Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Gustavo Barroso - Um ilustre cearense



"Como acontece na existência dos grandes homens, a vida de Gustavo Barroso foi uma escada cheia de degraus.
Desde os passos inquietos de uma adolescência
turbulenta até o fastígio fulgurante da imortalidade acadêmica, ele jamais palmilhou as veredas tortuosas da mediocridade. Pelo contrário, sempre despertou admiração, quer pelo físico impressionantemente belo, quer pelo talento exuberantemente pródigo. Sua estréia literária, aos 24 anos, é uma vitória fulgente e toda a sua carreira política, social, diplomática, é uma ascensão espetacular, na qual o homem resplendia na afirmação de uma personalidade robusta que queria e alcançava desdobrar-se numa multiplicidade de expressões e de formas as mais variadas e retumbantes."

Gustavo Barroso , Ex-Presidente da Academia Brasileira de Letras, autor de vasta obra literária sobre os mais diversos temas, foi Diretor do Museu Histórico Nacional, a partir de 1922, e Patrono dos Dragões da Independência, regimento de guarda da Presidência da
República, cujos uniformes foram desenhados por ele, após longa e minuciosa pesquisa .

Essa postagem é uma singela homenagem aos 50 anos da morte do grande escritor cearense. Muitos desconhece o fato, mas f
oi Gustavo Barroso o autor da letra do hino de Fortaleza.

Gustavo Barroso nasceu em 29 de dezembro de 1888 em Fortaleza e morreu no Rio de Janeiro em 3 de dezembro de 1959. Foi advogado, professor, político, contista, folclorista, cronista, ensaísta e romancista brasileiro.
Foi um dos líderes nacionais da Ação Integralista Brasileira e um dos seus mais destacados ideólogos.

Filho de Antônio Filinto Barroso e de Ana Dodt Barroso, fez os seus estudos nos externatos São José, Parthenon Cearense e Liceu do Ceará.
Cursou a Faculdade Livre de Direito do Ceará, bacharelando-se em 1911 pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da UFRJ.
Foi redator do Jornal do Ceará (1908-1909) e do Jornal do Commercio (1911-1913); professor da Escola de Menores, da Polícia do Distrito Federal (1910-1912); secretário da Superintendência da Defesa da Borracha, no Rio de Janeiro (1913); secretário do Interior e da Justiça do Ceará (1914); diretor da Revista Fon-Fon (a partir de 1916);
deputado federal pelo Ceará (1915 a 1918); secretário da Delegação Brasileira à Conferência da Paz de Venezuela (1918-1919); inspetor escolar do Distrito Federal (1919 a 1922); diretor do Museu Histórico Nacional (a partir de 1922); secretário geral da Junta de Jurisconsultos Americanos (1927); representou o Brasil em várias missões diplomáticas, entre as quais a Comissão Internacional de Monumentos Históricos (criada pela Liga das Nações) e a Exposição Comemorativa dos Centenários de Portugal (1940-1941). Participou do movimento integralista. Embora não concordasse com o rumo dos acontecimentos a partir de 1937, manteve-se fiel à doutrina filosófica do integralismo.
Estreou na literatura, aos vinte e três anos, usando o pseudônimo de João do Norte, com o livro Terra de Sol, ensaio sobre a natureza e os costumes do sertão cearense. Além dos livros publicados, sua obra ficou dispersa em jornais e revistas de Fortaleza e do Rio de Janeiro, para os quais escreveu artigos, crônicas e contos, além de desenhos e caricaturas. A vasta obra de Gustavo Barroso, de cento e vinte e oito livros, abrange história, folclore, ficção, biografias, memórias, política, arqueologia, museologia, economia, crítica e ensaio, além de dicionário e poesia.
Pseudônimos: João do Norte, Nautilus, Jotanne e Cláudio França.
Obteve certa notoriedade em razão de denunciar a corrupção moral e social advinda do judaísmo. Em seu livro, publicado em três volumes a partir de 1937, A História Secreta do Brasil os judeus estão envolvidos nas mais fantasiosas conspirações contra os bons costumes. Desde a participação em rituais de sacrifício no sertão baiano no século XIX até mesmo numa suposta sociedade secreta da faculdade de direito de São Paulo (chamada 'A Bucha'). O anti-semitismo do autor se insere no quadro histórico do fascismo e nazismo (daí sua filiação ao integralismo). Até mesmo cultos africanos do candomblé teriam inspiração judaica: Vimos que a macumba não passa dum satanismo de fundo cabalista, isto é, tem oculta a inspiração judaica, embora em sua forma aparente seja africana (História Secreta do Brasil, 2 volume, pg. 341).
Sua atividade na Academia Brasileira de Letras também foi das mais relevantes. Em 1923, como tesoureiro da instituição, procedeu à adaptação do prédio do Petit Trianon, que o Governo francês ofereceu ao Governo brasileiro, para nele instalar-se a sede da Academia. Exerceu alternadamente os cargos de tesoureiro, de segundo e primeiro secretário e secretário geral, de 1923 a 1959; foi presidente da Academia em 1932, 1933, 1949 e 1950. Em 9 de janeiro de 1941 foi designado, juntamente com Afrânio Peixoto e
Manuel Bandeira, para coordenar os estudos e pesquisas relativos ao folclore brasileiro.

Era membro da Academia Portuguesa da História; da Academia das Ciências de Lisboa; da Royal Society of Literature de Londres; da Academia de Belas Artes de Portugal; da Sociedade dos Arqueólogos de Lisboa; do Instituto de Coimbra; da Sociedade Numismática da Bélgica, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e de vários Estados; e das Sociedades de Geografia de Lisboa, do Rio de Janeiro e de Lima.

Terceiro ocupante da Cadeira 19, eleito em 8 de março de 1923, na sucessão de D. Silvério Gomes Pimenta e recebido pelo Acadêmico Alberto Faria em 7 de maio de 1923. Recebeu os Acadêmicos Pedro Calmon e Olegário Mariano.
Gustavo Dodt Barroso foi o único cearense a presidir por duas vezes a Academia Brasileira de Letras. Autor de 128 obras, ele percorreu os mais diversos gêneros, da sociologia à literatura.
Publicou, em 1912, “Terra de Sol”, obra de arte regionalista e sociológica que lhe patrocinou o ingresso na Academia Brasileira de Letras. Dizem os historiadores que Gustavo Barroso, juntamente com o escritor Coelho Neto, formam a dupla de escritores com mais obras publicadas em todo o Brasil.


Obras

Terra do sol. Natureza e costumes do Norte (1912);
Praias e várzeas (1915);
Idéias e palavras (1917);
Heróis e bandidos: os cangaceiros do Nordeste (1917);
Tradições militares (1918);
Tratado de Paz (1919);
A ronda dos séculos (1920);
Mosquita muerta (1921);
Casa de marimbondos (1921);
Ao som da viola (1921);
Mula sem cabeça (1922);
Pergaminhos (1922);
Coração da Europa (1922);


Uniformes do Exército (1922);
Alma sertaneja (1923);
Antes do bolchevismo (1923);
Mapirunga (1924);
O anel das maravilhas (1924);
Livro dos milagres (1924);
O sertão e o mundo (1924);
En el tiempo de los Zares (1924);
O ramo de oliveira (1925);
Tição do inferno (1926);
Através dos folclores (1927);
Almas de lama e de aço (1928);
A guerra do Lopez (1928);
A guerra do Flores (1929);
A guerra do Rosas (1929);
Mythes, contes et legendes des indiens du Brésil (1930);
A guerra de Vidéo (1930);
A guerra de Artigas (1930);
O Brasil em face do Prata (1930);
Inscrições primitivas (1930);
O bracelete de safiras (1931);
Aquém da Atlântida (1931);
A ortografia oficial (1931);

