Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



terça-feira, 27 de abril de 2010

Ceará Rádio Club - Fotos que fizeram história da CRC



Fotos de grandes fases da Ceará Rádio CLub.
Campanhas da Ceará Rádio Clube em prol da Santa Casa de Misericórida.



Comissão recebedora de donativos da Campanha em favor da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza - da esquerda para direita, Heldine Cortez Campos, na terceira e quarta posições: Manuelito Eduardo e Paulo Cabral; de frente, escrevendo: Maria Coeli de Araújo; sentados, em primeiro plano: Aderson Brás e Tereza Moura, em atendimento aos ouvintes cooperadores.


Fac-símile do famoso cheque de 1 milhão de cruzeiros, pago pela Ceará Rádio Clube, em nome dos ouvintes, em favor da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza. Foi emitido em 2 de outubo de 1943,assinado por PauloCabral, diretor da empresa.


Sedes



Cartão Postal, produzido pela Aba Film de Fortaleza - para a correspondência com ouvintes do exterior, vendo-se, da esquerda para direita, a antena da emissora, o edifício de seus novos estúdios (em 1937), em São João do Tauape (onde funciona o hipermercado Romcy (à época do artigo - hoje Extra Supermercados) e o Edifício Diogo, onde se situavam os estúdios, nos 8o. e 9o. andares (Av. Barão do Rio Branco - centro).

Edifício Sede da Ceará Rádio CLube - aos tempos em que funcionava no bairro das Damas, com estúdios e transmissor. O Destaque é o bem cuidado jardim.


Conjuntos e grupos musicais

Conjunto Liceal - atuante pelos anos 30. Na foto, no centro, Luri, ao lado de Valnir Chagas. Os três da ponta, da esquerda para direita, Aleardo, Pijuca e Danúbio. Estes, mais do que outros, tiveram ulterior participação no "broadcasting" cearense.

Vocalistas Tropicais - conjunto que pontificou na década de 1940-49. De cima para baixo, como se lê na foto: Paulo Sucupira (que cantava sob o pseudônimo de Bill James), Nilo Mota, Eduardo Panplona, Aleardo, Paulo de Tarso, Danúbio e Vicente.


Foto histórica da Orquestra da Ceará Rádio CLub, obtida em 1947. Da esquerda para direita, de pé João Ramos (locutor-apresentador), Tompson Lemos (pistão); Eliézer Ramos (trombone de vara); Luiz Róseo (sax alto); João Baptista Brandão (flauta); Carlos Alenquer (sax alto); Emygdio Santana (pistão); Mário Alves (cantor); RUiz Noronha (pistao e violoncelo); Osvaldo ("Canelinha"), baterista. Na mesma ordem, na fila intermediária: Chileno (3o. violino); Francisco Alenquer (flauta); Oscar Cirino (2o violino); Edgar Nunes (1o. violino). Na fila da frente, ainda da esquerda para direita: Otávio Santiago (cantor); Epaminondas (cantor); José Amâncio (sax-tenor); Luiz Assunção (pianista) e Reginaldo Assunção, filho de Luiz Assunção.

Presenças ilustres - Almirante - 1951

Presença de Almirante - "a maior patente do Rádio brasileiro", - Em 1951, no palco-auditório do Edifício Pajéu, se apresenta Almirante.
Mais atrás do grande artista nacional estão Manuelito Eduardo Campos e o maestro Mozart Brandão. Ano 1951

Presenças ilustres - Francisco Alves - 1938
Composição fotográfica da presença de Francisco Alves - "O Rei da Voz" - Em Fortaleza, para atuar ao microfone da Ceará Rádio CLube.

Francisco Alves chega à Fortaleza - O momento em que descia do avião Condor o grande artista brasileiro.

Francisco Alves e João Dummar - O cantor, com chapéu de massa, à mão, ao lado do grande inspirador da radiodifusão no Ceará, João Dummar.


Francisco Alves, João Dummar e Cabral de Araújo - O Cantor conversando amistosamente com João Dummar, estando identificado, ao fundo, o locutor Cabral de Araújo.


Francisco Alves, ao violão - O Cantor, quando cantava para um grpo de amigos de João Dummar (1938).


Artistas locais e artistas nacionais em visita à Ceará Rádio Clube

José Jatahy, o cantor boêmio, que foi atração dos programas da Ceará Rádio Clube, em 1937


Afonso Aires, o violinista da pioneira. Década de 1940-49.


Lauro Maia e Aleardo Freitas, dois grandes artistas que muito contribuiram para o êxito do rádio em seus começos no Ceará. Fotografia de 1936, tirada ao pé da torre de transmissão da Ceará Rádio CLub, no bairro das Damas.

Visita dos Cantores Januário e Uyara. Flagrante obtido em 1938, quando fizeram sucesso em Fortaleza, ao microfone da Ceará Rádio CLub: Januário de Oliveira e Uyara de Goiás. Na foto, à direita dos dois, os jornalistas Mariano Martins e João Calmon.

Confraternizações e Dirigentes da Ceará Rádio CLube



Da esquerda para a direita: Luís Assunção, maestro Airan Pacheco e Manuelito Eduardo. Ércole Vareta foi regente dos conjuntos orquestrais da Ceará Rádio Clube ao tempo da II Grande Guerra .

Confraternização Associada nos anos da década de 1940-49. Discursando José Júlio Barbosa. Da esquerda para a direita: de costas, José Júlio Cavalcante; major João Baptista Brandão; Zezé do Vale, Paulo Cabral de Araújo, Orlando Mota, Edgard Freire, Manuelito Eduardo e Oscar Cirino.


Da esquerda para a direita: João Ramos, Dermival Costa Lima (diretor que deixava a Direção Artística da Ceará Rádio CLube); Antônio Maria (que assumia); José Júlio Cavalcante, Manuelito Eduardo e Maestro Mozart Brandão.

Televisão na década de 1960-70


Primeira demonstração pública de televisão, antes da década de 1960-70. Na foto o técnico que operava a câmara Vidicon e o Quinteto da Força Policial (que participava do programa "Coisas que o tempo levou"). Podem ser identificados José Júlio Barbosa, à esquerda. José Limaverde e Clóvis Matias ao centro. São detalhes: as lâmpadas de iluminação, um "panelão" fixado em poste improvisado, e receptor servindo de "monitor"nessa transmissão de televisão em circuito fechado.

Aniversários da Ceará Rádio Club - Os aniversários da CRC sempre foram momentos de confraternização entre todos que faziam aquela emissora.

Em reunião comemorativa do aniversário da Ceará Rádio Clube, funcionários da emissora ouviam - no Maguary Esporte Club - discurso do diretor artístico Manuelito Eduardo. Na primeira mesa, à esquerda, Rômulo Siqueira, Silva Filho, Josino da Costa, Gerardo Barbosa Lima e de perfil Aderson Braz. Ao Lado do orador, Orlando Mota e Paulo Cabral de Araújo. Os demais são principalmente, músicos da Orquestra da emissora Mozart Brandão, Amâncio Alenquer, Luiz Róseo, Canelinha e funcionários de escritório.


Sede da Ceará Rádio Club em 1942


Foto do prédio dos transmissores da Ceará Rádio Clube em São João do Tauape - Montese, em 1942. Local hoje é ocupado por um supermercado.

50 Anos da Ceará Rádio Club


Convite expedido pela Ceará Rádio Clube por ocasião das comemorações dos seus 50 anos da emissora - 1934 a 1984.




Crédito: Prenove

O rádio no Ceará


A informação pode soar inusitada mas, em verdade real: a radiofonia, não sob essa designação, mas nomeada radiotelefonia, tem sua pré-história ocorrendo em 1924, quando se instala em Fortaleza o Rádio Club Cearense, do qual participam exatamente 129 associados. Lidera a extensa relação o engenheiro Elesbão de Castro Velloso, a quem devemos creditar a iniciativa para instalar em Fortaleza o primeiro equipamento para transmissão de voz e música, o que acabou convertido no funcionamento de “pequena estação emissora de 3 watts” na sede do Clube à Rua Barão do Rio Branco nº21, onde os membros da agremiação podiam dispor de solitário e inovador aparelho receptor de 3 válvulas, em circuito T.S.F, com alto-falante tipo Ericsson Super-Tone.

Causa admiração: além desse receptor, a cidade - consideremos assim - possuía apenas mais quatro aparelhos receptores (rádios), sendo seus proprietários os srs. Clóvis Meton de Alencar, Alfredo Euterpino Borges, João de Carvalho Góes e Augusto Mena Barreto.

Colhe-se ainda na fonte dessa informação (Revista “Rádio”), de 1924, editada no Rio de Janeiro, não haver em todo o Estado do Ceará nenhum estabelecimento comercial que negociasse aparelhos de rádio e acessórios.

Nomes de projeção ou simplesmente bastante conhecidos no Ceará integram a lista de sócios do Rádio Clube Cearense em 1924, quais os já citados e mais Humberto Monte, Mário de Alencar Araripe, João Lopes Filho, Thomaz Pompeu Sobrinho, Raimundo Alencar Araripe, Carlos Livino de Carvalho, Álvaro Weyne, Eurico Monte, Jorge Fiúza, Francisco Linhares, Assis Bezerra, Dolor Barreira Guilherme Ellery, Mozart Pinto, Jáder de Carvalho, José Carlos Matos Peixoto, César Cals, Humberto R. de Andrade, Abel Ribeiro, Ignácio Gomes Parente, Heribaldo Dias da Costa, João de Deus Cavalcante, Clóvis B. Fontenelle, Amâncio Philomeno F. Gomes, João Thomé de Saboya e Silva, Octavio Lobo. Dário Correia Lima, Luiz de Moraes Correia e etc.

O comerciante João Dummar, responsável 10 anos depois pela instalação da Ceará Rádio Clube, empreendimento radiofônico em moldes também comerciais, não tem seu nome citado na lista de associados da emissora de 1924 ... nem nas reuniões que culminaram com a montagem e funcionamento do transmissor de 3 watts.

O jornalista e escritor Eduardo Campos, de quem aproveitamos os dados ora referidos, escreveu a respeito no artigo “O Rádio Club Cearense de 1924”, estampado em edição do “Diário do Nordeste” em 19 de fevereiro de 1984, elucidando o que se deve entender por fase pré-histórica da radiofonia do Ceará:

O sobrenome Dummar só vai aparecer identificando proprietários de quotas ou ações de emissora de rádio em 1931, quando, a 28 de agosto funda-se a Ceará Rádio Clube, “autorizada a irradiar com o prefixo PRA-T, em 16 de agosto de 1932”, mas só instalada em 19 de setembro de 1933, e depois licenciada com o prefixo PRE 9 pela portaria 415, de 30 de maio de 1934.


João Dummar - Fundador da Ceará Rádio Club

A escritura de Constituição Definitiva da Ceará Rádio Clube S.A: é o documento cartorário que define oficialmente não só a constituição da Diretoria da empresa, àquela época, como os propósitos de sua atuação, marcando de modo claro,pela primeira vez a presença de João Dummar, que encerra a lista dos acionistas principais, juntamente com o irmão José Dummar e esposa desse, Sra. Zarra de Abreu Dummar.

A escritura, ora mencionada, é o mais completo documento elucidativo da constituição e funcionamento da Ceará Rádio Clube. Para conhecê-la clique aqui.

Eduardo Campos escreveu também pequena memória intitulada “Fundamentos do Rádio Cearense”. Conquanto alguns dados já estejam conhecidos linhas atrás, vale transcrever o documento pela oportunidade de aí se ordenarem, em forma concisa, as etapas mais significativas que assinalam, sem dúvida, o surgimento da radiofonia no Ceará.

João Dummar, homem de negócios, de boa formação cultural, sendo apreciador da música erudita, fazia-se amigo de expressivos nomes no cenário artístico e cultural do país. A pouco e pouco, conquanto de forma amadorística, a nova PRE-9 vai conseguindo atrair ao seu modesto estúdio, dotado de um bom piano, os talentos musicais de Fortaleza. Cinco anos depois de inaugurada, a estação já chega aos ouvintes, que crescem em número a cada dia que passa, com programação definida diária. As irradiações começavam às 18horas, com encerramento depois das 22 horas. Aos domingos, fica a impressão, a irradiação tinha início às 11 h, e, pelo meio da tarde, nesse dia do anúncio resgatado (26 de novembro de 1939), Cabral de Araújo, locutor esportivo, transmite diretamente de Recife a partida entre as seleções do Ceará e Pernambuco pelo Campeonato Brasileiro de Futebol.

Segue a íntegra da reportagem do Jornal O Povo - de 26 de novembro de 1939.

Do livro de Eduardo Campos - “50 ANOS DE CEARÁ RÁDIO CLUBE (1934-1984)”, extraímos as informações sobre os inícios das primeiras manifestações de “broadcasting” da emissora:


A fase mais significativa da emissora vai definir-se na localização de seus novos estúdios, inicialmente em 1942, a área central, então a mais valorizada da capital, altos do Edifício Diogo, e, mais tarde, em 1946, modernamente instalada em dois andares do Edifício Pajeú, dispondo de confortável auditório e estrutura agradável ao público que ali, anos seguidos, fez-se presente para aplaudir grandes espetáculos e artistas.

Dessa fase, assinalada por grandes momentos do rádio cearense, vale a pena ler na integra a reportagem publicada pela revista “Publicidade e Negócios”, de maio de 1949.


Continua...

Crédito: Manuel Eduardo Pinheiro Campos

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ceará Rádio Clube AM - PRE-9


Sede da antiga Ceará Rádio Clube na avenida João Pessoa, no bairro Damas

Fundada no dia 30 de maio de 1934, a Ceará Rádio Club - ou PRE-9 como também é conhecida, é a pioneira da radiodifusão do Ceará.

A emissora chegou a transmitir em quatro idiomas na década de 1940 quando passou para a direção dos Diários Associados, grupo ao qual ainda pertence. A Ceará Rádio Clube tem na sua coordenação o escritor Manuel Eduardo Pinheiro Campos e na sua programação um dos mais tradicionais programas da história do Rádio Cearense: O "Clube dos Tetéus", com o radialista Colombo Sá.


Um pouco de História

Aproveitemos esta oportunidade para contar a história da Ceará Rádio Clube, que é, em parte, a história da própria evolução do rádio brasileiro.
Fundaram-na, em 1934, só em ondas médias, os irmãos Dummar, que dispunham, de início, de um transmissor de apenas 250 watts.



Os irmãos Dummar encontraram apoio, do comércio e indústria de Fortaleza, além do estímulo permanente de seu povo. Trataram de corresponder à confiança que mereciam. Em 1936, inauguraram o estúdio da Av. João Pessoa, com um transmissor de 2 kw.


A Ceará Rádio Clube era absoluta no Estado. O Dr. Assis Chateaubriand passou a namorá-la. Tinha, a seu serviço, um homem que superintendia todos os jornais e emissoras associados, do Rio Grande do Norte ao Amazonas, ou mais precisamente, ao Território do Guaporé. E este homem, graças à sua excepcional habilidade de conseguir sempre bons preços, já se tornara o comprador oficial de jornais e emissoras para os Associados.

Seu nome: João Calmon. Em janeiro de 1944, a notícia corre pelos céus brasileiros, espalha-se entre as agências e departamentos de publicidade, chega ao conhecimento dos grandes anunciantes do Rio e de São Paulo; a Ceará Rádio Clube é mais uma emissora associada.


Daí para cá, a história dessa estação é uma série de realizações ininterruptas, prestigiando cada vez mais os prefixos PRE-9, ZYN - 6 e ZYN - 7. Nem poderia deixar de ser assim. Para João Calmon e Paulo Cabral, "a Ceará Rádio Clube tem sempre de agir em função do nome glorioso do Ceará. Anima-a a absorvente preocupação de honrar o Ceará, de ser digna do Ceará, de estar à altura do progresso e dos foros de cultura do Ceará."

" — Inspirada nessa invariável diretriz — afirma João Calmon —, a Ceará Radio Clube procura aperfeiçoar cada vez mais os seus serviços, numa insatisfação permanente que a obriga a tomar sempre novas iniciativas."



Continua...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Juvenal Galeno - O poeta e sua casa


 Juvenal Galeno - (1836-1931)

Citado como "o pioneiro do folclore no Nordeste", a poesia romântica de Juvenal Galeno extrapola o lirismo de caráter pessoal, para cunhar uma dicção popular, de sabor interiorano, em que retrata o Brasil dos pequenos e dos simples.

Observador atento dos costumes do interior, do sertão às praias, Juvenal Galeno sempre quis ser um poeta popular, embora a afirmação de alguns historiadores de que tenha seguido orientação de Gonçalves Dias, quando de sua passagem pelo Ceará em 1859. O fato é que o primeiro livro do então jovem poeta, com 20 anos de idade, teria dado motivo a Gonçalves Dias para dizer-lhe que deveria seguir a poesia popular.


Família Juvenal Galeno Praia de Iracema

"Prelúdios Poéticos" é de 1856, livro típico do Romantismo, mas a indicação estética de que se valera Gonçalves Dias para orientar o jovem está lá, através de alguns poemas de sabor popular, como A Noite de São João, A Canção do Jangadeiro, Cantiga do Violeiro. Poesia simples, coloquial, a obra de Juvenal Galeno teria o seu ponto alto, já na maturidade do poeta, com o lançamento de Lendas e Canções Populares, de 1865, e com uma nova edição em 1892, acrescida de Novas Lendas e Canções.

Juvenal Galeno da Costa e Silva nasceu em Fortaleza no dia 27 de setembro de 1836, filho de próspero agricultor José Antônio da Costa e Silva. Os primeiros estudos foram feitos em Pacatuba e Aracati. Estudou Humanidades no Liceu do Ceará, já em Fortaleza.


Estamos em 30 de setembro de 1936, ocasião da inauguração da Herma de Juvenal Galeno, na Praça Visconde de Pelotas, atual Praça Clóvis Beviláqua. Discursando, temos Perboyre e Silva.

O pai queria o filho trabalhando na área agrícola e por isso o manda estudar "assuntos de lavoura" no Rio de Janeiro, de preferência em fazendas de café. Ao se tornar amigo de Paula Brito, proprietário da famosa tipografia na época, chegou a conhecer Machado de Assis, Quintino Bocaiúva e Joaquim Manuel de Macedo. E sua colaboração literária não tardou a aparecer na revista Marmota Fluminense, onde escrevia Machado de Assis. Quando volta ao Ceará, Juvenal Galeno traz impresso o seu primeiro livro de poemas, feito na Tipografia Americana, do Rio. As críticas são favoráveis, apontando Mário Linhares e Antônio Sales como sendo Prelúdios Poéticos "o marco inicial da literatura cearense".

Um dos fundadores do Instituto da Ceará, Patrono da Cadeira nº 23 da Academia Cearense de Letras, Juvenal Galeno, ainda em vida, vê as duas filhas, Henriqueta e Juliana, criarem a Casa Juvenal Galeno, dedicada a assuntos literários e culturais. O poeta, que ficara cego em 1906, por causa de um glaucoma, morre de uremia em Fortaleza no dia 7 de março de 1931, aos 95 anos de idade.


10 de maio 1936 - Homenagem prestada à memória de Juvenal Galeno, realizada pelos pescadores e jangadeiros cearenses ao seu eterno cantor.

Em 30 de março de 1952, os jangadeiros cearenses homenagearam a memoria de Juvenal Galeno, promovendo tocante solenidade em plena Praia de Iracema.

Obras:

A Machadada, poesia, 1860

Ao imperador em sua partida para a guerra, poesia, 1872

Canções da Escola, poesia, 1971

Cantigas Populares, poesia, 1969

Cenas cearenses, 1871

Cenas Populares, poesia, 1971

Evaristo Ferreira da Veiga, poesia

Folhetins de Silvanos, poesia, 1891

Lenda e Canções Populares, poesia, 1865

Lira Cearense, poesia, 1972

Medicina caseira, 1897

Novas canções populares, s/d

O eleitor, s/d

O Peregrino, 1862

Porangaba, poesia, 1961

Prelúdios Poéticos, poesia, 1856

Quem com Ferro Fere, com Ferro Será Ferido,teatro, 1861




Juvenal Galeno: o poeta na velhice. Cegueira não o impediu de produzir "Cantigas populares"
ACERVO DA CASA DE JUVENAL GALENO

Busto do poeta que antes esteve na Praça Clóvis Beviláqua - Acervo Casa Juvenal Galeno

Casa de Juvenal Galeno


27 de setembro 1919 - Fachada da Casa de Juvenal Galeno, fundada por Henriqueta Galeno

Residência da tradição poética embalada por seu fundador, o poeta Juvenal Galeno (1836-1931), a casa é singela e resiste, com a força de suas duas bibliotecas, de sua pequena editora e de seus salões abertos a saraus e pelejas de cantadores e emboladores nordestinos, à cultura do espetáculo massivo.

Fundada em 27 de setembro de 1919, é uma instituição mantida pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), com objetivo de difundir e incentivar a cultura cearense. A Casa de Juvenal Galeno, dirigida por Amilcar Galeno, sempre foi um movimentado centro cultural da cidade. Nesta casa, o poeta Juvenal Galeno criou os seus sete filhos e viveu até morrer cego aos 95 anos.

Instalada à rua General Sampaio, 1128, a Casa de Juvenal Galeno, construída pelo poeta em 1888 e por ele transformada em centro de cultura em 1919, é um dos palcos mais antigos da nossa história cultural, que já recebeu personalidades como Rachel de Queiroz, Euclides da Cunha e, Patativa do Assaré que, marcado pelo encontro com seu poeta maior nos verdes anos, quis nesta casa receber a Medalha do Abolição, do Governo do Estado.


