Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Colégio Nossa Senhora da Assunção - Triste fim!!!


Cruzamento das ruas Padre Valdevino e João Cordeiro, no bairro Joaquim Távora

Em 1957, a Escola Nossa Senhora da Assunção começou a funcionar com apenas uma turma. A mobília foi doada pela comunidade do entorno. “O colégio evoluiu no tempo e brilhou, chegando a ter, nas décadas de 1980 e 1990, mais de mil alunos”. A Irmã Vera Lúcia recorda a arquitetura original do prédio: “A parte interna é belíssima. A escada é construída com madeiras refinadas. Nos dormitórios, o piso também era todo de madeira. Tem um valor histórico”, defende.


A formação “religiosa, humana e cristã” é tida por irmã Vera como um dos diferenciais da antiga escola. A ex-aluna Marjory Sampaio, 17, também destaca o incentivo às artes e ao esporte. “Recebi uma boa educação”, define. “Eram rígidos (na disciplina) e não tinha esse negócio de rapazinho namorando lá dentro”, comenta a mãe de Marjory, Mara Sampaio, 49.

Em 2007, veio a triste notícia de que o colégio fecharia as portas. “Quando o colégio foi fechado, era todo mundo chorando”, conta Marjory. O terreno, localizado numa área nobre, foi vendido. O prédio permaneceu lá, nos últimos seis anos, lembrando as histórias e brincadeiras ali vividas.

Na espera pela demolição, Marjory diz que, ao olhar para o antigo colégio, “dá um aperto no coração”


A pintura azul, com detalhes brancos, está desgastada pelo tempo. Um paredão de pedras encobre boa parte da construção - que hoje remete ao abandono. Porém, ainda é latente a beleza do prédio que abrigou, por 50 anos, a escola Nossa Senhora da Assunção, no cruzamento das ruas Padre Valdevino e João Cordeiro, no bairro Joaquim Távora. Hoje, a edificação “vive” seus últimos dias. O casarão terá o fim antecipado: dará lugar a um prédio residencial, ainda sem data definida.
A estrutura está mal conservada. A pintura azul está gasta e é possível observar o acúmulo de material de construção no entorno. 

A edificação foi comprada pela Congregação das Filhas de Santa Teresa (originária do Crato) em maio de 1955. “Quando o prédio foi comprado, havia poucas casas (ao redor), um campo aberto e até mesmo criatório de gado. (As ruas) sequer tinham calçamento”, lembra a irmã Vera Lúcia, secretária geral da congregação e ex-diretora da escola.

Na escritura original de compra do imóvel pela congregação, consta a aquisição de “uma casa assobradada, estilo bungalow, de tijolo e telha com uma garagem ao lado (...) imóvel adquirido por compra a José Capelo Alvite* e sua mulher”.


O professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) Romeu Duarte explica que os bangalôs foram muito utilizados no início do século XX em Fortaleza. O nome é uma variação do inglês bungalow. “É uma casa geralmente de dois pavimentos, quatro fachadas e situada em terrenos grandes. Era ocupada por famílias abastadas e foi uma tipologia muito usada na Aldeota e Jacarecanga, informa.

Romeu lamenta a decisão de destruir a edificação e defende a conciliação entre desenvolvimento e preservação. “É a lógica do ‘arrasa quarteirão’. Não sou contra a construção, mas acho que há terreno demais para o empreendimento. Poderia preservar a contemporaneidade e o passado”, diz, sugerindo que a antiga casa fosse usada, por exemplo, como salão de festas do condomínio. “Seria até um diferencial. Falta um pouco de inteligência e sensibilidade ao mercado imobiliário”, critica o professor.

Em 2006, o quadro docente do Colégio Nossa Senhora da Assunção era composto por 
dezoito professores; destes, quinze eram habilitados nas respectivas áreas, (83,34%) e três, autorizados (16,66%).  
A proposta pedagógica da educação infantil do Colégio Nossa Senhora da Assunção compreendia o processo educativo voltado para a construção de um sujeito protagonista de sua história,  como cidadão crítico e criativo. Nesse contexto, o Colégio assumiu sua função social, envolvendo na sua prática educativa valores sociais e culturais.


Material de construção** já se acumula em frente ao antigo bangalô, na rua Padre Valdevino. Prédio abrigou escola por 50 anos - Foto Sara Maia


O Colégio apresentava boas condições de funcionamento, dispondo de amplos espaços. Apresentava melhorias realizadas no prédio durante aquele ano: restauração do parquinho infantil,  reforma geral na cantina do colégio, restauração das instalações e implementação do laboratório de Ciências. O laboratório de Informática, devidamente equipado, servia para “despertar nos alunos o espírito crítico, investigativo e cientifico, como meio de aprimoramento do conhecimento teórico, aliada ao conhecimento cientifico”.


O laboratório de Ciências proporcionava aulas práticas, nas áreas específicas, integrando teoria e prática.


Importante salientar que o Colégio Nossa Senhora da Assunção, nesta capital, recebeu
autorização do CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO para funcionar (da educação infantil aos cursos de ensino fundamental e médio), até 31.12.2010. O colégio foi recredenciado pelo conselho Estadual de Educação (Câmara da Educação Básica) em 13.04.2007.
A Escola fechou em 2007.


Editado em 24/01/2013:
Boas notícias!!! :)

Bangalô está temporariamente protegido (Jornal O Povo - 23/01/2013)

Enquanto processo de tombamento tramita, bangalô da rua Padre Valdevino não pode sofrer modificações. Pedido de tombamento foi enviado ontem à Secretaria da Cultura.

Após pedido de tombamento ser enviado ontem para a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), o bangalô situado no cruzamento das ruas Padre Valdevino e João Cordeiro, no bairro Joaquim Távora, está protegido. Isso significa que a atual dona do prédio, a construtora Monteplan Engenharia, não pode modificar ou derrubar a estrutura até que seja dada uma resolução definitiva pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico-Cultural (Comphic).


A solicitação de tombamento foi feita, na manhã de ontem, pelo vereador João Alfredo Telles Melo (Psol) através de ofício enviado à Secultfor. Segundo o vereador, a retirada de construções antigas faz a Cidade perder sua própria memória. “Fiz o pedido, mas é o estudo da Prefeitura que vai determinar se é caso ou não de tombamento”, frisou João Alfredo.

De acordo com o coordenador de Patrimônio Histórico-Cultural da Secultfor, arquiteto João Jorge Melo, a partir de agora, a construtora terá 30 dias para apresentar uma defesa. Encerrado o prazo, o caso vai entrar em julgamento na reunião do Comphic, que acontece mensalmente. “O engenheiro responsável e o dono da empresa foram avisados”, citou o arquiteto.

De acordo com o secretário da Cultura de Fortaleza, Magela Lima, “o pedido já é um resguardo (da construção) até a decisão definitiva”. O processo atende as normatizações da Lei Municipal nº 9.347, de 11 de março de 2008, a Lei do Patrimônio.

Caso seja feita alguma alteração no prédio durante o período de julgamento do tombamento, a construtora responde por crime ao patrimônio histórico, esclareceu o arquiteto João Jorge. 


Foto Agência Diário

Editado em 06/04/2013:
Acabou!!!


Justiça concede liminar que permitiu destruição de bangalô (Jornal O Povo 06/04/2013)

O bangalô que durante 50 anos abrigou a escola Nossa Senhora da Assunção foi demolido ontem. Secretaria da Cultura de Fortaleza havia realizado o tombamento provisório, mas Justiça anulou a ação.


Foto Tatiana Fortes/Jornal O Povo

O juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Fortaleza, Francisco Chagas Barreto Alves, concedeu liminar suspendendo o tombamento provisório do bangalô azul, na esquina entre as ruas Padre Valdevino e João Cordeiro. Com isso, a empresa Nortesul Incorporações e Construções demoliu o prédio no fim da tarde de ontem. Durante 50 anos, o local abrigou a Escola Nossa Senhora da Assunção. O processo de tombamento provisório foi iniciado em janeiro, pela Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), para evitar a destruição do prédio.

O titular da 2ª Vara da Fazenda, juiz Francisco das Chagas Barreto. Denise Mustafa/Diário do Nordeste

No local, deve ser erguido um prédio residencial. Uma das sócias da construtora, Luciana Braga, diz que a empresa tentou manter o bangalô (E eu acredito em papai Noel), mas o projeto aprovado pela Prefeitura não comportaria a manutenção do equipamento. “O prédio inclui área de subsolo e o bangalô não suportaria”, afirma.

O terreno e o bangalô pertenciam, antes da venda para a Nortesul, à Congregação das Filhas de Santa Teresa (originária do Crato) que, por sua vez, adquiriu o prédio em maio de 1955. Ainda segundo a empresária, as freiras teriam buscado, junto à Prefeitura, maneiras de realizar o tombamento, mas ninguém teria se interessado. “Elas mesmas (as freiras da congregação) tinham já ido atrás (do tombamento). Já tinham sondado isso e o poder público não se demonstrou interessado”.


O vereador João Alfredo (Psol) disse lamentar profundamente a destruição do bangalô e pediu providências do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre o que ele considera “posturas indevidas e contrárias à cidade” do juiz Francisco Chagas. O magistrado é o mesmo que concedeu liminares para construção em dunas do Cocó. “O que a sociedade pode fazer é boicotar essa construtora que não tem o mínimo de respeito com a memória e cultura (Concordo  plenamente!). Não entendo por que se demorou tanto o tombamento definitivo. Como a Justiça pode não reconhecer a importância do prédio para a Cidade?”.

No dia 22 de janeiro deste ano, O POVO mostrou a ameaça de demolição do bangalô. No mesmo dia, o vereador João Alfredo (Psol) entrou com um pedido de tombamento do imóvel pela Secultfor. Com isso, o imóvel não poderia ser demolido até a conclusão do processo (Mas não foi o que aconteceu!).



*O bangalô foi adquirido pela família Capelo Alvite na década de 1940. Na época, as paredes externas da casa eram pintadas com tinta amarela (diferente da posterior coloração azul). A casa tinha um alpendre, terraço e cinco quartos no andar superior.

**A Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza (Seuma) informa que “não encontrou registro de pedido de aprovação de projeto arquitetônico ou de alvará de construção para o referido terreno em nome da Construtora Monteplan.



Fonte: Jornal O Povo e Conselho de Educação do Ceará

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Inauguração do serviço telefônico automático em Fortaleza




Conforme vinha sendo anunciado, teve lugar no primeiro dia do ano a inauguração dos telefones automáticos entregues à cidade pela Prefeitura Municipal de Fortaleza.

O ato, que se revestiu de grande brilhantismo, teve lugar às 11 horas, num dos salões do amplo prédio da Praça dos Voluntários, construído para o serviço telefônico, e em presença de altas autoridades federais, estaduais e municipais, civis e militares, representantes de classes, da imprensa e incomputável número de pessoas.


Iniciou-se a solenidade com a benção do prédio e das instalações, oficiada por Mons. João Alfredo Furtado, após o ato inaugural.

O Sr. Raimundo Araripe, prefeito da capital, com a palavra, fez uma síntese dos trabalhos de seu governo, para referir-se ao melhoramento ora inaugurado. Esclareceu que todo o serviço importara em cerca de mil e duzentos contos, exceção do prédio, que custou quatrocentos contos, e ressaltou a maneira correta como Ericson & Cia Ltda. cumpriram o contrato firmado pela municipalidade.

A seguir, o Sr. Interventor Federal declarou inauguradas as novas instalações, em sintéticas palavras, após o que os presentes empreenderam uma visita a sala dos aparelhos, onde foram feitas as primeiras ligações.

Prédio da Telefônica na Rua Sena Madureira.
A foto data da segunda metade da década de 30. Acervo Assis de Lima

Às autoridades foi servida uma mesa de champagne, tendo nesse momento falado o Dr. Francisco Saboia, ilustre advogado da Cia Ericson, o qual apresentou agradecimento à administração municipal, em nome da empresa.


Matéria publicada no Jornal O POVO, em 03/01/1938

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Futerrádio ou radiobol



O PV na década de 40


De há muito, velho amigo, ex-repórter esportivo, insiste na produção de artiguete nosso sobre o futebol dos meados da década de cinquenta aos da de sessenta do século passado. Tempo em que o “pebol” era mais esporte, mais rádio e mais fraternidade. Televisão não existia e as jornadas esportivas” das tardes dos sábados e domingos, viam-se ao Sol. Iluminação elétrica para as “pelejas” surgiu anos depois. “Senhoras e senhores! Diretamente do Benfica, no Estádio Presidente Vargas, transmitiremos mais uma partida de futebol pelo campeonato alencarino! Agora mesmo, ingressam na Tribuna de Honra as autoridades civis, militares e eclesiásticas.” 

PV nos anos 60 - Grupo de árbitros

Na maioria das vezesali não existia ninguém.” Somente o floreio imaginativo do locutor de cabine ou, por vezes, o do de “pista”, este responsável por comentários e entrevistas com atletas no campo. “Preparado para a contenda?”E o “center half”, em um chavão de todos, não titubeava: “Estou pronto física, mental e psicologicamente!”. O PV dividia-se em duas partes de arquibancadas. A “geral”, do “lado do Sol”, com ingressos a preço popular. E, as “sociais”, do “lado da sombra”, com entradas mais caras. As torcidas não possuíam áreas diferentes. Todas juntas. Um colorido variado e festivo. O ato de violência maior consistia em jogar bagaços de laranja nos torcedores que teimavam em assistir o jogo em pé, prejudicando a visão dos demais. Até 1957, quando chegaram a Fortaleza os Spica, rádios portáteis inexistiam no Estádio. O Torneio Início abria o campeonato com a participação de todos os times, começando ao meio-dia e encerrando-se no final da tarde do domingo anterior ao começo do primeiro turno.


Time do Fortaleza 1947

Os auxiliares do árbitro principal eram osbandeirinhas. Escanteio conhecia-se por corner. Bola na trave dizia-se “pau-de-trave”. A defesa constituía-se de dois “backs”. Novos craques formavam-se na Escolinha do Fortaleza e dos Dentes-de-leite do Ceará Sporting Club

O Ceará em 1958

O programa esportivo cômico-satírico do rádio cearense era oBola-de-meia, produzido e interpretado pelo jornalista José Oli Moreira.

Geraldo Duarte 
 (Advogado, administrador e dicionarista)
  

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A Prainha de outrora... Parte II


Avenida Monsenhor Tabosa na década de 60 - Arquivo Nirez

Prosseguindo na jornada e tomando o rumo leste, localizamos na atual Avenida Monsenhor Tabosa uma casa em que residiu a família de D. Nenem Bezerra de Menezes, que se casaria com o respeitável clínico cearense Dr. João Otávio Lobo, hoje nome de rua. E já na esquina com a rua Senador Almino, nos deparamos com um grande prédio atualmente subdividido em várias lojas, onde se situava a residência do comerciante Vicente de Castro, correspondente aos atuais nºs 83 a 139, com outros de permeio.


Seminário - Arquivo Nirez

No primeiro quarteirão, face sul, da Avenida Monsenhor Tabosa, foi construído o prédio do Seminário Diocesano, e, completando a quadra, com o oitão para a Praça Cristo Redentor, foi levantada a Igreja da Conceição da Prainha ou do Seminário.


Monumento Cristo Redentor - Arquivo Nirez

Círculo Operário São José

Quanto a praça, antes de 1915 a sua face oeste praticamente não existia, ocupada por casebres, motivo pelo qual foi fácil levantar o então suntuoso prédio do Círculo Operário São José, uma das primeiras e mais felizes iniciativas do 3º bispo do Ceará e 1º arcebispo de Fortaleza, Dom Manuel da Silva Gomes, que empresta seu digníssimo nome a uma das principais avenidas de nossa terra, que aliás tem início naquele logradouro. No centro da praça, foi erguida, em 1922, uma coluna com a imagem de cristo Redentor no seu ápice, abençoando a cidade com um de seus braços e segurando uma cruz com o outro. Segundo informações recolhidas, essa coluna foi construída em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, por inspiração de Raimundo Frota, grande benfeitor do Círculo Operário, que concorreu para a construção do monumento com quarenta mil tijolos. O Círculo tomou a si essa tarefa e convocou os mestres Antônio Machado, Domingo Reis e Severino Moura, este último mais conhecido por "Chuva Branca", todos homens piedosos, vicentinos e terceiros franciscanos. Sem a assistência de engenheiros e arquitetos, o belo monumento provocou no Rio de Janeiro a maior admiração, através de apreciações de técnicos, em revistas especializadas. A coluna foi inaugurada a 7 de setembro de 1922. Enquanto os foguetes espocavam, os quatro novos sinos da Igreja da Prainha badalavam, dentre os quais o "Centenário".


Vista aérea da década de 20 ou 30 - Arquivo Nirez


Na ocasião pôs-se em movimento o relógio de quatro faces, depois retirado por inativo, em consequência da oscilação da coluna, e vendido à Igreja dos Remédios, no Benfica. A coluna teve seus dias gloriosos, costumando Dom Manuel da Silva Gomes celebrar, em dias especiais, na capelinha que lhe servia de base, enquanto a imagem era iluminada à noite até que, durante a 2ª Guerra Mundial, as autoridades militares impuseram a retirada das lâmpadas por questão de segurança pública, com a promessa de voltar ao que era no devido tempo, o que infelizmente não ocorreu. Aos domingo e dias festivos era franqueada a subida até o topo da coluna, através de escada interna em espiral, de onde se descortinava belo panorama da cidade e do mar. A imagem de Cristo Redentor infundia segurança em todos, aos de baixo e aos de cima.


A inauguração do monumento Cristo Redentor em  7 de setembro de 1922 - Livro Terra Cearense 1925

Descendo a Ladeira da Prainha, hoje rua Almirante Jaceguai, com fundos para o quintal da casa do Barão de São Leonardo e formando a esquina sudeste da referida ladeira com a rua do Chafariz, hoje José Avelino, tínhamos a casa de D. Benvinda e "seu" Floriano, primos do grande cearense Gustavo Barroso (menininho ao lado) que, em suas "Memórias", relembra inúmeras peraltices por ele praticadas sob a proteção de quem muito o estimava. Hoje, o prédio tem o nº 480 da rua José Avelino e 174 da rua Almirante Jaceguai. O primeiro volume daquelas deliciosas reminiscências, intitulado Coração de Menino, conta o que se passou numa segunda "Noite das Garrafadas" (ps. 256 a 264), assim chamada porque o irrequieto cearense resolveu reagir contra o chicote do português Chico Bracinho, carroceiro de Joaquim Amâncio Farias, residente em casa do bairro. O lusitano embirrava com os meninos que trepavam na traseira de sua carroça. Uma de suas chicotadas atinge Gustavo e este trama vingança. Arma-se de uma garfo velho que servia para revirar o adubo das roseiras da casa dos primos e convida para a desforra do caboclo João Pacheco, munindo-o de cacete, e o incita a vingar a honra cearense ultrajada por um ultramontano. Seria outra "Noite das Garrafadas". Na hora aprazada, os dois desafiam o português. Este reluta, prudentemente: que fossem para casa e deixassem de provocações com quem estava quieto. Os desafios continuam e o carroceiro, afinal, investe contra os provocadores, "com qualquer coisa branca na mão". Gustavo enfrenta-o e enfia-lhe o garfo na coxa. O homem solta um berro e, erguendo a acha de pau-branco que trazia, desce-a sobre Gustavo, que se desvia em tempo, recebendo apenas um raspão da cacetada que, mesmo assim, lhe endurece o pescoço por vários dias. João Pacheco apavora-se e falha na defesa do amigo desfalecido. Limita-se a pedir socorro à vizinhança, sendo Gustavo levado à casa dos primos para os primeiros curativos. Seus parentes nada dizem ao pai, avó e tias de Gustavo, enquanto o carroceiro vai tratar-se na Santa Casa. Encerrando sua lembrança do episódio, o escritor cearense dogmatiza: "A violência do Chicote provoca a violência do garfo, que provoca, por sua vez, a violência da acha de lenha. Felizmente pára aí. A violência somente gera a violência." O carroceiro demora no tratamento da ferida que supurou, escapando por milagre do tétano num tempo em que não se conheciam as injeções antitetânicas. Floriano, ao final, abraçou Gustavo, dizendo: "Eta bichinho bom! De garfo, não! Nunca mais! Mas vá tocando o pau, quando puder, e conte comigo que garanto a retirada. Desaforo não se traz para casa. Prega-se na cara de quem o fez. É melhor morrer do que viver desonrado."


Na rua Almirante Jaceguai, ficava essa casa, que era residência de Mister Hull

Ainda tendo por base a casa dos primos na Prainha, Gustavo armou outras, uma das quais narra no capítulo intitulado "O Mascarado" da publicação Liceu do Ceará, segundo volume de suas recordações (ps. 191 a 194). Próxima à residência de seus primos havia uma casinha, esquina nordeste das ruas Almirante Jaceguai (continuação, para o norte, da Ladeira da Prainha), e Dragão do Mar (antiga rua da Praia ou da Alfândega). Nela viviam modestamente duas irmãs de Telésforo de Abreu, Mariana a mais velha, viúva de um veterano da Guerra do Paraguai, e Demétria, solteirona. Telésforo de Abreu era um dos mais ricos habitantes do bairro da Prainha, cuja suntuosa casa, ficava no primeiro quarteirão da rua Boris, face leste, olhando para a sede da empresa que deu nome à essa rua, foi posteriormente ocupada por Bertrand Boris, quando este chegou ao Ceará


Rua Boris do Álbum Vistas do Ceará 1908

Casa Boris - Acervo de Carlos Juaçaba

Floriano, primo de Gustavo, costumava dar boa noite às duas irmãs de Telésforo e aceitar um cafezinho bem quente, certamente torrado em casa, que as duas lhe ofereciam. Determinada noite, sabendo Gustavo que o parente fora ao centro da cidade, escurece o rosto com cortiça queimada, arranja barba postiça, veste roupa do primo e enterra surrado chapéu de feltro na cabeça, indo à casa das velhinhas passar um trote. Dá-lhes boa-noite, como se fosse Floriano, mas, momentos depois, vêem as boas velhas o logro em que caíam e botam a boca no mundo, gritando: "Socorro! Um mascarado!"
A vizinhança corre pressurosa mas Gustavo, bom conhecedor do terreno, esgueira-se em tempo. Estranha-se o desaparecimento súbito do mascarado e nunca se esclarece o episódio. Somente Floriano, no dia seguinte, após tomar conhecimento dos fatos, diz reservadamente para Gustavo, batendo-lhe no ombro: "Foste tu!" E caem ambos na gargalhada.



Foto de 1900, onde vemos, a Casa Bóris, Alfândega e o antigo Porto de Fortaleza

Onde já funcionou a Capitania dos Portos (pequeno quarteirão entre as ruas José Avelino, Almirante Jaceguai, Almirante Tamandaré e Dragão do Mar) levantava-se a velha Alfândega. E, em diagonal com esta (esquina sudoeste das ruas Dragão do Mar, nº 207, e Almirante Jaceguai, nº 93), ficava a casa de Joaquim Amâncio Farias, de quem era carroceiro o português Chico Bracinho, já aqui referido como protagonista do episódio em que se envolveu Gustavo Barroso. Um dos filhos de Joaquim Amâncio, chamado José, integrava o grupo que depôs o Presidente do Estado, Antônio Pinto Nogueira Accioly, em 1912, tendo sido baleado no histórico dia 24 de janeiro daquele ano, de cujo ferimento faleceu. Outro seu filho, de nome Adalberto, foi para o Rio de Janeiro estudar Astronomia com um seu cunhado, Dr. Moritz, Diretor do Observatório Nacional. Vinha passar tempos nesta casa D. Ana Rabelo, tia do coronel Franco Rabelo, guindado à chefia do executivo estadual, em substituição a Accioly, e também destituído em 1914 pela Sedição de Juazeiro, sob a inspiração do Pinheiro Machado e do próprio Presidente da RepúblicaMarechal Hermes da Fonseca.


Continua...

Leia a primeira parte AQUI
Fonte: Prainha, um bairro decadente - Mozart Soriano Aderaldo

domingo, 6 de janeiro de 2013

Os enterros na Fortaleza antiga



Cemitério São João Batista em 1931

Em maio de 1934, o cronista João Nogueira estabelecia uma relação entre a velocidade que caracterizava os novos tempos e a mudança de atitudes frente ao traspasse. No tocante aos cortejos fúnebres, ele apontou o transporte do féretro e os trajes dos acompanhantes como índices  na percepção dessa mudança. 


Cemitério São João Batista em 1931

Os enterros atuais puxados a máquina, passando velozes, os convidados vestidos de todas as cores, não infundem aquele respeito, que impunham antigamente. Tal é a força dos costumes que hoje não causa o mínimo reparo um homem acompanhar um enterro ou assistir a uma missa de sétimo dia, vestido de qualquer cor, mas ai daquele que não se apresentar de branco de rigor ou de smoking em um sarau dos nossos clubes elegantes. Tratamos a Morte com pouca cerimônia e a Dança com o maior respeito...


Cemitério São João Batista em 1931

A cidade não mudava apenas em suas pedras e topônimos: à transformação material e onomástica somava-se o desaparecimento de costumes antigos, no desencadear de lembranças nos  memorialistas em apreço. As descrições pormenorizadas de João Nogueira acerca da grande movimentação que envolvia os enterros de outrora confirmam que eles eram grandes eventos públicos a concentrar a atenção da  população e mobilizar considerável soma de recursos simbólicos. É com embevecimento que o engenheiro recorda os funerais de há meio século.



Antiga Igreja da Sé com seu cruzeiro

Há cinquenta anos passados os enterros entre nós eram verdadeiras procissões, que se estendiam, algumas vezes, por mais de um dos nossos quarteirões. Abria o préstito uma cruz negra de cuja peanha pendia uma  saia, que era um pano de veludo preto com franjas douradas, afetando a forma desta peça de vestuário. As irmandades marchavam em longas filas, solene e silenciosamente. Precedido pelo cura da , vinha o féretro, levado por quatro empregados da Misericórdia, vestidos de preto, com cartolas de oleado reluzente, casacas e calças debruadas de amarelo.


A Santa Casa ainda com um só pavimento. Foto de 1911

Os empregados da Santa Casa encarregados de conduzir o ataúde eram popularmente conhecidos como “gatos pingados”. Em razão de seu trajar chamativo, sempre foram citados por quantos memorialistas recordassem os enterros da Fortaleza antiga. Nas Memórias, Gustavo Barroso entreviu a mudança nos sentimentos com respeito aos mortos que foi suscitada pelo automóvel. Conforme já foi assinalado, sua introdução no ambiente urbano inaugurou novos ritmos e expectativas, afetando várias dimensões da vida cotidiana. Os ritos fúnebres estavam inclusos nessa transformação, conforme é possível inferir da passagem em que a velocidade dos cortejos motorizados é contraposta à solenidade dos enterros a pé, com o caixão conduzido pelos referidos empregados, em um “andar ritmado e lento”. 


Cândido Portinari

Como que ainda estou vendo os enterros. Todos a pé. Muito solenes. Na minha meninice, os mortos não usavam automóvel para a derradeira viagem. Nem se sabia o que era automóvel. Os vivos parece que não tinham pressa em se verem livres dos mortos, nem 
estes pressa em se verem livres dos vivos. À frente dos enterros, uma cruz alçada, de saiote preto, o padre paramentado e dois coroinhas. O caixão levado a mão pelos parentes e amigos ou por quatro gatos pingados de andar ritmado e lento, de  sobrecasacas negras e cartolas de oleado. No acompanhamento, somente homens, todos de luto, silenciosos e compungidos.¹



Não há mudança cultural que não se faça perceber no surgimento de novos objetos – e no desaparecimento de outros. As  procissões noturnas, iluminadas com tochas e fachos, talvez não fizessem mais sentido em uma cidade iluminada pela energia elétrica e abastecida de veículos. Sua estranheza foi evocada por Gustavo Barroso, em outra passagem do texto. 

Lembro-me vagamente de ter visto, quando muito pequenino, um dos últimos enterros à noite, à luz de tochas e archotes, costume antigo e lúgubre. Se não vi, ouvi descrevê-los tantas vezes  em casa que a descrição se mistura lá nos recessos do meu cérebro às cousas reais e acaba feita realidade pelo contato.


Cemitério São João Batista em 1931

Esse é um termo essencial da memória: muitas vezes não é possível distinguir entre nossas próprias lembranças e o que nos foi contado por outrem. Tais operações geralmente são inconscientes, mas no caso de Gustavo Barroso, artesão da memória, a possibilidade é vislumbrada. Ao lado de outros relatos, a imagem confirmava: os mortos já não se enterravam como antes. 


Cemitério São João Batista em 1931

A necessidade de relatar como eram os enterros de antigamente revelava um presente marcado pela supressão de referências à morte: do mesmo modo que o passado, os mortos eram banidos do cotidiano da cidade. O primeiro desaparecia nas contínuas reformas que depuravam o espaço urbano de seus traços indesejáveis; os últimos eram abolidos das vistas 
públicas através dos automóveis, que, velozes, os despachavam mais rapidamente para o outro mundo.


Antiga rua das Flores (Castro e Silva) por onde seguiam os cortejos fúnebres até o Cemitério São João Batista. Arquivo Nirez


Talvez muitos saudassem o progresso no que poupava  aos fortalezenses. Pois as procissões se estendiam por 1300 metros, ao longo da rua das Flores, que conduzia da igreja da Sé ao Cemitério São João Batista (daí talvez a origem do nome). Tão grande percurso, realizado sob as intempéries da natureza e sobre um calçamento pouco convidativo às longas caminhadas, assumia contornos de sacrifício – quase uma via-crúcis: “Era, em verdade, um sacrifício ir um homem, da Matriz ao Cemitério, vestido de preto, sol das quatro horas pela frente, sobre um péssimo calçamento”.


Fachada antiga do Cemitério São João Batista sendo demolida. Arquivo Nirez

Mas ritos fúnebres cumprem a função social de mostrar às pessoas que elas são importantes para os outros. Não circunscrever a morte com eles pode transformar o ato de morrer em uma “situação amorfa, uma área vazia no mapa social”.

O ritual que cobria esse momento crítico talvez se destinasse a marcá-lo, realçá-lo em meio ao cotidiano de fatos muitas vezes indistintos,demonstrando, assim, o quanto significava a perda de um membro para a coletividade. Era um ritual para os vivos, antes de ser para os mortos; estes se iam, mas aqueles ficavam, e eram reconfortados por  saber que, quando sua 
hora chegasse, sua partida também seria sentida pelos outros. 


Cemitério São João Batista em 1931

Na percepção do engenheiro, ninguém se queixava da  caminhada torturante em virtude dos “sentimentos que a todos  animavam” Trata-se, evidentemente, de uma visão carregada de subjetividade, mas que bem expressava o quanto poderia ser angustiante para alguns o vazio que a ausência do ritual criava.

Esse vácuo também era formado na destruição de fragmentos do passado que compunham a paisagem da cidade. 
Esta era expulsa da cidade tanto nas transformações do espaço quanto no desaparecimento de antigos ritos fúnebres. Mas os memorialistas a introduziam no discurso, e lembravam que o dever com os mortos  ia muito além do cerimonial adequado, mas implicava reconhecê-los: nas esquinas, praças, árvores, topônimos... Vestígios do passado transmutados em lápides. 

João Nogueira recordou, com enlevo, os “enterros de anjinhos”. 


Enterro de anjinhos - Imagem meramente ilustrativa - Acervo José Elson

Eram festivos e risonhos os enterros de anjinhos ao tempo em que a Fortaleza não tinha pretensões a  Metrópole... Os sinos da (os menores) repicavam alegremente e a família do  anjinho convidava quantos meninos pudesse para acompanhar o saimento. Não se encomendavam os  anjinhos. Porque encomendá-los Àquele que dissera: Deixai vir a mim os pequeninos? A inocência daquelas aves abria-lhes as portas do reino dos céus. Enquanto os pequenos convidados esperavam pela hora da saída, recebiam, de agrado, toda sorte de guloseimas. Depois, lá se ia o alegre bando acompanhado, não raro, por músicos que tocavam, durante o trajeto, polcas, quadrilhas e outras peças alegres. E era assim que  as mães piedosas deixavam que voassem as andorinhas, em busca de 
paragens luminosas. Felizes tempos aqueles!


Enterro de anjinhos - Imagem meramente ilustrativa - Acervo José Elson

Eram tempos mais felizes aqueles? Quem sabe? De qualquer forma, o engenheiro encontrava regozijo na lembrança. Mas o  encontraria do mesmo modo se a tradição continuasse? Talvez sim, mas de  uma forma distinta, porque presença. A ausência faz o memorialista, a mudança reelabora seus sentimentos com respeito à cidade em que vivera por longo tempo, produz memórias que não são a Fortaleza de antigamente, mas fragmentos recolhidos e dispostos segundo critérios de afetividade.



No entanto, é provável que João Nogueira e Gustavo Barroso tenham sido levados, pelas circunstâncias que deparavam no presente, a idealizar as atitudes dos antigos com relação aos mortos. O testemunho de João Nogueira sobre a demolição do antigo Cemitério de São Casimiro, em 1877, e a sombra do desprezo que pairava sobre os que ali repousavam, parece apontar nesse sentido. 


Início do século XX

Local onde antes esteve o Cemitério de São Casimiro - Álbum Fortaleza 1931

Muita gente passa hoje em frente às oficinas da Baturité sem suspeitar ao menos que todo aquele movimento se opera sobre um chão de repouso e de morte. Parte das oficinas, o  Chaler, a Carpintaria, os Depósitos e desvios estão assentes sobre o local do antigo Cemitério de São Casimiro [...]. Aí se fizeram enterramentos até abril de 1865, época em que foi fechado sob pretexto de se achar quase dentro da cidade, estar sendo invadido pelas areias do morro, estarem sepultados nele inúmeros coléricos. Daí por diante jazeu em completo abandono, até que em 1877 se resolveu a sua demolição. [...] 


Compreendem-se perfeitamente as razões porque se fechou o Cemitério Velho; o que porém nunca pudemos compreender foi o abandono, de que fomos tantas vezes testemunhas, daquele humilde Campo Santo. Em 1878 já estava quase tudo em ruínas: túmulos desmoronados, catacumbas abertas, deixando ver o seu horripilante conteúdo, ossos dispersos pelo chão, onde os animais pastavam tranquilamente. Dir-se-ia que na cidade não restava mais nenhum parente, nenhum amigo de nenhum daqueles que repousavam ali.




Traslado dos restos mortais do General Sampaio na Avenida Bezerra de Menezes, com a presença do então Governador Virgílio Távora (1966).


À vista dessas poucas (e chocantes) linhas, impõe-se repensar as assertivas que atribuíam aos antigos maior respeito e consideração aos mortos. Afora a ordem de “autoridade competente” para exumação dos restos de mortos ilustres antes da profanação (como o do Boticário Ferreira, a quem se atribui, juntamente com Silva Paulet e Adolfo Herbster, o traçado ortogonal das ruas de Fortaleza), o único que parecia se importar com o desrespeito era uma velha casuarina


A velha casuarina em destaque

Do nosso antigo cemitério resta apenas um único monumento: uma casuarina, que o acaso conservou.  Último morins, único amigo sobrevivente de quantos viu sepultar. Dizem que quando se revolvem as cinzas dos seus mortos ouve-se pela calada da noite um vozear 
baixinho por entre a vetusta ramaria.²

Por entre a folhagem da árvore, diziam escutar-se um último alento aos mortos, cujos despojos não voltariam nunca “ao  pó sagrado de que nos fala a Escritura, mas à areia negra do esquecimento e do desprezo”.³

Foto de 1922, época da reforma da Praça Castro Carreira (Estação)

¹BARROSO, Gustavo. Memórias. Coração de menino. Op. Cit., p. 62-3. O jornalista Carvalho Lima, sob o pseudônimo de “Ancião”, faz reparos à crônica “Os primitivos enterros”, de Raimundo de Menezes, onde os encarregados do transporte do ataúde eram lembrados. Estes não seriam empregados da Santa Casa, mas trabalhadores de rua contratados para cada enterramento, e subdividiam-se em três categorias,  segundo as posses do morto: 12$00020$000 e 30$000. Cada qual trajava uma indumentária diferente (os descritos pelos memorialistas pertenciam à última categoria). (O Estado, 13/02/1938. Apud MENEZES, Raimundo de. Coisas que o tempo levou:  crônicas históricas da Fortaleza antiga. 3. ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000, p. 77) 

²No texto que dedica ao oitizeiro do Rosário, João Nogueira menciona outras árvores conhecidas de Fortaleza. Além do cajueiro do Fagundescuja história já é conhecida, havia a “árvore da liberdade”, coqueiro plantado em 1831, no antigo Pátio do Palácio (atual praça General Tibúrcio), por ocasião da abdicação de D. Pedro Io “cajueiro botador”, “velho” que “não se impunha ao respeito”, por prestar-se ao chiste popular: sob sua fronde ocorria a eleição dos maiores mentirosos da cidade, que sempre terminava em cervejadas, nos botequins da praça do Ferreira, onde estava localizado; por último, um coqueiro da praça da Estação, que não tinha história conhecida: “É um velho que tem atravessado a vida sem viver. Sabe-se apenas que nas noites de luar conversava com o oitizeiro. O que diziam, ninguém entendia... Agora  emudeceu para sempre, porque morreu o único amigo que lhe restava e o entendia”. NOGUEIRA, João. Op. Cit., p. 161.

³O historiador Simon Schama faz uma instigante reflexão acerca das ligações das árvores 
com o sagrado, na simbologia de pinturas e xilogravuras da Idade Média. Esses entes da 
natureza foram apropriados por catequistas cristãos que deram combate a cultos fetichistas, e se empenharam em converter seus praticantes através de sua associação ao Crucificado. (SCHAMA, Simon. Paisagem e memória. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 221-232) 



Crédito: Tempo, progresso, memória: um olhar para o passado na Fortaleza dos anos trinta - Carlos Eduardo Vasconcelos Nogueira, Álbum Fortaleza 1931 e Arquivo Nirez

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