A senhora de Pangim (1932);
Osório, o Centauro dos pampas (1932);
Luz e pó (1932);
Mulheres de Paris (1933);
As colunas do templo (1933).
O santo do brejo (1933);
Tamandaré,
O Nélson brasileiro (1933);
O Integralismo em marcha (1933);
O Integralismo e o mundo (1933);
Brasil - Colônia de Banqueiros (1934);
O integralismo de norte a sul (1934);
O quarto império, integralismo (1935);
A palavra e o pensamento integralista (1935);
O que o integralista deve saber (1935);
A Destruição da Atlântida, 2 vols. (1936);
O Espírito do Século XX (1936);
História Secreta do Brasil, 3 vols. (1936, 1937 e 1938);
Os Protocolos dos Sábios de Sião (1936);
A Sinagoga Paulista (1937);
A Maçonaria: Seita Judaica (1937);
Judaísmo, Maçonaria e Comunismo (1937);


Os Civilizados (1937);
Integralismo e Catolicismo (1937);
Pequeno dicionário popular brasileiro (1938);
Corporativismo, cristianismo e comunismo (1938);
O livro dos enforcados (1939);
Coração de menino (1939);
O Brasil na lenda e na cartografia antiga (1941);
Liceu do Ceará (1941);
Consulado da China (1941);
Portugal - Semente de impérios (1943);
Anais do Museu Histórico Nacional, vols. I a V (1943-1949);
Caxias (1945);
Seca, Meca e Olivais de Santarém, descrições e viagens (1947);
Fábulas sertanejas (1948);
As sete vozes do espírito (1950);
História do Palácio
Itamarati (1953).

Homenagens


Gustavo Barroso recebeu muitas homenagens e uma delas faz parte do cotidiano escolar de muitos alunos. O Colégio Estadual Gustavo Barroso foi criado em homenagem a este escritor. Este colégio é localizado no Rio de Janeiro em Belford Roxo. Como o escritor, o colégio foi descrito como o terceiro melhor colégio no desempenho escolar dos alunos do Ensino Médio no ENEM (incluindo os colégios privados ou particulares).

Trecho da Homenagem do Deputado Elimar Máximo Damasceno, Congresso Nacional em 18 de Março de 2003 a Gustavo Barroso:

"Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta tribuna homenagear a memória de um dos mais admiráveis intelectuais da História do Brasil - o acadêmico cearense Gustavo Barroso, autor de vasta obra literária sobre os mais diversos temas, Diretor do Museu Histórico Nacional, a partir de 1922, e Patrono dos Dragões da Independência, regimento que monta guarda à Presidência da República e cujos belos uniformes foram por ele desenhados, após longa e minuciosa pesquisa histórica.

Gustavo Barroso nasceu em dezembro de 1888, em Fortaleza, capital cearense, e faleceu em dezembro de 1959, no Rio de Janeiro. Sua estréia na literatura deu-se muito cedo, aos 23 anos, quando publicou o livro Terra de Sol, sob o pseudônimo de João do Norte; ensaio político sobre a natureza e os costumes do sertão cearense.

Gustavo Barroso foi advogado, professor, político, contista, folclorista, cronista, ensaísta e romancista. A vasta obra de Gustavo Barroso, de 128 livros, abrange história folclórica, crítica, erudição, filologia, ensaios, contos, crônicas, novelas regionais, pensamentos, memórias, viagens políticas e até um dicionário.

Com apenas 35 anos de idade, Gustavo Barroso foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 19, onde desempenhou intensa e relevante atividade até o fim da vida. Em 1923, como tesoureiro da instituição, comandou a adaptação do prédio do Petit Trianon, que o Governo francês oferecera ao Governo brasileiro para nele instalar a sede da Academia. Presidiu a instituição por 4 mandatos.

Em janeiro de 1941 foi escolhido, a par de Afrânio Peixoto e Manoel Bandeira, para coordenar os estudos e pesquisas relativo ao folclore brasileiro.

Em 1933, após ouvir a conferência do Chefe da Ação Integralista Brasileira, Plínio Salgado, Gustavo Barroso aderiu ao Integralismo, tornando-se seu mais importante doutrinador. No mesmo ano publicou o livro "O Integralismo em Marcha", e, no ano seguinte, produziu a obra que daria ao Movimento Integralista seus mais sólidos fundamentos teóricos: "Brasil, Colônia de Banqueiros".

Nessa obra, Gustavo Barroso defende a tese ainda hoje polêmica de que o Brasil não é um país independente, uma vez que o brado retumbante de D. Pedro I resultou num compromisso com a dívida externa que a Inglaterra herdara de Portugal. Seríamos, pois, dependentes do imperialismo inglês ,assim como hoje haveria dependência do capital internacional.
Sr. Presidente, nobres colegas, ao ocupar um microfone do plenário desta Casa para falar algumas palavras sobre a vida e a obra de Gustavo Barroso, pretendi resgatar do esquecimento algo da trajetória deste extraordinário intelectual.

Espero que minha modesta iniciativa contribua para tornar mais conhecida a participação deste cidadão invulgar na constituição do patrimônio simbólico nacional.

Parabéns ao povo cearense!
Era o que tinha a dizer."

Sr. Elimar Máximo Damasceno

Foi um dos fundadores da AIB junto com Plínio Salgado, ocupou o cargo de secretário nacional de educação moral, cívica e física e também de chefe das milícias Integralistas.

Chefe nacional das milícias Integralistas.

Foi um dos maiores escritores, da história do Brasil com mais de 120 livros publicados e foi também o mais novo membro da Academia Brasileira de Letras, com apenas 35 anos.

Suas Atividades:
Jornalista, redator do Jornal do Comércio, diretor das revistas Fon-Fon e Seleta.
Secretário do Interior e Justiça do Ceará;
Deputado Federal pelo Ceará;
Secretário da Embaixada Brasileira na Conferência da Paz em Versalhes;
Embaixador em missão especial no Uruguai;
Fundador e Diretor do Museu Histórico Nacional;
Participou do Movimento Integralista fundado por Plínio Salgado;


Gustavo Barroso e o Integralismo

Em Outubro de 1932, Plínio Salgado fundou o Integralismo. Nos meses subsequentes, centenas de Núcleos Integralistas surgiram por todo o País. Em fins de 1932, Ovídio Gouveia da Cunha, um jovem estudante de Sociologia, ouvindo falar em Integralismo, dirige-se a São Paulo, e lá, encontra-se com Plínio Salgado e M. Reale, dividindo a mesma mesa, numa modesta sala na Av. Brigadeiro Luis Antônio Nº 12, a primeira Sede Nacional da A.I.B. O próprio Plínio Salgado fornece-lhe alguns exemplares do Manifesto de Outubro. Voltando ao Rio, Ovídio Cunha – que aderira ao Sigma -, encontra-se com Gustavo Barroso e entrega-lhe um dos Manifestos, que recebera das mãos do Chefe Nacional. Esse foi o primeiro contato do Autor de “Terra do Sol” com a Doutrina Integralista.


Desfile Integralista

Prosseguindo em sua tarefa Revolucionária, Plínio Salgado vem ao Rio, em 1933, e pronuncia uma série de Conferências Doutrinárias no Salão da Associação dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro. Ao final de uma delas - em que demonstrava como a Filosofia Integralista conciliava o livre arbítrio, o determinismo e o providencialismo -, um homem dirige-se a Plínio Salgado e pede simplesmente um distintivo, o Chefe retirou o que usava na lapela e presenteou o desconhecido. Tratava-se de Gustavo Barroso, e esse foi o seu segundo e decisivo contato com o Integralismo.

Ainda nesse ano de 1933, Plínio Salgado lança os dois primeiros livros Integralistas – “Psicologia da Revolução” e “O que é o Integralismo” -, e parte junto com Thiers Martins Moreira, Capitão Aristófanes do Vale e Hermes Barcelos, na Primeira Bandeira Integralista, que singrou diversos Estados, chegando até o Ceará, de onde iniciou o retorno ao Rio de Janeiro. Em Vitória, Capital do Espírito Santo, Plínio Salgado encontra-se novamente com Barroso – que publicara “O Integralismo em Marcha”, o terceiro livro Integralista – e com Madeira de Freitas - médico afamado e escritor muito conhecido sob o pseudônimo de Mendes Fradique -, um dos principais articuladores do Movimento no Rio de Janeiro.


O ingresso de Gustavo Barroso na Ação Integralista Brasileira causara grande impacto na opinião pública, pois, Barroso era figura de projeção nacional e internacional. Fundador do Museu Histórico Nacional, Presidente da Academia Brasileira de Letras, ex-Deputado Federal, Folclorista, Historiador, Museólogo, Romancista, Contista, enfim, um homem brilhante, inteligentíssimo, com vasta produção literária em

vários campos do conhecimento, só superado por Coelho Neto em quantidade de livros editados.

1934 Integralistas - Movimento organizado por Plínio Salgado e Gustavo Barroso

No Integralismo foi chefe da Milícia, e com a extinção desta, Secretário Nacional de Educação (Moral, Cívica e Física) da A.I.B. Escreveu os seguinte Livros Integralistas: “O Integralismo em Marcha”, “A Palavra e o Pensamento Integralista”, “O Integralismo de Norte a Sul”, “Brasil – Colônia de Banqueiros”, “História Militar do Brasil”, “Integralismo e Catolicismo”, “Espírito do Século XX”, “O que o Integralista deve saber”, “O Quarto Império”, “Comunismo, Cristianismo e Corporativismo” e outros. A leitura, não apenas de suas Obras Integralistas, mas de todos os seus Livros, é recomendável a todos os Brasileiros, particularmente, aos Integralistas, pois, neles se aprende Brasil.


Retrato de Gustavo Barroso-Foto Studio Mamed, Rio de Janeiro, 1956

Trecho do Discurso de Posse na Acadêmia Brasileira de letras:

"SENHORES Acadêmicos.

Preferia ser recebido nesta Casa da maneira diversa da que é posta em prática na posse solene dos acadêmicos eleitos. Preferia ser recebido em silêncio, sem que me obrigassem a elogiar aqueles que me precederam na cadeira de Joaquim Caetano e sem que um nobre acadêmico fizesse de público a crítica de minha obra literária. Porque, a meus olhos, esta parece tão desvaliosa que é demasiada generosidade alguém ocupar-se dela; porque, a meu espírito, aqueles a quem sucedo se apresentam entre tão vistosas galas de inteligência e de alma, que me não sinto bastante apto para apreciá-los com a agudeza e o brilho que exigem.

Mas o regimento nega-me o prazer excelente da obscuridade, forçando-me a ouvir, sem protestos, o bem que, porventura, de mim seja dito e a fazer o panegírico dos ilustres mortos. Proefulgebant eo quod non visebantur.

As recepções acadêmicas, com aparato e discursos protocolares, são muita vez verdadeiros castigos, em que o recipiendário serve de alvo à ironia cruel de quem o recebe. Deveis lembrar-vos do maligno discurso do padre Caumartin, recebendo o bispo de Noyon, a que Saint-Simon perversamente alude, e da pesada zombaria de Marmontel, elogiando La Harpe. Nem vos quero falar de exemplos nossos, que são recentes e demasiado semelhantes, senão mais maldosos. Felizmente, estou livre deste susto, pois não podia ser mais agradável a meu espírito e a meu coração a escolha, feita pela mesa, daquele que me vai responder, cuja simpatia intelectual e cuja amizade profunda são dos títulos de que mais sinceramente se orgulha minha mocidade.

Manda a praxe que, na minha posição, o indivíduo aparente a maior modéstia possível. Não vos asseguro ter tanto quanto apregôo; todavia, posso afirmar que não penso como Charles Perrault, delicioso narrador de contos de fadas, que fez tornarem-se públicas, de secretas que eram, as sessões da Academia Francesa, e, cumprimentado pelos confrades, após seu belo discurso, exclamara:
– Se o achais bom, é sinal de que agradará ao mundo inteiro!

Nenhum de nós, confessemos, possui tão alta fé no juízo da ilustre associação a que pertence, e longe de mim tal pretensão, máxime diante desta assembléia, florida de senhoras, as quais, na opinião de Frederico Masson, são “exímias em distinguir, louvar e criticar”. No tempo do bom Perrault, bem avisados andavam os imortais furtando-se à sua crítica perigosa. Aí por 1671, não se lhes permitia comparecer às solenidades acadêmicas, e, segundo o Journal de Dangeau, elas somente começaram a frequentar a Academia trinta anos mais tarde."


Na redação do O Povo. Visita de Gustavo Barroso em companhia de Raimundo Girão e do seu primo Dr. Valdir Liebmann, recebidos pelo jornalista J. C. de Alencar Araripe

Mas, por que Gustavo Barroso está hoje tão esquecido? Por que somente é lembrado em dissertações, trabalhos acadêmicos ou em teses de doutorado? Esse esquecimento, esse ostracismo deveu-se a preferências políticas e ideológicas que não agradava a comunidade acadêmica: Gustavo Barroso escreveu textos antissemitas e ultranacionalistas, no período de 1932 a 1937, quando participou da Ação Integralista Brasileira, a AIB, organização de inspiração fascista que pregava um estado corporativo e sindicalista, autoritário e nacionalista. Suas obras de feição antissemita repercutiram negativamente em sua carreira. São inúmeros artigos e livros sobre o assunto. Entre eles, “Integralismo em Marcha” e a “A Palavra e o Pensamento Integralista”. O escritor chegou a ascender ao posto do Comando das Milícias, posição central na hierarquia do movimento integralista. Com o fracasso da AIB, em 1938, voltou-se mais para a ABL e para o Museu Histórico Nacional. Em seus 70 anos de vida, o escritor, que morreu em 3 de dezembro de 1959, sempre demonstrou seu profundo amor pelo Ceará e, especialmente, por Fortaleza. Em 1958, já doente de um câncer, chegou a dizer: “O Ceará é o mundo em que sempre me recordo e vejo, só ou acompanhado de tudo quanto vi e toquei desde o berço. Continuarei a viver nesse mundo até que me apague a derradeira luz do mundo. Meu mundo querido e único!”

A estátua onde jazem os restos mortais deste vulto cearense.


Restos Mortais de Gustavo Barroso sendo depositados aos pés da estátua em 1965.
Agradecimento: Isabel Pires


Ao lado: Monumento na Praça Gustavo Barroso (Jacarecanga) - Infelizmente o desrespeito impera e pessoas que não tem nada de útil para fazer, andam pichando o monumento¬¬ 
(Crédito da foto: Guinardo Garcia Studart Filho)

A terra amada vai se transformar em terra amante, e, depois de exaltada pelo filho querido, irá embalá-lo nos seus braços amoráveis, para que ele durma na placidez de um jazigo todo especial o sono pompeante da imortalidade.
O peregrino do ideal, que correu mundos e conquistou espaços, na ânsia de ver e de viver, de sentir e de sonhar, retornar ao lugar de onde partiu, o que era, afinal, seu desejo mais ardente, sua aspiração mais acarinhada.


Restos mortais de Gustavo Barroso: E o grande homem que aqui descansa, deixando de ser o peregrino dos continentes para transformar-se no peregrino que procurou a cidade de Deus, mais continuará espargindo, através dos livros que deixou, das obras que escreveu, dos trabalhos que realizou, a força do seu talento, a grandeza dos seus pensamentos e a beleza dos seus ideais.
"Gustavo Barroso, o Ceará não te esquecerá, para te ter mais presente, quis que até o dia do juizo final, ficasses entre cearenses, com o que restou de teu corpo." Representa também a satisfação de um anseio geral.
A vontade de Gustavo Barroso está satisfeita, seus restos mortais descansam na terra do sol.


Créditos: Luis Sucupira, Sérgio de Vasconcellos, Marcos Silva e Wikipédia,
Site da Academia Brasileira de Letras, Livro "Imagens do Sigma" de Luiz Henrique Sombra e Luiz Felipe Hirtz Guerra e pesquisas na internet

terça-feira, 13 de julho de 2010

Casarões que resistem ao tempo

Hoje vamos visitar alguns casarões da Fortaleza antiga, que seguem resistindo ao tempo e a especulação imobiliária.

Infelizmente, um dos retratos do nosso passado anda sem manutenção e pichado por vândalos

Antigamente era comum casas alpendradas (Essa também fica no bairro Jacarecanga)

Famosa casa de Thomaz Pompeu Sobrinho (construída em 1929) que hoje abriga a Casa de Artes e Ofícios

Casa muito interessante, também no Jacarecanga (um dos casarões mais famosos do bairro – conhecido como “Casa da Normandia”. A residência, que fica na avenida Filomeno Gomes, pertenceu ao ex-ministro Raimundo Brasil Pinheiro de Melo, pai de Maria Luiza. Segundo ela, o ex-ministro tirou o modelo de uma revista alemã e começou comandar a construção em 1920. A casa só foi totalmente terminada em 1928, quando a família finalmente se mudou. Alguns detalhes foram perdidos com o tempo: o muro foi alteado, o mastro no cume da casa foi retirado, o quintal sofreu reforma para abrigar um Buffet e parte da construção original do hall da casa foi destruída).

Visitaremos agora a Aldeota
Felizmente alguns donos estão começando a se conscientizar da importância de se restaurar esses casarões e o dono dessa casa na Aldeota, já fez sua parte.
Linda essa área de lazer!
Muito verde, o que dar a casa um charme a mais!
Área suspensa, interessante.
Essa está precisando de uma boa reforma, pelo menos é isso que nos revela sua fachada...
Com uma mão de tinta, essa ficaria show
Essa é mais moderna
Lindo o jardim, simples e bonito.
Essa fica na Des. Moreira, pelo jardim de inverno, não me pareceu ser muito antiga.
Essa virou comércio
Eita que o proprietário dessa casa precisa agir urgente, um casarão desses abandonado, que triste!
Lindo revestimento de pedras
Essa parece coberta de conchinhas, sem falar no jardim, divino!
Bom observar que o verde predomina nessas casas antigas
Meio desbotadinha essa¬¬
Essa passou por reforma, maravilha!
Essa é mais recente
Essa também.

Créditos das fotos: Manilov e Cráudio(sim, com 'R' rsrs)

Manoel de Oliveira Paiva - A inspiração


A mulher que serviu de inspiração para o Romance D. Guidinha do Poço.


Absolvição de Marica Lessa


Maria Francisca de Paula Lessa (Marica Lessa), conhecida no romance como Dona Guidinha do Poço, era uma rica senhora que detinha sob seus poderes grandes fazendas no município de Quixeramobim, no século passado. Era casada com o Coronel Domingos Vítor de Abreu Vasconcelos (...) a primeira pessoa a inaugurar a cadeia pública do munícípio. Segundo alguns autores, o prédio tinha sido construído por ela.

Graça Braga levanta a tese contrária aos resultados das investigações sobre a tragédia, de que Dona Marica Lessa não haveria mandado matar o marido.

Graça Braga lança seu terceiro romance, “Absolvição de Marica Lessa”, onde vislumbra a possibilidade de reverter um crime histórico que movimentou o Sertão Central cearense a 150 anos. Nascida em Quixeramobim, a escritora conta que sempre foi fascinada pela história de sua conterrânea, uma latifundiária condenada a 30 anos sob a acusação de ser mandante do assassinato do ex-marido.

FICÇÃO LIBERTÁRIA


Pode sim a ficção transformar a realidade. Os exemplos são muitos, no terreno da literatura, do teatro, do cinema. Em geral, a intenção dos recriadores é desvendar alguns aspectos mais simpáticos da biografia de seus assuntos. Com a escritora Graça Braga, não foi diferente. Conhecendo a história da sua conterrânea desde os treze anos, a escritora tratou de dar-lhe um alento que ela teve, após ser acusada e condenada por um crime. Uma história que manchou o passado da pequena Quixeramobim, há 150 anos. Tempo em que seu filho mais ilustre, Antonio Conselheiro, era apenas um afilhado da personagem redimensionada por Graça Braga no romance histórico “Absolvição de Marica Lessa” (...)
Para recontar a história dos dias mais terríveis da vida de Maria Francisca de Paula Lessa, mais conhecida como Marica Lessa, Graça Braga percorreu algumas dimensões do tempo e do espaço. Foram sete anos de pesquisa, entre jornais, referências bibliográficas e depoimento orais, recuperados na própria Quixeramobim. Mas o interesse pelo assunto foi despertado ainda em sua adolescência, quando a escritora percebeu a possibilidade de proporcionar uma nova chance à latifundiária, invejada e abandonada por quase todos os seus conterrâneos, como uma vítima da ignorância e do machismo de uma sociedade.
Herdeira do Capitão-mor José dos Santos Lessa, Marica foi educada com os brios de uma formação rigorosa. Generosa com os muitos retirantes que se deslocavam pelo Sertão Central, Marica era invejada por sua discrição e suas maneiras finas. Segundo Graça Braga, a tragédia de sua vida tem início em 1827, quando ela é desposada por um aventureiro, o Coronel Domingos Vítor de Abreu Vasconcelos. O casamento de interesse logo trouxe decepções e o desquite, pedido pelo próprio “coronel”, sob a falsa alegação de adultério.
Com metade dos bens herdados por Marica, Domingos Vítor vivia esbaldando os recursos obtidos graças à sua conquista, também gastos para sustentar os luxos de sobrinhos, vindo de Pernambuco e que diziam ser um parricida fugitivo. As coisas estavam nesse estado, até que um afilhado de Marica, Manoel Ferreira do Nascimento, conhecido apenas como Corumbé, assassinou o novo latifundiário. Diante do temor de ser enforcado, sua única reação era repetir o nome da madrinha, na esperança de que fosse salvo por ela.
Coadunado com a polícia, Antonio da Silva Pereira, o sobrinho do Coronel, acabou propagando que Marica era a mandante do crime atiçando na população a ira contra a senhora que não tinha mais ninguém que lhe valesse os interesses. Apenas uns poucos empregados e amigos, ousaram transgredir o clima de acusação que levou a latifundiária a ser conduzida, de maneira humilhante, de sua fazenda à cadeia pública, construída com seus próprios recursos. Entre os que se mantiveram fiéis a Marica Lessa estava o futuro beato que construiria o Arraial de Canudos, Antonio Mendes Maciel, seu afilhado.
Condenada antes de seu inquérito, Marica Lessa mantinha uma atitude de placidez, diante das acusações que lhe foram feitas sem qualquer critério, “Não se sabe qual a razão de tanto silêncio. Na realidade, Marica era uma mulher forte do sertão que possuía os seus meios de defesa com um sentimento de orgulho e integridade” descreve Graça.
Sua obra não é a primeira a narrar as desventuras de Marica Lessa. Bem antes, Manoel de Oliveira Paiva inspirara-se em sua história, oficial, para produzir “Dona Guidinha do Poço”, lançada apenas em 1952. Agora, Graça Braga redimensiona o episódio, livrando Marica de sua condenação a 30 anos e seu desterro final, como mendiga pelas ruas de Fortaleza. “Em momento algum, prova-se que ela foi a mandante do crime. Mas esse era a lógica da sociedade machista de Quixeramobim”, diz.
Graça Braga conta que aprofundou sua pesquisa inclusive nos estudos jurídicos. “Durante seis meses assisti a vários julgamentos”, conta a escritora que coloca-se como a advogada de defesa de Marica, absolvendo-a, finalmente, de todas as suas seculares acusações. O romance foi escrito entre 97 e 99, concluído sete anos de pesquisa. É às vésperas do século XXI que a “Princesa dos Poetas Cearenses”, membro da Academia Feminina de Letras Municipais do Estado do Ceará, liberta a latifundiária, através das armas de “uma perspectiva feminina e ficcional”.


MEDO E CONDENAÇÃO

“Uma voz unânime surgia do meio da multidão gritando pelo nome Corumbé. O rapaz, ao presenciar a ferocidade daquela gente correndo ao seu encalço, procurou livrar-se da multidão, descendo a ladeira do Rio Quixeramobim. Corumbé imaginava ser ele um afilhado muito querido da Senhora, e sentindo o desespero na hora da acusação, queria chamar o nome de sua madrinha, pois não seria preso devido à grande influência político-econômica que ela detinha. E nesse cerco irremediável prenderam-no. Como era de hábito na vila, acontecia tudo assim muito rápido, a justiça era feita com as próprias mãos para atender as conveniências dos poderosos. (...) O rapazola (...) deixou para sempre a dúvida imensurável. Ficou o chuleado das palavras mal cozidas que levou a fazendeira Marica Lessa ao banimento e ao escárnio de um povo que coseu a sua própria condenação”.

A Absolvição de Marica Lessa

Esse livro é o romance de estréia da já laureada poetisa e jornalista Graça Braga. Em 20 de setembro de 1853, acontecia na Vila do Campo Maior, em Quixeramobim, um dos crimes de maior repercussão na história do nosso estado, chegando inclusive a incomodar autoridades da Corte Brasileira, inclusive o Imperador Pedro II.
Graça Braga através da pesquisa e da inventividade revisitou esse fato e escreveu Absolvição de Marica Lessa. O crime já havia sido inspirador para o romance “Dona Guidinha do Poço”, escrito por Oliveira Paiva e publicado apenas após a morte do autor.
Graça Braga levanta a tese contrária aos resultados das investigações sobre a tragédia, de que Dona Marica Lessa não haveria mandado matar seu marido. Há uma teoria de que Manoel Ferreira do Nascimento, vulgo Corumbé, seria o verdadeiro autor do crime, motivado por um desentendimento banal entre a vítima e o assassinato quando ainda criança.
Baseada nestes fatos, principalmente em documentos antigos, relatos orais e nos autos do júri da época, com perspicácia e intuição feminina, Graça Braga vislumbra a possibilidade de inocência de Maria Francisca de Paula Lessa.

No prefácio da obra está dito: “... a polêmica esta lançada, embora não seja pensamento da autora contradizer ou mesmo se opor a Oliveira Paiva. Os críticos literários, os juristas e, de uma maneira geral a população, que façam a análise dos acontecimentos e julguem a ré, ou melhor, a suposta co-autora do crime e lancem seus veredictos.”

O histórico líder messiânico de Canudos, Antonio Conselheiro, que era natural de Quixeramobim, foi afilhado de Marica Lessa. Ele, assim como a seca avassaladora do sertão também estão contidos no romance. Ali o leitor saberá como foi o julgamento, três anos após o crime; a viagem para Fortaleza, e por fim o júri simulado em 1999, em que a ré foi absolvida.

Somente o leitor pode julgar a história e Marica Lessa.



Crédito: Carlos Alberto Lima Coelho, Diário do Nordeste

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Manoel de Oliveira Paiva - A obra



Dona Guidinha do Poço

Coube a Lúcia Miguel Pereira redescobri-la, fazendo na primeira Edição uma elogiosa ( e merecida ) apresentação.
Obra de profundidade psicológica e sociológica, vale-se de um estilo vivo , onde se fundem poesia , reflexão, senso de humor, a presença do falar regional nordestino , além do aproveitamento das tradições orais e das narrativas dos contadores de histórias.
Narra a história da poderosa Margarida Reginaldo de Oliveira Barros, dona de cinco fazendas , prédios, gado , prataria e muitos escravos. Mulher bravia e apaixonada, envolve-se com um sobrinho de seu marido, soldado elegante e vaidoso. Este acusado de homicídio, esconde-se na casa do tio, que desconfiado de seus amores com a mulher, dona Guidinha, resolve entregá-lo à polícia. Como vingança Dona Guidinha , manda um caboclo matar o próprio marido, e , como sempre altaneira, é conduzida à prisão, sob as vaias da população.

Uma história real

D. Guidinha do Poço - Nos últimos anos do século passado, perambulava pelas ruas de Fortaleza uma esfarrapada mendiga, alvo das indigitações da molecada, que a molestava gritando: olha a mulher que matou o marido. A Andrajosa mulher, a "Velha Lessa" realmente havia sido condenada a 30 anos de cadeia pela justiça de Quixeramobim, como mandante daquele delito. Seu nome - Maria Francisca de Paula Lessa. Fora rica fazendeira, esposa do Coronel Domingos Victor de Abreu e Vasconcelos. O Coronel foi assassinado no próprio lar, pelo escravo Curumbé, a mando de Maria Francisca, conhecida na extremidade como d. Maria, então de amores com um sobrinho do esposo, vindo de Pernambuco, Senhorinho Pereira da Costa. Preso, Carumbé revelou o nome da mandante. Foram ambos, a fazendeira e o escravo condenados a 30 anos, sendo que o segundo fora degredado para Fernando de Noronha. Senhorinho conseguiu escapar do julgamento, embrenhando-se nos vastos sertões do Ceará e Pernambuco. Toda essa tragédia, anos depois, seria romanceada num livro que viria ficar famoso - "Dona Guidinha do Poço" , do escritor Manoel de Oliveira Paiva, publicado em 1952. Na 2ª edição, já muitos anos depois, o grande pesquisador de nossa história - Ismael Pordeus provou, com farta documentação que o romance "Dona Guidinha do Poço" retratara a tragédia do Quixeramobim.



A Fazenda Poço da Moita, onde se dão grandes festas e para onde se dirigem os que fogem da seca. A figura de uma enérgica mulher se destaca.

Dona Guidinha do Poço – como era conhecida a proprietária da fazenda – vivia respeitada por todos, ora agressiva, ora bondosa, até que um dia a paixão deitou a crueldade de sua alma.


O autor e sua 0bra

Manoel de Oliveira Paiva, escritor cearense, por alguns anos ficou na obscuridade, não obstante o valor de suas obras. Pôs toda a sua alma e todo o seu talento, retratando gente e coisas do Nordeste, em Dona Guidinha do Poço, o último trabalho de sua curta existência. Não conseguiu ver a sua obra publicada, como tanto desejava, mas contava com a insistência de seu amigo Antônio Sales, certo de que ela seria dada a lume um dia. Os editores julgavam o autor um tanto excêntrico e argumentavam que não podia oferecer interesse uma história regional ao gosto de reduzidos leitores. E os anos se foram passando e a obra permaneceu à espera de um lançamento. Ao vir à luz, bastaram-lhe louvores da consagrada crítica Lúcia Miguel Pereira, para que ficassem definitivamente assinalados os méritos do escritor que esteve injustamente apagado por longo tempo.
Surge o livro sessenta anos depois do falecimento de seu criador, mas, como bem acentuou Lúcia Miguel Pereira, ao parece “que seja tarde, que se haja fanado ou esmaecido a sua graça”. E continua sincera: “Não a direi talhada para resistir séculos, mas meia dúzia de décadas só são perigosas para as obras cujo único valor reside em seguir a moda do momento, o que aqui não se dá. Ao contrário, o exemplo de sua heroína, matuta, orgulhosa, não imita esta narrativa nem maneirismos nem elegâncias alheias e passageiras. É inteiramente original, espontânea, livre, com aqueles toques de bizarria notados por José Veríssimo.”
O linguajar do Nordeste e muitas expressões usadas pelo autor em vários trechos do livro poderiam deixar confusos os leitores, o que não acontece porque estes poderão contar, para seu esclarecimento, com um excelente glossário preparado por Américo Facó.
Dona Guidinha, a enérgica e orgulhosa matuta, assim como outros personagens da história, passam aos nossos olhos como reflexos de uma época em que a campeava o feudalismo rural. Tipos e costumes aí estão vivamente assinalados num livro que, depois de tantos anos de obscuridade, apareceu com a mesma luminosidade do sol do sertão para juntar-se ao brilhante acervo da literatura brasileira.

Dona Guidinha do Poço resgata elementos da cultura nordestina e pormenores da vida interiorana, na história de uma mendiga que, no final do século XIX, era alvo de piadas nas ruas, por ter sido condenada pela Justiça de Quixeramobim pelo assassinato do próprio marido. A tragédia inclui elementos de vingança, prisões e mortes.

É a saga da fazendeira Marica Lessa. Essa via foi devassada pelo historiador Ismael Pordeus que teve acesso em cartório de Quixeramobim, ao processo em que a poderosa fazendeira Marica Lessa respondeu pelo assassinato de seu marido o Cel. Domingos de Abreu e Vasconcelos por volta de 1853. A fazendeira poderosa amasiou-se com um sobrinho do marido, Senhorinho Pereira, e contratou o executante do crime contra seu consorte. Descoberta a trama, a desditosa dama foi condenada a muitos anos de prisão, vindo a cumprir sua pena na cadeia pública de Fortaleza. Ao ser solta, semi-enlouquecida e depauperada, perambulava pelas ruas da capital até quando morreu como indigente. Foi nessa história real que se baseou Oliveira Paiva para escrever Dona Guidinha do Poço.

É um romance modelar do realismo brasileiro. Compromissado com a realidade, ele mostra uma história que realmente aconteceu, mudando os nomes dos personagens e acrescentando alguns detalhes ficcionais e ilustrativos. Depois há a coragem do autor em introduzir na sua linguagem o rico latifúndio lingüístico regional. O falar da região aparece como forma de trazer não só o homem mas principalmente sua fala para dentro do enredo. Além disso há outra realidade cruciante no romance, que ainda hoje se faz presente na região do semiárido nordestino que é a seca.

A seca, pois, e o regionalismo margeiam o tempo todo a saga trágica acontecida na fazenda Poço da Moita. A linguagem do povo está tão presente que necessária se tornou a elaboração de um glossário no final do livro. Com cerca de quinhentos verbetes esse glossário de termos bem demonstrativos do falar do sertão cearense comprova a preocupação do autor em devassar a vida daquela gente sofrida a partir da sua linguagem. Prova é que a partir da primeira expressão do livro “De primeiro” esse falar já se apresenta. Depois disso vão se configurando cenas e temperamentos entrevistos sem a crueza naturalista em moda, mas deixando-os subentendidos como na estética realista.

Dona Guidinha do Poço é, portanto, um romance comprometido com a estética realista, resgata a linguagem regionalista do centro sul cearense, apresenta uma história de paixão e morte que traz, secundando-a, o fenômeno climático da seca, tão marcante na região Nordeste como nos romances da geração de 30. Daí que o embrião para o romance de seca da segunda fase do nosso modernismo finca-se, segundo Alfredo Bosi, em Dona Guidinha do Poço, de Oliveira Paiva, Luzia-Homem, de Domingos Olímpio e A fome, de Rodolfo Teófilo. Esses três autores cearenses foram testemunhas da grande seca dos anos de 1877, 1878 e 1879. Essa temática aliada ao resgate que faz do regionalismo, faz com que se afirme que nenhum escritor cearense soube trabalhar com tanta felicidade a nossa linguagem do povo - sem desfigurar o conteúdo literário como Oliveira Paiva. Além disso há a técnica narrativa empreendida pelo escritor quando ele consegue tornar sugestiva qualquer minúcia, valendo-se de indicações objetivas para reforçar indiretamente o sentido da narrativa ou insinuar o caráter de um personagem.

Dona Guidinha do Poço, considerado por José Ramos Tinhorão como um clássico da literatura brasileira. Obra de profundidade, psicológica e sociológica, vale-se de um estilo vivo, onde se fundem poesia, reflexão, senso de humor, a presença do falar regional nordestino, além do aproveitamento das tradições orais e das narrativas dos contadores de história.

Tempo

Dona Guidinha do Poço passa-se em dois anos, distribuídos ao longo dos 5 Livros: dois meses para o Livro I (o amor despontando); um mês para o Livro II (o amor se consuma em posse); onze meses para o Livro III (a paixão cega); novamente um mês para o Livro IV (o drama) e um mês ou mais para o Livro V (desenlace). Um preâmbulo de abertura completa a conta.

O tempo cronológico, convencional e linear, com discretos flash backs, é altamente marcado, em dias, meses e até, por vezes, horas. Uma precisão, a mais óbvia, é, no entanto, insidiosamente escamoteada: o ano dos acontecimentos. Sabe-se que Guida era pequena na seca de 25 (“em 25, ela era ainda pequenota...” p. 56) e que tem, no momento da narrativa, mais de 30 anos. Essa inesperada imprecisão aponta para um desdobramento temporal entre o enunciado e o narrado: na verdade, a história de Guida pertence ao passado, é um “causo”, contado em outro momento. Aconteceu, “foi verdade” (a prova, as marcas de datas), no tempo da história.

Ao tempo cronológico, exterior e ao tempo psicológico, interior, soma-se um tempo cósmico, cíclico, marcado pelas estações. Assim o Livro I é o da seca, em março; no Livro II vêm as chuvas de abril e maio; o Livro III, o mais extenso, cobre as quatro estações – primavera, verão, outono, inverno e novamente as chuvas; o Livro IV retorna à primavera e o Livro V, ao verão.

Tempo cósmico, que é o tempo real do sertão e também o do mito e que, como as outras dimensões, dilui-se no final.

Foco narrativo

Em função do tempo, o narrador é a voz que conta um “causo”. Jogral contador, assegura, através de sua narração, o tempo cósmico-simbólico e restaura, no jogo de corda bamba, o equilíbrio. Narrador sem rosto, voz discretamente onisciente e onipresente, porque situada em outro tempo: a história contada já aconteceu. Mas, se algumas pistas são maliciosamente jogadas cá e lá, ele guarda a surpresa do final (que conhece), mantendo o ouvinte-leitor preso ao narrar.

Narrador popular, oral, que pouco intervém e que tem sua fala própria – e não é de espantar que, como Flaubert, use e abuse do estilo indireto livre.

Alguém conta uma história: O clássico narrador na terceira pessoa vai nos narrar o que sucedeu no Poço da Moita. Vemos na narrativa outras vozes surgirem e vários narradores proliferarem. O narrador de Dona Guidinha é um homem culto, com belo manejo de língua, conhecedor do latim e que julga desabusadamente a sociedade.


Margarida do poço:

Inocente ou culpada?

Uma mulher rica e poderosa, dona de fazendas e outros bens entra numa questão polêmica da literatura. Uma espécie de Dom Casmurro, onde não se sabe se houve ou não traição, se bem que, na minha opinião, em Dom Casmurro, há traição sim, mas esta é uma outra história.

Margarida ou simplesmente Guidinha é casada com o Major Joaquim Damião de barros ou simplesmente Quinquim, com quem vive na fazenda: Poço da Moita. Um dia aparece lá o Secundino, sobrinho do Major e da Guida, é claro. Secundino, porém, estava foragido; tinha sido acusado de homicídio e vinha ocultar-se na fazenda do tio. Acontece que nasce um não sei o quê entre ele e Guida que faz todos suspeitarem que aí há coisa. Podia-se notar perfeitamente os sentimentos da Guida nas cenas de cíúme com Lalinha, uma donzela formosa que tinha enamorado-se do Secundino. O autor não revela se a Guidinha traiu ou não, mas deixa-nos uma passagem bem insinuadora:

"Os dois, pela vereda, sumiram-se no escuro". (Cap. 3, livro segundo)

O que aconteceu foi que os falatórios chegaram aos ouvidos do Major Quinquim e este não viu outra alternativa, senão, mandar o sobrinho embora. Tempos depois, o que acontece? O Major aparece morto. Foi morto pelas mãos de um caboclo, mas por ondem de quem? A principal suspeita era Margarida que é presa e das grades, imagina o Secundino longe, afastando-se daquela terra ingrata.


No dia 9 de outubro de 1982 é publicada a poliantéia Oliveira Paiva, em homenagem
ao escritor, falecido em 29 de setembro; Sales redige os “Traços
biográficos” do autor de Dona Guidinha do poço.

É fato sabido que Antônio Sales tudo fez para ver publicado o romance
D. Guidinha do poço, de Oliveira Paiva, sendo uma das tentativas estampá-lo
em folhetins da Revista Brasileira, de José Veríssimo, que logo deixaria de
circular. Sabino Batista, nessa carta de julho de 1899, comenta:

"Na Revista de março li os primeiros capítulos do romance
do Paiva. Dei uma notícia da sua publicação na Província e
aguardo com ansiedade os outros fascículos que devem trazer
a continuação."


Próxima postagem : A história da mulher que inspirou Manoel de Oliveira Paiva



Fonte: Pesquisas na internet

Manoel de Oliveira Paiva - O Escritor

Biografia completa

Filho de João Francisco de Oliveira e de D. Maria Izabel de Paiva Oliveira nasceu a 12 de julho de 1861 em Fortaleza na então Rua Amélia, hoje Senador Pompeu, casa nº162. Estudou no Seminário do Crato e foi aluno da Escola Militar do Rio de Janeiro, que deixou em 1883, já doente de infecção pulmonar(tuberculose) a que sucumbiu. De colaboração com João Lopes e Antonio Martins escreveram A semana, crônica que o Libertador publicava aos sábados, assinada por Gil, Pery & Cia. É o autor de um romance com o titulo A afilhada, que foi publicado no rodapé do Libertador, como foram também uns sonetos seus sob o titulo Sons da viola. Zabelinha é um trabalho de propaganda abolicionista como muitos outros de Oliveira Paiva, entre os quais o panfleto intitulado Vinte e cinco de Março, de 25 p. de 1884. Em 1887, com João Lopes, Antonio Martins, Abel Garcia, José de Barcellos e José Olympio redigiu A Quinzena, propriedade do Club Literário, publicando nela vários contos como A corda sensível, O velho vovô, O ar do vento Ave Maria, A Paixão, De preto e de vermelho, A melhor cartada. No jornal Cruzada, da Escola Militar do Rio de janeiro, escreveu o romance Tal filha, tal esposa e uma serie de sonetos sob a epigrafe Transparencianas. Faleceu a 29 de Setembro de 1892, tendo desempenhado as funções de Secretario do Governo e de 1º oficial da Secretaria do Ceará. A Padaria Espiritual publicou em 9 de Outubro uma poliantéia com seu retrato e traços biográficos por Antônio Sales. Oliveira Paixa deixou um romance D. Guidinha do Poço, que foi publicado em 1899 na Revista Brasileira, Rio de Janeiro.

Sobre Manoel de Oliveira Paiva escreveu o seguinte Araripe Junior no Tempo, do Rio de Janeiro, em artigo sob titulo - Um romancista do norte:

"No momento em que as letras pátrias parecem receber um poderoso impulso e, com as agitações políticas, todas as forças vivas da nação se levantam para amparar o futuro e consolidar a crença no próprio valor; não estranharão os leitores do Tempo que um amoroso da terra venha lembrar aqui o nome de um escritor desconhecido, que muito trabalhou para oengrandecimento das letras de seu país com o amor de um artista e a coragem de um batalhador. Trata-se de um moço cearense, que dispersou muito talento e sensibilidade pelos jornais de sua província, e que estava destinado a representar um papel brilhante entre os romancistas brasileiros. Infelizmente refiro-me a um morto, porque, quando os seus escritos prometiam a conversão dos projetos em formosa realidade, a eterna inimiga desmoronou os castelos, que se esboçavam numa imaginação já perfeitamente cultivada para as fortes construções do romance de observação.

Chamava-se Manoel de Oliveira Paiva esse moço, que a 29 de Setembro de 1892 sucumbiu do mal dos poetas brasileiros, aos 31 anos de sua idade, deixando atrás de si uma saudade imorredoura traduzida no soluço da nova geração do Ceará. Sentimento igual a este pungiu o coração do autor destas linhas, em 1878, quando se finou Raimundo da Rocha Lima, outro cearense de grandes esperanças, que a fatalidade surpreendeu no amanhecer de glória, justamente no momento em que no seu cultivado espírito se conjuravam os elementos para a factura de dois monumentos de critica — um sobre a “Revolução” e outro sobre “Jesus”.

Era Oliveira Paiva um observador e um forte, no qual juntavam-se qualidades poéticas que o tornariam um mestre na arte de compor se continuasse a viver. Pobre, sem proteção teve de lutar com a vida para abrir caminhos ao exercício de suas faculdades. Foi Seminarista no Crato, para obter os primeiros rudimentos de educação, e depois sentou praça, para ilustrar-se num curso de guerra. O que fez durante esse período de sua existência dizem as tradições da escola Militar, a “Cruzada” onde o poeta ensaiou as suas primeiras armas publicando versos humorísticos e romances, que desde logo anunciaram a sua aptidão para o gênero descritivo e para análise dos caracteres. Pouco tempo depois abriu-se a campanha abolicionista e Oliveira Paiva foi um dos incendiados por essa convulsão sentimental, em que o Ceará devia tomar a dianteira e os seus filhos representar o papel de imediatos precursores da República. Nessa época o propagandista audacioso já era minado pela cruel enfermidade, que o levaria a sepultura.

Obrigado a voltar á sua terra em busca de lenitivo aos males que o atormentavam, longe de achar ali o repouso de que carecia, encontrou a febre do “Libertador” e a tormenta que João Cordeiro, Amaral, Frederico Borges e outros haviam desencadeado contra os proprietários de escravos. A jangada do “Dragão do Mar” desfraldara a vela branca da libertação dos cativos nos verdes mares do Mucuripe; e os negreiros aterrados diante da propaganda enérgica capitularam por toda parte, entregando a presa secular aos novos conquistadores a “Terra da luz”. Nesse tumulto de entusiasmo, Oliveira Paiva extenuou-se em discursos e versos, e, no auge da excitação, deu á estampa dois poemetos de propaganda, vibrantes de cólera e de um lirismo estranho, quase desconexo. “Zabelinha” intitulava-se um desses poemetos, e um dos poetas da nova geração cearense, Antônio Sales, quis descobrir nele “certa allure” imprevista, de que dão idéia muito aproximada os produtos da atual escola “decadista” ou “simbolista”. Terminada a faina libertadora, começou então para o poeta uma fase tranqüila, durante a qual, no “Libertador”, órgão literário, dirigido pelo atual deputado João Lopes, dedicou-se mais calmo aos trabalhos de sua vocação, Afirmam todos os que conheceram o autor da “Zabelinha” nesse período, que apesar de minado pela enfermidade, ele mostrou na prosa uma fecundidade que de dia a dia tomava maiores proporções. Foi nesse jornal e na “Quinzena” que tive ocasião de apreciar o talento artístico de Oliveira Paiva, que á primeira inspeção se apresentava como um namorado de formas goncourianas. Logo depois, fui surpreendido com a publicação, em folhetim no “Libertador”, de um romance de fôlego, intitulado “A afilhada”, no qual não sabia o que mais admirasse, sua habilidade com que o romancista adotava o naturalismo no meio que descrevia, se as audácias propriamente “cearenses”, que davam ao romance um sainete só apreciável aos filhos da terra. Esta obra, por motivos secundários, não se editou em livro, o que é uma pena. Com o advento da República nasceu a atividade política, do poeta.

Escolhido para secretário do governo provisório do Estado foi depois escolhido para 1° oficial de uma das respectivas secretarias, quando se organizaram os serviços públicos. A medida da vida desse moço, porém, tinha enchido. A morte, que o namorava havia tantos anos, escolheu; para fulminá-lo justamente no momento em que os seus esforços iam ser coroados, não só por uma colocação definitiva na sociedade, mas também pela confirmação do conceito em que os amigos tinham no seu talento. Pode-se afirmar que com Oliveira Paiva baixou á sepultura uma das aptidões mais enérgicas, que o Ceará tem produzido para o romance de costumes. Agora chega-me a noticia de que no espolio literário do morto encontrou-se o manuscrito de um romance de extenso desenvolvimento, o qual ele tinha promto para o prelo.

Diz-me um dos seus saudosos amigos, após a leitura em roda competente, que D. Guidinha, tal é o nome do livro, “tem por motivo” principal um desses dramas sanguinolentos a que serviam de cenário as nossas fazendas, revestidos de circunstâncias ao mesmo tempo bárbaras e cavalheirescas que davam á vida dos antigos sertanejos um acentuado tom medieval.” Pela natureza do assunto vejo que se trata de um livro escrito sob tese idêntica a que serviu de arcabouço ao “Sertanejo” de José de Alencar. Sucede, porém, que o autor do “Guarani”, não conhecendo os sertões do Ceará “de viso”, ficou muito a barlavento da verdade, e no romance deu-nos apenas uma sombra poética da vida do interior e das fazendas. Se não mentem os meus vaticínios, se é exato que Oliveira Paiva pôs em contribuição todos os processos modernos denotação para compor o livro que se anuncia, não recuso pensar que D. Guidinha virá preencher uma lacuna no gênero romance, oferecendo-nos um quadro violento de situações quentes, no qual se agitam tipos os mais curiosos criados pela vida crioula na região central, onde os horrores da seca triunfam periodicamente."

Obras de Manoel de Oliveira Paiva:

Contos

A barata e a vela (1887)

A melhor cartada (1887)

Corda sensível (1887)

O Ar do vento, Ave Maria (1887)

O ódio (1887)

O velho vovô (1887)

Pobre Moisés que não foste! (1887)

Variação sobre um tema de Buffon (1887)

De pena atrás da orelha (1888)

De preto e de vermelho (1888)

A paixão (1888)

Ao cair da tarde (1888)


Romances

Dona Guidinha do Poço(1891)

A Afilhada(1889)


Poesias

A tacha maldita (1883)

Vinte e cinco de março (1884)

Sons de viola (1884)

Aos 55 (1884)


Resumo dos principais pontos: Manoel de Oliveira Paiva ( nasceu em 12 de julho de 1861, Fortaleza, CE e faleceu em 29 de setembro de 1892 em Fortaleza. Morreu cedo, aos 31 anos, e teve uma juventude atribulada. Foi expulso do seminário do Crato e não conseguiu seguir a carreira militar por causa da saúde frágil. Fundou o jornal Libertador, abolicionista, onde publicou crônicas e contos. O clássico "Dona Guidinha do Poço" foi escrito por ele em seus dois últimos anos de vida, mas só foi publicado 60 anos depois.

Oliveira Paiva tentou a vida eclesiástica e, depois, a militar, no Rio de Janeiro(retornando à terra natal em 1883, devido a tuberculose). Engajou-se nas lutas pela abolição e pela república. Colaborando no jornal O libertador, publicou ali, no formato de folhetim, o romance A afilhada. Destacou-se, também, como membro do Clube Literário.

Sua única obra publicada em vida foi A Afilhada, novela que saiu em folhetins no Libertador em 1889. Neste jornal e em A Quinzena saíram alguns de seus poemas abolicionistas e seus contos realistas. Em livro, porém, seus escritos só seriam publicados postumamente, algumas dezenas de anos depois da sua morte.

Sua obra-prima, Dona Guidinha do Poço, escrito em 1892, é um dos maiores romances do Naturalismo brasileiro e possui uma história interessante: seus originais foram entregues pelo próprio autor ao amigo Antônio Sales, que entregou uma cópia a Lopes Filho, que a perde, e outra a José Veríssimo, que iniciou a publicação, interrompida com a falência da sua Revista Brasileira; no fim dos anos 40, porém, Lúcia Miguel Pereira encontra uma cópia com Américo Facó, depois de intensa pesquisa. Ela publicou, finalmente, Dona Guidinha do Poço em 1952.

Devido a problemas de saúde, transferiu-se para o sertão cearense, onde escreveu seu romance mais famoso, Dona Guidinha do Poço, história de paixão e crime, baseada em fatos reais e narrada em linguagem densamente poética.

Após sua morte, Dona Guidinha do Poço começou a ser publicado na Revista Brasileira. Com o fechamento da revista, os originais passaram muito tempo desaparecidos, sendo redescobertos, em 1950, pela pesquisadora e crítica literária Lúcia Miguel Pereira, que os fez publicar dois anos mais tarde.

A Afilhada ganhou edição em livro no ano de 1961. Em 1976, a Academia Cearense de Letras publicou um volume de contos inéditos de Manoel de Oliveira Paiva.

Participou das campanhas abolicionista e republicana. Como escritor, só se tornou conhecido mais de meio século após sua morte, com a publicação póstuma, em 1952, de Dona Guidinha do Poço, obra que retrata com força dramática o meio social do sertão nordestino.

Editado(correção): Diferente do que foi dito sobre o local da morte de Oliveira Paiva, conforme explicou Lúcia Paiva(descendente de Manoel), ele não faleceu em Quixeramobim, mas sim em Fortaleza.


Postagem em homenagem a Lúcia Bezerra Paiva, uma pessoa maravilhosa que conheci através do blog, e que sempre me presenteia com ricas e belas histórias de sua vida e de seus antepassados, o que me enriquece a cada dia que passa. Obrigada Lucinha, por ser essa pessoa tão gentil e amiga!



Crédito: Portal da história do Ceará e pesquisas na internet

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