Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



sábado, 8 de dezembro de 2012

Colégio da Imaculada Conceição - Fatos Históricos


Colégio da Imaculada já tinha dois andares nessa foto - Arquivo Nirez



Arquivo pessoal de Erna Verônica


  • 18/Julho/1887- Morre, aos 65 anos de idade, a superiora do Colégio da Imaculada Conceição, irmã Marguerite Bazet (Irmã Bazet). Chegara em Fortaleza no dia 24/07/1865. É hoje nome de rua no Montese.

Arquivo pessoal de Erna Verônica

  • 22/Abril/1888- Funda-se, em Fortaleza, a Conferência da Imaculada Conceição.

  • 23/Fevereiro/1902- Morre, em Fortaleza, aos 60 anos de idade, no Colégio da Imaculada Conceição, a Irmã Vicência, que no século chamava-se Virgínia Machado dos SantosEra mineira de Diamantina.

Arquivo pessoal de Erna Verônica

  • 21/Novembro/1903- Data que marca o dia da inauguração da Igreja da Imaculada Conceição (Igreja do Pequeno-Grande) na Praça Figueira de MeloÉ em estilo neogótico com telhado agudo apoiado em estrutura metálica importada da Bélgica, conforme informa o arquiteto Liberal de CastroA igreja foi construída pelas irmãs francesas que aqui chegaram na segunda metade do Século XX. Vinham como filhas de caridade de São Vicente de Paulo a convite de Dom Luís Antônio dos Santos, primeiro bispo do Ceará. O templo é dedicado a Nossa Senhora do CarmoSua pedra fundamental foi lançada em 1896 pelo Padre ChevalierAs obras se iniciaram no mesmo ano da pedra inicial, mas logo pararam, reiniciando-se em 1898. O templo foi projetado por Isac Correia do AmaralA montagem da parte de ferro esteve a cargo do mestre de obras Deodato Leite da Silva.

  • 25/Março/1930- Inauguração das grandes reformas ocorridas no Colégio da Imaculada Conceição.

  • 04/Junho/1930- Com 2.123 votos, a escritora e estudante Rachel de Queiroz, filha do casal Daniel e Clotilde Queiroz, e aluna do Colégio da Imaculada Conceição, é eleita Rainha dos Estudantes do CearáPrincesas - senhoritas Esther Fiúza, Letícia Ferreira Lima e Neyde Paula Lima Verde.

  • 24/Novembro/1930- Paraninfadas pelo Dr. Menezes Pimentel, são diplomadas no Colégio da Imaculada Conceição as professorandas: Haidée Pontes Vieira (oradora), Rosa do Monte Cumaru, Nair Goiana Sidou, Francisca Batista, Dila Jucá, Alda Pinheiro, Tdalina Fernandes Távora, Nair Teixeira, Felisbela Saraiva, Nilza Mesquita Frota, Anita Fontenele, Iracema Leal, Joanita Figueiredo Sá, Francisca Alves e Maria Neusa Pontes.

Arquivo pessoal de Erna Verônica

  • 07/Abril/1931- Faleceu, no Colégio da Imaculada Conceição, aos 72 anos de idade, a Irmã Josefina, que estava naquele estabelecimento há mais de 50 anos.

  • 02/Fevereiro/1934- Pela manhã, os congressistas visitaram o Colégio da Imaculada Conceição. Às 15 horas, foram recepcionados pelo Interventor Carneiro de Mendonça, depois do que visitaram o Sanatório de Messejana e a casa em que nasceu José de Alencar.

  • 12/Dezembro/1936- 'O Nordeste’ está publicando as palavras que Tristão de Ataíde enviou às professorandas de 1936, do Colégio da Imaculada Conceição, na qualidade de seu paraninfo.

  • 03/Janeiro/1937- No salão nobre do Colégio da Imaculada Conceição, o Pe. Huberto Rohden faz uma conferência sobre ‘O Divórcio’.

  • 04/Julho/1939- Morre, no Colégio da Imaculada Conceição, a Irmã Germana, aos 55 anos de vida religiosa no Ceará.

  • 15/Agosto/1940- O Colégio da Imaculada Conceição festeja o 75º aniversário de sua fundação (Bodas de Diamante).

Arquivo pessoal de Erna Verônica

  • 05/Dezembro/1940- Paraninfadas pelo jornalista Luís Sucupira, recebem diplomas de professoras, no Colégio da Imaculada Conceição, as senhorinhas Maria Iracema Gurgel Nogueira (oradora), Maria Carolina Cruz Andrade, Maria Lucila de Sousa Montenegro, Maria Laura Melo Machado, Rita Susana Siqueira, Maria José Macedo, Margarida Maria Oliveira, Lais Gentil Aguiar, Geraldite Costa Lima Ferreira, Maria Campos Menescal, Rosalina Nepomuceno, Maria Neísse Studart Montenegro, Maria Loura Melo Machado, Rita Susana Siqueira, Maria José Gentil Costa Sousa, Edméa de Alencar Arrais, Estelinha Nunes Cavalcante, Gerarda Castro e Silva, Maria Nilce Costa Lima Ferreira, Maria Sofia de Abreu Memória, Isa Dantas Morais, Iolanda Dias, Maria Forte da Silva, Maria Franklin de Andrade, Maria de Lourdes Evangelista, Rita Vieira, Cármem Gentil de AguiarNilda de Lucena Lopes, Luíza de Menezes Campos, Maria Antonieta Santiago Galeno, Maria Augusta Guimarães, Maria Roseli Sales, Maria Alice Alves, Maria do Carmo Ramos Lima, Maria Assunção SousaJulieta Alves TimbóMaria Juraci Campeio Bessa e Zilda Alexandre de Sousa.

  • 07/Dezembro/1941- Distribuição de diplomas de professoras às alunas que, este ano, concluíram o curso no Colégio da Imaculada Conceição.

  • 07/Dezembro/1942- No Colégio da Imaculada Conceição, 57 concludentes do curso recebem diplomas de professoras.

Arquivo pessoal de Erna Verônica

  • 13/Outubro/1943- Num festival do Colégio da Imaculada Conceição, o Dr. Mozart Pinto Damasceno faz sugestiva conferência sobre a ópera ‘O Guarani’.

  • 12/Abril/1944- A Associação Cultural Franco-Brasileira homenageia o Cel. Otávio Paranhos com um festival no Colégio da Imaculada Conceição. Oradores, o Pe. Dr. Misael Gomes e o Dr. Mozart Pinto.

  • 24/Agosto/1953- Morre, em Fortaleza, a Irmã Simas, da Congregação das Filhas de São Vicente (Irmãs de Caridade), que vinha exercendo há anos a função de diretora do Colégio da Imaculada Conceição.

  • 02/Maio/1955- O Colégio da Imaculada Conceição comemora as bodas de prata religiosas de sua superiora, a Irmã Lima.

  • 23/Junho/1965- O presidente Castelo Branco, participa, pela manhã, das comemorações do centenário do Colégio da Imaculada Conceição; inaugura, à tarde, a Praça Universitária; preside ao lançamento da edição centenária de ‘Iracema’ e assiste, à noite, no Teatro José de Alencar, à co-encenação da ‘Valsa Proibida’.


Arquivo pessoal de Erna Verônica

  • 23/Novembro/1965- Encontra-se em Fortaleza, para ministrar no auditório do Colégio da Imaculada Conceição, um curso de 4 dias sobre História Social do Brasil, o Prof. Pedro Calmon, reitor da Universidade do Brasil.

  • 28/Maio/1972- Com o apoio dos Clubes de Fortaleza, Ana Maria Bayma Kerth é escolhida Miss Ceará 1972. Tem 1,73m de altura, 18 anos e cursa o 2º ano do 2º grau no Colégio Imaculada ConceiçãoFoi eleita na residência do comerciante José Elias Bachá e a coroação foi no auditório da TV Ceará Canal 2.

Arquivo pessoal de Carlos Juaçaba

  • 11/Fevereiro/2005-  Instala-se, às 19h30min, em Fortaleza, a Academia Brasileira de Hagiologia - Abrhagi, em sessão solene no Colégio da Imaculada Conceição, na Avenida Santos Dumont nº 55, na Praça Figueira de MeloA solenidade é presidida pelo Bispo Emérito Dom José Bezerra Coutinho, presidente de honra da entidade.


Saiba mais sobre o Colégio AQUI e AQUI


Fontes: Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo e Revista do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) - 1955/1957/1958/1960 e 1961. Agradecimento especial ao amigo Ivan Gondim  

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Escola Honório Bezerra - Bairro Ellery




A escola está situada na Rua Capitão Nestor Góes ao lado da praça conhecida como a do chafariz. Nos primeiros anos de sua inauguração, foi a escola do bairro mais procurada pela qualidade do ensino e boa localização. Nos anos 60, um televisor preto e branco foi colocado na escola para que os moradores pudessem assistir a novelas e outros programas televisivos da época... 

A Escola Honório Bezerra foi fundada na gestão do Governador Virgílio Távora em 1964. O terreno de 800 metros quadrados de área foi doado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza e teve como patrono o engenheiro Honório Bezerra. É a mais antiga instituição de ensino do Bairro Ellery atendendo a quase 300 alunos (do 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental II e do Projeto Educação de Jovens e AdultosEJA I e II). 

O prédio...fizeram um anexo mal feito conforme podemos notar pelo meio fio da rua. Na foto existe uma janela retangular, que é onde ficava o aparelho de TV para as pessoas que não possuíam o aparelho em casa assistirem a programação. No espaço onde hoje estar o anexo, as pessoas colocavam bancos e cadeiras para ver televisão em preto e branco, que era um objeto de luxo nos idos de 1967. Morava a poucos metros desse Colégio e foi minha primeira escola.

Certamente o prédio original era mais bonito, cujo nome era GRUPO ESCOLAR HONÓRIO BEZERRA. Nessa esquina da escola dobravam à esquerda os ônibus da linha VILA ELLERY, os quais vinham do centro no sentido que estar o fusca. Já os ônibus da linha SANTA MARIA dobravam à direita na mesma esquina e seguiam juntos no mesmo traçado até o final das duas linhas que se dava junto ao trilho.



A Escola Possui:

  • 6 Salas de Aula
  • 1 Sala dos Professores
  • 1 Sala da Direção
  • 1 Sala da Coordenação
  • 1 Secretaria
  • 1 Laboratório de Informática
  • 1 Centro de Multimeios
  • 1 Cozinha
  • 1 Almoxarifado
  • 1 Depósito para Merenda Escolar
  • 2 Pátios
  • 3 Banheiros 




A Escola de Ensino Fundamental Honório Bezerra fica localizada na Rua Capitão Nestor Góes nº 400, região noroeste de Fortaleza, distante cerca de 3 km do centro comercial da capital cearense. As vias de acesso são as avenidas Sargento Hermínio, Olavo Bilac, Dr. Theberge, Padre Anchieta, Pasteur e a rua Barão do Crato.



Curiosidade:

Nos anos 60, o lazer das famílias era assistir TV em preto e branco na calçada da Escola Honório Bezerra¹. Com o crescimento do número de habitantes, surgiu a necessidade de se construir outros centros educativos. A Escola do Seu Firmino, de propriedade privada, surgiu logo em seguida. Porém, devido a problemas financeiros, fechou as portas há mais de 15 anos. Em 1974, é fundada a Escola Professor Martins de Aguiar que oferecia aulas de tele ensino da 1ª a 8ª séries. Dois anos após, foi inaugurado o Centro Interescolar de 1º Grau Dona Creusa do Carmo Rocha, para atender aos alunos da 5ª a 8ª séries com cursos profissionalizantes. Muitas dessas escolas cresceram e passaram a atender a outros públicos. Os exemplos mais conhecidos foram a Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Professor Martins de Aguiar, Escola Estadual de Ensino Profissionalizante Dona Creusa do Carmo Rocha, e Escola Municipal de Ensino Fundamental Faustino de Albuquerque.




No bairro Ellery, ainda há três Centros de Educação Infantil (Creche Favo de Mel, Creche da Escola Martins de Aguiar e Instituto Dr. Rocha Lima) e duas escolas particulares (Centro Educacional São Mateus; e Colégio Santa Rita). Entre os anos 80 e 90, a comunidade passou por uma transformação: ruas e avenidas foram asfaltadas e ampliadas; o saneamento básico, instalado; lojas, construídas; outros serviços, oferecidos. Nesse período, foram inauguradas a Associação de Moradores, Associação Cristã, além do Posto de Saúde Dr. Paulo de Melo Machado. A época era propícia para as oportunidades de trabalho. Era comum as empresas Brasil Oiticica (fábrica de castanha), Mecesa (metalúrgica) e Thomás Pompeu (tecelagem) contratarem mão de obra local. Hoje a maioria foi reinstalada em outros endereços. O desenvolvimento trouxe também os problemas urbanos. Uma delegacia e um Fórum de Pequenas Causas foram instalados na tentativa de conter a violência que é hoje um dos maiores problemas enfrentados pelos moradores. O bairro é conhecido por ser um dos mais perigosos da capital cearense, com alto índice de homicídios e de jovens viciados em drogas.



Eduardo Girão diz: "O bairro Ellery surgiu na década de 40 de um loteamento chamado Parque Timóteo. Nessa época, existia nas proximidades da Av. Sargento Hermínio apenas uma vereda que ligava os bairros Monte Castelo e Presidente Kennedy, passando pela Av. Olavo Bilac. A maioria das famílias começava a fixar residência e vinha do interior, por causa da seca, em busca de uma vida melhor na capital cearense. Já naquele tempo, o açude João Lopes transbordava alagando as terras da Vila Ellery e adjacências. O açude também servia de lazer para os moradores que tomavam banhos, pescavam e lavavam roupas. Hoje o açude passa por uma revitalização, pois se encontra poluído. As ruas eram veredas em meio ao mato. Cajueiros, azeitoneiras e pitombeiras compunham a paisagem. A maior parte das terras pertencia a família Ellery. Na década de 50, as áreas próximas ao açude começaram a ser loteadas. Os compradores com maior poder aquisitivo adquiriam os terrenos mais elevados, para escaparem das enchentes. Somente em 1956, a Vila Ellery passou a se chamar oficialmente bairro Ellery, por meio de decreto emitido pela Câmara de Vereadores, no governo do prefeito Acrísio Moreira da Rocha."

Salas de aula

Ainda hoje, alguns descendentes da família Ellery, reside no local. 
O Bairro Ellery tem de tudo um pouco, apesar de ser considerado um dos menores de Fortaleza (meio quilômetro quadrado de extensão), há supermercados, pracinhas, lojas, restaurantes, escolas, etc. De lá para cá, o número de habitantes cresceu, já são oito mil moradores. Gente simples e trabalhadora que gosta de bater papo com os vizinhos nas calçadas e não perde o bom humor nem com os problemas da comunidade.

Sala de Informática

A rádio da escola

¹Por volta de 1969, o lazer diário era a ida das famílias assistir a TV pública, em preto-e-branco, que ficava no prédio do Grupo Escolar Honório Bezerra. Iam assistir novelas e programas como a “Família Trapo”. 



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Escola Normal do Ceará - De 1884 à 1922 (Parte II)



Em 1889, pelo Regulamento de 9 de outubro, novas alterações são implantadas,como a duração de três anos do Curso, antes de dois anos, a introdução do curso preparatório e, aparecendo a Instrução Moral e Cívica, os trabalhos manuais, música e desenho. Estabelece-se também a gratificação para Diretor¹.



Pelo Regulamento de 3 de setembro de 1896, extingue-se o curso preparatório, o Curso passa a ser de treze cadeiras, três a mais que o anterior, com a introdução de “Noções de Litteratura”, “Gymnastica” e noções de Psicologia na cadeira de Pedagogia. O ensino não poderia mais ser feito somente através da memorização, por isso foram proibidas as apostilas e as “licções dictadas”, esse deverá ser feito por meio das lições orais “seguidas de interrogações ou de exercícios práticos”



O ensino deverá ser, sempre que possível, intuitivo, das coisas. Em relação ao corpo docente da Escola, estabelece que os professores serão providos por concurso e que serão vitalícios. Nova reforma acontecerá em 1899, e vem trazendo “ligeiras mudanças, dentro do mesmo quadro de comportamento, mostrando que se trata de um só organizador [José de Barcellos], que tenta,experimenta, analisa e conclui visando uma finalidade – a formação segura eeficiente do mestre.” (Sousa, s/d: 115).


As Normalistas

Novo Regulamento surge em 1911, trazendo de volta o curso preparatório. Novamente o cotidiano da Escola continua seu ritmo em meio às tensões político-sociais vivenciadas pelos cearenses. Em 16 de julho de 1912, o Diretor Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho acusa recebimento de ofício do Tenente Coronel Marcos Franco Rabello que, em 14 do mesmo mês comunica haver assumido a presidência do estado para o quadriênio de 1912-1916. Marcos Franco Rabello sucedeu o governo de Antonio Pinto Nogueira Accioly que, após insurreição popular, foi deportado para o Rio de Janeiro, na manhã de 25 de janeiro de 1912. O acontecimento marcou o fim da oligarquia Accioly no Ceará e explica, o afastamento de Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho, cunhado de Accioly, da Diretoria da Escola Normal


Normalistas em passeio na Praia de Iracema em 1938

A sexta reforma da Escola Normal do Ceará tem origem com o projeto regulamentar de João Hippolyto de Azevedo e Sá, e foi expedido em 14 de novembro de 1918. Por essa proposta, a Escola Normal passa a ser o palco das novas idéias pedagógicas. No início do século XX, o debate pela modernização do ensino recebia nova ênfase na reformulação curricular da Escola Normal do Ceará, sob a influência da nascente industrialização, trazendo implicação direta na formação da mulher cearense. Em fins dos anos 10, por ocasião de uma das tantas reformas da Escola, seu currículo assume características tipicamente modernas com a inclusão de disciplinas como “Dactylographia”, “Stenographia”, Inglês e noções de escrituração mercantil”.




Com a I Guerra Mundial (1914-1918), há um maior desenvolvimento da indústria nacional, em virtude da queda nas exportações dos países “envolvidos diretamente no conflito”, desenvolvimento esse combatido pela facção ruralista que insistia numa sociedade agrário-exportadora tendo no café sua principal base de sustentação econômica. “As oligarquias desejavam, a todo custo, segurar a própria história!” (Ghiraldelli Jr., 1987: 26). Contraditoriamente, a expansão cafeeira gera o capital necessário ao incremento industrial que se manifesta, principalmente, na indústria têxtil e alimentícia. 




No campo educacional, as ideias escola novistas se consubstanciam nas reformas educacionais por todo o país, na década de 20. Tais ideias culminam, no Brasil, no movimento que se denominou de “otimismo pedagógico”, caracterizado pela “reestruturação interna das escolas, as mudanças dos conteúdos e métodos pedagógicos, a introdução de técnicas pedagógicas condizentes com a moderna psicologia, etc.” (Ghiraldelli Jr., 1987: 31).




No Ceará, na década de 1920, as novas idéias pedagógicas se manifestam e se consubstanciam no fio condutor dos estudos encetados pelo curso de formação de professores conduzido pela Escola Normal do Estado. Trazido por aqueles que sentiam a necessidade de reforma do ensino, e que acreditavam que essa deveria se dar à luz do novo pensamento pedagógico implementado através do curso normal, tal pensamento aliado à ação especialmente dos professores da Escola e de seu Diretor João Hippolyto de Azevedo e Sá, apoiados pela presidência estadual, teve o poder de incrementar a formação de professores e desencadear a expansão e aperfeiçoamento do ensino elementar através da figura de Lourenço Filho ².




Com a reforma de 1922, a Escola Normal do Ceará ganha novo prédio e passa a funcionar na parte de suas instalações inaugurada em 1923, na Praça Filgueira de Melo. Essa reforma introduziu novos métodos de ensino e novos fundamentos pedagógicos, além da Escola Modelo, o laboratório onde as normalistas desenvolviam a pedagogia experimental. 




A constituição da Escola Normal cearense, após a abertura de muitos arquivos, mostrou-se um processo tortuoso, pontuado por inúmeras reformas e dificuldades de concretização do ideário modernizador inscrito no projeto de criação, manutenção, expansão daquela Escola de formação de professores.




¹ Enquanto na Escola Normal, os trabalhos continuavam no ritmo de suas normatizações e reformas pedagógicas e administrativas, no Brasil a ideia de República ia se fortalecendo e encaminhando-se para sua implantação. No Ceará, a luta pelo poder ia se travando entre diferentes facções políticas que, longe de amparar-se ideologicamente nas novas ideias, buscavam formas antigas de barganhar o poder. Favorecidos pelo sistema federativo com uma maior autonomia na política local, “antigos grupos oligárquicos do Império ... continuam disputando entre si o controle do governo do Estado” (Porto, s/d: 34).

 ² Sobre a Reforma de 1922, ver o Estudo de Cavalcante (2000), onde a autora revela a descoberta de novos arquivos para uma releitura da reforma que ficou conhecida pela historiografia brasileira como a Reforma Lourenço filho.





Reportagem produzida para o programa Conexões. Projeto PETv.
Reportagem - William Santos
Produção - Rosana Reis
Edição - Saulo Lucas


Leia a Parte I
Crédito: Escola Normal do Ceará: impasses de criação e a tônica reformista - Maria Goretti Lopes Pereira e Silva e http://petvufc.blogspot.com.br

domingo, 2 de dezembro de 2012

Escola Normal do Ceará - De 1884 à 1922 (Parte I)


As primeiras iniciativas de constituição da Escola Normal da província do Ceará, aconteceu já no governo de José Martiniano Pereira de Alencar, em 1837, demonstração do real interesse dos cearenses na formação de seu professorado, quando o referido presidente criou, pela Lei nº 91 de 5 de outubro, uma escola normal, que não veio a se efetivar em virtude das precárias condições financeiras da província. Vale lembrar que a partir de 1834, com o Ato Adicional, o governo central delegou às províncias a responsabilidade com a instrução popular, eximindo-se completamente de assumir o ensino primário e, por conseguinte, o ensino normal.


Retornando ao Ceará em 1840, para um segundo governo, Alencar centraliza suas atenções às disputas políticas encetadas pelas oligarquias cearenses e, novamente, não encontra condições favoráveis à fundação da tão sonhada escola normal. Entretanto, o debate sobre a necessidade de formação do professorado continua, e as propostas de fundação de uma escola normal na Província atravessaram quase todo o dezenove, vindo a se concretizar somente ao seu final. Um dos principais debatedores da questão era o Senador Pompeu que, em meados do século, alertava para as péssimas condições da instrução pública no Ceará e da má preparação de seus professores. Segundo Castelo (1970) e Sousa (s/d), ainda nas décadas de 1850 e 1860, os relatórios de presidentes e diretores da instrução Pública continuavam afirmando que uma escola para a formação dos professores cearenses era uma necessidade premente, mas que a província não dispunha de condições financeiras para assumir tal despesa.  Frente a tais dificuldades, a Escola Normal do Ceará só viria a ser novamente criada ao final da segunda metade do século XIX, com a Lei nº 1790 de 28 de dezembro de 1878, que seria sancionada em 28 de dezembro de 1879 e teria o lançamento da pedra fundamental somente em 1881, fato que mereceu ser noticiado pelos principais jornais da época¹.  Esperaria a sociedade cearense mais alguns anos pela fundação da Escola Normal, pois essa só viria a ocorrer em 22 de março de 1884, nascendo, pois, a Escola Normal cearense em fins do século de afirmação, como diz Cordeiro (1997). Afirmação construída ao longo de uma história cheia de reveses, como a instabilidade climática, as disputas de terra, as lutas ideológicas e a disputa de poder tanto no nível nacional, quanto local  entre os grupos constituídos que, “buscavam a hegemonia local e projeção nacional” (Canezin, 1994: 9).



Fundada em princípios filosóficos e educacionais, defendidos por intelectuais da época, como Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho, os professores José de Barcellos e Amaro Cavalcanti, dentre outros, a Escola Normal  do Ceará concretiza, oficialmente, ao final do século XIX os anseios de igualdade, mesmo que fosse de uma “igualdade formal”, presentes na ideia de criação de uma escola pública de formação de professores.  O curso destinava-se a pessoas de ambos os sexos, brasileiros ou estrangeiros, que houvessem sido aprovados em exames em nível de conhecimento correspondente ao ensino primário. Com uma organização curricular de cunho universal e intelectualista, enfatizava o conteúdo das disciplinas restringindo a formação docente à cadeira de Pedagogia.  Constava ainda da lei de criação da Escola, a garantia àqueles que adquirissem o diploma da Escola Normal o ingresso no magistério por nomeação sem a condição de submeter-se a concurso público.  Assim, os critérios de acesso à Escola Normal, segundo essa lei, permitiam a um amplo espectro de pessoas, a candidatura à formação magistério, e buscavam valorizar o Curso com a nomeação direta do normalista para o magistério público.



Vale ressaltar que ao longo das discussões acerca da necessidade de criação de uma escola normal, ações também foram sendo desenvolvidas no sentido de consolidar esse objetivo. Assim é que, em 1880, o professor Amaro Cavalcanti, em viagem aos EUA, foi comissionado para estudar o “systema de instrucção elementar”, daquele país apresentando amplo e diversificado relatório abrangendo o ensino desde o nível elementar até à formação de educadores no Curso Normal.  A seguir, em 1881, o professor José de Barcellos, que já estivera na Bahia, em 1866, para estudar a organização da Escola Normal daquela Província, foi enviado à Europa, onde iria “estudar os métodos e processos do ensino primário aplicáveis à Pronvíncia” (Valdez, 1952: 170-5).

Fundada a Escola em 1884, essa passa a funcionar com base no Regulamento da Instrução Pública de 1881, até que em 1885 teve expedido seu primeiro Regulamento, em 26 de junho. Contudo, nasce a Escola Normal com prédio próprio,  isto é, um prédio construído especialmente para sua instalação, inclusive com duas escolas anexas para a prática das professorandas, uma do sexo feminino e outra do sexo masculino, segundo noticia o jornal O Cearense de 21 e 23 de março de 1884.  Conforme análise do arquiteto Machado (1988), mais de cem anos depois, portanto, a arquitetura do prédio revela o ecletismo de estilos, que utilizam materiais ornamentais, sinalizadores da modernidade, como o vidro e o ferro, e ao mesmo tempo conserva ares de distinção e nobreza próprios dos tempos coloniais.   É importante lembrar, como faz Nosella (1996), que a arquitetura do prédio também traduz formas de pensar, formas de ver o mundo; traduz concepções de sua época. Assim, o prédio da Escola Normal cearense já assumia ares de distinção próprios daqueles que pertenciam ao mundo letrado.

Ao descrever o prédio da Escola Normal, os jornais nos oferecem outra possibilidade de leitura, ou seja, do ponto de vista da relação desse espaço social com o restante da sociedade, isto é, a separação entre o espaço da Escola e sua vizinhança, feita através de muros e grades,  que lhe confere ares de “respeitabilidade e prestígio” próprios do mundo da ciência que só à escola compete desvendar.  Em meio aos movimentos pela libertação da escravatura na Província, a inauguração da Escola Normal constituiu-se “um augúrio do evento excepcional que conferiria ao Ceará o honroso título de Terra da Luz (Castelo, 1970: 195)²



É interessante salientar o fato da Escola Normal do Ceará ter mantida sua continuidade de funcionamento desde que foi criada, diferentemente de tantas outras escolas normais brasileiras, muito embora o afã reformista de seus instituidores tenha lhe proporcionado inúmeras mudanças. Estas vão desde a estrutura curricular, passando por alterações na duração do curso e de seu nome, até à construção de um novo prédio em 1923.  As primeiras modificações surgem já em relação à lei de 1878, com a substituição das cadeiras de Filosofia e Física e a introdução da cadeira de Ciências Naturais.  Apesar das modificações, o Curso, que se propunha a ser profissionalizante, tem como base uma organização curricular propedêutica, centrada nas grandes áreas de conhecimento, o que sugere a concepção de profissionalização do magistério à época, que tinha por fundamento o domínio de conhecimentos universais.   

Já no primeiro Regulamento, de 26 de junho de 1885, acrescenta-se uma nova cadeira ao Curso; mais uma cadeira de formação geral,  a de Francês, passando seu currículo a constar de seis cadeiras: Geografia e História, Ciências Naturais, Matemática, Português, Francês e Pedagogia. Criou-se ainda, o cargo de Diretor da Escola Normal, cuja “nomeação recaiu sobre o professor de Pedagogia e metodologia, José de Barcellos, que no afanoso cargo não recebia nenhuma remuneração”. (Valdez, s/d: 176).

Continua...
                                                       
¹ Vale lembrar que a criação da Escola se dá em plena Grande Seca, no período de 1877-1879, considerada a mais catastrófica de todos os tempos. O livro de Rodolfo Teófilo 'A Fome' publicado pela primeira vez em 1890, relata com riqueza de detalhes as mazelas sofridas pelo sertanejo cearense ... A descrição de Rodolfo Teófilo, das cenas de vida e morte provocadas pelo flagelo que se abateu sobre o Ceará de 1877,  não difere da realidade retratada pelas matérias jornalísticas publicadas no referido ano. Em 1877, a seca torna-se o tema  a ser explorado pela imprensa local tendo em vista a calamidade provocada por esta.  O jornal O Cearense encontra-se quase que totalmente preenchido com notícias referente ao fato.

² “... em 25 de março de 1884, a capital [Fortaleza] abriu o coração e a alma para receber a ansiada Declaração da Liberdade. ... Não era uma lei que se decretava, era uma Declaração de Direito da Liberdade. ... Era sobretudo uma mensagem de fé dirigida ao Brasil, incentivo para que cobrasse mais ânimo para obter – o que somente quatro anos mais faria – destruição da escravatura, traduzida na Lei Áurea de 1888 (Girão, 1984: 171).   



Crédito: Escola Normal do Ceará: impasses de criação e a tônica reformista - Maria Goretti Lopes Pereira e Silva e http://petvufc.blogspot.com.br

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