Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sábado, 25 de junho de 2011

Das antigas - O cotidiano que passava por uma rua



Praça José Alencar : este espaço bem traduzia os ares bucólicos e provincianos de uma Fortaleza só possível na memória - Acervo Marciano Lopes

Mas voltando a "vaca fria" - a Rádio Iracema, inaugurada nos altos de prédio de quatro (04) andares, considerado um dos mais altos arranha-céus da cidade de Fortaleza - Edifício com Loja de tecidos "Duas Américas", esquina da Rua Barão do Rio Branco com rua Guilherme Rocha. Mantinha auditório com capacidade para receber grandes astros e estrelas do Rádio brasileiro, inclusive Vicente Celestino, Dilu Melo, Emilinha Borba, Jararaca e Ratinho, Badu, Orlando Silva, Cauby Peixoto, Ataufo Alves, Nelson Gonçalves, Carmem Costa, Miltinho e outros, todos trazidos sob os auspícios do empresário Irapuan Lima - sem se falar na prata da casa, composta de uma plêiade de grandes interpretadores das mais belas páginas musicas jamais esquecidas por seus apreciadores.

Das iguarias

Pela Rua Guilherme Rocha existiu por muitos anos, esquina com a rua Senador Pompeu, a Padaria Palmeira do português Albano Ferreira da Silva, com doces, bolos e biscoitos. Chamava atenção por ter um enorme fiteiro de vidraça com prateleiras, fixado na parede lateral da padaria pelo lado da rua Guilherme Rocha, onde poderia ser visto por quem passasse ou entrasse para comprar o pão da tarde. De longe se sentia o agradável aroma do "pão sovado" ou "massa fina" ou ainda "pão de forma".
Na Padaria Palmeira, havia uma quadrinha escrita pelo proprietário: 

"A Padaria Palmeira
Tirou o primeiro lugar
Vende pão a Marinha
E o Colégio Militar
E a mais duas mil famílias
Em casa particular"

Ao cair da tarde, a maioria da freguesia se movimentava para regressar as suas residências e poder saborear o pão quente regado a uma boa manteiga de 1ª (primeira) qualidade, e o cujo café com leite complementava refeição.

Dos pescados

As pessoas que residiam nas imediações do centro da cidade, nas ruas Senador Pompeu, General Sampaio, 24 de Maio, Av. Tristão Gonçalves, Av. do Imperador, Princesa Isabel, Teresa Cristina, Padre Mororó, Agapito dos Santos até mais ou menos na Rua Conselheiro Estelita, também costumavam descer pela Alberto Nepomuceno em busca da Praia de Iracema para comprar peixe fresco: biquara, ariacó, cavala, alvacora ou albacora, pargo, cangulo, beijupirá, galo do alto; tudo nas suas respectivas épocas de pesca, também o molusco "polvo" e "lula" de apreciável preferência por quem consome mariscos, servido no almoço ou no jantar, por ser tratar de uma refeição frugal.

Os vendedores de pescados se posicionavam na Praia do Peixe, hoje Praia de Iracema, ou nas calçadas de antigos prédios centenários na Av. Alberto Nepomuceno, na Secretaria da Fazenda, sobrado da família Frota Machado, depois de propriedade do Sr. Bené de Castro e Dr. Alber Vasconcelos (D. Fernanda e D. Maria Esther).

Pontos comerciais

Ainda na rua Guilherme Rocha se localizavam as mais nobres residências e estabelecimentos comerciais, um desses, a Loja Guanabara, do Sr. Duarte, próximo à Sorveteria Cabana; sem se falar nas demais casas comerciais situadas no correr do primeiro quarteirão da Rua Guilherme Rocha, esquina da rua Major Facundo (lado direito em direção da rua Senador Pompeu): havia, dentre tantos, a Farmácia Francesa; seguia-se da Loja Ideal do Sr. Clovis Costa e sua irmã Alzira Costa. Estabelecimento Benjamin Angert ourivesaria, trabalhos de fino acabamento como colares de pedras preciosas e pulseiras; Relojoaria Sansão e Movado. No meio da quadra, a famosa Lanchonete Cearazinho; Relojoaria Cancão; Farmácia Conceição, esquina da Rua Barão do Rio Branco; antes de chegar na rua Senador Pompeu a Farmácia São José; e, Livraria José de Alencar do Sr. Estolano Polari Maia - Cônsul do Paraguai
.

Sorveteria Cabana de 1951 - Hoje no lugar da sorveteria, encontra-se a Loja Esmeralda -Nirez

Do lado esquerdo (ímpar) 1º primeiro quarteirão, esquina da Rua Major Facundo, havia a loja de tecidos Bradway, do Sr. Alberto Bardawil; Farmácia Santa Helena e, entrada para o pavimento superior do Clube do Advogado, Loja de Disco Vox, Gávea do Sr. Julio Coelho, Edésio Revistas e Jornais, Casa Americana, Casa Parente do Sr. Inácio Parente, Tarcísio Parente defronte Café Expresso

Imagens do passado

Padaria Palmeira no Centro da cidade - Fundada em 1908

No quarteirão da Rua Guilherme Rocha, entre as ruas Barão do Rio Branco e Senador Pompeu, com a demolição de vários prédios foi edificado o Edifício Beliza, defronte a Padaria Palmeira; seguiam-se de várias casas com pequeno comércio de ourivesaria e conserto de relógio, bares, depois a confeitaria Ritz do Sr. Luis Frota, Livraria e na esquina Mercearia Tabajara com produtos de cereais de 1ª qualidade.


Na mesma direção (direita de quem vai para o final da rua), na esquina o Bar Americano do Sr. Pedro Benício Sampaio, conhecido por vender caldo de cana e cajuína e em épocas do inverno, vendia canjica, pamonha, milho verde e o inesquecível aluá.

O que se dissipou

Na Praça José de Alencar, situava-se a escola de datilografia da Sra. Nenen Lopes, irmã do Desembargador Daniel Lopes, ao lado da Fênix Caxeiral, de uma quadra de basquetebol, depois Serraria Lopes, numa diagonal a Serraria Viana, até alcançar a Padaria Ideal dos irmãos J. Neto Brandão - Jaime João e Jorge Brandão.

Do mesmo lado na esquina, lado ímpar a casa do Dr. Newton Gonçalves, Cia. Cinemar, depois fabrica de gelo, casa do Dr. Periguari de Medeiros, José Emygio de Castro, Escola de Datilografia D. Albertina, bangalô que serviu de residência do Promotor Público - Vicente Silva Lima, em frente à Mansão que ocupava toda quadra pelo lado impar de propriedade do Abolicionista Alfredo Salgado, amigo do meu bisavô português Joaquim Dias da Rocha, cortada pela Vila Ipu, onde foram construídos varias casas.

Sombras de um crime

Na quadra seguinte as residências de João Diogo de Siqueira, Dr. Álvaro Andrade Neto, Sr. Sebastião Guimarães Costa com suas filhas Lais, Zaira e Nair Dias da Rocha Costa, Dês. Banhos Neto, Juvenil Hortêncio de Medeiros, do lado impar família do Dr. João Hipólito de Azevedo e Sá, D. Narcisa Cunha Borges mãe do Cel. Murilo Borges, ex-prefeito de Fortaleza, cujo casarão tinha uma escada externa pela Rua Padre Mororó local em que D. Narcisa Cunha, foi barbaramente assassinada por serviçal, comentado por toda cidade diante do horrendo e chocante episódio.

Entre as ruas Padre Mororó e Agapito dos Santos, existe ainda o sobrado que pertenceu ao Padre Hortêncio de Medeiros, depois funcionou a Procuradoria Geral da União. Finalmente na quadra entre Agapito dos Santos e Conselheiro Estelita, a suntuosa casa do Dr. João de Deus Cavalcante; o sobrado do estimado amigo Napoleão Bastos, D. Dulce e seus filhos Roberto, Gilka, Antonio Hercílio, Vera e Claudio; Dr. João Otavio Lobo, ilustre e humanitário médico pneumologista; Capelinha e Externato Jesus Maria José; bangalô do Sr. Cecil Salgado; Hospital São João, hoje Instituto Nacional do Seguro Social - INSS; chegando na esquina da rua Guilherme Rocha esquina com a Av. Philomeno Gomes, residência do Dr. Pedro Sampaio, avô da colunista e brilhante jornalista Regina Marshall.

Da arquitetura

Em frente existia o Palacete do Sr. Pedro Philomeno Ferreira Gomes, hoje Edifício Pedro Filomeno, proprietário da Fábrica de Tecidos São José, bem próximo da Aero Praia Hotel, vizinho a Escola de Aprendizes Marinheiros, defronte a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes. Separados pela Av. Tenente Lisboa, do Cemitério São João Batista e do primeiro Necrotério de Fortaleza, situado nos fundos do mencionado Cemitério ou ainda conhecida como Chácara do Sr. Cândido Maia - administrador por muitos anos do Cemitério.

Fábrica de Tecido São José

Assim terminava a Rua Guilherme Rocha (esquina que dar encontro com Av. Francisco Sá com Av. Filomeno Gomes, que seguindo na Av. Philomeno Gomes em direção (Sul) a Rua Carneiro da Cunha, existia a residência do Dr. Luis Moraes Correia, depois Serviços de Irrigação Federal.

Vizinho, residência do ex-governador Dr. Luis Flávio Marcilio; Seguindo a família Duarte Vidal, dos meus amigos Roberto Vidal e Maria Luiza pais do Juiz Federal José Silva Vidal; próximo ao internato Bom Pastor, cuja entrada sombria até chegar a capelinha, onde se refugiavam as pessoas que tinham desviado suas condutas e, para não causarem vergonha à família, ali permaneciam até cair no esquecimento da sociedade, que a boca miúda segredavam sigilosamente fato ocorrido, proferindo sob forma de "cochicho" ou "ao pé de ouvido", o que acontecera evitando que se propalasse ou transpirasse o desvirginamento de alguma moça que dera "passo errado" e punição vinha sob forma de expurgo familiar, para reparar o horroroso e repugnante cometimento de desonra ultrajando ou maculando o bom nome da família que deveria ser reparado, muitas vezes pagando com a própria vida.

Depois com o passar do tempo e, purgado a culpa as internas do Bom Pastor, retornavam aos lares, depois de terem recebidos cursos e aprendidos trabalhos manuais sob orientação das irmãs religiosas, dentre eles bordar, costurar, cerzir e outras atividades manuais.

Bom Pastor

Marcas da moral

Assim saíam para enfrentar a sociedade como quem deixa o cárcere de um presídio, e, por ter pago a pena pelo "mal cometido". Ocorria vezes, que o fruto deste amor proibido jamais poderia transpirar quem eram os verdadeiros pais da criança, evitando manchar o nome da família ou pais do inocente que não pedira para vir ao mundo e nem poderia pagar por erro cometido.

As moças fantasmas

Fato inusitado para época se relacionava no trajar das moças recolhidas no Bom Pastor; elas se cobriam de preto, lenço na cabeça, e, nas ocasiões das missas para freqüentar teriam que usar véu no rosto, impedindo sua visão a "olho nu" ou expondo-se aos olhares e reconhecimentos de pessoas que estavam nas missas e pudessem por ventura identificá-las. Tudo isso como forma de castigar a quem cometeu "erro de desonra".

A maior lembrança se prende a antiga Praça do Liceu ou Praça Fernandes Vieira, onde ainda hoje se encontra o mais tradicional Colégio do Ceará - Liceu, que teve início em 1845, hoje com 166 anos de existência, cuja praça presta honrosa homenagem ao grande mestre imortal da Academia Brasileira de Letras - Gustavo Barroso, historiador, escritor e poeta, que merecidamente lhe cabe tamanha honraria do nome da Praça, por ter elevado o nome do Ceará aos pícaros da glória.

Iniciando em direção ao bairro de Jacarecanga, teve o quadrilátero nos primórdios do Século XIX as mais elegantes residências que ainda hoje marcam a imponência de sua formação arquitetônica,

Rota da memória

Vale a pena recordar esta extensa rua do Centro de Fortaleza, que desde o primeiro quarteirão em direção da Praça do Ferreira, na saída do Jardim do Palácio da Luz. Assim a Rua Guilherme Rocha tinha, à época, no longo percurso, prédios de mais requintada arquitetura pertencente a gradas famílias, embalando um passado que reside, assim, em cada um de nós habitante dessa grande cidade de Fortaleza.


Fonte: Jornal Diário do Nordeste

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Das antigas - Um envelope de AAS



 Quando batia a fome e o mês estava depois do dia 15, tempo de não se ter mais nada na despensa, escondido da mãe o menino corria à farmacinha no banheiro para surrupiar os envelopes de AAS infantil. Uma “piulazinha” rósea, docinha! E mastigar três ou quatro resolvia o buraco no estômago.


O Ácido Acetilsalicílico enganava a roedeira e dava uma leseira madorna. Isso sem a mãe saber. Mas quando flagrava, a gritaria tomava conta. Dedo na boca do envenenado, ordem pra cuspir e uns sacolejados. “Quer ficar torto, morta fome? Já não basta comer pasta de dente. AAS num é Azedin, abestado”.


Mas é que havia dias miados, de não se ter uma catita. E ser invadido da fome é uma das coisas mais indizíveis de se desenhar. Só Descartes Gadelha. É tão escanchada a gastura que vai se perdendo o viço, o ânimo de bodejar! O andar cimenta e depois que passa o choro, você é quase fim.

Há um morrer mesmo vivo, consciência do ir se desmilinguindo. E talvez, por causa, quem vai padecendo é furtado da dignidade de ser gente. O corpo se curva, o olhar se submete e em qualquer canto o faminentu se encosta humilhado.

Havia na rua dos poucos Galaxies criaturas mais precisadas do que a casa dos seis irmãos. Uma embiricica também de muitas bocas que se distinguia pelo bucho quebrado, a pele amortalhada e as costelas de se contar. E um dos mirrados comia as paredes da própria casucha.

Raspava com a colher e ia enchendo a barriga de reboco. Diziam ter dentro do estômago uma lombriga que desordenava sua vontade na hora que a fome o estraçalhava. Um bregueço diferente dos caboclinhos descalços do calçamento da Tavares Iracema. Tinha o cabelo de fogo porque eram ruivos alguns de seus passados.

E fia uma cantilena, repetida por avô, que só quem não ia passar fome quando crescesse seria o menino ou a menina que estudasse pra ser gente. Era ruim ir pra escola vendo alma, meio tonto, com um chá de capim santo, mas a única chance de comer carne todos os dias quando chegasse depois do longe ano 2000.

Contar isto em texto, ou aos filhos corados, há um pouco de exagero no fabular. Talvez. Em dias de fartura, logo após o pagamento da aposentadoria dos velhos, se devorava tudo que chegava à despensa com uma voracidade de mundo se acabando.



Muitas vezes até atropelava sentir o gosto, tomar a língua. Mais olho que barriga. Quem comesse desembestado poderia ter a chance de uma segunda rodada. Era o desespero de sozinho tomar posse das duas coxas da galinha, ter o bife maior... Beber um refrigerante inteiro sem dividir com irmãos, avô, avó, bisavó, mãe e pai.


Há uma menina, senhora hoje, que quando ganhou uma Coca-Cola só pra ela estatelou-se desfalecida. Via na televisão toda hora, após os desenhos, no intervalo comercial das novelas... Nos pesadelos... Salivava com o caminhão que abastecia dia sim, dia não, a bodega do Seu Geraldo... Vivia cheirando as tampinhas reboladas nas coxias...


Coca-cola! Casco de vidro transparente com letras encarnadas... Alguém bonito bebendo sob o sol sem fome... Papai Noel... Tampinhas premiadas dos bonequinhos da Disney... Musiquinha impregnante... Desmaiou de tanto farnesim e a garrafa se quebrou.





Demitri Túlio
demitri@opovo.com.br

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Das antigas - Nos tempos do Café Wal-Can



Nos bons tempos, como se diz, existia no centro de Fortaleza um estabelecimento do famoso Café Wal-Can que moia e torrava café na hora, além de servir cafezinhos deliciosos.

Contam que um cidadão muito rico e conceituado na cidade também gostava de tomar um cafezinho ao pé do balcão. Porém, apesar do asseio da casa, com a louça esterilizada em caldeirão fervendo e tudo, ainda tinha um certo nojo. Assim, tomava um cuidado especial. Ao invés de levar a xícara à boca do modo como todo mundo faz, pela direita, ele virava a alça para a esquerda levando-a pelo lado contrário.

Um dia, um cidadão cheio de perebas no rosto (provavelmente catapora ou rubéola) vendo o modo de tomar café daquele senhor aproximou-se dele e falou: “Que coincidência, o senhor toma café igualzinho a mim, eu também faço assim!...”. 


 Wal-Can in Memorian

Gif de chá e café     Gif de chá e café   Gif de chá e café   Gif de chá e café 

A última notícia que tive de seu Ananias dava conta de uma tragédia. Fim dos anos oitenta. Tinha sido atropelado por um trem. Em um trilho perto da estação do Couto Fernandes. Entre a José Bastos e a João Pessoa. Tava melado. Troviscado. Cambaleante. Pisada em oito. Ombro pesado e idade avançada. Não deu conta da aproximação do Sonho Azul ou Sanhaçu. O maquinista tocou o apito. Apitou. Pôs a cabeça do lado de fora. Esgoelou-se como um João Batista. Acenou com o braço esquerdo, o direito. As duas mãos... Esmurrou a máquina como se a bicha fosse uma mula. Berrou, urrou que perdeu a voz. Por meses...Tava feito. Dizem que só soube que tinha morrido quando chegou lá no outro lado. Sóbrio, morrendo zera tudo, perguntou pelo chapéu. Preto. De massa. Trouxeram um amarrotado. Estranhou, mas agradeceu.

O velho Ananias era o vendedor de água do Porangabussu. Rodolfo Teófilo e arredores. Água de beber e de cozinhar. Tomar banho, lavar louça e roupa, era com a cacimba. Mamãe era cabreira com a água. No mesmo quintal tinha uma fossa. Dia daqueles, King, vira-lata que o vizinho capou para engordar, pulou e se afogou no cacimbão. Tava doido. Foi a deixa para vovô lacrar com cimento a boca do poço. Menino não chegava perto. Os micróbios da Raiva e alma do pé-duro ainda estariam lá. Mamãe inventava. Passamos a usar a bomba d'água da vizinha. De favor.

Fortaleza tinha dessas histórias. Nem todo mundo tinha Cagece. Era coisa pra gente bem de vida. Poucos na Tavares Iracema e redondezas. Água encanada, torneira, pia e descarga de banheiro eram luxo. Chuveiro? Ah! Sonho. Em preto e branco, a propaganda das duchas Coronas enchia-nos a imaginação. E tome o jingle.

''Duchas coronas, um banho de alegria, num mundo de água quente...''. O desejo do chuveiro elétrico. Távamos lá, cantarolando com um caneco de ''aseia'' na mão. Tibungo na bacia de flandres ou na tina meio lodenta. Banho de cuia. Banheiro com combogós cheios de buchas. Servia pra esfregar o ceroto que ficava detrás da orelha ou no cotovelo. O cubículo ficava voltado para o oitão da casa. De ferrolho e porta sambada. Ralo afogado em espuma de Palmolive. Pés na havaiana. Mamãe brigava se fôssemos descalços.

Seu Ananias chegava. Madrugava na porta do quintal. Quase na hora que os galos tavam tecendo manhãs que cheiravam a café Walcan. Um jogando o grito pr'outro. Encadeado. De terreiro em terreiro. Licença Tiago de Melo. - Dia dona Marieta. - Hein? Vovó era meio moca. Moléstia na adolescência. - Tô dando bom diaaa. - Ah, pro senhor também. Perdão, cada dia escuto mais ruim. - Quantos baldes? Falava com as mãos afuniladas na boca. - Encha os dois potes, o filtro, a quartinha e aquelas vasilhas. O diabo do cachorro tá me dando prejuízo. Fazia o serviço em minutos. Tava acostumado. As latas grandes, com um pedaço de pau no meio, carregavam muitos litros. Baldes com a marca do querosene Jacaré.

Todo dia se repetia a arrumação. Vovó pagava na hora. Quando apertava, ficava pro fim do mês. Como na bodega, o nome dela ia pra caderneta. Data de vencimento somavam as parcelas. Dava tudo certo. Se atrasasse, pedia mais dias. Não se preocupasse. Antes do dia quinze quitava. Prometia e honrava. Tinha que continuar tendo crédito. Muito menino.

E lá se ia o carroceiro. Carroça barril. Água de chafariz. Torneira feita com câmara de ar. Mangueira de três palmos amarrada por liga. Lembrava os documentos de um jumento. O veim ia ali, caminhando do lado esquerdo do animal. Ainda era cedo, tava descansado. - Rumbora burra. Thô, thô, thô... Buurra. Pra apressar o passo, chicote. Lapada. Ficava puto olhando pelo basculante. Judiação. Parava em outra casa, noutra, mais outra, noutra e dobrava a esquina.

Fim do dia. Dezoito horas. Hora do morcegaral. Seu Ananias fazia o caminho de volta. Cansado, vinha sentado na tábua que ficava de frente pro fiofó da égua. Vez por outra se abanava com o chapéu e soprava pelo nariz. Tentava se livrar dos ventos que a burra dava. Era um aviso. Depois dali, levantaria a calda. Tome bosta no calçamento. Um relógio. Se a chuva não lavasse, o sol se responsabilizava de transformar em estrume. - Oh, burra nojenta! Vai burra. Cutucava e iam.

Isso era em 74, 75...78. Digo isto porque em 1979 já tínhamos nos mudado para uma casa na José Bastos. Casa de conjunto. Espaçosa. Financiada pelo Bradesco. Armadilha. Nesta tinha água encanada. Menos um na freguesia de seu Ananias. Evoluímos. No banheiro-suíte tinha até bidê. Manca! Ficava horas e horas abrindo as torneiras pra ver o jato subir. Molhava o teto. Carões da mãe. - Tá pensando o quê? Que teu pai ta nadando em dinheiro? Tome puxão de orelha. Era tanta frescura que entrávamos para o ''toillete'' por uma porta que simulava ser parte do guarda-roupas ''embutido''. Tudo era novidade. Brincávamos de passagem secreta. Batman e de Agente 86. Maxuwell Smart.

Potes e filtros de barro nunca mais. Mamãe tinha feito um crediário na porta de casa. Comprara um SuperZon. A era da quartinha estava acabando. A novidade era água de torneira ''ozonizada''. Purificada. Adeus coadores de boca de pote. Nunca mais. Mamãe também tinha esperança que os buchos quebrados dos rebentos sumissem. Com eles as lombrigas e o prejuízo com remédio pra verme. Mas antes da casa na Zé Bastos o que bebíamos, mesmo, era água de carroça. Pesada na barriga. Falta de dinheiro. Governo escroto. 

Demitri Túlio - A carroça d'água (O Povo)



quarta-feira, 22 de junho de 2011

Waltério Alves Cavalcanti - Indústria alimentícia Wal-Can S/A


No relato emocionado do filho do empresário Waltério Cavalcanti , ele dizia:


 " O papai transformava tudo em ouro, era uma cabeça pensante,um homem de vários negócios,indiscutivel. Nos momentos de decidir para que rumo tomar,ele era decididamente unilateral, pensamentos agudos e rápidos.Tornou-se bem jovem, um promissor homem de negócio em nossa capital. Ele era um homem além de seu tempo.

Waltério Cavalcanti Filho

"Fui criança, cheguei a ter contentamentos. Tudo para mim parecia risos, alegria, felicidade. Porem ao chegar a minha idade de 11 anos , começou os primeiros passos de lutas contra o destino ,ele bateu a minha porta. Meu pai tinha naquela época seus 40 anos e que da mesma maneira bateu para ele o mesmo destino, foi rebaixado de categoria no seu emprego público e com isso veio os problemas financeiros e tirou o conforto humilde de nosso lar, ele não se conformou com o destino , para aliviar suas decepções procurou o alcool o qual não resolveu, findou seus sofrimentos aos 53 anos, e assim se foram 13 anos de amarguras. Naquela época eu estava com meus 11 anos e procurei emprego para conseguir algumas migalhas para amenisar os sofrimentos de minha mãe a qual agasalhava-se ao redor de seus 8 filhos.Ela esperava em resignação um dia melhor, mas isto custou muito tempo.


Aos 18 anos, consegui ser um mini comerciante, e aos 22 anos já tinha alguma coisa,ou seja uns trocados.Neste período meu pai veio à falecer,mas como já tinha algum
recurso, fiz o seu enterro com dignidade e com classe,fiquei cuidando de minha mãe, e meus irmãos que ainda lhe rodeavam. Pude acompanhar os estudos de meus irmãos até depois de formados. Tudo estava a contento e aos 35 anos jé era casado com minha Maliza e tinha uma prole de 6 filhos. Maria do Carmo cavalcanti,José Waldo cavalcanti,Maria Claudia cavalcanti, Maria Irene cavalcanti,Wilson cavalcanti,Maria valéria cavalcanti e logo depois o caçula Henrique Nelson Cavalcanti; Nesta altura de luta surge me um fracaço nos négocios,época da Guerra(1947). O pós-guerra trouxe tempos difíceis e, em 1948 ,Este era o tempo da “euforia” do café, provocada pelos altos preços pós-guerra, no mercado internacional.


Mas no ano de 1948 a coisa mudou, em 1950 já possuia carros do ano, consegui prédio para o meu negócio e em mais alguns anos consegui residência própria, transformei os meus comércios em industrias. Fiz patrimônio construindo a fábrica ampliando os negócios, a esta altura já me pesava nos ombros os meus 60 anos e me sentia realizado, procurei colocar na época filhos(as) e genros para darem sequência ao império que eu tinha conseguido. Agradeço sempre a Deus por tudo que conquistamos e vivemos, mesmos diante de desentendimentos ocorridos na época que me abalaram muito. Peço a ele que dê aos meus filhos a mesma coragem que fui possuidor, para que possam crescer em paz, pois com Deus tudo é possível."     
Waltério Alves cavalcanti


Embora não seja fácil encontrar uma classificação para as diferentes atividades relacionadas aos investimentos realizados naquela época por Waltério cavalcanti, o passo principal e decisivo foi a industrialização em grande escala de sua atividade relacionada com os alimentos. 


Assim surgia a Indústria alimentícia Wal-Can S/A e a história do café começou com a atividade industrial e a sua comercialização, por exemplo através de supermercados e sua frota de entrega de alimentos. (Veja Fotos)  A expansão dos negócios da industria,  a distribuição de produtos exclusivos no mercado cearense com a fabricação de produtos próprios, como café, colorífico, macarrão entre outros, e ainda o empacota grãos, foi formalizada e constituida pela presença de famíliares, pessoas públicas, políticos, amigos e clientes.

   Galpão central para exposição de produtos

 Saudação em agradecimentos aos presentes no evento

 Exposição do  Novo Macarrão Wal-Can


Filhos e amigos 

Sr.Waltério Cavalcanti e Sra. Maria Luiza (Maliza)


Fatos históricos

  • 02 de Maio de 1966 - Iniciada a demolição do Abrigo Central, na Praça do Ferreira, que diziam estar ameaçado de ruir.
    A
    Comércio e Indústria Brasileira de Engenharia Ltda - Cebel, firma vencedora da coleta de preços para execução da obra, usou até dinamite na demolição.
    Os jornais noticiaram com euforia a derrubada do "
    monstrengo", hoje escrevem-se matérias saudosistas a respeito do mesmo.
    No Abrigo Central existiam as paradas de ônibus, as reuniões profissionais discussão de classes, comentários em torno de esportes, política, música, enfim, todos os assuntos.
    Nos boxes funcionavam cafés como o
    Café Hawaí, Café Presidente e o Café Wal-Can, casas de merendas como a do famoso "Pedão" da bananada, livrarias como a do Alaor, vendas de selos de consumo, armarinhos, casas de vender discos como a "Discolândia", além dos boxes portáteis como a banca do Bondinho, do Holien, do Raimundo - este vendia diversas coisas, entre elas discos de Segunda mão e onde parte dos acervos discográficos do Arquivo Nirez e dos pesquisadores Christiano Câmara e Aldo Santiago de Freitas foram adquiridos.

  • 28 de Março de 1988  - As Indústrias Alimentícias Wal-Can S. A., vendem o prédio de sua fábrica, na Rua Capitão Gustavo nº 3552, São João do Tauape, em frente à praça do mercado, à Igreja Evangélica Assembléia de Deus Betesda - Ceará, que para ali muda-se no mesmo ano.*

  • 21 de Julho de 1988 - Falece em Fortaleza Waltério Alves Cavalcante, proprietário das indústrias Wal-Can, iniciada com um café expresso na esquina da Rua Floriano Peixoto nº 703 com Travessa São Francisco (hoje Rua Perboyre e Silva) nº 30.
Gif de chá e café   Gif de chá e café   Gif de chá e café
Gif de chá e café*Segundo Waltério Cavalcanti Filho, isso é uma grande inverdade, uma grande mentira! Segue o comentário:

[foto.JPG]"O PASTOR PRESIDENTE DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS BETESDA, RICARDO RODRIGUES GONDIM, JUNTO COM ALGUNS SÓCIO DAS INDUSTRIAS ALIMENTÍCIAS WAL-CAN S/A, SE REUNIRAM COM ADVOGADOS E FORJARAM UMA ATA DE ASSEMBLÉIA E DECIDIRAM ENTRES ELES EFETIVAR A VENDA DO PRÉDIO DAS INDUSTRIAS ALIMENTÍCIAS WAL-CAN S/A, QUE JÁ SE ENCONTRAVA SUB-JUDICE NO TJ-CE (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ),COM NOMEAÇÃO DE LIQUIDANTE DAS INDUSTRIAS NOMEADO JUDICIALMENTE QUE EFETIVOU RELATÓRIO AO JUIZO E QUANDO ENCONTROU O PEDIDO DE DIREITO DE PREFERÊNCIA, REQUISITADO POR WALTÉRIO CAVALCANTI FILHO, NO BOJO DOS AUTOS, PROFERIU O SEGUINTE PARECER. SE O ACIONISTA DE NOME WALTERIO CAVALCANTI FILHO, AINDA TINHA INTERESSE EM ADQUIRIR O PATRIMÔNIO DAS INDUSTRIAS ALIMENTÍCIAS WAL-CAN S/A, NAS SEGUINTES CONDIÇÕES, SE EU WALTERIO FICARIA COM TODAS AS DIVIDAS DA EMPRESA. EU WALTERIO CAVALCANTI FILHO, CONCORDEI COM AS CONDIÇÕES DO LIQUIDANTE, E SOLICITEI AO EXMO JUIZ DE DIREITO DA ÉPOCA PARA EXPEDIR GUIA DE DEPÓSITO JUDICIAL PARA QUE FOSSE POSSÍVEL SE CONCRETIZAR A VENDA, FOI ABERTO GUIA DE DEPÓSITO, O TJ-CE, LEVANTOU MEU DINHEIRO DO BANCO, E EU SOFRI POR LONGOS 28 (VINTE E OITO ANOS), LUTANDO NA JUSTIÇA PARA QUE ME ENTRGAR O QUE EU VALTERIO CAVALCANTI FILHO TERIA ADQUIRIDO EM COMPRA JUDICIAL PERANTE AO TJ-CE. DEPOIS DE TODOS ESSES ANOS, JÁ COM SETENÇA TRANSITO EM JULGADO, PELO TJ-CE, STJ, E STF DESDE 12 DE AGOSTO DE 2002,CONDENANDO OS RÉUS AO PAGAMENTO DAS PERDAS E DANOS A SEREM APURADOS EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA E INVERTENDO-SE O ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA EM 15% PARA PAGAMENTO AO CREDOR VALTERIO CAVALCANTI FILHO. ESTE É O FIM DO PROCESSO. HOJE AGRADEÇO A TJ-CE , STJ E STF E TAMBÉM A TODOS QUE PARTICIPARAM NESTE PROCESSO EM MEU FAVOR PARA QUE CHEGASSE AO FIM ESTA DEMANDA, OBRIGADO A TODOS. FORTALEZA, 05 DE JUNHO DE 2011."


Ele continua...

"O PASTOR RICARDO RODRIGUES GONDIM PRESIDENTE DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS BETESDA, FOI CONDENADO POR SENTENÇA TRANSITADO EM JULGADO DEFINITIVAMENTE PELO TJ-CE,STJ E STF A PAGAR AO PROPRIETÁRIO DAS INDUSTRIAS ALIMENTICIAS WAL-CAN S/A, EM FORTALEZA-CE, VALTERIO CAVALCANTI FILHO PELO ATO ILICITO QUE FORJOU JUNTO COM ALGUNS SÓCIOS DA EMPRESA ACIMA CITADA E ADVOGADOS, QUE SEM NENHUM ESCRUPULO FALSIFICARAM UMA ASSEMBLEIA GERAL COM A FINALIDADE DE EFETIVAR VENDA DOS IMÓVEIS DAS INDUSTRIAS ALIMENTÍCIAS WAL-CAN S/A, EM FAVOR DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS BETESDA,E EM DETRIMENTO DE MINHA PESSOA,VALTERIO CAVALCANTI FILHO, ACIONISTA E PROPRIETÁRIO DA EMPRESA ACIMA CITADA, QUE ADQUIRI JUDICIALMENTE O PATRIMÔNIO DA EMPRESA COM O EXERCÍCIO DO DIREITO DE PREFERÊNCIA A MAIS DE 1/4 DE SÉCULO PERANTE AO TJ-CE, PORQUE SOU FILHO,DIRETOR INDUSTRIAL,CONFORME ESTATUTO DA EMPRESA E HERDEIRO DE WALTERIO CAVALCANTI O (PATRIARCA DA FAMÍLIA) .HOJE A IGREJA ASSEMBLEIA DE DEUS BETESDA,ATRAVÉS DE SEU PRESIDENTE: PASTOR RICARDO RODRIGUES GONDIM,QUE SEM NENHUM CARÁTER E PROFANO (CARACTERIZADO POR IRREVERÊNCIA AO QUE É SAGRADO OU ÀQUILO QUE É POR TODOS RESPEITADO) NÃO RELATIVO A RELIGIÃO.E SIM (DEUS), ENCONTRAM-SE CONDENADOS A PAGAR AO CREDOR, COM A DEVOLUÇÃO DOS IMÓVEIS DAS INDUSTRIAS ALIMENTÍCIAS WAL-CAN S/A, E DEPOSITAR EM MEU FAVOR, CREDOR VALTERIO CAVALCANTI FILHO PAGAMENTO DAS PERDAS E DANOS SOFRIDAS POR MINHA PESSOA, POR TODOS ESSES ANOS. A IGREJA E O PASTOR RICARDO RODRIGUES GONDIM, TENTARAM JUNTO COM SEUS ADVOGADOS LUDIBRIAR AOS TRIBUNAIS DE FORTALEZA, TJ-CE AO STJ E STF,COMO SE A JUSTIÇA FOSSE UM JOGO DE ESPERTEZA. MAIS COM APRECIAÇÃO CORRETA DAS AUTORIDADES DOS TRIBUNAIS POR ONDE CORREU ESTE DEMORADO PROCESSO, NÃO TEVE O ÊXITO PRETENDIDO, TERMINANDO CONDENADOS, A IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS BETESDA E O PASTOR PRESIDENTE, RICARDO RODRIGUES GONDIM, AS INDENIZAÇÕES DE PERDAS E DANOS A SEREM APURADAS NA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA E INVERTANDO O ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA NO VALOR DE 15% DO VALOR DA CAUSA.
-VALOR DA 1ª PARCELA REFERENTE AO IMÓVEL QUE FOI UTILIZADO POR TODO ESSE ANOS, AVALIADO PELA FAZENDA ESTADUAL DO ESTADO DO CEARÁ FOI DE R$ 28.000.000,00 (VINTE E OITO MILHÕES DE REAIS), EM 16 DE NOVEMBRO DE 2009 ,E QUE DEVERAR SER ACRESCIDOS DE JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DETERMINADOS POR SENTENÇA EM 15%.SEGUIDOS DOS VALORES DA 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª E 7ª PARCELAS, QUE TAMBEM COMO DÍVIDAS DEVERAM SER APRESENTADAS EM JUIZO PARA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. DESDE LOGO AGRADEÇO AO TJ-CE (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ). POSTADO POR : VALTERIO CAVALCANTI FILHO. "

Parabéns ao herdeiro que conseguiu reaver seu patrimônio e parabéns ao TJ-Ce por ter feito justiça!

Gif de chá e café  Gif de chá e café  Gif de chá e café


Créditos: Wal-Can In Memória e Portal da história do Ceará


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Café Wal-Can - Abrigo Central




Naquele espaço retangular do terreno formado pelas ruas Guilherme Rocha, Pará, Floriano Peixoto e Major Facundo, foi construído o Abrigo Central, iniciativa do então Prefeito Acrísio Moreira da Rocha. Era um local onde se agrupavam políticos, torcedores de futebol e pessoas que ali se dirigiam para apanhar ônibus de vários bairros, e linhas que circulavam a Cidade, pela Empresa São Jorge, com destino a Praça São Sebastião (Mercado) depois Praça Paula Pessoa (Ruas Justiniano de Serpa, Dom Jerônimo) - Farias Brito, cujo local existiu o tradicional Jardim São José, mais conhecido como Jardim Japonês, da família Fujita (João Batista, Nisabro, Edmar, Francisco, Luzia e Maria José) que injustamente sofreram opressões com o "quebra-quebra" no tempo da 2ª Guerra Mundial de 1944.



Com a demolição da quadra da Praça do Ferreira ao lado do prédio da Intendência e demais casas comerciais (entre as ruas Floriano Peixoto e Major Facundo), na gestão do Prefeito Acrísio Moreira da Rocha, foi construído em 1949 - o Abrigo Central, num espaço da metade da quadra, entre a Rua Pará e Guilherme Rocha.


Passeata anunciando o lançamento do ano - O Café Wal-Can



No Abrigo Central, se instalaram vários boxes, tendo o centro, formato de meia lua, onde foram colocadas cadeiras, especialmente para servir de engraxataria; pelo lado direito, havia um boxe para venda de selos mercantis, bilhetes da Loteria Federal, Estadual, estampilhas, os quais eram colocados para aferição pela Secretaria da Fazenda nos livros próprios (mensalmente) e outros selos para requerimentos dirigidos às repartições federais, estaduais e municipais; em seguida o boxe do Café Hawaí; Café Presidente e o Café Wal-Can( De Waltério Cavalcanti); um boxe da Livraria Alaor; casas de discos conhecida como Discolândia e os boxes portáteis do Sr. Bodinho, do Sr. Raimundo e do Sr. Holien com variadas mercadorias; no lado esquerdo da Rua Pará - O Posto de carros de aluguéis - Posto Pará da Sra. Odete Porfírio Sampaio, com luxuosos carros de passeio que eram contratados previamente para sepultamento, casamento e batizados; e o preço obedecia a uma tabela especial, estabelecido pelo Sr. Maninho Câmara.
 Sr.Waltério Acompanhando de perto o trabalho de suas colaboradoras 


Sr.Waltério Cavalcanti, com clientes e amigos


Ainda no hall do Abrigo - o célebre e inesquecível "Pedão da Bananada" e os famosos sanduíches , cognominados "espera-me no Céu" e "cai duro", e comprando um, o cliente tinha direito a um envelope de Sonrisal e uma vitamina "KH" na hora; existia um funcionário especialista no ramo de merendas de frutas, Sr. Musse; no final do corredor do Abrigo, o Café Hawaí; ao lado, a garapeira do Sr. Peixoto, cuja venda de guaraná (artificial), água mineral com e sem gás, groselha e limonada, era muito apreciada por todos que frequentavam o Abrigo Central. 

Café Wal-Can - Rua Floriano Peixoto em 1983. Foto de Nelson Bezerra

Ainda pelo lado da Praça do Ferreira, a parada de ônibus da Empresa São Jorge - Kalil Otoch, as linhas do centro, Soares Moreno, Praça São Sebastião, Cemitério, D. Jeronimo, Justiniano de Serpa, que muito facilitava a vida dos que moravam no centro - uma realidade muito diferente dos dias de hoje, com tantas transformações que sofreu a arquitetura de nossa cidade.

As funcionárias do Café Wal-Can


Mulheres também iam ao Abrigo, mas com menor frequência que os homens. Dona Conceição Santos, 74, diz que “o Abrigo era muito movimentado, sempre tinha muita gente, mas eu só passava por lá quando ia para o centro, tomava um café e seguia. Quem ia muito mesmo era meu marido, porque lá era mais um lugar para os homens se encontrarem”. Entretanto, seu Mário lembra que “tinha muitas senhoras que compravam na confeitaria” e até algumas moças trabalhavam no box do Café Walcan.


Crédito:  Wal-Can in Memorian/ Valtério Cavalcanti 

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: