Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Theatro José de Alencar



Postal raro dos anos 30 

O Theatro José de Alencar é um dos maiores símbolos da cultura cearense. Até o nome “theatro”, com “h” mesmo, preserva a grafia de outrora. A estrutura é um espetáculo tão grandioso quanto às apresentações que têm o privilégio de entrar em cartaz no José de Alencar, batizado em homenagem a um dos maiores escritores do Ceará, autor dos romances Iracema, Cinco Minutos, A Viuvinha, Senhora, entre outros. A construção começou em 6 de outubro de 1908, quando a estrutura metálica importada da Escócia já se apresentava exposta em praça pública depois de cruzar o Oceano Atlântico. A inauguração aconteceu somente em 17 de junho de 1910, com direito a show pirotécnico e apresentações culturais.
O primeiro espetáculo teatral foi apresentado no dia 23 de setembro de 1910, pela Companhia Dramática Lucile Perez, com a peça “O Dote”, de Artur Azevedo.
O público lotou e aplaudiu.



A história do Theatro José de Alencar começa em 1896 quando o então presidente da Província - Bezerril Fontenele - fincava a sua pedra fundamental no centro da Praça do Patrocínio (posteriormente Praça Marquês do Herval e hoje Praça José de Alencar).





O teatro na década de 40 - Arquivo Assis de Lima

No entanto, só em 1908 no governo de Nogueira Acióli, tiveram início os trabalhos de construção, obediente à planta elaborada pelo engenheiro militar Capitão Bernardo José de Melo, devidamente autorizado pela Assembleia Estadual por força da Lei n. 768, de 20 de agosto de 1904. A obra teria estrutura metálica, com fachada em estilos art nouveau e coríntio, segundo os preceitos dos chamados "teatros-jardins".


Ontem


Hoje


Inicialmente, o José de Alencar foi projetado para ser um teatro jardim, mas somente em 1975, 65 anos após a inauguração, em uma das reformas pelas quais passou o equipamento, o jardim foi construído. A estrutura possui duas fachadas: a primeira em estilo eclético, mas com predominância do neoclássico, e a outra em art-nouveau, que chama atenção pelos belos vitrais coloridos. No interior, pinturas indescritíveis são as principais atrizes dessa peça arquitetônica. Na boca de cena, acima das cortinas, estão pintados personagens de José de Alencar. Outros dois prédios em anexo fazem parte da estrutura do Theatro José de Alencar.

Em 1987, o prédio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).




O corpo da sala de espetáculos é todo de aço e ferro fundido, com três pavimentos além do térreo, onde ficam a plateia, as frisas, camarotes e torrinhas, tendo ainda cadeiras austríacas de palhinha, balcão e elegantes escadarias. A execução da estrutura de ferro coube à empresa Walter-MacFarlanes & Co. e Saracen Foudrín, de Glasgow, Escócia.





Quando foi inaugurado oficialmente no dia 17 de Junho de 1910, a banda sinfônica do Batalhão de Segurança, regida pelos maestros Luigi Maria Smido e Henrique Jorge fez o espetáculo musical. Na praça, rodas de fogo, morteiros, foguetes e girândolas num milagre pirotécnico, abrilhantavam a festa.



















Curiosidades e dados históricos:


Fachada

Na parte superior, a face alegre de Baco, deus grego do vinho e inventor do teatro
ladeado por duas musas.
No andar superior, salão nobre ou foyer, dois anjinhos (Cupido e Psiqué), no frontal da porta principal, representando a união do corpo e da alma.

Em seu interior encontram-se pinturas raras dos seguintes artistas:
  •     Ramos Cotoco, cearense (1871-1916) pintou os nomes das obras de José de Alencar sobre as grades das frisas e as figuras femininas no teto da sala de espetáculos.
  •     Jacinto Matos, (1882-1947) pernambucano, pintou os florões no forro da sala de espetáculos.
  •     Paula Barros, artista natural do Pará pintou os retratos de Carlos Gomes e de José de Alencar além da representação das três artes – pintura, música e drama – na cúpula oval da sala de espetáculos.
  •     Rodolfo Amoedo, carioca, (1857-1941) pintou a moldura circular, acima do Pano de Boca.    Rodolfo Amoedo foi aluno de Victor Meireles e professor de Portinari.
  •     João Vicente pintou as imitações de mármore nas paredes da Boca de Cena.
  •     Gustavo Barroso, cearense (1888-1959) escritor e historiador auxiliou o arquiteto mineiro Herculano Ramos na pintura do 1º Pano de Boca, representando o encontro de Iracema com o Guerreiro Branco.

Os Teatros Anteriores ao Teatro José de Alencar
  •     Teatro da Concórdia ou da Ópera.

Construído na década de 30 do Século XIX.
Funcionou onde é hoje o Palacete Iracema, na esquina da Rua General Bezerril com Guilherme Rocha.
Em 1842, mudou-se para a Rua Barão do Rio Branco atuais N° 1080 e 1084, funcionando durante 46 anos, até 1876.
  •     Teatro São José.

Inaugurado em março de 1876 funcionou na Rua Senador Pompeu, atuais N° 931 e 937.
  •     Teatro das Variedades.

De propriedade do empresário João do Carmo, inaugurado em 21 de janeiro de 1877, na Rua Senador Pompeu com Dr. João Moreira (Sudoeste), não tinha cobertura e os espectadores tinham que levar cadeiras.
  •     Teatro São Luiz.

Propriedade de Joaquim Feijó, no mesmo local do Variedades – 1880 a 1886.
Frequentado por camadas sociais mais exigentes, nele se apresentavam grupos de outros Estados do Brasil, recebendo inclusive a visita do maestro Carlos Gomes.
  •     Clube de Diversos Artistas.

Fundado por volta de 1897, idealizado por Papi Júnior.
Compunha-se de um corpo orquestral (destacando-se o maestro Henrique Jorge) e um corpo cênico.
Localizava-se na Rua Barão do Rio Branco, sede do Reform Club, depois encampado pelo Clube lracema.
Existiram outros Teatros, só estes foram selecionados como introdução ao José de Alencar.


O primeiro projeto do Teatro José de Alencar, foi de lssac Amaral e Roberto GO Bleasby e deveria ser construído sobre os alicerces de uma obra que seria um mercado no centro da Praça a qual havia sido abandonada.
As obras do teatro chegaram a ser iniciadas e depois paralisadas por falta de verbas e insuficiência nas fundações.
Em 1896 o Presidente rescindiu o contrato da construção e submeteu a obra a exame, sendo a mesma condenada.
Resolveu, o Presidente, mandar construir a versão atual no local onde Adolfo Herbster havia projetado o teatro Santa Tereza em 1864, área que estava servindo de pátio para os cavalos do Batalhão de Segurança, cujo quartel ocupava a área utilizada pelos Jardins do Teatro.
A versão atual foi edificada, sob a direção do Engenheiro Militar Capitão Bernardo José de Melo.

Dados Históricos

  •     1894

Lançamento da Pedra fundamental, pelo Presidente do Estado Coronel Bezerril Fontinele no Centro da Praça.
  •     6 de junho de 1908

Inicio das Obras

Direção da Obra

Raimundo Borges Filho, oficial do Exército Comandante do Batalhão de Segurança do Estado e genro do Presidente do Estado, Nogueira Acióli.

Execução da Obra

Walter Mac Farlanes & Co. e Serrancen Fondri, de Glascow, Escócia.

Inauguração

17 de junho de 1910, com um Concerto apresentado pela Banda de Música do Batalhão de Segurança sob a regência dos Maestros Henrique Jorge e Luigi Maria Smido.

Principais Reformas

    1918

Introduzidas as instalações elétricas e agregadas duas escadas internas, semelhantes às já existentes (fundidas no Ceará).

    1938

Passa por restauração, orientada pelo engenheiro José Barros Maia.

    1957

As cadeiras de palhinha (estilo austríaco), são substituídas por poltronas estofadas.

    1974

Recomposição da estrutura metálica, das cadeiras de palhinha e construído o jardim lateral, com projeto do arquiteto Burle Marx, na área anteriormente ocupada pelo centro de saúde, demolido em 1973.

    1989/91


Recomposição do jardim e instalação de espaço cênico ao ar livre para apresentação de espetáculos.
Como parte desta reforma foi construído do lado oposto ao jardim um prédio anexo, com dependências administrativas.
No anexo funcionam um auditório para 100 pessoas, a Galeria de Artes Ramos Cotoco, biblioteca especializada, bar e cozinha industrial.
No pátio um palco ao ar livre onde são apresentados espetáculos produzidos pelo teatro.

 Fontes:  http://www.guiace.com.br/ http://www.skyscrapercity.com

Um Herói chamado João Nogueira Jucá


Acervo Luciano Hortêncio

Quando o estudante João Nogueira Jucá morreu, no dia 11 de agosto de 1959, faltavam três meses para completar 18 anos. Ele era um jovem calado, de um coração imenso, humano. Por isso, a família e os amigos não estranharam a atitude que tomou ao entrar no prédio em chamas para salvar doentes que estavam internados na Casa de Saúde César Cals, hoje, Hospital Geral César Cals (HGCC). Apesar da gravidade do seu quadro, em nenhum momento se arrependeu do que fez. "Ele dizia que seu corpo queimava como brasa".

O Major do corpo de bombeiros, José de Melo Neto, observa que João Nogueira Jucá tinha dentro de si um espírito militar e vestiu-se desse espírito para ajudar quem precisava. Ele lembra que o estudante vinha de uma aula de halterofilismo quando se deparou com a tragédia. "Com desprendimento entrou nas chamas para salvar vidas".

O militar ressalta que o ato do estudante foi de muita coragem.


Acervo Luciano Hortêncio

O Estudante João Nogueira Jucá nasceu em Fortaleza, no dia 24 de Novembro de 1941, sendo seus pais o Desembargador José Jucá Filho e a Professora Maria Nogueira de Menezes Jucá. Estudou nos colégios Rui Barbosa, Cearense, Sete de Setembro, Fênix Caixeiral e São João. Seu maior sonho era ser oficial da Marinha do Brasil. Daí o entusiasmo pelo esporte, sobretudo a natação.

No dia 04 de Agosto de 1959, às 14 horas, voltava em companhia de um colega da aula de halterofilismo. Ao passarem em frente à Casa de Saúde César Cals, na Praça da Lagoinha (Capistrano de Abreu) perceberam um incêndio. Convidou o amigo para ajudá-lo a salvar as pessoas que se encontravam no interior do hospital. O outro, no entanto, achando perigosa a empreitada, recusou a proposta. João Nogueira Jucá e vários outros abnegados se lançaram ao fogo. O nosso jovem salvou vários recém-nascidos, depois suas mães, que já estavam em situação dramática. Muitas eram as enfermeiras que pediam para que ele parasse com aquele esforço, pois a cada pessoa que trazia mais eram visíveis as queimaduras em seu corpo. Uma senhora implorou-lhe para que fosse buscar o seu bebê que ficara lá dentro. Ele lançou-se mais uma vez às chamas e trouxe a criança com vida. Novamente uma enfermeira tentou impedi-lo de cruzar o fogo, argumentando que não tinha mais ninguém nas enfermarias, mas ele disse: “Ainda tem na indigência”. Voltou com uma pessoa nos braços atingida pelo fogo. Numa dessas idas e vindas, explodiu um tubo de oxigênio que estava próximo e o nosso jovem foi duramente atingido. 

Santinho de sétimo dia de João Nogueira Jucá - Acervo Marrocos Anselmo Jr

Naquele momento, às 16 horas, sua mãe, passando em frente, viu pessoas retirando um corpo envolto em um colete, com diversas queimaduras, mas nunca poderia imaginar que era o próprio filho. Chegando em casa, na hora do jantar, enquanto comentava o fato com os filhos e o esposo, o telefone toca e alguém comunica que seu filho estava na Assistência Municipal (hoje é o Instituto Dr. José Frota - IJF). A partir desse dia seus pais não voltaram mais para casa. O estudante foi visitado pelo então governador Parcifal Barroso, que disse, com os olhos cheios de lágrimas: “João, o povo do Ceará lhe agradece”. Já às portas da morte João Nogueira Jucá disse para o pai, contrariado com a perda do filho mais novo: “Não, pai, faria tudo de novo, e me orgulho do que fiz! Acho que ainda fiz pouco”. Logo depois morreu. Este fato ocorreu na madrugada de 11 de agosto de 1959, tendo o nosso jovem 17 anos de idade.

 Os sofrimento dos pais diante do corpo do filho

Considerando a necessidade de referência humanística que motivem os nossos jovens na luta em defesa da vida é que, este gesto de João Nogueira Jucá, tem que permanecer sempre vivo na mente e no coração de todos nós. 

João - O primeiro bombeiro honorário do Ceará

VIDA E MORTE DE JOÃO NOGUEIRA JUCÁ

Nas investigações procedidas, conforme ordem do Sr. Cel BM Fernando César Sales Furlani, Comandante do Corpo de Bombeiros, sobre a vida e a morte do estudante JOÃO NOGUEIRA JUCÁ, pelo fato ocorrido no incêndio do dia 04 de agosto de 1959, nas dependências da Maternidade Dr. César Cals, na Praça da Lagoinha, em Fortaleza, em que resultaram em inúmeras pessoas feridas e 04(quatro) mortas, e no destaque principal o heroísmo do jovem aluno do então Colégio São João, chegou-se ao seguinte resultado histórico:

João Nogueira Jucá, nascido em Fortaleza, no dia 24 de novembro de 1941 na Casa de Saúde São Raimundo, filho do Desembargador José Jucá Filho e da Professora Maria Nogueira de Menezes Jucá.

Seus primeiros 5(cinco) anos de vida, foram passados na antiga cidade de São Francisco, hoje Itapajé, no nosso Estado, onde seu pai exercia o cargo de Juiz Municipal e sua mãe o de Professora do Grupo Escolar. Sendo seu pai promovido a outra entrância profissional, teve que morar na cidade de Lavras da Mangabeira, no ano de 1946. Alfabetizado por sua mãe, iniciou o Curso primário na mesma cidade, onde ficou até 1948, quando veio definitivamente para Fortaleza



Acervo Luciano Hortêncio
 
Na Capital, continuou os estudos, frequentando sucessivamente, os Colégios Fênix Caixeiral e 7 de Setembro. O curso ginasial foi feito no Colégio Cearense, iniciando o científico no Colégio São João.
Segundo depoimentos de seus familiares e amigos, João, na adolescência, tinha um complexo de inferioridade por ser excessivamente magro e alto desproporcionalmente, atingindo a altura de 1,83m. A custa de constantes e religiosos exercícios, prática de esporte, conseguiu quase que a perfeição corporal, tornando-se um atleta, com uma compleição física avantajada, de causar inveja e afastar de uma vez por todas com o complexo que tanto atormentava os jovens da época.
Moço inteligente, aspecto superior e fidalguesco, tinha uma personalidade altiva e impressionante. Sua vocação, como sempre repetia quase que obsessivamente, era de ser Oficial da Marinha do Brasil. E para esse mister, não parava de se preparar com afinco.

No fim do mês de julho de 1959, de volta das férias, num sítio em Messejana, de sua família, seu pai, homem austero, perguntou-lhe qual sua reação ao ver um empregado que havia sido soterrado dentro de uma cacimba, morrendo sem o pronto socorro, muito mais por sua falta: e ele respondeu, com voz tronitoante: "Pai, estou com raiva de mim mesmo porque não cheguei na hora, senão aquele homem não teria morrido!"


Exímio nadador, tinha por hábito duas vezes por semana, nadar na praia de Jacarecanga até o Cais do Porto, dizendo que era para testar sua forma física, ou, numa eventualidade qualquer, que fosse necessário empregar sua destreza como nadador acostumado às grandes refregas.

O Desembargador José Jucá Filho, foi morar com seus 03(três) filhos, José Jucá Neto, Jovina Jucá e João, o mais moço, nas proximidades da Maternidade Dr. César Cals, ou mais precisamente, na Avenida do Imperador. E essa distância, geograficamente curta, fez com que, no dia 04 de agosto de 1959, o Jovem estudante, João Nogueira Jucá passasse pôr ali, naquela tarde, quando os relógios dos passantes registravam 14:20hs. Um ribombar pavoroso de repente eclodiu, assustando os frequentadores da Praça da Lagoinha e pondo-os para longe de onde vinha a explosão. Num instante labaredas de fogo riscavam o ar já espalhando o terror nos assistentes, e ameaçando os internos da maternidade, que já em pânico procuravam salvar suas vidas.


João, neste momento, lançou-se decidido dentro do hospital, sentindo que alguma coisa precisava ser feita urgentemente. Não se importou com as sucessivas explosões e as chamas que lhe ardiam no corpo, pois, segundo ele, não sentiu nem viu fogo algum. Não soube quantos recém-nascidos salvou, apenas que foram muitos. Não contou quantas parturientes salvou, apenas lamenta que muitas ficaram feridas e outras morreram, Nem ao menos ouviu os gritos histéricos de advertência de que sua vida estava em perigo, se ouviu, contou ele para os seus irmãos e os seus pais, que desobedeceu. O que ele ouviu, já com o corpo em chamas, foi uma mulher gritar para ele de joelhos: "Por favor, meu filhinho ficou lá, salve-o pelo Amor de Deus!"E lançou-se às chamas novamente, trazendo o recém-nascido nos braços. Já desfalecido, mas insistente na luta, uma enfermeira, correu aos seus braços e impediu-o de que entrasse novamente, dizendo: "meu filho, você já retirou todo mundo das enfermarias, não tem mais ninguém", e ele sem parar, já deformado pelas queimaduras correu olhando para a moça dizendo:” ainda tem na indigência", voltou em seguida, trazendo mais outra pessoa nos braços carcomidos pelo fogo.

Foto feita da página do livro que retrata os principais fatos da história do Ceará

Quando não mais existia ninguém dentro das enfermarias, desobedecendo sempre as advertências, até da Guarnição do Corpo de Bombeiros, João caiu, sendo levado às pressas para a Assistência Municipal. Seu estado, considerado gravíssimo constatado que fora consumido pelo fogo, 80%(oitenta por cento) do seu corpo, ficando, irreconhecível, portanto, sua pele, alva e fina, havia ficado totalmente preta. Na agonia de todo sofrimento, João às vezes, perdia a lucidez e proferia coisas dignas de serem registradas: "sou Oficial da Marinha! Vou salvá-los do naufrágio! Quando recuperava a consciência dizia, ao ser interrogado por seu pai, quando perguntava se não se arrependia do que tinha feito: "Não, pai, faria de novo, e me orgulho do que fiz! Acho que ainda fiz pouco. Já às portas da morte receberá a visita do então Governador Dr. Parsifal Barroso. Este, como homem humilde que era, estando João com todo corpo envolto em ataduras e supurando a pele tostada, falou com voz pausada e mansa: "João, você me conhece?" e ele respondeu: "quem não conhece o senhor, Dr. Parsifal, obrigado pela visita!" Parsifal, então, comovido, retirou de seu braço a atadura úmida e beijou-lhe a mão. Em seguida, com os olhos em lágrimas, disse veementemente: "João o Povo do Ceará lhe agradece, venho em nome dele, e você não está só, caro amigo!"

Em suave resignação, João foi aos poucos perdendo os sentidos e veio a falecer no dia 11 de agosto de 1959, sendo reverenciado por todos os Cearenses, tendo sempre ao seu lado seus pais e irmãos. Conscientes, eles dizem que João não morreu, tornou-se um herói e um mártir.

Dia do Estudante: 11 de Agosto

Homenagem aos Heróis do Incêndio da Casa de Saúde César Cals - 04 de agosto de 1959.

MENSAGEM DO COMANDANTE DO CORPO DE BOMBEIROS - CEL BM FERNANDO CÉSAR SALES FURLANI.

Na tarde de 04 de agosto de 1959, Fortaleza, a "Loura desposada do Sol, dormitava à sombra dos Palmares", sentindo-se tranquila, pois com 05(cinco) boas viaturas adquiridas há pouco, e mais 08(oito) regulares, o Corpo de Bombeiros velava por sua segurança. A Casa de Saúde César Cals, desenvolvia seus meritórios afazeres de rotina, quando irrompeu o incêndio.

Mais de uma centena de doentes, parturientes e criancinhas, com a capacidade de locomoção prejudicada, foram postos em risco imediato de vida. Foi dado o alarme. Os Bombeiros foram chamados. Foi dada a ordem de evacuação. Muitos voluntários ajudaram, a maioria estudantes. O incêndio foi combatido com eficiência por homens bem equipados. Mas ao final foi a desolação. 04(Quatro) mortos, mais de 50(cinquenta) feridos, 20(vinte) hospitalizados com graves lesões, inclusive 02(dois) Bombeiros. Destruição de parte do prédio e material do hospital, com grandes prejuízos. 

 O Busto de João Nogueira na Praça da Lagoinha foi transferido e hoje se encontra em frente o Quartel do Corpo de Bombeiros.

A Cidade chorou!

Porém em meio às lágrimas de dor e à desolação da destruição, a alma da população levantou-se orgulhosa e sobranceira. Ficou satisfeita com seus filhos bravos, com sua juventude impetuosa, generosa e heroica.

A cidade alegrou-se!

Todos se curvaram junto ao leito de João Nogueira Jucá, estudante de 18(dezoito) anos, gravemente ferido nos exaustivos trabalhos de evacuação das vítimas do incêndio. O estudante como símbolo da Juventude Cearense, encarnou o ideal grandioso de solidariedade humana. Passava pela Praça da Lagoinha, sentiu a aflição dos enfermos, e com muitos companheiros, trabalhou com afinco em arrancá-los das garras pavorosas do fogo.

A cidade emocionou-se de gratidão.

Busto do estudante na Praça da Lagoinha

Mas João Nogueira Jucá, não morreu no dia do estudante, 11 de agosto. Entrou na imortalidade como um símbolo do estudante Cearense. Foi imortalizado no bronze e foi imortalizado nos nossos corações. O Corpo de Bombeiros que o viu incorporar-se voluntariamente à Guarnição de combate ao Incêndio do hospital, faz questão de contá-lo em suas fileiras.

João você é Bombeiro; você é a letra viva do nosso hino: "Voluntário da morte na paz, é na guerra indomável leão". Você é uma ponte firme a unir o Estudante ao bombeiro. Que o seu exemplo fogoso de abnegação, incendeie o ideal do estudante, que o Bombeiro só fez atiçar.



Curiosidade: O pai de João, após o incidente, foi abatido por uma tristeza que manteve até a morte, em 1968. A mãe morreu em 1985.


Fonte: Portal militar, Jornal O Povo,Câmara Municipal de Fortaleza, Suaveolens

sábado, 31 de outubro de 2009

Coração de Fortaleza - Praça do Ferreira


Praça do Ferreira - Anos 30


Foto de 1929 - Construção do Hotel Excelsior

A Praça do Ferreira, desde priscas eras sempre foi local de atração dos fortalezenses. Cedo aprendemos a admirá-la como local de encontro por ser centro nervoso do comércio retalhista, onde todos circulavam naquele quadrilátero para fazer compras, admirando antigas edificações quase sem prédios suntuosos, guardando memórias de antigos casarões, de muitas histórias.
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"Neste século vinte e um,
A praça ostenta beleza.
Por ser a mais freqüentada
Elege-se com certeza,
Como a rainha das praças,
Coração de Fortaleza"

Trecho de Cordel do
Rouxinol do Rinaré (Antonio Carlos da Silva)
Coluna da Hora

Desde o final do século XIX, a Praça do Ferreira é a praça mais conhecida e freqüentada da cidade, sendo considerada por muitos como o coração de Fortaleza tendo sido palco de importantes episódios da história da cidade. Por mais de um século, seus bares, cinemas, os antigos cafés ou seus bancos foram ponto de encontro do povo cearense. Por ela passaram os mais ilustres personagens da história de Fortaleza, como Quintino Cunha, o próprio Boticário Ferreira, os membros da Padaria Espiritual, entre muitos outros.

Nela, ocorreram vários episódios hilariantes, como...

... o inflamado discurso do Prof. Eduardo Mota, que incitava o povo à revolta e ao vandalismo, dizendo que nada devia-se temer, mas quando a polícia chegou mudou logo o discurso, dizendo: "..sim, mas dentro da ordem e do direito, respeitando as autoridades constituídas"...

... os momentos de celebridade do bode Ioiô...


... Os encontros do "Batalhão de Potoqueiros de Fortaleza", iniciados em 1904 pelos jovens Álvaro Wayne, Antônio Dias Martins, Henrique Cals, Porfírio da Costa Ribeiro, José Raimundo da Costa entre outros. Os encontros aconteciam sob o "Cajueiro da potoca" ou "Cajueiro da mentira", e tradicionalmente no dia 1º de abril era eleito o Potoqueiro do Ano. A votação tinha mesa, urna e ocorria debaixo do próprio cajueiro. Os encontros duraram por muitos anos, até que o cajueiro foi derrubado, em 1920, na gestão do Prefeito Godofredo Maciel...

Palacete Ceará

A Praça do Ferreira é rodeada ainda hoje, por várias construções que marcaram época em Fortaleza, como o Palacete Ceará, a Farmácia Oswaldo Cruz, a lanchonete Leão do Sul, o Cine São Luiz, o Edifício Sudamérica, e os hotéis Savanah e Excelsior Hotel (primeiro grande hotel de Fortaleza, construído onde ficava o famoso Café Riche).


Farmácia Osvaldo Cruz é um dos mais tradicionais estabelecimentos comerciais de Fortaleza.
Foi fundado em meados de 1934 e foi a primeira farmácia de manipulação da cidade. Sua arquitetura foi mantida e os móveis na sua maioria são antigos, dentre os quais alguns são originais.

Até meados do século XIX, a Praça do Ferreira era só um areial. Um areial com uma cacimbão no centro, algumas mongubeiras, pés de castanhola. Nos cantos do terreno, marcos de pedra para amarrar jumentos dos cargueiros ambulantes que vinham do interior. Nesse tempo, o areial era chamado de "Feira Nova" por abrigar uma feira movimentada.

Em 6 de dezembro de 1842, uma lei da Câmara Estadual autorizou a reforma do plano da cidade de Fortaleza. As alterações incluíam a eliminação da Rua do Cotovelo para a construção de uma praça, que deveria chamar-se Dom Pedro II. A Praça Dom Pedro II foi então construída por Antônio Rodrigues Ferreira (Boticário Ferreira), então presidente da Câmara.

Antônio Rodrigues Ferreira instalou uma botica na Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo. Sua botica, conhecida "Botica do Ferreira", ficou bastante conhecida, chegando a ser ponto de referencia e ponto de encontro na praça. O Ferreira e sua botica tornaram-se tão célebres, que por volta de 1871, a praça passou a ser chamada de "Praça do Ferreira".


Em 1886, quando a praça ainda era um Areial com um cacimbão no meio, foi construído o primeiro café-quiosque da praça: Café Java. Depois chegara os outros três: Iracema, Café do Comércio e Café Elegante - um em cada canto da Praça.

Café do Comércio


Café Elegante

Café Iracema



Em 1902, o intendente Guilherme Rocha mandou fechar o cacimbão e em seu lugar, fez um jardim, o "Jardim 7 de Setembro". Em 1920 o prefeito Godofredo Maciel ladrilhou o areial, demoliu os quatro cafés, e derrubou o famoso "Cajueiro da Potoca" - onde se fazia anualmente a eleição do maior mentiroso de Fortaleza. O mesmo Godofredo Maciel, em 1925 construiu um coreto no centro da praça.

Em 1932, o prefeito Raimundo Girão iniciou uma pequena reforma. Ordenou a demolição do coreto para a construção de uma Coluna da Hora, com 13m de altura e quatro relógios votados para cada lado da praça, colocou novos bandos na praça e a ornamentou com vários canteiros e pés de ficus.

Em 1968 a praça foi radicalmente modificada. A coluna da hora foi demolida e em seu lugar foi construído um Abrigo Central, que não durou muito tempo. Apesar do grande fluxo de pessoas que proporcionava, logo virou reduto de desocupados.

Finalmente, por volta de 1991, durante a administração de Juraci Magalhães, a praça adquiriu sua configuração atual: em um projeto contemporâneo, os arquitetos Fausto Nilo, Delberg Ponce e León tentaram recompor simbolicamente cada época da Praça do Início do século. Hoje, a praça possui uma versão moderna da antiga coluna da hora, quiosques em cada canto da praça, um pequeno cajueiro, no mesmo lugar onde existiu o Cajueiro da Potoca e até o cacimbão foi reaberto, ao lado da coluna da hora.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Praça Caio Prado - A Praça da Sé


A praça em 1913. Acervo Nilson Cruz

Praça Caio Prado - Postal de 1915

A primeira das praças





Desde a primeira vez que se desenhou uma planta da antiga Vila de Fortaleza, já aparecia o espaço livre em frente à Igreja de São José. Desta forma aquele areal foi o primeiro espaço público que depois viria a se transformar numa praça.

Catedral antiga que foi demolida em 1938 bem em frente à praça

Hoje a Praça da Sé é tomada diariamente por vendedores ambulantes da área de confecções. Poucas árvores debelam o sol causticante que banha a cidade. A praça tem uma estátua do imperador Dom Pedro II e no local que estava o Fórum Clóvis Beviláqua foi colocada uma fonte metálica em forma de cones que nunca funcionou.


Cartão Postal, circulado em 1917 - Monumento a D. Pedro II na 
Praça Caio Prado

Em volta desta recente intervenção o mato está alto depois das chuvas que caíram este ano. O espelho d´água está com água suja e pode servir de foco de reprodução de insetos. O aspecto é desagradável, mas os comerciantes em volta parecem não se incomodar com aquilo.


Antiga Sé (Catedral) de Fortaleza no dia 11/09/1938 foi rezada a última missa e em seguida ela foi demolida. 

A Praça da Sé está localizada em frente à Catedral Metropolitana de Fortaleza, que substitui a antiga Sé, demolida em 1938 para a construção da nova igreja, concluída apenas em 1972. A nova catedral é a sede da Paróquia de São José e a igreja foi projetada por George Henri Mounier. As torres da atual catedral têm 75 metros de altura, impondo-se majestosamente sobre o Centro da cidade. Por segurança, a igreja está cercada por grades de ferro.

O padre Serafim Leite descreveu a praça em 1726 na planta da Vila de Fortaleza desenhada pelo capitão-mor Manuel Francês, que enviou o documento para Lisboa naquele mesmo ano. Vale lembrar que à época o Brasil era colônia de Portugal.

Antiga Sé vista da Praça Caio Prado

Ainda naquele século XVIII o logradouro era conhecido como a Praça do Conselho. O ano era 1726 e ali estava instalada a Casa da Câmara do Pelourinho. A forca usada para os condenados no Brasil colonial ficava em frente à Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Aquele era o coração administrativo da vila que viria a se tornar capital do Ceará.

Passam-se os anos e em 1854 vai ter início a construção da primeira Sé. Em estilo colonial ela tinha um cruzeiro com o Cristo e as ferramentas do flagelo.


Monumento a D. Pedro II em foto de 1925 - Arquivo Nirez

No século XIX, mais precisamente em 1854 a antiga Praça do Conselho passa a chamar-se Praça do Largo da Matriz. Em 1861, o novo nome será Praça da Sé, depois que a igreja matriz passou a ser a Sé cearense. A denominação vai durar por todo o Império. Em 1889 a denominação passa a ser Praça Caio Prado, em homenagem a Antonio da Silva Prado. Esse paulista foi presidente do Ceará nos anos de 1888 e 1889 e morreu no exercício do cargo, recebendo a honraria depois do falecimento.



A Praça da Sé se localiza entre as ruas General Bezerril, Doutor João Moreira, Castro e Silva, Rufino de Alencar, General Bezerril e Alberto Nepomuceno. Como rua eixo da cidade, na esquina da rua Castro e Silva com Alberto Nepomuceno a rua passa chamar-se Conde D´Eu, o príncipe consorte da princesa Isabel.

Entre os anos 1889 e 1890, por seis meses a Praça Caio Prado volta a chamar-se da Sé, retornando a Caio Prado. Em 1903 uma nova troca de nome, o presidente do Ceará homenageado agora será Pedro Borges. Ele era médico do exército, foi senador da república, deputado federal e presidente do Ceará de 1900 a 1904. A denominação oficial vai durar até 1932, quando volta a ser Praça da Sé, o que permanece até hoje.


Efígie da imperatriz D. Teresa Cristina

A Praça da Sé tem uma imponente estátua de Dom Pedro II, vestindo o uniforme de gala dos oficiais da Marinha, o imperador traz uma espada à esquerda. A estátua foi uma criação do artista Auguste Maillard, e ela foi fundida em bronze, em Paris, por H. Gonot. O monumento com pedestal medem 4,80m. Na base da estátua existem duas placas de bronze com altos-relevos representando dois momentos históricos. Na primeira face, está a reprodução da assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel. Na segunda, uma cena de batalha do Campo Grande, acontecida no dia 16 de abril de 1869. O quilombo de Campo Grande é considerado pelos historiadores, maior que o de Palmares, e os negros resistiram bravamente aos ataques das forças imperiais.

A estátua de D. Pedro II, preparada no ano anterior, foi inaugurada em 1913, por iniciativa da Associação dos Jornalistas Cearenses. Na parte posterior do pedestal da estátua havia a efígie da imperatriz, Dona Tereza Cristina e uma placa. Ambas desapareceram. Não há informações sobre onde as placas foram parar. Tereza Cristina era princesa italiana e contam historiadores que ela ficou tão transtornada com o exílio após a proclamação da república, que morreu poucos dias depois de chegar a Paris.


A estátua de D. Pedro necessita de limpeza urgente e o pedestal foi pichado pelos vândalos de plantão. Os borrões mancham o escudo imperial sob D. Pedro e o texto em baixo-relevo informando os dados históricos do monumento.


Na Praça da Sé há ainda três bancas de revistas e no local, turistas fotografam a catedral e o monumento, apesar das condições. O patrimônio precisa de cuidados urgentes.



Fonte: Diário do Nordeste e pesquisa de internet

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