Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

domingo, 10 de junho de 2012

Avenida Monsenhor Tabosa - Antiga Rua do Seminário - Parte III


Praça Cristo Redentor, vendo-se ao fundo a Igreja da Prainha - Arquivo Nirez

Por essência, o povo compôs a alma da avenida, dos fundadores aos habitantes atuais...

Descobrir a história de uma rua e da região que a cerca não é tarefa fácil. Documentos históricos são raros e quando encontrados, são pouco organizados. O Arquivo Público do Estado do Ceará (localizado na RuaSenador Pompeu, 648, Centro) abriga pilhas de papéis seculares. O maior problema é a falta de esquematização, o que dificulta a pesquisa. 

Nas largas calçadas, depois da esquina da Rua Senador Almino, pães de queijo e salgados atraem a atenção dos passantes. Saindo de um estreito corredor da casa onde moram desde que nasceram, as irmãs Leda Maria e Rosângela Braga vendem seus quitutes. Elas logo advertem:  Todo mundo tá viajando, vai ser difícil encontrar alguém pra falar disso (do passado)”. Mas, conversa vai, conversa vem, algumas indicações de nomes surgem. 

Uma colega das irmãs, Lúcia Mendonça, ainda comenta sobre uma tia antiga que lembrava de velhas histórias da rua. Uma delas dizia que a maré alta chegava a lavar as costas da igrejinha. A frente da igreja, nesse período, estava virada para Avenida Dom Manuel. Do outro lado da rua, um almoço quente e barato é servido àqueles de menor poder aquisitivo. É a lanchonete do Luiz. Lá, há 47 anos mora o comerciante Luiz Antônio Alves de Souza, residente desde que nasceu. Em meio aos trocados do caixa, atendendo um e outro pagante, ele expõe as lembranças e relatos que a mãe citava. No início da década de 20 a mãe de Luiz, Maria Lúcia, é uma das fundadoras da avenida. Quando ela adquiri a propriedade, nem mesmo os quarteirões estavam formados. Luiz relembra até os tempos de menino e os jogos de bola pela velha Monsenhor Tabosa. Ele relata que muitos dos moradores à época eram comerciantes, trabalhavam no Centro, na Rua Conde D’eu. Já a mãe começa vendendo artesanato e alugando o ponto para lojas. 
Aqui é um ponto bom, resolvi ficar”, responde o comerciante, atendendo aos clientes ansiosos pelo troco.

“Ainda tem família, mas é intocada”, revela Braz da Silva, referindo-se a antiga Rua do Seminário. Ele mora na Travessa Aracoiaba, oficialmente Ademar de Arruda, com a mulher Terezinha Andrade da Silva. A casa é simples, interiorana. De grande riqueza só mesmo o diamante das bodas – 60 anos de casados. A mulher mora ali desde que nasceu, em 1929. A rua em que mora é paralela à Monsenhor Tabosa e também já foi conhecida como Rua do Bagaço. Dona Terezinha explica que é por causa das casas construídas com bagaço de cana-de-açúcar.

O simpático casal de idosos conhece as imediações, mas não saem como antes. A filha Francisca Maria Andrade é quem aproveita a proximidade do centro comercial para fazer suas compras mais necessárias. “Ah, antigamente na Monsenhor só morava ‘gente chique’. Antes é que morava gente mais humilde”, recorda Francisca. D. Terezinha some por um espaço de tempo da sala. Quando volta, traz o documento amarelado, quase em pedaços, ilustrando que o terreno, onde ela mora hoje, fora da Igreja. O papel, datado de 1957, simboliza o pagamento dos fóros, quantias pagas anualmente a Arquidiocese, por metro quadrado de terra. “Era uma mixaria, a gente pagava na Igreja da Sé, indica a dona de casa.

Sapateiro de oito décadas vividas, Braz da Silva, remonta aos clubes da vizinhança, onde ia jogar bola pelo dia, e se divertir dançando e bebendo pela noite. Enumera alguns exemplos, Clube Vila Bancária, Idealzinho, Canto do Rio, Clube Massapeense, Onze Cearense e a Baixa do Veado. Entre a Monsenhor Tabosa e a Nogueira Acioly, encontra-se a Praça da Graviola, que segundo o casal, “tem até apartamentos”. A comunidade é antiga. Na infância, D. Terezinha já ouvia falar dela, e apesar dos preconceitos sociais embutidos, a praça – ou favela - “é também lugar de famílias trabalhadoras e honestas”. Voltando para a Monsenhor Tabosa, a procura é agora pelo seu Tarcísio Pedro de Oliveira, ou o Tarcísio Lanches. Perguntando em lojas das proximidades, uma vendedora é enfática: “Aquele ignorante? Se fosse você nem ia falar com ele”. Talvez por falta de conhecimento ou por fofocas implicantes, a moça não tenha um contato direto com o conhecido comerciante daquelas bandas. Tarcísio recebe os fregueses calorosamente, e não é diferente quando se trata em contar um pouco do que lembra ao longo dos 51 anos de Monsenhor Tabosa. “Tinha muitos portuários, caminhoneiros, operários e vendedores”, rememora. A lanchonete que mantém com a esposa, era do pai que veio de Cascavel. Conta ainda que a rua possuía um campo de futebol no estilo de sítio, com muitas bananeiras e coqueiros. Haviam três bodegas principais: 
a do Seu pai, a de Seu Antônio e a de Seu Carlinho. Quando ia para a missa, os padres contavam acerca da história da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha e com ela a do personagem Monsenhor Tabosa. Para um pouco de atender os clientes, e busca em seus guardados uma valise empoeirada, o texto que o sacerdote entregava. Destaca também a centralidade da rua na cidade: “Nós vivemos perto de tudo, perto do mar, perto do Centro. Aqui ninguém precisa ter carro”, considera. 

Uma das últimas remanescentes dos primeiros habitantes da Monsenhor Tabosa se encontra em uma casa que atravessa o quarteirão. D. Vilca Galvão, sentada na mesa da cozinha, reconsidera todo o passado para traçar a linha de vida naquele lugar. “Meu pai era industrial”, lembra-se quando fala da padaria do pai: A Confeitaria Galvão. O pessoal da estiva - serviço de carregamento e descarregamento de navios no porto - ocupava algumas casas da Rua que era toda em calçamento até o Ideal. Aliás a moradora de 78 anos reclama que “o asfalto suja muito”. Relembra as novenas realizadas no Seminário pelo Padre Arruda que eram a grande festa daquele tempo. As moças de vinte anos de idade nem sabiam o que era beijo, exulta. Lecionou no Colégio de Mister Hull, até o seu fechamento entre 1955 e 1960. Em Geografia Estética de Fortaleza, Raimundo Girão apresenta que onde é o atual Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, já existiu um estacionamento. Nas lembranças de Dona Vilca, tais dados históricos não se confirmam. Por último ela assevera que a avenida “é muito calma, (os moradores mais novos) não são nem daqui, vem de fora”.

Qual a cara da Monsenhor Tabosa? 

Os badalos da igreja do Seminário da Prainha ecoam misturando-se ao som das buzinas como uma forma de resistência de uma cidade que não há mais. Quase que imperceptível, o barulho persistente do ventos nas folhas das carnaubeiras tira os olhos do transito caótico das 18h de uma segunda-feira... 

O Seminário - Arquivo Nirez

Então qual era a verdadeira Monsenhor Tabosa? Passarela da moda, Centro Comercial ou seria Centro Artesanal? Todas essas repostas correntes que sempre enquadravam-se para designar aquela avenida naquele momento não foram suficientes. Havia algo mais ali. O badalar do sino da igreja ressaltava uma outra Monsenhor Tabosa. No passado a presença do Seminário era tão forte para aquele logradouro que até já foi usado para sua denominação: Rua do Seminário. Com casas erguidas em terrenos da igreja a influência religiosa na avenida é inegável e está presente até hoje. A substituição do nome por Monsenhor Tabosa, homenageando um sacerdote que dedicou sua vida aos doentes e pobres, é mais uma forma de reafirmar a história da rua em meio aos shoppings e lojas que proliferam pela avenida.
Outro prédio que se destaca em meio às lojas é o SEBRAE, onde são promovidos cursos profissionalizantes além de eventos culturais, como a feira da música. Além de claro, o Centro Cultural Dragão do Mar, que apesar de localizar-se na avenida é inegável sua influência na região. O Centro Cultural, batizado com o nome do pescador que é o símbolo do fim da escravidão no Ceará, aumenta o número de frequentadores da Avenida, que junto ao Dragão do Mar torna-se um ponto turístico do cidade. Apesar do seu aspecto comercial ser o mais usado para justificar a alta frequência de turistas, é inegável que um passeio pela Avenida também seja um passeio pela história da cidade e os aspectos que identificam o povo cearense, como a religiosidade.



O espaço hoje ocupado pelo Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Foto da déc. de 20 ou 30. Arquivo Nirez


Foto de Rick Foth


Religiosidade esta, fortemente marcada na avenida. No alto de uma coluna ao meio da praça, que também se localiza um Teatro que leva o nome de São José, está a estátua de Cristo Redentor. A Praça do Cristo Redentor, é cercada por árvores e táxis. 

Foto da época da Inauguração da torre do Cristo Redentor - 1922 - As casinhas são na 
Rua Rufino de Alencar. Arquivo Nirez
Abrigando o museu do Maracatu o Teatro, de nome cristão, ostenta, singelamente, a nossa miscigenação. 
Na Monsenhor Tabosa, também se encontra a biblioteca Pública Estadual (Governador Menezes Pimentel). 

Inauguração do novo prédio da Biblioteca Pública na Praça do Cristo Redentor, vendo-se Renato Braga, general Teles Pinheiro, Raimundo Girão, Parsifal Barroso, Antônio Martins Filho e José Lins Albuquerque. Foto Estúdio Eln - Arquivo Nirez


Foto de Edimar Bento


A Avenida Monsenhor Tabosa não pode ser taxada meramente como um centro comercial. Ela é muito mais importante que isso, é na verdade uma idiossincrasia nossa. Nela estão presentes elementos peculiares da nossa formação. Olhar a Avenida e elementos ao seu redor, que a ajudam a compor aquele cenário, sempre lembrado como um lugar comercial e de trânsito caótico, é olhar para a composição de uma identidade cultural que insiste em existir mesmo sendo ignorada.


A cara da Monsenhor Tabosa, apesar de maquiada por lojas, continua sendo uma expressão da formação de uma gente, de uma história que, sem termos consciência, nos pertence. A cara da Monsenhor Tabosa, é a minha, é a sua cara.




Parte I

Parte II


Crédito: Monsenhor Tabosa de Corpo e Alma (Alan Regis Dantas, Iana Susan, 
Ônica Carvalho, Lucianny Motta, Fernando Falcão e Sâmila Braga)

Avenida Monsenhor Tabosa - Antiga Rua do Seminário - Parte II


Fatos Históricos da Rua/Avenida:

Fábrica Miramar - Arquivo Nirez

Essa é a Fábrica MiramarInstalações Industriais de Brasil de Matos & Cia., produtora do Café Sertanejo e do Café Baturité e os carros são da mercearia "A Brasileira", do mesmo proprietário.

"A Fábrica Miramar de Ernesto Brasil de Matos & Cia. ficava na Avenida Monsenhor Tabosa no tempo em que só existiam casas de morada e o Seminário Arquiepiscopal, por volta de 1930. Na época o porto de Fortaleza era a Ponte Metálica." Nirez

Em 1936, a Rua do Seminário muda o nome para Avenida Monsenhor Tabosa, homenagem ao Monsenhor Antônio Tabosa Braga*, falecido em 12 de abril do ano anterior.
Projeto do vereador Valdemar Cabral Caracas (Valdemar Caracas).



Ideal Clube na Av. Monsenhor Tabosa, 1381


Em 30 de julho de 1939, lançamento, às 10h, da pedra fundamental da sede do Ideal Clube, na atual Avenida Monsenhor Tabosa nº 1381, na Praia de Iracema, em prédio projetado pelo arquiteto Sylvio Jaguaribe Ekman.



No dia 15 de agosto de 1950, é inaugurada em Fortaleza, na Avenida Monsenhor Tabosa, nº 1054, uma fábrica da bebida Coca-Cola, da firma Fortaleza Refrigerantes S. A., do Grupo Sérgio Filomeno, a primeira no gênero em nossa Capital.
As pessoas ficavam na grande janela de vidro vendo a máquina de encher e tampar as garrafas.



Fábrica da Coca-Cola na Avenida Monsenhor Tabosa - 1950

Em setembro de 1950, é fundado o Maracatu Az de Espada, por José Orestes Cavalcante e Eli Bessa, no decorrer de uma reunião realizada em uma casa da Altamira - a ladeira da rua João Cordeiro, na Praia de Iracema, entre a Avenida Monsenhor Tabosa e a Avenida Aquidabã (atual Avenida Historiador Raimundo Girão).

No dia 30 de março de 1972, o prefeito Vicente Cavalcante Fialho reúne-se com os secretários Antônio Lemenhe, de Urbanismo; e Amauri de Castro e Silva, do Planejamento; e a professora, Aldaci Nogueira Barbosa Mota (Aldaci Barbosa), da Fundação do Serviço Social, a fim de tratar da formação da equipe que fará os estudos da continuação da Avenida Monsenhor Tabosa até a Barra do Ceará.
Foi o primeiro passo para construção da Avenida Marechal Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste).

Em 30 de outubro de 1976, é inaugurada a terceira filial das Casas A Fortaleza, na Avenida Monsenhor Tabosa nºs 1109/11, esquina com Rua Barão de Aracati, propriedade de Salomão Boutala.

A Avenida Monsenhor Tabosa é interditada no dia 22 de agosto de 1992, para obras de melhoramentos visando transformá-la num centro de atração turística.
Foram prometidos melhoramentos no fluxo do tráfego e mehor estacionamento, mas o que se viu foi o estrangulamento da via que tornou-se quase intransitável.
No mesmo ano, em 18 de dezembro, é entregue ao povo de Fortaleza a nova Avenida Monsenhor Tabosa, após completa reforma que a deixou mais estreita e com estacionamentos que dificultam a passagem pela mesma. 

Depois das obras, a avenida ganhou uma nova cara. A rua que era de mão dupla passou a ser de um só sentido. Substituíram o asfalto por calçamento para amenizar o calor e plantaram carnaubeiras que ao balançarem simulam o som da chuva. Daquelas butiques dos anos 70, quase nada restou. Mas, a Monsenhor Tabosa, entrou no século XXI, mantendo o título de passarela da moda do Ceará.

Gif

*Antônio Tabosa Braga, nasceu em Itapipoca, a 19 de dezembro de 1874.  Aos 13 anos, foi estudar no Seminário da Prainha, que também formou o bispo Dom Manuel, seu superior e amigo. Foi incansável na luta pelos mais pobres, tendo dedicado seu trabalho pastoral aos hansenianos. No morro do Croatá (próximo de onde hoje fica o cemitério São João Batista), o padre Tabosa construiu um leprosário. Depois, com apoio do industrial Antônio Diogo de Siqueira, instalou o Leprosário Antônio Diogo, inaugurado em 1928. Sobre ele, escreveu Leonardo Mota, em seu inédito estudo da vida eclesiástica do Ceará: ''Na seca de 1915, se revelou a mais eloquente das vozes que se ergueram a favor dos flagelados''

Parte interna do Seminário da Prainha - Foto de Lizza Bathory

Monsenhor Tabosa morreu em 1935. A avenida batizada com seu nome chamava-se Rua do Seminário, e foi uma das primeiras do antigo bairro da Prainha.


 Fotos da Avenida

A Av. Monsenhor Tabosa hoje - Foto de Paulexpert

Foto Viny321

Foto de Paulo Targino Moreira

Foto de Paulo Targino Moreira

Foto de Rubens Craveiro

A Avenida Monsenhor Tabosa é bem ao estilo de Beverly Hills


Veja a primeira parte AQUI 


Fontes: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo e Monsenhor Tabosa de Corpo e Alma (Alan Regis Dantas, Iana Susan, Ônica Carvalho, Lucianny Motta, Fernando Falcão e Sâmila Braga)

sábado, 9 de junho de 2012

Avenida Monsenhor Tabosa - Antiga Rua do Seminário



Aquarela de José dos Reis Carvalho da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha em 1859.

Conforme dados do arquivo pessoal do pesquisador Clemilton Melo, em meados do século XVI, chegam os holandeses a região cearense e deparam-se com um arraial de índios à margem direita do Riacho Pajeú. Em 1850, é construída uma ponte sobre o riacho, para que a população da Prainha possa chegar ao que atualmente é o Centro da cidade. Já que as ruas que cumprem essa função hoje, Rufino de Alencar e Monsenhor Tabosa, são à época apenas um caminho de areia que passa ao lado da chácara da família Guimarães. Propriedade que uma década depois, seria vendida ao Governo da Província para ser sede do Paço Episcopal. A antiga Rua do Seminário, atual Monsenhor Tabosa, em 1890, muda de nome. A partir da Resolução de 29 de outubro daquele ano, o Conselho de Intendência Municipal da Cidade decreta a mudança. O logradouro passa a ser chamado de Travessa 19-A. A ideia na época é denominar as ruas de Fortaleza da mesma forma que em Nova York. A Rua Floriano Peixoto, no Centro, por exemplo, equiparava-se a Fifth Avenue, sendo chamada Rua Nº 05.

É só em dezembro de 1932 que o governo de Carneiro Mendonça normaliza a nomenclatura das ruas e logradouros, além de promover a reestruturação, a pavimentação e a colocação de meio-fios. 



Avenida Monsenhor Tabosa do Livro Viva Fortaleza 1950-2010

Avenida Monsenhor Tabosa em 1964. Ao longe, o monumento Cristo Redentor

Como descreve Mozart Soriano, na obra História Abreviada de Fortaleza, alguns personagens ilustres residiram na rua e imediações, dois séculos atrás. Na ladeira da Prainha, Rua Almirante Jaceguai, morou Francis Reginald Hull. Cônsul inglês, gerente da Ceará Light Co. e estudioso do clima da terra, ele possuía uma mansão, que se transformou no Instituto Mister Hull. Adentrando a pedregosa Avenida Monsenhor Tabosa, nos prédios de Nºs 05, 15 e 23, hoje ocupados por estabelecimentos comerciais, residia o Barão de São Leonardo. Pouco mais a frente, numa fachada azul destruída e abandonada de Nº 39, morava o poeta cearense José Albano, membro da família do Barão de Aratanha. Já na esquina com a Rua Senador Almino, nos atuais Nºs 83 a 139 situava-se a residência do comerciante Vicente de Castro. Outros nomes que foram destacados por alguns moradores da rua são contemporâneos. Dentre eles, figuram os do compositor Carlinhos Palhano, sobrinho de José Gésio Palhano, fundador da Tamancolândia, e do jornalista de O Estado o advogado Helder Cordeiro.
Estima-se que o caminho de terra que hoje é a Avenida Monsenhor Tabosa tenha sido habitado gradativamente. O terreno que pertencia então a Arquidiocese Cearense começou a ser vendido aos pequenos comerciantes, que ali levantaram seus lares. Conta-se que antes mesmo da Igreja deter o espaço, nele moravam pescadores e trabalhadores. “Fortaleza nasce por ali”, esclarece o pesquisador Clemilton Melo. Embora entre os descendentes de alguns dos fundadores da rua haja poucas lembranças desse período.


Em 08 de dezembro de 1839, são iniciadas as obras da construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha (Igreja da Prainha), iniciativa de Antônio Joaquim Batista de Castro, o Galinha Branca. Com celebração da missa e benção do local, pelo padre Carlos Augusto Peixoto de Alencar, nessa ocasião foi organizada uma irmandade tendo como padrinho Manuel Rufino Jamacaru.  Em 25 de outubro de 1885, quase 46 anos depois de lançada a pedra fundamental da igreja, morre, aos 68 anos de idade, Antônio Joaquim Batista de Castro (Galinha Branca), fundador da Igreja da Prainha, deixando-a quase pronta.

Rua do Seminário - Seminário da Prainha em 1890 - Arquivo Nirez

Em 10 de outubro de 1864, foi fundado o então Seminário da Prainha, como Seminário Episcopal do Ceará, por Dom Luís Antônio dos Santos, primeiro bispo de Fortaleza.
A partir daí, nasce a Rua do Seminário.

A Rua do Seminário, diferente da atual Avenida Monsenhor Tabosa, era uma tranquila rua residencial, com belas casas construídas na década de 20.

Rua do Seminário em 1905. Vemos o Seminário e sua Igreja (Nossa Senhora da Conceição). Arquivo Nirez

Rua do Seminário em 1906 - Arquivo Nirez

Em 12 de abril de 1935, morre em Fortaleza, aos 60 anos de idade, o monsenhor Antônio Tabosa Braga (Monsenhor Tabosa), jornalista, cearense de Itapipoca nascido em 19/12/1874. Foi vigário geral da Arquidiocese do Ceará, sendo o 2º de Dom Manuel.
Um dos fundadores da colônia de Hansenianos de Canafístula (Antônio Diogo) e da União dos Moços Católicos - UMC.
No jornalismo usou o pseudônimo de O Velho Nicodemus.

Em 1936, a Rua do Seminário muda o nome para Avenida Monsenhor Tabosa, homenagem ao Monsenhor Antônio Tabosa Braga, falecido em 12 de abril do ano anterior.
Projeto do vereador Valdemar Cabral Caracas (Valdemar Caracas).



Avenida Monsenhor Tabosa esquina com Av. Rui Barbosa no final da década de 30 início da década de 40 -Arquivo Nirez

 A Monsenhor Tabosa de José Gésio

Um dos principais pontos turísticos e comerciais de Fortaleza, a Avenida Monsenhor Tabosa, também é local de interessantes histórias como a de José Gésio, o fundador da primeira loja do local.
As muitas lojas de sapatos e roupas da Avenida Monsenhor Tabosa guardam a história do fundador do ramo comercial da Avenida nacionalmente conhecida pela grande variedade de produtos vendidos.

Quem anda pela Monsenhor Tabosa não imagina que no meio de tantas lojas ainda existam edifícios residenciais como o Santa Marta, que é moradia de um personagem indispensável para aqueles que buscam conhecer um pouco da história do lugar.

O homem de 73 anos e cabelos que demonstram a idade avançada chama-se José Gésio Palhano, casado há 52 anos com dona Esmeralda. Nascido no Ipu, José Gésio pode ser considerado o responsável pelo sucesso que a Avenida Monsenhor Tabosa possui hoje, pois, junto com seus irmãos, fundou a primeira loja, a Tamancolândia (A Tamancolândia chegou mudando padrões, apresentando variedade em modelos, agregando charme ao calçado. No encalço, outras lojas abriram ao longo da avenida, as primeiras, de artesanato, logo mais, as confecções. Fortaleza começava, sem suspeitar, a ser roteiro turístico. E quem estava atraindo o visitante não era o mar de águas verdes, mas rendas e bordados em finas blusas de cambraia e linho. O sucesso das pioneiras atraiu um leque de lojas, aliás, butiques, como se dizia, para este pedaço da Praia de Iracema.)
, especializada no comércio de tamancos.

Em 1972, quando a Avenida era repleta de residências, seu José abriu a loja que, mais tarde, serviria de exemplo para a instalação de muitas outras. Pouco tempo depois da instalação da Tamancolândia, surgiu a Biboca, que existe até hoje e é especializada em comércio de sapatos.

A Fortaleza com características rurais começava a adquirir formato de cidade desenvolvida com o comércio que, aos poucos, ia fazendo parte da cidade e da vida das pessoas. O Seminário da Prainha é um exemplo de construção que resistiu ao tempo e à especulação comercial da área.


 

O Edifício Santa Marta na Av. Monsenhor Tabosa, 467 - Acervo do site 123i

A paixão pelo comércio e pela criatividade foram determinantes na vida de José Gésio, que não se contentou em abrir um estabelecimento de vendas na Monsenhor Tabosa e decidiu morar lá. A Tamancolândia teve curta duração, apenas 15 anos. O motivo para a falência da loja, como explica Gésio, foi a “falta de administração de seus irmãos, que começaram a gastar muito e fizeram com que o lucro da loja caísse”.

Com o desenvolvimento urbano e turístico, as residências da Monsenhor Tabosa cederam lugar às lojas que começavam a surgir. Hoje, quase 40 anos depois, a Avenida é tomada pelo comércio e grande número de turistas, encantados com a forma e disposição do trecho turístico altamente convidativo.

Mais de 450 lojas fazem parte dos 700 metros de Avenida, marcada pelo grande fluxo de pessoas e carros. Mesmo com a agitação que domina o dia a dia da Monsenhor Tabosa, José Gésio escolheu o local em que fundou a primeira loja da Avenida para fixar residência. Ao lado da esposa, Esmeralda, ele mora há vários anos no Edifício Santa Marta, número 467, localizado exatamente no centro do roteiro turístico bastante frequentado por pessoas e com barulho durante boa parte do dia.



Av. Monsenhor Tabosa  na década de 30 - Arquivo Nirez

A convivência de José Gésio e Esmeralda com seus vizinhos é bastante amigável, assim como é a relação do casal com os vendedores ambulantes que trabalham próximo ao Edifício.
A vida simples de seu José resume-se à produção de sacolas de TNT que ele vende para as lojas da Monsenhor Tabosa.

O homem responsável pelo surgimento do comércio que tornaria a Avenida em um dos pontos turísticos mais importantes de Fortaleza olha para o passado com orgulho de sua história e com respeito pelo que sua iniciativa gerou à Fortaleza. A Monsenhor Tabosa de José Gésio é apenas um exemplo das inúmeras histórias que existem em Fortaleza e que poucas pessoas conhecem.

Em 1972, Fortaleza ainda não tinha nenhum shopping (o primeiro, o Center Um, só seria inaugurado dois anos depois, em 1974), as pessoas faziam compras no Centro e o barato da moda - a causar inveja às garotas da periferia - era se vestir nas butiques.  
A Monsenhor Tabosa, ganhava sua primeira loja de calçados, a Tamancolândia. Pouco tempo antes, só quem usava tamanco era o "zé-povinho", um tamanquinho tosco, vendido nas bodegas, pendurado em cordões ao lado de abecedários e tabuadas. Havia os caros tamancos Dr. Scholl, ortopédicos, mas muito sem graça.

A Tamancolândia chegou mudando padrões, trazendo novos conceitos. A partir daí o tamanco caiu no gosto de todos, mudando a história do tamanco e da mais famosa alameda de compras da cidade. 


  
Créditos: Jornal O Estado do Ceará, Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Site Guia Tripulante e Monsenhor Tabosa de Corpo e Alma (Alan Regis Dantas, Iana Susan, Ônica Carvalho, Lucianny Motta, Fernando Falcão e Sâmila Braga)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Rua Padre Mororó - A rua e o padre


Rua Padre Mororó em 1943 - Arquivo Nirez

"Fotografo de costas para o sertão e de frente para o Pirambú. Logo mais a frente, no final da rua, à esquerda, está o Cemitério São João Batista. Fotógrafo no cruzamento das ruas Pedro Pereira com a Padre Mororó.
Esta casa à esquerda era uma belíssima chácara pertecente ao Dr. Jadir Weyne, filho de um grande cearense, Álvaro Weyne. Hoje esse trecho está quase todo descaracterizado.  A chácara do Dr Jadir hoje é uma Cooperativa.  A maioria das casas hoje deram espaço a bares, restaurantes, oficinas... Este Ficus à direita ainda está lá, cada vez mais bonito e frondoso. O fotógrafo estava em frente à Padaria Modelo, que ainda existe, desde 1930."  Nirez

Conforme registrado no livro Idéias e Palavras, na época em que o bairro Arraial Moura Brasil, se chamava Morro do Moinho, e a rua Governador Sampaio, era o Beco da Apertada Hora, a atual Rua Padre Mororó, era chamada de Rua São Cosme.
Em 29 de outubro de 1890, todas as ruas e avenidas de Fortaleza, por resolução do Conselho da Intendência Municipal, passam a ter números no lugar de nomes, modismo que durou alguns meses.
A rua Padre Mororó passou a ser a
 Rua Nº16.
Outros exemplos: a Rua Formosa (Rua Barão do Rio Branco) passou a ser a Rua Nº 1; o Boulevard Duque de Caxias, Travessa Nº 1, etc.

No dia 28 de abril de 1891, a Sessão do Conselho torna sem efeito a resolução do dia 29/10 do ano anterior, que mudou os nomes das praças e ruas, retirando nomes próprios e colocando nas ruas números, voltando todos os nomes anteriores.
Parece que o intuito era retirar todos os nomes próprios de todos os logradouros públicos.


Em 30 de abril de 1825, são executados por sentença da Comissão Militar, o padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo Mororó* (Padre Mororó), nascido na povoação de Riacho Guimarães (Groaíras) em 29/07/1778 e o coronel de milícias João de Andrade Pessoa Anta, nascido em Granja, a 23/12/1787. Ambos hoje são nomes de vias públicas em Fortaleza, Rua Padre Mororó e Avenida Pessoa Anta.


A Escola Moura Brasil na Rua Pe. Mororó, 189 - Acervo do Blog da Escola

A Praça do Muriçoca fica em frente a Rua Padre Mororó - Foto de Ápio

Prédio do DNOCS na Rua Padre Mororó - Foto de Ney Madeira

Fatos históricos da rua Padre Mororó





Cemitério São João Batista - Foto de Ápio


  • 18/novembro/1893 - Fundada em Fortaleza a Cal-Marmórea Cearense, de Álvaro Teixeira de Souza Mendes e Manuel Vila Nova, na Rua Padre Mororó nº 27/27 (antigos), em frente ao Cemitério de São João Batista e também no km 73 da Estrada de Ferro de Baturité em frente à estação de Itapaí.

Rótulo dos cigarros Ideal Club - Arquivo Nirez

  • 1931 - A firma A. Beleza & Cia. Ltda., na Rua Padre Mororó nº 67 (antigo), lançou os Cigarros Ideal Club Cearense, onde aparecem na carteira (maço) a bandeira do clube e as instalações localizadas na Avenida João Pessoa, nas Damas.

 Rua Padre Mororó - Foto de Ney Madeira


  • 1935 - O português Manuel da Silva Praça estabelece-se com a Padaria Globo, na Rua Padre Mororó nº 1155, esquina com Rua Pedro Pereira. 


  • 23/junho/1955 - Inaugura-se o primeiro bloco da nova sede da Sociedade Cearense de Fotografia e Cinema - SCFC, na Rua Guilherme Rocha nºs 1264/1296 entre a Rua Padre Mororó e a Rua Luís Hortêncio, fazendo esquina com esta. A construção ficou a cargo do arquiteto Enéas Botelho


Rua Padre Mororó - Foto de J. Reginaldo C.  


  • 10/maio/1976 - Criado em Fortaleza o Clube do Chorinho, na Rua Padre Mororó nº 1072, por Raimundo Dias Calado (Mundico Calado). Com a morte do fundador, a família continuou as apresentações. 


  • 27/dezembro/2002 - Fundação, na rua que tem o nome de um rebelde da Confederação do Equador, o Padre Mororó, na casa em que morou um padeiro da Padaria Espiritual, o escritor Eduardo Sabóia, e o seu quintal dá comunicação para a casa do polêmico escritor Jáder de Carvalho, com endereço Rua Padre Mororó, 952, o Instituto de Filosofia da Práxis, que é um espaço de reflexão, discussão e divulgação da teoria da Crítica Radical, que defende o projeto da emancipação humana. 

Rua Padre Mororó - Foto de Ápio

Rua Padre Mororó vendo-se os muros do Cemitério São João Batista - Foto de Ápio

Praça do Muriçoca - Foto de Ápio

*Gonçalo Inácio de Loyola Albuquerque e Mello - O Padre Mororó

Mais conhecido como Padre Mororó, Gonçalo Inácio de Loyola Albuquerque e Mello, foi sacerdote, jornalista e revolucionário brasileiro.

Nasceu em Groaíras (então chamada de Riacho dos Guimarães), em 29 de julho de 1778 e morreu em Fortaleza, em 30 de abril de 1825.

Filho de Félix José de Sousa e Oliveira e de Teodósia Maria de Jesus Madeira. Era primo-irmão do padre Miguelinho e primo-tio de Tomás Pompeu de Sousa Brasil. Avós (paternos): Francisco de Sousa Oliveira Catunda e Tecla Rodrigues; Avós (maternos): Manuel Madeira de Matos e Francisca de Albuquerque e Mello. O pai do Pe. Mororó era do Norte Rio Grandense e sua mãe, era filha de português casado com uma Albuquerque (de Pernambuco). Gonçalo teve o sobrenome registrado o de sua avó materna.

Iniciou seus estudos no interior do Ceará, partindo, aos vinte e dois anos, para Pernambuco, onde se matricula no curso de Teologia. Ordenou-se sacerdote em 1802 no Seminário de Olinda, que segue orientação iluminista e com influencia na formação de idéias anti-absolutistas numa geração de jovens. No seminário teve como colegas Frei Caneca, Padre Miguelino e Padre João Ribeiro.

Exerceu a atividade religiosa em várias cidades do interior do Ceará, onde chegou a pregar contra a Revolução de 1817. Aos poucos, porém, começou a ter contato com as idéias liberais, graças à leitura do jornal Correio Braziliense.

Quando soube da notícia do fechamento da Constituinte de 1823, liderou o repúdio de Quixeramobim ao autoritarismo do D. Pedro I. Formou-se, então, o movimento que culminaria na Confederação do Equador. Utilizou-se como veículo de comunicação dessas idéias o Diário do Governo do Ceará, o primeiro jornal publicado no estado, cuja redação e direção coube ao Pe. Gonçalo Inácio de Albuquerque Mororó. Em pouco tempo o jornal deixou a condição natural de porta voz do governo para transformar-se em peça de artilharia da campanha por um Nordeste independente e que posteriormente se passasse para todo o Brasil.

 


O nome Mororó, surgiu por nacionalismo típico da época, assim como de muitos líderes revolucionários nordestinos, que substituíram os seus cognomes por nomes que lembrassem alguma coisa do país e traduzissem adesões a independência como: Araripe, Ibiapina, Arerê, Sucupira, Buriti, Anta, Sussuarana, Carapinima, Capibaribe, Montezumas e tantos outros. Era uma afirmação pública de nacionalismo, ou melhor, brasilidade. Dando origem assim ao sobrenome, que famílias locais posteriormente adotariam, buscando assim resgatar e manter viva a memória do mártir que sacrificou a sua vida em prol dos nordestinos.

 
Antigo Campo dos Mártires - Arquivo Nirez

Com o fracasso do movimento, foi preso e condenado à morte pela forca. Entretanto, a pena foi convertida em fuzilamento já que ninguém se prontificou a exercer a vil tarefa de ser o carrasco. Assim, Padre Mororó foi executado no antigo Campo dos Mártires, hoje chamado Praça dos Mártires ou Passeio Público.



Fonte: Blog Maracatu Fortaleza, Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza 
de Miguel Ângelo de Azevedo e Wikipédia

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