Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Liceu
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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domingo, 20 de junho de 2010

O bonde (VII) - Prainha

Bonde em 1920

Depois que comecei a fixar lembranças sobre bondes, observo que ficou na minha retentiva uma sucessão homogênea e quase interminável de uma fisionomia arquitetônica da nossa cidade, onde se vêem comparadas as classes sociais alta, média e pobre numa sensível diferença na forma de habitação. Talvez tenha despertado em mim o desejo de rever outros locais como outras linhas de bondes entre os anos 1940/1950, embora sabendo que os bondes foram retirados de circulação em 1947, na gestão do prefeito Dr. Acrísio Moreira da Rocha, que ainda vivo pode contar a história com detalhes. Pois bem. Mesmo criança sempre tive meu “desconfiômetro” muito aguçado, procurando gravar o que mais poderia prender a atenção, o que pode causar intriga às pessoas dispersivas que não se incomodavam em tomar conhecimento do que se desenrolava ao seu redor. Mesmo porque sinto que não estou entre os que têm o poder de se acomodar só com a contemplação do etéreo.

Mas o agitado barulho dos bondes deixava aos ouvidos a visão tão nítida da trepidação no deslizar das rodas sobre os trilhos, aquele movimento do subir e descer que impulsionado pelo bonde dava a sensação de que estávamos seguindo sempre em linha reta com o olhar na paisagem que corria aos nossos olhos como uma cena cinematográfica.

Bonde na Avenida Pessoa Anta

Desta vez, vamos passear no “Bonde da Prainha”. Êta passeio bom! Vamos subir até a ladeira da rua Almirante Jaceguay em frente à Igreja do Seminário, na Praça Cristo Redentor, defronte hoje ao “Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura” e ver o grande vulto do Cristo Redentor, posicionado nas alturas para o lado sul da cidade, segurando o cetro (bastão) inerte, a olhar o oceano Atlântico e os seus navegantes a bordo trafegando nos navios, botes ou jangadas.

O bonde da Prainha no seu curto itinerário saía da Travessa Morada Nova, detrás da antiga Assembléia Legislativa do Ceará, hoje Museu do Ceará; dobrava à direita na rua Floriano Peixoto, entrando à direita na Travessa Crato e, depois, à esquerda na Av. Alberto Nepomuceno, passando em frente à Igreja da Sé - Catedral; dobrava à direita defronte à Secretaria da Fazenda, passando em frente ao antigo Café Gato Preto e à Companhia de Navegação Booth Line, na rua Pessoa Anta, cujo prédio, mais tarde, transformou-se na boite Tabaris, mais conhecida como lupanar do famoso Zé Tatá - cujo nome verdadeiro era José Vicente de Carvalho -, sobralense que elegeu nossa cidade para suas libações, abrigando em sua pensão odaliscas de diversos lugares do Ceará e também importadas do Maranhão, Pará e Piauí, que por aqui chegavam para iniciar sexualmente a rapaziada que, depois, se constituíam de pacientes dos enfermeiros Mundico - Dr. França - e Almeida; entrava à direita na Av. Jaceguay - ao lado da Capitania dos Portos, Praça Almirante Tamandaré e subia a ladeira até a Igreja do Seminário - Av. Monsenhor Tabosa, ao lado da Praça Cristo Redentor.

Ao lado direito (norte) da Praça Cristo Redentor, esquina com a ladeira da rua Almirante Jaceguay (leste), existia a linda chácara do gerente da Ceará Tramway Light & Power Cia. Ltda. - o engenheiro londrino Francis Reginald Hull - mais conhecido como Mister Hull - onde o bonde estacionava de frente para a Igreja da Prainha - e seminário diocesano de Fortaleza.

Esta foto foi encontrada num encarte contendo diversas fotos, oriundas do Arquivo do Nirez, de igrejas antigas de Fortaleza. Nesta aparece um bonde de uma das linhas da Prainha, que um dos consultados (gente da velha geração) afirmou ser Prainha-Seminário (o que faz sentido, pois o ponto final ficava próximo do Seminário, na Prainha). Dr. Zenilo Almada acha que não houve linha com essa denominação. A rua era a então Coronel Bezerril, hoje General Bezerril. A Praça ao lado chama-se General Tibúrcio, mais conhecida por Praça dos Leões devido a existência de duas belas esculturas encimando a escadaria de acesso da ou para Rua Sena Madureira. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, inaugurada no Século XVIII, é considerada a mais antiga de Fortaleza. A foto data de 1908. A edificação grande, ainda existente, era do então Hotel Brasil. A parede ao lado da palmeira é dos fundos da antiga Assembléia Legislativa. Entre o Hotel e a Assembléia divisa-se a Travessa Morada Nova, onde posteriormente passaram a trafegar bondes de outras linhas. Na época os bondes iam até mais adiante, ingressando na Rua Guilherme Rocha, parando ao lado da “Rotisserie”, acho que se chamava Palácio Brasil, entrando depois na Rua Floriano Peixoto rumo aos seus destinos. (Adolpho Quixadá)

O retorno era quase o mesmo percurso de ida. Ao chegar na Av. Alberto Nepomuceno, fazendo contorno pela Secretaria da Fazenda, passava em frente ao Quartel General da 10a Região Militar, Arquivo Público no mesmo local em que mais tarde foi edificado o Fórum Clóvis Beviláqua, hoje no bairro Edson Queiroz - Praça D. Pedro II; entrava na Travessa Crato, dobrava à direita na rua General Bezerril até alcançar a Travessa Morada Nova.

O nosso ilustre passageiro da linha do bonde - Prainha - não poderia deixar de ser o gerente da própria empresa - Ceará Tramway Light & Power Cia. Ltda., o nosso engenheiro Francis Reginald Hull - “Mister Hul”; - que durante longos anos gerenciou, aqui em nossa terra, os destinos da empresa, permanecendo por entre nós até o término do contrato que mantinha com a Prefeitura Municipal de Fortaleza - 1947, que é o mesmo ilustre Mister Hull que dá nome à grande Avenida Barro Vermelho, depois Antônio Bezerra - e hoje boa parte da avenida que liga a BR 222 à Caucaia.

Mister Hull permaneceu por muito tempo na gerência da Ceará Light, residindo na aprazível vivenda de dois pavimentos, com terreno esconso, cheio de plantações, com direito à passagem do Riacho Pajeú, na Praça Cristo Rei, esquina com Av. Jaceguay, início da rua do Seminário - hoje Av. Monsenhor Tabosa, cuja vivenda cercada por um lindo jardim, feericamente iluminado dando-nos a impressão de um palacete de Londres, com uma torre elevada e vetusta em forma de mirante, que servia como observatório aos estudos do Mister Hull. Segundo se comenta, Mister Hull era profundo conhecedor da meteorologia, da climatografia nas suas variadas manifestações em nosso estado. Hoje, nesse local, após a demolição de vários prédios também suntuosos, veio dar origem ao Pólo de Cultura Dragão do Mar, fazendo-se um retrospecto dos prédios que circundaram a praça fazendo contornos, tinham fachadas e modelagens dos antigos casarões que não mais existem e tornam difícil retroceder ao passado, para se tipificar seus estilos antigos modernizados, atualizando com suas linhas arquitetônicas, distinguindo uma da outra, ou seja, o que era antigo continua antigo com a feição mais cuidada, conservando sua originalidade, enquanto o Pólo de Cultura Dragão do Mar obedece ao estilo moderno e atualizado sem se chocar com o já existente.

A torre da casa de Mister Hull

Nesta despretensiosa crônica à assessoria da Coelce, na pessoa da distinta senhora Ana Lúcia Girão, excelentes subsídios sobre a História da Energia do Ceará, do ilustre autor Ary Bezerra Leite e que nos traz muita elucidação.

“A Segunda Grande Guerra (1930/1945) impedira a importação de novos veículos e de peças de manutenção. Findo o conflito universal, dois anos após, em 1947, os bondes, sem energia suficiente para acioná-los e sem a indispensável manutenção mecânica, saíram de circulação”; E mais adiante conclui:

“E ninguém teve sequer a lembrança de criar um ‘Museu do Bonde’, de modo a registrar no contexto da História de Fortaleza, um dos seus mais interessantes capítulos. Até isso, todavia, o livro de Ary Leite consegue resgatar, em parte, através de preciosos documentos iconográficos obtidos junto a acervos das empresas sucessoras da Ceará Light e nos arquivos particulares dos herdeiros de Mr. Hull (História da Energia do Ceará - Ary Bezerra Leite).

Blanchard Girão - Memórias - escreveu “O Liceu e o Bonde”, excelente trabalho que faz parte indelevelmente do seu álbum de recordações da nossa cidade de Fortaleza nas décadas de 1930 e 1940 no período de sua infância e adolescência. Ele diz:

“O bonde que conheci era o ‘Tramway’, veículo movido a eletricidade, amplo, arejado, porquanto todo aberto, valendo-se de sanefas de listras verdes e brancas como proteção da chuva ou do sol mais intenso. Possuía dois estribos laterais, além de pára-choques na parte posterior - igual de ambos os lados, trocando-se, no final da linha, a lança condutora de energia e o lugar do motorneiro. De cor verde (houve um tempo, antes de mim, que teria sido branco), o bonde, além do nome de indicação do bairro, possuía uma lâmpada colorida que indicava o seu destino. Circulou de 1913, quando substituiu o bonde puxado a burro, até 1947”.

Também, caros leitores de suas memórias, me socorro para lembrar os chistosos “reclames” de remédios que por serem espirituosos provocavam risos, colocados na lateral interna do bonde, onde podia ser lido pelo passageiro.

Era comum ver-se a propaganda de certos vermífugos com a figura do Jeca Tatu, óleo de rícino, óleo de mamona ou carrapateira... Infoscal - iodo para o sangue, fósforo para o cérebro, cálcio para os nervos... O famodo “Óleo de Fígado de Bacalhau”, “Reconstituinte Silva Araújo”, “Pílulas de vida do Dr. Rossi, faz bem ao fígado e a todos nós, pequeninas mas resolvem”, “Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal...”; “Hum! Que calor! Que dia quente! Rim doente? Tome Urodonal e viva contente...”; “Os produtos Bayer - Se é Bayer, é bom”...; Pílulas de Reuther; “Licor de Cacau Xavier”. Cada um aplicado convenientemente na sua correspondente necessidade orgânica.


Se é Bayer, é bom

Melhoral, melhoral, é melhor e não faz mal

Para quem lia a espirituosa propaganda, por vezes, era natural quebrar o silêncio ou a sisudez que o passageiro pudesse ser portador.

Era de fato muito agradável passear nos bondes da nossa querida cidade nos idos anos de 1940, percorrer sem medo de ser importunado por qualquer “malfazejo” que se tivesse notícia, porque além do número resumido, eram todos conhecidos, não tinham ainda o aprimorado conhecimento nem a técnica hoje utilizada pelos malfeitores e estupradores, com requintes de perversidade, os perigosos drogados, que não vale à pena se perder tempo nem se ocupar em denunciar esse tipo de gente que não devia fazer parte da nossa coletividade. Tudo era tão calmo, até o vento “solteiro” e “brecheiro”, só conhecia a “Esquina do Pecado” (Major Facundo com Guilherme Rocha) Broadway, vindo do mar para alegrar as moças que por ali passavam segurando as saias rodadas que, com muito papo, se esvoaçavam com o vento e, subindo até a cabeça, dava por vezes a tão esperada “brecha”, que causava muita aflição às jovens que por ali transitavam. Por isso, as alunas da Escola Normal, Colégio da Imaculada Santa Cecília, Lourenço Filho, Colégio Americano e Liceu tinham a maior precaução e quando por ali volteavam, seguravam a saia com as duas mãos, embora a vaia uníssona dada pelos colegiais servisse para animar aquelas tardes no Centro da cidade, onde os “paqueradores” se postavam para dirigir galanteios dos mais variados gostos, uns mais espirituosos, outros de certo mau-gosto, ou humor negro, que muitas vezes eram por elas repelidos com certa veemência. Ah! Tempo bom, que hoje não trazes mais!

Estacionava nesse local uma figura considerada como “foco de atenção” - que se celebrizou por ser atraente seu escorreito linguajar, invejável semântica e perfeita adjetivação, causando certa dificuldade na compreensão da sinonímia, que a todos agradava por seus gestos e mímicas, dotados de certa puerilidade que algumas expressões pronunciadas de forma enfática, com imagens rebuscadas que se tornaram célebres - como esta, dirigida a um amigo que há muito tempo não o via, saiu-se assim: “Fulano, de onde vens, com essa palidez marmórea, saíste de alguma clausura?” De outra feita se dirigiu à Casa Elefante (loja de louças e utensílios domésticos) na rua Floriano Peixoto, de frente para o Palácio do Comércio, indagando ao vendedor mais antigo da loja, conhecido como “Siridó”: “Quanto custa um aparelho côncavo de ágata branca para micções noturnas?” Aí, Siridó responde: “Temos tamanho grande, médio e pequeno.” E conclui: “Se for para você mesmo é tamanho pequeno, mas se for para senhora sua mãe, talvez o grande ou o confortável ‘capitão’...”. Outra vez, na mercearia da esquina de sua casa, indaga ao bodegueiro: “Aqui tem uma substância cremosa, de cor amarelo ouro, com 50% de proteína, creme de leite, fermento lácteo e sal!, que o populacho chama de manteiga?” De outra feita, sentenciou: “Quando olhar no espelho e vir a minha cabeça fios de cabelos branco darei gritinhos de horror... envelheci, envelheci, envelheci...” E, assim por diante, a sua verbosidade.

Mas, quem melhor conheceu a verve desse ilustre personagem, O. A. D., autor de crônica, cujo título eram as iniciais do seu nome - “O. A. D.” -, cujo dito ao tomar conhecimento da divulgação da crônica chorou “mississipis e mississipis” de lágrimas, é o nosso amigo e memorialista de primeira água - Marciano Lopes, cuja revelação do nome verdadeiro, só ele poderia autorizar, porque essa publicação foi causa do rompimento até a morte do ilustre O. A. D. O mesmo residiu por mais de 40 anos no Rio de Janeiro, exercendo a função de museólogo, e nas horas de lazer desfilava na Av. Atlântica - Copacabana; por aqui esteve lançando livro muito festejado. Mas, tudo isso faz parte da nossa Fortaleza, cujos tipos folclóricos continuam a marcar época e, ao relembrar as pessoas que têm boa memória, por certo esboçarão no seu contentamento, largo sorriso dizendo: “Ah! A lembrança é vigilante e companheira da saudade que com ela vive, adormece, envelhece, mas não morre”...

Zenilo Almada Advogado

Travessa Morada Nova, detrás da antiga Assembléia Legislativa do Ceará - Esse logradouro era também ponto de partida de outras linhas, como a Praia de Iracema (ver em O Bonde - VI) e Aldeota (ver em O Bonde - VIII).

Ninguém teve sequer a lembrança de criar um ‘Museu do Bonde’ - Essa negligência quanto a preservar a memória dos bondes ocorreu não somente em Fortaleza, mas na maioria das cidades brasileiras que tiveram bondes. Uma excessão significativa é justamente o município que por mais tempo manteve o serviço efetivo - Santos -, que guardou seus veículos (ou parte deles) nas antigas instalações da Vila Matias, restaurando-os recentemente e reconstituindo alguns trechos de linha para um percurso turístico hoje em funcionamento (Ler em O Bonde). Reportando, ainda, à questão dos empecilhos e prejuízos em função dos bloqueios causados pelo conflito mundial, não há dúvida quanto à sua veracidade. Mas não há como não levarmos em conta, também, a falta de interesse em reerguer os sistemas de bondes após o fim da guerra, o que, muito provavelmente, poderia ser feito.

trocando-se, no final da linha, a lança condutora de energia - “Trocar a lança” - Entenda-se: virar a lança, ou mesmo: trocar a posição da lança. A lança - que foi o tipo de captador de energia adotado em Fortaleza (e em muitas outras cidades) - era girada ao contrário, de modo a ficar voltada para trás, quando se invertia o sentido de marcha. O motorneiro, este realmente mudava de lugar, pois passava a conduzir no controle da outra extremidade do bonde, que, nesse momento, deixava de ser a retaguarda para tornar-se a dianteira do veículo. Existiram, no entanto, em algumas cidades (ex.: São Paulo), bondes de maior comprimento que possuíam, de fato, duas lanças, dispostas em sentido contrário uma à outra. O. A. D. - Olavo de Alencar Dutra.


Veja também:


Crédito: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 23 de fevereiro de 2003


quinta-feira, 17 de junho de 2010

O bonde II - Bonde Jacarecanga

Enfim, como tudo na vida tem seu tempo certo, até para se amar e porque não dizer também para desamar, quando o espírito perde a força de voar e fica desasado, desolado . . . ou desazado no conceito do outro pelo descuido do amor. E, daí, só o tempo se encarrega de dar soluções para cada caso. Mas, voltemos ao Bonde e sua significação.
Do inglês BOND . . . Sin. bras. Veículo elétrico de transporte urbano, para passageiros ou carga, que se move sobre trilhos e pode ser fechado ou aberto, com estribo corrido e bem particular a este; elétrico. Bra. Gíria. Mau negócio; logro; mulher feia, sem atrativo; bofe, bagulho. Bras. Futebol. - Jogador ruim. - Comprar bonde. Bras. Gíria. - “Cair em conto do vigário”. Fazer mau negócio. - “Tomar o bonde errado”. Bras. Gíria. - Enganar-se quanto ao resultado de negócio ou aventura em cujo bom êxito se confiava muito; malograr-se, frustrar-se; errar de porta. E, por aí vai o anedotizar que para muitos casos tem sua aplicação adequada. Andar no bonde era acima de tudo uma forma de se distrair até alcançar o lugar desejado num transporte muito agradável em que quase todos se conheciam por serem residentes do mesmo bairro ou adjacências. Cumprimentavam-se, faziam trocas de gentilezas, “pagando a passagem um do outro” e, em alegre tom, dizia - “fulano a passagem está paga”. . . Já se sabia que o cobrador viria entregar o “cupom” que garantia o pagamento da passagem e era uma cortesia que se fazia ao amigo. Mas, ainda no bonde Jacarecanga, os liceistas (que tinham fama de insubordinados) que por vezes estavam sem o dinheiro para pagar a passagem e para lograr o condutor do bonde, entre si se combinava; um sentava-se mais atrás e o “sem dinheiro”, geralmente tipo loquaz, o segundo sentava mais à frente. - Quando o que sentava à frente pagava, e com a saída do cobrador dizia: “fulano já paguei”. Naturalmente, todos viam o gracejo e quando o cobrador se aproximava - o segundo dizia: “já foi paga”. Vinha em seguida a cobrança com a indagação: - “Quem pagou?” Até que o cobrador desconfiado chegasse ao local do pagador o bonde tinha percorrido boa parte do percurso, ou o itinerário chegado ao seu ponto final.
Foto do bonde elétrico da linha Joaquim Távora cheio de funcionários da Tramway. O trajeto desse bonde era: Major Facundo /Liberato Barroso/Floriano Peixoto/Pedro I (Igreja coração de Jesus)/Visconde Rio Branco onde ficava a garagem, almoxarifado e mecânica da empresa.  O bonde está passando em frente ao Foto Ribeiro, na Rua Major Facundo  (Pça. do Ferreira), em 1931. Cartão Postal distribuído pela Casa Crysanthemo.

O cobrador quando desabusado, tocava a sineta e parava o bonde. O liceista espreitando o condutor e galhofando exclamava: - “Vou descer, mas também fique certo, vou ‘enredar’ de sua conduta ao Mister Hull, para lhe botar para fora da empresa”, no que era seguido por fortes galhofadas e, para que reinasse a alegria, um generoso passageiro pagava a passagem . . . Isso é de estudante mesmo. . . outros trocavam de lugar no bonde até chegar ao Liceu, se vangloriando nas famosas bochechas no bonde, sempre pendurados nos estribos segurando nos balaústres, expostos ao perigo, mas se divertiam a valer, contando façanha. Como toda empresa estrangeira a Ceará Tramway Light & Power C. o LTD. que aqui obteve concessão para explorar as linhas, por aproximados 34 (trinta e quatro) anos não era diferente das demais empresas estrangeiras. Levava muito a sério suas obrigações, respeito aos direitos e deveres. Em tudo se podia observar o fiel cumprimento, a começar pelo horário de trabalho e exercício das suas atividades, pagamento dos salários e encargos aos funcionários. Quando se aproximava o tempo de finalizar o horário, 11 horas, colocava no frontispício do bonde - local indicativo do nome da linha - lia-se a palavra “recolher”. . . a não ser em dias especiais, fim de ano, carnaval, etc., se prolongava por mais tempo os horários. Assim, se tinha conhecimento do horário, já não pegava passageiro e nem parava nos pontos que costumeiramente desciam ou subiam passageiros. Sua retirada até a “Estação do Bonde”, ponto de recolhimento, era com rigor obedecida dentro do horário estabelecido. Se durante o trajeto apresentasse algum defeito era de imediato colocada placa indicativa - “Estação” - e substituído por outro elétrico. Dessa forma a cidade e os passageiros tomavam conhecimento das ocorrências com os bondes elétricos, porque os redobrados cuidados da empresa, credenciavam-na entre as mais sérias e tradicionais que explorava o ramo de transporte e fornecimento de energia elétrica. Nos anos 40 - tempo de guerra - houve em Fortaleza a hora do apagão - o blecaute, e todos sabiam o horário, tempo de duração para que pudessem se precaver da ausência de iluminação, e era observado com pontual critério. Talvez esse comportamento cuidadoso da Light com as coisas, negócios e obrigações, inspiraram a nossa admiração maior, deixando com a liquidação de suas atividades aqui na nossa Capital, lembrança que ainda machuca com a tristeza de ter deixado partir o bonde - condutor de singularidades hilariantes; portador das saudades que embeveceram um passado ainda não tão distante, mas constrange a lembrança por lamentar a perda de tão útil transporte - o bonde, transportador de alegrias. - No Rio de Janeiro - existiu, dentre outras linhas, a do “Bonde da Alegria”, que deu origem à marchinha carnavalesca que dizia: “A mulher do padeiro, trabalhava todo dia, só viajava no bonde da alegria. . . O padeiro coitado, deixou de fazer pão, não atendeu mais a sua freguesia. . .” (sem nenhuma alusão). Aqui o bonde atendeu com imponência a nossa população, transportando crianças, moços e velhos durante tanto tempo para os diversos bairros da Cidade. Hoje, num retrospecto dos fatos, rebuscando saudades que se misturam com as alegrias vividas, simbolizam verdadeira harmonia de contraste, porque tudo passou com o tempo deixando viva a lembrança a quem Deus concede o prêmio de não perder o juízo para caducar. . . virando criança de novo!!! 


Zenilo Almada Advogado


Veja também:



O bonde - Parte IV (Bonde Soares Moreno)
O bonde - Parte V (Bonde Benfica)
O bonde - Parte VI (Bonde Praia de Iracema)
O bonde - Parte VII (Bonde Prainha) 
O bonde - Parte VIII (Bonde Outeiro)
O bonde - Parte IX (Bonde Alagadiço)
O bonde - Parte X (Bonde Joaquim Távora)
O bonde - Parte XI (Bonde Prado)
O bonde - Parte XII (Bonde José Bonifácio)



Crédito: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 27 de outubro de 2002


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Juvenal Galeno - O poeta e sua casa


 Juvenal Galeno - (1836-1931)

Citado como "o pioneiro do folclore no Nordeste", a poesia romântica de Juvenal Galeno extrapola o lirismo de caráter pessoal, para cunhar uma dicção popular, de sabor interiorano, em que retrata o Brasil dos pequenos e dos simples.

Observador atento dos costumes do interior, do sertão às praias, Juvenal Galeno sempre quis ser um poeta popular, embora a afirmação de alguns historiadores de que tenha seguido orientação de Gonçalves Dias, quando de sua passagem pelo Ceará em 1859. O fato é que o primeiro livro do então jovem poeta, com 20 anos de idade, teria dado motivo a Gonçalves Dias para dizer-lhe que deveria seguir a poesia popular.


Família Juvenal Galeno Praia de Iracema

"Prelúdios Poéticos" é de 1856, livro típico do Romantismo, mas a indicação estética de que se valera Gonçalves Dias para orientar o jovem está lá, através de alguns poemas de sabor popular, como A Noite de São João, A Canção do Jangadeiro, Cantiga do Violeiro. Poesia simples, coloquial, a obra de Juvenal Galeno teria o seu ponto alto, já na maturidade do poeta, com o lançamento de Lendas e Canções Populares, de 1865, e com uma nova edição em 1892, acrescida de Novas Lendas e Canções.

Juvenal Galeno da Costa e Silva nasceu em Fortaleza no dia 27 de setembro de 1836, filho de próspero agricultor José Antônio da Costa e Silva. Os primeiros estudos foram feitos em Pacatuba e Aracati. Estudou Humanidades no Liceu do Ceará, já em Fortaleza.


Estamos em 30 de setembro de 1936, ocasião da inauguração da Herma de Juvenal Galeno, na Praça Visconde de Pelotas, atual Praça Clóvis Beviláqua. Discursando, temos Perboyre e Silva.

O pai queria o filho trabalhando na área agrícola e por isso o manda estudar "assuntos de lavoura" no Rio de Janeiro, de preferência em fazendas de café. Ao se tornar amigo de Paula Brito, proprietário da famosa tipografia na época, chegou a conhecer Machado de Assis, Quintino Bocaiúva e Joaquim Manuel de Macedo. E sua colaboração literária não tardou a aparecer na revista Marmota Fluminense, onde escrevia Machado de Assis. Quando volta ao Ceará, Juvenal Galeno traz impresso o seu primeiro livro de poemas, feito na Tipografia Americana, do Rio. As críticas são favoráveis, apontando Mário Linhares e Antônio Sales como sendo Prelúdios Poéticos "o marco inicial da literatura cearense".

Um dos fundadores do Instituto da Ceará, Patrono da Cadeira nº 23 da Academia Cearense de Letras, Juvenal Galeno, ainda em vida, vê as duas filhas, Henriqueta e Juliana, criarem a Casa Juvenal Galeno, dedicada a assuntos literários e culturais. O poeta, que ficara cego em 1906, por causa de um glaucoma, morre de uremia em Fortaleza no dia 7 de março de 1931, aos 95 anos de idade.


10 de maio 1936 - Homenagem prestada à memória de Juvenal Galeno, realizada pelos pescadores e jangadeiros cearenses ao seu eterno cantor.

Em 30 de março de 1952, os jangadeiros cearenses homenagearam a memoria de Juvenal Galeno, promovendo tocante solenidade em plena Praia de Iracema.

Obras:

A Machadada, poesia, 1860

Ao imperador em sua partida para a guerra, poesia, 1872

Canções da Escola, poesia, 1971

Cantigas Populares, poesia, 1969

Cenas cearenses, 1871

Cenas Populares, poesia, 1971

Evaristo Ferreira da Veiga, poesia

Folhetins de Silvanos, poesia, 1891

Lenda e Canções Populares, poesia, 1865

Lira Cearense, poesia, 1972

Medicina caseira, 1897

Novas canções populares, s/d

O eleitor, s/d

O Peregrino, 1862

Porangaba, poesia, 1961

Prelúdios Poéticos, poesia, 1856

Quem com Ferro Fere, com Ferro Será Ferido,teatro, 1861




Juvenal Galeno: o poeta na velhice. Cegueira não o impediu de produzir "Cantigas populares"
ACERVO DA CASA DE JUVENAL GALENO

Busto do poeta que antes esteve na Praça Clóvis Beviláqua - Acervo Casa Juvenal Galeno

Casa de Juvenal Galeno


27 de setembro 1919 - Fachada da Casa de Juvenal Galeno, fundada por Henriqueta Galeno

Residência da tradição poética embalada por seu fundador, o poeta Juvenal Galeno (1836-1931), a casa é singela e resiste, com a força de suas duas bibliotecas, de sua pequena editora e de seus salões abertos a saraus e pelejas de cantadores e emboladores nordestinos, à cultura do espetáculo massivo.

Fundada em 27 de setembro de 1919, é uma instituição mantida pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), com objetivo de difundir e incentivar a cultura cearense. A Casa de Juvenal Galeno, dirigida por Amilcar Galeno, sempre foi um movimentado centro cultural da cidade. Nesta casa, o poeta Juvenal Galeno criou os seus sete filhos e viveu até morrer cego aos 95 anos.

Instalada à rua General Sampaio, 1128, a Casa de Juvenal Galeno, construída pelo poeta em 1888 e por ele transformada em centro de cultura em 1919, é um dos palcos mais antigos da nossa história cultural, que já recebeu personalidades como Rachel de Queiroz, Euclides da Cunha e, Patativa do Assaré que, marcado pelo encontro com seu poeta maior nos verdes anos, quis nesta casa receber a Medalha do Abolição, do Governo do Estado.


1919 - Fundação do  Salão Juvenal Galeno

A casa possui dez cômodos, onde abriga um valioso acervo bibliográfico, doado por Mozart Soriano Albuquerque, e a biblioteca do próprio Juvenal Galeno, que juntos totalizam seis mil volumes. Possui dois auditórios. O principal, chamado Juvenal Galeno, tem capacidade para 120 pessoas e dispõe de um pequeno palco com um piano de meia cauda e uma obra do pintor Otacílio Azevedo. O outro auditório – chamado Nenzinha Galeno - é ao ar livre, sombreado por frondosas mangueiras.


Salão Juvenal Galeno  


No corredor da entrada, duas estátuas de mármores recepcionam os visitantes – uma representa a música e a outra a maternidade. No salão de reuniões, há um mobiliário antigo e fotos dos escritores, poetas e sócios da instituição. Na biblioteca, existe uma escrivaninha de Juvenal Galeno e um móvel envidraçado onde estão guardados objetos de uso pessoal do poeta - criador da casa. Na sala de visita, cadeiras de palhinhas, mesas de mármore, espelhos e bustos de Goethe e Schiller decoram o ambiente.

 Auditório da Casa de Juvenal Galeno

Nos anos 30 e 40, viveu sua fase áurea, quando era frequentada por artistas, intelectuais e políticos que cultivavam o gosto pelas letras. Os saraus literários que animavam as noites da casa eram prestigiados por escritores famosos como Leonardo Mota, Quintino Cunha, Jader de Carvalho, Patativa do Assaré, Rachel de Queiroz, Fernandes Távora, Raimundo Girão, Moreira Campos, Mozart Soriano Albuquerque entre tantos outros. Entre estátuas e bustos de granitos, móveis coloniais, arquitetura esmeralda, jardim assombreado, a Casa de Juvenal de Galeno faz parte da memória cultural cearense.

Frontispício da Casa de Juvenal Galeno

Hoje, apesar da cidade ter ganho novos espaços culturais, ainda é palco de reuniões de trovadores, cordelistas e poetas, que utilizam os seus salões. Para lá convergem as seguintes entidades: Cooperativa de Cultura Ltda. (Coopecultura), Academia de Letras Municipais do Estado do Ceará (Almece), Ala Feminina da Casa Juvenal Galeno, Sindicato de Correspondentes de Rádio e Jornal do Ceará, Centro dos Cordelistas do Ceará (Cecordel), Comissão Cearense de Folclore, Clube dos Poetas Cearenses e o Grupo de Comunicação e Cultura.

Encontro de Patativa do Assaré com Juvenal Galeno:

Antônio Gonçalves da Silva (1909 - 2002) se fez e se descobriu poeta ainda menino, em Assaré. Foi ao Pará se aventurar como cantador, e voltou de lá batizado com o nome que o fez célebre: Patativa. Antes de se regressar para o Cariri, Patativa do Assaré pousou em Fortaleza. Na capital, fez uma visita que já se tornara obrigatória aos cultores da poesia tradicional, cantada, recitada ou impresso nos folhetos de cordel. "De volta ao Ceará, José Carvalho de Brito, que era muito amigo de Dra. Henriqueta Galeno, filha do afamado poeta Juvenal Galeno, me deu uma carta de recomendação para a Dra. Henriqueta Galeno. Eu, chegando aqui, entreguei a carta, ela leu e me recebeu no salão de Juvenal Galeno, como ela sempre recebeu um poeta de classe, um poeta de cultura, um poeta erudito", escreveu Patativa, em texto introdutório de seu "Ispinho e Fulô", de 1988.

Patativa, então com 20 anos, encontrou o dono da casa, já velho e cego, mais ainda produzindo suas obras derradeiras, que só encontrariam publicação após sua morte.


Recuperação da Casa de Juvenal Galeno




Como deixa claro no texto, Patativa foi recebido por Henriqueta (1887 - 1964). A filha de Juvenal Galeno (1836 - 1931) era uma mulher de ação, que antecipou tendências femininas. Ainda em 1918, formou-se em Direito; participava de discussões feministas, e, no ano seguinte, transformou a residência do pai num Salão, um centro de desenvolvimento cultural do Ceará. Criou e ali instalou o Centro de Estudos Juvenal Galeno, a ala feminina e a Editora Henriqueta Galeno - todos destinados sobretudo à literatura.

A ligação de Henriqueta Galeno a seu pai era mais que uma relação de sangue. Foi a parceira intelectual do escritor no final da vida. Quando Juvenal já perdera a visão, era ela que fazia as vezes de secretária. Diariamente, lia para ele jornais, revistas e livros. Enquanto ele criava e ditava, ela ficava responsável pela escrita de suas últimas obras. Pelas mãos de Henriqueta, Juvenal Galeno escreveu "Medicina Caseira" e "Cantigas Populares". Livros que só vieram a público em 1969, pela editora fundada pela filha. Foi ela que ocupou sua cadeira, a de número 23, na Academia Cearense de Letras. Foi ela quem estruturou na casa, um dos pilares da memória que mantém Galeno vivo.

Nos retratos da maturidade, Juvenal Galeno aparece como um homem de ar sereno, sapiente, de longas barbas brancas e olhos vazios. Partilhou a cegueira e a poesia com o grego Homero, mas a verdade é que ele passava a largo da imagem clássica do poeta. Filho de fazendeiros de Baturité, ligou-se ao romantismo como poeta e, mais tarde, redescobriu a poesia da tradição, dos artistas populares do Ceará. Abriu sua casa e a transformou num salão, em que recebia com especial atenção os poetas, fizessem eles seus versos com a pena ou com a voz e a memória.


Herma de Juvenal Galeno na Praça Visconde de Pelotas

Curiosidades

Fortaleza era ainda uma cidade pequena quando nasceu Juvenal Galeno, filho de José Antônio da Costa e Silva e Maria do Carmo Teófilo e Silva. Era o ano de 1936, e seus país moravam no número 66 da rua Formosa (hoje, Barão do Rio Branco), mesma rua onde anos mais tarde nasceria a Padaria Espiritual. Viveu em Aracati e lá fez parte de seus estudos. O pai, no entanto, não esperava que o filho se tornasse "doutor", antes, queria que seu único filho homem o sucedesse nos negócios da família e na administração das roças que possuía. No entanto, Galeno parecia ter outras idéias. Convenceu a família a mandá-lo para a capital do Império, para conhecer técnicas mais modernas de cultivo da terra. No Rio de Janeiro, aprendeu mais com os cultores do livro. Conheceu intelectuais, jornalistas, tipógrafos e escritores, e logo se tornou um deles. Conheceu os autores Machado de Assis e Joaquim Manuel de Macedo, e publicou poemas na mesma revista literária que os abrigava, a "Marmota fluminense".

Herma de Juvenal Galeno 
Em 30 de setembro de 1936, inaugura-se, na Praça de Pelotas (atual Praça Clóvis Beviláqua), a herma de Juvenal Galeno, obra do escultor italiano radicado em Fortaleza, Agostinho Balmes Odísio. Na ocasião, discursaram Sinobilino Pinheiro Maia "Sinó" e João Perboyre e Silva. Anos depois a herma foi retirada e levada para depósito da prefeitura, de onde a Casa de Juvenal Galeno foi buscar e colocou em seu jardim interno no dia 25/09/1984.

Foi de lá que Juvenal Galeno trouxe seu primeiro livro, "Prelúdios", um volume de poemas impresso as próprias custas. O pai perdeu as esperanças de encontrar nele seu sucessor. O filho poeta trouxe na bagagem duas cópias "ricamente encadernados, (...) afim de mais cativá-los", como escreve Barão de Studart em seu famoso perfil de Galeno.

De volta à Fortaleza, atuou na política e trabalhou como bibliotecário, enquanto dava continuidade aos seus escritos e pesquisas, publicando livros e colaborando para periódicos como "O Cearense", "Pedro II", "A Constituição" e a "Revista Popular" (RJ). A tendência dos românticos, de valorizarem a cultura no país, de suas raízes, nele se manifestou como um interesse pelos saberes e costumes da tradição popular, que décadas mais tarde seduziriam intelectuais como Mario de Andrade e Câmara Cascudo.



Em sua última imagem, Juvenal Galeno, sentado à rede, ditando seus derradeiros escritos para a filha, secretária e, mais tarde, editora Henriqueta Galeno. Na imagem, sua mulher, Maria do Carmo, assiste ao trabalho.



Jangada


Juvenal Galeno


Minha jangada de vela,

que vento queres levar?

tu queres vento da terra,

ou queres vento do mar?

Minha jangada de vela,

que vento queres levar?

Aqui no meio das ondas,

das verdes ondas do mar

és como que pensativa,

duvidosa a bordejar!

Saudades tens lá das praias,

queres na areia encalhar?

ou no meio do oceano

apraz-te as ondas sulca?

Minha jangada de vela,

que vento queres levar?




NOTA: Em 1920 este poema mais longo, com alguns versos a mais, foi usado como letra para a música JANGADA de Alberto Nepomuceno. Segue:

JANGADA
(1920)

Composição: Alberto Nepomuceno

Letra: Juvenal Galeno



Minha jangada de vela

Que vento queres levar?

Tu queres vento de terra

Ou queres vento do mar?

Minha jangada de vela

Que vento queres levar?

Aqui no meio das ondas

Das verdes ondas do mar

És como que pensativa

Duvidosa a bordejar!

Minha jangada de vela

Que vento queres levar?

Saudade tens lá das praias

Queres n’areia encalhar?

Ou no meio do oceano

Apraz-te as ondas sulcar?

Minha jangada de vela

Que vento queres levar?

Sobre as vagas, como a garça

Gosto de ver-te adejar

Ou qual donzela no prado

Resvalando a meditar

Ah! Minha jangada de vela

Que vento queres levar?

Cajueiro Pequenino

Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor,
À sombra das tuas folhas
Venho cantar meu amor,
Acompanhado somente
Da brisa pelo rumor,
Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor.

Tu és um sonho querido
De minha vida infantil,
Desde esse dia... me lembro...
Era uma aurora de abril,
Por entre verdes ervinhas
Nasceste todo gentil,
Cajueiro pequenino,
Meu lindo sonho infantil.

Que prazer quando encontrei-te
Nascendo junto ao meu lar!
— Este é meu, este defendo,
Ninguém mo venha arrancar –
Bradei e logo cuidadoso,
Contente fui te alimpar,
Cajueiro pequenino,
Meu companheiro do lar.

Cresceste... se eu te faltasse,
Que de ti seria, irmão?
Afogado nestes matos,
Morto à sede no verão...
Tu que foste sempre enfermo
Aqui neste ingrato chão!
Cajueiro pequenino,
Que de ti seria, irmão?

Cresceste... crescemos ambos,
Nossa amizade também;
Eras tu o meu enlevo,
O meu afeto o teu bem;
Se tu sofrias... eu, triste,
Chorava como... ninguém!
Cajueiro pequenino,
Por mim sofrias também!

Quando em casa me batiam,
Contava-te o meu penar;
Tu calado me escutavas,
Pois não podias falar;
Mas no teu semblante, amigo,
Mostravas grande pesar,
Cajueiro pequenino,
Nas horas do meu penar!

Após as dores... me vias
Brincando ledo e feliz
O-tempo-será e outros
Brinquedos que eu tanto quis!
Depois cismando a teu lado
Em muito verso que fiz...
Cajueiro pequenino,
Me vias brincar feliz!

Mas um dia... me ausentaram. .
Fui obrigado... parti!
Chorando beijei-te as folhas. . .
Quanta saudade senti!
Fui-me longe... muitos anos
Ausente pensei em ti...
Cajueiro pequenino,
Quando obrigado parti!

Agora volto, e te encontro
Carregadinho de flor!
Mas ainda tão pequeno,
Com muito mato ao redor...
Coitadinho, não cresceste
Por falta do meu amor,
Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor.



Juvenal Galeno é homenageado em rua da capital Alencarina:

Dentro das comemorações dos 84 anos do poeta Juvenal Galeno da Costa e Silva, é inaugurada no dia 27 de setembro de 1920, às 9 horas da manhã, a Rua Juvenal Galeno, pelo prefeito Godofredo Maciel e discurso de João Viana e Claro de Andrade. Iniciando na Praça Paula Pessoa (São Sebastião) em direção ao poente. É hoje o início da Avenida Bezerra de Menezes. Existe no Benfica outra Rua Juvenal Galeno.

 
27-09-1920 inauguração da Rua Juvenal Galeno (Hoje Bezerra de Menezes), em Fortaleza.



As duas fotos anteriores são da mesma casa, uma nos mostra a fachada e a outra, a lateral da casa. Fiz uma montagem com as duas fotos antigas para comprovar.

Ontem e Hoje
Ontem: Inauguração da antiga Rua Juvenal Galeno em 27 de setembro de 1920.
Hoje: Avenida Bezerra de Menezes em abril de 2014.


Fontes: Site da Secult, Jornais (OPovo e Diário), Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Site Oficial da Casa de Juvenal Galeno e pesquisas na internet

terça-feira, 30 de março de 2010

Fortaleza - Anos 40


Começaremos nossa viagem rumo aos anos 40 com essa magnífica fotografia (é o novo! rsrs) da Praia do Mucuripe - Ano de 1949.


Agora um raro postal da Ponte Metálica - Ano de 1946



Outra raridade é essa foto do Estádio Presidente Vargas( O P.V.) de 1940



Postal do Mucuripe - Anos 40



Imprensa Oficial década de 40



Por falar em fotos raras, essa é da Escola doméstica, situada na antiga rua Visconde de Cauype, hoje Avenida da Universidade.



Ed. Vitória - Anos 40



Postal da Praça do Ferreira - 1946



Praia de Iracema - 1946



Postal de 1940 vendo-se o Colégio Militar, na Av. Santos Dumont, a Igreja do Cristo Rei que está de costas na foto. O Colégio Militar, ainda sem piscinas e a praça ainda era apenas praça, sem o campo de futebol.



Vista da entrada do estádio Presidente Vargas o famoso PV, na déc. de 1940.



Solar de Luiz Moraes Correia, em Jacarecanga 'A Fortaleza dos anos 40' Uma das mais imponentes residências da cidade, precisamente na esquina da praca do Liceu com a Av. Francisco Sá olhando o jardim da casa de Pedro Philomeno Gomes.



Anos 40 - Abrigo Central edificado em 1942 e demolido em 1967



Outra foto do antigo Abrigo Central, agora um postal de 1949



R. Barão do Rio Branco, em 1941, vendo-se o ed. do London Bank



Prédio do IAPB, foto de 1943



Praia de Iracema - Década de 40



Postal de 1940 da Rua Major Facundo



Postal colorido a mão, Ed. São Luiz, 1940



Postal 1946 praia de Iracema



Igreja do Carmo - 1945



Estoril - Foto de 1940. Em 1943 ele foi o clube de veraneio da época


Fonte: Internet

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: