Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sábado, 28 de agosto de 2010

Bairro Dias Macedo

Paróquia de São Francisco - Foto de Zemakila

O Bairro Dias Macedo, conforme trecho do livro "Fortaleza descalça"
O livro faz a seguinte citação sobre a história do bairro:
Tudo começou com a chegada de seus primeiros moradores, e em 1845, chegava ao Ceará, precisamente no lugarejo denominado Lagoa dos cachorros (hoje Boa Vista), o senhor Manuel da Silva Dantas, natural de Serra das Antas - RN, Chegando aqui constituiu família, viviam de pequenas plantações e do corte da madeira para lenha, moravam numa casa de taipa. No ano de 1877, nosso estado era castigado pela seca, lagoas salgadas, cacimbas secaram e o pouco de água ao qual ainda conseguiam era salgada e impróprias para o consumo, e nessa época nasceu um dos filhos de seu Manuel de nome Pedro Dantas, personagem este, que iniciou a história da Paróquia de São Francisco de Assis do bairro Dias Macedo.
O seu Manuel ficou sabendo que no Mata Galinha (hoje Dias Macedo), havia uma cacimba chamada de Caraúbas que nunca havia secado, pois tinha três olhos d'água. Seu Manuel pediu ao seu compadre Tomaz Lourenço da Silva, primeiro dono dessas terras, um lugar para morar e que fosse perto da cacimba Caraúbas. Este, mandou que ele escolhesse o local para construir a sua casa e que também usasse as terras para as suas plantações e que isto seria um presente para seu afilhado Pedro.

O seu Manuel e a dona Maria Joaquina, sua esposa, tiveram sete filhos de nomes: Serafim Manuel, Verônica, Antônia, Chagas, Pedro e Joaquim. Os mais moços, levavam para a cidade duas cargas de lenha nos dias de quarta-feira e no sábado onde vendiam à cinco patacas ou mil e seiscentos réis.
Na quarta-feira compravam a mistura da semana e ainda juntavam dinheiro para comprar roupas e calçados. Após fixar moradia no Mata galinha e alguns anos depois da morte de seu Manuel, o único a continuar nas terras foi o velho Pedro Dantas, onde constituiu sua família. Tomaz Lourenço, seu padrinho, havia doado as terras, mas não fez em escrituras, e havia dado um desfalque na Prefeitura, e seus bens foram sequestrados e publicados à venda em ata pública.
Vindos do Amazonas, Chiquinho e Janjão, arremataram as terras, estes filhos de Tomaz Lourenço. Arremataram por trinta contos e dividiram entre três irmãos. O Sr. Francisquinho, um dos irmãos e compadre de Pedro Dantas, em meados de 1913, chamou e lhe disse que como tinha muitos filhos, eles poderiam fazer questão pelas terras, para isso não ocorrer, eles deveriam ir juntos ao cartório na Parangaba e fazerem a doação à São Francisco.
Pedro Dantas foi o fundador do antigo Mata Galinha, segundo um de seus filhos, de nome Joaquim, conhecido também como Quincas, conta-se que o riacho onde hoje é localizada a ponte da Avenida Alberto Craveiro era conhecido antigamente como Lagoa dos cachorros, e que um homem carregava nos ombros um galão de galinhas e devido às fortes correntezas do riacho, o tal homem tentava atravessá-lo. As galinhas foram levadas pela correnteza enquanto este tentava escapar agarrado a um cipó, daí o nome de Mata Galinha.
D'Jesus Pereira

O Dias Macedo, no passado, fazia parte do Mata Galinha. O bairro completou 50 anos. Surgiu na década de 1960. Quando a área cheia de sítios e uma fazenda começou a receber moradores vindos do interior do Estado. A localização, próxima a BR-116, facilitou o crescimento. A família Macedo, deu nome ao bairro. Era a que possuía mais terras na região. Hoje, a paróquia de São Francisco e as pracinhas são pontos de encontro dos moradores.
A rua principal leva o nome de um dos fundadores da comunidade; Pedro Dantas. A neta dele ainda mora por lá. Maria de Jesus Dantas, tem 78 anos. Conta que a primeira casa em que morou era do avô e ficava no terreno onde hoje é a paróquia. “O terreno era do finado Fransquim de Oliveira, que era dono desses terrenos aí. Então ele chamou meu avô para morar aqui. E disse, ‘eu não sou eterno, eterno é São Francisco’, e essa terra aqui todinha foi doada à São Francisco”, conta Maria de Jesus.
Maria é vizinha da dona-de-casa, Jacinta. E no Dias Macedo é assim, todo mundo se conhece."Aqui só tem gente boa”, diz Jacinta.
A lanchonete do comerciante, Adalto Saraiva Costa, é conhecida no bairro. Ele vive no mesmo lugar em que trabalha. Há quase 20 anos trocou o Maciço de Baturité pelo Dias Macedo. “Para mim é tudo. É onde eu sobrevivo, ganho meu pão de cada dia”, diz Adalto.
O presidente do conselho, Aldir Felipe, também é referência por Lá. Ele é o presidente do conselho de moradores. Está sempre na rua observando problemas e procurando soluções. O maior orgulho é preservar a história do bairro. “O bairro é histórico, traz um certo saudosismo, é um dos poucos em Fortaleza que ainda se vê pessoas conversando nas calçadas”, conta Aldir.
O bairro, que vive com a falta de infra-estrutura, conta com o bom humor dos moradores para encarar os problemas. E tem ainda o açude Uirapuru.
Este é o Dias Macedo, com seus mais de 13 mil moradores. Entre eles, é claro, Maria de Jesus, que nem pensa em trocar de endereço."Eu não saio daqui não…quero me enterrar aqui”, diz Maria.
O bairro Dias Macedo fica do lado do aeroporto. O principal acesso é pela Avenida Alberto Craveiro. Depois de passar pela Igreja de Santo Antônio, os visitantes entram na rua Pedro Dantas. Nele vivem 14 mil pessoas. O professor José Duarte viu o bairro começar a ser povoado. Há 40 anos, havia sítio e grandes propriedades e logo veio a necessidade de fundar uma escola.
Os moradores do bairro Dias Macedo foram os primeiros da cidade a criar uma emissora de rádio com programação exclusiva para a comunidade. Ela é transmitida em caixas de alto-falantes, espalhadas em pontos estratégicos pelas ruas do bairro.
Fatos históricos do bairro:
Novembro de 1959 - É Publicado no Diário Oficial do Município - Diom nº 1.733 a Lei nº 1.431 do dia anterior que denomina de Rua Pedro Dantas uma via do bairro Dias Macedo, antigo Mata Galinha, proposta do vereador José Fiuza Gomes.
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30 de Maio de 1961 -Publicado o primeiro número do jornal O Suburbano, do bairro Dias Macedo, antigo Mata Galinha, com redação em casa na Avenida Pedro Dantas.
Diretor: José de Arimateia Palhano.
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18 de Abril de 1969 - Inauguração do estabelecimento de ensino primário Escolas Reunidas Assis Chateaubriand, no bairro Dias Macedo.
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26 de Setembro de 1992 - Inaugurado no bairro Dias Macedo, na Rua 3, nº 88, no Residencial Napoleão Viana, o Centro Integrado de Educação e Saúde Professor João Hipólito de Azevedo e Sá.
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29 de Janeiro de 2004 - Chove 265 mm na madrugada e manhã, causando morte e desaparecimentos; casas danificadas e outras destruídas; ruas e avenidas cortadas; alagamentos e desmoronamentos; A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros atendem a 133 ocorrências em mais de 25 bairros.
Foi a maior chuva desde 1910.
Na Avenida Alberto Craveiro, no bairro Dias Macedo, a água chegou a quase um metro de altura.


Créditos: Portal da história do Ceará, Portal Dias Macedo e Tv Verdes Mares


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Jornais de Fortaleza - Ano: 1830



Semanário Constitucional

Orgão da família Castro. Trazia entre Os dois nomes a Coroa Imperial; em algumas edições a Coroa vem sobre o título. Publicava-se aos sábados em Fortaleza, na Tipografia Constitucional, na Praça Carolina (Hoje Praça Valdemar Falcão), ex-Tipografia Nacional, antiga Tipografia Republicana, comprada pelo Capitão-mór Joaquim José Barbosa, e subscrevia-se nas casas nomeadas na Gazeta Cearense, nº 33. Custava 750 réis por trímestre e os números avulsos a 80 réis cada um na residência do redator. Tinha por epígrafe as palavras "Independência, União, Imperador, Constituição" e o verso de Camões, canto 9.0 Est. 90:

"Caminho da virtude, alto e fragozo
Mas no fim doce, alegre e deleitozo"

O primeiro número, que traz a data de 4 de Setembro, começa com o seguinte artigo-programa:

"He unicamente o zelo da Causa Publica, o desejo de ver arreigada e bem cultivada a prodigiosa arvore da liberal Constituição que vai dirigir a nossa penna e nos anima a entrarmos na honrosa linha dos escriptores livres, por meios do presente periodico, intitulado- O Semanario Constitucional.
Estamos dispostos a fazer quanto couber em nossas forças á prol da Constituição e da Lei. Empenhar-nos-hemos em fazer conhecer aos nossos concidadãos a excellencia do systema Constitucional -Monarchico Representativo, as vantagens que delle devemos esperar por ser a unico capaz de fazer a nossa felicidade e para isso teremos o cuidado de offerecermos aos nossos leitores alguns discursos dos mais acreditados políticos, as fallas pronunciadas na Tribuna Nacional pelos mais abalisados oradores de ambas as Camaras Legislativas, uma idea em geral dos trabalhos das mesmas, e igualmente transcreveremos tudo quanto julgarmos de melhor dos nossos periodicos defensores da Liberdade Constitucional.
Não se persuadão os nossos leitores que ignoramos quão difficil e espinhosa he a situação do escriptor publico morrnente quando se propõe a debellar o crime e os abusos que, infelizmente inveterados entre nós, entrarão fazendo parte do nosso primeiro alimento, e por isso identificados com grande numero de individuos, que não souberam ainda despir-se dos antigos habitos para trajarem as vestes Constitucionaes. Sabemos que he necessario adoptar uma firme resolução para nos expormos aos sacrificios que acompanhão sempre a enunciação da verdade, e a merecida censura das prevaricações, por mais moderada e modesta que seja. Sabemos que o infractor da Lei se esforça por cohonestar o seu illegal procedimento, procurando milhares de evasivas, ordinariamente despresa uma advertencia amigavel e patriotica, persiste no erro querendo dar provas de convicção e boa fé com que o commeteo a primeira vez, irrita-se contra o escriptor, lança-lhe o odioso estigma de calumniador, de mentiroso, de atrabiliario etc. e alguns mais penetrados da saudade do antigo tempo, as vezes em seus geraes exclamão-Maldito tempo! ja se não pode exercer um cargo publico! ja se acabou o tempo em que se podia governar no. Brazil!
É conhecimento pois destas verdades, que uma constante observação e experiencia nos tem ensinado, nos obriga a rogarmos aos nossos concidadãos, que se sobre algum recahia alguma censura que protestamos fazer guardadas sempre as Leis sagradas da decencia, a não recebão como didada por intriga, offensa ou outro algum particular motivo, mas pelos desejos de ver cada um conter-se dentro da orbita da Lei, e que os funccionarios publicos, quer de eleição do Governo, quer do povo, edifiquem com seu exemplo os outros cidadãos, e os ensinem a respeitar as Leis, a amar e zelar a Constituição. Conhecemos bastantemente a fraqueza dos homens, e que alguns de mais a mais teem de fazer o pesado sacrificio de substituir antigos por novos habitos, e por isso mesmo, dando os devidos descontos procuraremos somente frisar os pontos em que a Lei, ou a Constituição. for infringida, limitando-nos quanto ao mais á fazer leves advertencias, a ver se pouco a pouco vão entrando no verdadeiro e seguro trilho da liberdade legal.
Não nos he estranha a debilidade de nossa penna, e a fraqueza dos nossos homhros para nos submettermos á onerosa tarefa de redigirmos um periodico, mas ao mesmo tempo estamos convencidos de que a exposição nua e crua da verdade, a fraze singela, e a linguagem franca e patriotica he muitas vezes mais eloquente e poderosa do que os mais bem trabalhados discursos, enfeitados com todas as flores da Retorica; e firmes neste principio, nos abalançamos com coragem a tomar a defesa das Liberdades Publicas, e da Constituição, e continuaremos nella debaixo dos auspicios da Lei e do grande principio consagrado na mesma Constituição - Todos podem communicar os seus pensamentos por palavras, escriptos etc."

A transcrição, embora longa, serve como lição do que pensavam os jornalistas do tempo e da sua maneira de escrever para o público.
Foi um dos redatores do Semanário Constitucional o advogado Angelo José da Espectação Mendonça, Icoense, Angelo Rapadura como lhe Chamavam.

"Minha collecção encerra grande cópia de exemplares desse periodico, e nas pesquizas a que me entreguei ha annos no Archivo Publico do Rio encontrei os nºs 44 e 45, os quaes, a meu pedido, figuraram na exposição do Centenario da Imprensa."

Barão de Studart

Dimensões do Semanário: 31 e 1/2 centímetros de comprimento e 22 centímetros de largura.
A ele (Semanário) se refere nestes termos José de Castro Silva em Fala dirigida ao Conselho Geral da Província em 1º de Dezembro de 1830: "Hum periodico publicado aos sabbados nesta cidade, escripto em sentido liberal, vae offerecendo aos cidadãos hum tal e qual meio de aprezentarem ao publico suas reflexões, de censurarem o empregado negligente no cumprimento de seus deveres e de queixarem-se finalmente com a maior publicidade das arbitrariedades por qualquer praticadas."

Sacramento Blake no seu "Dicionário Bibliográfico" (Artigo José Ferreira Lima Sucupira) supõe que o Semanário Constitucional foi o primeiro jornal publicado no Ceará.


Sentinela Constitucional

A única coisa (Infelizmente) que se sabe sobre esse jornal é que era publicado em Fortaleza.


Fonte - Instituto do Ceará

Jornais de Fortaleza - Ano: 1829



Diário Cearense

Infelizmente nada se sabe sobre esse jornal, apenas que era publicado em Fortaleza. Rodei a internet e não achei nada além...

Gazeta Cearense

Publicado em Fortaleza. Saia duas vezes por mês e subscrevia-se na Casa do Correio Geral e Agências. Custava 480 réis por trimestre. Trazia a coroa imperial entre os dois nomes do título.
Era impresso na Tipografia Nacional.
A folha avisava que "sahiria por agora a 15 e no ultimo de cada mez que por falta de typos sufficientes não dá lugar a sahir pelo menos semanariamente."

"Encontrei o número 18, sexta-feira, 15 de Janeiro de 1830, na Bibliotheca Nacional, Rio de Janeiro."
Barão de Studart


Diário do Conselho Geral da Província do Ceará

Publicado em Fortaleza à 19 de dezembro. Trazia no vértice a Coroa Imperial. Saia da Tipografia Nacional. A primeira página é ocupada pela Ata da sessão preparatória de 30 de Novembro de 1829 sob a presidência do Pe. Antonio Francisco S. Paio.

O Conselho Geral da Província foi instalado em 1º de Dezembro com a presença de onze Conselheiros e do presidente da Província, que recitou a fala do estilo.

O N° de quarta-feira, 18 de Maio de 1831 é publicado com a declaração novamente do número primeiro. Este traz as Atas da sessão preparatória de 30 de Novembro de 1830, sessão de Instalação em 1º de Dezembro e sessão 0rdinária de 2 de Dezembro e Ordem do Dia.


Fonte - Instituto do Ceará

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Antônio Bezerra de Menezes




CABEÇA DE FOGÃO: Um cognome para definir a expressão de vida inquietante, corajosa, desbravadora de Antônio Bezerra de Menezes. Nasceu em Quixeramobim(CE) a 21 de fevereiro de 1841. Filho do doutor Manoel Soares da Silva Bezerra e de Maria Teresa de Albuquerque Bezerra, nascida a 13 de agosto de 1818 e falecida às 21 horas de 5 de maio de 1908. Neto pelo lado paterno do tenente-coronel Antônio Bezerra de Menezes e Fabiana de Jesus Maria Bezerra e bisneto do coronel Antonio Bezerra de Souza Menezes e Ana Maria da Costa, da família Antunes. Pelo lado Materno neto do tenente-coronel Manoel Alexandre de Albuquerque Lima, pernambucano, da família Albuquerque Melo, e de sua mulher Maria de Nazaré Bezerra de Menezes.

JORNALISMO: Na juventude participou do movimento abolicionista, em função do qual ingressou no jornalismo. Com Teles Marrocos e Antônio Martins, fundou o jornal " O LIBERTADOR ", em 1881, que alcançou renome na imprensa do Ceará como órgão devotado à causa emancipadora. Em 1884 e 1885 fez publicar no jornal "A CONSTITUIÇÃO" as impressões de viagem empreendida à zona norte do Estado em comissão que lhe fora confiada por Caio Prado, então Presidente da Província. Os trabalhos foram, mais tarde, enfeixados em livro sob o título NOTAS DE VIAGEM AO NORTE DO CEARÁ. Com Antônio Augusto de Vasconcelos, Ferreira do Vale e o médico Guilherme Chambly Studart, fundou "O CEARÁ". Pode-se afirmar sem receio de medo que colaborou em todos os jornais literários publicados em Fortaleza, na sua época. Em 1859 fundou "A ESTRELA" com José Barcelos. Havendo-se aposentado como empregado público, que foi por muitos anos, mudou sua residência para Manaus (AM), onde ocupou o lugar de diretor do Museu e foi redator principal da"PÁTRIA", órgão da colonia cearence naquela cidade.

LITERATURA: Ele entrou de cabeça no mundo literário, sendo essa uma das suas mais significativas contribuições. De volta ao Ceará, continua entregar-se aos estudos de sua predileção pretendendo escrever um livro sobre o Estado que no que abundam mapas , gravuras, etc. Foi membro do Instituto do Ceará(1887)sendo um dos seus doze fundadores, da Academia Cearense de Letras(1894), do Centro Literário de Fortaleza(1894) e foi o primeiro presidente da Sociedade de Ciências Práticas e um dos mais ativos padeiros da Padaria Espiritual(1892) com o nome de guerra de André Camurça. Pela intensa atividade realizada foi considerado como uma das mais impressionantes figuras do Ceará intelectual, apesar de autodidata, pois não o ornava nenhum diploma acadêmico, soube projetar-se, em alto estilo, na vida cultural, cívica e política de sua terra. Bem se disse dele que "nunca uma pessoa trabalhou com maior desinteresse e renúncia de toda e qualquer vantagem em prol do progresso de nossa terra".

ABOLICIONISTA: Abolicionista de convicção, foi um dos mais ardorosos e eficientes defensores da extinção do cativeiro. Fez diversas reuniões na Chácara Salubre, e conta-se que quando os terrenos da Chácara foram vendidos encontraram verdadeiros subterrâneos espalhados pelo local. Ele vendia as jóias da família para libertar negros. E sua maior vaidade encontra-se nos escritos do Ceará ainda hoje é a "Terra da Libertação".

PUBLICAÇÕES: "Algumas histórias do Ceará","Província do Ceará", "Dúvidas Históricas","Sonhos de Moço", livro de poesias, "Lampejos","Três Liras", juntamente com Antônio Dias Martins e Justiniano de Serpa, e"O Ceará e os cearenses", coletânea de artigos vindo à luz em Manaus, onde residiu entre 1896 e 1901 na busca de melhores condições de vida.

HISTÓRIA GERAL E CIENTÍFICA: Jornalista combativo cronista delicado, estudioso das ciências naturais, historiador de profunda acuidade. A história cearense deve-lhe a maior das contribuições. É sem conta o número de suas crônicas, artigos de jornais e de revistas sobre os mais variados assuntos. Historiador penetrante, exato e honesto, grande amante do Ceará, além de estudioso das ciências naturais e inspirado poeta. Foi uma figura notável das letras cearenses. O grande feito das suas atividades mentais apurou-se no domínio da literatura e no das investigações científicas. Patrono da Cadeira número 14 da Sociedade Cearense de Geografia e História e cujo primeiro ocupante foi Alba Valdez, pseudônimo de Maria Rodrigues e que atualmente é ocupada pelo maranhense Mozart Soriano Aderaldo. Da Academia Cearense de Letras, de que é membro fundador, é Patrono da Cadeira número 4, ocupada sucessivamente por João Otávio Lobo, Antônio Furtado Bezerra de Menezes, Raimundo Girão, e na atualidade por José Milton de Vasconcelos Dias. Nominou uma das ruas de Fortaleza e um de seus bairros. Apoiou, juntamente com Álvaro Dias Martins, Antônio Papi Júnior, Guilherme Chambly Studart (mais tarde Barão de Studart),...Rodrigues de Carvalho, Justiniano de Serpa, Martinho Rodrigues de Souza e Raimundo Farias Brito, a criação do Centro Literário em oposição à Padaria Espiritual. Foi também um estudioso profundo de ciências naturais. Poeta primoroso. "ALGUMAS ORIGENS DO CEARÁ" foi o seu último excelente esforço histórico, indispensável aos que estudam a evolução econômico-social do Ceará. Faleceu em Fortaleza(CE) no dia 28 de agosto de 1921.




quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Praça do Ferreira por Raimundo de Menezes



Foto de 1936

A Feira Nova, a futura Praça do Ferreira, a principal da Fortaleza, teve a sua história, que merece ser relembrada.

Boticário Ferreira

Em 1825, chegava de mudança ao Ceará, vindo do Estado do Rio, o boticário Antônio Rodrigues Ferreira. Estabeleceu-se naquele local, concentrando, em pouco, em seu torno, as atenções dos fortalezenses, pois era homem de visão larga e notável simpatia. Sua botica ficou sendo o "rendez-vous” dos políticos da terra, da gente de prol (de destaque). Dado o prestígio granjeado pelos seus dotes pessoais, era, em 1848, eleito vereador e, logo mais, vice-presidente, depois, presidente da Câmara Municipal da Capital, cargo que exerceu, ininterruptamente, pelo largo período de doze anos, trabalhando sempre em prol do desenvolvimento material da cidade, e cujo nome ficou perpetuado na Feira Nova, como homenagem póstuma dos seus contemporâneos, após seu falecimento, em 29 de abril de 1859.


Antônio Rodrigues Ferreira, o boticário Ferreira, foi o político do seu tempo que mais influência exerceu e que maiores benefícios prestou ao aformoseamento da cidadezinha que desabrochava promissora.
Até o seu tempo, a Feira Nova, nome que se lhe aplicou em virtude de ser ali que os comboieiros costumavam expor à venda as mercadorias trazidas do sertão, morria no beco do Cotovelo, formada de uma linha modesta de casas modestas, em cuja extremidade se trifurcava em ruelas pobres.


Dessas, uma, a que ia parar na Lagoa do Garrote, em determinado ponto, um pouco além, possuía, situado no centro da rua, grandioso e ensombrado cajueiro. À sombra dele, ficava a casa do Fagundes, o único açougueiro da terra. Ali matava e ali esquartejava as reges. Relembremos, com emoção, o episódio que o celebrizou, e que já foi contado, com pena de mestre, por Gustavo Barroso.

Ocupava, a esse tempo, o cargo de governador da Provincia, Luís da Mota Féu e Tôrres, homem ríspido e muito jactancioso das funções que exercia.
Costumava ele passear em belo cavalo, todas as manhãs, e aconteceu que, certa vez, ao passar sob a frondosa árvore, seu chapéu de três bicos agaloado e com tope fosse arrancado por um galho.
Apanhe meu chapéu, gritou o governador, para Fagundes que, em mangas de camisa, gozava a fresca, assentado num tamborete. Este não deu ouvidos, imperturbável ficou, imperturbável continuou.
Luís da Mota, mais áspero, deu nova ordem. Inútil o resultado. Fagundes permaneceu impassível.
Irritado, esporeou o cavalo e avançou, resoluto, na direção do açougueiro, que não se intimidou. Era homem afoito e corajoso. Jamais o haviam humilhado. Se o governador lhe pedisse com boas maneiras, com jeito cortês, por favor, ergueria, sem constrangimento. Mas, daquela forma, com grosseria e com imposições, jamais se submeteria. E foi o que aconteceu.
O tom ameaçador de Mota Féu não o demoveu:
Não me apanhas o chapéu, vilão duma figa, pois eu, que ia somente mandar cortar o galho baixo do caijueiro, agora o porei no chão e adeus açougue!
Dali seguiu, exacerbadíssimo, o Governador rumo ao Palácio, que ficava naquela casa envelhecida e escura de sujo, que se erguia, acaçapada, dentro de verdadeira muralha, na rua de Baixo, nas imediações do Mercado de Cereais.
A notícia esparramou-se, veloz como um raio, pela cidade quieta, desacostumada a novas desse jaez. Toda a gente bisbilhotou, assanhada. A novidade era de deixar o fortalezense de boca aberta. Mas o Fagundes enfrentara mesmo o Governador? perguntava-se,incrédulo. Era, não há dúvida, homem peitudo de fato. Já o sabiam, mas não para tanto.
O certo é que, no dia seguinte, cedo, cedinho, mal o sol despertara, os empregados do Governador, armados de machado, ameaçavam derrubar o cajueiro do Fagundes. Esse, munido de longa faca, juntamente com meia dúzia de magarefes, pôs em fuga os emissários de Mota Féu.
A notícia esparramou-se, veloz como um raio, pela cidade quieta, contaram ao Governador o que acontecera. o qual mais irritado ficou, determinando a ida ao local de uma leva de praças de polícia. Nesse ínterim, o afoito Fagundes, que tudo previra, provocou uma espécie de levante: trouxe para a rua 5 açougueiros do Garrote, os flandeiros da rua da Boa Vista, os merceeiros da rua Formosa, os carapinas da rua de Baixo, os ferreiros da rua do Quartel, até os pescadores da Prainha, todos os que tinham uma profissão no lugar. Traziam pistolas e bacamartes. A tropa carregou-os. Então levantaram trincheiras na encruzilhada das três ruas e abriram fogo contra ela, que recuou. Daí o nome das três ruas, perpetuando o episódio: rua do Cajueiro, rua das Trincheiras e rua do Fogo.
E, encerrando narrativa tão emocionante, Gustavo Barroso escreve:

“O governador desistiu de pôr abaixo o cajueiro, a cuja sombra o Fagundes continuou a vender carne à cidade. A vontade dum homem só, não conseguiu vencer a duma população inteira, O capricho dum tirano não conseguiu impor-se a uma gente que ainda tinha vergonha e brio. Defendendo sua liberdade contra a tirania, os antigos habitantes da humilde vila do Forte, como era chamada a nossa Fortaleza, deixaram escrito nas tabuletas de suas ruas um belo exemplo às gerações vindouras.”

Era assim o fortalezense intrépido e desenvolto. Pagava para não brigar, mas, quando na briga, pagava para não sair...

Perto, pertinho, branca de cal, erguia-se a velhíssima igreja do Rosário, e, logo adiante, quase nos fundos, na rua que lhe tomara o nome, hoje Cel. Bezerril, ficava outra árvore, também histórica para o filho da terra. Era o oitizeiro do Rosário, que a cidade inteira conhecia e amava. O oitizeiro-macróbio, como o haviam cognominado, muitos anos depois.
Ali o vimos, nos tempos da nossa meninice e assistimos, contristados, quando a picareta do progresso o prostrou, com o geral protesto de toda uma população.
Foi Gustavo Barroso, quem o cantou em página lapidar:

“Velho oitizeiro, contemporâneo da fundação da minha cidade natal, ninguém te cantou a vida centenária nem a morte breve. Não houve um Afonso Arinos para louvar a tua solenidade verde e triste como a do Buriti Perdido, testemunha silenciosa das bandeiras! Quando nasceste brotando tímido do solo arenoso, a vila do Forte compunha-se duma única rua torcicolosa, emparelhada ao curso do Pajeú. Aqui e ali, dela saía um beco de mocambos e casebres de taipas. A capela do Rosário, caiada de novo, dava-te as costas com desdém. Cresceste. A capela tornou-se igreja e a tua copa chegou ao beiral do seu telhado. Por cima dos cercados e das ateiras, vias para os lados do Garrote a histórica cúpula de verdura do Cajueiro do Fagundes, que o governador Luís da Mota Féu e Tôrres quis pôr abaixo, recuando diante do poviléu assanhado e feroz. E éreis as duas árvores tradicionais da cidade que se ia formando.
O cajueiro, que servia de açougue, morreu de velhice. Tu continuaste a crescer, a deitar raízes, a aumentar a fronde, no meio dos casebres barrigudos e escuros. Viste a displicência do viajante Koster, sentado ao luar numa “roda de calçada” da praça vizinha. Ouviste o taciturno murmurar do governador Sampaio. Avistaste o governador Rubim vendendo apressadamente as alfaias antes de regressar a Portugal. E estremeceste rudes vozes de comando de Conrado Jacó de Niemeyer, depois de vencida a revolução de 1824.
A cidade de Fortaleza foi crescendo contigo, lentamente, sob o sorriso azul do céu, alegre nas invernias, melancólica nas sêcas assassinas. E eras como o pastor no meio do teu rebanho de casas humildes, a cabeleira verde agitada ao vento do Atlântico como uma bandeira.
Oitizeiro velho, conhecias tôda a gente e tôda a gente te conhecia. Devia ser no teu tronco rugoso que o famigerado Padre Verdeixa amarrava o cavalo, quando ia em voz alta insultar, debaixo das sacadas do Palácio,
o Presidente padre José Martiniano de Alencar. É possível que certa noite se tivesse agitado a ramaria àtrepidação do estrondo do bacamarte que matou o major Facundo. Decerto tuas fôlhas mais altas presenciaram por cima dos telhados o enforcamento dos réus no largo à entrada do desaparecido beco do Cotovêlo.
Durante muitos anos, a melhor escola da cidade funcionou na tua vizinhança, em frente do antigo Quartel de Polícia. Escutavas, recolhido, a monótona cantilena dos meninos decorando a cartilha e a tabuada. E, quando os bolos da palmatória estalavam e os lamentos cortavam o ar, não sabias se era o decurião que castigava os alunos vadios, ou se era o delegado que mandava corrigir os escravos fugidos, os bêbedos, os vagabundos, os ladrões ou as rameiras.
A cidade que viste nascer fêz-se moça e tornou-se mulher. Em lugar das barrigudas casas de taipa, alevantaria-se sobrados. O arrôjo dos primeiros arranha-céus de cimento armado espantou a tua altura vigo­rosa. Os automóveis, fonfonantes, reclamavam tua queda, porque lhes estorvavas a velocidade, tu que conhecias uma por uma as velhas traquitanas de magras pilecas, alugadas pelo Golignac, mais velho do que elas. Não houve voz, pedido ou protesto que te salvassem. Condenaram-te à morte. E tu, que perderas a grade protetora, posta pela bondosa Câmara Municipal de 1877, que fôras amputado várias vêzes por estorvares as platibandas dos prédios próximos, desenraizado brutalmente, cortado e recortado em achas, acabaste como lenha oferecida pela nova edilidade às cozinhas da Santa Casa.
Mais nobre e útil do que os que te derrubaram, morreste dando o teu corpo para ferver a sopa dos enfermos e dos pobres.
No século XVIII, o povo revoltava-se para salvar um cajueiro. No século XX, os povos não se revoltam mais por causa duma árvore que viveu com êles. .. Os povos aos poucos perderam a alma.”

Passeio pelo centro, vendo-se a Praça do Ferreira na década de 50/60.
Acervo da família Lonngren Sampaio

Fortaleza de 1858, como eras encantadora, na tua modéstia e na tua simplicidade deliciosamente colonial.
Já tinhas comoventes histórias para contar-nos, nesse tempo. . . E com que esplêndidos episódios sabias tecer as tuas narrativas feitas com o heroismo e com a bravura do teu povo.., da heróica e da brava gente cearense.
Mais tarde, o poeta Paula Nei, teu filho dileto, em sonêto magistral, havia de evocar-te, emocionado, os olhos marejados de lágrimas, debruçado na amurada de um navio, vendo-te, distante, ao embarcar para a Côrte:

Ao longe, em brancas praias, embalada
Fortaleza, a loira desposada
Do sol, dormita à sombra dos palmares.

Fôra naquele 1858 que vira a luz do dia Francisco de Paula Nei, num recanto provinciano de terra nordestina...


Crédito- Astolfo Lima do blog Literatura Real

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