Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



sexta-feira, 4 de junho de 2010

Seca e campos de concentração em Fortaleza



Uma realidade sub-humana, que fazia da morte uma rotina diária. E que fazia da fome e das epidemias...companheiras permanentes. Uma catástrofe provocada pela insensatez.

Campo de concentração

CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO NO CEARÁ

No Estado do Ceará
A exemplo do alemão
Houve por aqui também
Campo de concentração
Lá era pra matar judeu
Aqui o povo do sertão.

Na seca de trinta e dois
Criamos uns sete currais
Para evitar que famintos
Criassem problemas sociais
E pudessem invadir
Na capital seus mananciais.

Currais foram construídos
Em Senador Pompeu, Ipu,
Quixeramobim e Crato,
Fortaleza e Cariús.
Fortaleza teve dois
Otávio Bonfim, Pirambu.

Pessoas foram confinadas
Como bando de animais.
Tinha a cabeça raspada
Sacos de açúcar, jornais
Era o que lhes serviam
Como vestes mais usuais

Sem nome, ou identidade,
Chamados por numerais.
Desta maneira estavam
Registrados nos anais.
Só se comia farinha,
Rapadura nos currais.

Toda essa gente foi presa
Sem ter crime praticado
E para isto bastava
Somente estar esfomeado.
Pedir prato de comido
Que seria logo enjaulado.

E controlados por senhas,
Pelas forças policiais.
Quem entrava não saía,
Senão pros seus funerais.
Sessenta mil lá morreram.
Nos registros oficiais.

Para aqueles locais, todas
Pessoas foram atraídas.
Com promessas que seriam
por médicos assistidas,
Que teriam segurança
E fartura de comidas

Experiência que houve
Somente aqui no Ceará.
Que se iniciou em quinze
Naquela seca de torrar
Depois disso os alemães
Trataram de aperfeiçoar.

Alguns campos projetados
Para abrigar duas mil pessoas
Dezoito mil chegou alojar.
Presos por vilões e viloas,
Felizes os governantes
Ainda cantavam suas loas.

Em Ipu todos os dias
Morriam de sete a oito.
A maioria era de fome
E até por ser afoito,
Nas tentativas de fugas,
Pro que não havia acoito.

Nas décadas posteriores,
Pra mudar essa imagem,
governos criaram albergues
para evitar sacanagem,
mesmo assim pouco funcionou
pois sempre há malandragem.

E o povo nordestino
ainda de pires na mão,
espera de todos governos
pro problema solução.
Agora estamos na briga
pela tal transposição.

Ceará de Terra da Luz
É chamado no Brasil.
Foi nosso primeiro estado
Que escravatura aboliu
Pra isso não foi necessário
Nem mesmo usar um fuzil.

Mas a geração atual
Tem que redimir o erro
De governantes passados.
Não permitir o desterro
De seus filhos pra terra alheia
e muitos acham o enterro.


HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO
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Em 1915, uma seca severa fez com que os sertanejos se dirigissem para as grandes cidades, desta feita o Governo do Ceará, optou por criar o primeiro "campo de concentração, no Alagadiço, hoje Otávio Bonfim, ao oeste da cidade de Fortaleza, lá foram "abrigadas" mais de 8 mil almas a quem eram fornecidas alimentação sob a vigília constante de soldados. Mais uma vez (sim, essa infelizmente não foi a primeira e não seria a última seca que tivemos) foi estimulada a migração para a Amazônia e o campo (curral humano) foi desativado em novembro do mesmo ano.



Decididamente aqueles não seriam anos bons para os cearenses. Depois das duas guerras de 1912 e 1914, seu Jader e sua família iriam assistir em 1915 a pior seca de todos os tempos. Um pressentimento ruim tomava conta de todo mundo. Toda população dependia de alguma forma da agricultura e a agricultura dependia das chuvas. Os comerciantes ficavam sem ter para quem vender, além disso ainda estavam sujeitos a saques dos flagelados, ou o que era mais comum, acabavam tendo que dividir o pouco que tinham com parentes e agregados mais necessitados. O ambiente ficava pesado e só restava rezar, e rezar muito para que as chuvas aparecessem.

Só duas classes de gente lucrava (e ainda lucra) com as secas: os políticos porque receberiam mais verbas "para ajudar aos flagelados" e grandes donos de terras que aproveitavam para adquirir mais terras e o gado magro dos pobres retirantes.
O preço de tudo subia e o seu Jader já sentia no bolso como pesava cuidar da família, que em breve voltaria a aumentar.



Dona Dica passou a dar aulas na escola da cidade. Ela era professora formada pela antiga Escola Normal. Naquela época havia pouquíssimas professoras diplomadas. Era sempre uma honra para o Grupo Municipal ter uma professora formada dando aulas. Ao dar aulas D. Dica colocava mais algum dinheiro em casa.
O dia de São José já havia passado fazia duas semanas e nada de chuva. Em Fortaleza começavam a chegar os primeiros retirantes vindos do interior. As pessoas sem ter o que comer e o que beber vinham para a capital em busca de algum trabalho ou mesmo ajuda.



Dois meses depois começavam a chegar do escritório central da EFB em Fortaleza passagens de trem para serem distribuídas entre os retirantes.
A estação do seu Jader fervilhava de gente. As passagens só davam para uns poucos. A maioria acabava tendo que vir a pé para capital para não morrer de fome e sede.
O governo federal estava prestes a autorizar a retomada da construção da EFB para dar ocupação a uma parte dos retirantes.
A miséria campeava infrene e terrífica em toda extensão do território cearense, e não havia lar que não tivesse sido assaltado pelo abutre da fome, com as suas garras aduncas e afiadas. A cidade de lguatú, mais que as demais situadas a margem da via-férrea, regorgitava de famintos d'este e dos estados vizinhos acossados também pelo excepcional flagelo, reduzidos a penúria extrema - sem pão e sem abrigo.

"A miséria, consubstanciada nos trapos esquálidos e na cachexia profunda dos infelizes retirantes, emergia de todos os pontos da cidade. Era que em seu seio - praças, ruas e cercanias - achavam-se acantonadas cerca de 15.000 indigentes, todos a expensas exclusivamente da caridade particular já esgotada, aguardando, anciosos e com impaciência inquietadora de quem aspira com vehemência ver o término de seus sofrimentos, o início dos trabalhos do prolongamento da Estrada de Ferro de Baturité. A varíola, em virtude da grande aglomeração de emigrantes e falta absoluta de hygiene entre elles, não se fez esperar; manifestou-se ameaçadora em diversos abarracamentos, sendo, porém, logo debellada, graças ao emprego de medidas enérgicas tomadas por este districto, - mandando isolar os pestosos e desenvolver com actividade a vacinação." ( Relatório da Inspectoria Federal das Estradas em:Benedito Genésio Ferreira - A estrada de Ferro de Baturité: 1870-1930 – Ed. NUDOC/UFC, 1989)

"Muita gente morreu de fome e doença naquela seca. Não só nas várias cidades do interior, mas principalmente Fortaleza foi invadida por retirantes.
O quadro de angústias e misérias que se presenciavam na própria capital, ampliava-se e reproduzia-se em todo o interior do Estado, como se fosse um cinema ambulante, a exhibir em scenas successivas, as mesmas fitas macabras!"
( Relatório da Inspectoria Federal das Estradas em:Benedito Genésio Ferreira - A estrada de Ferro de Baturité: 1870-1930 – Ed. NUDOC/UFC, 1989)



O governo acuado desenvolveu alguns métodos para cuidar dos retirantes da seca. Um deles era mandá-los para a Amazônia onde havia prosperidade com a exploração da borracha. Neste ano estima-se que 30.000 retirantes migraram para a Amazônia.

"Cenas de desespero e impotência ante a prepotência governamental eram rotineiras no porto de Fortaleza. (...) Os comandantes dos navios onde viajavam os nordestinos (nos porões) da terceira classe, tinham ordem de proibir o embarque de doentes. (...) Inúmeras famílias foram desfeitas quando do embarque, pois ao ser detectado qualquer doente, o comandante mandava imediatamente desembarcá-lo. Assim muitas mães e pais foram separados a força dos filhos." (Vida e Morte no Sertão - Marco Antonio Villa - Ed. Ática, 2000).



O outro método para lidar com os retirantes foi a construção de campos de concentração. No romance O Quinze, da escritora cearense Raquel de Queiroz, é possível ler descrições detalhadas de um destes campos de concentração. A personagem principal do romance Conceição ajudava na distribuição de comida e roupas no campo. O romance chama-se O Quinze por tratar justamente da seca de 1915.

O povo cearense tem o hábito de rir da própria desgraça. Em Fortaleza, um bode trazido pelos retirantes desta seca virou personagem histórico porque vivia passeando sozinho pelas ruas como se fosse mais um habitante da cidade. Era muito conhecido das crianças da época. Seu nome era bode "ioiô". Ao morrer o bode foi empalhado e pode ser visto no Museu Histórico do Ceará.



Bode Ioiô - Encontra-se hoje no Museu do Ceará

Um amplo programa de criação de campos de concentração, em que os retirantes fossem induzidos a entrar e proibidos de sair, foi implementado com total apoio da Interventoria Federal no Ceará. A fim de prevenir a "afluência tumultuária" de retirantes famintos a Fortaleza, cinco campos localizavam-se nas proximidades das principais vias de acesso à capital, atraindo os agricultores que perdiam suas colheitas e se viam à mercê da caridade pública ou privada. Dois campos menores situavam-se em locais estratégicos de Fortaleza, conectados às estações de trem que traziam os famintos, impedindo que eles circulassem livremente pelos espaços da capital. Uma vez dentro do campo, o retirante era obrigado não só a permanecer nele durante todo o período considerado de seca, mas deveria submeter-se a condições de moradia, relacionamento, trabalho e comportamento regulados pelas normas irredutíveis ditadas pelos dirigentes indicados pelo interventor – prefeitos nomeados e engenheiros do IFOCS. Os campos, portanto, pretendiam impedir a mobilidade física e política dos retirantes através da concessão de rações diárias e de assistência médica. O controle dessa imensa população – o maior campo, na cidade do Crato, chegou a abrigar quase 60 mil pessoas – representou um gigantesco esforço de organização, que tinha seu contraponto nas ações violentas das multidões de retirantes que ameaçavam tomar em suas mãos a resolução de suas aflições.

Ao mesmo tempo, novos campos de concentração foram organizados na capital, procurando evitar o trânsito indesejado dos retirantes pelas ruas da cidade. Em outubro, os campos foram unificados no campo do Alagadiço, sob a direção das irmãs Marianas, do Dispensário dos Pobres. Uma comissão de senhoras, liderada pela sr.ª Anita Gentil Barbosa, administrava os serviços, procurando oferecer socorro para as crianças, vestuário e assistência hospitalar, tendo conseguido um "generoso auxílio do comércio" e prometendo prestar contas do dinheiro arrecadado, "uma vez findos os seus trabalhos". O campo, também chamado de "albergue", no entanto, não era "rigorosamente o que desejavam realizar as autoridades do Ministério do Trabalho", com dois mil retirantes se amontoando "sob a sombra de árvores frondosas, encontrando-se, por conseguinte, expostos á chuva", em condições higiênicas precárias.



Os campos de concentração no Ceará — ou mais conhecidos como os currais do governo — foram locais de apoio e alojamento para as vítimas das secas de 1915 e 1932.
Os períodos de estiagem que fazem parte do clima do Nordeste brasileiro despertaram (e despertam) a atenção dos governantes desde a época do Império de D. Pedro II. E, por sua vez, estes reagiram com planos e projetos nas áreas de engenharia, social e política, tentando assim amenizar as conseqüências das secas tanto para as populações diretamente afetadas (os flagelados), bem como as classes políticas locais.

A criação do Instituto de Obras Contra as Secas (IOCS), atual Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), em 1909 por Nilo Peçanha é uma das respostas governamentais ao fenômeno da seca.

Os campos de concentração no Ceará ou os "currais do governo", foram reações governamentais executadas nas secas de 1915 e 1932 no estado do Ceará.

No campo de concentração do Alagadiço, estima-se um ajuntamento de 8 mil pessoas, cuidadas com alguma comida e sob a vigília de soldados. A razão para o uso desta estratégia foi os temores de invasões e saques dos flagelados da seca em Fortaleza — isso já acontecera na seca de 1877, quando sertanejos famintos invadiram a capital cearense, atemorizando a população urbana. Esse campo foi desfeito e as vítimas foram dispersadas em 18 de dezembro do mesmo ano. Durante essa seca, muitos cearenses também migraram para a Amazônia.


Retirantes da seca de 1915 na Ponte Metálica de Fortaleza aguardando embarque.

Acervo Nilson Cruz



Campos de concentração foram restritos ao Ceará

Os registros mais confiáveis sobre os "currais do governo", como os confinamentos eram denominados pelos flagelados, são encontrados no livro 'Campos de concentração no Ceará' (Edição Outras Histórias / Museu do Ceará, 2000, 120 páginas), de Kênia Rios. Segundo a autora, não existem referências de que a experiência tenha sido repetida em outros estados. O primeiro campo, conforme Rios, surgiu em 1915, instalado no bairro alagadiço. Mais tarde, na seca de 1932, os campos foram ressuscitados como política do governo federal.

"Do ponto de vista oficial, os campos aparecem como medida de assistência aos flagelados que não tinham trabalho nas frentes de serviço", diz a autora. Mas a realidade, segundo ela, era outra. "Os famintos eram atraídos com a promessa de comida, assistência médica e segurança. Lá não encontravam a estrutura prometida e não podiam sair do campo, sendo mantidos presos. Tudo para evitar que Fortaleza fosse invadida por famintos", comenta Rios.



A capital foi a única cidade a receber dois 'currais', um no Otávio Bonfim e outro no Pirambu, este conhecido como Campo do Urubu. O maior campo do Estado estava instalado em Buriti, distrito do Crato. 'Pelos registros oficiais, passaram por lá 65 mil pessoas em 1932', informa. Ela diz que alguns campos, projetados para receber duas mil pessoas, chegavam a manter até 18 mil flagelados de uma só vez. A fome e a insalubridade dos campos levaram, inevitavelmente, a milhares de mortes. "Os livros de óbitos das igrejas mostram que 90% das mortes registradas naquele período aconteciam nos campos de concentração."

No 'curral' de Ipu, segundo Rios, a média era de sete a oito mortes por dia. Depois de 1932, a experiência dos campos foi abandonada no Ceará. "Houve muita polêmica em torno desta experiência. Também tinha o estigma dos campos de concentração nazistas. Por isso, nos anos 40, 50 e 60, o governo adotou outra prática, criando abrigos que foram batizados de albergues, onde os flagelados tinham mais apoio e liberdade."

Délio Rocha
Repórter

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A segregação dos miseráveis era lei, mas chegou um momento em que o flagelo em massa era tão chocante, com uma média de 150 mortes diárias, que o governo do Estado ordenou, em 18 de dezembro de 1915, como contam os arquivos dos jornais da época, a dispersão dos flagelados, ou “molambudos”, como eram também conhecidos.

Segundo o historiador Marco Antônio Villa, autor de Vida e Morte no Sertão, durante a seca de 1915 teriam morrido pelo menos 100 mil nordestinos. Outros 250 mil migrantes para escapar da “velha do chapelão” – como a fome era conhecida no imaginário do semi-árido.

O medo das autoridades diante dos flagelados da seca tinha um antecedente. Em 1877, uma leva de cerca de 110 mil famintos saiu dos sertões e tomou as ruas de Fortaleza, assombrando os moradores que viviam a ilusão, importada de Paris, de urbanismo e civilidade. No livro A Fome, o mais consistente relato sobre o cenário de 1877 nas ruas da capital, o cientista e escritor Rodolfo Teófilo assim descreveu o que viu: “A peste e a fome matam mais de 400 por dia! O que te afirmo é que, durante o tempo em que estive parado em uma esquina, vi passar 20 cadáveres: e como seguem para a vala! Faz horror! Os que têm rede, vão nela, suja, rota, como se acha; os que não têm, são amarrados de pés e mãos em um comprido pau e assim são levados para a sepultura. E as crianças que morrem nos abarracamentos, como são conduzidas! Pela manhã os encarregados de sepultá-las vão recolhendo-as em um grande saco; e, ensacados os cadáveres, é atado aquele sudário de grossa estopa a um pau e conduzido para a sepultura”.


Memórias do horror

O ano da graça de 1915, relatado na ficção de Rachel de Queiroz, sertaneja da fazenda Não me Deixes, no município de Quixadá (CE), seria apenas o ensaio da segregação estatal dos miseráveis. Em 1932 é que o modelo de isolamento iria vingar para valer. Na “seca de quinze” – como era chamada a estiagem – ainda não existia sequer a famosa “indústria da seca”, como se convencionou chamar a ajuda do poder federal às oligarquias nordestinas – diante das ameaças de saques e violência das legiões de famintos, os grandes proprietários de terra sempre chantagearam o governo federal, principalmente a partir dos anos de 1930, alocando recursos para a região que na maioria das vezes acabavam se revertendo em benefícios das próprias elites.


“De longe eu sentia o cheiro de podridão, chegava a tapar as ventas. Era tão forte o fedor que é como se eu o sentisse hoje, mesmo eu estando com a memória fraquinha, fraquinha”, diz Manuel Conceição Rodrigues de Sá, 87 anos, um rapaz de 15 anos durante a seca braba de 1932. Hoje, ele mora no subúrbio de Juazeiro do Norte, no Ceará, terra do Padre Cícero, personagem que já era celebrado como santo naquele tempo, pelas levas de famintos que buscavam por sua bênção. Manuel morava, então, no município de Serra Talhada, em Pernambuco. Trabalhava como tropeiro – tocava burros com carregamento de cachaça dos engenhos da região do Cariri, no sul do Ceará, para municípios de Pernambuco e da Paraíba. “Era num sítio ali perto do Crato, só vi uma vez de perto o campo de concentração, nunca mais tive coragem de passar junto. Pense num desmantelo! Gente apodrecendo de verdade, pareciam uns urubus quando o governo mandava comida”, afirma o ex-mascate.

O cearense do Cariri Miguel Arraes de Alencar, nascido em dezembro de 1917, na cidade do Araripe, governador de Pernambuco por três mandatos, guarda também lembranças do campo de concentração do Crato, onde morou sua família. “A seca braba de 32 é muito forte em minha memória. Um dia, quando ia estudar, me deparei com três homens presos. Eram flagelados do curral da concentração. Foram presos como desordeiros, só porque ficaram revoltados com as injustiças na distribuição de comida por lá”, afirmou Arraes em 2002. “É uma lembrança que guardo para sempre, as histórias vindas de lá eram um horror danado.”



Antiga vila operária construída em 1919 em Senador Pompeu, para a construção de um açude  foram utilizados depois como campo de concentração.
Pelo campo de concentração do Crato passaram cerca de 65 mil pessoas durante aquela estiagem. Ali, o governo prometia comida, água, assistência médica e oferta de trabalho. Pouco disso, no entanto, acontecia. Não havia água tratada, nem comida para todos e muita gente morria de fome ou doença e era sepultada ali mesmo. O campo se tornou um foco de tudo o que é infecção. Em alguns dias, o número de mortes de famintos alcançava a marca de 200. Há registros de pelo menos outros cinco currais no estado do Ceará, localizados em Quixeramobim, Senador Pompeu, Cariús, Ipu, Quixadá e o último nos arredores de Fortaleza, como derradeira tentativa de evitar que os famintos convivessem com a população da capital.



Os 12 casarões da antiga vila -erguidos em 1919 para abrigar operários e engenheiros ingleses que trabalhavam na construção de um açude na região foram depois utilizados como sede do campo de concentração.

“Eram locais para onde grande parte dos retirantes foi recolhida a fim de receber do governo comida e assistência médica. Dali não podia sair sem autorização dos inspetores do campo. Havia guardas vigiando constantemente o movimento dois concentrados. Ali ficavam retidos milhões de retirantes a morrer de fome e doenças”, diz a historiadora Kênia Rios, da PUC-SP. As estatísticas oficiais, que não conseguiam abarcar todos os alistados nos “currais”, dão conta de 73.918 “molambudos” nas seis áreas de confinamento – 6.507 em Ipu; 1.800 em Fortaleza; 4.542 em Quixeramobim  16.221 em Senado Pompeu; 28.648 em Cariús e 16.200 no Crato, conforme uma das melhores fontes sobre o assunto, o livro Campos de Concentração no CearáIsolamento e Poder na Seca de 1932, de Kênia Rios.

Um sobrevivente da segregação é Antônio Siqueira da Silva, de 90 anos, que tinha 18 anos quando foi “jogado” com a família – pai, mãe e mais 12 irmãos – no “curral dos flagelados” do Crato. A família havia mudado do município de Quebrangulo, terra do escritor Graciliano Ramos, para Juazeiro do Norte, cidade hoje emendada ao Crato, em 1930. “A gente veio por causa dos milagres do meu padim Ciço. Só se falava nas obras do “meu padim” por esse mundão todo afora. Ai meu pai pegou a penca de menino, botou em cima dos burros, e chegamos aqui em Juazeiro, pois lá nas Alagoas não tinha mais como viver que preste”, diz Silva, em depoimento para o projeto Nova Geografia da Fome, do Centro Cultural Banco do Nordeste. “Chegando aqui o meu padim nos botou lá no sítio do beato Zé Lourenço, onde tinha muita fartura. O mundo todo sem nada para comer e o beato lá dando de comer a todo mundo, até irrigação já tinha.”

Ruínas de casarões que na seca de 1932 foi transformado em campo de concentração de flagelados para que não invadissem Fortaleza, muitos morreram de fome e com cólera.

Seguidor do padre Cícero, Lourenço (1872 – 1946), nascido na Paraíba, chegou a abrigar cerca de mil pessoas no começo dos anos de 1930. Conhecida como o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, a comunidade foi destruída e bombardeada – a primeira vez que as Forças Armadas usaram aviões para um massacre no Brasil – em 1937, por ordem do ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra, durante o governo de Getúlio Vargas. O poder central, insuflado pelas autoridades cearenses, temia que o beato pudesse transformar o seu vilarejo em mais um Canudos, episódio que ainda assombrava os militares. No massacre, teriam morrido cerca de 700 pessoas. Lourenço escapou, fugindo pela Chapada do Araripe. Doente, morreria nove anos depois, em Exu (PE), município nas cercanias do Crato.

“O sítio do beato foi ficando cheio de gente demais, ai meu pai achou melhor a gente escapar da fome lá no “curral dos flagelados”, pois o governo prometia muita esmola por lá”, diz o sobrevivente do campo de concentração Antônio da Silva. “Mas quem disse que as esmolas chegavam? Lá perdi foi seis irmãos, de fome braba. Eu mesmo só escapei porque fugi com o resto, de madrugada, ainda lembro como se fosse hoje. Era uma catinga tão feroz, meu filho, que nem dava pra dormir direito. E os urubus em cima, querendo arrancar as tripas dos falecidos.”


Casarões de Senador Pompeu


A história das secas que castigam a população do Nordeste desde pelo menos 1877, deixou um rastro de tragédias e mortes assombroso. Nunca foi feito um levantamento a respeito dos números de nordestinos que perderam as vidas por causa da fome nestes períodos. Os levantamentos parciais, no entanto, são assustadores. Somente entre 1877 e 1913, portanto ainda sem os números da seca de 1915, o governo federal, por intermédio do IOCS estimava que 2 milhões de pessoas haviam morrido em consequência da miséria nas estiagens. Pouco mais de 100 anos depois, a equipe do livro Genocídio do Nordeste (organizado pela Comissão Pastoral da Terra e o Ibase, entre outras organizações) repetiu o desafio de contar as vítimas da seca e chegou ao número de 3,5 milhões de mortos somente no período entre os anos de 1979 e 1984.

O campo de concentração no Alagadiço, ao oeste de Fortaleza foi desfeito e as vítimas foram dispersadas em 18 de dezembro de 1915. Durante essa seca, muitos cearenses também migraram para a Amazônia.

Seca de 1932

Em 1932, nova seca assola o Ceará e novamente o movimento dos sertanejos se faz em direção às grandes cidades atendidas pela via férrea. Desta feita o governo instala novos campos de concentração, cercados por arames farpados e vigiados por soldados em:
Senador Pompeu, Ipu, Quixeramobim, Cariús, Crato ( Buriti, por donde passaram 65.000 pessoas ) além do já conhecido campo do Alagadiço(Otávio Bonfim) e o novo campo a noroeste da capital, o Pirambu, mais conhecido como o Campo do Urubu.
Campos projetados para abrigar 2000 pessoas, chegaram a manter 18.000 flagelados. As condições de higiene inexistiam, as pessoas viviam em verdadeiros currais.
Ao chegar tinham suas cabeças raspadas e era obrigadas a usar um uniforme feito de sacas de açúcar, confeccionado por eles mesmos.
A cabeça raspada impedia a proliferação de piolhos, no entanto, as péssimas condições de higiene, alimentação precária e um surto de cólera, dizimaram milhares de sertanejos presos nesses campos de concentração tupiniquins.
"A seca de 1932 foi uma das maiores da história do Ceará. Fome e doenças como cólera, febre amarela e varíola marcaram aquele povo sofrido pela sede e fome. Senador Pompeu foi uma das cidades que abrigou um dos sete campos de concentração, criados pelo governo da época para deter a vinda de retirantes à Fortaleza."


Notícia sobre o Campo de Concentração dos Flagelados, publicada no Jornal 
O POVO, em 16/04/1932


Crianças num Campo de Concentração da seca de 1932, com distrofia farinácea. 
Com a escassez de alimentos, a saída era matar a fome com um pirão feito apenas de farinha, água e sal, que em excesso, causava edema na barriga. E nos meninos, até no saco escrotal. Muitos não podiam mais andar pelo inchaço e pela desnutrição e viravam presa fácil para as epidemias. Livro da comissão Federal que visitou os campos de concentração do Ceará na seca de 1932 - Acervo: Dnocs. Fotografia do livro feita por Valdecy Alves.

História real de quem ficou detido no Campo de Concentração do Pirambu:


"Amigo Leitor,

É impressionante como o tempo passa e tem fatos da vida da gente, que não conseguimos esquecer facilmente. Parece até ferrugem encardindo a alma, mofo sufocando o ar.

Lembro como se fosse hoje, o sol no céu tinindo como brasa, ferindo a terra desnuda, efervescendo as angústias e diluindo os sonhos de sertanejos vermelhos por fagulhas incandescentes. O ano era 1932, nunca um inverno foi tão esperado. Sabíamos que se não chovesse a vida se complicaria ainda mais.

Em janeiro de 1932, o desespero começou a comer os ânimos de muitos dos meus amigos, que partiram tristemente em rumo a Fortaleza. A maior parte deles foi tragada pela placidez luminosa dos dias queimosos. Desaparecendo para sempre.

Assim como outros, resolvi aguardar até o dia 19 de março, rogando insistentemente para São José fazer a chuva chover. Mas, tudo foi em vão, em vez da fartura proveniente de um glorioso inverno, tivemos de enfrentar o abraço entristecedor de uma grande seca.

No final do mês de março, levas de retirantes enchiam de dor e saudade as estradas do Sertão. Das mais longes paragens saíam homens e mulheres arrastando filhos e seus poucos pertences a caminho da Capital. Muitos se juntavam, formando bandos de flagelados, que andavam longos trechos a pé, a procura de uma estação de trem.

As estradas de poeira findavam, portanto, quando encontrávamos as estações ferroviárias. De lá saíam uma quantidade impressionante de sertanejos sedentos de fome e de esperança. A partir de abril, o número de flagelados que se dirigiam a Capital, aumentou consideravelmente.

O Governo durante alguns meses suspendeu a distribuição das passagens de trens para Fortaleza. Porém, nos meses iniciais, essa medida não foi suficiente para deter a vinda dos meus amigos. Muitos dos quais, invadiram locomotivas e chegaram ao destino tão desejado: “a cidade grande”.

A vinda para Fortaleza representava para nós, o sonho de uma vida melhor. Acreditávamos ser a terra de Iracema, a nossa Canaã perdida. Um lugar onde teríamos emprego, moradia e comida. Mas, ao contrário disso, o nosso sofrimento só estava começando. Não sabíamos que o pior ainda viria...

Coincidentemente com a seca de 1932, Fortaleza vivenciava um intenso processo de urbanização e embelezamento. O progresso se materializava na construção de prédios modernos, nas ruas alinhadas e na valorização do turismo local. No entanto, a cidade que queria ser moderna e civilizada estava sendo ocupada por um indesejado fluxo de flagelados, que traziam incrustados em seus olhares e gestos a sombra amarga da pobreza. Homens, mulheres, velhos e crianças eram obrigados a pedir esmolas para sobreviver. Em cada um deles, denunciavam-se a todo instante a situação calamitosa que se achava o Sertão.

A urbe alencarina, pouco a pouco se transformava num palco de miséria e tristeza, que contrastava com os interesses de uma burguesia voraz de progresso. Pressionado pela elite e pelos jornais de Fortaleza, que criavam a imagem de um retirante ameaçador, capaz de cometer saques e revoltas com proporções incalculáveis na cidade, (o que de fato era uma grande mentira, pois a gente só queria um lugar digno pra viver em paz); fez com que o Estado tomasse uma medida drástica, a qual marcou para sempre a minha vida e a de muitos.

Para barrar a marcha dos retirantes para a Capital, o Estado pôs em vigor o projeto de construção de Campos de Concentração. Ao todo foram erguidas sete concentrações, localizadas nas cidades de Ipu, Quixeramobim, Senador Pompeu, São Mateus, Crato e duas em Fortaleza. A princípio, esses locais seriam espaços destinados a atender aos flagelados da seca, disponibilizando comida e assistência médica para todos. Mas, na prática tudo era uma verdadeira farsa. Dali não podíamos sair sem a autorização dos inspetores do campo e havia guardas nos vigiando constantemente. Aqueles que tentavam fugir eram enquadrados na lei como marginais.

Em nome dos parâmetros de civilidade e modernidade, o Governo tinha conseguido, finalmente, “enjaular a pobreza”. Milhares de retirantes ficaram presos e a morrer de fome e de doenças como, Varíola, Sarampo e Desnutrição. Para se ter uma ideia, cada concentração dessas tinha a capacidade de abrigar duas mil pessoas, mas chegavam a receber um número que variava de dezoito mil a sessenta e cinco mil flagelados. Morriam de oito a dez pessoas por dia. Tínhamos uma convivência muito íntima com a morte.

Os Campos de Concentração eram batizados por nós como “Os Currais do Governo”, nome bem oportuno para a própria situação que vivenciávamos. Mas, cada um tinha um apelido próprio. O meu, por exemplo, chamava-se Urubu. Ele corresponde hoje, o bairro do Pirambu.



Os Campos funcionavam como uma prisão. Os que lá chegavam não podiam mais sair, ou melhor, só tinham permissão para se deslocar quando eram convocados para o trabalho na construção de estradas, açudes ou obras de “melhoramento urbano” de Fortaleza, ou quando eram transferidos para outro Campo. Os concentrados eram transportados de caminhões e, a todo o momento, ficavam sob o atento olhar de vigilantes, que os seguiam feito cães ferozes.

Alguns desses guardas eram, inclusive, ex-concentrados, que devido ao “bom comportamento” ou outro motivo que desconheço, conseguia esta "promoção". Meu tio, o seu Muriçoca, o qual acho que você conheceu, pois era muito popular em Fortaleza, por ser o porteiro do Teatro José de Alencar; foi guarda do Campo de Concentração do Crato. Esperto como era, além de ter um carisma inconfundível, titio com sua magreza aguda conseguiu driblar as autoridades. Fugindo da seca, ele se alistou para lutar na Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo. Ao retornar para o Ceará, mais especificamente para o Crato, ele tratou logo de vestir sua elegante farda. Impressionado a todos, pois um homem fardado naquela época passava a ideia de respeito e autoridade. E, assim, conseguiu ser guarda em vez de concentrado. Que saudades dele! Que Nosso Senhor Jesus Cristo cuide bem de titio Muriçoca!

Apesar de todo sofrimento, a gente sempre dava um jeitinho de animar a vida, afinal, também, somos filhos de Deus. Quando todos terminavam seus serviços nas obras de construção de Fortaleza, nós nos reuníamos para cantar belas canções de amor, fazer desafios e repentes. A gente, ainda, tocava instrumentos e dançava, relembrando as noites felizes e enluaradas que vivemos no sertão, antes da seca chegar.

O nosso Campo, o Urubu, era o mais visitado de todos. Para lá se dirigiam jornalistas, padres e até turistas. Destes chegávamos a receber alguns trocados, que nos eram entregues com ares de piedade, disfarçada por certo fascínio, porque, éramos, na realidade, bichos enjaulados, servindo de atração e divertimento para os ricos.

Uma das coisas mais detestável dentro do Campo eram os serviços de vacinação. Toda aquela agulharada e parafernália médica eram tão assustador, que nos levavam a reagir de diferentes maneiras. Chegávamos, mesmo, a esconder as crianças debaixo das camas para que os médicos não as vissem. Preferíamos mil vezes, as meizinhas, as rezas e as beberragens de Dona Raimunda. Aquela sim, sabia cuidar dos nossos males. Muitas pessoas falavam que Dona Raimunda era uma santa enviada por Deus. Ela faleceu, e depois de vinte e quatro horas voltou a Terra por ordem divina e com poderes de curar ou predizer a morte de quem lhe consultar.

Confesso que também tinha medo da cozinha do Campo. Lembro que seu acesso era constituído por um grande corredor estreito, onde todos nós ficávamos comprimidos para receber a comida. Anos depois, conversando sobre isso com um amigo, Francisco Lima, ex-concentrado do Campo de Ipu, ele me falou que achava a cozinha parecida com o inferno. “Aqueles homens de avental de couro vermelho, mexendo os tachos, as comidas...Era um fogo danado, aqueles homens brigavam com os pobres que chegavam e tinha uma cerca para evitar a invasão...”

Hoje, amigo leitor, aos 85 anos de idade, posso dizer que já vivi e passei por muitas coisas nesta vida. Mas nenhuma delas me marcou tanto como a passagem pelo Campo de Concentração. Vejo que a miséria, a pobreza e o descaso daquela época só fizeram aumentar. Os pobres não têm direito algum nesta sociedade mandada por ricos. Continuamos vivendo em concentrações, agora conhecidas por favelas ou conjuntos habitacionais afastados da cidade.

Senti vontade de lhe escrever, porque quero que saibas através das minhas memórias, um pouco desta história do nosso Ceará, ainda tão desconhecida de muita gente."

*Personagem fictício criado para narrar à história real dos Campos de Concentração, tendo como base o livro “Campos de Concentração no Ceará – Isolamento e Poder na Seca de 1932”, da professora do Departamento de História da UFC, Kênia Sousa Rios
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Na seca de 1932 o nordeste brasileiro sofria com as consequências da estiagem, mas também vivia um momento histórico próprio dentro da era de Getúlio Vargas; Lampião e seu bando centralizavam as atenções dos políticos; as oligarquias políticas do Nordeste mudavam de nomes: Padre Cícero ainda tinha influência política e milagrosa para os sertanejos e a irmandade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto atraia centenas de flagelados para os arredores de Crato, no Ceará. Com o temor da intensa invasão de flagelados para Fortaleza e para outras grandes cidades do Ceará, a estratégia dos Currais do Governo MAIS UMA VEZ foi implantada, só que desta vez não somente em Fortaleza, mas também em cidades com alguma estrutura básica e com estações de trens. Além dos campos de concentração na capital, um no já conhecido Alagadiço e um outro no noroeste da capital, no Pirambu. Estima-se que cerca de 73.000 flagelados foram confinados nesses campos onde as condições eram desumanas, o que resultou em inúmeras mortes. Ainda durante essa seca, flagelados cearenses foram enviados para o combate nas trincheiras da Revolução de 1932 em São Paulo. A seca de 1932 foi uma das maiores da história do Ceará. Fome e doenças como cólera, febre amarela e varíola marcaram aquele povo sofrido pela sede e fome.

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localização dos sete campos de concentração no Ceará (clique para ampliar)


Mapa da localização dos campos de concentração de Matadouro e Urubu 
(clique para ampliar)

O fim dos campos de concentração

As chuvas do início de 1933 recompuseram os pastos e os sertanejos isolados passaram a reclamar o direito de voltar ao sertão. Em todo caso, a liberação dos retirantes não foi imediata, houve discussão a cerca da importância da manutenção das prisões, uma vez que a mão de obra que se fazia disponível se mostrava muito útil à manutenção das obras de melhoramento urbano de Fortaleza. Mas o fim da seca determinava também o fim do envio de verbas da União para socorro aos flagelados e, aos poucos, chegou-se ao consenso de que eles deviam ser libertados.
É interessante notar que, durante o processo de tomada de decisão acerca da liberação dos retirantes isolados, questionou-se o uso que seria dado à infraestrutura construída para os campos de concentração, como registra esta matéria do periódico Gazeta de Notícias, de 25 de Fevereiro de 1933:


"Perguntamos, então: Ficará o campo do Pirambu abandonado, sem outro aproveitamento agora em diante? Serão retirados os seus pavilhões, sua capelinha, seu posto de saúde? Achamos que não e, até é possível que o governo do estado já tenha em mente alguma coisa... a propósito...cremos que o campo de concentração do Pirambu auxiliaria a solução do sério problema da mendicância, que de muito vem sendo objeto de comentários e cogitações nesta capital... A mendicância precisa ser socorrida pelo poder público e este bem poderia transformar o antigo "curral do governo" num abrigo para os mendigos de toda sorte que andam pedinchano diariamente pelas ruas de fortaleza, pondo a nu o aspecto deprimente desse problema que ainda está por resolver."


Mas ao contrário do que sugeria a matéria do Gazeta de Notícias, os campos não serviram ao propósito de solucionar o problema da mendicância em Fortaleza. Muito pelo contrário, estudos sobre o processo de favelização de Fortaleza assinalam os anos de 1932 e 1933 como marcos na expansão da periferia de Fortaleza. Os retirantes que ficaram na capital após as chuvas de 1933 passaram de flagelados a favelados e fundaram, no entorno do que era antes o campo de concentração do Pirambu, a favela do Pirambu, a maior de Fortaleza ainda nos dias de hoje.


Curral Grande: Construção de um texto dramatúrgico abordando o isolamento de flagelados no Ceará durante a seca de 1932 - Marcos Barbosa de Albuquerque

Créditos: Todas as fontes já citadas, Wikipédia e diversas pesquisas na internet

Mapas históricos de Fortaleza

Mapa original de 1649 da planta baixa do Forte Schoonenborch, que deu origem à cidade.
Dois mapas históricos de Fortaleza foram descobertos no Arquivo Nacional dos Países Baixos. Um traz a planta baixa do forte de Schoonenborch, um desenho já conhecido dos pesquisadores daqui e reproduzido em vários livros e documentos. A novidade é vê-lo em seu desenho original, num mapa de 1649, ano de construção do forte. Além da planta da edificação, está traçado um caminho que leva até possíveis minas de prata. O segundo mapa é inédito, nunca foi publicado. Feito em 1640, é parte de um estudo náutico da costa do Brasil, vista do mar para a terra, da Bahia até o Ceará. A imagem é familiar, mas o que conhecemos é a versão portuguesa da costa. Esse é um desenho holandês.

Quem descobriu essas relíquias foi o cearense Terto de Amorim que há 13 anos mora na Holanda. Ele não é historiador e faz questão de frisar. O que o levou a gastar dias de folga imerso no Arquivo Nacional dos Países Baixos foi a curiosidade.
"No ano passado, me dei conta de que conhecia parte do mapa do forte Schoonenborch e que o original pertencia ao Arquivo Nacional. Decidi ir até lá para vê-lo", refaz.


Depois do primeiro achado, Terto passou a pesquisar vestígios da passagem holandesa por Fortaleza e foi descobrindo outras raridades, inclusive o diário de Matias Beck. O que mais o chamou a atenção na leitura foi a visão holandesa dos índios daqui, bem diferente do indígena ingênuo ou selvagem retratado pelos portugueses.

Mapa de 1640


História curiosa

Terto conta que numa passagem do diário, Matias relata um episódio curioso. Um líder indígena aliado o procura para pedir armas e cachaça. O plano era embriagar a tribo dos anacés e depois matá-los. Matias escreve que recusou a proposta por ser "um cristão". "Por essa conversa você entende que o branco e o índio estão negociando. É um olhar diferente do dos portugueses quando falavam nos índios", diz Terto.

Ainda há muitos documentos interessantes para a nossa história no Arquivo Nacional dos Países Baixos. Terto continua indo pesquisar pelo menos uma vez por mês. Como a presença holandesa em Pernambuco foi muito mais significativa, há uma seção dedicada ao assunto. Já as referências ao Siará estão dispersas.

"É interesse deles também. Certos nomes e lugares eles não conhecem e eu conheço. É uma troca de informação", conta Terto. O foco maior da pesquisa é a cartografia.

Terto tem fotografias dos originais de 23 mapas. No fim deste mês ele estará em Fortaleza, novamente atrás de patrocínio para montar uma exposição do material. Por enquanto, seus achados não entusiasmaram muito a academia cearense. Nenhum historiador confirmou a relevância dos mapas de 1640 e 1649 apresentados por Terto.

Curiosidades:

A história do início de Fortaleza tem forte conexão com a Holanda. Naquele século XVII, os holandeses desafiavam o domínio português, ainda pouco consolidado em muitas capitanias, como a do Ceará. Por aqui, em 1649, a chegada de Matias Beck, foi fundamental para o desenvolvimento da vila que viria a se tornar Fortaleza. Ao redor do forte de Schoonenborch, construído próximo à margem do riacho Pajeú, a aldeia cresceu.

Antes disso, em 1612, o português Martim Soares Moreno ensaiara a instalação de uma vila em torno de um outro forte, o de São Sebastião, construído na margem do rio Ceará, perto de sua foz. Ainda antes, em 1603, nesse mesmo local, Pero Coelho de Souza havia erguido um primeiro fortim, o de São Tiago, a mando das autoridades portuguesas de pernambuco. O objetivo era espantar os franceses que andavam pelas terras entre o Ceará e o Maranhão.

Essas duas incursões duraram pouco e não deram origem a uma vila. Foi somente depois da partida de Martim Soares Moreno, com a chegada de Matias Beck que o aldeamento foi se consolidando.

Veja a cronologia:

1637: Com a partida de Martim Soares Moreno, o Forte de São Sebastião fica aos cuidados de uma pequena guarnição, que não resiste ao cerco das tropas holandesas, em 1637. Gedeon Mórris de Jonge comanda as tropas a serviço de Maurício de Nassau, que procurava ampliar a área da Companhia Privilegiadas das Índias Ocidentais. Em 1644 depois de oito anos de muitas dificuldades, os holandeses são dizimados pelos indígenas.

1649: O holandês Matias Beck chega à enseada de Mucuriba (Mucuripe). Na procura por um local adequado para se instalar na costa, desiste da Barra do Ceará por motivos bélicos (daquele local não se conseguia visualizar os navios ancorados na enseada do Mucuripe, o que facilitava ataques imprevistos) e logísticos (o assoreamento da foz do rio Ceará dificultava a entrada de navios e as marés sinalizavam as águas daquela foz, o que dificultava a obtenção de água potável). Escolhe, então, o morro de Marajaitiba, situado na margem esquerda do riacho Pajeú, onde ergue uma paliçada a que chama de Forte Schoonenborch, para onde foram trazidos os materiais aproveitáveis do fortim de São Sebastião.

1654: Os holandeses são expulsos pelas forças portuguesas comandadas por Álvaro de Azevedo Barreto, que tomam o Schoonenborch sem enfrentar resistência. A fortificação de Matias Beck desaparece totalmente.

1662: Os portugueses constroem um novo forte também chamado de Assunção. A construção vai permanecer como posto militar politicamente esquecido ao longo de todo o restante do século XVII

1726: Por Carta Régia, Fortaleza é elevada à categoria de vila. A instalação da vila acontece no dia 13 de abril de 1726, sob a responsabilidade do capitão-mor Manuel Francês. A data passa a ser o aniversário da cidade. O título de vila, entretanto, não muda o aspecto de abandono e pobreza em que o povoado estava mergulhado. Realidade que só iria começar a se transformar no final do século XVIII, quando o Ceará se desmembra da Capitania de Pernambuco.


Crédito: Jornal OPovo

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ruas de Fortaleza II

De acordo com a Lei Orgânica do Município de Fortaleza, cabe à Câmara Municipal denominar bairros, ruas, praças e logradouros públicos, bem como autorizar sua
modificação. Não é necessário que a prefeitura autorize ou aprove, basta que a câmara baixe o decreto com o novo nome e pronto.

Desde 2006, quando ganhou esse poder por alteração na lei, a câmara tem abusado do direito de trocar nomes de logradouros; são, em média, duas modificações por mês.
Cerca de 30 decretos legislativos desse tipo, determinando novos nomes a ruas antigas ou definindo nomes oficiais para lugares da cidade, foram redigidos pelos vereadores de 2006 para cá.

Rua Guilherme Rocha - centro - Trecho Praça do Ferreira


Entre 1999 e 2005, pelo menos 71 projetos de lei sugeriam a alteração de nomes ou a denominação de ruas e praças da cidade, de acordo com o Jornal O POVO.
Na lei modificada foi inserida uma emenda que prevê uma consulta à população antes de alterar o nome da via. Mas não é assim que acontece: a população só toma conhecimento da mudança depois que o nome já foi trocado.

Para quem tem estabelecimento comercial, a mudança do nome da rua implica em burocracia e custos, porque é como se o comerciante tivesse mesmo mudado o local do comércio: tem que registrar o novo endereço na junta comercial.

Para as pessoas físicas, o transtorno não é menor: é necessário atualizar o endereço junto a bancos, prestadores de serviços públicos, cartões de crédito, escolas, etc.

Na maioria das vezes, a mudança atende interesses particulares dos vereadores e homenageiam pessoas que ninguém sabe quem é.
A matéria é regulamentada pelo Código de Obras e Posturas do Município de Fortaleza que determina em seu artigo 680:

Para denominação dos logradouros públicos serão escolhidos, dentre outros, nomes de pessoas, datas ou fatos históricos que representem efetivamente passagens de notória e indiscutível relevância; nomes que envolvam acontecimentos cívicos, culturais e desportivos; de obras literárias, musicais, esculturais e arquitetônicas consagradas; personagens de folclore; de acidentes geográficos, ou flora e fauna.


1º - Sob nenhum pretexto dar-se-ão às ruas, praças, avenidas, viadutos ou jardins públicos, nomes de pessoas vivas.


2º - Sob nenhum pretexto dar-se-ão aos bairros nomes de pessoas vivas ou mortas, ressalvadas as atuais denominações.


3º - Não serão admitidas modificações na denominação já tradicional de logradouros públicos ou bairros.


E no artigo 681, determina:

As propostas, em mensagem à Câmara, de modificações às denominações que constituam duplicata, sejam nomes de pessoas vivas ou possam originar confusão no tocante à identificação do logradouro.


1º - No caso de denominação em duplicata, deverá ser modificado o nome do logradouro considerado de menor importância, tendo em vista sua tradição, notoriedade, antiguidade, extensão ou situação.


2º - Poderão ser conservadas as denominações em duplicata, já existentes, quando logradouros que as contém sejam de categorias diversas, tais como praças, avenidas, ruas e viadutos.

Com relação aos nomes em duplicata, observamos que Fortaleza possui uma infinidade de vias nessa condição, conforme podemos observar a existência de:
02 Ruas Nossa Senhora Aparecida
(Bairros Genibaú e Mondubim);
02 Ruas Santa Clara
(Bairros Siqueira e Jacarecanga);
02 Ruas Nossa Senhora de Fátima
(Bairros Itaoca e Aerolândia
04 Ruas Nossa Senhora da Conceição
(Bairros Mondubim, Genibaú, Pici, Jangurussu);
05 Ruas Chico Mendes
(Bairros de Coaçu, Mondubim, Aerolândia, Jangurussu e Barra do Ceará);
05 Ruas Padre Cícero
(Bairros Jangurussu, Rodolfo Teófilo, Barra do Ceará, Passaré e Benfica);
05 Ruas Santo Antonio
(Bairros Quintino Cunha, Barra do Ceará, Jangurussu, Palpina e Farias Brito);
07 Ruas São Pedro
(Bairros Planalto Ayrton Sena, Dias Macedo, Barra do Ceará, Paupina, Cais do Porto, Jangurussu e Manoel Sátiro).
08 Ruas São José
(Bairros Bom Jardim, Jardim Cearense, Mondubim, Lagoa Redonda, Centro, Passaré, Carlito Pamplona e Itaperi);
e
08 Ruas São Francisco
(Bairros Mondubim, com 2 ruas São Francisco - Pici, Messejana, Coaçu, Quintino Cunha, Bonsucesso e Jangurussu);

Deve haver em Fortaleza, centenas de outras ruas com nomes duplicados, causando confusão na população e nos entregadores de bens e serviços.

Ruas de Fortaleza

Rua do Rosário, centro de Fortaleza, via com denominação mais antiga de Fortaleza

Não se sabe a data exata em que teve inicio a nomenclatura das ruas de Fortaleza. Das vias atuais, as únicas que mantiveram os mesmos nomes desde a época da colônia são as ruas do Rosário, que ganhou o nome em fins do Século XVIII, a do Pocinho e a Governador Sampaio, que datam de 1813.

Os nomes das ruas foram dados por iniciativa da população e adotados pelo poder público do município.
Até 1817 não havia na Vila de Fortaleza qualquer indicação relativa ao nome das ruas. No dia 18 de março daquele ano, em sessão realizada na Câmara, foi aprovada a decisão de se colocar letreiros indicando a denominação da via.

Assim no ano de 1818, já se podia ler os nomes das ruas, colocadas nas esquinas das vias públicas da Vila: Rua do Rosário, da Palha, da Cadeia, Nova da Palha, de Cima, do Açougue, das Flores, do Monteiro, do Riacho, Nova da Boa Vista, do Pocinho, do Boticário, das Almas, da Cacimba dos Meirinhos, e outras.

Anos mais tarde, em 1861, foi aprovada pela Câmara uma resolução para que se fizessem tabuletas para identificação dos nomes das ruas e travessas da cidade, que deveria ser uma só e não diferentes nomes.

A resolução decorreu do fato de existirem algumas artérias com mais de um nome. A atual Rua Floriano Peixoto tinha três denominações: Rua das Belas no trecho entre o Passeio Público até a praça onde hoje está o edifício do Banco do Brasil;
daí até a Praça do Ferreira era Rua da Pitombeira, e da Praça do Ferreira em direção a Praça do Carmo era Rua da Alegria.
A Rua Major Facundo era Rua da Palma entre o Passeio Público e a Praça do Ferreira e Rua do Fogo, da Praça até o final.

A decisão de colocar numeração nos imóveis ocorreu junto com a denominação única das ruas, mas não foi implantada de imediato. A falta de números nas portas levava os comerciantes e prestadores de serviços que precisavam tornar seus endereços conhecidos, a utilizarem como referências o nome de pessoas conhecidas, como demonstram esses anúncios publicados em jornais da época:

"Bazar Cearense
Na rua da palma
Confronte ao Quintino
Perto do Zeferino
Por grandes letreiros
Mui bem se conhece
A loja da moda"
(Pedro II-Fortaleza, 24-3-1862)

"Estabelecimento Photographico de Madame Fletcher
Rua Nova, na casa onde morou o Dr. Justa."

(A Constituição- Fortaleza, 25-2-1865)

Rua Formosa (atual barão do Rio Branco) em foto de 1925. Nota-se a total ausência de árvores. Foto Reprodução (Arquivo NIREZ)

No ano de 1890, nova decisão da Câmara causou controvérsias na cidade. Em sessão realizada em 29 de outubro de 1890, o Conselho de Intendência da Capital decidiu substituir o sistema de identificação das ruas, com a denominação dando lugar a números. O motivo alegado foi evitar as contínuas e sucessivas trocas de nomes, quase sempre motivadas por sentimentos partidários.

O critério de numeração utilizava a Rua Formosa como referência: para o nascente todas as ruas eram ímpares e para o poente, pares. Pouco durou, no entanto, a tal resolução: os comerciantes continuaram a anunciar o endereço dos seus estabelecimentos usando os antigos nomes das ruas e travessas. Poucos aderiram ao novo formato. As raras exceções foram:

"Esplêndido sortimento de calçados BOSTOK
para homens, senhoras e crianças despachou a loja Magnólia.
Rua 3 n° 93"
(Libertador, 17, 19 e 22-11-1890).

Em sessão de 28 de abril de 1891, novamente por determinação da Câmara Municipal, os números das ruas foram substituídos pelos seus respectivos nomes primitivos. A novidade durou cerca de seis meses (de 29/10/1890 à 28/04/1891). A Câmara voltou atrás na sua decisão porque a inovação não agradara a população.

Rua Barão do Rio Branco - Início

Rua Barão do Rio Branco - Final (Profusão de placas e anúncios)



Fonte: Fortaleza em Fotos e fatos e pesquisa de internet

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Av. Barão do Rio Branco - Antiga Rua Formosa


Estamos no meio da rua Formosa hoje Barão do Rio Branco, de costas para o sertão e de frente para o mar. Avista-se o cruzamento com a rua São Paulo. Na foto antiga, do lado esquerdo, vemos, em primeiro plano, uma casa escura, que era residência do tabelião Pamplona, depois Cartório Tabelião Joaquim Feijó de Melo. Funcionou também no mesmo prédio a Tipografia Cearense.

A seguir vem uma casa de drogas de Antônio Gonzaga e outra de Guilherme César da Rocha e ainda uma refinaria de açúcar de José Joaquim Alves Linhares. No sobrado, de Joaquim Paulino Barroso, funcionou o escritório da companhia de bondes. O prédio da esquina era de propriedade do português comendador Francisco Coelho da Fonseca, onde foi também estação telegráfica.

Muitos anos depois ai estiveram entre outros: Banco Francês Brasileiro, Quixadá Tintas nº 1, Audi Promotora de Vendas, União dos Bancos, Edifício Studart, London Bank; Lima & Albuquerque.

Do lado direito existia a movelaria, Monteiro, onde funcionou depois o cinema Rio Branco, Agência do Loyde Brasileiro (ver a bandeira) e o "Rocambole", de Bernardino Plácido. Anos depois funcionaram ali: Planos Técnicos Brasil, "Friolar", Tecidos Bezerra, Banco dos Proprietários, Banco Mercantil de São Paulo, Cimaipinto e na esquina o café América.

No quarteirão seguinte, do mesmo lado, a Casa Villar, o foto Olsen, em outras épocas, a tipografia Carneiro e a Agência Iracema, de Roque Macedo.


Rua formosa - Foto de 1925

A foto mais recente, de Osmar Onofre, já mostra total modificação. Já não existem as casas antigas e nem o edifício Studart, que foi demolido e hoje é um estacionamento para carros, sem teto.

Do lado esquerdo há casas de bingo, Lojas Americanas, Losango promotora de vendas, Unibanco e no quarteirão seguinte a Arca da Aliança. Do lado direito, O BICBanco, o Banco Mercantil de São Paulo - Finasa, um estacionamento e uma casa Miami Bolsas. Destaque no quarteirão seguinte para o hotel Sol, antigo Premier, seguido da loja do Baú da Felicidade. Quase todas as casas comerciais antigas e também as mais modernas desapareceram e estão hoje fechadas.


Crédito: Portal história do Ceará

terça-feira, 1 de junho de 2010

Oitizeiro do Rosário - Rua General Bezerril


Existiram árvores famosas em Fortaleza, como o "cajueiro do Fagundes", o "cajueiro da mentira" ou "cajueiro botador". Hoje a única é o "baobá do Passeio Público".

O oitizeiro do Rosário ou do Instituto do Ceará ficava na Rua General Bezerril, por trás da igreja do Rosário, na esquina com a Rua Guilherme Rocha. Sua derrubada foi decretada em 1862, pela Câmara Municipal, quando do alinhamento das ruas, mas foi sustada pelo desembargador Jerônimo Martiniano Bandeira de Melo.

Em 1912 houve nova ameaça, mas a árvore escapou graças ao protesto popular e da imprensa. Mas em 1929 o prefeito Álvaro Weyne mandou derrubá-lo e a foto é do momento da derrubada. Vemos uma escada encostada e um operário em um dos galhos. Houve protestos por parte da população, mas desta vez de nada adiantaram.

Pode-se observar que o prédio do lado direito é o mesmo, o que não acontece com o da esquerda, que foi demolido e em seu lugar foi levantado o atual, do Banco de Fortaleza - Banfort. Antes, o velho prédio já abrigava o Crédito Popular São José, Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Ltda., fundada em 1920 sob a responsabilidade do Arcebispado de Fortaleza, transformando-se, em 1939, em Banco Popular de Fortaleza S/A.


Dos prédios que ficam mais distantes, desapareceram todos os antigos, existindo hoje os chamados "espigões" rumo ao Infinito.

As ruas de hoje, já não são mais destinadas aos carros, mas transformadas em calçadões, onde transitam apenas pedestres. A árvore que vemos não é um pé de oiti e nem fica no mesmo local da antiga.

O oitizeiro do Rosário bem que poderia ainda hoje conviver com os transeuntes.






Crédito: Portal da história do Ceará e Arquivo Nirez

Ruas de Fortaleza - Mudanças (Rua Padre Valdevino / Parque Americano)


Nesta foto do inicio da década de 1950, vemos o então famoso "Parque Americano" de Salomão Benício Sampaio, que ficava na rua Padre Valdevino, no cruzamento com a Rua Ildefonso Albano. Na época, o parque atraía pessoas de toda a cidade e sua fama foi tamanha que proporcionou a criação de uma linha de ônibus somente para atender a região, com o destino "Parque Americano", que parece ainda existir. A região passou a ser chamada de Parque Americano, criando-se um novo bairro com aquela denominação. Salomão já era proprietário do Bar Americano, na praça José de Alencar, na esquina da Ruas Guilherme Rocha com a Rua General Sampaio, num sobrado antigo ainda existente, porém já com portas largas.

O "Parque Americano" de diversões infantis, de Salomão Benício, como mostra a foto, ocupava meia quadra, tinha o muro pintado entre as colunas, para colocação de painéis de propaganda comercial. Vemos o portão de entrada, seguido do guichê de vendas de ingressos.

Em seguida um painel limpo e logo outro com a propaganda do leite "Karnak", muito em voga na época. Seguem-se, mais um painel limpo e outro com uma propaganda do Banco União, aquele que tinha o "slogan" de "Prende a terra o dinheiro da terra". Seguem-se outros painéis limpos e
outro com propaganda, mas que não conseguimos ler.

Depois o parque desapareceu e Salornão colocou no lugar uma grande serraria, muito bem aparelhada. Também ali esteve a representação das "Camas Patente" de L. Liscio S/A e depois o supermercado Global".

Hoje, no local, estão os supermercados Família, no mesmo prédio onde foi o Global, tendo na frente um grande estacionamento para carros, no local antes ocupado pelo Parque Americano.


Fonte : Fortaleza de Ontem e de Hoje - Nirez

segunda-feira, 31 de maio de 2010

FORTALEZA 1910



Casa Boris Frères & Cie., impresso em Nice, na França.

"FORTALEZA 1910" - é aqui acompanhada de corpo inteiro em fotografias
de várias poses reunidas num álbum feito entre 1908 sob o título original de "Vistas do Ceará".

A presente edição é um fac-simile do original, produzido pela UFC (Universidade Federal do Ceará), em 1980

"Álbum de Vistas do Ceará 1908" – Fortaleza 1910"

O álbum foi confeccionado em Nice (França) no ano de 1908 que reúne o mais difundido e variado conjunto de registros fotográficos sobre a Capital do Estado nessa época. Sob os auspícios da firma Boris Frères - na época o maior estabelecimento comercial de importação e exportação aqui instalado - a publicação fotográfica visava a divulgação da prosperidade e beleza do Ceará no estrangeiro e em outras partes do Brasil. Em 1908 a firma Boris Frères presenteou Fortaleza com dois álbuns impressos na França, mais precisamente em Nice, com dezenas de fotografias de Fortaleza e algumas do interior do Estado. O álbum grande tinha dezesseis páginas com dez fotos cada uma, num total de 160 fotos e o pequeno era exatamente a metade. No início da década de 1980, foi republicado o álbum editado originalmente com o título de "Álbum de Vistas do Estado do Ceará Brasil - 1908" por iniciativa da firma Boris Frères, pela Universidade Federal do Ceará - UFC, com o título de Fortaleza – 1910.

Eu já havia feito uma postagens com algumas fotos desse livro AQUI
Como as páginas do livro são bem maiores, clique nas imagens para melhor visualização.

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Vemos na foto um balão imenso, de nome "Pereira da Luz".

Sobre esse balão que sobrevoou Fortaleza,
como vemos na imagem, em 1908-1910:

FORTALEZA DOS BALÕES...

Todo mundo - inclusive vocês, confessem. - já ouviu dizer: "para a vida ser plena, tem de se fazer um filho, escrever um livro e plantar uma árvore". É o que dizem por aí, há muito tempo. Eu que sempre fui tentado a discordar, pus à prova: primeiro, da única gravidez, tornei-me pai de minhas duas primeiras filhas, Luana e Liana, que, "para piorar", são lindas (e estão fazendo aniversário este mês); depois, numa crise de sandice, que se tornaria literariamente crônica, escrevi um livro. Como não distingo bem os gêneros, - refiro-me aos literários -, escrevi um romance em tom de crônica e com nome de conto. Porém, faltava-me plantar a tal árvore para alcançar a vulgarmente propalada e desejada "plenitude da vida". Digo bem: Faltava! Numa manhã de abril, acordei decidido a concluir essa trilogia e, no quintalzinho da casa onde moro, plantei uma pequena árvore, quase um arbusto, que trouxe ainda nos ombros. Renovei e preparei a terra, juntei toda aquela gororoba de uréia, húmus, adubos orgânicos e finquei a plantinha ao lado da lavanderia. Pronto! No outro dia de manhã, acreditem se quiserem, fui surpreendido por uma imensa lufada de vento frio no quarto. As janelas se debatiam como loucas. Aturdido, corri para trancá-las embaraçando-me às cortinas esvoaçantes... e não consegui. Meus amigos, não imaginam o pasmo que tive quando me dei conta, ao rés do parapeito, da altura fabulosa em que estava suspensa a nossa humilde casinha. E sabem a que se devia isto? À simples escolha errada de árvore. Como poderia saber que aquela inofensiva plantinha, quase um arbusto, eu disse, se transformaria num benjamim gigante? Para estudar com calma a situação, peguei uma caneca de café bem quente e sentei-me à varanda enlevando os pés numa nuvem gentil. A temperatura estava muito baixa e a fumacinha do café dobrava-se em cristais com carinhas sorridentes. Lógico que isso não era engraçado! De longe, vi passar um homem de capacete, envolvido em papel alumínio e suspenso por um monte de balões coloridos. Perguntava, aos berros, se eu tinha carregador de celular. Só podia ser delírio ou propaganda dessas operadoras telefônicas. Imagine... Nem liguei. Depois, não menos estranho, assisti surgir, turvo e enevoado, o balão de cor amarelo-queimado, uma espécie de "laranja gigante", que por um momento me fez pensar se tinha errado a dose do café. Se é que era apenas café!... Mas, logo, logo, percebi-lhe escrito na seda: "Brasil". Abaixo dele, surgiam cordas sustentando a barquinha de vime rodeada de sacos de areia. Um caboclo corpulento acenava-me com simpatia. Estacionou no mezanino, desceu para cumprimentar-me colocando o quepe no braço e, sem cerimônias, sentou-se. Sedento, abriu uma torneira daquela nuvenzinha, - ainda bem que era época de muita chuva -, e bebeu-lhe um pouco d'água fresca, antes de solfejar algumas notas da clarineta que trazia no bolso. Seu nome era José Pereira da Luz, ou capitão Zé da Luz, como preferia. Pernambucano, foi retirante. Como soldado participou da Guerra de Canudos, mas o que queria mesmo, desde menino, quando viu uma chuva de estrelas no céu do sertão, era fabricar o seu próprio balão e voar bem lá no alto! E assim o fez; e não foi só um, mas todos se incendiaram. Construiu também um pára-quedas "de algodãozinho" que, justo na hora, não abriu, quebrando-lhe a perna. Mas ele não desistiu, não. O cabra continuou! Daí, comprou em Paris um aeróstato, um nome pomposo para... balão! Vocês não lembram, mas aqui em Fortaleza, quando o balão "Brasil" veio na passagem do ano de 1907, foi um alvoroço... Partiu da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção e ergueu-se sublime a balançar ao sabor dos ventos bravios. Pena que, numa segunda vez, o "Brasil", sabe-se lá por que, tropicou nos telhados próximos ao Passeio Público e esparramou-se, como batatas, pelo chão: - Visse, Raymundo, que enquanto eu estava internado na Santa Casa, uma senhora muito humilde veio perguntar-me se, quando eu pairava no céu, tinha encontrado algum dos anjos do Senhor? E o mais engraçado era a molecagem do povo que me dizia: "Já vi pereira dar pêra, mas pereira 'dá' luz..." Cearense é bicho gozador! Após o bom conversado, para não perder o costume, pedi-lhe carona para descer. Como estando a bordo de "Brasis" sempre é bom se prevenir, trouxe um aparelho de GPS (Sistema de Posicionamento Global) com manual anexo, é claro. No que sucedeu depois, não irei me deter, por absoluta falta de espaço, e pela leve desconfiança de que posso não estar agradando, contudo, afirmo que a antiga máxima da plenitude da vida (filho - livro - árvore) é uma grande besteira, e eu sou testemunha disso. O céu, heróicos leitores, só é o limite para quem não aprendeu a enxergar acima dele. José Pereira da Luz (pai do poeta Pierre Luz) sempre teve vocação musical. Um dia, porém, ao ler o Dicionário Enciclopédico Português, na letra B, ressurgiu-lhe o desejo de voar que trazia desde criança. Realizou vôos em Recife, Ceará (1/01/1907) e na Bahia. No Rio de Janeiro não alcançou êxito. Em janeiro de 2008, o último vôo do "Brasil" completou cem anos sem lembrança e sem memória. Texto: Raymundo Netto, autor de Um Conto no Passado - cadeiras na calçada, um lunático amador que sofre de perda de memória recente.


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Crédito: Fortal

domingo, 30 de maio de 2010

Ruas de Fortaleza - Mudanças (Rua Guilherme Rocha / Rua da Municipalidade)

A Rua Guilherme Rocha, que hoje é um calçadão onde não passam carros, já foi uma rua muito movimentada, com trânsito de automóveis, ônibus, bondes, caminhões e carroças, além de pessoas e animais. Ela já se chamou travessa Municipal, Rua Municipal, Rua Nº 9, Rua 24 de Janeiro e Rua Coronel Guilherme Rocha. Hoje é apenas rua Guilherme Rocha.

Estamos vendo o cruzamento dela com a rua Major Facundo, na praça do Ferreira na década de 20. Do lado esquerdo vemos a esquina onde ficava o "Maison Art-Nouveau" e logo depois o "Restaurante Chic", tendo antes passado pouco tempo como "Maison-Riche". Na esquina do lado direito, temos o sobrado do Comendador Machado tendo no térreo o "Café-Riche", onde se reunia a intelectualidade de então.

Na foto antiga, além das casas citadas, vemos ainda muita gente, civis e militares, o bonde nº 28, da "Light" e dois automóveis típicos da época, com seus pneus estreitos parecendo de motocicletas. Naquela época (a foto deve ser de 1927) todos andavam de chapéu, velhos, moços, crianças, mulheres, todos tinham algo na cabeça, quer fosse um chapéu de massa, um de palhinha, um quepe, uma boina, enfim, qualquer coisa que servisse de cobertura para a cabeça, o que ainda hoje deveria ser usado, com o sol que temos.

A fotografia atual, de Osmar Onofre, traz o mesmo local totalmente modificado. O prédio do "Maison" foi substituído, em 1934, pelo edifício Granito e hoje tem em seu andar térreo a loja "Tok-discos" e no primeiro andar o Clube dos Advogados. A outra esquina, do "Riche", foi substituída em 1931 pelo "Excelsior Hotel" que tem hoje na esquina a loja "Presentes Nobre", que é também tabacaria; seguida da "Itamaraty" e da "King Jóia". Os carros já não transitam por ali e as pessoas hoje andam mais descompromissadas, mais à vontade, vestidas como se estivessem em casa. No calçadão foram plantadas árvores que já estão adultas.

RUA GUILHERME ROCHA - NA PRAÇA DO FERREIRA
Vemos o encontro da Rua Guilherme Rocha com a Rua Floriano Peixoto, na Praça do Ferreira, em foto que data do início da década de 20, quando ainda havia o quarteirão entre a Rua Floriano Peixoto, Travessa Pará, Rua Major Facundo e Rua Guilherme Rocha, em frente à Praça do Ferreira. Naquele quarteirão estava o mais antigo sobrado da cidade, que abrigava a Intendência Municipal, da qual vemos a torre. Pelo lado da Rua Guilherme Rocha, ou Praça do Ferreira, estiveram várias lojas como a "Livraria Edésio", "Casa Mundlos", "Café do Comércio", "Crysanthemo", "Café Emygdio", para citar as mais famosas.

Depois do quarteirão citado, vem o sobrado do Pastor, que data de 1914, onde no andar superior funcionou o telégrafo antes de unir-se ao correio, enquanto no andar térreo funcionou a loja de João Carvalho "Rosa dos Alpes", e posteriormente ali esteve o "Café Globo" e depois o "Armazém Paissandu", a Aplub e por fim o Restaurante "Le Scale".

Do lado direito, temos o Palacete Ceará, construído em 1914 pelo comerciante e banqueiro José Gentil Alves de Carvalho que contratou a firma Rodolfo F. da Silva & Filhos, para construí-lo, com planta de João Sabóia Barbosa. Consta que foi construído por Eduardo Pastor. Abrigou o Clube Iracema tendo na parte térrea a "Rotisserie Sportman", de Efrem Gondim. Depois o palacete foi vendido à Caixa Econômica Federal do Ceará que ali se instalou. No dia 8 de julho de 1982, o prédio foi devorado por um incêndio, restando apenas sua fachada. Foi planejada sua demolição para levantar um prédio moderno, mas a grita do povo, dos arquitetos e da imprensa fez com que os dirigentes da Caixa reconsiderassem o plano e o prédio foi reconstruído.


Ao fundo da Rua Guilherme Rocha vemos a fachada do Palácio da Luz e também a copa do famoso "oitizeiro do Rosário".

A foto nova mostra a ausência do quarteirão da esquerda, hoje substituída pela ampliação da praça com as bancas de jornal e revistas, o sobrado do Pastor hoje abriga o restaurante "Le Scale" no andar superior e no térreo a "Contágio", "Bicho do Sol" e alguns bares pela Rua Guilherme Rocha, tendo como vizinho pela Rua Floriano Peixoto a "Casa do Desenho" o prédio onde foi a Livraria Comercial é hoje a Livraria Paulus. Do outro lado o já falado Palacete Ceará abrigando ainda a Caixa, quase coberto por uma árvore da praça e por cima desta parte do prédio também da Caixa, que fica na Rua do Rosário.

RUA GUILHERME ROCHA - ESQUINA COM RUA FLORIANO PEIXOTO

Estamos na esquina da Rua Guilherme Rocha com Rua Floriano Peixoto, olhando para o lado do mar. Temos duas fotos da esquina nordeste. A foto mais antiga mostra o sobrado construído em 1914 que abrigou, de 1916 a 1930 o "Café Avenida", de Jaime Magalhães. Depois veio a loja "Rosa dos Alpes", que antes funcionava no meio do quarteirão. Era uma casa que vendia gramofones, vitrolas, discos, bilhares, material religioso, bandeiras, estandartes, etc. Seu proprietário era João Carvalho. A loja mudou-se em 1938, quando em seu lugar Edilberto Góis Ferreira abriu o "Café Globo" que ali permaneceu 20 anos. Nasceu então o "Armazém Paissandu", de Francisco Pegado que foi até 1972. Surgiu então ali a APLUB e hoje a "Contágio", tendo na parte superior, o restaurante "Le Scale".

A foto intermediária data do início da década de trinta, quando ainda existia um quarteirão que ficava entre a Rua Guilherme Rocha, Rua Major Facundo, Travessa Pará e Rua Floriano Peixoto, local hoje ocupado pelo prosseguimento da Praça do Ferreira, ou seja, onde ficam algumas bancas de jornal e revistas, entre elas a do Bodinho.Lá existia um dos mais antigos sobrados de Fortaleza, ocupado pela Intendência Municipal e onde também funcionava a Câmara Municipal. Depois de sua demolição, foi construído no local e também já foi demolido, o Abrigo Central. Vê-se a "Rosa dos Alpes" e distante o prédio da Assembléia Legislativa e o Mercado de Ferro.

A foto atual, de Osmar Onofre, mostra o antigo sobrado abrigando a "Contágio" e o restaurante "Le Scale", com um poste trazendo uma grande placa da "Caixa" à frente. No seguimento vemos o antigo prédio da assembléia - hoje Museu do Ceará - seguido do Palácio do Comércio, Banco do Brasil e Correios.

RUA GUILHERME ROCHA ESQUINA COM RUA BARÃO DO RIO BRANCO

A Rua Barão do Rio Branco já se chamou Rua Formosa e a Rua Guilherme Rocha já foi Rua Municipal. No encontro das duas, quando já tinham os nomes atuais, em 1953, foi colhida pela objetiva da Aba Film a foto mais antiga que ilustra essas linhas.

Nela vemos um velho sobrado onde no andar térreo funcionava na época a "Farmácia Conceição" que tinha endereço no nº 214 pela Rua Guilherme Rocha, com sua proteção contra o sol feita por lonas penduradas na marquise de alumínio.

Seguindo pela Rua Barão do Rio Branco tínhamos, vizinho, a "Casa Plácido", de mosaicos de propriedade de Pierina Hinko. Pela Rua Guilherme Rocha existiam "A Guanabara", "O Cancão", "O Sansão", "Casa Rio", "Casa Movado", "Estabelecimento Benjamin Angert", "Cearazinho", "A Ideal" e o Excelsior Hotel onde no seu andar térreo existiam entre outras a "Livraria Imperial", a "Livraria Aéquitas" e na esquina a "Farmácia Francesa".

A Segunda foto que é atual nos mostra no lugar do velho sobrado da farmácia Conceição o imponente Edifício Jalcy Metrópole, que tem em seu andar térreo uma agência da Viação Aérea São Paulo - VASP, e na sobreloja depósito da Tok-Discos avizinhando-se do Edifício do Excelsior Hotel pelo lado da Rua Guilherme Rocha.

No lugar das lojas antigas hoje estão a "Casa dos Relojoeiros", "Ótica Bela Jóia", "Água de Cheiro", "Excelsior Hotel", "Talismã Jóias" e "Center Meias". Enquanto o Edifício Jalcy Metrópole tem em seus muitos andares as salas ocupadas com dezenas de firmas, advogados, etc., o Excelsior Hotel está hoje abandonado, residindo lá apenas seu proprietário, o arquiteto Emílio Hinko.

A Rua Guilherme Rocha que na primeira foto tinha trânsito de carros, como pode ser visto um ônibus, na foto atual, de Osmar Onofre, já não tem, havendo sinalização para pedestres.

RUA BARÃO DO RIO BRANCO CRUZAMENTO COM RUA GUILHERME ROCHA
96 anos separam as duas fotos. É o cruzamento da Rua Formosa (hoje Rua Barão do Rio Branco) com Travessa Municipal (hoje Rua Guilherme Rocha).

Na primeira foto vemos o tipo de iluminação da época, combustores a gás, em contraste com a segunda, a vapor de mercúrio; os veículos também são outros, em lugar da carroça e do bonde de tração animal, automóveis com motor à explosão; o calçamento contrasta com o asfalto e os prédios trazem além da diferença de época nas construções, a atual poluição visual e comercial.

O sobrado na esquina, na velha foto, é do João Antônio Garcia e incendiou-se em 30 de setembro de 1929, sendo construído o que vemos na foto atual. Neste atual, funcionou a rádio Iracema, o Partido Comunista, a Liga Integralista a loja "A Espingarda", a sorveteria "Cabana", "A Esmeralda", em épocas diferentes.

O sobrado da esquerda era da família Justa e ali funcionou a "Pensão Familiar", a "Farmácia Albano", a "Farmácia Meton", a "Farmácia Fortaleza", o "Café Rex", "sorveteria Pontes", a casa de merendas "Pic-Nic" e hoje é o Edifício Jalcy, tendo no térreo as "Óticas Itamaraty", o "Palácio das Canetas" e o "Waldo's", café e tabacaria.

O calçamento na foto antiga é do tipo ainda hoje utilizado nos bairros distantes, e que foi apelidado de "cearalepípedo". São pedras toscas quebradas à marreta. Antes as pedras são extraídas nas serras, por meio de dinamite. Os calçamentos se iniciaram em Fortaleza ao tempo da seca de 1877, quando foi aproveitada a mão de obra dos flagelados que traziam os blocos de pedras nos ombros desde as pedreiras.

RUA BARÃO DO RIO BRANCO ESQUINA COM RUA GUILHERME ROCHA II
O velho sobrado da esquina da Rua Guilherme Rocha com Rua Barão do Rio Branco, deu abrigo, por muitos anos, a "Pensão Familiar", a "Farmácia Albano", a "Farmácia Meton", a "Farmácia Fortaleza", o "Café Rex", "sorveteria Pontes", a casa de merendas "Plc-Nic" e hoje é o Edifício Jalcy, tendo no térreo as "Óticas Itamaraty", o "Palácio das Canetas" e o "Waldo's", café e tabacaria.

Ao tempo da "Farmácia Albano", de Antônio Albano, pai, de José Gil Amora, nos fundos tirava o jornal "O Garoto'" da Academia Rebarbativa.

A foto antiga não é tão velha, datando da década de 1940 já em seu final. Apesar da presença dos trilhos e fios de bondes, talvez esses já não mais existissem, pois deixaram de circular em 1947. A rua ainda era calçada com paralelepípedos. Vemos no velho sobrado os "jacarés" para descida d'água.

A foto atual mostra. No local do velho sobrado da "Farmácia Albano" o Edifício Jalcy, inaugurado em 1959, que traz na parte térrea o "Waldo's" (café e tabacaria). Em seguida vêm várias lojas e depois o edifício Diogo, hoje transformado em "shopping" e várias lojas e bancos, com destaque para a "Casa Pio", "Fininvest", Bradesco, "Charmile", "Bunny's", "Lojas Pecary", Banco de Crédito Real de Minas Gerais, etc.

O asfalto, a sinalização, os carros, telefones públicos (orelhões), postes de concreto-armado, semáforos, iluminação pública a vapor de mercúrio, tapumes e vestimentas das pessoas, mostra a diferença de época das duas fotos.

Chamamos a atenção para a quantidade de aparelhos de ar condicionado nos prédios, principalmente no Jalcy.



Fonte: Portal da história do Ceará e arquivo Nirez

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