Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Execução de Pe. Mororó ocorreu há 187 anos - Parte II


A Igreja do Rosário

A Igreja do Rosário estava lotada naquela manhã ensolarada de domingo para a macabra missa fúnebre de corpo presente. Dois rebeldes confederados assistiam à cerimônia de encomenda dos seus corpos que logo mais seriam crivados de balas. O ritual macabro possuía roteiro de um teatro de horrores: encomenda prévia da alma com os “eleitos” presentes, degradação das honras, formação do aparato militar e fuzilamento público para uma platéia sedenta de sangue. Mas, afinal, quais os sonhos dos rebeldes tropicais da confederação do equador?

Padre Mororó foi condenado à morte por crime de Lesa Majestade. Contra ele pesavam três crimes: 1) Ter proclamado a República em Quixeramobim; 2)Ter servido de secretário do Presidente da República no Ceará, Tenente Coronel Tristão Gonçalves de Alencar Araripe; 3) finalmente, de ter sido o redator do Diário do Governo do Ceará, órgão dos Republicanos.

A Confederação do Equador foi um movimento rebelde, liberal e republicano contra o absolutismo do Imperador Dom Pedro I. O mesmo príncipe que com o apóio das elites proclamou a Independência do Brasil do colonialismo português agora demonstrava sua face mais tirânica e cruel. Impôs uma Constituição despótica em 1824 e condenou à morte Mororó, Caneca, Carapinima, Miguelinho, João Ribeiro e tantos mais que ousaram sonhar pela liberdade. Mororó foi mais. Usou como canal de propagação das idéias confederadas um jornal, o primeiro do Ceará, o “Diário do Governo do Ceará”, certamente inspirado no Correio Brasiliense, primeiro jornal do Brasil, editado de Londres e enviado clandestinamente para o Brasil. O nosso primeiro jornal não era editado em Londres e sim em Quixeramobim, mas também propagava luzes contra o jugo dos poderosos, as trevas do autoritarismo. Mororó pagou com a vida o preço dessa ousadia. 


 
Passeio Público - Álbum de Vistas do Ceará 1908 

Ao findar a missa, o Padre Gonçalo Ignácio de Loiola Albuquerque, ou melhor Padre Mororó, e o coronel João de Andrade Pessoa Anta caminharam sem pressa pela Rua dos Mercadores ( Hoje Conde D’eu), seguiram pelo trecho da hoje Rua Guilherme Rocha, dobrando na Rua Major Facundo e prosseguiram até o Campo da Pólvora. Não estavam sós. Populares e soldados acompanharam o cortejo. Alguns dependurados nos galhos das árvores. Quando um dos galhos quebrou, parte do populacho foi ao chão como frutas podres que despencam em meio a zombaria geral. Mororó até esboçou um sorriso, mas o enredo era trágico e não cômico. O povo que os rebeldes confederados queriam libertar pouco ou nada sabia sobre as causas daquele movimento. 

 
Passeio Público - Álbum de Vistas do Ceará 1908 

Diante do pelotão de fuzilamento, Padre Mororó recusa a venda e pede que não lhe ponham no peito a fita que indicava o local da mira, coloca a mão direita sobre o coração e corajosamente diz para o pelotão: “camaradas, o alvo é este. Tiro certeiro para que não me deixem sofrer muito”. O sangue do padre banhou o Baobá, árvore gigante importada da África. Ali, ao pé do baobá, muitos outros tombaram porque ousaram sonhar com um Nordeste Independente do resto do Brasil, um país tropical livre e republicano contra o Absolutismo de Dom Pedro I. Hoje o local se chama Praça dos Mártires, ou Passeio Público, e os fantasmas rebeldes confederados nos cobram a memória do passado e os compromissos de luta do presente.
Evaldo Lima

O famoso Baobá do Passeio Público - Álbum de Vista do Ceará 1908


Parte I



Evaldo Lima é Prof. de História e atualmente exerce a função de Sec. de Esporte e Lazer de Fortaleza.



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domingo, 17 de junho de 2012

Execução de Pe. Mororó ocorreu há 187 anos



Filho ilustre do município de Groaíras, Padre Mororó foi um dos mártires da Confederação do Equador


Fortaleza. Há 187 anos morria Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque Melo, que consagrou-se na história do Brasil como Padre Mororó, um dos expoentes do movimento político que ficou conhecido como a Confederação do Equador. Padre Mororó foi morto a tiros de arcabuz no dia 30 de abril de 1825, numa execução ocorrida no Passeio Público, em Fortaleza, após ter sido preso e acusado de praticar três crimes: proclamação da República de Quixeramobim; secretariado o governo revolucionário de Tristão Gonçalves e redigido o “Diário do Governo”, o primeiro jornal do Estado do Ceará.


Passeio Público em 1900

A condenação determinava o seu enforcamento porém, por não haver quem quisesse servir de algoz, a pena comutada para fuzilamento, ou melhor, tiros de arcabuz, uma antiga arma de fogo portátil, espécie de bacamarte. A crônica de Viriato Correia descreve com perfeição os últimos minutos de Padre Mororó: Naquele dia 30 de abril de 1825 havia em Fortaleza um grande rumor de multidão emocionada. Ia ser executado pelas tropas imperiais o Padre Mororó. Na praça em que vai haver a execução, a multidão é tanta que, a custo, as tropas conseguem abrir passagem. Mororó é colocado na coluna da morte. Um soldado traz a venda para lhe por nos olhos, ´Não´, responde ele, ´eu quero ver como isto é´. Vem outro soldado para colocar-lhe sobre o coração a pequena roda de papel vermelho que vai servir de alvo. Detém a mão do soldado: ´Não é necessário. Eu farei o alvo´ e, cruzando as duas mãos sobre o peito, grita arrogantemente para os praças: ´Camaradas, o alvo é este´. E num tom de riso, como se aquilo fosse brincadeira diz: ´e vejam lá! Tiro certeiro que não me deixem sofrer muito´”.

Segue Viriato, em seu relato: “Houve na multidão um instante cruel de ansiedade... A descarga estrondou. O Padre Mororó tombou sem vida. A seus pés tinham caído três dedos da mão que as balas deceparam”.

O seu nome, como de muitos outros mártires brasileiros, encontra-se na gaveta empoeirada do esquecimento, inclusive na sua cidade natal, Groaíras, pouca atenção tem sido dispensada àquele que foi seu filho mais ilustre. Nas décadas de 60 e 70, o então prefeito Cezário Feijó de Melo, um de seus descendentes, colocou o seu nome numa rua e numa praça. Na década de 80, quando governava o município, Joaquim Guimarães Neto, foi feita a divisão da cidade em bairros, o local onde ele nasceu, conhecido como Mato Grosso, passou a chamar-se bairro Padre Mororó, porém, pouca gente hoje tem conhecimento disso e, por tal razão, continua a ser conhecido pela antiga denominação.

Falta de atenção

Naquela mesma década, por sugestão de um grupo de groairenses que criaram a Associação dos filhos de Groaíras residentes em Fortaleza, e por influência do desembargador José Maria Melo, foi construído um memorial: prédio moderno, bonito, porém, abandonado, infelizmente.

Esta falta de atenção já foi percebida, em 1975, pelo ilustre historiador sobralense, padre João Mendes Lira, que assim se manifestou: “O Padre Mororó foi tão elevado em seus ideais cívicos, religiosos e sociais quanto o General Sampaio. Por que, então, não deixar em Groaíras uma lembrança que perpetue a bravura, o destemor, o heroísmo de um homem que soube dar sua vida pelos nobres ideais que professava?”. Embora padre Lira não tenha dito expressamente, ao citar a cidade de General Sampaio, outro grande cearense, nascido na localidade que hoje tem o seu nome como homenagem, quis o ilustre professor sugerir a mudança do nome de Groaíras para “Padre Mororó”, idéia com a qual concordo e aproveito para conclamar os groairenses a apoiá-la.

CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR

Religioso destacou-se na luta republicana

Fortaleza. Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque Melo foi o nome de batismo de Padre Mororó, que nasceu no dia 24 de julho de 1778, no Riacho dos Guimarães, atual Groaíras. Ele iniciou os estudos no Interior do Ceará. Ainda moço foi mandado para o Seminário de Olinda, onde se ordenou. Como padre, foi capelão nas Vilas de Boa-Viagem, Tamboril e Quixeramobim.

Ele foi professor de língua latina em Aracati e jornalista, redator do primeiro jornal do Ceará — lançado em 1º de abril de 1824. Foi também político e secretário do governo revolucionário de Tristão Gonçalves, quando teve participação ativa no movimento da Confederação do Equador.

Pe. Mororó destacou-se como idealizador e signatário da histórica sessão de 9 de janeiro de 1824 da Câmara de Quixeramobim. Neste dia, reunidos clero, nobreza e o povo, proclamou-se a primeira República do Brasil, rompendo assim com a monarquia absolutista de D. Pedro I.

O motivo daquela histórica sessão foi a grande traição cometida pelo imperador, que dissolveu, em novembro de 1823, a Assembléia Geral Legislativa e Constituinte que ele mesmo houvera instalado para escrever a primeira Constituição do Brasil, em maio do ano de 1823. Tudo isso aconteceu em 1824, 65 anos antes da proclamação da República, em 1889, sete meses antes da Confederação do Equador, iniciada em 26 de agosto de 1824.

Movimento autonomista

A Confederação do Equador, o mais significativo movimento autonomista e republicano acontecido no Brasil, no início do século XIX, foi causado pelo descontentamento que a dissolução da Assembléia Constituinte de 1823, e a outorga da Constituição de 1824, por D. Pedro I. Isto provocou, no Nordeste, uma insatisfação geral.

Pernambuco foi o centro irradiador deste descontentamento. No entanto, no Ceará, ao receber a notícia, vinda pelas mãos do diácono José Martiniano de Alencar, que à época estudava no seminário de Olinda, a Câmara da Vila de Campo Maior de Quixeramobim, numa memorável e heróica sessão, acontecida no dia 9 de janeiro de 1824, proclamou a primeira República do Brasil, quebrando, então, todos os laços que havia com a realeza, acusando, inclusive, o imperador de traidor da Pátria e declarando-o e toda a sua descendência decaídos dos direitos ao trono.

Determinou também que de imediato se organizasse um governo republicano para, o quanto antes, substituir o Governo Provisório existente na Capital e que ainda fora nomeado pelo usurpador deposto. Essa histórica sessão deu início ao movimento libertário que tantos sacrifícios custaram aos nossos conterrâneos.

Heróico movimento

Comandadas pelo groairense Padre Mororó — que, além de liderar, participar e subscrever aquela memorável ata, determinou que fossem enviadas deputações a outras Vilas para comunicar e conseguir adesão, como de fato sucedeu — as Câmaras das Vilas de Icó, Aracati e São Bernardo das Éguas Russas aderiram de imediato à causa, reproduzindo e fortalecendo o movimento que daí se espalhou por toda a província do Nordeste.

O heróico movimento teve figuras ilustres dos cratenses: Bárbara de Alencar e seus filhos José Martiniano e Tristão Gonçalves, do groairense, Mororó, do sergipano de Santo Amaro da Brotas, Pereira Filgueiras e tantos outros heróicos e valentes conterrâneos. Todos escondidos por trás de alcunhas como Alecrim, Anta, Araripe, Aroeira, Baraúna, Beija-flor, Bolão, Carapinima, Crueira, Ibiapina, Jaguaribe, Jucás, Manjericão, Mororó, Sucupiras, Oiticica. E, mesmo cientes de que a luta poderia lhes trazer serias conseqüências, foram adiante. De fato, muitos pagaram com a vida.


Parte II
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Crédito: Diário do Nordeste

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Aderson Moreira da Rocha - Um brilhante engenheiro


O Dr.  Aderson Moreira da Rocha, nasceu em 12 de abril de 1911 em Fortaleza. Filho do ex-Deputado Federal Dr. Manuel Moreira da Rocha e de Amália Moreira da Rocha.

O Professor Aderson Moreira da Rocha era formado em Engenharia pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro e foi professor catedrático da Escola de Arquitetura e da Escola de Engenharia da hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Era cearense de nascimento, filho de uma tradicional família do Ceará, inclusive muito ligada à política local. Seu pai, Dr. Manoel Moreira da Rocha, foi Deputado e chefe político do Ceará durante muitos anos. Era um homem que tinha uma grande bravura pessoal e recebeu a alcunha, pela qual era muito conhecido no Ceará, de "Manuel Onça", justamente pela sua combatividade. 


O pai (Manuel Onça) - Acervo de Angelo Moreira da Rocha

O professor Aderson tinha irmãos que militaram na política, como, por exemplo, Crisanto Moreira da Rocha, que foi Deputado Federal em várias legislaturas e fundador da Casa do Ceará, uma benemérita instituição em Brasília, que presta um grande serviço às pessoas mais necessitadas; Acrísio Moreira da Rocha, Prefeito de Fortaleza por dois mandatos e interventor do Ceará no período do Estado Novo; Péricles Moreira da Rocha, que foi Deputado Estadual em várias legislaturas no Ceará; e outros irmãos que se destacaram em várias atividades profissionais. 


Altair Bittig Borges Moreira da Rocha - Acervo de Angelo Moreira da Rocha

Casou-se pela primeira vez com Altair Bittig B. Moreira da Rocha com quem teve três filhos.

Aderson com a esposa Altair e o filho mais velho - Acervo de Angelo Moreira da Rocha

O professor Aderson Moreira da Rocha foi, ainda, professor honoris causa de várias universidades estrangeiras, ajudou a organizar o curso de Engenharia da Universidade de Brasília, fundou várias revistas técnicas que difundiam artigos, principalmente sobre cálculo estrutural e sobre concreto armado, formou grande contingente de calculistas que dele receberam segura orientação técnica e profissional e foi um dos responsáveis pela massificação do uso do concreto armado no Brasil. Inclusive, em Brasília, o cálculo da primeira ponte sobre o Lago Paranoá foi de sua autoria.

Aderson Moreira da Rocha teve quatro meninos: Aderson, Angelo, Zé Mauro e Claudio, fruto de seu segundo casamento.

Foi o único irmão de Acrísio, Péricles e Crisanto que não foi político mas teve uma CARREIRA BRILHANTE e, até hoje, é conhecido por TODOS OS ENGENHEIROS CIVIS que se formaram até o final da década de 90 (em particular), principalmente por seus livros didáticos que, por muito tempo eram os únicos especializados e vendidos para o exterior. Seu extenso Currículo já foi publicado em várias revistas especializadas, no CREA e no Clube de Engenharia onde era homenageado quase todo ano. 

Foto de uma das homenagens a Aderson Moreira da Rocha na sua terra natal, Fortaleza, dos professores universitários que lhe deram o título de DOUTOR HONORIS CAUSA na Universidade do Ceará - Acervo de Angelo Moreira da Rocha

Um dos inúmeros títulos recebidos no Rio, provavelmente o de PROFESSOR EMÉRITO da Universidade Federal do Rio de Janeiro Acervo de Angelo Moreira da Rocha

Em 20 de abril de 1934, informam telegramas do Rio que, vitorioso num concurso, foi nomeado Engenheiro da Prefeitura do Distrito Federal o Dr. Aderson Moreira da Rocha.

No dia 09 de Setembro de1967, ocorre reunião do Conselho Universitário, tendo o reitor Fernando Leite proposto os nomes de Aderson Moreira da Rocha e Tarso Dutra para Doutor Honoris Causa pela UFC.

O irmão Acrísio com os sobrinhos Acervo de Angelo Moreira da Rocha


A mãe Amália Moreira da Rocha, pouco tempo antes de falecer – Década de 70 - Acervo de Angelo Moreira da Rocha


Aderson Moreira da Rocha em sua casa em cerimônia religiosa com os três filhos e suas noras na década de 80 - Acervo de Angelo Moreira da Rocha



Aderson Moreira da Rocha no escritório de sua residência, trabalhando em seus cálculos de estrutura, com o filho Angelo aparecendo ao fundo. Década de 80 - Acervo de Angelo Moreira da Rocha


Aderson Moreira da Rocha, faleceu no dia 25 de janeiro de 1996 na cidade do Rio de Janeiro.


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Agradeço ao querido amigo e filho do homenageado, Angelo Moreira da Rocha, por várias informações e pelas maravilhosas fotos pessoais que ele me enviou.

Fontes de pesquisa:
http://www.senado.gov.br, Multiply Família Moreira da Rocha e Revista do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) -1958 e 1986

Soldado Luiz Gonzaga


Soldado Luiz Gonzaga

“Passou pelo Crato e depois Fortaleza, no Ceará, onde serviu no 23º Batalhão de Caçadores. A tensão política que precedia a Revolução de 30 acabou levando Gonzagão e uma parte de seu batalhão para a cidade de Souza, na Paraíba, onde permaneceram por pouco tempo.”
João Marcelino Mariz

Como Tenente, servia no 23º Batalhão de Caçadores. Designado, juntamente com dois sargentos, organizávamos a festa de confraternização natalina do Quartel. Solicitamos sugestões a todos. Transcorria dezembro de 1968.

Das manifestações, uma mereceu atenção maior. Veio de sargento da Banda de Música. Convidar o ex-Soldado Corneteiro 728, Bico de Aço, para cantar e encantar as famílias dos praças e oficiais.

Na ocasião, não me ative aos detalhes do número, nem do apelido do cantante sugerido. Chamei o músico para indagar a respeito. Solicito e contente pela atenção, não somente informou de quem se tratava como discorreu a respeito.

Referira-se a Luiz Gonzaga do Nascimento, nascido na Fazenda Caiçara, em 13 de dezembro 1912, Exu, Pernambuco, filho de Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus. Ninguém menos do que o famoso e conhecido Luiz LuaGonzaga – o Rei do Baião.

23º Batalhão de Caçadores

Fiquei atônito. Como conseguir tal? O sargento, cujo nome me foge à memória, disse que, mesmo não sendo amigo íntimo do Gonzagão, seu empresário no Ceará era o mesmo que apoiava o conjunto musical dele e poderia conseguir. O coronel João Olímpio Filho, então comandante do Batalhão, aprovou a idéia. Convidar o inigualável sanfoneiro, prestar-lhe homenagem como ex-Soldado do 23 BC e entregar-lhe uma placa de prata registrando o evento.

Dias depois, veio a confirmação da presença. Luiz Gonzaga compatibilizaria ida a Natal, Rio Grande do Norte, com vinda a Fortaleza. Estabeleceu a data e horário. Este, entre 17 e 19 horas. Tudo acertado, nem acreditávamos em tão grandioso acontecimento. Cívico, fraterno-cristão e artístico. 

 
O soldado Luiz Gonzaga posa com sanfona na banda de música do quartel do Exército  - Tokdehistória

Estávamos todos enganados quanto à alegria. Não éramos nós os mais felizes. Luiz Gonzaga suplantou a todos. Emocionou-se grandemente. Riu, chorou, cantou, agradeceu e, até, pilheriou. 

O apresentador, por duas vezes, disse que ele estava “contaminando” os presentes. E ouviu, em tom descontraído: “Menino, contaminação para mim é de doença, muda a rima!” 

Hoje, no Oriente Eterno, deve estar cantando “Acácia Amarela”. Mais uma vez, obrigado inesquecível Rei Luiz Gonzaga!

Geraldo Duarte


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Crédito ao querido amigo Geraldo Duarte, que é advogado, administrador e dicionarista.

Gran Circo Español



Final das tardes. Por mais de uma semana. Garotos e adultos esperavam a passagem do bloco alegre anunciador da novidade. À frente um palhaço com trajes coloridos, simulada calva, colarinho e cintura da calça exageradamente grandes, a cambalhotar e pilheriar. Um anão, um disfarçado em gigante com pernas de pau e uma moça trajada de bailarina, montada em cavalo branco, guiavam o cortejo completado por adolescentes. 

A animação tomava conta do grupo. Cantilenas humorísticas e satíricas do provocador de risos eram respostadas em refrãos pelos acompanhantes, ganhadores de entradas gratuitas.

Acervo do colecionador Luís Cubo

Das portas das casas e calçadas, a curiosidade pública assistia ao alegre desfile anunciador do “maior espetáculo de todos os tempos, com produção espanhola e artistas famosos”.

Parangaba e bairros vizinhos receberiam o grandioso acontecimento circense jamais visto, segundo panfletos de precária impressão, em papel-jornal, distribuído de mão em mão.

Acervo do colecionador Luís Cubo

Chegado o dia da estréia. Mesmo não sendo grande como os circos Garcia, Nerino e Vostok, que raramente vinham a Fortaleza, empolgava o público espectador. 



Espetáculo dedicado às Forças Armadas em Fortaleza, 1945 / Foto Acervo Circo Nerino

Circo Nerino na Praça Clóvis Beviláqua, em 1933 / Foto Arquivo Circo Nerino


Tecido de inferior qualidade, substituto da lona, circundava a arena. Coberta não possuía. Cadeiras, em volta do picadeiro, vinham das casas do respeitável público. As arquibancadas – gerais, como denominadas, – formavam-se por tábuas, escalonadas em níveis diferenciados e fixadas sobre cavaletes. 


Imagem meramente ilustrativa

Uma espécie de tenda servia para acesso dos artistas e, também, de palco. 

A denominação Gran existia no entusiasmo, Circo, no fazer acontecer da magia mambembe e, Español, na nacionalidade dos irmãos Gálvez, os proprietários.  

Foto de 1934 - Em destaque, um circo armado na Praça dos Voluntários

O palhaço com piadas, chistes, saltos e danças, era o artista maior. Trapezistas em piruetas no ar. Acrobatas e malabaristas no desafio à gravidade e ao equilíbrio. Contorcionista com flexibilidade corporal impressionante. Mágico na transformação do ilusório em quase realidade. E, ao final da função, uma peça teatral. Por vezes, ante as inexperiências dos atores, cenas tristes levavam a plateia ao riso. Era o verdadeiro circo de manifestação popular, espontânea.

Geraldo Duarte


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Crédito ao querido amigo Geraldo Duarte, que é advogado, administrador e dicionarista.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Escola Moura Brasil



28 de fevereiro de 1937 - Inaugura-se um Grupo Escolar no Arraial Moura Brasil, denominado Escolas Reunidas Moura Brasil. "Esta é a escola inaugurada em 1937 com o nome de Escolas Reunidas Moura Brasil, na Rua Braga Torres no Arraial Moura Brasil, bairro que praticamente não mais existe. Só resta a Igreja de Santa Teresinha" Nirez

A Escola Moura Brasil na década de 30/40 - J Terto

A Escola em foto do Jornal Unitário de 22 de março de 1952 - Acervo Lucas Jr.

A E.M.E.I.F. Moura Brasil foi criada pelo Decreto Nº 12379 de 13 de maio de 2008, publicado no DOM de 16/05/2008. Sua origem, no entanto, data do ano de 1932, funcionando como escola isolada. Em 1934, foi inaugurada em sede própria, nas proximidades da capela de Santa Terezinha, no Arraial Moura Brasil, bairro habitado por uma população muito carente.

Foto do acervo do Blog da Escola

Foto do acervo do Blog da Escola

Em 1937, no governo de Menezes Pimentel, passou a funcionar como Grupo Escolar Moura Brasil. Em 1971, devido à ação violenta do mar, suas instalações ficaram danificadas, e o serviço de engenharia da SEDUC interditou o local. Mais tarde, o prédio foi demolido.

Foto do acervo do Blog da Escola

Com a demolição, nova sede foi construída, situada à rua Padre Mororó, 189, bairro Moura Brasil, esquina com Av. Presidente Castelo Branco, com inauguração em 15 de agosto de 1972. Em 1974 recebeu a denominação de Escola de 1º Grau Moura Brasil.
Seu ato de criação inicial é o Decreto 11.493, publicado no DOE de 17/10/1975. Em 2002, por ato do governo do Estado, através do Decreto 26.881, publicado no DOE de 30/12/2002, passou a se denominar Escola de Ensino Fundamental e Médio Moura Brasil. O ensino médio funcionou nos anos 2005 e 2006, porém não prosperou.

Foto do acervo do Blog da Escola

Diante dessa situação, a SEDUC entregou o prédio para a Prefeitura Municipal de Fortaleza para que , dessa forma, fossem atendidas as demandas de vagas para crianças do Ensino Fundamental pertencentes às comunidades do entorno da escola.


Endereço da Escola: Rua Pe. Mororó, 189 - Jacarecanga 






Crédito: Blog da Escola e Nirez

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Péricles Moreira da Rocha - Popular por natureza




Nas décadas de 50 e 60 Péricles Moreira da Rocha teve uma marcante posição na política deste Estado ao lado de seus irmãos Acrísio e Crizanto, inclusive, quando fizeram do PR uma legenda competitiva com os grandes partidos de então, o PSD e a UDN. Com Acrísio duas vezes prefeito de Fortaleza, Crizanto com sucessivos mandatos de deputado federal e Perícles eleito deputado estadual em quatro seguidas eleições, os irmãos Moreira da Rocha pontificaram politicamente no Ceará, mas Fortaleza era a base eleitoral que lhes garantia essa liderança respaldada no apoio popular.

Péricles Moreira da Rocha, foi um diplomático boêmio, popular por natureza, de família bem aquinhoada e conhecido nos bares, restaurantes, casas de diversões e no Serviço Público. Onde Péricles chegava era ovacionado. Cumprimentado. Abraçado. Conquistador emérito. Gastador sem preconceito. Inflacionou a gorjeta dos garçons. Chegava a dar quinhentos mil réis de gratificação a quem o atendia à mesa. Quando a cotação máxima era de dez mil réis.

Na década de 60, faltando alguns meses do dia de votar, o bancário José de Moura Beleza, era líder na preferência popular, aspirando a Prefeitura Municipal de Fortaleza.


De repente surge a candidatura do populista Péricles Moreira da Rocha. 

Ainda houve quem sugerisse a união de Beleza com o populista Pequim, como o tratava o povão, candidato a Vice. A esquerda "vitoriosa" não aceitava nenhum coisa e nem outra. Nem Pequim na vice e muito menos Beleza.

O irmão de Péricles fora, em épocas anteriores, eleito Prefeito de Fortaleza com os votos de grande parte dos comunistas, o também popular Acrísio Moreira da Rocha. Fizera sua campanha na base de caminhadas com carroceiros. Os bairros fortalezenses eram visitados semanalmente por passeatas de carroças. Isso não apenas tornou-se uma iniciativa inusitada, como caiu na simpatia da grande massa eleitoral.

Péricles Moreira da Rocha nasceu em Fortaleza, no dia 07 de março de 1917. Era filho de Amália Serôa Moreira da Rocha e do célebre deputado federal Manuel Moreira da Rocha. Concluiu seus estudos no Colégio Militar de Fortaleza, em 1935. Não tinha, entretanto, vocação para a carreira das armas. Transferiu residência para a Capital da República, onde preferiu ingressar no serviço público federal, e, assim, foi nomeado para o Ministério do Trabalho, servindo ali, durante alguns anos, como Escriturário, e também como Fiscal do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários.

Os pais: Manuel Moreira da Rocha e Amália

Na época da guerra, no ano de 1939, quando da construção da Base Aérea Brasileira (do Pici), notável empreendimento do governo norte-americano em colaboração com o governo brasileiro, serviu na qualidade de Chefe de Contabilidade do Escritório de Construção daquele grande campo de pouso, durante seis meses, até ser nomeado para servir no SEMTA (Serviço de Emigração de Trabalhadores para a Amazônia).

Chefiou a Seção de Ligação e Comunicação do SEMTA, acumulando nessa época as funções de Assistente do Diretor norte-americano, Mr. Juan Homs, da "Rubber Development Corporation", emprestando, desse modo, os seus serviços e a sua colaboração ao esforço de guerra. 

Carreira policial

Delegado de Polícia do 1º Distrito de Fortaleza (nomeado em 1944, já integrado novamente na vida cearense), função na qual, posteriormente, se efetivou, através do decreto-lei estadual que criou a Polícia de Carreira. Logo depois foi ao Rio de Janeiro e São Paulo, para estagiar, aproveitando para fazer modernos cursos de Polícia, e por conta da Polícia carioca, submeteu-se a proveitosos cursos orientados pelo Gabinete da chefia de Polícia do Distrito Federal, estagiando em todas as Delegacias daquela localidade.

Em 1946, por ato do Governo Federal foi nomeado Delegado Regional do Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS) no Ceará, cargo que soube desempenhar com alto descortino e senso administrativo. Ainda em 1946, no governo do Interventor Pedro Firmeza, foi, por força da lei que criou e regulou a Polícia de Carreira, promovido ao cargo de Delegado de Ordem Política e Social, do qual se tornou titular efetivo; eleito para a Comissão de Indústria e Comércio em sessão ordinária de 22 de julho; reeleito para mais três legislaturas consecutivas, até 1962.


Carreira política e exílio em Paris

Com expressiva votação, foi eleito deputado à Constituinte em 1946. Como deputado se reelegeu por mais três mandatos consecutivos sempre com forte apelo popular. Eleito para Presidente da Assembléia Legislativa em 1950, chegou a renunciar, pois queria fazer oposição ao Governo Raul Barbosa. Em 1962 candidatou-se a Prefeito de Fortaleza, e neste mesmo ano, João Goulart o convidou para o cargo de Delegado do Lloyd Brasileiro, em Paris, onde passou dois anos, até que foi extinta a Delegacia.

Luto

Pericles, ou Pekin como era conhecido popularmente, afastou-se da política desde 1964, quando teve seus direitos políticos cassados pela Revolução. Na oportunidade ocupava função oficial na França por designação do governo João Goulart. Morreu em Fortaleza, em 22 de maio de 2000. O
 corpo foi velado na Assembléia e enterrado no Cemitério Metropolitano.

Tradição política

Seu pai, o Dr. Manoel Moreira da Rocha, médico conceituado e distinto, foi um dos chefes políticos de maior saliência no regime republicano no Ceará, podendo-se mesmo dizer que, depois do Comendador Nogueira Acioli, cuja política e governo combateu de armas na mão, nenhum outro teve prestígio mais sólido e amplo, acentuando-se da Campanha pró-Franco Rabelo, de que foi um dos mentores «sans peur et sans réproche*.» Fundou o Partido Democrata e durante toda a sua vida de então até 1935 representou o Ceará na Câmara Federal, cuja tribuna ilustrou com seu verbo ardoroso e honrou com bravura moral, tornando-se uma das figuras de primeiro plano do Parlamento Nacional, podendo-se, disto, ter a melhor prova no seu valioso arquivo particular, na época, em poder do Prof. Hugo Catunda, que estava escrevendo a sua biografia.

Campanha pró-Franco Rabelo 

Péricles Moreira da Rocha foi, pois, a continuação de uma estirpe porque, filho de um parlamentar dos mais brilhantes, o Dr. Manuel Moreira da Rocha, teve o seu exemplo continuado na pessoa de seus filhos, Péricles, Crisanto (este, ex-Deputado Federal), e Acrísio (ex-Interventor Federal do Estado, ex-Secretário da Fazenda e ex-Prefeito de Fortaleza), exemplo que se prolongou ainda mais com a sua participação nos trabalhos da Assembléia Constituinte.

A família Moreira da Rocha viveu sempre em grande abastança, era tratada com respeito e consideração, conservando certos hábitos de distinção, e todos eles eram conhecidos como fidalgos da TAPERA, sítio tradicional da família, designação ainda hoje relembrada com orgulho pelos seus descendentes.


*Sem medo e sem vergonha


Fontes: Diário do Nordeste, Wikipédia e Enciclopédia Nordeste

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: