Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Cine Theatro Polytheama - 1911 - Parte II



Outra investida da firma Rola & Irmão foi a conquista da distribuição exclusiva das produtoras americanas mais importantes, na época, e que gradualmente entravam no mercado brasileiro. A respeito diz o “Jornal da Tarde", em 25 de março de 1912:

POLYTHEAMA

A Empreza Hola & Irmão contratou com a firma Angelino Staurile & Ca., do Rio de Janeiro, as belíssimas fitas das fabricas americanas Vitagraph e Biograph, tornando-se a única recebedora neste Estado. Escusado é encarecer esta notícia visto que aquelas duas fábricas são sobejamente conhecidas por suas fitas de imenso valor artístico. Damos parabens ao público.


A programação, apesar da noticia, prossegue sendo notadamente de filmes franceses e italianos, com destaque para a vigorosa produção dinamarquesa que era então detentora de prestígio mundial. Um clássico do cinema francês, foi exibido pelo Polytheama, no dia 14 de julho de 1912, comemorando a Queda da Bastilha: “Assassinato do Duque de Guise"
(L 'Assassinat du Duc de Guise; 1908, 300 metros, primeira produção da Le Film d'Art, de Paris. Direção de André Calmettes, com assistência de Charles Le Bargy e argumento de Henri Lavedan. Interpretação pelo elenco da Comédie Française: Charles Le Bargy, Albert Lambert, Gabrielle Robinne, Berlhe Bovy, Rol/a-Norman e Dieudonné). Película tão importante que
para o genial cineasta americano David Wark Griffith esta foi sua melhor lembrança do cinema: “Este para mim foi uma revelação completa, um filme maravilhoso”.



Em 1913, há um retrocesso para o cinema exibidor de Fortaleza, enquanto perdurou a tentativa de se constituir um “trust” com o Polytheama, Rio Branco e Cassino Cearense, três dos quatro cinemas então existentes, de fora apenas o Cinema Di Maio. Nossos melhores cinemas, passavam a fazer parte de uma firma constituída sob a denominação de Empresa Cinematographica Cearensecom escritório à rua Barão do Rio Branco,98-A, figurando o empresário José Rola como gerente, responsável portanto pela operacionalização do sistema.

A imprensa mantinha o trust sob crítica constante, e destacava como alvo

de suas reclamações o Polytheama.
O Jornal “Unitár¡o" (27.3.1913), diz :

POLYTHEAMA

Já quasi ninguem mais se quer aventurar a entrar no outrora tão florescente
cinema-theatro, pois é um espantalho terroroso, a charanga que o sr. Gerente da “Empreza Cinematographica” poz alli.
Antigamente custava a entrada 500 reis, tendo o espectador a deliciar os seus tympanos, uma magnifica orchestra. Hoje, paga-se 600 reis, e ainda por cima, o gerente arruma no público com sua desafinada confusão musical, que dá dor de cabeça e opila o fígado.
A concurrencia vae rareando dia a dia, e si o sr. Rola não tomar tento, vae à
vela.


No dia seguinte, o “Unitário” volta à critica:

POLYTHEAMA

Pouco a pouco se vão descobrindo os propositos reservados que anteviamos
quando se fomou o trust cinematographico nesta capital. Os cinemas Rio Branco e Cassino estão quasi de portas fechadas, sem orchestra, sem luz e sem frequentadores. No Polytheama, cabeça do syndicato, e segundo nossas previsões, o unico que sobreviveria dos tres, a orchestra está disposta á La volonté do seu secretário, que resiste às reclamações de todo o público frequentador, em conservar alli uma sallada musical ou musica de Sant'Anna que faz mal aos nervos, e vae provocando o abandono dessa, outróra tão procurada casa de diversões.
E, si o trust conseguisse assambarcar também o DiMaio, então já estaríamos nas suas garras irremediavelmente: preço ao talante, musica e programmas à vontade.
Esperamos que o gerente da “Empreza Cinematographica” tome novo rumo sinão irá a matroca.

 O Jornal de 06 de outubro de 1916

Em maio de 1913, 0 “Unitário” (6.5.1913), protestava mais uma vez contra o
trust:

POLYTHEAMA 

A “Empreza Cinematographica Cearense” tem faltado ao compromisso
perante o publico. Ultimamente, as fitas de valor teem sido exhibidas para mais de cinco vezes, no Polytheama, deixando assim este cinema de projectar, todos os dias, novos films, como prometteu a “Empreza” em sua fundação.
Domingo passado assistimos, nessa casa de diversões, a prática de outro abuso que há tempo verberámos - a venda de lotação excessiva, a qual muito incommóda e prejudica os espectadores.
Quanto aos programmas, salvo quando faz parte delles, esporadicamente
alguma fita de arte, nada teem agradado nestes ultimos tempos, em que, com a formação do trust, deixou de haver competencia entre os cinemas para a exhibição das producções melhores da cinematographia modema.

Não se tem maiores detalhes dos acertos comerciais entre os empresários
cearenses, nessa primeira tentativa de eliminar a concorrência no setor de exibição cinematográfica. Percebe-se que o pioneiro Victor DiMaio resistiu a 
qualquer apelo para sua adesão, permanecendo o único exibidor independente. Outro fato visível é que José Rola, que capitaneava o trust,logo que decreta o seu final, em agosto de 1913, dinamiza o seu Polytheama para uma nova consolidação.

O fim do trust, noticia tão reclamada e esperada pelo público, é trazida pela "Folha do Povo" (24.8.1913) numa nota sobre o Polytheama:

POLYTHEAMA

Este bom centro de diversões, acaba de desligar-se da Empreza Cinematographica, assumindo a sua direção novamente o sr. José Rola.
O seu diretor está exercendo toda sua atividade para que o Polytheama venha a ser a primeira casa do genero: para isso recebeu ultimamente grande número de "films" de arte e está reformando os salões do edifício.

O sr. Rola inaugurou novamente as sessões infantis, para a petizada endiabrada que gosta do Bigodinho, Robinet, Cri Cri e outros comicos e disse-nos que sejam também proveitosas para o desenvolvimento intelectual dos mesmos.

Aqui pois, fica registrado a nota sobre o Polytheama.
Os preços de entradas continuam os mesmos.

Praça do Ferreira em 1934. Vemos ao lado do Majestic, o Cine Polytheama. Arquivo Nirez

No dia 28 de agosto de 1913, como cinema independente, o Polytheama exibia na sua Soirée Blanche, o filme “Cadáver Vivo" (II Cadavere Vivente), um drama da vida real, produção de 1913, da Savoia Film, de Turim, em 4 longas partes, 621 soberbos quadros cinematográficos, 1.500 metros. O romance de Leon Tolstoi era levado a tela, sob a direção de Nino Oxilia e Oreste Mentasti, com interpretação de Dillo Lombardi, Maria Jacobini, Lívia 
Martino, Arturo Garzes e Alberto Nepoti.



'O Jornal' de 1916

O sistema distribuidor de filmes, no Brasil, envolvia agora novos processos e
capitais de maior vulto. A Companhia Cinematographica Brasileira, com sede à rua Brigadeiro Tobias, 52, São Paulo, e capital de 4.000.000$000 (quatro milhões de réis), chegava à Fortaleza, em 1913, fazendo contratos para lançamento simultâneo de grandes filmes em todos os nossos cinemas: no Cinema Rio Branco“Quo Vad¡s?" (Quo Vadis?; Cines, 1913, 225m, de Enrico Guazzoni);e nos cinemas Polytheama e Júlio Pinto, “Branco contra Negro” (Bianco contro Negro; Pasquali, 1913, de Enrico Guazzoni, 3.000 metros, 150 quadros e 5 atos). O anúncio desse filme dizia: “Romance completamente popular de aventuras rocambolescas, fazendo o principal papel o renomado actor Alberto Capozzi. Este grandioso drama que enthusiasma até ao delírio diversas nações, foi pela fábrica Pasquali, de Turim, reproduzido e posto em scena com toda a arte que hoje offerece a cinematographia moderna".

A estratégia mercadológica das sessões especiais, com denominações em francês, a gosto da época, faz com que o Polytheama lance, na quarta-feira, 16 de abril de 1913, a “Soirée Blanche", sendo o filme inaugural "Rapariga sem Pátria” (Pigen unden Faeder/and; Monopol Film, de Copenhague, 1.035 metros), dirigido por Urban Gad. a história de uma cigana, com a célebre atriz dinamarquesa Asta Nie/sen e Max Wogritsch.

Transcorria o ano de 1914, tendo o Polytheama a mesma posição de bem
sucedido lançador de filmes europeus. Em janeiro, fato incomum, desaparecem filmes que se encontravam guardados no cinema.

As fitas "Os Cossacos”, “Entre Pinos e Rodi", “Sonho de Acesso" e “Suécia Pitoresca", talvez tenham sido levados por algum cinemeiro doente. 




Na programação do ano, espetáculos compostos por filmes e sessões liricas. No mês de maio, destacavam-se no palco os duetistas liricos DeMare e Beneck, e comenta o Unitário": "O Polytheama tem levado à tela esplendidos films naturais e artísticos das melhores fábricas do Velho Mundo, resenvando para as segundas sessões as audições lyricas”. O cinema era anunciado, então, como cassino familiar e tinha uma orquestra de sete exímios professores, destacando-se os maestros Vilalta, piano; Armando Lameira, violino; e Luiz Ancettidiretor de arquivo.

No ano seguinte, o Polytheama ganhava ainda maior destaque, após passar por reformas. Anúncio publicado no “Diário do Estado" (28.1 .1915) ressalta a qualidade do cinema:

CINEMA POLYTHEAMA THEATRO

Praça do Ferreira, 12
Empreza: ROLA, IRMAOS 7 CIA.
End. Teleg.: Polytheama, Ceará.
PRIMEIRA CASA DE DIVERSÕES DO ESTADO

Frequentado pelo que há de mais seleto em nossa sociedade e incontestàvelmente a que oferece melhor conforto.

GRANDE SALÃO DE ESPERA COM ORCHESTRA COMPLETA
de 8 professores sob a regência do Professor Armando Lamera.


O mesmo jornal, “Diário do Estado”, na edição de 26 de janeiro de 1915, 
publicava:

ATENÇÃO

Sábado, 30 de janeiro de 1915
Deslumbrante e suntuosa festa
Para solenizar a inauguração dos
importantes melhoramentos do 

CINEMA-THEATRO POLYTHEAMA.

3 sessões, às 6, 7 e 8 horas.
Salão de espera vasto e profusamente
iluminado, com uma harmoniosa orchestra.

Distribuição de mimosos brindes às crianças na
Matinée Infantil - às 6 horas da tarde.
Verdadeiro sucesso no Ceará.


Em 1916, a habilidade e decisão do jovem e emergente empresário Luiz Severiano Ribeiro, coloca-o à frente dos veteranos exibidores (José Rola, Henrique Mesiano, Raul Walker), com a firma Ribeiro & Cia. Era estabelecido um novo “trust” no circuito exibidor de Fortaleza, pelo qual os dirigentes decidiram pela manutenção de alguns cinemas e fechamento de outros, cujos proprietários receberiam como compensação parte dos lucros. A cidade contava então com cinco cinemas. De início, em janeiro, foram fechados o Amerikan Kinema, o Riche e o Cassino Cearensecujos dirigentes passaram a receber, os dois primeiros, 19% cada, e o último, 14% dos lucros que fossem gerados nos dois cinemas remanescentes e conservados em funcionamento por força do acordo: Polytheama e Rio Branco e, em seu lugar, reabrir o Riche.

Há protestos pelo retrocesso que se constituía a redução no número de cinemas.
Protestos maiores são veiculados pelo Correio do Ceará”, em sua edição de 30 de maio de 1916, condenando a nova programação de filmes italianos “imorais":

POLYTHEAMA

Esta casa de diversões tem infelizmente descido muito no conceito do público, devido às exhibições indignas de fitas altamente immoraes e que muito desabonam o critério dos seus proprietários.

Secundamos o brado dos nossos collegas do “Diário do Estado” que ainda hontem manifestaram o desagrado da família de Fortaleza, ante o procedimento daquella casa, que se está transformando numa escola de perversão social.

Lastimaram os nossos collegas que os directores daquelles cinemas, ao envez
de passarem em seu écran fitas innocentes, instructivas e agradaveis, exhibam os grosseiros productos immoraes e reprovaveis, das fabricas italianas.

São muito justas as reclamações do "Diário do Estado”, as quaes sinceramente applaudimos.

Ainda ante-hontem, a fita exhibida no "Polytheama” escandalizou o publico inteiro de Fortaleza.

Grave culpa cabe aos directores daquella casa. Numa sessão tão frequentada como a “soirée chic” de um domingo, quando as principaes familias se reunem ali para assistirem uma fita em torno da qual se fizeram largos reclamos não era admissível que se fizessem passar pela tela scenas degradantes de uma refinada baixeza.




Isto toma, de facto, proporções de um menosprezo à dignidade das famílias desta capital.

A fita “Dívida de Sangue” pode ser levada nos grandes centros; mas, somente em cinemas frequentados pela gente que não tem classificação moral.

Apresental-a às famílias distinctas de nossa catholica Fortaleza é um attestado triste de pouco caso que se tem para com os sentimentos de nossa sociedade.

O facto desgostou profundamente os frequentadores daquella casa.

Fazemos um sincero appello aos directores do “Polytheama” para que ora em diante não mais consintam na exhibição de fitas indecentes. Esperamos que as nossas palavras sejam attendidas, para que não tenhamos a tristeza de novamente reclamar contra coisas desta ordem.


O objeto das criticas eram os filmes ItalianosDívida de Sangue" (Debito di
Sangue; Sabaudo Film de Milão, 1915, 1500 metros, dirigido por Mario Roncoroni) e "A Confissão da Meia Noite" (Mezzanotte; Milano-Film, 1915, 780 metros, argumento e direção de Augusto Genina, com Mercedes Brignone, Livio Pavanelli, Ugo Gracci, Luigi Serventi, Rambaldo de Goudron e Franz Sala).


A pressão da imprensa curvou a firma Ribeiro & Cia., e o Correio do Ceará(6.6.16), festejava uma nova fase para o Polytheama:

POLYTHEAMA - Esta casa de diversões, que attendendo á reclamação justa que fizemos, suspendeu a exhibição de films offensivos à moral, espera pelo primeiro paquete a chegar do sul, uma remessa de fitas afim de serem passadas no écran. Por este motivo, os emprezarios promoverão, em homenagem a nova phase por que o Polytheama vae passar, uma festa popular, tocando por esta ocasião uma banda marcial para esse fim contractada.

A reabertura do Polytheama, sob a direção de Luiz Severiano Ribeiro. trouxe também de volta o cinema Riche, quando a 10 de junho, apresentaram simultâneamente a película italiana, com a grande estrela Francesca Bertini, “Assumta Spina” (Assunta Spina; Caesar Film, de Roma, 1915, 1690 metros, baseado na peça de Salvatore Di Giacomo, dirigido por Gustavo Serena), tendo no elenco Gustavo SerenaCarlo Benetti, Alberto Albertini, Antonio Crucchi, Amelia Cipriani e Albano Collo.
Era a estréia de Serena na Caesar Filmcomo seu primeiro ator e diretor artístico, percebendo 24.000 liras por ano, mais 300 por cenarização ou direção de fitas.


(Grafia da época) 


Continua... 
Parte I
Fonte:  Livro Fortaleza e a Era do Cinema de Ary Bezerra Leite 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ponte José Martins Rodrigues - Ponte sobre o Rio Ceará


Placa de construção da ponte. Alberto de Souza

Antes da construção da ponte. Acervo Albertu's Restaurantes

Em 1997, na gestão do prefeito Juraci Magalhães, a Ponte José Martins Rodrigues, com 633,75 metros de pista dupla, é inaugurada. Com um custo estimado em mais de R$17 milhões de reais, a ponte sobre o Rio Ceará liga o município de FortalezaCaucaia.

Construção da Ponte - Acervo Alberto de Souza

Inauguração

Quatro anos. Este foi o tempo de espera para a construção da ponte José Martins Rodrigues sobre o Rio Ceará desde o anúncio de sua construção, em outubro de 1993, pelo então vice-prefeito de Fortaleza, Marcelo Teixeira, até a inauguração dela, concluída pelo então prefeito, Juraci Magalhães, em outubro de 1997.

Acervo Albertu's Restaurantes

Denúncias de irregularidades foram feitas durante a sua construção. Uma das polêmicas levantadas foi quanto ao valor do pedágio cobrado e qual o percentual dele seria destinado ao município de Caucaia, que fica do lado de onde estão instaladas as cancelas, e qual o valor para a Prefeitura de Fortaleza, que desembolsou dos cofres públicos R$ 17 milhões para a construção do equipamento.

Foto de 1996, a ponte foi terminada em 1997- Acervo de Everson Sales

Para viabilizar as obras, foram desapropriados 120 imóveis em Fortaleza e 50 no município de Caucaia. A Ponte José Martins Rodrigues tem uma extensão de 633,75 metros e largura de 20,2 metros. Ela liga a faixa litorânea de Fortaleza às praias do litoral oeste.

Em junho de 1997, o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, garantiu verba de R$ 3 milhões para a urbanização das imediações da ponte. Em agosto, com a obra concluída, foi liberada a passagem para pedestres.

Diário do Nordeste/CE - 30/1/2013

Acervo Alberto de Souza

Pedágio



Através de Projeto de Lei, enviado à Câmara Municipal de Vereadores em 2013, a Prefeitura de Fortaleza põe fim a cobrança que existia desde 1997, ano em que a Ponte sobre o Rio Ceará foi inaugurada. A lei 8.061, sancionada pelo então prefeito Juraci Magalhães, determinava que o pedágio deveria ser cobrado por apenas - e somente - 10 (dez) anos ininterruptos e sem prorrogação. Desde 2007, a cobrança era feita por força de liminares.

Construção da ponte - Acervo Albertu's Restaurantes


No Ceará, ponte virou obstáculo para o meio ambiente

Quase na metade do rio, a água batia um pouco acima do joelho. A maré, por volta das 10h30min, estava baixa. Ao lado das enormes colunas de sustentação da ponte sobre o rio Ceará, seu Antônio fica minúsculo. Passa quase desapercebido. Depois de jogar a tarrafa uma, duas, 10, 20, 30 vezes, ele caminha lentamente em direção à margem. Ao abrir o saco que segurava na mão direita, algumas tainhas – menos de 10 – se debatiam. Não há mais peixes’, disse, enquanto enxugava o suor que escorria pela testa. Afinal, o calor era forte. Mais de 30 graus, com certeza.

Acervo Alberto de Souza

Casado e pai de cinco filhos, Antonio Borges Pinto, ou simplesmente seu Antonio, vive na Barra do Ceará e é pescador há mais de 20 anos. ‘Antes, em duas horas, eu conseguia pescar entre 15 e 20 quilos. Aqui, se chegar a dois é muito. É só para o almoço’, lamenta. Toda a vida, seu Antonio tirou o sustento da família da pesca. Isso até alguns anos atrás. Hoje, a atividade de pedreiro se mistura com as manhãs de pescaria. ‘Quando aparece algum trabalho de pedreiro, dou prioridade ao serviço. É mais negócio’, diz. A situação do pescador é semelhante a de diversos moradores da Barra do Ceará, que têm na pesca o principal meio de subsistência.

A ponte, vista do Morro de Santiago. Acervo Alberto de Souza

Inaugurada em 1997 para facilitar o acesso entre Fortaleza e Caucaia, a ponte José Martins Rodrigues, mais conhecida como ponte sobre o rio Ceará, beneficia, diariamente, milhares de pessoas que cruzam os seus 633 metros. Para os cearenses que se deslocam diariamente entre as duas cidades, ela trouxe algumas melhorias, como a economia no tempo e na distância do percurso. Mas, para o meio ambiente já são sete os anos de prejuízos.

A ponte, vista do Morro de Santiago. Acervo Alberto de Souza

De acordo com a doutora em geografia ambiental e professora da Universidade de Fortaleza, Vanda Claudino Sales, as colunas de sustentação da ponte instaladas no leito do rio impedem o fluxo normal da água. ‘Como o rio é o maior transportador de areia e outros materiais orgânicos para o mar, os prejuízos são enormes para o meio ambiente. Os pilares acabam funcionando como obstáculos para a água’, explica. Segundo ela, grande parte da areia que deveria ser levada até o mar, acumula-se no entorno do obstáculo. ‘Isso causa um grande desequilíbrio no ecossistema. O prejuízo é para o rio, para as praias, principalmente do litoral Oeste, para as dunas e para os peixes’, afirma.

(Foto Fábio Lima)

No rio, o desequilíbrio começa na profundidade do leito. O aterramento de boa parte da margem para a construção da ponte e os bancos de areias que se formam devido às colunas deixam o rio cada vez mais raso. Os barcos pesqueiros só conseguem passar por apenas um canal, localizado exatamente no centro do leito. ‘Ainda bem que esse ano foi muito chuvoso, caso contrário, nem no meio os barcos conseguiriam passar’, explica Vanda.

Segundo ela, a baixa profundidade prejudica, inclusive, a reprodução dos peixes que vêm do mar para desovar no rio ou no mangue. ‘A temperatura da água esquenta mais do que o normal. Com isso, os peixes acabam procurando outro lugar para se reproduzir’, explica. A vibração dos carros que passam sobre a ponte e a iluminação artificial que reflete na água à noite também são considerados fatores determinantes para a diminuição dos peixes no rio Ceará.



Créditos: Nirez, Portal do Ceará, Diário do Nordeste, http://noticias.ambientebrasil.com.br, http://www.fortaleza.ce.gov.br e Alberto de Souza

domingo, 24 de novembro de 2013

Colégio Militar - Fotos Históricas



Arquitetura e instalações

Atividades educacionais 

Vista interna em 1924

Vista interna em 1924

Passadiço em 1924

Passadiço em 1924

O Colégio em 1928 - Acervo MIS


Instrução militar e formaturas

O Colégio  em 1931

Alojamento

Foto de 1956

Educação Física

Mudança do nome. De Escola Preparatória de Fortaleza para Colégio Militar de Fortaleza.

interior do prédio

interior do prédio


Continua...



Agradecimento especial ao amigo Raphael Bessa Moreira


sábado, 23 de novembro de 2013

San Pedro Hotel


Ele foi durante muito tempo o hotel mais luxuoso de Fortaleza 

Arquivo O Povo

No dia 29 de maio de 1959, era inaugurado o San Pedro Hotel, da Imobiliária Pedro Lazar, de Pedro José Lazar (Pedro Lazar), localizado na Rua Castro e Silva nºs 71/91, esquina com a Rua Floriano Peixoto.

"A dois passos do Forte Nossa Senhora da Assunção, quase em frente ao Centro de Artesanato da Emcetur, ao lado do Mercado Central e da Catedral em construção, próximo ao Teatro José de Alencar e no corredor de todas as praias metropolitanas.
O hotel mais procurado por quem quer ficar perto de tudo"
, diz o folder da inauguração.

Possui uma área de 6.086 metros quadrados, 11 pavimentos, contando com o térreo, sobreloja e o restaurante, 78 quartos, elevadores movidos por luz própria a óleo diesel, salão de beleza e sala de reuniões.

Arquivo Nirez

Ícone da hotelaria de Fortaleza até os anos 90, o San Pedro era um dos endereços mais procurados na época. Artistas, personalidades, jogadores de futebol e políticos, nele encontraram conforto e hospedagem; a cozinha era uma das melhores da cidade; na boate, festas concorridas eram animadas por músicos de renome.
O entorno do prédio, valorizavam ainda mais o hotel, como por exemplo, o belíssimo Passeio Público, a Catedral Metropolitana, o suntuoso prédio da Santa Casa e a belíssima Estação João Felipe
Na década de 80 o glamour do conceituado hotel perdia forças mediante a decadência do Centro conduzindo o San Pedro à sua desativação em 1990, cedendo lugar à Secretaria da Indústria e Comércio, que lá funcionou até o ano de 1999. Depois, o prédio foi reformado para abrigar o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e AgronomiaCREA.

Cartão Postal da inauguração do San Pedro Hotel

A reestruturação do edifício custou mais de R$ 1 milhão e estendendo-se por quatro anos para ser concluída. Um dos objetivos do CREA é colaborar com o Programa de Revitalização do Centro. O edifício abandonado e esquecido, mas que marcou a história do Centro, teve sua compra efetivada em 2003 por R$ 660 mil. A reforma começou no ano seguinte e consumiu mais de R$ 1 milhão. 
São 11 andares que abrigarão, além do CREA - Ce, outras entidades das categoria, um museu e um centro cultural. Segundo o Jornal O Povo de 18 de março de 2008. 

 Fotos tiradas da Praça da Sé, no sentido poente da rua Castro e Silva. O prédio branco ao fundo é o San Pedro Hotel, hoje ocupado pelo Crea. Acervo da foto antiga: Carlos Juacaba


"Antigamente a rua Castro e Silva tinha o nome de Rua das Flores. Era lá que os jovens se reuniam para dançar e se divertir. As calçadas eram movimentadas, fosse dia, fosse noite. Mas quando o Hotel San Pedro foi desativado, a rua ficou praticamente esquecida. Depois que inventaram os shoppings, isso aqui foi esquecido. Mas tão querendo trazer algumas coisas de volta. Vai ser difícil, mas se funcionar vai ser maravilhoso. "


(Glauber Holanda, aposentado, em entrevista ao Jornal O Povo 
de 15 de novembro de 2007). 

San Pedro Hotel em 2006 - Foto Gerson Linhares

Fatos Históricos

  • 13 de dezembro de 1973 - No quarto nº 820 do San Pedro Hotel, na Rua Castro e Silva nº 81, esquina com a Rua Floriano Peixoto, a cearense Vera Lúcia da Silva, mata com 40 facadas e três tiros a bailarina mineira Juçara Costa Abreu, sua amante. O fato aconteceu por volta do meio-dia. No local, os policiais encontraram Vera dopada ao lado de sua vítima. "Maconha, bebida e muita bala", foi o que respondeu a assassina ao ser questionada sobre o que estava acontecendo. As duas haviam se conhecido no Rio de Janeiro e, mesmo sendo Vera casada, tiveram um caso que durou quatro meses.


Foto de 2006 - Gerson Linhares


  • 11 de abril de 2003 - O Edifício São Pedro, prédio onde funcionou o San Pedro Hotel, no Centro de Fortaleza, fechado há três anos, é leiloado pela Imobiliária Lazar, proprietária do edifício. O leilão acontece no Othon Palace Hotel. O administrador do San Pedro, Pedro José Lazar Neto, diz que um dos possíveis compradores, deve transformá-lo em condomínio residencial. Os elevadores estão parados e as instalações elétrica e hidráulica precisam de reparos, assim como quartos e corredores. O San Pedro Hotel fora inaugurado em 29/05/1959, fechou as portas em 1990 passando a ser ocupado pela Secretaria de Indústria e Comércio do Ceará que lá ficou até 1999, ficando abandonado até o leilão. O edifício do antigo San Pedro Hotel, com 11 andares, tornou-se um dos endereços mais chiques e concorridos da cidade. Nos apartamentos refrigerados do San Pedro, repousaram beldades, artistas de rádio, jogadores de times famosos, turistas do Brasil e do mundo. Seu restaurante era o que havia de mais fino e a comida, delícia para poucos endinheirados. 
Crea inaugura sede em prédio histórico


Os primeiros andares do antigo San Pedro Hotel ficaram lotados para a inauguração da nova sede do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Ceará (Crea-CE). O prédio, localizado na esquina das ruas Floriano Peixoto e Castro e Silva, no Centro histórico, passou por uma grande reforma para abrigar a entidade.

"Esperamos que a proximidade do Crea com a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, a antiga Cadeia Pública, a Santa Casa de Misericórdia, a Praça do Ferreira, o Theatro José de Alencar, entre outros, faça com que os profissionais do sistema conheçam e usufruam destes patrimônios", declarou José Maria Freire, presidente interino do Crea, durante a solenidade oficial de inauguração.

Foto de 2009 - Gerson Linhares

Os 11 andares do edifício vão abrigar, além do Crea, outras entidades das categorias representadas pelo Crea, um museu e um centro cultural. Segundo Freire, uma central de serviços será inaugurada no local com atendimento da Coelce, Cagece, Prefeitura de Fortaleza e Corpo de Bombeiros, com o objetivo de facilitar o acesso às necessidades do trabalho dos associados.


Jornal O Povo de 18/03/2008



Fontes: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Roteiro para um turismo histórico e cultural - 2005 de Miguel Ângelo de Azevedo, Portal do Ceará, Dissertação de Cisne Sales de Freitas, Jornal O Povo e Jornal Diário do Nordeste.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Ladeira do André


Fortaleza é metrópole com poucos logradouros de acentuada declividade.
Na rua Almirante Jaceguai, trecho entre a Avenida Monsenhor Tabosa e rua José Avelino, no bairro Seminário, destacou-se – em especial nos anos 60 – o rampadouro conhecido por Ladeira do André.

A denominação da íngreme via deveu-se à bodega, cujo proprietário possuía aquela graça.

Ali, fatos inusitados registraram-se.
Os carrinhos ingleses Prefect e Anglia, para subir, necessitavam do desembarque dos passageiros, que seguiam a pé até o topo e reembarcavam.

 Foto de uma revenda Ford, em 1951. Os carros expostos são Prefect e Anglia. 


O jipinho Crosmobile, modelo 1952, de nosso saudoso professor padre Tito Guedes, para vencer a inclinação, tinha de tomar velocidade desde a Avenida da Abolição.

Ciclistas desciam tranquilamente. Subir? Só levando a magrela no muque. Os
bêbados? Caminhando para cima ou para baixo era um “valha-me Deus!”.

Um curtume usava toda a extensão das calçadas na secagem de peles de animais para transformar em couro. Além da insuportável fedentina, os transeuntes tinham de andar sobre o pavimento de pedras toscas.

Conheci a Ladeira levado pelas circunstâncias.

Junto à Guarda Estadual do Trânsito submetia-me a exame para conseguir a
Carteira Nacional de Habilitação. Dia das provas práticas de direção. Sob o
humor irritadiço do Inspetor Webster, sentado no banco do carona do jeep da Auto Escola Willys, principiaram-se os testes. Baliza e percurso de dirigibilidade na Avenida Dom Manuel, descendo a rua Almirante Jaceguai. Pela mesma artéria retornando. E, no meio, o mando de frear o veículo e desligar o motor.

“Agora, a minha ordem, você liga a ignição, solta o freio de mão e realiza a subida da rampa! Se o veículo recuar ou estancar, está reprovado! Outra chance somente mês que vem! Pronto, execute!”.

Suores frio, morno e quente escorriam pelos caminhos do corpo. Mesmo havendo treinado inúmeras vezes, naquela data, tudo parecia desigual. O carro era outro. Os pedais tinham alturas e folgas diferentes do anterior e o freio de mão teimava em não obedecer, apesar do grande esforço empregado.

Socorri-me de meu padrinho – Santo Antônio de Lisboa – e fui atendido.
Dos doze examinados, quatro foram aprovados. O “... de Tetéu”, como o alcunhavam os candidatos, era tido e havido como o verdadeiro terror dos aspirantes a motorista.


Geraldo Duarte
 
(Advogado, administrador e dicionarista).

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