Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Fortaleza em vídeos II



Luiz Vieira recebendo o prefeito de Fortaleza na sua casa do Sítio Siqueira em 1951



O Casarão dos Vieiras na rua Rufino de Alencar



Festa de Aniversário em 1950 no Casarão dos Vieiras na rua Rufino de Alencar esquina com rua Pedro Angelo



O clã de Luiz Vieira na praia do Ideal em 1950





Esses vídeos são do acervo pessoal do amigo Jaime Luiz Vieira


Veja a parte I AQUI


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

MAGUARI ESPORTE CLUBE II



A história de uma época e de várias gerações da nossa cidade passou pela sede antiga do querido Sport Club Maguary. Lá, vidas foram vividas e muitas modificadas, através dos relacionamentos sociais e até mesmo de namoros que se transformaram em casamentos, criando as bases para a existência de muitas famílias da atual sociedade cearense.

No Maguary os jovens frequentavam as memoráveis ‘tertúlias’ e os ‘bailes de carnaval’, além de praticarem esportes como a natação, o tênis, o basquete e especialmente o futebol.


Arquivo Nirez

Acervo de Juvando

O chamado “Clube dos Príncipes” foi uma das mais tradicionais e simpáticas agremiações diversionais de Fortaleza, tendo sido fundado em 24 de junho de 1924, tendo completado exatos 87 anos ano passado. O clube iniciou suas atividades como ‘clube de futebol’ no antigo Alagadiço, hoje bairro São Gerardo e proporcionou momentos inesquecíveis de alegria e emoção ao competir com as principais entidades desportivas da época: Ceará, Fortaleza, Ferroviário e América.



Acervo pessoal de Clóvis Maciel

O Maguary foi quatro vezes campeão cearense na primeira divisão do futebol, além de sete vezes vice-campeão no Estado (1928, 1930, 1932, 1935, 1937, 1938 e 1945), mantendo uma marca invejável: 4º lugar do ‘Ranking do Futebol Cearense’ de todos os tempos (considerando campeões e vices, segundo o jornal Folha de São Paulo, edição de 23-12-2007, página D6 – Esporte).
O Maguary nasceu para ser campeão! No antigo Campo do Prado (1929 e 1936), no Estádio Presidente Vargas (bi-campeão 1943 e 1944) e no Estádio Plácido Castelo, tendo se consagrado como o ‘primeiro campeão do Castelão’ quando venceu do América em 02-12-1973, na final do ‘Torneio Breno Vitoriano’, competição organizada para comemorar a inauguração do Gigante da Boa Vista, que será uma das sedes da Copa de 2014.
A ‘Equipe Cintanegrina’, como também é chamada, foi uma das fundadoras da atual Federação Cearense de Futebol, ainda na fase da ADC (Associação Desportiva Cearense) quando foi requerido o registro legal da Instituição (29-01-1936) que funcionava na informalidade, tudo conforme consta das páginas 115/116 do livro “Futebol Cearense: Um século de história – 1902 a 2002” de autoria do pesquisador e escritor Alberto Damasceno.


Acervo pessoal de Clóvis Maciel

O Maguary chegou a ter a segunda torcida cearense e, além do time de futebol, era um Clube Social com forte presença na nossa sociedade. Sua marca está alicerçada na emoção, no carisma e na paixão que suas cores sempre fermentaram. Sócrates, o grande filósofo grego, dizia que “só morremos quando somos esquecidos”, razão porque o Maguary nunca morreu nos corações e mentes de tantos que ajudaram a construir a sua glória ou dela tomaram conhecimento, através de matérias de jornais, revistas, livros, artigos da internet e programas de rádio ou TV.
Sua segunda sede localizava-se no então bucólico e aristocrático bairro do Benfica, na Avenida Visconde de Cauipe, Nº 2081, hoje Avenida da Universidade. Foi quando Waldir Diogo de Siqueira, Mário de Alencar Gadelha, Egberto de Paula Rodrigues, aliados a um grupo de amigos, transformaram o antigo clube numa agremiação elegante, com sua nova sede social inaugurada em 20 de abril de 1946, erigida em uma quadra localizada na Rua Barão do Rio Branco, Nº 2955.
A construção dessa simpática e aconchegante sede foi assinada pelo famoso arquiteto Sylvio Jaguaribe Ekman, o mesmo construtor do Ideal, outro Clube tradicional de Fortaleza. Ali, no Maguary de outrora, praticava-se o esporte amador e ocorriam atividades festivas que marcaram a vida da cidade, principalmente nos alegres ‘Anos Dourados’, na década de 50, com seu entusiasmo prolongando-se pelos anos seguintes. Muitas de suas animadas festas carnavalescas terminavam às dez horas da manhã seguinte, acontecimentos inusitados para a então pequena Fortaleza com seus 213 mil habitantes.
Entre outros nomes que marcaram aqueles tempos de pujança social do clube ‘cintanegrino’, como carinhosamente era também chamado o Maguary, são sempre lembrados: Raimundo de Alencar Pinto, Lauro Maciel, Remo Figueiredo, Mário de Alencar Araripe, Américo Barreira, Lúcio Bonfim, Afonso Deusimar, Mauro Jander Braga de Sousa, Francisco Irajá Vasconcelos, Mauro Botelho, Walfrido Monteiro, o jornalista João Clímaco Bezerra; a família Mesquita, representada por Aldo Mesquita, Kerginaldo Mesquita, Valdo Mesquita e Heraldo Mesquita; Waldir Diogo de Siqueira Filho, Vicente de Souza e muitos outros.
Entre a sua brilhante equipe de tenistas, contava o clube com os irmãos Reno Figueiredo e Viena Maria Figueiredo Ponce de Leão, filhos do diretor Narcílio Bezerra Figueiredo, campeões brasileiros de tênis, o primeiro chegou a conquistar a Taça Davis. Viena Ponce de Leão é a esposa de Antônio Ponce de Leão Filho, outro baluarte deste esporte. Outros nomes destacaram-se nas quadras do Maguary: Henrique de Oliveira; os filhos do diretor Luciano Granjeiro, Lício e Lucy Granjeiro; Stélio Ribeiro do Vale e seu irmão Stênio Ribeiro do Vale.
Eventos de toda ordem moviam a cidade para o endereço do Maguary. Médicos, jornalistas, empresários, músicos, advogados, desportistas, engenheiros, artistas do teatro, rádio e TV, além de autoridades de todos os poderes, lá se encontravam para discutir assuntos profissionais, enquanto suas famílias desfrutavam o saudável ambiente de lazer.
Comemorações memoráveis ocorreram no Maguary. O mundo da televisão e do rádio para lá se dirigia nos momentos de descanso, quando era avaliada a rica experiência da época de ouro da radiofonia cearense e especialmente os primeiros passos da televisão no estado, representado pela iniciativa do querido e saudoso Canal 2, emissora do Grupo Associados.


Emília Correia Lima, Miss Maguary - Crédito da foto

Acervo de Juvando


Falando em televisão Associada, importante lembrar um momento mágico que até hoje enche de orgulho o povo cearense. A Miss Maguary Emília Correia Lima, eleita em 1955, foi também eleita ‘Miss Ceará’ e posteriormente ‘Miss Brasil’, a segunda escolhida em concurso nacional promovido pelos Diários Associados, recebendo a faixa da baiana Martha Rocha. O ‘Clube dos Príncipes’, como sempre foi chamado, ganhou, pois, sua ‘princesa’, eleita em concurso de beleza nacional e que representou a mulher brasileira, destacando-se no concurso de beleza internacional em Long Beach, Califórnia (EUA), por seus traços clássicos e postura discreta.


Time do Maguary - Equipe cintanegrina, devido a faixa preta gravada na camisa branca, 
na altura do peito Foto: Diário do Nordeste

Acervo de Juvando


O Sport Club Maguary, fundado em 24-06-1924, voltou ao futebol profissional em 2009, como clube-empresa. Tem uma parceria de co-gestão com o site MTDF (Meu Time de Futebol) e voltará a ‘mandar seus jogos’ no novo Estádio Presidente Vargas (PV), recém reformado pela Prefeitura de Fortaleza.
A volta do Maguary ao querido PV, agora muito mais bonito, confortável e seguro, representa o regresso ao mesmo local onde tinha se sagrado bi-campeão cearense de 1943/44, além do vice-campeonato de 1945. Cabe relembrar que dois outros títulos da 1ª Divisão foram também conquistados pelo ‘Clube dos Príncipes’, sendo estes no vizinho ‘Campo do Prado’ nos anos de 1929 e 1936.

 

O Maguary, no ano passado, já conseguiu a conquista de várias vitórias fora de campo, senão vejamos:
a) Parceria de Co-Gestão com o Meu Time de Futebol (MTDF), site que já chegou aos 100 mil cadastrados e que faz grande divulgação nacional do Clube dos Príncipes, inclusive na imprensa;
b) Inscrições para disputar as quatro categorias de base do futebol brasileiro (sub-13/sub-17 e sub-15/sub-20), sendo as duas iniciais no primeiro semestre e as demais no segundo;
c) ‘Mando de Campo’ das partidas profissionais do Maguary transferido novamente (26/05/2011) para o Estádio Municipal Presidente Vargas (PV) em Fortaleza, onde o ‘Clube dos Príncipes’ entrou para a história daquela praça desportiva, ao sagrar-se o primeiro ‘bi-campeão’ em 1943/44;
d) Retorno ao clube do ex-atacante ‘Mirandinha’, que chegou à seleção brasileira, depois de surgir no Maguary para o futebol brasileiro e internacional. Ele exercerá a função de ‘Coordenador Técnico’ do Maguary/MTDF, para juntos levarmos novamente a ‘Equipe Cintanegrina’ para a 1ª Divisão, onde é o seu lugar.

Uma tertúlia no Maguary - Crédito da foto

O compromisso dos que fazem o Maguary de hoje, é cuidar do clube e sua história, preservando este verdadeiro patrimônio imaterial do povo cearense para as futuras gerações, bem como lutando para ver preservada, através de tombamento municipal, a antiga e bela sede do Maguary, localizada na Rua Barão do Rio Branco, Nº 2955, razão pela qual o Clube entrou com pedido de tombamento administrativo junto ao Município de Fortaleza, ação protocolada em 11 de Julho de 2009.


Maguary e Ceará durante o Torneio - Início de 1927 - Arquivo O Povo


Cabe destacar que a antiga sede foi inaugurada em 20 de abril de 1946 e até hoje mantém suas características iniciais. Além do seu inestimável valor histórico, suas linhas arquitetônicas demonstram, ainda, um grande valor artístico, obra do arquiteto Sylvio Jaguaribe Ekman, o mesmo construtor do Ideal Clube, que segundo informação contou com o apoio de outro respeitado arquiteto da época, no caso José Barros Maia, o Mainha.



J.R. Aguiar Júnior

Importante

A antiga sede do Sport Club Maguary foi tombada no dia 10 de janeiro de 2012. De acordo com o parecer elaborado pelo arquiteto Romeu Duarte Júnior, representante da Universidade Federal do Ceará (UFC), o prédio é, “em conjunto com os demais clubes da Capital (Comercial, Diários, Iate, Ideal, Iracema, Líbano, Massapeense, Náutico), (...) um lugar-referência da mundanidade fortalezense, agregando à sua imagem arquitetônica (...) valores simbólicos e afetivos, ampliados ainda pela sua contribuição à história dos equipamentos do tipo em nossa cidade”.



Leia a primeira parte AQUI

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Fortaleza em vídeos


Fortaleza em 1920

Vídeo de Robério

"Este filme foi produzido para as comemorações do Centenário da Independência do Brasil em 1922. Foram feitos em todas as capitais. O cineasta Paulo Sales encontrou esse filme em 1963 em um depósito no Rio de Janeiro ou São Paulo, comprou, aproveitou pedaços ainda bons e refilmou os mesmos trechos naquele ano. Comprei-lhe o filme e fiz distribuição. Há cópias em todos os lugares. Doei para a TV Educativa (hoje TV Ceará), para a TV Verdes Mares, para o Museu da Imagem e do Som e para a Fundação Cultural (hoje Secultfor)." Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)


Fortaleza Antiga
Crédito do vídeo: Clarear vídeo





A bela Casa do Português

Vídeo do acervo de Eduardo



A Fortaleza nos anos 90
Crédito: Rodrigo Ponce de Leon



Beira-Mar em 1990
Crédito: Rodrigo Ponce de Leon




Veja a parte II AQUI

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Os Escombros de uma Saudade



Vai abaixo mais uma residência tradicional de Fortaleza, conhecida em sua vizinhança como o casarão dos Vieiras. O prédio situava-se na rua Rufino de Alencar, esquina com Pedro Ângelo, à meia distância entre a Praça da Sé e a do Cristo Redentor, próxima ao Seminário da Prainha. Construído pelo capitalista Luiz Jorge de Pontes Vieira, empresário de larga visão, que empregou sua notável força de trabalho em múltiplas atividades como banqueiro, industrial e agropecuarista.



Casarão dos Vieiras - ângulo interno da vila - anos 80

Em 1937, a Empresa de Terrenos Ltda. adquiriu do Patrimônio de São José do Arcebispado de Fortaleza, uma grande área no antigo bairro do Outeiro da Prainha, compreendida entre o chamado "Quintal do Bispo", hoje fundos do Paço Municipal, até próximo ao Seminário da Prainha e entre as ruas Costa Barros e Rufino de Alencar. Deste loteamento surgiram as ruas Afonso Viseu, Pedro Ângelo, Pereira Filgueiras e João Lopes; as duas primeiras nomeadas por indicação de Luiz Vieira, em homenagem a pessoas de sua amizade e admiração. Na parte mais alta do Outeiro, Luiz Vieira reservou um aprazível sítio para ali construir uma vila residencial para sua família. Há muito tempo a família residia não muito longe do Outeiro, em belas residências defronte ao Quartel da 10ª Região Militar, também recentemente demolidas para darem lugar à construção do novo Mercado Central. Estas casas e sua vizinhança formavam, nas primeiras décadas do século, um primoroso e bucólico recanto onde o riacho Pajeú coleava em seus pomares, na sua despedida para o mar, ladeando a antiga Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.


Casarão dos Vieiras - ângulo da Rua Rufino de Alencar com Pedro Ângelo - anos 80

A nova residência do Outeiro foi inaugurada com festejos que se prolongaram por mais de uma semana, de 8 a 19 de outubro de 1946, quando se comemoravam também os casamentos de duas filhas de Luiz Vieira e o aniversário natalício de sua esposa Judith Correia Câmara Vieira.


Luiz Jorge de Pontes Vieira

Luiz Vieira, como era mais conhecido, foi proprietário do Banco União S/A, o banco dourado dos anos cinquenta, de grande importância econômica e política naquela época e cujas "calçadas in" deixaram saudades na sociedade cearense, como registrou o cronista Lúcio Brasileiro. Entre suas propriedades rurais no município de Quixeramobim, a fazenda "Teotônio", exportadora de algodão para a Europa e distribuidora das afamadas laranjas para todo o nordeste; a fazenda contígua "Barrigas", conhecida pelo aprimorado plantel de gado da raça Nelore, produtor de campeões nacionais. Servia estas fazendas o maior açude particular do sertão cearense, o que levou o ex-presidente Humberto de Alencar Castello Branco a apelidá-las de "Oásis do Ceará". Como industrial, Luiz Vieira foi proprietário da União Algodoeira S/A, da Empresa de Fios e Redes S/A, da Fábrica de Tecidos São Luiz Ltda., na Av. Tristão Gonçalves; da Fiação e Tecelagem Santa Maria Ltda., na Avenida Duque de Caxias; da Fábrica de Louças São José S/A e da Usina Ceará, de Siqueira Gurgel e Cia. Ltda. Sua imobiliária - Empresa de Terrenos Ltda. - foi pioneira no loteamento dos terrenos de Fortaleza e destes loteamentos surgiram grande parte dos atuais bairros da cidade como Aldeota, Água Fria, São João do Tauape, Vila União, 14 de Julho (Montese), Pio XII, São José, Sabiaguaba (Praia do Sabiaguaba).


Judith Câmara Vieira

Casamento de Ailza Câmara Vieira e Carlos Teixeira Mendes

Casamento de Odele Câmara Vieira e Pedro do Couto Galvão

Sua construção fora entregue aos cuidados do engenheiro Alberto Sá que, pela primeira vez em Fortaleza, utilizava o concreto armado na confecção de seus forros. Um sólido embasamento revestido de pedras colocava a construção num nível acima dos jardins. Estes eram divididos por cercas vivas de ficus benjamins, sobre um extenso gramado, onde bancos, lampadários e uma fonte luminosa distribuiam-se entre folhagens e árvores. No interior, seus pisos eram revestidos por parquetes decorativos, tábuas corridas, mármore e cerâmica. Colunas com capitéis corínteos, mísulas e frisos de gesso decoravam o teto, ao gosto da época. Tapetes, quadros, apliques, lustres de bronze e cristais e um mobiliário primoroso tornaram-na uma das belas residências da cidade.


Espelho herdado do Comendador João Correia de Melo - sua neta Judith Câmara Vieira com os bisnetos Carlos Meton e Fernando Meton (este no colo da mãe) - 1978

Em seus banheiros - verdadeiros salões de banho - os aparelhos de louça inglesa variavam suas cores de camurça, azul-turquesa e verde-piscina. Seus dormitórios no segundo piso abriam-se para espaçosos terraços de onde se apreciava o mar.

Os primeiros netos de Luiz Vieira - início da década de 50

Ao longo de sua existência o casarão abrigou cinco gerações da família Câmara Vieira, numa convivência rica de parentela e amigos. Hospedava pessoas ilustres, numa época em que os hotéis da cidade não apresentavam o conforto necessário.

Sala de jantar e escadaria que conduzia aos quartos na parte superior - Foto dos anos 80

Nos últimos dezesseis anos ali moramos, eu, minha esposa e meus filhos. Isso até quando o imóvel passou ao espólio da família. Hoje, um montão de escombros, como muitos outros em que se vão transformando as belas residências de outrora...


Vanius Meton Gadelha Vieira

Foto dos escombros

Hoje, só se encontra o terreno e uma saudade! - Imagem Google Earth



Nascimento da neta Maria Cristina Vieira Galvão (a Kika), na companhia da Bisavó Maria Correa Câmara (Maroca) ,vovó Judith Câmara Vieira,Tio Pedro do Couto Galvão, Tio Mario Câmara Vieira,Vovô Luiz Jorge de Pontes Vieira... Trajeto da Casa de saúde São Raimundo até a casa de Luiz Vieira na Rufino de Alencar.  Ano 1950

Crédito dos vídeos: Jaime Vieira


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Texto publicado no Jornal O Povo
Seção Jornal do Leitor - 21 de abril de 1996
Fotos do Arquivo de Vanius Meton Gadelha Vieira
Agradecimentos também a Auxiliadora Vieira

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O Cine Rex




A Empresa Clóvis Janja & Cia.*, uma saudável iniciativa de circuito independente em nossa cidade, desenvolveu-se em 1940, com a inauguração sucessiva do Cinema Christo Rei, a 6 de junho; o Odeon, no dia 18 de junho; e o Cine Rex, cinema que fez história e deixou saudades.

Em 10 de agosto de 1940 a Empresa Clóvis de Araújo Janja inaugura, na Rua General Sampaio nº 1263, o Cine Rex, com o filme A Enfermeira Edite Cavel, da RKO, com Ana Neagle, Edna May Oliver e May Robson, no local onde esteve, por muitos anos, a Serraria Rodolfo e sua fábrica de pregos.


Matinais do Cine Rex

Semana passada, recebi cumprimentos de um senhor, enquanto aguardava atendimento em posto de serviços. Além do formal bom dia, perguntou-me o nome e, se em meados dos anos cinquenta, frequentei matinais do Cine Rex. De pronto, identificamo-nos e registrou-se longo bate-papo. Revivemos e vivificamos fatos de então.

Aos mais jovens, descreva-se o porquê do contentamento do encontro. O Cine Rex, pertencia à antiga Empresa Cinematográfica Luiz Severiano Ribeiro, situava-se na rua General Sampaio, entre as ruas Pedro Pereira e Pedro I, no lado do Sol, como se precisava o Leste das vias públicas. Cinema popular, semelhante ao Moderno e ao Majestic, pois somente o Diogo era luxuoso, possuía característica diferencial e exclusiva. Único a exibir filmes westerns e seriados, nas matinais domingueiras, em sessão sempre lotada pela juventude. Mais do que lotada. Quem não conseguia cadeira, utilizava o chão como assento ou assistia em pé às exibições. Imperdíveis eram os capítulos dos seriados de curta metragem, semanais, antecedentes ao filme principal. Além dessas atrações, outro motivo concorria para o êxito das matinais do Rex. Já às 8 horas, duas antes do funcionamento do cinema, nas calçadas encontravam-se dezenas de jovens. Com braçadas de revistas e almanaques de histórias em quadrinhos, álbuns de figurinhas, pequenos pedaços de películas cinematográficas e objetos outros relacionados ao mundo dos heróis das telas, faziam do local uma feira de vendas e de escambos. Gibi, Guri, Zorro, Reis do Faroeste, Fantasma, Mandrake, Capitão Marvel, Superman, Batman e outras publicações, até em coleções completas, completavam o sucesso. Estudantes do Liceu, Lourenço Filho, 7 de Setembro, Cearense e Agapito dos Santos, os mais assíduos, solidificaram amizades de lá ao hoje. O interlocutor foi um liceal. Despedimos-nos e combinamos encontrar-nos mais vezes. E, aqui, registre-se uma homenagem a dois grandes amigos dos tempos do Rex, recém-moradores do Oriente Eterno. Os saudosos Jaime Alencar de Oliveira, do Liceu, e Francisco Alberto Paes Soares, o Bulim, do Colégio Lourenço Filho. 



Geraldo Duarte 
(Advogado, administrador e dicionarista)



Pequenas Lembranças de uma certa Fortaleza...

Pequenas lembranças de uma Fortaleza que não existe mais, que ficaram para sempre na minha memória. Tais como as matinês, aos domingos, do Cine Rex, ali na rua General Sampaio, a poucos metros da praça José de Alencar. Lá se reuniam os adolescentes de ambos os sexos, para ver um filme acessível à sua faixa etária. Não era raro encontrar um ou outro colega do Liceu. Numa ocasião vi o Jorge, que estudava na minha classe. Estávamos na fila para compra do ingresso, ele um pouco atrás de mim. Acompanhado de um amigo, ele lia, em voz alta, uma carta que uma namorada lhe enviara. Ria com alguns trechos da carta, aqueles em que a jovem demonstrava mais a atração que tinha por ele. Presenciando aquele exibicionismo de Jorge, eu, que já não era seu amigo, passei a detestá-lo a partir desse seu comportamento reprovável.


Um fato curioso no Rex era o preço da meia entrada: Cr$ 2,40. Por que, como os seus concorrentes, não era cobrado o preço de Cr$ 2,50? E, geralmente, ficava por esse preço, pois a bilheteira não dispunha de dez centavos. Nunca entendi isso.
Lá eu assisti A Princesa e o Plebeu. Fiquei ao lado de duas mocinhas, uma das quais não parava de falar. E uma vez em que Gregory Peck caminhava com uma mão no bolso da calça, ela disse à amiga que o homem que assim procedia era um liso.
Lembranças. Lembranças. 
Francisco Sobreira (Blog Luzes da Cidade)

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Mais registros importantes para a história inesquecível do velho cinema:

Seria indesculpável o não registro do vendedor de 'doce gelado', designativo antigo do picolé, com sua pesada caixa de madeira, contendo um cilindro de zinco, onde eram acondicionados os deliciosos refrescantes. Para suas conservações, entre a caixa e o depósito, gelo em pedras, coberto com serragem, aumentava mais a carga que "seu Jacaré" transportava na cabeça. Por igual, observaram a falta de citações do pipoqueiro e do lançamento da pipoca sem casca, alta tecnologia do produto na época, e do Cícero, mais conhecido como "aqui é raso, aqui é fundo", devido ao acidente que fizera manco aquele comerciante de "cai-duro", apetitoso sanduíche de pão d'água, contendo carne moída com delicioso tempero caseiro. A iguaria era também conhecida por "espera-me no céu"


Lembradas são as garapas ofertadas na Mercearia Vencedora, de propriedade das irmãs Mavignier, na esquina das ruas General Sampaio com Pedro Pereira, defronte ao secular prédio do Dnocs. E, ainda, a residência de dona Diolina, próxima do cinema, onde os pedidos de copos d'água eram tão intensos que a boa senhora, aos domingos, mandava a serviçal colocar um pequeno pote de barro na porta de entrada da casa para matar a sede da moçada. Os "piruliteiros" com seus pirulitos enfiados em tábua com buracos, os vendedores de "chegadim" com suas latas arredondadas e longas, em bandoleira e um triângulo sonante, junto com os de 'cuscuz paulista' com seus tabuleiros, mercadejavam, em altas vozes, suas produções.
A manhã findava-se com o 'The End' da poeira saudável do Velho Oeste na tela de tecido encerado.

Geraldo Duarte 
(Advogado, administrador e dicionarista)

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*Antes de inaugurar o Cine Rex, Clóvis de Araújo Janja já havia realizado importantes construções em Fortaleza:

  • Em 31 de dezembro de 1933 (À meia noite, já entrando o dia 1º de janeiro de 1934), Clóvis de Araújo Janja (Clóvis Janja) construiu em estilo Art-Déco a Coluna da Hora na Praça do Ferreira, construída na administração do prefeito Raimundo GirãoA Coluna da Hora tinha 13 metros de altura e o relógio movido à energia elétrica, com quatro faces, duas em algarismos arábicos e duas em romanos, foi adquirido nos Estados Unidos através da firma Biyngton & Companhia, sob projeto do engenheiro José Gonçalves da JustaFoi demolida em 1966, na administração de Murilo Borges e reconstruída em outro formato, de ferro, no governo Juraci Vieira Magalhães em 1991.

  • Em 07/09/1935 o Escritório Clóvis de Araújo Janja construiu o prédio da nova sede do Liceu na antiga Praça Fernandes Vieira, hoje Praça Gustavo Barroso.


Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Nirez




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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Balança mas não cai!


Foi uma mudança brutal. Nossa antes arborizada, bela e aconchegante cidade está desfigurada. De qualquer local que se olhe a cidade somente se visualiza prédios e mais prédios. Quem conheceu Fortaleza antes dos anos 80 jamais iria imaginar que chegaríamos a esse ponto. Enormes e incontáveis edifícios. Separados ou juntos, formando um paredão intransponível. Casas, quase nenhuma. Árvores? Nem pensar. Ressaltam-se aos olhos apenas os imensos espigões, fincados em todas as direções, e tomando completamente a paisagem. Marcos do desenvolvimento, mas ao mesmo tempo o amargo e perverso preço do progresso.

Ed. Jaqueline

Na década de 60 contavam-se nos dedos os grandes edifícios da cidade. Tinham personalidade própria e como tal, conhecidos pelos nomes, serviam como ponto de referência e eram citados orgulhosamente como símbolo do crescimento e da riqueza da capital. Alguns surgiram ainda na década de 40 mas foi no final dos anos 50, início dos anos 60 que surgiram imponentes alguns dos mais famosos edifícios da nossa cidade. 

Ed. Jaqueline em construção. Foto de Nelson Bezerra

Ed. Jaqueline em 1970 (Arquivo Lucas) e atualmente

Dentre os grandes edifícios que fizeram nome e tornaram-se ícones da cidade merecem ser destacados: o Prédio do Cine São Luiz na Praça do Ferreira, o Prédio do hotel Savanah na Praça do Ferreira / 4400, o Edifício Jalcy Avenida na Av. Duque de Caxias e o Edifício Jaqueline na Av. Beira Mar. Todos eles, bem ou mal, ainda sobrevivem com suas ricas histórias de vida. Uma longa vida, desde a inauguração e festejado lançamento ao ocaso e atual abandono. E apesar da decadência e das ameaças teimam em permanecer em pé.


Prédio do Cine São Luis

O ainda belo e imponente edifício do Cine São Luiz domina até os dias atuais a paisagem na Praça do Ferreira, no coração da nossa cidade. Na verdade sua fama sempre foi associada ao cinema instalado no seu andar térreo. Construído em 1939, o Cine São Luiz foi durante décadas a principal casa de exibição de Fortaleza. Era uma das melhores salas de projeção do Grupo Severiano Ribeiro, que dominava o mercado cinematográfico em todo Brasil. Sinônimo de luxo e grandiosidade, sua sala de espera com seus imensos e belíssimos lustres e suas confortáveis poltronas eram citados com orgulho em todos os noticiários. Até o final de década de 60 somente era permitido o acesso nas seções de cinema quem estivesse de trajes condizentes com o local, ou seja, homens trajando terno e gravata e mulheres de vestido longo. Tinha até um pitoresco comércio de aluguel de paletós e cabides na porta do cinema, caso algum distinto cavaleiro esquecesse os trajes apropriados. Com a marginalização do centro da cidade e das salas de exibição o local foi entrando em decadência e o cinema chegou a encerrar suas atividades. Somente sobreviveu e não deu lugar a mais um famigerado templo religioso porque o prédio foi tombado pelo Estado em 1991. Alem de adquirir o cinema, o Governo do Estado comprou todo o prédio localizado acima do cinema, que está em reforma e deve ser a nova sede da Secretaria da Cultura. Sobrevive ainda sob a proteção do estado, pois apesar de tombado como patrimônio cultural, não está descartado a implosão do edifício por conta de infindáveis questões jurídicas quanto a posse definitiva do imóvel acima do cinema. Triste sina daquele local que já foi o mais charmoso ponto de cidade.

Hotel Savanah

O prédio do Hotel Savanah, próximo ao São Luiz amarga o mesmo destino. O edifício também imponente faz parte da história da Praça do Ferreira. Figurou durante anos com destaque entre os mais luxuosos hotéis da cidade. No seu andar térreo ficava instalada uma das mais conhecidas lojas de departamentos da época, as Lojas BrasileirasLOBRÁS, ou apenas a 4400 (quatro e quatrocentos), como era conhecida, em alusão* ao número do imóvel que se destaca na fachada do edifício. E foi na LOBRÁS, no início dos anos 60, que instalaram a primeira escada rolante da cidade. Era uma imensa novidade na época e virou ponto de atração da população, em especial da periferia. Formavam-se filas para subir pelo “fantástico equipamento”. Algumas senhoras “passavam mal” ao subir pelo sofisticado mecanismo de degraus que surgiam como mágica do piso e levavam as pessoas ao andar superior da loja. Uma festa para a garotada e alguns “corajosos aventureiros" que se arriscavam tentando descer a escada no sentido contrário. Os tombos eram frequentes e subir pela escada não era para qualquer um. Vale lembrar que a escada rolante era somente de subida. Descida, somente pela escada tradicional. E na parte superior do edifício brilhava imponente o suntuoso hotel. Nada mais disso existe. Problemas financeiros e a concorrência levaram a LOBRÁS a falência e a decadência e marginalização do velho centro levou o luxuoso hotel a fechar suas portas. A antes frequentada 4400 deu lugar a um execrável Bingo, posteriormente também fechado. Atualmente todo o prédio se encontra abandonado e não se sabe qual será o seu destino.

Ainda na região central destacamos outro ícone arquitetônico da cidade: o imenso e degradado edifício Jalcy Avenida. Localizado na Av. Duque de Caxias e inaugurado em 1954, o velho Jalcy com seus 12 andares foi por longo tempo o edifício mais alto da capital. Lançado naquela época com o inovador conceito de edifício comercial e residencial, por vários anos habitar um dos seus apartamentos foi sinônimo de requinte e status. No seu andar térreo se instalaram várias lanchonetes e bares e nas décadas de 60/70 tornou-se ponto encontro da boêmia e posteriormente de prostituição. Seu destino foi o mesmo de toda região central. Marginalidade, prostituição, homossexualismo e todas as mazelas da área central da capital selaram seu destino. Com a queda do status, quem podia foi se livrando do imóvel. Grande parte dos apartamentos virou pensionatos, abrigando estudantes carentes vindo do interior, e vários outros residência de prostitutas, travestis e homossexuais marginalizados. Apesar da decadência o edifício sobrevive, com seus inúmeros problemas e aos troncos e barrancos.

A primeira escada rolante de Fortaleza surgiu aqui, nas lojas 4.400 - Lojas Brasileiras de Preço Limitado, depois conhecidas como Lobrás, inaugurada na esquina da Rua Major Facundo com Rua Pará, no dia 09 de novembro de 1957. Vemos aqui suas duas fachadas à noite, iluminadas com motivos natalinos daquele ano. Com a derrubada desse prédio foi erguido, no local, o Hotel Savanah. Arquivo Nirez

E lá na decantada Avenida Beira Mar, cartão postal da nossa bela capital, amargando destino semelhante, sobrevive o famoso Edifício Jaqueline. Construído na década de 60, foi um dos primeiros apartamentos quarto-e-sala da cidade, uma grande novidade na época e um estrondoso sucesso imobiliário no seu lançamento. Lugar disputado pela localização privilegiada, possuir um dos seus apartamentos eram símbolo de riqueza e de status. Mas por conta das dimensões reduzidas dos apartamentos, o imóvel não sobreviveu como prédio residencial e familiar. Rapidamente, não se sabe bem o real motivo, transformou-se num reduto de amantes e ponto de encontro de casais adúlteros. Como tudo no Ceará, virou piada. O prédio foi rebatizado com o codinome de “Edifício Jaquequé” e ficou conhecido como moradia de garotas de programa e de amantes de empresários bem sucedidos. Não era pra qualquer um ter e manter uma amante no Jaqueline. Pegou a má fama e não largou mais. Nos dias atuais a maioria dos seus moradores é composta por turistas, garotas de programa, travestis e alguns boêmios e solteiros renitentes. Independente dos problemas e da decadência, por conta da localização privilegiada, o edifício se mantém em pé. Assim como os outros edifícios já citados e que ainda fazem parte da paisagem e da nossa história, balança, mas não cai. Coisas da minha terra. Coisas do Ceará.

Artigo do amigo e colaborador Carlos J. H. Gurgel

* Na realidade era alusão ao valor do produto, que depois tornou-se conhecido por 1 e 99 (R$ 1,99) e mais recente, "Tudo é DEZ" (R$ 10,00).
O número da edificação nunca atingiria esse número; haja vista que, a rua Major Facundo inicia no Passeio Público, e a definição dos números é na ordem de Norte para Sul, ou Leste para Oeste, com os números pares e impares em lados opostos e definido pelo tamanho da testada do imóvel. Portanto, um imóvel com o número 4.400 estaria a 4 km e 400 metros do ponto inicial da via. 
Informações de um leitor do Fortaleza Nobre. Infelizmente, não temos seu nome, pois postou como anônimo.

The Ceará Tramway Light and Power



A Ceará Tramway, Light & Power Co., Ltd., registrada em Londres em 11/12/1911, comprou os sistemas da Companhia Ferro-Carril do Ceará e da Ferro Carril do Outeiro e inaugurou a primeira linha de bondes elétricos da capital cearense em 9/10/1913, com bitola de 1.435 mm. Os britânicos tinham sido decerto desencorajados por suas experiências na Amazônia, e as suas instalações cearenses foram menos ambiciosas que os empreendimentos em Manaus e Belém.

Todos os veículos elétricos de Fortaleza tinham um padrão, com troles: a United Electric construiu 30 em 1912 e dez em 1924. A linha de bondes de Fortaleza foi fechada por problemas elétricos em 19/5/1947 - três semanas após o fechamento do sistema de bondes em Belém - e nunca reabriu. Vinte anos depois, em 25/1/1967, a Companhia de Transportes Coletivos inaugurou duas linhas de trólebus entre o lado Oeste da cidade e o Largo do Carmo. Os nove veículos Massari, construídos em São Paulo, rodaram até 2/1972. 


Bonde de primeira classe (permitido a entrada apenas de pessoas decentemente vestidas*em frente a Pharmácia Galeno na Major Facundo - Foto do Álbum de Fortaleza 1931

Em 08 de maio de 1911 cria-se a Usina de Luz e Força do Passeio Público, da firma The Ceará Tramway Light & Co., para alimentar os bondes, que eram de tração animal e passariam a ter tração elétrica.

09 de maio de 1912 foi o lançamento da pedra fundamental da usina e casa das máquinas para bondes (Tramways) elétricos de Fortaleza, da The Ceará Tramway Light & Co., no Passeio Público (Usina).
A Estação Central era no chamado calçamento de Messejana, depois Boulevard Visconde do Rio Branco, entre a Rua Padre Valdevino e a Rua da Bomba (hoje Rua João Brígido).
Na pedra inaugurada lê-se a seguinte inscrição. “Esta pedra foi lançada no dia IX de Maio de MCMXII, para inaugurar o começo dos trabalhos de eletrificação dos Tramways da cidade de Fortaleza sendo presidente do estado o coronel Antônio Frederico de Carvalho Motta e intendente municipal o Dr. Marinho de Andrade.”

Em 06 de junho de 1912 são transferidos os direitos da Companhia Ferro-Carril do Ceará (bondes de tração animal), já da firma J. Pontes & Companhia, para a The Ceará Tramway Light & Co Ltd.

Bonde de segunda classe – Foto do Álbum de Fortaleza 1931

Segundo o jornal Folha do Povo de 27/09/1913 os fios elétricos da Ceará Light ocasionavam perigo para a população:

Escrevem-nos 
Agora, sr. Redator que estamos nas vésperas de inauguração dos serviços de bondes urbanos por tração elétrica e de luz elétrica para as casas particulares, é bem justo que se pergunte por que razão a companhia inglesa não impregnou fios isolados na construção desse ultimo serviço?
Quem quer que tenha contato, em dadas condições, com estes fios condutores de energia elétrica para os domicílios da urbs, estará fulminado.
Bastará tão somente para isto que estes fios fiquem em contato direto ou indireto com os postes de ferro colocados nas calçadas, para que a corrente a ele se transmita, ficando assim uma ameaça.”

O Jornal O Unitário de 28 de novembro de 1913 já contava a novidade que estava por vim:

"Teve lugar ante-hontem á noite, depois de paralyzado o trafego da companhia de bondes, a experiencia de tracção e luz electrica da Ligth and Power, dando optimo resultado.

Acompanhado dos engenheiros e electricistas da companhia, o seu gerente, que ante-hontem mesmo chegára no "Sergipe", fez sahir um dos carros da estação, percorrendo com elle todo o trecho da linha que se prolonga dalli pela esrrada de Mecejana afora.

Grande massa de curiosos invadio o carro que, embora os protestos dos electricistas inglezes , percorreu ainda grande parte da linha da estação.

Como já dissemos, foi magnifico o resultado da experiencia, sendo bem possivel que a inauguração official se dé nos primeiros dias de outubro."


Em 09 de outubro de 1913 é o início, precisamente às 16h30min, do funcionamento da Usina do Passeio Público e dos bondes de tração elétrica, da The Ceará TramwayLight & Co., em substituição aos de tração animal, sendo a primeira linha do Joaquim Távora, que saía da Praça do Ferreira pela Rua Major Facundo, dobrava à esquerda na Rua Pedro I e ia até o Parque da Liberdade, dobrando à direita na Avenida Visconde do Rio Branco e voltando pela mesma avenida, Rua Pedro I, dobrando à esquerda na Rua Floriano Peixoto e chegando na Praça do Ferreira.
Mas os bondes puxados a burros ficariam ainda por algum tempo, administrados também pela Light. 

Garagem com ônibus e seus 'chauffeurs' – Foto do Álbum de Fortaleza 1931

* Sobre os bondes de primeira classe, o jornal O Unitário de 19/10/1913 trazia a seguinte reclamação:

"Não ha negar que a introducção dos bondes electricos aqui, em Fortaleza, trouxe crescidas vantagens à população.
Era esse melhoramento de ha muito tempo almejado.
Entretanto, mal acaba de levação a effeito, surgem novas reclamações do publico, que pede seja supprida quanto antes, uma falta consideravel que ainda resta.
E’ o caso que os novos vehiculos, pertencendo a uma só classe, são destinados ao transporte de pessôas que vistam decentemente.
Ora, nem toda gente póde satisfazer de modo cabal esta condição.
Os moradores dos arrabaldes, por exemplo, si são humildes, deixam de vir ao interior da cidade, a negocio por falta de bondes de 2ª classe, pois nos de 1ª não são admitidos.
Mesmo nas vias mais centraes ficam prejudicados os servos, que precisam ir ao mercado, pela manhã, e não o fazem sinão a pé.
E’ fácil imaginar o transtorno causado por essa lacuna, cujo preenchimento é o que pretendemos solicitar nestas linhas, não só porque o achamos carecida e de alcance, como tambem porque, assim procedendo, satisfazemos grande numero de leitores que nos teem procurado e, concomitantemente, a população em geral.


O Jornal Folha do Povo de 23/11/1913 trazia algumas leis que o público precisava conhecer:

"A camara municipal de Fortaleza, resolve:
Art 1- É proibido fumar nos três primeiros bancos dos carros de passageiros das linhas de Tramways.
Art 2- É proibido cuspir nos mesmos.
Art 12- A velocidade dos carros eletricos será no máximo de 18 Kilometros por hora, podendo, nas linhas de "arrabaldes" atingir 25 Kilometros por hora.
As distancias a percorrer pelos bondes electricos, tomando como ponto inicial de partida a Praça do Ferreira, são pouco mais ou menos os seguintes:
 
Metros
Linha da Praia
1530
Via Férrea
930
Estação (Messejana)
2450
Fernandes Vieira
1800
Bemfica
2630
Alagadiço
5440
Outeiro
2500
Praça dos Coelhos
1100
O Outeiro aumentou mais um Kilometro por hora, em um minuto deve o bonde fazer trezentos metros (300ms)." 

Ônibus da Ceará Light sentido Porangaba - Foto do Álbum de Fortaleza 1931

Um atropelamento noticiado pelo Jornal Diário do Estado de 13 de janeiro de 1916:

"Hontem, o bonde da "Light" n. 10, da linha de Fernandes Vieira, que vinha fazer 2 horas e 47 minutos na Praça do Ferreira, guiado pelo motorneiro n. 117, Vicente Rufino, atropelou na esquina da rua 24 de Maio o popular Pedro Martins da Silva, que se achando muito embriagado atravessou a linha na occasião em que o bonde passava. Martins, recebeu algumas escorriações, sendo transportado para a Santa Casa, onde recebeu curativos.
O motorneiro julgando ter morto o atropelado evadi se.
A policia do segundo districto teve conhecimento do facto."

Outro acidente, agora envolvendo um Carroção da Light versus carroça, também noticiado pelo Diário do Estado no dia 17 do mesmo mês e ano:

"Sabbado, ás 10 horas da manhã, na rua da Praia, o carroção da "Light" n. 34, guiado pelo motorneiro n. 148, Cicero Guedes, choucou-se com uma carroça, não se registrando, porém, em virtude desse incidente nenhum caso fatal."

O Bonde da Praça do Coelho - Diário do Estado do dia 18 de outubro de 1916:

"Diversas pessoas nos têm vindo trazer reclamações contra o estado quasi inascessivel em que fica o bonde da Praça do Coelho, no fim da referida linha. Com effeito, o estribo dos carros fica, naquelle ponto, a cerca de um metro de altura, a ponto de ser extremamente difficil a uma senhora descer ou subir no bonde.

Ao senhor E. du D. Scott, digno gerente da "Light", que sempre se tem mostrado solicito em bem servir ao publico, pedimos que mande tomar qualquer providencias no sentido de fazer cessar semelhante incommodo para os passageiros."

Vista Parcial da Usina da Light - Foto do Álbum de Fortaleza 1931

ANDOU AOS MURROS COM O MOTORNEIRO - Diário do Ceará – Pela polícia e nas ruas, p. 02 de 18/11/1922:

"O engraxador Manoel Gomes da Silva, viajando, á noite, num bonde da “Light”, entendeu de injustificadamente, espancar o conductor do mesmo, provocando, assim, o estacionamento do carro, pelo que foi recolhido ao xadrez."

UM CONDUCTOR DESPUDORADO - O Nordeste de 14/04/1923: 

"Os passageiros do bonde da linha da F. Vieira, que vinha fazer 9 horas da noite, na praça do Ferreira, viram-se, hontem, obrigados a assistir a scenas que não podiam deixar de indigná-los, pela offensa ao seu decoro.

É o caso que viajava, também naquelle vehiculo uma meretriz.

Pois bem: o conductor do bonde, sem o menor respeito aos passageiros, esteve todo o tempo da viagem a dirigir pilherias á mesma e a praticar outros actos que offendem, altamente, o decoro publico e revoltou aos que iam no bonde.

Denunciado o facto, que nos relatou um dos passageiros, esperamos que o digno gerente da Light tome, no caso, as providencias que se requerem. "

PELO MENOS, O CAMINHO DO CEMITERIO FICOU MELHOR - Diário do Ceará de 20/10/1923:

"A carreta de concertos da Ceará Light, nestas ultimas noites, tem andado numa actividade vizivel, e ainda bem que os felizes dormentes accordados pela zoada de suas rodas, ao levantarem, de manhã, hontem, tiveram o prazer de observar que, pelo menos, o caminho do Cemiterio ficou melhor.

Temos escripto algumas notas sobre o serviço de bondes, e aqui estamos no dever de louvar o gesto de sr. Smith, actual gerente da Companhia.

É que s. s., attendendo ao mau estado dos cabos troley da linha Mororó, entre a praça Marquez do Herval, da rua General Sampaio ao fim da linha, ordenou a sua substituição. Esse serviço tem sido feito todo á noite visto que, durante o dia, perturbaria o trafego.

É assim que um dos cabos troley já é novo em fio, e, o outro, dentro em pouco tambem o será; o comprimento do fio substituido anda perto de mil metros."

Ponto de partida dos bondes

A LIGHT VAE MAL... - Jornal do Comércio de 23/04/1924:

"Quase que diariamente são verificados descarrillamentos ou outros accidentes nos bonds da Light.
Hontem, por exemplo, o carro do Matadouro, que sahiu da praça às 11 horas, repleto de passageiros, ao chegar na curva entre à praça do Carmos e a rua Major Facundo, descarrillou, soffrendo os passageiros um atrazo de muitos minutos e ficando aquelle trecho sem poder dar passagem aos demais carros.
Foram feitas baldeações até que se restabeleceu o trafego interrompido naquelle ponto, o que se deu, cerca de uma hora depois do occorrido."

BONDE “VERSUS” AUTOMOVEL - Jornal do Comércio de 05/06/1924:

"Hontem, por volta das 13 1/2 horas, o auto particular n. 101, de propriedade do sr. Octavio Philomeno, guiado pelo chauffeur José Candido, ao fazer a curva entre as ruas Barão do Rio Branco e Misericordia, foi de encontro ao bonde da Light n. 13, que o poz a alguns metros de distancia, por ter perdido os freios e não ter podido o chauffeur fazer uma rapida manobra, em vista de se achar ao lado um montão de areia.
O carro fôra posto a serviço ha poucos dias e sahiu bastante damnificado.
Os passageiros, srs. Octavio Philomeno e Francisco Vieira Carneiro, sahiram illesos.
A policia tomou conhecimento do facto."

Manutenção de bonde na Fortaleza dos anos 20
O veículo da foto é um caminhão destinado à manutenção da rede aérea do sistema de bondes da cidade de Fortaleza durante os anos 10 e 20. Pertencia à Ceará Tramways, Light & Power, empresa que implantou o serviço de bondes elétricos a partir do ano de 1913

LIGHT PASSA À ADMINISTRAÇÃO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA - Jornal O Povo de 19/07/1948:

"Gabinete do prefeito


De ordem do exmo. sr. Prefeito Municipal de Fortaleza, dr. Acrísio Moreira da Rocha, torno público, para conhecimento geral, que s. excia., dando cumprimento ao disposto no Decreto número 25.232, de 15 de julho de 1948, emanado do Governo Federal, e publicado no Diário Oficial da República, de 17 do mesmo mês e ano, assumirá, hoje, segunda-feira, dia 19, a administração da “Ceará Tramway Light Power Company Limited”, cujos serviços que são os de energia elétrica da capital cearense, com o respectivo acervo de bens e instalações, passarão, assim, em virtude da determinação contida no art. 2º do decreto citado, à administração da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
O ato terá lugar na séde dos escritórios daquela companhia, situada à Travessa Dr. João Moreira, canto com a rua Floriano Peixoto, iniciando-se às 17 horas.

Fortaleza, 19 de julho de 1948

R. ROCHA MOREIRA
Chefe do Gabinete do Prefeito."

FOI INICIADA A RETIRADA DOS TRILHOS DE BONDE - Jornal O Povo 08/11/1948:

"A Prefeitura Municipal determinou a retirada de todos os trilhos de bonde da cidade, já tendo sido o serviço iniciado pela antiga linha de José Bonifácio, onde dois quarteirões já os não têm.

A reportagem do O POVO procurou entender-se, a respeito, com a gerencia da Light, sendo informada de respeito, com a gerencia da Light, sendo informada de que a retirada se processará em todas as linhas, ignorando entretanto, qual o destino a ser dado aos trilhos, que são de grande valor comercial e representam grande tonelagem."

A fotografia dos anos 30 nos mostra um bonde elétrico da Ceará Tramways, Light & Power em Fortaleza. Está perto da Praça do Ferreira, na rua Pedro Borges esquina com Floriano Peixoto, em Frente à Mercearia Leão do Sul

NUNCA MAIS OS BONDES VOLTARÃO A TRAFEGAR “OS TRILHOS SERÃO VENDIDOS A QUEM DER O MELHOR PREÇO” FALA O PREFEITO SOBRE A RETIRADA DO PRECIOSO MATERIAL DA LIGHT - Correio do Ceará de 09/11/1948:

Desfazendo boatos

54.000 metros lineares com o peso de 2.000 toneladas
Aumento do patrimônio da antiga companhia inglesa
Já começou, pelo fim das linhas de José Bonifácio e Alagadiço a retirada dos trilhos dos antigos bondes da Ceará Tramways.
Os trabalhos estão sendo desenrolados de maneira acelerada, encontrando-se já removidos os trilhos dos três últimos quarteirões das linhas mencionadas.
Segundo estamos informados, o trabalho será logo mais iniciado também nas demais linhas, devendo ser concluído dentro de pouco tempo.

FALA-NOS O PREFEITO MUNICIPAL

Interpelado hoje de manhã a propósito da retirada dos trilhos de bondes, disse-nos o Prefeito Acrísio Moreira da Rocha.

“A retirada dos trilhos de bondes, das ruas da cidade é um ato de ordem técnico-administrativa tomado por mim como supervisor da Ceará Light, depois de estudos acurados que me levaram à convicção do acerto dessa medida.

Sei que inimigos de administrações criteriosas e honestas olham para esse ato meu, enxergando nele, malevolamente, um pasto para boatos tendenciosos e mentiras eivadas todas da mais acentuada falta de escrúpulo. Sei também, o propósito do assunto que um intrigante havia dito ter eu prometido, na campanha eleitoral, a volta dos bondes para agora, retirar os seus trilhos.

Jamais prometi volta de bondes e, para esses perturbadores profissionais, que vivem de inverter os fatos, adulterando a verdade dos mesmos, aqui vai a minha resposta: - estou retirando, por livre e espontânea vontade e por minha absoluta e inteira responsabilidade, os trilhos de bondes, numa extensão de cinquenta e quatro mil metros lineares, com uma pesagem total de cerca duas mil toneladas. Destinam-se à venda esses trilhos retirados, com exceção de apenas quatrocentos metros que, colocados por empréstimo no fim da antiga linha de José Bonifácio, dali foram tirados, há poucos dias, por ordem minha, para serem devolvidos à R.V.C., repartição a que pertencem.

Eu, que estudei o assunto, com todos os seus detalhes, posso assegurar ser melhor ter os trilhos guardados e expostos à venda do que tê-los enterrados sujeitos exclusivamente ao desgaste.

Ao expor os trilhos a venda, entrega-los-ei a quem der melhor preço aplicando a renda assim obtida em melhoramentos para o serviço de fornecimento de energia elétrica da capital cearense.

Uma parte, porém, do total de trilhos eu a tirarei para usá-la no serviço de distribuição de linhas, destinando-a a sustentar os postes de alta tensão.

No final, só resultados benéficos – tenho certeza – advirão dessa medida, inclusive o aumento do patrimônio da “Ceará Light” que, presentemente administrada pelo Prefeito de Fortaleza, vai ascender a um estágio mais elevado de eficiência, pois, dentre outros o meu governo tem os propósitos de aparelhar eficazmente a Usina, estender amplamente as redes de iluminação, fazendo-as acompanhar o rítmo de progresso da cidade, produzir com mais baixo custo, a energia elétrica e garantir as obrigações da empresa para com seus servidores.

Isto conseguirei – finalizou o Prefeito Acrisio sorrindo – mesmo enchendo de máguas os boateiros impenitentes e sem critério que, não tendo ocupações na vida, profissionalizam-se em difundir maledicências como autênticos solapadores de boa ordem administrativa que, entretanto, comigo nada conseguem porque, de qualquer modo, cumprirei o meu programa doa a quem dor”.


Ônibus da Ligth-Arquivo Assis de Lima

FORTALEZA E OS VELHOS BONDES DA LIGHT - O Estado - 19/10/1951:

"As picaretas da municipalidade retornaram, em ritmo acelerado, à ingrata tarefa de arrancar os trilhos dos bondes, no trecho central da Floriano Peixoto. São os últimos, parece. Mas levam consigo a dolorosa certeza de que a nossa capital jamais verá trafegar os velhos bondes, que lhe enchiam as ruas de poesia e de vivacidade. Não cabe a administração atual a menor culpa. E talvez nem mesmo possa ser apontado um culpado, exceto o descalabro a que foi condenada a velha Companhia inglesa.

De qualquer maneira, há um grande erro em tudo isto. Vivemos uma época de progresso e tumulto, perdoado o acacianismo da afirmação. Aí estão as máquinas cinematográficas, colhendo os flagrantes das festas onde o Prefeito aparece, com a jovialidade e a simpatia dos homens felizes. Mas ninguém se lembrou de fixar o flagrante do último bonde, transitando pelas ruas de Fortaleza. Não existem, sequer, conforme fomos informados, uma fotografia, um desenho, uma lembrança.

A retirada dos bondes mais pareceu um ato de condenação. Um ato que não deveria deixar a mínima memória. E agora a Prefeitura com rapidez e eficiência, a faina destraidora...

No entanto, os homens da Prefeitura, talvez com a mesma picareta que destroem o calçamento e com a mesma colher com que, decerto, o reconstruirão, deveriam também consertar as calçadas das nossas ruas. São buracos imensos, tijolos, arrancados, poças de água e de sujo. Um transeunte mais descuidado poderá tropeçar e quebrar um pé ou uma perna. É verdade que o perigo se destina apenas ás pessoas que andam a pé. E só elas o enxergam.

O Prefeito não os vê. E os engenheiros muito menos. Pois eles andam sempre de automóvel, o que é mais cômodo e menos perigoso.

Agora que as obras da municipalidade estão sendo executadas na própria rua, com a retirada dos trilhos, aí fica mais uma sugestão ao Prefeito. Vamos consertar as calçadas. Vamos obrigar os proprietários a faze-lo, se a obrigação não for da alçada da Prefeitura Municipal."

Ônibus da Ligth-Arquivo Assis de Lima

O FIM DA LIGHT - O Povo - 09/03/1955:


A velha usina do Passeio Público está vivendo os derradeiros momentos de sua lenta agonia de morte. Seguindo o destino natural das coisas, vai desaparecer, de uma vez para sempre, do cenário da vida social e comercial da cidade, à qual tão relevantes serviços prestou, quando em pleno rendimento de suas hoje esfaceladas caldeiras. Dentro de pouco tempo mais, deixarão de pulsar os seus geradores.

Não podemos saber ainda qual o destino que será dado ao acervo da arcáica maquinária. Temporariamente, pelo menos, permanecerá onde está. Talvez como o velho gasômetro, ficará no mesmo local onde funcionou por tanto anos, por coincidência bem próximo uma da outra – dois marcos do progresso urbanístico da capital cearense, marcando duas épocas já definitivamente ultrapassadas.

Embora agonizante, a velha Light se portou, até agora, como um verdadeiro gigante, resistindo, com uma têmpera britânica, aos embates do tempo, dando o último de sua potencialidade em benefício da cidade que serviu e desserviu na medida de suas possibilidades. Tudo tem um limite, até para os organismos meramente mecânicos. E a Light chegou ao seu limite.

Ônibus da Ligth-Arquivo Assis de Lima


BONDES ELÉTRICOS - Diário do Nordeste 10/09/2000 - Opinião do Leitor:

Sr. Editor,

Acabo de ler uma entrevista concedida por Acrísio Moreira da Rocha, ex-prefeito de Fortaleza no período de 1947/1950, vangloriando-se por ter conseguido a encampaçõa da empresa inglesa “The Ceará Tramways Light and Power & Cia”, concessionária de transporte por bondes elétricos e energia elétrica para Fortaleza desde 1913. À época da encampação uma passagem de bonde da Praça do Ferreira até o fim de cada linha custava cem réis (um tostão). Você com apenas cem réis ia até o fim da linha de qualquer bairro: Jacarecanga, Praia de Iracema, Benfica, etc. Esse ex-prefeito, incontinente, vendeu os bondes elétricos, os trilhos de ferro, os cabos de cobre que levavam eletricidade para movimentar os bondes para Recife-Pernambuco, sem no entanto, oferecer nenhuma outra opção de transporte coletivo. Naquele tempo não existia Ettusa (Empresa de Transporte Urbano S/A), nem qualquer outro meio de transporte público. Com tanto dinheiro não foi construída nenhuma obra de vulto para justificar. É lamentável a insensibilidade desse ex-prefeito.

José de Lima Monteiro - Aldeota



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 Créditos: Cronologia Ilustrada de Fortaleza – Nirez, 
Museu virtual do transporte Urbano,  Cepimar e Assis de Lima


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