Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Jornal O Povo - 83 anos


Primeiro editorial do O Povo em 7/1/1928

Fundado em 7 de janeiro de 1928 por Demócrito Rocha, em seu primeiro editorial, O Povo defendeu o propósito de um jornal "defender os interesses da sociedade contra as oligarquias dominantes", da época, e capaz de "levar o desenvolvimento ao Ceará".



O nome O Povo foi escolhido pelos próprios fortalezenses. Ao ser lançado e durante muito tempo o slogan de O Povo foi "O jornal das multidões".

 


Em suas 16 páginas iniciais, o jornal trazia artigos da nata da intelectualidade cearense como Rachel de Queiroz, que na época assinava "Rita de Queluz", Antônio Drumond, Filgueiras Lima, Jáder Moreira de Carvalho, Suzana de Alencar Guimarães, Beni Carvalho e outros.

Edição de 1954

Edição de 1956

Na época do Golpe de Estado no Brasil em 1964, o jornal publicou, em 3 de abril:
A paz alcançada. A vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil.
O Povo
Ao longo dos anos, O Povo passou por diferentes linhas editoriais. Instituiu, em 1997, o seu Conselho de Leitores, formado por representantes da sociedade civil, o Conselho se reúne bimestralmente para avaliar, criticar e sugerir pautas. O Povo é também o único jornal do Estado e um dos únicos do Brasil a ter ombudsman. 

Edição de 1957

Prêmios
Prêmios Esso
2007
Prêmio Esso de Jornalismo - Categoria Nacional de Informação Científica, Tecnológica e Ecológica Caderno Especial Mares do Sertão Equipe: Cláudio Ribeiro, Demitri Túlio, Luiz Henrique Campos, Rafael Luis e Fátima Sudário.
2006
Prêmio Esso de Jornalismo - Regional Nordeste - Assassinatos na Força Aérea - Demitri Túlio e Cláudio Ribeiro. O POVO conquistou o 10º Prêmio Esso de sua história com a série de reportagens sobre o duplo assassinato dos soldados C. Fontenele e R. Mendonça, na Base Aérea de Fortaleza. Com isso, o jornal igualou-se ao Jornal do Commercio, de Pernambuco, tornando-se o jornal com mais prêmios Esso do Norte/Nordeste.


Edição de 1966

2005
Prêmio Esso de Jornalismo - Regional Nordeste - Banco Central - O Assalto do Século Equipe: Demitri Túlio, Luiz Henrique Campos, Flávio Pinto, Cláudio Ribeiro, Vanessa Alcântara, Salomão de Castro, Raquel Chaves, Landry Pedrosa, Clóvis Holanda, Gisele Dutra, Dilson Alexandre, Dalviane Pires, Eliomar de Lima e Ciro Câmara.
2005
Prêmio Esso Nacional - Categoria: Criação Gráfica - Caderno especial: Amém - Karol Wojtyla Gil Dicelli Alencar de Sousa e Andréa Araújo.
2002
Prêmio Esso Nacional - Categoria: Criação Gráfica - Caderno especial - Patativa do Assaré Gil Dicelli Alencar de Sousa.
2000
Prêmio Esso de Jornalismo - Regional Nordeste - Arquivo Secreto - Mortes na FAB Demitri Túlio, Dante Accioly, Cláudio Ribeiro e colaboração de Émerson Maranhão e Maurício Lima.
 
 1999

Prêmio Esso de Jornalismo - Regional Nordeste - Caso Campelo - Fátima Sudário, Ariadne Araújo, Claúdio Ribeiro, Plínio Bortolotti, Alessandra Araújo, Rodrigo Almeida e Aletéia Patrícia.
1998
Prêmio Esso de Jornalismo - Regional Nordeste - Caso França - Edvaldo Filho, Demitri Túlio, Giovana de Paula, Silvia Bessa, Ariadne Araújo, Cláudio Ribeiro, Fátima Sudário, Aletéia Patrícia e Leônia Vieira.
1996
Prêmio Esso de Jornalismo - Regional Nordeste - Máfia da Aposentadoria -Lucirene Maciel, Luciano Luque, Luzenor Oliveira, Demitri Túlio, Ariadne Araújo, Alessandra Araújo, Kelly de Castro, Beto Almeida, José Milton Rocha.
1980
Prêmio Esso de Jornalismo - Regional Nordeste - Recém-nascidos são exportados - Luís Sérgio Santos.
1959
Prêmio Esso de Jornalismo - Regional Nordeste - Seca, Açudagem e Piscicultura no Nordeste -J. C. Alencar Araripe.


03 de fevereiro de 1974

Outros prêmios
2007
Prêmio BNB de Jornalismo- mídia impressa - Oferta de Créditos - Márcio Telles e Oswaldo Scaliotti.
2006
Prêmio Tim Lopes de Investigação Jornalística/Andi Documento BR: Histórias de Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas rodovias federais - Felipe Araújo, Cláudio Ribeiro, Demitri Túlio, Luiz Henrique Campos e Fátima Sudário.
Prêmio Wyeth Consumer Healthcare de Jornalismo - Osteoporose: Mais de 15 milhões de portadores no Brasil - Fátima Guimarães.
XVI Prêmio Volvo de Segurança no Trânsito - Caos e Futuro do Transporte Público de Fortaleza -Vanessa Alcântara.
VI Prêmio Denatran de Educação para o Trânsito - Caderno "Trânsito - educar é o melhor caminho" - Fátima Guimarães.
Prêmio BNB de Jornalismo - Oswaldo Scaliotti, Claude Bornel e Dalviane Pires/categoria nacional Evilázio Bezerra/categoria fotografia/nacional
2º Prêmio Tancredo Carvalho de Jornalismo Político - Mídia Impressa - Caso dos dólares na Cueca - Claude Bornel, Clovis Holanda, Daniel Sampaio, Daniella, Daniela Cronemberger, Demitri Túlio, Érico Firmo, Erick Guimarães, Erivaldo Carvalho, Luiz Henrique Campos, Moema Soares e Vicente Gioielli.
Categoria: fotojornalismo com a foto "Banda de Lata do projeto Curumins" Evilázio Bezerra.
Categoria: estudante de comunicação - Giselle Dutra (sobre a participação de parlamentares em discussões e audiências públicas que antecederam o referendo sobre o comércio de armas de fogo no país).
3ª edição do Prêmio Imprensa CRO-CE de Saúde Bucal/categoria: impresso - Caderno especial - Ciência & Sáude - Lucinthya Gomes.
2º Prêmio ANTF de Jornalismo - Regional Norte/Nordeste - Luiz Henrique Campos e Cláudio Ribeiro - O Novo Trem do Nordeste.
Prêmio de Fotojornalismo: Agência Brasileira de Segurança (ABS) Nas alturas trabalhando para o Criador - Evilázio Bezerra
Prêmio Bovespa de Jornalismo: Empresas apostam em transparência - Claude Bornel.
Prêmio CDL 2006 - Categoria: Reportagem -Toda a força do comércio - Adriana Albuquerque, Artumira Dutra, Camille Soares, Claude Bornel, Márcio Teles e Oswaldo Scaliotti, Manoella Monteiro, Marília Cordeiro e Neila Fontenele.
Categoria: Fotojornalismo - Fco Fontenele
2005
Prêmio Tancredo Carvalho de Jornalismo Político - Votação histórica cassa Benevides - Erick Guimarães, Erivaldo Carvalho, Salomão de Castro e Érico Firmo.
Prêmio BNB de Fotojornalismo: No Campo das Flores - Evilázio Bezerra.
Prêmio BNB/categoria estadual Semi-árido: sede de oportunidades -Manoella Monteiro.
Prêmio Massey Ferguson de Jornalismo 2005 - Série: Agronegócios - Manoella Monteiro e Rita Célia Faheina.
Prêmio Ethos de Jornalismo 2005/categoria: Fotojornalismo - Menino e Maracatu Evilázio Bezerra.
4º Prêmio Anote de Jornalismo 2005 (Agência de Notícia Esperança) Conflitos de Terra no Litoral - Luiz Henrique Campos
Prêmio ABS de Fotojornalismo -Mancha de Leite no Porto para simulação de derramamento de óleo -Evilázio Bezerra
Prêmio São José de Jornalismo - categoria jornal impresso Série: Basta abrir a torneira, A energia é uma bênção e Trator para mil e uma utilidades  -Rita Célia Faheina
Prêmio São José de Jornalismo - categoria fotojornalismo: Basta abrir a torneira -Edmar Soares.
Prêmio Imprensa CRO-CE de Saúde Bucal - fotojornalismo Tratamento infantil no Centro de Atendimento Odontológico -Evilázio Bezerra
Concurso Cultural de Fotografia Santos Panasonic -Bons de bola -Evilázio Bezerra.
2004
1º Prêmio Imprensa de Saúde Bucal: A situação da saúde bucal no Estado - Ana Cecília Mesquita.
2003
Prêmio Ayrton Senna série: Saia do Muro - A série de matérias abordou a necessidade dos jovens cearenses participarem de maneira ativa do cotidiano político do Brasil. Valdélio Muniz, Émerson Maranhão, Erick Guimarães, Cristiane Bonfim, Déborah Lima, Rodrigo de Almeida e Roberto Maciel.
Prêmio de Jornalismo Povos do Mar - Sustentabilidade Sócio-ambiental na Zona Costeira do Ceará - Inst. Terramar & Depto. Geografia da UFC Carcinicultura - Comunidades exigem fiscalização - Rita Célia Fahena
3º Prêmio Anote de Jornalismo (Agência de Notícias Esperança) Violência Sexual Infanto-juvenil - Raimundo Madeira e Demitri Túlio
Prêmio Senai Ceará de Fotografia - Fábio Lima
Prêmio BNB de Jornalismo - O Microcrédito como Instrumento de Inclusão Social no Nordeste do Brasil. Cláudio Lima
2002
Prêmio Imprensa Embratel/categoria Regional Série: Pedofilia -Raimundo Madeira, Raquel Chaves, Demitri Túlio, Luiz Henrique Campos, Clarisse Furlani, Cláudio Ribeiro, Ana Ângela Farias, Flávio Pinto, Landry Pedrosa, Moema Soares, Vanessa Alcântara, Rita Célia Faheina, Rogério Gomes, Suzete Nocrato, Verônica Freire e Fátima Guimarães.
Prêmio Imprensa Embratel/menção honrosa Série: Ceará Mirante e Patrimônio -Fátima Sudário, Sílvia Bessa, Ana Mary C. Cavalcante, Benedito Teixeira, Rita Célia Faheina, Clarisse Furlani, Eleuda de Carvalho, Ariadne Araújo, Juliana Matos Brito.
I Prêmio de Fotografia OAB-CE e Meio Ambiente - A forma alternativa de conviver com a seca - Evilázio Bezerra.
Prêmio Nordeste/Transbank de Fotografia -Evilázio Bezerra Chapeleira no horto em Juazeiro e Thiago
III Prêmio Ceará de Jornalismo Sertão Iluminado -Everton Lemos
2001
II Prêmio Ceará de Jornalismo Fim dos Anexos: Direito a Educação de Qualidade Juliana Matos Brito, Vanessa Alcântara, Débora Souto (estagiária) e Demitri Túlio
II Prêmio Ceará de Fotojornalismo - Everton Lemos
Prêmio Anote de Jornalismo (Agência de Notícias Esperança) Alternativas de Convivência no semi-árido -Rita Célia Faheina/Ariadne Araújo Editores: Demitri Túlio/Ana Ângela Farias
II Prêmio Ceará de Jornalismo - A Educação Básica e o Desenvolvimento Sustentável - Categorias: jornalismo impresso e fotojornalismo
2000
Prêmio Ayrton Senna - categoria Editor Ana Márcia Diógenes e equipe de Redação
Prêmio Ministério do Meio Ambiente/Docol de Jornalismo Transposição das Águas do Rio São Francisco: vida para o semi-árido -Ariadne Araújo e Fátima Sudário.
Prêmio Nordeste 2000 de Fotografia Praças do Nordeste - Alcebíades Silva, Cláudio Lima, Evilázio Bezerra.
Prêmio Ceará de Jornalismo - Fotojornalismo 'A importância da água, sua preservação e utilização na vida da população ' -Everton Lemos.
1995
Prêmio Rogaciano Leite/Prêmio Cidade de Fortaleza - Márcia Gurgel.
1989
Prêmio BNB Imprensa Corretagem da Sudam ameaça esvaziar -Finor Luís Carlos de Carvalho.
Prêmio Jáder de Carvalho -Rio Cocó -Roberto Maciel e José Paulo de Araújo.
Concurso de Reportagem Fotográfica: Cidade de Fortaleza - Prêmio Luciano Carneiro Decoração de Natal no Centro - Antônio Carlos Vieira de Sousa
1987
Prêmio BNB de Imprensa: Sobradinho, a fase da crise - Erivelton Sousa
Prêmio Jáder de Carvalho de Direitos Humanos de Fotografia - Destruição de um casebre na orla marítima - Antônio Vieira de Souza.
1983
Prêmio de Jornalismo: Cidade de Fortaleza - Juarez Barroso - Estão Querendo Destruir o Rio Cocó - Inês Aparecida.
Prêmio de Jornalismo Cidade de Fortaleza -Luciano Carneiro - A devastação das Matas do Cocó - Edmundo Souza Lima
1981
Prêmio de Jornalismo Cidade de Fortaleza Juarez Barroso A face das favelas - Márcia Gurgel
Prêmio de Jornalismo Cidade de Fortaleza Fotografia Pescadores reverenciam seu padroeiro - Manuel Cunha
1980
Prêmio Jornalismo Cidade de Fortaleza Paisagem Feita de Solidão - Alcebíades Silva
1975
Prêmio João Brígido - Assis Tavares
Prêmio PMF Juarez Barroso Fortaleza: Pobreza e Fausto de uma Cidade -Ribamar Mesquita.


Prêmio PMF de Fotografia Luciano Carneiro -Mauri Melo

Fonte: O Nordeste, Botões para sempre e pesquisas na internet

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Das antigas - Fez sucesso, namorou uma irapuete




ALGUNS ÍNFIMOS havia traçado para o ano novo. Um deles era vencer um concurso de calouros do Irapuan Lima no Canal 8. Além do desejo de ser cantor, havia tentado também (quando pirralho) ser do júri mirim do programa. Treinava dizer na frente do espelho algumas besteiras e, ao mesmo tempo, beber na boca da garrafa de um Wilson (Ah, que delícia de guaraná!). POR TEMPOS FOI fã de Sílvia Bessa, Cíntia Lima, Danielly Portela e Aleteia Patrícia. Durante sábados sonhou com o dia em que seria julgado por Félix, Tarcísio Tavares, Luis Cruz e Marquinhos... 


MAS ENQUANTO A grande hora não chegava, ia tentando mostrar que era bom de gogó em outros terreiros. Estava no sangue. O avô havia cantado e ganhado certames de rádio-auditório nas jornadas do Fim de Semana da Taba, Noturno Pajeú e integrado o cast de Orquestras de Concertos da Ceará Rádio Clube.MAIS MODESTO que o velho, havia vencido um torneio de cantores promovido pelo time do bairro. 
Na partida entre Ajax do Campo do Pio e Real Madrid, donos da casa, a porrada comeu solta depois que os anfitriões perderam. Um desastre.PRA ELE, POUCO importou o rififi. Sururu. Foi considerado o melhor crooner e levou de prêmio cinco Brahmas (quentes), uma Coca-Cola família, meio frango e uma baciada de sobrecu e moelas. Regozijou. 


Achava que poderia ir mais longe. Chegar ao Irapuan afinado e depois tentar o Chacrinha, Sílvio Santos e BolinhaESTAVA NA DÚVIDA. Interpretaria Abba nos estúdios refrigerados da TV Cidade? The Winner takes It All havia lhe dado o título de melhor da quermesse de Nossa Senhora da Salete. Pelo feito levou pra casa um galeto assado e dois santos óleos vivos (uma galinha pé duro e um carneiro). O CANELAU FOI À loucura quando soltou no inglês britânico (meio Quixeramobim): I don´t wanna talk. About the things we´ve gone through... E emendou no refrão: The winner takes it all/The loser standing small/Beside the victory/ That´s her destiny... Pelo sucesso que fez, recebeu até convite para cantar num baile de 15 anos no Clube dos Fumicultores em Arapiraca. AlagoasCHEGOU O SÁBADO.
Decidiu cantar Aquela Menina e Sua Cadeira de Rodas. Até parecia com Fernando Mendes. Cantarolou também Pare de Tomar a Pílula e encerrou com Chiquitita do Abba. Matou a pau. Apesar de ter ganhado um frango e terem tomado na saída do programa, flertou e namoricou com uma das irapuetes (Xuxa Cearense, Marineide, Hanna Capô de Fusca, sei lá). Tanto sucesso não o levou ao Chacrinha, mas fez dele garoto propaganda das panelas de pressão Ironte, e depois, vendedor da Galeria Brandão nº 2.

Fonte: O Povo (Demitri Túlio)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O dia que Ceará e Fortaleza se uniram



O ano de 1982 foi histórico!
Foi o único dia em que Ceará e Fortaleza estiveram do mesmo lado do campo. As equipes se juntaram para enfrentar o Flamengo, então campeão mundial. E o combinado cearense venceu, por 2 a 0, em noite de Castelão lotado.

Quase 50 mil pessoas foram ao estádio Castelão para ver o combinado de Ceará e Fortaleza vencer o todo-poderoso Flamengo, então campeão mundial, dos craques Zico e Júnior

O jogo foi numa quinta-feira à noite, 2 de setembro de 1982. Às 21h30min, a bola rolou para o combinado de Ceará e Fortaleza enfrentar e vencer o todo-poderoso Flamengo de Zico, campeão mundial, por 2 a 0. Em promoção da Federação Cearense de Futebol (FCF), os melhores jogadores dos dois principais clubes do Estado se reuniram para este amistoso com pinta de clássico do Campeonato Brasileiro. "O Flamengo era considerado o melhor time do Brasil. Por isso, a gente se sentiu muito motivado", conta Josué, ponta-direita na partida histórica e atualmente técnico do Tiradentes. 

E diferente do que poderia se imaginar atualmente, alvinegros e tricolores frequentaram a mesma arquibancada e, juntos, vibraram pelo mesmo time. União bem distante nos dias de hoje, quando os confrontos espantam os torcedores que não fazem parte das torcidas organizadas. A tranquilidade na época era tão grande que até ônibus extras foram disponibilizados naquela noite. Um total de 126 para o transporte do público. 

O presidente da comissão de arbitragem da FCF e árbitro no amistoso, Leandro Serpa, lembra que pouco se via manifestações de violência nos estádios. "O pessoal caminhava de braços dados na rua". Naquela partida, até em campo, os jogadores se respeitaram. "Foi muito tranquilo apitar. No final, ninguém reclamou", ressalta Serpa. O ex-meia do Flamengo e técnico do time master do Mengão, Adílio, relembra que foi um jogo de muita festa. "Fomos tratados com muito carinho. Não lembro de ter visto nenhum resquício de violência, nem dentro nem fora de campo". 

A lembrança não muda quando o preparador de goleiros do Fortaleza, Salvino, conta como foi a chegada dos torcedores ao jogo. "Foram torcedores por causa da gente. Mas muitos para ver o Flamengo. Todos torcendo em paz". O coronel Joseneas Barroso, presidente da FCF à época, também destaca o clima de tranquilidade e a união das duas torcidas. "Não teve incidente. Nada dessas coisas de confusão, típicas de hoje. As duas torcidas se respeitavam". 

(Foto: Evilázio Bezerra/Fotoreprodução Leocácio Ferreira)

Hoje, quase 29 anos após esta partida histórica, a realidade nos estádios do futebol cearense é bem outra. Seja em Clássico-Rei ou em jogos de menor porte, a violência entre torcedores se tornou ação corriqueira. Atitudes que poderiam ser abandonadas no futebol. "Para se ter ideia, tinha muita criança e mulher no estádio. As pessoas iam pra torcer. Hoje, a gente vê eles (torcedores) marcando briga até pela Internet", finalizou Josué.

O Flamengo começou melhor e teve três chances claras de marcar antes de sofrer o primeiro gol. Mas, aos poucos, o time cearense começou a se impor e dominou as ações ofensivas. "Sabíamos que o Flamengo vinha de uma maratona de jogos, então aproveitamos nosso preparo físico", conta Salvino.

O primeiro gol saiu dos pés de Ademir Patrício, batendo forte na saída de Cantarelli após belo passe de Zé Eduardo, aos 14 minutos do primeiro. O segundo gol veio aos 32 minutos da etapa final com Adílton, após passe de Alves. "Foi um jogo importante para a gente. O Flamengo era o melhor do mundo", garante Josué.

No final, Zico admitiu que os cearenses jogaram melhor. "Não fomos bem. O time deles se saiu bem melhor". Leandro Serpa, árbitro da partida, lembra bem. "Eu diria que fiquei surpreso. O Flamengo, que era campeão do mundo, admitiu a derrota".

AMISTOSO

COMBINADO
2 - Lulinha (Salvino); João Carlos, Lula, Pedro Basílio e Clésio; Alves, Nelson (Jorge Luís Albuquerque) e Zé Eduardo; Geraldino Saravá (Josué), Ademir Patrício (Assis Paraíba) e Ramon (Adílton). Técnicos: Sérgio Rêdes e Moésio Gomes

FLAMENGO
0 - Cantarelli; Antunes, Mazinho, Mozer (Nunes) e Júnior (Ademar); Andrade (Pompéia), Adílio e Zico; Lico, Tita e Victor. Técnico: Paulo César Carpegianni 
Local: Estádio Castelão 

Data: 2/9/1982

Horário: 21h30min

Árbitro: Leandro Serpa

Assistentes: Luiz Vieira Vila Nova e Emanuel Gurgel 
Renda: Cr$ 19.002.900

Público: 46.680 pagantes

Gols: Ademir Patrício (14min 1ºT) e Adílton (32min 2ºT), para o combinado Ceará/Fortaleza

Cartão amarelo: Mazinho (Flamengo)


QUEM ERA QUEM
Do elenco que disputou o amistoso, eram oito jogadores do Ceará e oito do Fortaleza. Moésio Gomes (Fortaleza) e Sérgio Rêdes (Ceará), hoje colunista do O POVO, comandaram o time cearense.

CEARÁ 
Lulinha
João Carlos
Lula
Alves
Jorge Luís Albuquerque
Josué
Ademir Patrício
Ramon

FORTALEZA
Salvino
Pedro Basílio
Clésio
Nelson
Zé Eduardo
Geraldino Saravá
Assis Paraíba
Adílton

Logo após o amistoso com o Flamengo, a FCF pensou em trazer o Vasco da Gama. Mas não deu. Contudo, Joseneas Barroso relembra que quase trouxe a seleção russa. "Eles estavam jogando na América do Sul e só não vieram por falta de datas". 
- O Flamengo acabara de vencer o Fluminense pelo Estadual do Rio, no domingo, dia 29 de agosto, com três gols no primeiro tempo. Um torcedor tricolor invadiu o campo e pediu piedade.

- Nos anos 50, o Flamengo já havia enfrentado duas vezes um combinado cearense. Em 14 de junho de 1959, 3x1 contra o mistão de Fortaleza e América. No dia 17, goleada por 6x0 no Combinado de Nacional, Calouros do Ar, Ceará, Ferroviário e Usina Ceará.

- O Rubro-Negro aproveitou para acertar o empréstimo do meia Leonino Viegas, então com 20 anos.






Fonte: Memória do futebol cearense


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Memória do futebol cearense - Times operários



[cearense1938g.jpg]
Time do Ferroviário que disputou seu primeiro Campeonato Cearense em 1938
Em pé: José Severiano Almeida (diretor), Oscar Carioca, Procópio, Adelzirio, Dudu, Bitonho, Zeca Pinto (atacantes), Valdemar Caracas (treinador) e Alberto Gaspar de Oliveira (diretor); Agachados: Baiano, Zimba, Boinha (médios), Zé Felix e Popó (zagueiros); Sentados: Gumercindo e Puxa-faca (goleiros)
.


Na década de 1930, surgiram os primeiros times fabris de Fortaleza, tais como: Sem Rival Sport Club, Graphico Esporte Clube, Estrela do Mar, Nacional, Tramways, Volante e o Ferroviário.

Dentre os times mencionados acima o Ferroviário foi o que obteve mais sucesso no campeonato cearense e será enfocado em outra oportunidade. 

Nacional Atlético Clube

O time era mantido pelos trabalhadores dos Correios e Telégrafos, e foi fundado em 1942, ficou conhecido como equipe esmeraldina em razão de seu uniforme verde. Não guarda nenhuma ligação com o Nacional que existiu na década de 20 no futebol cearense. O time participou de 15 edições da competição entre os anos de 1950 e 1966 mas nunca passou de figurante. Entre 54 e 59 ostentou o indigesto jejum de 47 jogos sem vitórias (não disputou o campeonato de 57). Foi extinto em 1967.

Sem Rival Sport Club

Organizado pelos associados da Sociedade Fênix Caxeiral, associação mutualista que congregava os caixeiros cearenses e possuía espaço notório na sociedade local. Disputou somente o campeonato cearense de 1931 e no ano seguinte encerrou suas atividades.

Volante Atlético Clube

Era o time dos motoristas de praça, e foi eliminado do único campeonato que disputou em 1950 por não pagar taxas a Federação.

Estrela do Mar Foot-ball Club

Time dos marinheiros do cais do porto, que surgiu em 1938, tinha as cores verde e amarelo, e seu presidente era Fernando Nunes Carneiro, segundo Nirez (História do Futebol Cearense). Também, teve vida curta, disputou apenas os campeonatos de 1937, 38 e 39, ano em que foi vice-campeão.
Neste ano o campeão foi o Ceará Sporting Club, invicto. 
O Estrela do Mar juntamente com o Ferroviário protagonizaram a realização do primeiro jogo noturno do estado do Ceará, que ocorreu em 28 de setembro de 1939, O jornal O Povo do dia seguinte relatou o jogo assim:



Campo do Prado


“Com a imponentíssima noitada de ontem, no Campo do Prado (atual CEFET), estão de parabéns a A.D.C., o Ferroviário, o Estrela do Mar e sobretudo o nosso público desportivo, que teve ensejo de assistir à partida máxima do ano, numa atmosfera de absoluta ordem e extraordinária vibração.
A iluminação do campo, conforme prevíramos excedeu a todas as expectativas. Os refletores jorravam luz em abundância sobre a velha praça de esportes, permitindo que a assistência observasse os mínimos detalhes da pugna com absoluta nitidez. Não houve uma voz discordante sobre o êxito do empreendimento.”

Em tempo, o placar foi de Ferroviário 2 x 1 Marítimos(Estrela do Mar) 



 Tramways Sport Club


O Tramways era um time formado pelos funcionários da Ceará Tramway Light Co., companhia que fornecia eletricidade e mantinha linhas de bonde e ônibus da capital do Ceará. Sua primeira participação foi no Estadual em 1939 organizado pela ADC – Associação de Desportos Cearenses. O Tramways foi o primeiro time organizado a partir de operários que ganhou o título de campeão cearense de futebol (1940), no ano seguinte a sua fundação.
Sobre o título de 1940, conquistado pelo Tramways, pode-se dizer que sua campanha foi espetacular. Os jogadores da companhia de Luz e Bondes da cidade desfizeram a má impressão da primeira temporada, na qual amargaram sete derrotas em 11 jogos. Conquistaram o título de 40 como campeão invicto, faltando cumprir ainda três jogos já era campeão, razão pela qual o término do torneio foi antecipado.
Em 1941 encerrou as atividades por não ter condições de manter o pagamento dos jogadores.



Campanha de 1940

23.05.1940
TRAMWAYS 5-2 PEÑAROL, em Fortaleza
16.06.1940
TRAMWAYS 2-1 FORTALEZA, em Fortaleza
29.06.1940
TRAMWAYS 1-3 AMÉRICA, em Fortaleza
04.07.1940
TRAMWAYS 4-1 MAGUARI, em Fortaleza
04.08.1940
TRAMWAYS 3-1 CEARÁ, em Fortaleza
25.08.1940
TRAMWAYS 0-0 FERROVIÁRIO, em Fortaleza
05.09.1940
TRAMWAYS 1-1 MAGUARI, em Fortaleza
19.09.1940
TRAMWAYS 4-1 AMÉRICA, em Fortaleza
29.09.1940
TRAMWAYS 4-3 FORTALEZA, em Fortaleza
06.10.1940
TRAMWAYS 3-0 FERROVIÁRIO, em Fortaleza
27.10.1940
TRAMWAYS 3-1 CEARÁ, em Fortaleza
02.11.1940
TRAMWAYS 5-3 FERROVIÁRIO, em Fortaleza
05.01.41
TRAMWAYS 2-0 FORTALEZA, em Fortaleza
23.01.41
TRAMWAYS 3-0 AMÉRICA, em Fortaleza
30.01.41
TRAMWAYS 2-0 MAGUARI, em Fortaleza

15 JOGOS
12 VITÓRIAS
02 EMPATES
01 DERROTA
42 GOLS MARCADOS
17 GOLS SOFRIDOS
Tramway Campeão Cearense de 1940.


Usina Ceará Atlético Clube


Esta equipe foi fundada em 01 de setembro de 1949, pelos funcionários da Indústria Textil Siqueira Gurgel Companhia Limitada, que ficava no Bairro de Otávio Bonfim, Fortaleza/CE, tendo como cores oficiais o azul e branco. A sua função inicial era promover atividades desportivas entre seus funcionários, em especial o futebol.
A equipe disputou o Campeonato Cearense entre os anos de 1953 e 1964 sempre com belas campanhas. Por pouco não conquistou um título - foi vice-campeão em quatro ocasiões.
No ano de 1957, o Ceará e o Usina, vencedores dos turnos, partem para uma melhor de 3 com o Ceará vencendo a 1ª. Na semana que antecede o 2º jogo, o Ceará pede adiamento da partida, alegando que 9 atletas pegaram a famosa (na época) gripe asiática. Com a negativa da FCD, diante os boatos que o interesse era recuperar 3 atletas contundidos, o Ceará teve que entrar em campo sem os "asiáticos", contando apenas com Bira e o goleiro Ivan de atacante. Resultado, Usina 1x0. Na 3ª e decisiva partida, vence o Ceará com o famoso gol de mão de Honorato.
Em 1962, o campeonato teve 3 turnos. Os vencedores foram pela ordem Ceará, Usina e Fortaleza. No triangular decisivo o Usina estreiou com o Ceará, 1x1, depois jogou com o Fortaleza, 2x2. O 3º jogo não acabou por causa de 8 expulsões, 7 do Fortaleza. O placar acusava 3x1 Ceará.
A derrocada do Usina deu-se com a chegada do Regime Militar. O dono da fábrica, o então deputado federal Moyses Pimentel, se opôs aos militares e teve o mandato cassado no ano de 1965. Com a perseguição, o departamento de futebol do Time Fabril foi desfeito.
Entre as principais conquistas do clube no futebol, estão:

Campeão da Copa Suburbana em 1950
Campeão da Torneio Companhia Johnsen em 1951
Campeão da 2ª divisão em 1951
Campeão do Torneio Início em 1954
Campeão do Torneio Quadrangular disputado com América, Fortaleza e Ceará em 1955
Vice-campeão cearense em 1961 e 1962






Crédito: Juvando  

sábado, 23 de julho de 2011

Das antigas - Dr. Smith no Mucuripe




Clique para AmpliarMemória afetiva é goiaba doce. É rua onde a gente foi miúdo e achava que ela enorme, de areia e calçamento, de bicas, fuscas e fuxicos. De amanheceres com cheiro de café coado se intrometendo de casa em casa e galinhas de alarmar o ovo. Do homem da carroça d´água e do caboclo que gritava “ó o paulisssta!”
É tudo que se costura com o anteontem. Para uns, nostalgia-alfinete de um fim de domingo. Pra outros, tempo que foi bom e pronto. E fomos feitos de quase tudo que se passou na esquina de engatar cachorros ou na sala onde havia um altar, bibelôs e, raros, os que possuíam um aparelho de TV em preto e branco.




Havia um grupo, meninos das décadas de 60 e 70, que até ouviu a Banda passar. Mas eram crianças demais e estavam sentados nos mosaicos assistindo seriados americanos dos Estados Unidos. De tropa, antes dos rachinhas, em frente a televisão de válvulas de esquentar. Olhos grelados. Copo de café quente e pão de mergulhar nas tardes que anoiteciam.

Pois não sumiram das lembranças deles, até hoje, os ontens com o Túnel do Tempo, Terra de Gigantes, Viagem ao Fundo do Mar, Jeanne é um Gênio, Durango Kid, Rin-tin-tin, Lassie, Besouro Verde, A Feiticeira, Planeta dos Macacos, Perdidos no Espaço...


Tão assim que não conseguiram deixar de espalhar sobre o dia em que viram de perto Dr. Smith vestido de Jonathan Harris. Ao vivo, em cores, sem bombril na antena e chuviscos. Ele de roupinha simples, até furada. Um longilíneo homem dado, passageiro comum do navio Americana que aportou no Mucuripe, em 1995.
 
Foi assim: o menino Rinaldo, alucinado pela família Robinson, quis saber do amigo Carlinhos como ele havia faturado um autógrafo do Dr. Smith. O amável vilão e seu robô Lata de Sardinha. “Perigo, perigo...”. E não acreditou quando contaram que Jonathan Harris, já nostálgico de Perdidos no Espaço, vez ou outra descia de uma embarcação no Mucuripe e ia ter no Mercado Central e Beira-Mar.
 
Correu doido e passou a vigiar, através de um vizinho, prático do Porto, qualquer vapor que trouxesse o gringo da América do Norte. Até que um dia, Dr. Smith apareceu numa lista de passageiros e, longe de ser flaite, aceitou receber quatro fãs, um tradutor e uma filmadora de fita VHS.

E foi uma fatia deliciosa de entardecer em conversas, paparicos e miolo de pote. Prosa inesquecível, afinal Dr. Smith andou muito nas casas de quase todo mundo do Porangabussu e Fortaleza toda. O cientista mau (mas nem tanto) era da sala de almoçar, merendar e jantar, onde também se atavam redes e se assistia tevê comendo bolo sol e tomando Coca-Cola Família.
 
Dr. Smith gostou tanto daquele encontro com os meninos que deixou endereço, trocou cartas, mandou fotos autografadas e deu notícias do professor John Robinson, da mãe Maureen Robinson, do major Donald West, da aprumadinha Judy, da filha Penny e de Will Robinson...
 
Os meninos estão hoje pra lá dos 40. Vez em quando, ainda são meninos e recordam do clubinho Vídeo Tempo, era do VHS difícil. Jonathan Harris, o amado vilão Doutor Zachary Smith, se foi de vez em 2002 aos 87 anos.



Jonathan Harris conta nessa entrevista como foi o seu encontro com os jovens fãs cearenses:







Créditos: O Povo (Demitri Túlio) e Youtube

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Das antigas - Dona Concebida e o Fenemê




Essa história que hora vos conto é baseada em fatos reais. Uma ficção nascida de um factual. Um devaneio de uma senhora chamada, aqui, por dona Concebida. Não que esse seja o nome de pai e mãe. Rebatizo-a, com a permissão de Deus, para que a família não se irrite, caso se identifique, com a narração daqui pra frente. Não é potoca, miolo de pote ou conversa pra boi dormir. Não. Também não é nenhum fato escabroso. Pelo menos na minha opinião. É uma história com boa pitada de fermento aqui e acolá. 


Falo assim porque fui testemunha de algumas coisas. Como no dia em que dona Concebida só faltou morrer de remorso quando o pai morreu. Um militar aposentado da Marinha. Suboficial Virgílio, nome de guerra, que morreu aos 89 anos. Dormente de uma banda do corpo que o impedia de falar com fluência e ter tato das coisas. A parte direita de seu 1 metro e oitenta de homem não valia nada desde que ficou viúvo. Desgosto e muito banzo. Ausência da velha companheira e ruindade da filha única. Concebida. Menina que virou moça, adolescente, jovem, coroa e terminou moça velha. Descasada e vitalina. Frustada por ter o ventre árido, não por opção ou falta de desejo. Amarga por não ter arranjado o fulano dela e ter passado boa parte da vida cuidando dos pais ou atrás de uma máquina de costura. 
Ficou aperreada no dia da morte de Seu Virgílio. Saiu correndo pela rua Natal, enlouquecida da vida. Queria, já que judiou do velho enquanto vivo, dar-lhe um enterro de chefe de Estado. Com pompas e outras frescuras. Custaria os olhos da cara e noites dobradas à beira da Singer de pedal e correia. Pensou em contratar um dos dois rabecões do Museu do Automóvel do Ceará. O 1930 ou o 1932. De madeira, trabalhada, penas de pavão e janelinhas enfeitadas com cortinas roxas. Tentou. Encheu o saco mas não conseguiu. Não deixou por menos. 
Lembrou então dos carnavalescos carros do Corpo de Bombeiros. Se achava no direito de também usufruir deles. Eram públicos. Mantidos com impostos também seus. Porque não usá-los? Recordou do enterro de Francisco Alves, Elis Regina, Tancredo Neves e de coisas banais como desfile de Miss, seleção brasileira ou campeão de fórmula 1. Queria porque queria que o cortejo chamasse atenção mais do que o habitual. Imaginem. Um caminhão vermelho, sirene troando no mundo e uma guarda de seis bombeiros. De capacetes e outros penduricalhos. Não teria cristão que não soubesse que ali ia um morto. E que morto. Poderia ser até um ex-governador ou deputado da ativa. Daqueles populistas que a morte termina os transformando em heróis. Mas foi besteira sonhar tanto. Ou melhor, se encher tanto de direito. Terminou quase presa no quartel. Vizinho ao Liceu. 


Corpo de bombeiros - Foto de 1934

Enxotada, voltou pra casa e resolveu fazer greve. Enterro de pobre, não. Não mesmo. Considerava rabo de cabra todas as funerárias de Fortaleza. Nada de Veraneio, Caravan ou outros ''letrecas''. Queria um negócio bacana. Ajeitado. Se não fosse assim, não haveria enterro. Seu Virgílio ficaria ali. Nem que desse bicho. Fedor na rua, quarteirão ou no bairro inteiro. Na bodega de Seu Barateiro a palestra não era outra. O caso de dona Concebida e do pai morto era motivo para baforadas de Arizona sem filtros e ''goipadas'' de cana com limão. Já tinha aumentado mais do que era. Especulava-se, por exemplo, que o pai teria sido sua grande paixão durante a juventude. Daí a falta de homem. Por isso não tinha conseguido arranjar casamento. Que dormia ao lado do morto e fazia coisas com ele. Que isso, que aquilo e que aquilo outro. 





Pois muito bem. Depois de cinco dias de impasse, podridão no mundo, uma alma caridosa apareceu para tentar resolver o problema. Apareceu e ofereceu um caminhão FNM, ou fenemê, para conduzir o defunto. De graça. Não cobraria nada desde que o enterro fosse feito de imediato. Ninguém tava agüentando. Ela se agradou da história do defunto ser conduzido em um carro grande. Mas só aceitou se o cortejo fosse longo e cada morador da rua oferecesse uma coroa de rosas para o infeliz. Com dizeres e tudo mais. Lembranças, beijos e abraços escritos em tiras de cetim. Podia ser vagabundo, roxo ou amarelo de preferência. Sem saída, o bairro aceitou. E lá foram eles. Os dois, Concebida e o pai morto. Num cortejo que acabou virando manchete de todos os jornais, rádios e emissoras de tevê. Não tinha canto de rua que coubesse mais gente. Curiosos. Mais pessoas que a multidão que se apertou na José Bastos para ver de perto João Paulo II, em 1980.

Fonte - O Povo (Demitri Túlio)

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