Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Memórias de uma vida à beira-mar
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Memórias de uma vida à beira-mar


Mesmo com 93 anos de idade, Dona Neusa mantém o hábito de sentar no calçadão e olhar o mar. Na lembrança, histórias quando a avenida era uma das três ruas até o mar.
Apesar da idade avançada, que por vezes limita seu caminhar, a aposentada Neusa Miranda de Freitas não se priva da felicidade de, todas as manhãs, atravessar a Avenida Beira-Mar e contemplar o vasto oceano que se coloca à frente de sua porta e lhe traz boas e saudosas lembranças. “Hoje só faço olhar o mar, mas era a nossa diversão”, lembra. 

Desde seu nascimento na localidade de Boi Choco, hoje Volta da Jurema, como conta a aposentada, as águas salgadas do Mucuripe estiveram presentes nas horas de brincadeiras de infância, na vida de casada e, claro, no crescimento dos seis filhos. “Nadei muito ali, ia até longe. A gente fazia churrasco na adolescência”

Porém, como recorda, as ondas revoltas também foram responsáveis pela derrubada da primeira casa da família, que ficava bem na beira do mar. “Era tudo areia, mas tinha três ruas. A primeira era na praia. Lá ficava nossa casa, que o mar derrubou. A segunda era a Rua dos Pescadores, por onde passavam os caminhões para a construção do Porto do Mucuripe. Por fim, tinha a terceira, que é a Avenida Beira-Mar de hoje”.

Ao lado, a versão original da casa de dona Neusa em 1966.

Por conta desse percalço da natureza, dona Neusa explica que a solução foi a mudança com os pais para a Rua da Paz. “Minha mãe nunca se acostumou porque não dava para ver o mar”, observa. Depois disso, na década de 1960, o casório a levou para a morada de número 4558, em que no cômodo onde hoje há uma janela, ficava a mercearia do marido falecido, Luiz Gonzaga de Freitas

Desta época, a aposentada ainda tira da memória que a vizinhança era rodeada por casas de veraneio e das artimanhas usadas no período da Segunda Guerra Mundial. “A primeira casa de veraneio foi do general Manoel Teófilo. Durante a Guerra, as luzes ficavam apagadas para não chamar atenção dos aviões”


Dona Neusa em frente a residência, que resiste ao tempo e à especulação.
Em quase um século de vida, dona Neusa não deixa de lembrar detalhes e cumprimentar os conhecidos de longa e curta datas. Para se ter uma ideia, basta uma saída rápida de casa para que flanelinhas, moradores e frequentadores do calçadão desejem “bom dia” e falem com a aposentada. Diante de tantas demonstrações de afeto, pensar em se mudar nem passa pela cabeça, como diz.

Apesar, diga-se de passagem, da especulação imobiliária, das propostas de compra e da violência que não existia outrora e hoje pode ser presenciada de sua varanda. No entanto, dá para entender dona Neusa. Não é sempre que se tem o passado, a família, os amigos e o mar tão próximos. “Saudade nunca passa, né? Mas, aqui, sou muito querida”.


História do Bairro


Na década de 1930, a Praia do Mucuripe era o reduto de pescadores e de jovens. Dona Neusa é uma testemunha e protagonista dessa agitação.


Etimologicamente, em Tupi, Mucuripe significa Vale dos Mocós. Segundo relatos históricos, acredita-se que, em 1500, o navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón desembarcou nesse trecho antes da viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil e o batizou de Cabo de Santa Maria de La Concepción

Em 1501, André Gonçalves e Gonçalo Coelho chegaram à enseada do Mucuripe, tendo Américo Vespúcio na tripulação. Quando os holandeses desembarcaram no Ceará, em 1649, o bairro foi o porto de ancoragem da embarcação. Durante a consolidação de Fortaleza como cidade, em 1823, a enseada e a ponta do Mucuripe receberam fortes que completavam a estrutura militar do Forte de Nossa Senhora da Assunção. Ainda no século XX, foi construído o Farol, como apoio e complemento do Porto de Fortaleza e, em 1891, uma Estação de Trem.


No litoral, ainda não havia ocorrido processo de ocupação efetiva. Isso só acontece após 1950, sendo a Praia de Iracema a primeira. Livro "Caravelas, Jangadas e Navios" de Rodolfo Espínola.

Vila de pescadores, o bairro teve dois centros habitacionais: um à direita, onde foi construída a Igreja Nossa Senhora da Saúde e o segundo Cemitério público da cidade, e outro à esquerda do Riacho Maceió, em que houve a construção da Capela dos Pescadores. Nos anos 40 do século passado, ele foi escolhido como o local para o Porto. Já na década de 1950, deixou de ser um bairro de pescadores para expandir-se.
Janine Maia

Editado em 10/04/2015:

Em 08 de abril de 2015, o bairro do Mucuripe perde sua ilustre moradora, morre D. Neusa Miranda, no alto dos seus quase 100 anos. Com ela, perdemos tbm parte da história do bairro...
Meus pêsames aos filhos, netos, bisnetos e amigos! :(


Crédito: Diário do Nordeste
Fotos  D. Neuza: Alex Costa


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