"Tem dia que amanheço com vontade de escrever, conversar, contar histórias hilariantes de quando eu era bem jovem e também algumas até depois de adulto bem entrado nos "junhos". Este tal de computador em muito colabora para isto. Por falar em computador, lembrei-me da internet, que coisa boa, fantástica! No meu tempo de jovem não havia nada disto, para se escrever era no lápis ou na máquina de escrever. lepo, lepo, lepo...

-Mr. Júlio e senhora, cabine nº 1, "please" !
Eu achei aquilo muito bonito, ave Maria!
Lá se foram, entraram na cabine e aí começou a gritaria. Primeiro minha mãe, depois o papai. Eu quase fiquei preocupado... Por fim saíram, agradeceram ao "gringo" e já na calçada, meu pai parou e perguntou:
-Você entendeu alguma coisa?
-Quase tudo...E você?
-É... Entendi que ele vem em janeiro.
- Em fevereiro, Júlio!
Na nossa casa, ali na rua Tereza Cristina tinha telefone, era uma extensão da beneficiadora de sal, Usina União. De minha mãe lá pra casa, o nº era 4424. Tempos depois meu pai comprou um telefone para nossa residência, seu número, 8677. Aí estava, pelo menos para mim, se iniciando uma era de "contatos imediatos" com namoradas e amigos, se incluído ai os ''trotes", alguns famosos.
O tempo passou e quando eu já morava na Avenida do


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Fachada do Bar do Anísio. Acervo Roberto Aurélio |
Na Beira-mar recém-criada, tinha os bares, o Bem, o bar do Anísio, o Baiuca, do meu amigo Nilbio Portela. Além destes, contávamos ainda com o Lido, restaurante muito chique e o Tony's, bar e sorveteria da moda. As praias eram a do Náutico, a "piscininha" da praia de Iracema e a do Lido. Pois bem, um belo dia esta jovem que se dizia chamar-se Suely telefonou-me e disse que ia sair com umas amigas para a casa de uma colega que estava aniversariando, e de lá iriam dar uma esticada até o Anísio, e perguntou se eu não queria ir até lá para nos conhecermos. Estranhei um pouco, porque moça sair assim de turma era raro, mas a "liberdade" estava começando. Fui. Lá encontrei meu amigo Ferraz. Estava só, sentei-me com ele e pedi uma dose de cuba libre, e logo passei a relatar o motivo de minha presença ali. Não demorou muito chegou um grupo de moças e ocupou uma mesa não muito longe da nossa. Aí o Ferraz disse:
- Não olhe agora, mas na mesa logo ali ao lado acaba de chegar umas seis moças.
-Que tal elas são?
- Não dá pra ver, mas são pessoas de "linha".
Logo começaram a nos observar e a rir, no que nós correspondíamos. Não demorou uma delas levantou-se, e o Ferraz observou:
- Lá vem ela!
Dei uma olhada de relance e logo fiz a análise: gorda e deselegante embora tivesse um rosto simpático. Era determinada. Acercou-se de nós e atacou:
-Qual de vocês dois é o Clóvis?
Meu companheiro adiantou-se e disse:
- Eu sou o Ferraz.
E mais rápido do que imediatamente eu me apresentei:
- Eu sou o Paulo.
A jovem pediu desculpas e foi se afastando, quando o Ferraz que era bastante enxerido, disse:
- Se você quiser mudo de nome... Ela se deu calada por resposta.
Depois ela ainda ligou umas duas ou três vezes, justifiquei minha falta ao encontro e disse que ia viajar para o sertão onde ia passar as férias. Foi a última vez que conversamos.
Depois desta e de outras mais, eu prefiro ficar sonhando como o Nelson Gonçalves em Escultura:
"Cansado de tanto amar,
Eu quis um dia criar
Na minha imaginação,
Uma mulher diferente,
De olhar e voz envolvente
Que atingisse a perfeição.
Comecei a esculturar
No meu sonho singular
Essa mulher fantasia.
Dei-lhe o nome de Dulcinéia,
A malícia de Frinéia,
E a pureza de Maria,
Em Gioconda fui buscar
O sorriso e o olhar,
Em Du Barry o glamour.
E para maior beleza
Dei-lhe o porte de nobreza
De madame Pompadour.
E assim de retalho em retalho
Terminei o seu trabalho,
O meu sonho de escultor
E quando cheguei ao fim
Tinha diante de mim,
Você, só você meu amor".
Conselho de amigo experiente: nunca arrisque encontros respaldados na descrição que a pessoa faz de si mesma, ou na imagem que você formou da pessoa a ser encontrada. É melhor ver para depois marcar o encontro.
Clóvis Acário Maciel
*Firma americana International Telephone & Telegraph (ITT).
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