Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Liceu do Ceará


Prédio do Liceu em construção no Jacarecanga. Acervo Luiz Antônio de Alencar

No dia 15 de Julho deste ano, o Liceu do Ceará completou 165 anos. É o terceiro colégio mais antigo do Brasil, o Liceu foi fundado oficialmente em 15 de julho de 1844, ainda no reinado de Dom Pedro II.
A instituição está cravada no coração do Jacarecanga, um dos bairros mais tradicionais de Fortaleza, que guarda muitas histórias de um tempo de glamour.


As primeiras aulas do Liceu, em 1845, aconteciam nas casas dos professores,
já que ainda não havia sede própria. O primeiro diretor da instituição foi o Dr. Thomaz Pompeu de Souza Brasil, que entrou nos livros de História e no imaginário popular como o Senador Pompeu.


O Liceu só ganhou sede própria em 1894, na Praça dos Voluntários, no Centro de Fortaleza.

Em 1937, o colégio mudou-se para sua atual sede no Jacarecanga que, na época, era o bairro que abrigava a elite da cidade.

Foto antiga mostra o imóvel onde se instalou o Liceu do Ceará, em 1894.

Liceu do Ceará na Praça dos Voluntários. Arquivo Nirez




Hoje um bairro popular, o Jacarecanga ainda guarda marcas de seu tempo de riqueza, como antigos casarões, palacetes e, claro, o Liceu.

O Liceu do ceará pertence ao patrimônio público do estado do ceará, foi criado no período imperial (século XIX), assim como alguns colégios contemporâneos de outras províncias, inspirado nos moldes do Colégio Dom Pedro II, uma instituição modelo de ensino criada em 1837 no Rio de Janeiro, então capital do império. No intuito de agregar cadeiras já existentes e facilitar a inspeção do ensino público no Ceará, em 15 de julho de 1844, o presidente da província, Marechal José Maria da Silva Bittencourt sancionou a lei n.º 304, criando oficialmente o Liceu:

"Art. 1º - Fica creado nesta capital um lycêo que se comporá das cadeiras seguintes: phylosophia racional e moral; rethorica e poética; arithmetica; geometria; trigonometria; geografia, e historia; latim, francez e inglez.".


Time de vôlei do Liceu.

1- Um flagrante do jogo entre o Penarol e o Liceu.
2- Flagrante do jogo entre a equipe do Liceu e do Instituto São Luiz (camisa azul e branca).
3- Flagrante da "negra" entre o Colégio Castelo Branco e o Liceu.

Crédito: Dam Araújo

No início foram ministradas aulas de filosofia racional e moral, retórica e poética, aritmética, geometria, trigonometria, geografia, história, latim, francês e inglês aos seus 98 alunos matriculados. Seu primeiro diretor foi Tomás Pompeu de Sousa Brasil.

Foto de novembro de 1970 - Acervo Antônio Costa Neto


Liceu em 1981

No tempo em que o Liceu foi criado, Fortaleza era uma pequena cidade com pouco menos que 5.000 habitantes, resumindo-se a poucas ruas no centro da cidade. Nessa época, os colégios eram privilégio da elite. Não apenas porque os colégios eram poucos, mas também pelos custos que representavam a uma sociedade pobre em recursos. Além disso, na época era comum em colégios públicos a cobrança de taxas, como ocorria inclusive no Colégio Dom Pedro II, que reservava poucas vagas para pessoas que não tinham condições de pagar.

(Foto do interior do colégio) As atividades escolares tiveram início em 19 de outubro de 1945, com 98 matrículas, sob direção do Dr. Thomas Pompeu de Souza Brasil, o Senador Pompeu. O curso secundário tinha duração de 6 anos e as aulas eram ministradas nas próprias casas dos professores. Somente em 1894, no governo do Coronel Bezerril Fontenele, foi inaugurada a primeira sede própria, na Praça dos Voluntários, no centro de Fortaleza. Desde 1937 este situa-se no bairro do Jacarecanga.

O Liceu conta atualmente com uma grande infraestrutura de laboratórios, tais como de informática, um espaço destinado a pesquisas; Rádio, na qual os alunos participam de um projeto pedagogo para desenvolver habilidades na área de comunicação; de Biologia, para assuntos relacionados com a prática biológica.

Relato de uma antiga moradora do bairro Jacarecanga:
"Os estudantes do Liceu antigo, faziam greves por causa dos ônibus da Linha Jacarecanga. O pobre do Pedreira [Oscar Pedreira] se danava. Os liceístas desmanchavam o calçamento em greve pelas passagens, mas as greves dos estudantes daquela época eram bem diferentes das atuais." Oscar Pedreira era o dono da Linha Jacarecanga, que transitava dentro do Jacarecanga e passava pela Praça do Ferreira.

Bonde  Joaquim Távora lotado de funcionários da Tramway. O trajeto do bonde era: Major Facundo /Liberato Barroso/Floriano Peixoto/Pedro I (Igreja coração de Jesus)/Visconde Rio Branco onde ficava a garagem, almoxarifado e mecânica da empresa. Fonte Assis Lima

O médico veterinário Evandro Frota, estudante do Liceu do Ceará nos anos de 1969 e 1970, lembra-se da dificuldade para ingressar no Liceu. Evandro chegou ao colégio quando o sistema ainda não era misto, homens estudavam no período da manhã e mulheres no período da tarde. Em 1969/70, época da ditadura militar, os alunos do Liceu eram vigiados, pois, tradicionalmente, lideravam movimentos políticos. O Liceu formou alunos como Clóvis Beviláqua, Eleazar de Carvalho, Parsífal Barroso, Antônio Girão Barroso e Lúcio Alcântara.


Alunos ilustres:

Antonio Paes de Andrade
Barão de Studart
Belchior
Bezerra de Menezes
César Cals
Clóvis Beviláqua

Edson Queiroz
Eleazar de Carvalho
Farias Brito
Fausto Nilo
Gustavo Barroso
Lúcio Alcântara

João Brígido
Juracy Magalhães
Juvenal Galeno
Mário Barreto Corrêa Lima
Parsifal Barroso
Perboyre e Silva

Plácido Castelo
Raimundo Cela
Raimundo Girão
Rodolfo Teófilo



Fontes: wikipedia/+jabá!/Terra dos casarões/Pesquisas de internet

Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho




Em 18 de Dezembro de 2002, o palacete do engenheiro e antropólogo Thomaz Pompeu Sobrinho, situado no antigo bairro Fernandes Vieira, hoje Jacarecanga, passou então a abrigar o Centro de Restauro do Ceará e a Escola de Artes e Ofícios. Mais tarde, em 15 de maio de 2006, tivera suas portas reabertas para receber 55 novos alunos que formariam a segunda turma do curso de Conservação e Restauração do Patrimônio Arquitetônico, agora com nova gestão e novos parceiros.



Quem passa pela Avenida Francisco Sá, a poucos metros da Praça do Liceu, dificilmente ignora um imponente casarão, bem restaurado, com uma reluzente fachada amarela. Um resquício da antiga nobreza do Jacarecanga, a casa de Thomaz Pompeu Sobrinho hoje abriga a Escola de Artes e Ofícios (EAO), equipamento do Governo do Estado que realiza atividades de qualificação profissional em restauração e conservação do patrimônio cultural com jovens e adultos da cidade.


Acervo Patrimônio Para Todos

O casarão data de 1929. E, após 5 anos de construção, serviu de residência à família de Thomaz Pompeu Sobrinho¹, engenheiro e antropólogo de rica e influente família no início do século XX em Fortaleza.
Construído de 1924 a 1929, o casarão é um patrimônio arquitetônico da cidade num período notadamente marcado pela influência da arquitetura européia. É um exemplar característico do Art Noveau em Fortaleza.



Ofipro

A fachada do casarão impressiona. Um portal de concreto, artigo de luxo na década de 1920, ergue-se ao fim da pequena escadaria que dá acesso ao hall de entrada. A visão é contrastante. Um olhar para fora nos deixa de cara com a Avenida Francisco Sá, com seu intenso fluxo de veículos. O barulho dos ônibus grita que estamos em uma metrópole. Quando nos voltamos para dentro do casarão, somos transportados de volta a um tempo em que o antigo bairro Fernandes Vieira, o atual Jacarecanga, abrigava a elite de uma Fortaleza ainda tranquila.





A sala possui, assim como todo o casarão, um rangente piso de madeira. As paredes são enfeitadas com delicadas pinturas. As janelas de madeira pintada de branco, o altíssimo pé-direito e uma escada em caracol que leva ao segundo andar fecham o clima bucólico na sala. Mas o contraste entre a modernidade e o passado chama a atenção de quem visita a casa. Ao lado de uma janela de 80 anos, há uma ilha digital. Computadores conectados à Internet estão à disposição da comunidade e são o principal atrativo da casa para a maior parte dos jovens que a visitam.




A casa é ladeada por jardins bem cuidados, que mostram o zelo das mais de 20 pessoas que trabalham no local.
Ainda no primeiro andar, há um refeitório com janelas que dão para o grande jardim de Thomaz Pompeu Sobrinho. A área total do terreno é de 2147,84 m².





O lindo jardim


É já quase nos fundos da casa que vemos um dos mistérios do casarão. Uma escada de concreto nos leva ao porão. A questão é: em 1929, não se fabricava cimento no Brasil. Se um portal de concreto na fachada se justifica pela beleza arquitetônica, acredita-se que a escada do porão era um símbolo de ostentação dos Pompeu. A origem da escada é incerta. A hipótese mais provável é que ela tenha vindo já pronta de Portugal em um navio.




O porão, de teto baixo e paredes caiadas, reserva uma surpresa. É possível ver a estrutura de sustentação da casa: colunas de concreto e trilhos de bonde, que faziam as vezes de vigas metálicas. O porão servia de depósito e abrigo para os agregados da família, como índios que Thomaz Pompeu Sobrinho trazia para sua casa como objetos de seus trabalhos antropológicos.




No segundo andar, ficavam os quartos da família, hoje utilizados como salas de aula e gabinetes da administração da Escola. No início do século, eram comuns as “casinhas de asseio” externas às casas. O banheiro dentro da casa, presente no segundo andar, demonstra uma inovação arquitetônica para a época. A pia de louça, vinda de Liverpool, era mais um artigo de luxo.






A varanda, de posição privilegiada na fachada, nos leva de volta à visão dos carros e ônibus da Avenida Francisco Sá. É da varanda que se tem acesso a uma espécie de torre: um quartinho que representa todo o terceiro pavimento do casarão. Infelizmente, o quarto é utilizado como depósito pela Escola e não é permitida a visitação. Por vários anos, Thomaz Pompeu Sobrinho deve ter desfrutado de sua torre com vista para o mar.



Detalhe do piso

Numa varanda lateral, funciona a Biblioteca Thomaz Pompeu Sobrinho, mais um serviço da EAO para a comunidade. O acervo da biblioteca destaca assuntos referentes ao patrimônio cultural e à arte.





A própria restauração da casa foi resultado de cursos de restauração do patrimônio arquitetônico, com especializações em Alvenaria Artística, Pintura e Carpintaria. Além dos cursos de restauração, a EAO oferece o curso Marcas da Cultura, uma formação básica para o tratamento e o trabalho em couro, e o projeto Brincar de Criança, voltado para a valorização e produção de brinquedos artesanais.





¹Thomaz Pompeu Sobrinho



Thomaz Pompeu de Sousa Brasil ou Th. Pompeu Sobrinho, intelectual brilhante, fez construir em 1929 , no bairro Jacarecanga - Fortaleza, uma edificação que lhe serviu de residência até o seu falecimento, em 9 de novembro de 1967 , aos 87 anos de idade.


Dois anos antes da morte de Thomaz Pompeu Sobrinho (1888-1967), Nertan Macedo a ele se referiu como “o homem que redescobriu o Ceará”. Não se encontraria uma referência mais justa e sensível a seu respeito. Alba Valdez aproximou-se de maneira poética, e o chamou de “o escafandro mais erudito da história do Ceará”. Valdez foi uma das poucas pessoas a destacar, em público e ainda vivo o escafandro, a importância capital deste homem, plenamente refletida em sua obra.


Fonte - EAO.org/Terra dos Casarões/http://www.viapolitica.com.br

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Casarões - Um belo e imponente passado


Na Fortaleza do início do Século XX, boa parte dos palacetes e mansões existentes na cidade eram réplicas de imóveis europeus. Os ricos proprietários viam as fachadas por lá e reproduziam aqui. O material da construção também era importado: telhas de Marselha; ardósia importada da França; da Inglaterra vinham as louças sanitárias; Portugal mandava as pinhas, os jarrões, as estátuas e os ladrilhos de faiança. Algumas casas utilizavam até madeiras europeias e o precioso e agora raro pinho de Riga servia para assoalhos, portas, janelas e bandeirolas.

Palácio Plácido

Palácio Plácido, cópia de um castelo renascentista de Florença. Localizado na Av. Santos Dumont, 1545, no antigo bairro do Outeiro, atual Aldeota, ocupava um quarteirão inteiro entre as atuais ruas Carlos Vasconcelos, Monsenhor Bruno, Costa Barros e Avenida Santos Dumont. Foi construído em 1920 pelo comerciante Plácido de Carvalho e mais tarde foi adquirido pelo grupo Romcy, que em fevereiro de 1974, mandou demolir para construir um supermercado.

Casa do banqueiro José Gentil



A chácara foi vendida em 1909 pelo proprietário Henrique Alfredo Garcia ao Dr. José Gentil Alves de Carvalho. A casa que existia no local foi demolida em 1918. O projeto da nova casa construída no local foi do Dr. João Sabóia Barbosa. Em 1956, a propriedade foi comprada pelo primeiro reitor da UFC, Prof. Antonio Martins Filho, à Imobiliária José Gentil S/A pertencente aos herdeiros de José Gentil.

Reitoria da UFC

Um ano após a compra, o Reitor Martins Filho resolveu demolir o casarão, construído em 1918, mandando projetar, a atual sede da Reitoria. O projeto elaborado pelo Departamento de Obras mantinha as mesmas linhas arquitetônicas da casa construída pelo Dr. João Sabóia Barbosa. O imóvel está localizado na Avenida da Universidade, no Benfica.

Casa da família Thomaz Pompeu na Av. do Imperador


Foto antiga da casa da família Thomaz Pompeu na Avenida do Imperador em frente a Praça da Lagoinha. Típica mansão francesa, com uma fachada de tijolinhos vermelhos, enegrecida pelo tempo, platibanda com muitos detalhes, e uma imponente varanda no andar superior.

Casa de Oscar Pedreira

Casarão fica na esquina da Philomeno Gomes com Monsenhor Dantas



O bairro Jacarecanga concentrava o maior número de palacetes e mansões de Fortaleza. Com 3 pisos, o casarão do empresário Oscar Pedreira era uma das mais bonitas residências da área.
O bairro Jacarecanga, na zona oeste de Fortaleza, formou-se antes da Aldeota.

O antigo bairro nobre de Fortaleza foi disputado nos meados do século XX como o preferido pela elite fortalezense depois que as residências suntuosas foram gradativamente deixando o Centro e o Benfica. Passaram-se as décadas e os contrastes permanecem evidentes até hoje, já tão descaracterizada área da cidade. Alguns exemplos de preservação são louváveis, em outras casas, a descaracterização e a destruição de vários detalhes arquitetônicos mostram que ainda há muito a se aprender sobre cultura e tradição em nossa cidade. O encanto daquelas décadas do século XX se acabou, mas ainda há muito que poderia ser resgatado no Jacarecanga. Um vídeo do cineasta Joel Pimentel diz que Fortaleza é uma cidade para a qual não se pode voltar porque ela está sempre em transformação. Isto é certo; porém, passear pelo bairro Jacareganga é de certa forma, voltar ao passado.

Os contrastes entre o contemporâneo e o antigo são gritantes, mas aquela área da cidade tem muito mais para contar. A partir da década de 1930, a imponência das residências das famílias mais abastadas que optavam por sair do Centro, deixou marcas que podem ser vistas até hoje. Adentra-se à Avenida Francisco Sá vindo da Praça Gustavo Barroso, a Praça do Liceu, e logo à frente, à esquerda, encontramos a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho. Aquela foi a residência de Pompeu Sobrinho, construída em 1924, onde uma média de 30 familiares ocupavam a mansão com três pavimentos, distribuídos em 36 cômodos, tendo inclusive, mirante e porão.



Hoje, o órgão da Secult - Secretaria de Cultura do Estado, mantém o Centro de Restauração e Conservação do Patrimônio Cultural do Ceará e ainda funcionam três cursos profissionalizantes: Marcas da Cultura, Imagens da Cidade e Brincar de Criança, ministrando aulas de produção em couro, xilogravuras e construção de brinquedos populares. Oitenta e um alunos são beneficiados. A preocupação dos administradores da Escola é sobre a continuidade dos projetos em andamento, uma vez que em janeiro haverá a mudança de governo e não há certeza sobre a manutenção do trabalho, o que seria desastroso para os jovens que descobrem ali uma nova profissão, isto sem contar a ajuda de custo que recebem. Sempre às quintas-feiras, às 18h30, a Escola oferece uma programação cultural variada, aberta à população. No grande quintal onde havia pocilga, viveiro e garagem, hoje os alunos praticam arte. Ainda se podem ver antigos pés de seriguela,  sapoti, goiaba e coco. O casarão foi completamente restaurado e ali se encontraram, sob várias camadas de tinta, pinturas originais que foram recuperadas e podem ser vistas nos cômodos. A escada de madeira que leva ao segundo piso é uma obra de arte.



A casa de Thomaz Pompeu é um exemplo do que o poder público pode fazer pela preservação da memória da cidade. (Para mais detalhes, leia o post ESCOLA DE ARTES E OFÍCIOS).

Logo ao lado da casa há uma vila com várias residências de época. Ali, os proprietários não se importam com a tradição; reformas mudam aspectos arquitetônicos originais e a escolha das cores para a pintura das casas é bastante reprovável. Basta seguir um pouco mais adiante e logo à esquerda está a Rua Oscar Pedreira. Ali no número 25, dá para se ter uma ideia do que é bom senso. A casa, segundo a atual proprietária, Edna Fernandes, tem cerca de 80 anos e ela fez questão de manter a originalidade do imóvel quando a comprou há 20 anos.



Com fachada em azul e branco tudo está preservado (foto acima). Partes da casa que não puderam ser aproveitadas, como portas e janelas, Dona Edna providenciou para que fossem feitas como as originais. Ali, ela pinta azulejos, arte adquirida nos anos em que viveu em Portugal, e vende as peças que também decoram as paredes do imóvel.

Saindo da Rua Oscar Pedreira, dobra-se à direita e paralelo à Av. Fco Sá, chegamos à Rua Monsenhor Dantas. O imponente casarão do ex-prefeito Acrísio Moreira da Rocha, talvez seja o retrato mais fiel da nobiliarquia do Jacarecanga. Os lustres de cristal, o mármore de Carrara da escada, tudo reflete a riqueza que existia anteriormente na mansão. 

Hoje a casa está alugada à Polícia Civil e a velha capela serve como dormitório. Piscina vazia, não há verde no jardim. A casa está à venda, falaram. Saída da mansão Acrísio Moreira da Rocha (foto abaixo) que levou três anos para ser construída - 1947-1950, seguimos em direção à Avenida Filomeno Gomes.



Na esquina encontraremos outro casarão abandonado, antiga casa de Oscar Pedreira. Não há placas de venda ou qualquer outro referencial que leve aos atuais proprietários. Pode vir a desabar a qualquer momento, pelo aspecto de deterioração que apresenta. Espero que isto não aconteça e se consiga preservar tão eloquente exemplo de arquitetura de época da Fortaleza antiga.


Casarão de Oscar Pedreira na esquina da Filomeno Gomes com Monsenhor Dantas

Saindo da casa abandonada e seguindo-se pela Av. Filomeno Gomes, a meio quarteirão se encontra a residência nº 836, onde sobre o muro vê-se uma grande placa de venda. Talvez aquela seja a mais elegante residência do Jacarecanga em termos de estilo. O construtor, décadas atrás, optou pelo modelo dos Alpes. Apesar da placa de venda, a pessoa que atendeu à campainha não abriu o portão. A casa é linda. Está um pouco desgastada, mas nada que uma boa limpeza e pintura não revertam. O estilo europeu impôs um telhado íngreme, como o da Igreja do Pequeno Grande, próprio para diminuir o efeito do peso da neve no inverno. O jardim exuberante tem os mais variados tipos de flores e pinheiros como nas paisagens serranas. A senhora que não quis abrir o portão afirma que apesar da placa de venda, a casa já estaria sendo negociada com um órgão do Governo do Estado.



Ela informa que a proprietária se encontra na casa mas não quer receber ninguém e a ordem é manter o portão fechado. Assim demos uma volta relativamente curta nos quarteirões do Jacarecanga e vimos a quantidade de casas que estão como que abandonadas. É uma pena que os mais variados problemas dos proprietários os impeçam de manter aquele patrimônio aprazível aos olhos de fortalezenses e dos nossos visitantes. Os casarões poderiam ser recuperados e a área tornar-se um exemplo de cultura e civilização.

"Bom mesmo era no tempo de 39"

Foi assim que Dona Maria, moradora do Jacarecanga há 70 anos, começou a relatar suas memórias acerca do bairro. Dona Maria, sobrinha do ex-prefeito de Fortaleza Manuel Cordeiro Neto, lembra-se de quando o Jacarecanga era um bairro social, habitado por famílias tradicionais da época. “O bairro era mais calmo. Os muros eram baixos, e nunca entrou ninguém pra roubar”, diz.

Em 1939, o Jacarecanga vivia o auge da sua história. Foi ali que Thomaz Pompeu Sobrinho construiu a sua casa com influência da arquitetura italiana, e foi seguido por amigos ricos, que resolveram sair do centro da cidade para construir mansões em moldes europeus. Dona Maria recorda-se de quando o bonde transitava pelo Jacarecanga, e os meninos subiam apenas para se divertir. “A gente pegava o bonde da Praça do Liceu até o fim da linha, porque o torneiro era conhecido e deixava”, diz Dona Maria com sorriso estampado. Na época, o torneiro era chamado de ‘Mamãe dorme só’, porque era filho único e não queria trabalhar à noite, alegando que a mãe não podia dormir só.

O morador José Dias lembra que o Jacarecanga de antigamente era como a Aldeota de hoje. Seu José é da época em que a casa de Pedro Philomeno Gomes fazia a alegria da criançada, com piscina e parque. “Os meninos iam tomar banho de piscina na casa do Philomeno. Philomeno era um homem bom”, disse. 

A moradora Márcia Sales, que reside em uma das vilas próximas à Escola de Artes e Ofícios há mais de 25 anos, conta que Seu Philomeno Gomes, já idoso, saia pela manhã para visitar os casarões que haviam sido dele e a Vila São José, construída para abrigar os operários de sua Fábrica de tecido São José.

Márcia conta ainda que a casa onde mora hoje é a antiga residência do político Virgílio Távora, e que o que parece vidro nas portas é, na verdade, cristal. A moradora tenta conservar a casa como era antigamente, mas lamenta que nem todos tenham a consciência de preservar a memória dos casarões. “Quem entende um pouco de história, dá valor à história, não vai derrubar um casarão desses.”, diz.


Vila onde residiu o político Virgílio Távora, ao lado da atual Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho

Os casarões são derrubados, no Jacarecanga, principalmente, para dar lugar a prédios. Mesmo a casa de Pedro Philomeno foi derrubada para dar espaço a um prédio residencial e alguns prédios comerciais. Dona Maria puxa da memória que a “senhora” de Pedro Philomeno, mais conhecida como Santinha, era católica e caridosa. Dona Maria diz que os moradores de 1939 iam uma capelinha pequena para rezar, onde hoje está localizada a Igreja da Marinha.

O médico-veterinário Evandro Frota falou sobre as Tertúlias da Vila São José. “Os moradores do centro iam para a Vila São José e, para cortar caminho, passavam por dentro do cemitério. Eu próprio cansei de fazer isso”, lembra. 
Além das tertúlias, havia festas em casas de família, que se enchiam de intrusos. “Tinha gente que passava o fim-de-semana procurando tertúlias”, diz. 
Além das festas, o Kartódromo animava os moradores do bairro. Localizava-se em frente à Marinha e era aberto ao público. “Quem voltava da Praia de Iracema, frequentada pela elite na época, terminava o dia assistindo às corridas de kart”, completa.

Quando questionado se sente muita saudade do Jacarecanga de antigamente, Evandro não custa a responder. “Dá pra sentir saudade. Você passa e vê que os bangalôs antigos continuam do mesmo jeito. Isso é o que provoca mais saudades. O Corpo de Bombeiros não mudou nada e a própria estrutura do Liceu continua a mesma”, relembra, com ar de quem volta sempre ao lugar que o acolheu na juventude.



Fontes:  Jornal Diário do Nordeste e pesquisas na internet

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