1919 - Fundação do  Salão Juvenal Galeno

A casa possui dez cômodos, onde abriga um valioso acervo bibliográfico, doado por Mozart Soriano Albuquerque, e a biblioteca do próprio Juvenal Galeno, que juntos totalizam seis mil volumes. Possui dois auditórios. O principal, chamado Juvenal Galeno, tem capacidade para 120 pessoas e dispõe de um pequeno palco com um piano de meia cauda e uma obra do pintor Otacílio Azevedo. O outro auditório – chamado Nenzinha Galeno - é ao ar livre, sombreado por frondosas mangueiras.


Salão Juvenal Galeno  


No corredor da entrada, duas estátuas de mármores recepcionam os visitantes – uma representa a música e a outra a maternidade. No salão de reuniões, há um mobiliário antigo e fotos dos escritores, poetas e sócios da instituição. Na biblioteca, existe uma escrivaninha de Juvenal Galeno e um móvel envidraçado onde estão guardados objetos de uso pessoal do poeta - criador da casa. Na sala de visita, cadeiras de palhinhas, mesas de mármore, espelhos e bustos de Goethe e Schiller decoram o ambiente.

 Auditório da Casa de Juvenal Galeno

Nos anos 30 e 40, viveu sua fase áurea, quando era frequentada por artistas, intelectuais e políticos que cultivavam o gosto pelas letras. Os saraus literários que animavam as noites da casa eram prestigiados por escritores famosos como Leonardo Mota, Quintino Cunha, Jader de Carvalho, Patativa do Assaré, Rachel de Queiroz, Fernandes Távora, Raimundo Girão, Moreira Campos, Mozart Soriano Albuquerque entre tantos outros. Entre estátuas e bustos de granitos, móveis coloniais, arquitetura esmeralda, jardim assombreado, a Casa de Juvenal de Galeno faz parte da memória cultural cearense.

Frontispício da Casa de Juvenal Galeno

Hoje, apesar da cidade ter ganho novos espaços culturais, ainda é palco de reuniões de trovadores, cordelistas e poetas, que utilizam os seus salões. Para lá convergem as seguintes entidades: Cooperativa de Cultura Ltda. (Coopecultura), Academia de Letras Municipais do Estado do Ceará (Almece), Ala Feminina da Casa Juvenal Galeno, Sindicato de Correspondentes de Rádio e Jornal do Ceará, Centro dos Cordelistas do Ceará (Cecordel), Comissão Cearense de Folclore, Clube dos Poetas Cearenses e o Grupo de Comunicação e Cultura.

Encontro de Patativa do Assaré com Juvenal Galeno:

Antônio Gonçalves da Silva (1909 - 2002) se fez e se descobriu poeta ainda menino, em Assaré. Foi ao Pará se aventurar como cantador, e voltou de lá batizado com o nome que o fez célebre: Patativa. Antes de se regressar para o Cariri, Patativa do Assaré pousou em Fortaleza. Na capital, fez uma visita que já se tornara obrigatória aos cultores da poesia tradicional, cantada, recitada ou impresso nos folhetos de cordel. "De volta ao Ceará, José Carvalho de Brito, que era muito amigo de Dra. Henriqueta Galeno, filha do afamado poeta Juvenal Galeno, me deu uma carta de recomendação para a Dra. Henriqueta Galeno. Eu, chegando aqui, entreguei a carta, ela leu e me recebeu no salão de Juvenal Galeno, como ela sempre recebeu um poeta de classe, um poeta de cultura, um poeta erudito", escreveu Patativa, em texto introdutório de seu "Ispinho e Fulô", de 1988.

Patativa, então com 20 anos, encontrou o dono da casa, já velho e cego, mais ainda produzindo suas obras derradeiras, que só encontrariam publicação após sua morte.


Recuperação da Casa de Juvenal Galeno




Como deixa claro no texto, Patativa foi recebido por Henriqueta (1887 - 1964). A filha de Juvenal Galeno (1836 - 1931) era uma mulher de ação, que antecipou tendências femininas. Ainda em 1918, formou-se em Direito; participava de discussões feministas, e, no ano seguinte, transformou a residência do pai num Salão, um centro de desenvolvimento cultural do Ceará. Criou e ali instalou o Centro de Estudos Juvenal Galeno, a ala feminina e a Editora Henriqueta Galeno - todos destinados sobretudo à literatura.

A ligação de Henriqueta Galeno a seu pai era mais que uma relação de sangue. Foi a parceira intelectual do escritor no final da vida. Quando Juvenal já perdera a visão, era ela que fazia as vezes de secretária. Diariamente, lia para ele jornais, revistas e livros. Enquanto ele criava e ditava, ela ficava responsável pela escrita de suas últimas obras. Pelas mãos de Henriqueta, Juvenal Galeno escreveu "Medicina Caseira" e "Cantigas Populares". Livros que só vieram a público em 1969, pela editora fundada pela filha. Foi ela que ocupou sua cadeira, a de número 23, na Academia Cearense de Letras. Foi ela quem estruturou na casa, um dos pilares da memória que mantém Galeno vivo.

Nos retratos da maturidade, Juvenal Galeno aparece como um homem de ar sereno, sapiente, de longas barbas brancas e olhos vazios. Partilhou a cegueira e a poesia com o grego Homero, mas a verdade é que ele passava a largo da imagem clássica do poeta. Filho de fazendeiros de Baturité, ligou-se ao romantismo como poeta e, mais tarde, redescobriu a poesia da tradição, dos artistas populares do Ceará. Abriu sua casa e a transformou num salão, em que recebia com especial atenção os poetas, fizessem eles seus versos com a pena ou com a voz e a memória.


Herma de Juvenal Galeno na Praça Visconde de Pelotas

Curiosidades

Fortaleza era ainda uma cidade pequena quando nasceu Juvenal Galeno, filho de José Antônio da Costa e Silva e Maria do Carmo Teófilo e Silva. Era o ano de 1936, e seus país moravam no número 66 da rua Formosa (hoje, Barão do Rio Branco), mesma rua onde anos mais tarde nasceria a Padaria Espiritual. Viveu em Aracati e lá fez parte de seus estudos. O pai, no entanto, não esperava que o filho se tornasse "doutor", antes, queria que seu único filho homem o sucedesse nos negócios da família e na administração das roças que possuía. No entanto, Galeno parecia ter outras idéias. Convenceu a família a mandá-lo para a capital do Império, para conhecer técnicas mais modernas de cultivo da terra. No Rio de Janeiro, aprendeu mais com os cultores do livro. Conheceu intelectuais, jornalistas, tipógrafos e escritores, e logo se tornou um deles. Conheceu os autores Machado de Assis e Joaquim Manuel de Macedo, e publicou poemas na mesma revista literária que os abrigava, a "Marmota fluminense".

Herma de Juvenal Galeno 
Em 30 de setembro de 1936, inaugura-se, na Praça de Pelotas (atual Praça Clóvis Beviláqua), a herma de Juvenal Galeno, obra do escultor italiano radicado em Fortaleza, Agostinho Balmes Odísio. Na ocasião, discursaram Sinobilino Pinheiro Maia "Sinó" e João Perboyre e Silva. Anos depois a herma foi retirada e levada para depósito da prefeitura, de onde a Casa de Juvenal Galeno foi buscar e colocou em seu jardim interno no dia 25/09/1984.

Foi de lá que Juvenal Galeno trouxe seu primeiro livro, "Prelúdios", um volume de poemas impresso as próprias custas. O pai perdeu as esperanças de encontrar nele seu sucessor. O filho poeta trouxe na bagagem duas cópias "ricamente encadernados, (...) afim de mais cativá-los", como escreve Barão de Studart em seu famoso perfil de Galeno.

De volta à Fortaleza, atuou na política e trabalhou como bibliotecário, enquanto dava continuidade aos seus escritos e pesquisas, publicando livros e colaborando para periódicos como "O Cearense", "Pedro II", "A Constituição" e a "Revista Popular" (RJ). A tendência dos românticos, de valorizarem a cultura no país, de suas raízes, nele se manifestou como um interesse pelos saberes e costumes da tradição popular, que décadas mais tarde seduziriam intelectuais como Mario de Andrade e Câmara Cascudo.



Em sua última imagem, Juvenal Galeno, sentado à rede, ditando seus derradeiros escritos para a filha, secretária e, mais tarde, editora Henriqueta Galeno. Na imagem, sua mulher, Maria do Carmo, assiste ao trabalho.



Jangada


Juvenal Galeno


Minha jangada de vela,

que vento queres levar?

tu queres vento da terra,

ou queres vento do mar?

Minha jangada de vela,

que vento queres levar?

Aqui no meio das ondas,

das verdes ondas do mar

és como que pensativa,

duvidosa a bordejar!

Saudades tens lá das praias,

queres na areia encalhar?

ou no meio do oceano

apraz-te as ondas sulca?

Minha jangada de vela,

que vento queres levar?




NOTA: Em 1920 este poema mais longo, com alguns versos a mais, foi usado como letra para a música JANGADA de Alberto Nepomuceno. Segue:

JANGADA
(1920)

Composição: Alberto Nepomuceno

Letra: Juvenal Galeno



Minha jangada de vela

Que vento queres levar?

Tu queres vento de terra

Ou queres vento do mar?

Minha jangada de vela

Que vento queres levar?

Aqui no meio das ondas

Das verdes ondas do mar

És como que pensativa

Duvidosa a bordejar!

Minha jangada de vela

Que vento queres levar?

Saudade tens lá das praias

Queres n’areia encalhar?

Ou no meio do oceano

Apraz-te as ondas sulcar?

Minha jangada de vela

Que vento queres levar?

Sobre as vagas, como a garça

Gosto de ver-te adejar

Ou qual donzela no prado

Resvalando a meditar

Ah! Minha jangada de vela

Que vento queres levar?

Cajueiro Pequenino

Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor,
À sombra das tuas folhas
Venho cantar meu amor,
Acompanhado somente
Da brisa pelo rumor,
Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor.

Tu és um sonho querido
De minha vida infantil,
Desde esse dia... me lembro...
Era uma aurora de abril,
Por entre verdes ervinhas
Nasceste todo gentil,
Cajueiro pequenino,
Meu lindo sonho infantil.

Que prazer quando encontrei-te
Nascendo junto ao meu lar!
— Este é meu, este defendo,
Ninguém mo venha arrancar –
Bradei e logo cuidadoso,
Contente fui te alimpar,
Cajueiro pequenino,
Meu companheiro do lar.

Cresceste... se eu te faltasse,
Que de ti seria, irmão?
Afogado nestes matos,
Morto à sede no verão...
Tu que foste sempre enfermo
Aqui neste ingrato chão!
Cajueiro pequenino,
Que de ti seria, irmão?

Cresceste... crescemos ambos,
Nossa amizade também;
Eras tu o meu enlevo,
O meu afeto o teu bem;
Se tu sofrias... eu, triste,
Chorava como... ninguém!
Cajueiro pequenino,
Por mim sofrias também!

Quando em casa me batiam,
Contava-te o meu penar;
Tu calado me escutavas,
Pois não podias falar;
Mas no teu semblante, amigo,
Mostravas grande pesar,
Cajueiro pequenino,
Nas horas do meu penar!

Após as dores... me vias
Brincando ledo e feliz
O-tempo-será e outros
Brinquedos que eu tanto quis!
Depois cismando a teu lado
Em muito verso que fiz...
Cajueiro pequenino,
Me vias brincar feliz!

Mas um dia... me ausentaram. .
Fui obrigado... parti!
Chorando beijei-te as folhas. . .
Quanta saudade senti!
Fui-me longe... muitos anos
Ausente pensei em ti...
Cajueiro pequenino,
Quando obrigado parti!

Agora volto, e te encontro
Carregadinho de flor!
Mas ainda tão pequeno,
Com muito mato ao redor...
Coitadinho, não cresceste
Por falta do meu amor,
Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor.



Juvenal Galeno é homenageado em rua da capital Alencarina:

Dentro das comemorações dos 84 anos do poeta Juvenal Galeno da Costa e Silva, é inaugurada no dia 27 de setembro de 1920, às 9 horas da manhã, a Rua Juvenal Galeno, pelo prefeito Godofredo Maciel e discurso de João Viana e Claro de Andrade. Iniciando na Praça Paula Pessoa (São Sebastião) em direção ao poente. É hoje o início da Avenida Bezerra de Menezes. Existe no Benfica outra Rua Juvenal Galeno.

 
27-09-1920 inauguração da Rua Juvenal Galeno (Hoje Bezerra de Menezes), em Fortaleza.



As duas fotos anteriores são da mesma casa, uma nos mostra a fachada e a outra, a lateral da casa. Fiz uma montagem com as duas fotos antigas para comprovar.

Ontem e Hoje
Ontem: Inauguração da antiga Rua Juvenal Galeno em 27 de setembro de 1920.
Hoje: Avenida Bezerra de Menezes em abril de 2014.


Fontes: Site da Secult, Jornais (OPovo e Diário), Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Site Oficial da Casa de Juvenal Galeno e pesquisas na internet

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: