Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Das antigas - O cotidiano que passava por uma rua
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sábado, 25 de junho de 2011

Das antigas - O cotidiano que passava por uma rua



Praça José Alencar : este espaço bem traduzia os ares bucólicos e provincianos de uma Fortaleza só possível na memória - Acervo Marciano Lopes

Mas voltando a "vaca fria" - a Rádio Iracema, inaugurada nos altos de prédio de quatro (04) andares, considerado um dos mais altos arranha-céus da cidade de Fortaleza - Edifício com Loja de tecidos "Duas Américas", esquina da Rua Barão do Rio Branco com rua Guilherme Rocha. Mantinha auditório com capacidade para receber grandes astros e estrelas do Rádio brasileiro, inclusive Vicente Celestino, Dilu Melo, Emilinha Borba, Jararaca e Ratinho, Badu, Orlando Silva, Cauby Peixoto, Ataufo Alves, Nelson Gonçalves, Carmem Costa, Miltinho e outros, todos trazidos sob os auspícios do empresário Irapuan Lima - sem se falar na prata da casa, composta de uma plêiade de grandes interpretadores das mais belas páginas musicas jamais esquecidas por seus apreciadores.

Das iguarias

Pela Rua Guilherme Rocha existiu por muitos anos, esquina com a rua Senador Pompeu, a Padaria Palmeira do português Albano Ferreira da Silva, com doces, bolos e biscoitos. Chamava atenção por ter um enorme fiteiro de vidraça com prateleiras, fixado na parede lateral da padaria pelo lado da rua Guilherme Rocha, onde poderia ser visto por quem passasse ou entrasse para comprar o pão da tarde. De longe se sentia o agradável aroma do "pão sovado" ou "massa fina" ou ainda "pão de forma".
Na Padaria Palmeira, havia uma quadrinha escrita pelo proprietário: 

"A Padaria Palmeira
Tirou o primeiro lugar
Vende pão a Marinha
E o Colégio Militar
E a mais duas mil famílias
Em casa particular"

Ao cair da tarde, a maioria da freguesia se movimentava para regressar as suas residências e poder saborear o pão quente regado a uma boa manteiga de 1ª (primeira) qualidade, e o cujo café com leite complementava refeição.

Dos pescados

As pessoas que residiam nas imediações do centro da cidade, nas ruas Senador Pompeu, General Sampaio, 24 de Maio, Av. Tristão Gonçalves, Av. do Imperador, Princesa Isabel, Teresa Cristina, Padre Mororó, Agapito dos Santos até mais ou menos na Rua Conselheiro Estelita, também costumavam descer pela Alberto Nepomuceno em busca da Praia de Iracema para comprar peixe fresco: biquara, ariacó, cavala, alvacora ou albacora, pargo, cangulo, beijupirá, galo do alto; tudo nas suas respectivas épocas de pesca, também o molusco "polvo" e "lula" de apreciável preferência por quem consome mariscos, servido no almoço ou no jantar, por ser tratar de uma refeição frugal.

Os vendedores de pescados se posicionavam na Praia do Peixe, hoje Praia de Iracema, ou nas calçadas de antigos prédios centenários na Av. Alberto Nepomuceno, na Secretaria da Fazenda, sobrado da família Frota Machado, depois de propriedade do Sr. Bené de Castro e Dr. Alber Vasconcelos (D. Fernanda e D. Maria Esther).

Pontos comerciais

Ainda na rua Guilherme Rocha se localizavam as mais nobres residências e estabelecimentos comerciais, um desses, a Loja Guanabara, do Sr. Duarte, próximo à Sorveteria Cabana; sem se falar nas demais casas comerciais situadas no correr do primeiro quarteirão da Rua Guilherme Rocha, esquina da rua Major Facundo (lado direito em direção da rua Senador Pompeu): havia, dentre tantos, a Farmácia Francesa; seguia-se da Loja Ideal do Sr. Clovis Costa e sua irmã Alzira Costa. Estabelecimento Benjamin Angert ourivesaria, trabalhos de fino acabamento como colares de pedras preciosas e pulseiras; Relojoaria Sansão e Movado. No meio da quadra, a famosa Lanchonete Cearazinho; Relojoaria Cancão; Farmácia Conceição, esquina da Rua Barão do Rio Branco; antes de chegar na rua Senador Pompeu a Farmácia São José; e, Livraria José de Alencar do Sr. Estolano Polari Maia - Cônsul do Paraguai
.

Sorveteria Cabana de 1951 - Hoje no lugar da sorveteria, encontra-se a Loja Esmeralda -Nirez

Do lado esquerdo (ímpar) 1º primeiro quarteirão, esquina da Rua Major Facundo, havia a loja de tecidos Bradway, do Sr. Alberto Bardawil; Farmácia Santa Helena e, entrada para o pavimento superior do Clube do Advogado, Loja de Disco Vox, Gávea do Sr. Julio Coelho, Edésio Revistas e Jornais, Casa Americana, Casa Parente do Sr. Inácio Parente, Tarcísio Parente defronte Café Expresso

Imagens do passado

Padaria Palmeira no Centro da cidade - Fundada em 1908

No quarteirão da Rua Guilherme Rocha, entre as ruas Barão do Rio Branco e Senador Pompeu, com a demolição de vários prédios foi edificado o Edifício Beliza, defronte a Padaria Palmeira; seguiam-se de várias casas com pequeno comércio de ourivesaria e conserto de relógio, bares, depois a confeitaria Ritz do Sr. Luis Frota, Livraria e na esquina Mercearia Tabajara com produtos de cereais de 1ª qualidade.


Na mesma direção (direita de quem vai para o final da rua), na esquina o Bar Americano do Sr. Pedro Benício Sampaio, conhecido por vender caldo de cana e cajuína e em épocas do inverno, vendia canjica, pamonha, milho verde e o inesquecível aluá.

O que se dissipou

Na Praça José de Alencar, situava-se a escola de datilografia da Sra. Nenen Lopes, irmã do Desembargador Daniel Lopes, ao lado da Fênix Caxeiral, de uma quadra de basquetebol, depois Serraria Lopes, numa diagonal a Serraria Viana, até alcançar a Padaria Ideal dos irmãos J. Neto Brandão - Jaime João e Jorge Brandão.

Do mesmo lado na esquina, lado ímpar a casa do Dr. Newton Gonçalves, Cia. Cinemar, depois fabrica de gelo, casa do Dr. Periguari de Medeiros, José Emygio de Castro, Escola de Datilografia D. Albertina, bangalô que serviu de residência do Promotor Público - Vicente Silva Lima, em frente à Mansão que ocupava toda quadra pelo lado impar de propriedade do Abolicionista Alfredo Salgado, amigo do meu bisavô português Joaquim Dias da Rocha, cortada pela Vila Ipu, onde foram construídos varias casas.

Sombras de um crime

Na quadra seguinte as residências de João Diogo de Siqueira, Dr. Álvaro Andrade Neto, Sr. Sebastião Guimarães Costa com suas filhas Lais, Zaira e Nair Dias da Rocha Costa, Dês. Banhos Neto, Juvenil Hortêncio de Medeiros, do lado impar família do Dr. João Hipólito de Azevedo e Sá, D. Narcisa Cunha Borges mãe do Cel. Murilo Borges, ex-prefeito de Fortaleza, cujo casarão tinha uma escada externa pela Rua Padre Mororó local em que D. Narcisa Cunha, foi barbaramente assassinada por serviçal, comentado por toda cidade diante do horrendo e chocante episódio.

Entre as ruas Padre Mororó e Agapito dos Santos, existe ainda o sobrado que pertenceu ao Padre Hortêncio de Medeiros, depois funcionou a Procuradoria Geral da União. Finalmente na quadra entre Agapito dos Santos e Conselheiro Estelita, a suntuosa casa do Dr. João de Deus Cavalcante; o sobrado do estimado amigo Napoleão Bastos, D. Dulce e seus filhos Roberto, Gilka, Antonio Hercílio, Vera e Claudio; Dr. João Otavio Lobo, ilustre e humanitário médico pneumologista; Capelinha e Externato Jesus Maria José; bangalô do Sr. Cecil Salgado; Hospital São João, hoje Instituto Nacional do Seguro Social - INSS; chegando na esquina da rua Guilherme Rocha esquina com a Av. Philomeno Gomes, residência do Dr. Pedro Sampaio, avô da colunista e brilhante jornalista Regina Marshall.

Da arquitetura

Em frente existia o Palacete do Sr. Pedro Philomeno Ferreira Gomes, hoje Edifício Pedro Filomeno, proprietário da Fábrica de Tecidos São José, bem próximo da Aero Praia Hotel, vizinho a Escola de Aprendizes Marinheiros, defronte a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes. Separados pela Av. Tenente Lisboa, do Cemitério São João Batista e do primeiro Necrotério de Fortaleza, situado nos fundos do mencionado Cemitério ou ainda conhecida como Chácara do Sr. Cândido Maia - administrador por muitos anos do Cemitério.

Fábrica de Tecido São José

Assim terminava a Rua Guilherme Rocha (esquina que dar encontro com Av. Francisco Sá com Av. Filomeno Gomes, que seguindo na Av. Philomeno Gomes em direção (Sul) a Rua Carneiro da Cunha, existia a residência do Dr. Luis Moraes Correia, depois Serviços de Irrigação Federal.

Vizinho, residência do ex-governador Dr. Luis Flávio Marcilio; Seguindo a família Duarte Vidal, dos meus amigos Roberto Vidal e Maria Luiza pais do Juiz Federal José Silva Vidal; próximo ao internato Bom Pastor, cuja entrada sombria até chegar a capelinha, onde se refugiavam as pessoas que tinham desviado suas condutas e, para não causarem vergonha à família, ali permaneciam até cair no esquecimento da sociedade, que a boca miúda segredavam sigilosamente fato ocorrido, proferindo sob forma de "cochicho" ou "ao pé de ouvido", o que acontecera evitando que se propalasse ou transpirasse o desvirginamento de alguma moça que dera "passo errado" e punição vinha sob forma de expurgo familiar, para reparar o horroroso e repugnante cometimento de desonra ultrajando ou maculando o bom nome da família que deveria ser reparado, muitas vezes pagando com a própria vida.

Depois com o passar do tempo e, purgado a culpa as internas do Bom Pastor, retornavam aos lares, depois de terem recebidos cursos e aprendidos trabalhos manuais sob orientação das irmãs religiosas, dentre eles bordar, costurar, cerzir e outras atividades manuais.

Bom Pastor

Marcas da moral

Assim saíam para enfrentar a sociedade como quem deixa o cárcere de um presídio, e, por ter pago a pena pelo "mal cometido". Ocorria vezes, que o fruto deste amor proibido jamais poderia transpirar quem eram os verdadeiros pais da criança, evitando manchar o nome da família ou pais do inocente que não pedira para vir ao mundo e nem poderia pagar por erro cometido.

As moças fantasmas

Fato inusitado para época se relacionava no trajar das moças recolhidas no Bom Pastor; elas se cobriam de preto, lenço na cabeça, e, nas ocasiões das missas para freqüentar teriam que usar véu no rosto, impedindo sua visão a "olho nu" ou expondo-se aos olhares e reconhecimentos de pessoas que estavam nas missas e pudessem por ventura identificá-las. Tudo isso como forma de castigar a quem cometeu "erro de desonra".

A maior lembrança se prende a antiga Praça do Liceu ou Praça Fernandes Vieira, onde ainda hoje se encontra o mais tradicional Colégio do Ceará - Liceu, que teve início em 1845, hoje com 166 anos de existência, cuja praça presta honrosa homenagem ao grande mestre imortal da Academia Brasileira de Letras - Gustavo Barroso, historiador, escritor e poeta, que merecidamente lhe cabe tamanha honraria do nome da Praça, por ter elevado o nome do Ceará aos pícaros da glória.

Iniciando em direção ao bairro de Jacarecanga, teve o quadrilátero nos primórdios do Século XIX as mais elegantes residências que ainda hoje marcam a imponência de sua formação arquitetônica,

Rota da memória

Vale a pena recordar esta extensa rua do Centro de Fortaleza, que desde o primeiro quarteirão em direção da Praça do Ferreira, na saída do Jardim do Palácio da Luz. Assim a Rua Guilherme Rocha tinha, à época, no longo percurso, prédios de mais requintada arquitetura pertencente a gradas famílias, embalando um passado que reside, assim, em cada um de nós habitante dessa grande cidade de Fortaleza.


Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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