, veio a triste notícia de que o colégio fecharia as portas. “Quando o colégio foi fechado, era todo mundo chorando”, conta Marjory. O terreno, localizado numa área nobre, foi vendido. O prédio permaneceu lá, nos últimos seis anos, lembrando as histórias e brincadeiras ali vividas.

Na espera pela demolição, Marjory diz que, ao olhar para o antigo colégio, “dá um aperto no coração”


A pintura azul, com detalhes brancos, está desgastada pelo tempo. Um paredão de pedras encobre boa parte da construção - que hoje remete ao abandono. Porém, ainda é latente a beleza do prédio que abrigou, por 50 anos, a escola Nossa Senhora da Assunção, no cruzamento das ruas Padre Valdevino e João Cordeiro, no bairro Joaquim Távora. Hoje, a edificação “vive” seus últimos dias. O casarão terá o fim antecipado: dará lugar a um prédio residencial, ainda sem data definida.
A estrutura está mal conservada. A pintura azul está gasta e é possível observar o acúmulo de material de construção no entorno. 

A edificação foi comprada pela Congregação das Filhas de Santa Teresa (originária do Crato) em maio de 1955. “Quando o prédio foi comprado, havia poucas casas (ao redor), um campo aberto e até mesmo criatório de gado. (As ruas) sequer tinham calçamento”, lembra a irmã Vera Lúcia, secretária geral da congregação e ex-diretora da escola.

Na escritura original de compra do imóvel pela congregação, consta a aquisição de “uma casa assobradada, estilo bungalow, de tijolo e telha com uma garagem ao lado (...) imóvel adquirido por compra a José Capelo Alvite* e sua mulher”.


O professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) Romeu Duarte explica que os bangalôs foram muito utilizados no início do século XX em Fortaleza. O nome é uma variação do inglês bungalow. “É uma casa geralmente de dois pavimentos, quatro fachadas e situada em terrenos grandes. Era ocupada por famílias abastadas e foi uma tipologia muito usada na Aldeota e Jacarecanga, informa.

Romeu lamenta a decisão de destruir a edificação e defende a conciliação entre desenvolvimento e preservação. “É a lógica do ‘arrasa quarteirão’. Não sou contra a construção, mas acho que há terreno demais para o empreendimento. Poderia preservar a contemporaneidade e o passado”, diz, sugerindo que a antiga casa fosse usada, por exemplo, como salão de festas do condomínio. “Seria até um diferencial. Falta um pouco de inteligência e sensibilidade ao mercado imobiliário”, critica o professor.

Em 2006, o quadro docente do Colégio Nossa Senhora da Assunção era composto por 
dezoito professores; destes, quinze eram habilitados nas respectivas áreas, (83,34%) e três, autorizados (16,66%).  
A proposta pedagógica da educação infantil do Colégio Nossa Senhora da Assunção compreendia o processo educativo voltado para a construção de um sujeito protagonista de sua história,  como cidadão crítico e criativo. Nesse contexto, o Colégio assumiu sua função social, envolvendo na sua prática educativa valores sociais e culturais.


Material de construção** já se acumula em frente ao antigo bangalô, na rua Padre Valdevino. Prédio abrigou escola por 50 anos - Foto Sara Maia


O Colégio apresentava boas condições de funcionamento, dispondo de amplos espaços. Apresentava melhorias realizadas no prédio durante aquele ano: restauração do parquinho infantil,  reforma geral na cantina do colégio, restauração das instalações e implementação do laboratório de Ciências. O laboratório de Informática, devidamente equipado, servia para “despertar nos alunos o espírito crítico, investigativo e cientifico, como meio de aprimoramento do conhecimento teórico, aliada ao conhecimento cientifico”.


O laboratório de Ciências proporcionava aulas práticas, nas áreas específicas, integrando teoria e prática.


Importante salientar que o Colégio Nossa Senhora da Assunção, nesta capital, recebeu
autorização do CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO para funcionar (da educação infantil aos cursos de ensino fundamental e médio), até 31.12.2010. O colégio foi recredenciado pelo conselho Estadual de Educação (Câmara da Educação Básica) em 13.04.2007.
A Escola fechou em 2007.


Editado em 24/01/2013:
Boas notícias!!! :)

Bangalô está temporariamente protegido (Jornal O Povo - 23/01/2013)

Enquanto processo de tombamento tramita, bangalô da rua Padre Valdevino não pode sofrer modificações. Pedido de tombamento foi enviado ontem à Secretaria da Cultura.

Após pedido de tombamento ser enviado ontem para a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), o bangalô situado no cruzamento das ruas Padre Valdevino e João Cordeiro, no bairro Joaquim Távora, está protegido. Isso significa que a atual dona do prédio, a construtora Monteplan Engenharia, não pode modificar ou derrubar a estrutura até que seja dada uma resolução definitiva pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico-Cultural (Comphic).


A solicitação de tombamento foi feita, na manhã de ontem, pelo vereador João Alfredo Telles Melo (Psol) através de ofício enviado à Secultfor. Segundo o vereador, a retirada de construções antigas faz a Cidade perder sua própria memória. “Fiz o pedido, mas é o estudo da Prefeitura que vai determinar se é caso ou não de tombamento”, frisou João Alfredo.

De acordo com o coordenador de Patrimônio Histórico-Cultural da Secultfor, arquiteto João Jorge Melo, a partir de agora, a construtora terá 30 dias para apresentar uma defesa. Encerrado o prazo, o caso vai entrar em julgamento na reunião do Comphic, que acontece mensalmente. “O engenheiro responsável e o dono da empresa foram avisados”, citou o arquiteto.

De acordo com o secretário da Cultura de Fortaleza, Magela Lima, “o pedido já é um resguardo (da construção) até a decisão definitiva”. O processo atende as normatizações da Lei Municipal nº 9.347, de 11 de março de 2008, a Lei do Patrimônio.

Caso seja feita alguma alteração no prédio durante o período de julgamento do tombamento, a construtora responde por crime ao patrimônio histórico, esclareceu o arquiteto João Jorge. 


Foto Agência Diário

Editado em 06/04/2013:
Acabou!!!


Justiça concede liminar que permitiu destruição de bangalô (Jornal O Povo 06/04/2013)

O bangalô que durante 50 anos abrigou a escola Nossa Senhora da Assunção foi demolido ontem. Secretaria da Cultura de Fortaleza havia realizado o tombamento provisório, mas Justiça anulou a ação.


Foto Tatiana Fortes/Jornal O Povo

O juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Fortaleza, Francisco Chagas Barreto Alves, concedeu liminar suspendendo o tombamento provisório do bangalô azul, na esquina entre as ruas Padre Valdevino e João Cordeiro. Com isso, a empresa Nortesul Incorporações e Construções demoliu o prédio no fim da tarde de ontem. Durante 50 anos, o local abrigou a Escola Nossa Senhora da Assunção. O processo de tombamento provisório foi iniciado em janeiro, pela Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), para evitar a destruição do prédio.

O titular da 2ª Vara da Fazenda, juiz Francisco das Chagas Barreto. Denise Mustafa/Diário do Nordeste

No local, deve ser erguido um prédio residencial. Uma das sócias da construtora, Luciana Braga, diz que a empresa tentou manter o bangalô (E eu acredito em papai Noel), mas o projeto aprovado pela Prefeitura não comportaria a manutenção do equipamento. “O prédio inclui área de subsolo e o bangalô não suportaria”, afirma.

O terreno e o bangalô pertenciam, antes da venda para a Nortesul, à Congregação das Filhas de Santa Teresa (originária do Crato) que, por sua vez, adquiriu o prédio em maio de 1955. Ainda segundo a empresária, as freiras teriam buscado, junto à Prefeitura, maneiras de realizar o tombamento, mas ninguém teria se interessado. “Elas mesmas (as freiras da congregação) tinham já ido atrás (do tombamento). Já tinham sondado isso e o poder público não se demonstrou interessado”.


O vereador João Alfredo (Psol) disse lamentar profundamente a destruição do bangalô e pediu providências do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre o que ele considera “posturas indevidas e contrárias à cidade” do juiz Francisco Chagas. O magistrado é o mesmo que concedeu liminares para construção em dunas do Cocó. “O que a sociedade pode fazer é boicotar essa construtora que não tem o mínimo de respeito com a memória e cultura (Concordo  plenamente!). Não entendo por que se demorou tanto o tombamento definitivo. Como a Justiça pode não reconhecer a importância do prédio para a Cidade?”.

No dia 22 de janeiro deste ano, O POVO mostrou a ameaça de demolição do bangalô. No mesmo dia, o vereador João Alfredo (Psol) entrou com um pedido de tombamento do imóvel pela Secultfor. Com isso, o imóvel não poderia ser demolido até a conclusão do processo (Mas não foi o que aconteceu!).



*O bangalô foi adquirido pela família Capelo Alvite na década de 1940. Na época, as paredes externas da casa eram pintadas com tinta amarela (diferente da posterior coloração azul). A casa tinha um alpendre, terraço e cinco quartos no andar superior.

**A Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza (Seuma) informa que “não encontrou registro de pedido de aprovação de projeto arquitetônico ou de alvará de construção para o referido terreno em nome da Construtora Monteplan.



Fonte: Jornal O Povo e Conselho de Educação do Ceará

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Inauguração do serviço telefônico automático em Fortaleza




Conforme vinha sendo anunciado, teve lugar no primeiro dia do ano a inauguração dos telefones automáticos entregues à cidade pela Prefeitura Municipal de Fortaleza.

O ato, que se revestiu de grande brilhantismo, teve lugar às 11 horas, num dos salões do amplo prédio da Praça dos Voluntários, construído para o serviço telefônico, e em presença de altas autoridades federais, estaduais e municipais, civis e militares, representantes de classes, da imprensa e incomputável número de pessoas.


Iniciou-se a solenidade com a benção do prédio e das instalações, oficiada por Mons. João Alfredo Furtado, após o ato inaugural.

O Sr. Raimundo Araripe, prefeito da capital, com a palavra, fez uma síntese dos trabalhos de seu governo, para referir-se ao melhoramento ora inaugurado. Esclareceu que todo o serviço importara em cerca de mil e duzentos contos, exceção do prédio, que custou quatrocentos contos, e ressaltou a maneira correta como Ericson & Cia Ltda. cumpriram o contrato firmado pela municipalidade.

A seguir, o Sr. Interventor Federal declarou inauguradas as novas instalações, em sintéticas palavras, após o que os presentes empreenderam uma visita a sala dos aparelhos, onde foram feitas as primeiras ligações.

Prédio da Telefônica na Rua Sena Madureira.
A foto data da segunda metade da década de 30. Acervo Assis de Lima

Às autoridades foi servida uma mesa de champagne, tendo nesse momento falado o Dr. Francisco Saboia, ilustre advogado da Cia Ericson, o qual apresentou agradecimento à administração municipal, em nome da empresa.


Matéria publicada no Jornal O POVO, em 03/01/1938

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Futerrádio ou radiobol



O PV na década de 40


De há muito, velho amigo, ex-repórter esportivo, insiste na produção de artiguete nosso sobre o futebol dos meados da década de cinquenta aos da de sessenta do século passado. Tempo em que o “pebol” era mais esporte, mais rádio e mais fraternidade. Televisão não existia e as jornadas esportivas” das tardes dos sábados e domingos, viam-se ao Sol. Iluminação elétrica para as “pelejas” surgiu anos depois. “Senhoras e senhores! Diretamente do Benfica, no Estádio Presidente Vargas, transmitiremos mais uma partida de futebol pelo campeonato alencarino! Agora mesmo, ingressam na Tribuna de Honra as autoridades civis, militares e eclesiásticas.” 

PV nos anos 60 - Grupo de árbitros

Na maioria das vezesali não existia ninguém.” Somente o floreio imaginativo do locutor de cabine ou, por vezes, o do de “pista”, este responsável por comentários e entrevistas com atletas no campo. “Preparado para a contenda?”E o “center half”, em um chavão de todos, não titubeava: “Estou pronto física, mental e psicologicamente!”. O PV dividia-se em duas partes de arquibancadas. A “geral”, do “lado do Sol”, com ingressos a preço popular. E, as “sociais”, do “lado da sombra”, com entradas mais caras. As torcidas não possuíam áreas diferentes. Todas juntas. Um colorido variado e festivo. O ato de violência maior consistia em jogar bagaços de laranja nos torcedores que teimavam em assistir o jogo em pé, prejudicando a visão dos demais. Até 1957, quando chegaram a Fortaleza os Spica, rádios portáteis inexistiam no Estádio. O Torneio Início abria o campeonato com a participação de todos os times, começando ao meio-dia e encerrando-se no final da tarde do domingo anterior ao começo do primeiro turno.


Time do Fortaleza 1947

Os auxiliares do árbitro principal eram osbandeirinhas. Escanteio conhecia-se por corner. Bola na trave dizia-se “pau-de-trave”. A defesa constituía-se de dois “backs”. Novos craques formavam-se na Escolinha do Fortaleza e dos Dentes-de-leite do Ceará Sporting Club

O Ceará em 1958

O programa esportivo cômico-satírico do rádio cearense era oBola-de-meia, produzido e interpretado pelo jornalista José Oli Moreira.

Geraldo Duarte 
 (Advogado, administrador e dicionarista)
  

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A Prainha de outrora... Parte II


Avenida Monsenhor Tabosa na década de 60 - Arquivo Nirez

Prosseguindo na jornada e tomando o rumo leste, localizamos na atual Avenida Monsenhor Tabosa uma casa em que residiu a família de D. Nenem Bezerra de Menezes, que se casaria com o respeitável clínico cearense Dr. João Otávio Lobo, hoje nome de rua. E já na esquina com a rua Senador Almino, nos deparamos com um grande prédio atualmente subdividido em várias lojas, onde se situava a residência do comerciante Vicente de Castro, correspondente aos atuais nºs 83 a 139, com outros de permeio.


Seminário - Arquivo Nirez

No primeiro quarteirão, face sul, da Avenida Monsenhor Tabosa, foi construído o prédio do Seminário Diocesano, e, completando a quadra, com o oitão para a Praça Cristo Redentor, foi levantada a Igreja da Conceição da Prainha ou do Seminário.


Monumento Cristo Redentor - Arquivo Nirez

Círculo Operário São José

Quanto a praça, antes de 1915 a sua face oeste praticamente não existia, ocupada por casebres, motivo pelo qual foi fácil levantar o então suntuoso prédio do Círculo Operário São José, uma das primeiras e mais felizes iniciativas do 3º bispo do Ceará e 1º arcebispo de Fortaleza, Dom Manuel da Silva Gomes, que empresta seu digníssimo nome a uma das principais avenidas de nossa terra, que aliás tem início naquele logradouro. No centro da praça, foi erguida, em 1922, uma coluna com a imagem de cristo Redentor no seu ápice, abençoando a cidade com um de seus braços e segurando uma cruz com o outro. Segundo informações recolhidas, essa coluna foi construída em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, por inspiração de Raimundo Frota, grande benfeitor do Círculo Operário, que concorreu para a construção do monumento com quarenta mil tijolos. O Círculo tomou a si essa tarefa e convocou os mestres Antônio Machado, Domingo Reis e Severino Moura, este último mais conhecido por "Chuva Branca", todos homens piedosos, vicentinos e terceiros franciscanos. Sem a assistência de engenheiros e arquitetos, o belo monumento provocou no Rio de Janeiro a maior admiração, através de apreciações de técnicos, em revistas especializadas. A coluna foi inaugurada a 7 de setembro de 1922. Enquanto os foguetes espocavam, os quatro novos sinos da Igreja da Prainha badalavam, dentre os quais o "Centenário".


Vista aérea da década de 20 ou 30 - Arquivo Nirez


Na ocasião pôs-se em movimento o relógio de quatro faces, depois retirado por inativo, em consequência da oscilação da coluna, e vendido à Igreja dos Remédios, no Benfica. A coluna teve seus dias gloriosos, costumando Dom Manuel da Silva Gomes celebrar, em dias especiais, na capelinha que lhe servia de base, enquanto a imagem era iluminada à noite até que, durante a 2ª Guerra Mundial, as autoridades militares impuseram a retirada das lâmpadas por questão de segurança pública, com a promessa de voltar ao que era no devido tempo, o que infelizmente não ocorreu. Aos domingo e dias festivos era franqueada a subida até o topo da coluna, através de escada interna em espiral, de onde se descortinava belo panorama da cidade e do mar. A imagem de Cristo Redentor infundia segurança em todos, aos de baixo e aos de cima.


A inauguração do monumento Cristo Redentor em  7 de setembro de 1922 - Livro Terra Cearense 1925

Descendo a Ladeira da Prainha, hoje rua Almirante Jaceguai, com fundos para o quintal da casa do Barão de São Leonardo e formando a esquina sudeste da referida ladeira com a rua do Chafariz, hoje José Avelino, tínhamos a casa de D. Benvinda e "seu" Floriano, primos do grande cearense Gustavo Barroso (menininho ao lado) que, em suas "Memórias", relembra inúmeras peraltices por ele praticadas sob a proteção de quem muito o estimava. Hoje, o prédio tem o nº 480 da rua José Avelino e 174 da rua Almirante Jaceguai. O primeiro volume daquelas deliciosas reminiscências, intitulado Coração de Menino, conta o que se passou numa segunda "Noite das Garrafadas" (ps. 256 a 264), assim chamada porque o irrequieto cearense resolveu reagir contra o chicote do português Chico Bracinho, carroceiro de Joaquim Amâncio Farias, residente em casa do bairro. O lusitano embirrava com os meninos que trepavam na traseira de sua carroça. Uma de suas chicotadas atinge Gustavo e este trama vingança. Arma-se de uma garfo velho que servia para revirar o adubo das roseiras da casa dos primos e convida para a desforra do caboclo João Pacheco, munindo-o de cacete, e o incita a vingar a honra cearense ultrajada por um ultramontano. Seria outra "Noite das Garrafadas". Na hora aprazada, os dois desafiam o português. Este reluta, prudentemente: que fossem para casa e deixassem de provocações com quem estava quieto. Os desafios continuam e o carroceiro, afinal, investe contra os provocadores, "com qualquer coisa branca na mão". Gustavo enfrenta-o e enfia-lhe o garfo na coxa. O homem solta um berro e, erguendo a acha de pau-branco que trazia, desce-a sobre Gustavo, que se desvia em tempo, recebendo apenas um raspão da cacetada que, mesmo assim, lhe endurece o pescoço por vários dias. João Pacheco apavora-se e falha na defesa do amigo desfalecido. Limita-se a pedir socorro à vizinhança, sendo Gustavo levado à casa dos primos para os primeiros curativos. Seus parentes nada dizem ao pai, avó e tias de Gustavo, enquanto o carroceiro vai tratar-se na Santa Casa. Encerrando sua lembrança do episódio, o escritor cearense dogmatiza: "A violência do Chicote provoca a violência do garfo, que provoca, por sua vez, a violência da acha de lenha. Felizmente pára aí. A violência somente gera a violência." O carroceiro demora no tratamento da ferida que supurou, escapando por milagre do tétano num tempo em que não se conheciam as injeções antitetânicas. Floriano, ao final, abraçou Gustavo, dizendo: "Eta bichinho bom! De garfo, não! Nunca mais! Mas vá tocando o pau, quando puder, e conte comigo que garanto a retirada. Desaforo não se traz para casa. Prega-se na cara de quem o fez. É melhor morrer do que viver desonrado."


Na rua Almirante Jaceguai, ficava essa casa, que era residência de Mister Hull

Ainda tendo por base a casa dos primos na Prainha, Gustavo armou outras, uma das quais narra no capítulo intitulado "O Mascarado" da publicação Liceu do Ceará, segundo volume de suas recordações (ps. 191 a 194). Próxima à residência de seus primos havia uma casinha, esquina nordeste das ruas Almirante Jaceguai (continuação, para o norte, da Ladeira da Prainha), e Dragão do Mar (antiga rua da Praia ou da Alfândega). Nela viviam modestamente duas irmãs de Telésforo de Abreu, Mariana a mais velha, viúva de um veterano da Guerra do Paraguai, e Demétria, solteirona. Telésforo de Abreu era um dos mais ricos habitantes do bairro da Prainha, cuja suntuosa casa, ficava no primeiro quarteirão da rua Boris, face leste, olhando para a sede da empresa que deu nome à essa rua, foi posteriormente ocupada por Bertrand Boris, quando este chegou ao Ceará


Rua Boris do Álbum Vistas do Ceará 1908

Casa Boris - Acervo de Carlos Juaçaba

Floriano, primo de Gustavo, costumava dar boa noite às duas irmãs de Telésforo e aceitar um cafezinho bem quente, certamente torrado em casa, que as duas lhe ofereciam. Determinada noite, sabendo Gustavo que o parente fora ao centro da cidade, escurece o rosto com cortiça queimada, arranja barba postiça, veste roupa do primo e enterra surrado chapéu de feltro na cabeça, indo à casa das velhinhas passar um trote. Dá-lhes boa-noite, como se fosse Floriano, mas, momentos depois, vêem as boas velhas o logro em que caíam e botam a boca no mundo, gritando: "Socorro! Um mascarado!"
A vizinhança corre pressurosa mas Gustavo, bom conhecedor do terreno, esgueira-se em tempo. Estranha-se o desaparecimento súbito do mascarado e nunca se esclarece o episódio. Somente Floriano, no dia seguinte, após tomar conhecimento dos fatos, diz reservadamente para Gustavo, batendo-lhe no ombro: "Foste tu!" E caem ambos na gargalhada.



Foto de 1900, onde vemos, a Casa Bóris, Alfândega e o antigo Porto de Fortaleza

Onde já funcionou a Capitania dos Portos (pequeno quarteirão entre as ruas José Avelino, Almirante Jaceguai, Almirante Tamandaré e Dragão do Mar) levantava-se a velha Alfândega. E, em diagonal com esta (esquina sudoeste das ruas Dragão do Mar, nº 207, e Almirante Jaceguai, nº 93), ficava a casa de Joaquim Amâncio Farias, de quem era carroceiro o português Chico Bracinho, já aqui referido como protagonista do episódio em que se envolveu Gustavo Barroso. Um dos filhos de Joaquim Amâncio, chamado José, integrava o grupo que depôs o Presidente do Estado, Antônio Pinto Nogueira Accioly, em 1912, tendo sido baleado no histórico dia 24 de janeiro daquele ano, de cujo ferimento faleceu. Outro seu filho, de nome Adalberto, foi para o Rio de Janeiro estudar Astronomia com um seu cunhado, Dr. Moritz, Diretor do Observatório Nacional. Vinha passar tempos nesta casa D. Ana Rabelo, tia do coronel Franco Rabelo, guindado à chefia do executivo estadual, em substituição a Accioly, e também destituído em 1914 pela Sedição de Juazeiro, sob a inspiração do Pinheiro Machado e do próprio Presidente da RepúblicaMarechal Hermes da Fonseca.


Continua...

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Fonte: Prainha, um bairro decadente - Mozart Soriano Aderaldo

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