Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O povoamento do Pirambu


A década de 1940 foi de profundas mudanças no mundo, o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota dos Regimes nazi-fascistas caracterizou muito bem esse período. No Brasil deu-se o fim da Ditadura do Estado Novo, iniciando-se, pois um período democrático que vigorou no país até 1964.

Foi um período de crescimento industrial e de diminuição da produção agrícola. Um verdadeiro contraste, de um lado a produção industrial crescia e do outro aumentava cada vez mais a situação de miséria da população.

O Ceará continuava a ser um estado rural e economicamente atrasado, ora era imensa a concentração latifundiária e profunda as contradições sociais. A nossa economia girava em torno do comércio e do binômio pecuária-agricultura. As atividades industriais eram pequenas, limitando-se quase que exclusivamente às fábricas têxteis e ao beneficiamento de oleaginosas como oiticica e mamona.

Em Fortaleza surgiram muitas indústrias o que de certo modo facilitou a concentração de moradores na periferia. Nesse período houve um expressivo crescimento dos movimentos populares, principalmente no bairro do Pirambu, onde era bem significativo o número de fábricas instaladas na sua proximidade, isto é, no vizinho bairro de Jacarecanga.

PirambuAv. Filomeno Gomes, ladeira em frente a Escola de Aprendizes Marinheiros, descendo para a praia. no lugar dessas casas, hoje se encontra a Paróquia São Francisco de Assis. Arquivo Nirez 

Por ser um bairro localizado na zona oeste, à beira-mar e por estar a 3 km de distância do centro da cidade, o Pirambu tornou-se um local atrativo para as famílias que devido às condições difíceis, se aventuraram a fugir do sertão, migrando para Fortaleza na procura de dias melhores.

Não só o Pirambu, mas outros bairros pobres de Fortaleza têm sua origem em decorrência dos constantes deslocamentos de lavradores sem terras e pequenos proprietários que chegavam a urbe devido à rigidez da estrutura fundiária vigente em nosso país.

As migrações se intensificaram mais nos períodos de estiagem mais prolongadas, quando centenas de famílias deixaram sua terra natal e se deslocaram para a capital, visto que, esta oferecia melhores condições e dispunha de empregos, nas indústrias nascentes na periferia da capital.



Pirambu na década de 60 - Acervo O Povo

Muitas das famílias que chegaram do interior do estado acabaram por se abrigar debaixo de pontes ou longo das praças, ou se dispunham a vagar sem rumo pelas ruas do centro da cidade. Essas famílias passaram a procurar lugares que pudessem oferecer abrigo, mesmo que esses fossem temporários. Os becos, favelas, áreas alagadas, zonas de difícil acesso passaram então a abrigar a massa de agricultores vindos do interior, pois eram os únicos locais possíveis de moradia longe do olhar disciplinador e higienizador do poder local.

O povoamento do Pirambu se insere no contexto do intenso êxodo rural que ocorre a partir da década de 1930, e da expansão da ferrovia.

De acordo com o depoimento de um antigo morador, a ferrovia facilitou o povoamento do Pirambu.


Antigo kartódromo do Pirambu - Arquivo Carlos Juaçaba

“Quando os retirantes chegavam a Fortaleza desembarcavam na estação do Otávio Bonfim e se deslocavam para o Pirambu, onde existia um Campo de Concentração. Em pouco tempo a área concentrou uma grande massa de excluídos, que se tornaram esquecidos pelas autoridades e passaram a viver de uma maneira marginal.” (Carlos Careca. Articulador cultural do Pirambu e fundador do grupo Quadrilha Raízes Sertanejas).

Durante a década de 1930, O Pirambu passou a concentrar retirantes desembarcados em Fortaleza, caracterizando-se, assim, como um território habitado inicialmente por pescadores e depois por imigrantes que chegaram ao bairro e logo se alojaram nas dunas, erguendo seus barracos e casebres de papelão, barro e palha, sem perguntar, quem era o proprietário do terreno. Muitas famílias vieram nos períodos de estiagem, deixando o interior para sobreviver na capital. Assim cresceram muitas habitações, sem nenhum planejamento, sem ruas, sem luz, sem água e higiene. Nascia assim, a favela do Pirambu. O que entendemos por favela?

O resultado da ação de grupos socialmente excluídos que ocuparam terrenos públicos ou privados, via de regra inadequada para a valorização fundiária e a promoção imobiliária. A ação desses grupos, que se dá espontaneamente, representa, de um lado, uma estratégia de sobrevivência e, de outro, de resistência a um sistema social que exclui parcela ponderável da população de suas benesses. (CORRÊA, 2001, p.163).

Surgem então as primeiras favelas na orla marítima de Fortaleza, uma área inicialmente habitada por pescadores e que nos períodos de seca passará a abrigar os retirantes que chegavam à cidade.

Como uma faixa da praia geralmente era de propriedade do Ministério da Marinha, o povo do Pirambu, procurou saber se por parte deste Ministério existia alguma proibição de alojamento neste local. A resposta foi negativa. Continuou a imigração, espalhando-se sobre oito quilômetros das dunas. 


Arquivo Jangadeiro Online

O grande fluxo de pobres na orla marítima, num espaço inicialmente ocupados por colônias de pescadores, suscita a construção de uma grande favela. Nesse espaço de migração intensa, os retirantes acabaram deixando a condição de flagelados, passando a viver como favelados.

Nessa perspectiva, evidenciamos a comunhão de pescadores e favelados que passam a dividir o mesmo espaço, vivendo por um determinado tempo em comunhão e sem conflitos aparentes. Contudo, a “paz” em seu efêmero espaço de tempo, cedeu lugar a conflitos pela posse da terra.

Por ser um bairro situado em local privilegiado, o Pirambu sempre representou um espaço de grande interesse por parte da especulação imobiliária. Além disso, sua proximidade ao centro da cidade, na orla marítima e das fábricas instaladas ao eixo viário da Avenida Francisco Sá, estendendo-se até a Barra do Ceará.

No ano de 1926, instala-se no bairro de Jacarecanga a indústria têxtil e de cigarros, em 1927 na Avenida Francisco Sá tem-se a fábrica de tecidos e em 1928 a Fábrica dos Urubus, da Rede Viação Cearense. (SOUZA, 1978, p.80).

A partir de 1930, Fortaleza passa por profundas transformações. Surgem ao longo da ferrovia da Avenida Francisco Sá, na zona oeste, os primeiros estabelecimentos industriais de porte, formando um verdadeiro pólo industrial no bairro de Jacarecanga. Nessa época, a população da cidade chegava à marca de 100 mil habitantes, na sua maioria operária e pessoas excluídas pela sociedade, que passam a viver segregado em favelas, espaços de moradia para aquelas que não viviam nas ruas a mendigar.

(...) em 1933, com as primeiras chuvas, o Governo oferecia passagens, distribuiu sementes para o plantio, mas nem todos retomaram ao Sertão. Muitos permaneceram em Fortaleza. Alguns estudos sobre o processo de favelização em Fortaleza assinalam os anos de 1932/33 como marco na expansão da periferia de Fortaleza. (SILVA, 1992, p.29).


 

Fotografia de Daniel Roman

O Pirambu é um bairro situado entre o Arraial Moura Brasil e a Vila Santo Antônio. Localizada na área litorânea, toda a paisagem foi sendo alterada por ocupação popular, constituída de pescadores, operários e pequenos comerciantes. Certamente a ocupação decorreu, também, da implantação de indústrias nesse setor. As indústrias se estendiam do bairro Jacarecanga até a Barra do Ceará.

A história de Fortaleza está no contexto de: “Grandes favelas que se transformaram em bairro e ainda hoje permanecem às margens da fachada marítima, como, por exemplo, o Pirambu”.(RIOS, 2006, p.17).

Nos anos 1940, a área que anteriormente era ocupada por colônias de pescadores e retirantes, passa a despertar a cobiça da classe dominante local. Inicia-se, então, um lento processo de expansão dessa área, com a instalação de chácaras e casas de Veraneio, os ricos atraídos pelas belezas naturais do lugar: o encontro do mar com o Rio Ceará, os coqueiros e as dunas, faz do Pirambu um território de elevado valor paisagístico.

Pirambu a maior favela do Ceará e a 7ª maior do Brasil

Assim, motivados pela especulação imobiliária, famílias ricas de Fortaleza, passaram a reclamar junto ao Ministério da Marinha, os direitos como proprietários das terras do Pirambu.

Mas os moradores do bairro não ficaram de braços cruzados, começaram a se organizar e por meio de muitas lutas e com apoio de diversas instituições conseguiram permanecer na área sob constante tensão.

De acordo com documentos disponibilizados no Centro de Documentação do Pirambu (CPDOC), o bairro até o início da década de 1940 já abrigava um número significativo de operários que trabalhavam nas indústrias localizadas na Avenida Francisco Sá e no bairro de Jacarecanga. Nessa época era imensa a influência do Partido Comunista Brasileiro (PCB) nos movimentos populares de Fortaleza. A experiência sindical dos trabalhadores que residiam no Pirambu e a ação do PCB na periferia da cidade, foram importantes para a organização da famosa Marcha de 1962, cuja reivindicação era Terra, Trabalho e Pão.

Além da atuação do PCB, o Pirambu também contou com forte influência da Igreja Católica, principalmente após a chegada do Padre Hélio Campos em 1958. O Padre teve papel importante na conscientização dos moradores na luta pela terra, pois através do Evangelho, passou a fazer uma análise da conjuntura sócio-político-econômica da área em que residiam muitas famílias esquecidas pelas autoridades.


 

Padre Hélio Campos


O Pirambu havia se tornado em pouco tempo um bairro bastante populoso, mas a realidade era deprimente, pois faltava infra-estrutura básica, as famílias habitavam barracos sem nenhum saneamento, infestados de verminoses, as mães davam à luz no único cubículo, numa esteira de palha.

As ameaças de despejo eram constantes, o que levou o Padre Hélio Campos a adotar uma postura crítica em relação ao poder local. Tal fato pode ser evidenciado a partir de um depoimento de um antigo morador do Pirambu, onde podemos perceber a coragem do Padre na sua luta a favor dos pobres, enfrentando aqueles que se diziam proprietários das terras e as autoridades policiais.

“Uma vez, quando a polícia quis derrubar uma casa, o Padre Hélio subiu no telhado e gritou de cima, que podiam começar. (...) Ele bem organizou a sua defesa e um sistema de alarme que podia avisar no período de uma hora quarenta mil paroquianos. (...) Mesmo depois de uma declaração jurídica oficial em favor dos proprietários, o Padre continuava a defender os pobres, pois duvidava do valor e legalidade dos documentos apresentados. (...) Quando 19 famílias deviam deixar suas casas, ele mandou soltar quatro horas antes 19 foguetes, e imediatamente juntaram-se, bem em ordem, os homens do Pirambu, para impedir o trânsito nas entradas do lugar. As mulheres e as crianças formavam um círculo bem fechado, ao redor das casas comprometidas. O resultado? Não se pensa mais na possibilidade, de desterrar o povo do Pirambu, sabendo, que qualquer nova tentativa provocaria uma revolta pública na cidade, pois, os estudantes e operários entrariam logo no primeiro alarme do Padre Hélio, em ação”. (Carlos Careca. Antigo morador do Pirambu e organizador do grupo Quadrilha Raízes Sertanejas).


Além de mobilizar os moradores contra as ordens de despejos, o Padre Hélio passou a denunciar na imprensa a situação de miséria do povo do Pirambu e para tal contou com o apoio de jornais locais, notadamente o Democrata. Um jornal criado em 1945 pelo Senador Olavo Oliveira e adquirido em 1946 pela secção local do Partido Comunista do Brasil.




Crédito: Artigo “O Pirambu e seus atores sociais: Do povoamento em 1930 até a Marcha de 1962.”  de Raimundo Nonato Nogueira de Oliveira. Desenho de Guga Detoni

domingo, 8 de julho de 2012

Avenida Duque de Caxias – Antigo Boulevard do Livramento


Boulevard Duque de Caxias - Álbum Fortaleza 1931

O Antigo nome 'Boulevard do Livramento', foi em razão da antiga Igreja do Livramento, hoje Igreja do Carmo.

Fatos Históricos da Avenida:


 06/abril/1860 - Ganha o nome de Boulevard Duque de Caxias (hoje Avenida Duque de Caxias), a via antes denominada Rua Pedro I, que limitava a parte construída da Cidade. 



Convento dos Cappuchinhos -Álbum Fortaleza 1931
 13/outubro/1903 - Ocorre o assentamento da pedra fundamental do Convento dos Padres Capuchinhos na Avenida Duque de Caxias, esquina com Rua Barão de Aratanha, por trás da Igreja do Coração de Jesus, solenidade presidida pelo reverendo Vigário Geral do Bispado, Monsenhor Bruno Rodrigues da Silva Figueiredo.

 10/março/1904 - Inaugura-se o Convento dos Capuchinhos, na Avenida Duque de Caxias esquina com Rua Barão de Aratanha, por trás da Igreja do Coração de Jesus, construção sob a responsabilidade do Frei Mansueto.
Hoje é a Cúria Provincial.


 15/janeiro/1908 - Iniciam-se os trabalhos de construção da Escola Pio X, na Avenida Duque de Caxias nº 201, na Praça Coração de Jesus, que seria inaugurada em 05/07 do mesmo ano.

 05/julho/1908 - Inaugura-se o prédio da Escola Pio X, na Avenida Duque de Caxias nº 201, na Praça Coração de Jesus.
Na época chamava-se Escola Dominical Pio X.




Centro Artístico Cearense - Arquivo Nirez
 28/abril/1912 - Inaugurado o prédio do Centro Artístico Cearense, na esquina da Avenida Tristão Gonçalves nº 1008 com Avenida Duque de Caxias.
Hoje nada mais existe do prédio, no local há a extensão da firma Acal



Colégio Cearense - Arquivo Nirez
 04/janeiro/1913 - Fundado o Colégio Cearense Sagrado Coração, pelos esforços do cônego Climério Chaves, padre Misael Gomes da Silva, monsenhor Otávio de Castro e monsenhor José Alves Ribeiro Quinderé (Monsenhor Quinderé).
Funcionou na Rua da Amélia nº 146 (Rua Senador Pompeu), Rua 24 de Maio, na praça Marquês do Herval (atual Praça José de Alencar), onde depois esteve a Rádio Iracema, indo depois para a Rua Barão do Rio Branco, no local onde hoje se levanta o Edifício Diogo e por fim foi para prédio próprio na Avenida Duque de Caxias nº 37(antigo, hoje 101), em 1917.
Em 1916, a administração passou para os Irmãos Maristas, sendo seu primeiro diretor o Irmão Epifânio.
Em 1921, editou a revista Verdes Mares.... 


Colégio Cearense nos primeiros anos da década de 30 - Arquivo Nirez
 11/dezembro/1913 - Inaugura-se a linha de bondes de tração elétrica da linha do Alagadiço, que saindo da Praça do Ferreira pela Rua Major Facundo dobrava à direita na Rua Clarindo de Queirós indo até a Praça Paula Pessoa (São Sebastião), Avenida Bezerra de Menezes e voltando pelo mesmo caminho até chegar a Rua Clarindo de Queirós, onde segue até a Praça do Carmo, dobrando na Avenida Duque de Caxias e entrando pela Rua Floriano Peixoto para voltar à Praça do Ferreira. 


Fábrica Santa Maria - Arquivo Nirez
 14/setembro/1918 - Surge a Fábrica Santa Maria, de Manuel J. Lima, que depois seria Fiação e Tecelagem Santa Maria Ltda., na Avenida Duque de Caxias nº 345. Fechou em 1964. 


Arquivo Nirez
24/janeiro/1921 - Inaugurada na Avenida Duque de Caxias, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, o monumento a Nossa Senhora da Paz, adquirido através de subscrição pública iniciada em 1912, por iniciativa de comissão chefiada por Milton Sousa Carvalho e Adolfo Gonçalves de Siqueira.Ficava no passeio, no meio da avenida.
Depois foi transferida para o patamar da Igreja de Nossa Senhora do Carmo


Praça do Carmo - Arquivo Nirez
 29/junho/1922 - Instituído o Hino do Centro Artístico Cearense, com versos de Renato Viana e música do maestro Euclides da Silva Novo, em festa realizada na sede da agremiação, na esquina da Avenida Tristão Gonçalves com Avenida Duque de Caxias.
O hino foi tocado e cantado às 13h, no início da festa e no encerramento. 


 03/fevereiro/1923 - O Cine Pio X, na Avenida Duque de Caxias nº 201, na Praça do Coração de Jesus, inaugura-se com o filme A rainha dos brilhantes e, posteriormente, estréia seu palco. 

 1926 - Inaugurado o Cine Centro, no prédio do Centro Artístico Cearense, na esquina da Avenida Tristão Gonçalves nº 338, com Avenida Duque de Caxias.
O prédio não mais existe. 



Prédio do DNOCS -  Arquivo Nirez
 12/novembro/1932 - Criada a Comissão Técnica de Piscicultura, subordinada a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas - IFOCS, do Ministério da Viação, tendo como diretor o naturalista gaúcho Rodolpho Teodor Wilhelm Gaspar von Ihering (Rodolpho von Ihering).
Ficava em prédio no antigo bairro do Tauape, hoje Gentilândia.
Depois foi Serviço de Piscicultura e hoje é a Diretoria de Pesca e Piscicultura do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS.
O setor de piscicultura do DNOCS depois esteve em casa na Rua Barão do Rio Branco nº 1926, na Avenida do Imperador nº 1313, no 6º andar do Edifício Herculano e hoje está no prédio da Administração Central do DNOCS, Edifício Arrojado Lisboa, na Avenida Duque de Caxias nº 1700, projetado pelo arquiteto Marcílio Dias de Luna


 Janeiro/1934 - Fundada a Fábrica Vitória*, de caramelos, bombons, balas, doces e similares, do português Viriato da Ressurreição Ludovino, na Avenida Duque de Caxias nº 437.
Depois mudaria para Fábrica Viriato, por existir no Rio de Janeiro uma homônima.
Curioso é que uma palavra é anagrama da outra. 


Continua... 


*"Naquela época se fazia necessário instalar uma fábrica de chocolate e balas adotando forma 'modernizada' como uma indústria visando a competir com o mercado e pioneira no Nordeste - afinal, atividade era quase toda com processo manual. 

Com a não obtenção de recursos públicos para fazer a customização foi fechado a Fábrica Vitória para ato contínuo houve a mudança de ramo.

Aí o tio Viriato com seu sobrinho Alcindo (meu pai, também Português) - confeiteiro profissional formado em Lisboa em grande confeitaria como a do Chiado - tomaram a decisão de montarem uma "confeitaria" (que cabia em Fortaleza) - com certo refino nos docinhos (pasteis de nata, bombas, bolos, confeitos, pizza , enfim, estilo europeu) e tendo como 'parâmetro' a Confeitaria Colombo, no Rio, ainda hoje lá no centro, na Rua Gonçalves Dias.

No ano de 1955 aconteceu sua inauguração com o nome de CONFEITARIA VIRIATO, no mesmo prédio, onde durante anos lá foi o encontro da sociedade local sendo a primeira a lançar como 'novidade' a PIZZA napolitana. Uma confeitaria com bar e restaurante associada - repito, estilo a Colombo"


Rogério Gonçalves 
(sobrinho-neto de Viriato da Ressureição Ludovino)


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Fontes: Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo e Arquivo Nirez

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fortaleza, uma cidade em mutação


A partir de fotografias cedidas pelo MIS (Museu da Imagem e do Som), o fotógrafo Kid Jr. foi a campo fazer o registro desses mesmos locais na atualidade, repetindo o ângulo original de cada uma delas. "A única que permanece praticamente igual, e que deu para refazer exatamente como o fotógrafo no passado fez, foi a Praça da Estação, no Centro", diz Kid.

A original (antiga) mais recente data da década de 1960 e a mais antiga mostra uma imagem da cidade no fim do século XIX. 

Uma linda homenagem que o Diário do Nordeste fez para cidade!









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Fotos: Antiga - Thomaz Pompeu (cedida pelo MIS) / Recente - Dennis Nunes

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Bode Ioiô - O bode cidadão


Na encarnada sala do Museu do Ceará, repousa sereno um herói cearense. Boêmio inveterado (apreciador de uma boa aguardente), pós-graduado em becos do Centro de Fortaleza, companheiro de artistas e intelectuais em noturnos cafés e, ainda, político honesto, já que ganhou sem se candidatar e não cumpriu, mas também não prometeu.

Ele, bode Yoiô, protagonizou alguns dos causos mais memoráveis da Praça do Ferreira, no coração de Fortaleza.

O caprino era mestiço (com forte predominância da raça alpina - é o fraco!), que viveu na Capital cearense perambulando entre bares e ruas do centro no início do século XX. Segundo se difunde, o bode teria vindo junto a retirantes, fugidos da seca de 1915.

Seu então proprietário, diante do dilema entre a panela e o bolso, preferiu - para sorte da boemia de Fortaleza - arrecadar uns vinténs com o animal. Foi vendido para um representante de uma empresa britânica no nordeste, a Rossbach Brazil Company, da qual se tornou uma espécie de mascote. Com propriedade agora localizada na Praia de Iracema, o bode, outrora mofino, puxado por uma corda de amarrar punho de rede, já não estava na pior. 


Propaganda de 1929 da empresa que comprou o bode ioiô

No entanto, não demorou para que a comilança do mato que circundava as dependências da empresa lhe entediasse por demais. O caprino era mesmo afeito a vadiagens e logo seguiu sua sina de andarilho, descobrindo o trajeto que lhe daria a alcunha de "ioiô". O bode aprendeu a partir da praia a seguir para a Praça do Ferreira, realizando o mesmo percurso diariamente. 

Imagem meramente ilustrativa, pois na época dessa foto, o bode ioiô ainda não havia chegado por aqui. Estamos na Rua Floriano Peixoto - Detalhe na foto para o Mercado de Ferro ainda com as duas partes. A foto é de 1908 e o bode apareceu por aqui em 1920. Álbum Vistas do Ceará 1908  

O boêmio

E foi nos passeios que conheceu a noite fortalezense e seus muitos companheiros. No entorno do famoso Café Java (sede-mor da Padaria Espiritual, inclusive), conheceu escritores, pensadores, músicos, atores, inúmeros artistas de mesas de bar.

Com eles, passeava pelas ruas, ia a teatros, saraus, coretos; deles fora batizado Yoiô e por eles conheceu ainda as delícias da cana-de-açúcar, a bebida destilada preferida, que recebia gratuitamente a cada estabelecimento frequentado. De cara, simpatizou-se por ele o pintor Raimundo Cela, mas foi por todos amado, considerado um cidadão como outro qualquer.

O político

Ainda em 1921, Yoiô aprontaria uma molecagem que o consagraria como autêntico amigo do povão. Naquela época, inaugurava-se nas imediações da praça aquele que seria um dos cinemas mais movimentados da época: o Cine Moderno.

A população chegava de bonde e as celebridades desciam de seus Chevrolets e aguardavam com expectativa a chegada do governador Justiniano de Serpa e do intendente Godofredo Maciel para a cerimônia.

Mas o danado do bode (provavelmente "cheio dos pau", como se diz em bom "cearês") cansou de esperar. Trotou com suas quatro patas até a fachada do prédio e fez as vezes de político: comeu a fita inaugural do cinema. No mesmo ano, lá estavam os intelectuais candidatando Yoiô para vereador de Fortaleza. Mas candidatura não quer dizer vitória! Quem disse? Quando se abriram as urnas, em 1922, o nome do bode saltava das cédulas. Não pode assumir o cargo, mas, mais uma vez, entrou para a história da cidade. 

Essa foto do bode Ioiô, é bem antiga. Importante destacar que o rabinho do bode ainda não havia sido furtado. Se for um bom observador, verá que o de hoje, é um pouco diferente. 
A cidade perdia seu mascote e o museu ganhava uma de suas maiores atrações...



O amante

Segundo afirmavam as companhias, além do jeito para as artes, o bode era um exímio entendedor de mulheres. Buliçoso, levantava com o chifre as barras das saias e dos vestidos das moças, garantindo ao macharal a boa vista.


 

A vida de boemia e libertinagem naturalmente não lhe pouparia da mortalidade, ao contrário, a aproximaria dela. O caprino deixou as ruas de Fortaleza em 1931, encontrado morto nas proximidades da Praça do Ferreira. Como homenagem, Adolfo Caminha resolveu empalhá-lo e é justamente sua figura que se encontra preservada no Museu do Ceará. Bom, preservada em termos, já que, em 1996, lhe roubaram o rabo (o que protagonizou nova história, ainda que "in memoriam").

Nos anais da história, consta que a "causa-mortis" fora, de fato, resultado da vadiagem: cirrose hepática. As malignas línguas, no entanto, dividem-se em duas hipóteses: noivo furioso ou atentado político.



"O bode vivia solto em constantes idas e vindas da Praça do Ferreira para a sede da empresa na Praia: Acabou ganhando o apelido de Yoiô.
Nessas andanças, Yoiô tornou-se conhecido e querido por todos, principalmente boêmios e escritores. Há relatos sobre o bode Yoiô em livros de diversos memorialistas cearenses.

O bode fumava charuto, tomava uns tragos, sentava-se num tamborete e parecia interessado nas conversas de bêbados, poetas e políticos, a quem distribuía chifradas democraticamente.

Como membro da elite intelectual da cidade Yoiô participou de atos públicos em coretos, praças e saraus literários; Passeou de bonde, perambulou por igrejas e assistiu a peças no Teatro José de Alencar. Consta que comandava passeatas democráticas e comia a fita das inaugurações quando os discursos se tornavam chatos.

Na Praça do Ferreira, capital da república do Ceará Moleque, o bode fazia alegria do macharal quando cismava de levantar as saias das moças, correr atrás dos tipos populares ou mesmo tomar uns tragos de cachaça nas mesas do Café Java.

Yoiô ficou tão famoso que recebeu expressiva votação para vereador. Eis o seu apogeu e decadência.

Um mistério paira no ar: em 1931 o bode Yoiô apareceu morto.Qual a causa da sua morte? São muitas as hipóteses.

Foi um crime político devido a sua expressiva votação? Cirrose hepática, consequência de uma vida boêmia? Talvez um crime passional cometido por algum marido enciumado pelas gracinhas do bode? O mais provável é que Yoiô morreu mesmo foi de velho.

A empresa inglesa empalhou o bode e entregou ao museu, o mais estranho: o museu aceitou e hoje faz alegria de todos aqueles que visitam o Museu do Ceará."

Evaldo Lima


Saiba Mais

As leis proibiam a circulação de animais desacompanhados pelas belas ruas da cidade. Ainda assim, Ioiô não era perturbado nem pelos fiscais municipais fato devido à conquista da simpatia popular conquistada pelo animal. Seu aspecto descuidado e seu cheiro característico e desagradável não impediam que o carinho dos fortalezenses o atingisse. Fazia companhia aos beberrões da época, tornando-se um deles. “Reza a lenda” que Ioiô fazia companhia nas bebedeiras dos boêmios da cidade, e uma companhia ativa. Fala-se ainda que sua fama era alargada por ter sua atenção chamada pelo efeito que o vento da Praça do Ferreira fazia nos vestidos das moças e nas batinas dos padres. Isso estimulava o bode a correr atrás desses dois grupos.


Ainda como manifestação de profundo amor ao Bode e revolta pelos desmandos e corrupções exercidos pelos políticos da época, em 1922, os eleitores de Fortaleza elegeram o Bode Ioiô para vereador da cidade, inclusive, com a maior votação daquela eleição. Não foi empossado (claro!), mas sua “eleição” foi considerada na época como uma representativa manifestação de protesto ao poder público e isso fez com que sua fama se expandisse além das fronteiras de Fortaleza. Bem além…Pois hoje existe uma réplica de Ioiô no Museu de Hollywood.

No decorrer dos anos, a cidade ia se desenvolvendo e o vigor físico do animal, em contrapartida, diminuindo. Por esse motivo, tornava-se cada vez menos comum encontrar o Bode Ioiô em meio à boemia. Até que, no ano de 1931, foi encontrado morto próximo à Praia de Iracema. Seu falecimento foi publicado e sentido por grande parte da população fortalezense.

Créditos: Diário do Nordeste, Blog do Professor Evaldo Lima e http://www.infoescola.com

Desenhos de Julião Jr.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Tipos de Fortaleza



No final do século XIX e primeiras décadas do século XX ficaram famosos em Fortaleza “tipos populares” que riam e faziam rir de qualquer coisa jocosa que acontecesse nas ruas – daí tal comportamento, profundamente censurado pelas elites e classes médias, ter ganhado a alcunha de “Ceará Moleque”, expressão inclusive existente já à época.
Os tipos populares eram na maioria das vezes pessoas pobres, desocupadas ou sem trabalho fixo, depauperadas e maltrapilhas, que perambulavam pelas ruas, apresentando aparência ou comportamentos “excêntricos e cômicos”. Entre eles, destacaram-se:
(…) O “Casaca de Urubu”, que em 1915 causava rebuliço público quando ouvia coro de pessoas entoarem “casaca de urubu… bu… bu” – lutara na Guerra de Canudos quando moço e chegou a ser oficial de justiça, sendo expulso do emprego por ser epiléptico. O “De Rancho”, que munido de uma velha carabina desativada saía pelas calçadas gritando e “metralhando” os pedestres – inclusive o automóvel de um presidente estadual que, assustado com o “atentado”, mandou que o prendessem imediatamente –, teria enlouquecido durante a Primeira Guerra Mundial. (…) O “Pilombeta”, que odiava a palavra “trabalho”, fora agrimensor em Minas Gerais, era exímio jogador de xadrez e sabia tocar piano. O “Tertuliano”, que se vestia de beato e fazia pregações engraçadíssimas pelas praças, era dono de uma pequena venda. Assumira aquele furor místico depois de ficar ferido em violenta luta com policiais que o prenderam por não ter atendido a uma intimação policial[1].
Chaga dos Carneiros

Existia ainda o “Chaga dos Carneiros”, ferrenho monarquista, que andava sempre conduzindo três carneiros pintados, cada qual, em uma sátira à República, apelidados com nomes de alguns presidentes. Exemplo maior, contudo, foi o legendário Bode “Ioiô”. O animal, trazido por um flagelado da seca de 1915 para Fortaleza, acabou comprado pelo dono da firma exportadora Rosbach Brazil Company (situada na Praia do Peixe, hoje Praia de Iracema) e, em vez de virar uma suculenta buchada, foi mantido vivo, passando a perambular como “boêmio” pela cidade com grande simpatia e carinho da população, sem ser molestado. Em 1931, “Ioiô” morreu, de velhice, causando grande consternação pública e merecendo até destaque na imprensa. Seu “corpo” foi embalsamado e oferecido ao Museu Histórico do Ceará, onde ainda hoje pode ser visto.
Bode Ioiô
O local preferido para as manifestações e “excentricidade” do povo era a Praça do Ferreira – logo ali, o “coração da cidade”, por onde passavam bondes, gente com as últimas modas e novidades, os sisudos senhores proprietários e onde se encontravam as lojas mais elegantes, os principais cafés! Qualquer pessoa ou episódio que “quebrasse a rotina” eram pretextos para a divertida molecada soltar vaias, gracejos, palavrões ou bolar os apelidos e escárnios os mais engraçados. Imagine-se o ódio das camadas “destacadas da sociedade” ao terem seus nomes como alvos das chacotas do “canelau”…
Pode-se entender os tipos populares e o “espírito amolecado” do povo – em outras palavras, a irreverência popular –, num momento de disciplina e higienização da cidade, como uma forma de alívio ante a pressão social representada pelas más condições de vida e trabalho daquela massa de pobres, bem como uma expressão de descontentamento perante a normatização urbana que as elites tentavam impor. Ao serem “feios”, sujos, anti-higiênicos, “estranhos, exóticos e diferentes”, os tipos populares e o comportamento jocoso do povo chocavam-se frontalmente e ofendiam os padrões “civilizados” que os grupos médios e dominantes se esforçavam em estabelecer para acompanhar os valores “modernos” da Belle Époque. No fundo, era uma tática de resistência popular.
Airton de Farias
Fonte: [1] PONTE, Sebastião Rogério.Fortaleza Belle Epoque. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha. Multigraf Editora Ltda, 1993, pág. 177.
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