Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Das antigas - Espaço reconstruído pela memória
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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Das antigas - Espaço reconstruído pela memória


Na Rua Major Facundo até alcançar a rua Floriano Peixoto tinham vários comércios entre eles o " Café Hawaí defronte o "Café Globo" logo chegava-se ao o abrigo Central  - Acervo Marciano Lopes

Na extensão de 100 metros da Rua Major Facundo até alcançar a rua Floriano Peixoto, vários permissionários ocupavam o espaço físico do Abrigo Central. A começar pelo Café Hawaí, esquina da Rua Floriano Peixoto; defronte o Café Globo, vizinho Jaguaribano Bar, ao lado do prédio da esquina onde funcionava casa de jogo de azar, com entrada pela Rua Guilherme Rocha, de esquina do Edifício Ceará, conhecido também como Rôtisserie, onde se instalou no térreo a maior casa de jogo de bilhar, pertencente a um árabe, antigo Clube do Ceará, depois virou "Cortiço", alugado a diversos rapazes oriundos do interior do Estado, que ali se instalavam por indicação dos antigos moradores.

De frente para Rua Pará, com Edifício Sul América, cabine para uso do posto de aluguel de "carros de praça" - Posto Pará, da Sra. Odete Porfírio Sampaio; ao lado o mais célebre torcedor do Ceará, conhecido como "Pedão da Bananada", cujo slogan corria: "compre um sanduíche e ganhe um envelope de sonrisal"; ali se congregavam além dos fregueses diversos, torcedores dos demais times, para fazer acirrada torcida que terminava numa algazarra desordenada a ponto de ser o ambiente policiado por guardas municipais.

Matizes sociais
Assim era no Abrigo Central, local de atração das diversas camadas sociais, como políticos, estudantes, funcionários públicos, comerciários, vendedores ambulantes e os famosos vendedores: "Gravata Branca", vendia canetas, gravatas, lenços e meias, e, o "Brilhantina", vendia perfume, personagem de bem situada família, cujos irmãos, um funcionário público do Tesouro do Estado, Sr. Oséas Silva, e o outro secretário do Governo do Senador Pimentel, Dr. Fidélis Silva, conhecido homem de prestigio na área governamental, com grande influência política no Estado. Havia, como se percebe, um comércio variado.

De frente para a Praça do Ferreira - uma "garapeira" e uma moageira de cana, que vendia o inigualável "caldo de cana com pastel", que muitas vezes substituía uma refeição para estudante. Ainda do lado norte da Praça - uma Loja que vendia os últimos lançamentos de discos de cera e long-play - com gravações de canções dos cantores: Dalva de Oliveira e Erivelto Martins, Miltinho, Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Ataulfo Alves e o festejado Luiz Gonzaga - Rei do Baião, Dilu Melo, Lupicinio Rodrigues, cearense Carlos Augusto, Caubi Peixoto e muitos outros cancioneiros brasileiros.

Ao raiar da semana

Como ponto de encontro das diversas classes sociais, as segundas-feiras eram tradicionalmente desde cedo da manhã movimentada e antes de penetrar ao recinto de longe se ouvia o vozeirão que ensurdecia, por completo, o ambiente.

As principais notícias partiam dos comentaristas dos times que se digladiavam nos fins de semana, em tons estridentes, e às vezes chegavam aos empurrões...

Servia como ponto de convergência dos habitantes desta urbe; durante muitos anos facilitou a quem se dirigia aos diversos bairros e locais, utilizando-se dos transportes, cafés, casas de merendas, posto de aluguel de carros, recantos para políticas que saiam do Palácio do Governo, igreja do Rosário, lojas de tecidos, livrarias universitárias, Farmácia Modelo, dos restaurantes, Central e Brasil, bares da Brahma, Baturité, Jaguaribano, consultórios médicos, escritório de advocacia no Ed. Sul America, Banco Lar Hipotecário Brasileiro, Casa Dummar, Loja de tecidos estrangeiros importados, de propriedade do Sr. Miguel Lamboglia, dentre outros espaços.

Enfim, o velho Abrigo Central, teve existência efêmera, mas história que foi "boa enquanto durou"; deixando saudades dos momentos ali vividos, no companheirismo de todos quantos se agrupavam para saudáveis bate-papos que só se encerravam após as doze (12) badaladas do relógio da Praça do Ferreira e saída dos últimos ônibus para residências daqueles frequentadores, de tão apaixonante local.

A demolição foi sentida como estivesse a maltratar cada um de nós: as pás mecânicas, picaretas e furadeiras, transformando aquele arcabouço de cimento armado num monte de material inservível, devolvendo como antes o solo nascedouro para dar maior espaço para nossa Praça do Ferreira, voltando ao seu estado primitivo a velha e saudosa Praça do Ferreira que, por algum tempo, serviu como apêndice do Abrigo Central.

Atividades mercantis
Recordando ainda filas de ônibus que estacionavam no Abrigo Central, viam-se casais de namorados fazendo promessas e juras de amor, cujos olhares fixados entre os dois, alheavam-se a tudo que a seu redor desenrolava; atentos apenas a volúpia que o amor na juventude proporciona, dando acolhida às carícias que vêm do intimo de cada ser que ama, amornados por beijos que selam aquele estado de emoção como se fosse o ultimo ao se despedir de quem profundidade deseja.

O comércio instalado em vários boxes do Abrigo servia para aligeirar facilitando algumas operações mercantis, vendiam estampilhas estaduais, municipais e selos federais para livros de movimento de contabilidade que mensalmente exigidos suas autenticações junto a Secretaria dos Negócios da Fazenda do Estado (vendas em consignações), cujas estampilhas eram também adquiridos no abrigo, facilitando dessa forma os comerciantes de suas missões, dando-lhes fôlego.

Por lá também se instalou casa para venda de discos rotativos para eletrolas, radiolas, de cera, long-play dos mais afamados cantores nacionais e alguns estrangeiros; muito em voga as músicas de Ângela Maria, Araci de Almeida, Caubi Peixoto, Nelson Gonçalves, Miltinho, Nora Nei, Bob Nelson, Carlos Augusto (cearense) cuja família composta por membros possuidores das mais belas vozes a começar por sua mãe Nenen Bandeira, suas filhas Adamir e Cleide Moura - as irmãs vocalista, Henriqueta Moura com linda voz, cantora que fez dueto com Vicente Celestino, quando esteve no Ceará.

Outro irmão Carlos Augusto, que dispensava comentários, venceu no Rio de Janeiro, considerado grande cantor, seus irmãos Joãozinho, Odete, Moacir, Cleide, Maria Laura, Henrique e Adamir Moura, residente em São Paulo e Valter, falecido recentemente aqui em Fortaleza, Trio Nagô - Evaldo Gouveia, Epaminondas e Mário Alves, Terezinha Holanda, Zuila Aquiles - a voz de veludo, coloquialmente conhecida, irmã do meu estimado amigo Wilson Aquiles, contador da Prefeitura Municipal, na minha época de Diretor de Despesa, Fátima Sampaio, a voz prodígio do Ceará que ainda garota era detentora de linda voz, "Solteiro" - cantor de samba e baião, Maria Guilhermina Gondim, cantora de músicas internacionais, filha da professora de piano Maria de Lourdes Gondim. Todo esse elenco estava na Ceará Rádio Clube - P.R.E.9 do tempo do ex-Prefeito Paulo Cabral e Araújo, Cabral de Araujo (irmão).

Das miudezas

O Abrigo Central tinha forma de um retângulo perfeito, separado pelo quadrilátero da Praça do Ferreira, entre as ruas Major Facundo, Floriano Peixoto, Pocinhos e Guilherme Rocha, hoje unificado formando espaço único.

Existiram várias casas de rótulas ocupadas por pontos comerciais como Bar XPTO, desconhecido pelo autor o significado da sigla, sabendo que ali se vendia muita pinga ou trago sem direito a assentos porque o estabelecimento era de pouco espaço, não comportava colocação de mesas e cadeiras, e os fregueses se conformavam em tomar suas "bicadas" de cana - douradinha, pé de serra, triunfo, chave de ouro, ypíoca, pitu do Recife, colonial, Bronswick, conhaque imperial queimado com cachaça, conhaque de alcatrão São João da Barra, vermuth ou cana misturada com imbiriba, cumaru, gengibre, e, se quisesse fazer uma garrafada abortífera pusesse em difusão masceração 1/4 (um quarto) ou 1/2 (um meio) de cabacinha para ver em poucas horas o sinal de "aborto".

Tudo isso praticado segunda a lenda com mezinha fabricadas por "João da Saúde", cujas raízes das diversas plantas medicinais eram vendidas num dos "quarto do mercado" ou "quarto das raízes" tudo a cargo curandeiros" e "rezadeiras" que afastavam o mal através de rezas com ramos de plantas medicinais , protegendo, assim, os de "mau olhado, mau vento, moleira caída, diarréia, espinhela caída, erisipela, ou isipa, barriga fofa, gases incausados, mazelas mil.


Crédito: Diário do Nordeste

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